Post on 28-Sep-2020
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Departamento de Engenharia Civil
Centro de Tecnologia
Curso de Engenharia Ambiental
AVALIAÇÃO DA PEGADA HÍDRICA DA ALIMENTAÇÃO DE
UM GRUPO DE ALUNOS DO SETOR DE AULAS IV DA
UFRN
Lídia Lima de Oliveira
NATAL
2018
Lídia Lima de Oliveira
AVALIAÇÃO DA PEGADA HÍDRICA DA ALIMENTAÇÃO DE UM
GRUPO DE ALUNOS DO SETOR DE AULAS IV DA UFRN
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Engenheiro Ambiental.
Orientadora: Profa. Joana Darc Freire de Medeiros
NATAL
2018
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Oliveira, Lídia Lima de. Avaliação da Pegada Hídrica da alimentação de um grupo
de alunos do setor de aulas IV da UFRN / Lídia Lima de Oliveira. 2018. 26 f.: il.
Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de
Tecnologia, Curso de Engenharia Ambiental. Natal, RN, 2018. Orientadora: Profa. Dra. Joana Darc Freire de Medeiros.
1. Recursos hídricos - Monografia. 2. Água virtual - Monografia. 3. Carne - Monografia. 4. Alimentos - Monografia. I. Medeiros, Joana Darc Freire de. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 556.18
Elaborado por FERNANDA DE MEDEIROS FERREIRA AQUINO - CRB-15/301
AGRADECIMENTOS
À Deus, primeiramente, por Sua imensurável graça em minha vida, e pelo
sustento diário. Nele posso descansar meu coração nos momentos de aflição e, acima
de tudo, confiar.
Aos meus pais, por me terem me ensinado a perseverar, independente das
dificuldades que a vida possa apresentar. Agradeço a eles também por todo amor e
preocupação.
À minha orientadora Joana Darc e a todos os professores do Curso de
Engenharia Ambiental, os quais tive a honra de conhecer e desfrutar de seu excelente
trabalho.
Aos meus colegas de curso, por toda ajuda e companheirismo no decorrer
dessa trajetória. Agradeço também aos amigos (incluindo os de outros cursos do CT)
pela ajuda na realização da coleta de dados para este trabalho: vocês foram incríveis.
E por último, mas não menos importante, agradeço a Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, por proporcionar a realização deste sonho. Foi uma experiência
maravilhosa.
RESUMO
Uma das principais consequências do crescimento populacional sobre o meio
ambiente é a escassez hídrica. Por ser a água um bem tão valioso para a vida
humana, faz-se cada vez mais necessária a utilização de instrumentos de gestão de
recursos hídricos. A água é utilizada em grande escala na produção dos alimentos em
todo o mundo, e no Brasil, 70% da demanda hídrica total está concentrada na
agricultura. Dessa forma, a Pegada Hídrica (PH), que mede a quantidade de água
incorporada em um bem de consumo, através de todo seu processo produtivo
(incluindo a parcela que é poluída), deve ser fortemente considerada para tornar o uso
dos recursos hídricos mais sustentável. Este estudo realiza uma pesquisa de campo
com o intuito de fazer o levantamento da pegada hídrica da alimentação de um grupo
de alunos do setor de aulas IV da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Foram aplicados questionários, nos quais foram levados em conta gênero, idade, tipo
preferido de carne e frequência de consumo. A média encontrada entre os indivíduos
entrevistados foi de 2457,01 l/pessoa.dia, que é superior à média de um indivíduo
brasileiro, de 1926 l/pessoa.dia. O curso que apresentou maior PH foi a Engenharia
Ambiental, provavelmente devido à alta frequência de consumo de carnes e de
alimentos processados. A menor Pegada Hídrica foi de Arquitetura e Urbanismo, que
de maneira oposta, apresentou variabilidade de dietas, baixo consumo de carne
vermelha e alto consumo de vegetais e frutas. Esses resultados mostram que
produtos de origem animal carregam uma grande parcela de apropriação de água
doce. A preocupação em reduzir essa demanda não deve ser apenas dos produtores,
mas também dos consumidores, de modo a rever seus padrões de consumo.
Palavras – chave: recursos hídricos. Água virtual. Carne. Alimentos.
ABSTRACT
One of the main consequences of population growth on the environment is the
water shortage. Because water is such a valuable asset for human life, it is increasingly
necessary to use water resources management tools. Water is used on a large scale
in food production around the world, and in Brazil, 70% of total demand is concentrated
in agriculture. Thus, the Water Footprint (PH), which measures the amount of water
incorporated in a consumer good, throughout its production process (including the
portion that is polluted), must be strongly considered to make the use of water
resources more sustainable. This study conducts a field research in order to survey
the water footprint of a group of students from the IV class of the Rio Grande do Norte
Federal University. Questionnaires were applied, which took into account gender, age,
preferred type of meat and frequency of consumption. The average found among the
individuals interviewed was 2457,01 l / person.day, which is higher than the average
of a Brazilian individual, 1926 l / person.day. The course that presented the highest PH
was Environmental Engineering, probably due to the high frequency of consumption of
meats and processed foods. The smallest Water Footprint was of Architecture and
Urbanism, which in an opposite way, presented variability of diets, low consumption of
red meat and high consumption of vegetables and fruits. These results showed that
animal products carry a large portion of freshwater appropriation. The concern to
reduce this demand should not only be for producers, but also for consumers, in order
to review their consumption patterns.
Keywords: water resources. Virtual Water. Meat. Food.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6
OBJETIVO ............................................................................................................... 8
METODOLOGIA ...................................................................................................... 8
Área de Estudo ....................................................................................................... 8
Questionário ........................................................................................................... 9
Cálculo da Pegada Hídrica .................................................................................. 10
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 12
CONCLUSÃO ........................................................................................................ 20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 21
ANEXO 1 – QUADRO DE ALUNOS MATRICULADOS NO CT EM 2018 ............ 24
ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO ................................................................................ 25
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localização do Setor de Aulas IV ............................................................... 9
Figura 2 – Entrevistados por Gênero ........................................................................ 13
Figura 3 - Pegada Hídrica Média da Alimentação dos Alunos Entrevistados ............ 14
Figura 4 – Pegada Hídrica Média dos Cursos ........................................................... 15
Figura 5 – Frequência de Consumo de Carne ......................................................... 16
Figura 6 – Preferência por Tipos de Carne ............................................................... 16
Figura 7 – Distribuição de Gêneros nos Cursos ........................................................ 17
Figura 8 – Pegada Hídrica Média por Gênero ........................................................... 17
Figura 9 – Preferência por Tipos de Carne nos Cursos ............................................ 18
Figura 10 – Frequência de Consumo de Carnes nos Cursos.................................... 18
6
INTRODUÇÃO
A preocupação da sociedade com a sustentabilidade tem se tornado cada vez
mais alarmante, e um dos assuntos mais abordados na atualidade é a disponibilidade
de água doce no planeta. O crescimento populacional tem causado pressões sobre
os recursos hídricos, visto que os setores industriais precisam produzir cada vez mais
para suprir os diversos tipos de consumo da população. A água está presente em
todos os processos e atividades humanas, dentre os quais os relacionados com a
produção de alimentos, tanto para a produção agrícola como pecuária, sendo
componente indispensável para garantir a capacidade de produção (STRASBURG E
JAHNO, 2015).
O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Água de
2012, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (UNESCO) afirma que a demanda pela água se origina de quatro fontes
principais: a agricultura, a produção de energia, os usos industriais e o consumo
humano, sendo agricultura e pecuária responsáveis por 70% desse consumo. A
demanda na alimentação é influenciada, segundo o mesmo relatório, pelos níveis
populacionais, pelo tipo de alimento demandado e pelas quantidades consumidas. É
importante ressaltar que essa demanda não diz respeito apenas ao uso da água para
irrigação e dessedentação animal (no caso da pecuária), mas também para
higienização dos alimentos, e processos produtivos realizados na indústria.
As atividades humanas não apenas consomem, mas também poluem uma
grande quantidade de água. Grande parte desta poluição está relacionada como a
falta de saneamento básico, que acarreta na contaminação das águas limpas com as
residuais, comprometendo a disponibilidade hídrica. Também pode-se mencionar
como fonte poluidora potencial o setor agrícola, devido a utilização de agrotóxicos,
que pode chegar aos corpos hídricos através do processo de lixiviação (BELCHIOR
et al., 2017).
7
O Brasil é conhecido por possuir grande riqueza de recursos hídricos, todavia
a localização de suas bacias hidrográficas resulta em um balanceamento desfavorável
entre a disponibilidade e a demanda, sendo algumas regiões mais bem atendidas do
que outras. Rocha et al. (2013) mostram que, o Nordeste, Sudeste e Sul brasileiro
sofrem com baixa disponibilidade hídrica, enquanto a região Norte e a porção norte
da região Centro-Oeste concentram alta disponibilidade. Diante disso, “os
instrumentos de gestão e os indicadores podem auxiliar a minimizar os impactos
ambientais e trazer resultados por conta dos problemas produzidos pelo consumo”
(MIRANDA, VASCONCELOS E FERREIRA, 2017).
Baseados na pegada ecológica, os autores Hoekstra & Hung (2002) deram
origem ao conceito de Pegada Hídrica (PH). A PH é definida como o volume de água
total usada durante a produção e o consumo de bens e serviços, bem como o
consumo direto e indireto no processo de produção (SILVA et al., 2013).
Giacomin e Ohnuma Jr (2017) definem que a Pegada Hídrica pode ser
classificada como Direta ou Indireta. A PH direta refere-se à água que é consumida e
poluída no seu uso direto, para fins básicos (consumo doméstico). A PH indireta traduz
a água embutida nos bens de consumo, em seus processos produtivos, como na
produção de roupas, alimentos, combustíveis, etc. Silva et al. (2013) mostram ainda
que há uma subdivisão da PH em três tipos: a pegada hídrica azul, que mensura a
quantidade de água superficial e subterrânea incorporada em um produto, a verde,
que se refere ao consumo da água de chuva (não escoada), e a cinza, que é a
quantidade de água doce utilizada para assimilação de cargas poluentes, num
determinado processo produtivo.
A pegada hídrica de um indivíduo é definida como o volume total de água doce
consumida e poluída utilizada para a produção de produtos e serviços usados pelo
indivíduo (GIACOMIN E OHNUMA JR, 2017). Cada componente da pegada hídrica
total inclui um custo econômico e um impacto ambiental que seria de extrema
importância ser acrescido a empresa que está produzindo aquele produto para o
consumidor, e não apenas o consumidor ter que arcar com todo o custo (Maracajá et
al., 2012). Atualmente vários tipos de pegada vêm sendo estimados para monitorar
8
as pressões humanas sobre o planeta. Palhares (2014) estudou a PH de suínos, e
Ribeiro (2017) aborda a Pegada Hídrica na fabricação de telhas cerâmicas.
No setor alimentício a PH é usada para medir o total de água utilizado direta
e indiretamente em todo o processo produtivo dos alimentos até que chegue ao
consumidor final. Cada tipo de alimento carrega uma quantidade de “água virtual”, e
dessa forma, cada tipo de dieta reflete uma PH diferente. De forma geral, “esta técnica
fornece uma resposta específica da pressão humana sobre o meio ambiente e ajuda
de forma mais abrangente a monitorar o pilar ambiental da sustentabilidade” (SILVA
et al., 2013).
OBJETIVO
O presente estudo tem como objetivo avaliar a pegada hídrica dos diversos
perfis de alimentação de alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
especificamente os indivíduos que frequentam o setor de aulas IV.
METODOLOGIA
Área de Estudo
Para o levantamento dos dados da dieta alimentar, a metodologia utilizada foi
a aplicação de questionários entre os indivíduos de alguns dos ministrados no setor
de aulas IV do campus universitário.
O setor de aulas IV localiza-se a sudoeste do Campus Universitário Central
(5º50’15’’S 35º12’16’’W), próximo à Escola de Ciências e Tecnologia. Esse setor é
formado por nove blocos (do A ao I), que contém salas de aula, laboratórios de
informática, salas de estudo, salas para fins administrativos e banheiros. Os cursos
atendidos pelo setor IV são os vinculados ao Centro de Tecnologia (CT). Estes são:
Arquitetura e Urbanismo, Engenharia de Alimentos, Engenharia Ambiental,
Engenharia Biomédica, Engenharia Civil, Engenharia de Computação, Engenharia
9
Elétrica, Engenharia de Materiais, Engenharia Mecânica, Engenharia Mecatrônica,
Engenharia de Petróleo, Engenharia de Produção, Engenharia Química, Engenharia
de Telecomunicações e Engenharia Têxtil.
Fonte: Google Earth. Setor de Aulas IV, em violeta.
Questionário
Foram entrevistados 5% do total de alunos dos cursos de Arquitetura e
Urbanismo, Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Engenharia de Produção,
Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica, o que correspondeu a 101 alunos. Os
demais cursos não entraram na estatística por falta de representatividade do número
Figura 1 - Localização do Setor de Aulas IV
10
de alunos correspondente aos 5%. O total de alunos do setor de aulas IV foi obtido
através do número de alunos vinculados ao CT, matriculados em 2018 (Anexo 1).
Para facilitar a obtenção dos dados, o questionário foi elaborado com
alternativas de alimentos que são tipicamente consumidos na região Nordeste do
Brasil, onde foi realizado o estudo, nas principais refeições do dia. O questionário
utilizado encontra-se no Anexo 2. Adotou-se a separação dos indivíduos por gênero,
idade, tipo de carne de sua preferência bem como a frequência de consumo.
Cálculo da Pegada Hídrica
Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica com fim de avaliar
diferentes perfis de alimentação e como a pegada hídrica pode variar de acordo com
os tipos de dieta. Com base na frequência semanal de consumo de carnes pelos
indivíduos, foram considerados quatro perfis de alimentação.
Para o cálculo da Pegada Hídrica do indivíduo ao longo de um dia típico (no
qual sejam consumidos os alimentos de sua preferência) foi considerado
principalmente o tipo de carne que o entrevistado mais consome (bovina, frango, peixe
ou nenhuma). Após o levantamento das preferências, foi calculada a PH total de cada
aluno, somando-se a Pegada Hídrica referente ao seu consumo de carnes à PH dos
demais alimentos consumidos ao longo do dia. Foram utilizados para os cálculos os
valores de PH média mundial.
A seguinte tabela mostra a média global das pegadas azul, verde e cinza de
alimentos comumente consumidos pelo mundo.
Tabela 1 – Pegada Hídrica de Alimentos Comumente Consumidos no Mundo.
(continua)
ALIMENTO PH verde PH Azul PH cinza TOTAL
Carne bovina 14490,1 L/kg 616,6 L/kg 462,45 L/kg 15415 L/kg
11
ALIMENTO PH verde PH Azul PH cinza TOTAL
Frango 3546,5 L/kg 302,75 L/kg 475,75 L/kg 4325 L/kg
Feijão, seco 1317 L/kg 205 L/kg 496 L/kg 2018 L/kg
Açúcar 1176,12 L/kg 481,14 L/kg 106,92 L/kg 1782 L/kg
Maçã 558,96 L/kg 131,52 L/kg 123,3 L/kg 822 L/kg
Leite
(copo de 250 ml) 216,75 L 20,4 L 17,85 L 255 L
Fonte: Mekonnen & Hoekstra (2011, 2012).
Quanto aos alimentos derivados, os quais não se conhece o valor exato de
água incorporada, considerou-se a PH dos principais ingredientes que os constituem.
Sobre a quantidade consumida, para todas as respostas foram adotadas as porções
médias típicas de cada alimento, consultadas no site www.fatsecret.com.br.
A Pegada Hídrica de cada indivíduo foi calculada seguindo o Manual de
Avaliação da Pegada Hídrica, no que diz respeito ao cálculo de Pegada Hídrica
Indireta do consumidor, descrito abaixo:
De acordo com as respostas dos entrevistados, foram listados os n alimentos
mais comuns em sua alimentação diária.
Sendo a1 a pegada hídrica de determinado alimento, e b1 a quantidade
consumida deste mesmo alimento, temos:
𝑃𝐻 𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 1 = 𝑎1 ∗ 𝑏1
(1)
Este cálculo foi repetido para os n alimentos.
Dessa forma:
12
𝑃𝐻 𝑟𝑒𝑓𝑒𝑖çã𝑜 = ∑ 𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑖
𝑛
𝑖=1
(2)
fazendo-se o mesmo para todas as refeições.
Para refeições mais abertas, nas quais os alimentos consumidos não são
necessariamente previsíveis, considerou-se que a PH da refeição será a média dos
alimentos consumidos.
Por fim, obtém-se que:
𝑃𝐻 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜 = ∑ 𝑃𝐻 𝑟𝑒𝑓𝑒𝑖çã𝑜
(3)
Com este resultado chegamos a quantidade de água incorporada na
alimentação de um indivíduo ao longo de um dia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistados 101 alunos no período de 16 de agosto a 18 de setembro
de 2018. A maior parte da amostra é composta por indivíduos do sexo masculino
(Figura 2), como previsível, por se tratar principalmente de cursos de engenharia. Em
média os entrevistados apresentaram Pegada Hídrica per capita de 2457,01
l/pessoa.dia, como mostra a Figura 3, com maior valor de 4245,49 l/dia e menor valor
de 581,47 l/dia. A média obtida entre os participantes é superior à Pegada Hídrica
Média referente à alimentação de um indivíduo brasileiro, de 1926 l/pessoa.dia,
segundo Hoekstra e Mekonnen (2011, p.30, apud Giacomin e Ohnuma Jr., 2017,
p.50). Essa diferença pode ter se dado pelos hábitos alimentares da região alvo do
estudo.
13
Para Carmo et al. (2007) a culinária típica de cada cultura é um dos fatores
que mais individualiza a sociedade, e que o alto consumo de fast food das gerações
atuais é demandante de uma grande quantidade de recursos hídricos.
Outro fator que pode contribuir para uma Pegada Hídrica maior que a média
nacional é a idade dos entrevistados, que variou de 18 a 36 anos, se concentrando
entre 21 e 24 anos. Miranda et al. (2017) mostram que indivíduos com idade entre 21
e 30 anos possuem maior Pegada Hídrica referente a alimentação que as demais
faixas etárias.
Figura 2 – Porcentagem de Entrevistados por Gênero
Fonte: própria.
65%
35%
Masculino Feminino
14
Figura 3 - Pegada Hídrica Média da Alimentação dos Alunos Entrevistados
Fonte: própria.
Avaliando a pegada Hídrica por Curso (Figura 4), pôde-se observar que o
curso que apresentou a maior PH, embora tenha sido representado pelo menor valor
absoluto de entrevistados, foi a Engenharia Ambiental, e a menor PH foi a de
Arquitetura e Urbanismo.
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
1 5 9
13
17
21
25
29
33
37
41
45
49
53
57
61
65
69
73
77
81
85
89
93
97
10
1
PH
(l/
pes
soa.
dia
)
Milh
ares
indivíduo
Phdo indivíduo Média
15
Figura 4 – Pegada Hídrica Média dos Cursos
Fonte: própria.
Esse resultado pode ser explicado por fatores como gênero majoritário da
amostra, preferência por determinado tipo de carne bem como suas frequências de
consumo (informações abordadas nas Figuras 7,8,9 e 10) e principalmente pela
presença expressiva de alimentos processados como massas, gorduras e alimentos
ricos em açúcar, que se destacaram nos lanches dos entrevistados.
As Figuras 5 e 6 mostram a frequência de consumo e a preferência por tipo
de carne entre os entrevistados. A maioria dos alunos consome carne todos os dias,
e o tipo mais consumido é frango, o que é esperado por ser o tipo com custo mais
acessível. A porcentagem de indivíduos que prefere peixe ou não consome carne foi
pouco expressiva.
2,10
2,83
2,58
2,61
2,30
2,37
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00
Arquitetura e Urbanismo
Ambiental
Civil
Produção
Elétrica
Mecânica
Milhares
16
Figura 5 – Porcentagem da Frequência de Consumo de Carne pelos Entrevistados
Fonte: própria
Figura 6 – Porcentagem da Preferência por Tipos de Carne pelos Entrevistados
Fonte:própria
Analisando os cursos individualmente, foi possível ver como se deu a
distribuição dos gêneros em cada curso (Figura 7) bem como as PHs Médias
masculinas e femininas (Figura 8).
3% 2%
23%
72%
Não consome 1x semana 3x semana Todos os dias
40%
55%
2% 3%
BOVINA FRANGO PEIXE NÃO CONSOME
17
Figura 7 – Número de Indivíduos por Gênero nos Cursos
Fonte: própria.
Figura 8 – Pegada Hídrica Média por Gênero nos Cursos
Fonte: própria.
Nota-se que a Pegada Hídrica dos homens foi superior à das mulheres em
quase todos os cursos, exceto na Engenharia de Produção. É possível então afirmar
que a PH masculina dos cursos teve maior peso nos resultados da pesquisa.
0
5
10
15
20
25
30
35
Arquitetura eUrbanismo
Ambiental Civil Produção Elétrica Mecânica
Nº
de
ind
ivíd
uo
s
Homens Mulheres
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
Arquitetura eUrbanismo
Ambiental Civil Produção Elétrica Mecânica
Peg
ada
Híd
rica
(L/
pes
soa.
dia
)
Milh
ares
Homens Mulheres
18
Quanto ao consumo de carnes, foram analisados os tipos de carne mais
consumidos por cada curso e a frequência de consumo. Estes dados são
apresentados nas figuras 9 e 10.
Figura 9 – Número de Indivíduos por Preferência por Tipos de Carne nos Cursos
Fonte: própria.
Figura 10 – Número de Indivíduos por Frequência de Consumo de Carnes nos
Cursos
Fonte: própria
1
4
15
7
10
3
9
4
15
5
15
7
1
1
1
1
1
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Arquitetura e Urbanismo
Ambiental
Civil
Produção
Elétrica
Mecânica
BOVINA FRANGO PEIXE NÃO CONSOME
1
1
1 1
1
3
5
9
3
2
1
8
4
21
10
22
8
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Arquitetura e Urbanismo
Ambiental
Civil
Produção
Elétrica
Mecânica
Não consome 1x semana 3x semana Todos os dias
19
A Figura 9 mostra que as preferências por peixe e pelo não consumo de carne
foram pouquíssimo representativas, sendo frango o tipo mais consumido. Os cursos
que mais consomem carne bovina são as Engenharias de Produção e Civil,
respectivamente, enquanto Engenharia Mecânica e Arquitetura e Urbanismo são os
que mais consomem frango.
A respeito da frequência, os cursos que mais consomem carnes são as
Engenharias Elétrica e Mecânica. A Engenharia Ambiental é a que menos consome.
Apesar de terem sido as maiores consumidoras de carne, Elétrica e Mecânica
tiveram suas PHs Médias equilibradas devido incluírem também representantes que
consomem pouca ou nenhuma carne.
Embora na Engenharia Ambiental a maioria dos indivíduos consuma carnes
apenas 3 vezes por semana, nota-se que o total de preferência por frango e por carne
bovina são iguais, e sendo esta última a mais demandante de água, atribuiu maior
peso na PH total do curso. Isto ajuda a explicar o motivo do curso ter obtido maior
Pegada Hídrica entre os demais.
O curso de Arquitetura e Urbanismo apresentou o menor número de
consumidores de carne bovina e foi representado em todas as opções de consumo
de tipos de carne, além de uma grande variedade de perfis alimentares, incluindo um
considerável consumo de frutas e verduras nas refeições. Esses fatores certamente
contribuíram de forma imprescindível para que a PH Média do curso tenha sido a
menor. Maia et al. (2012) afirmam que a escolha por uma dieta equilibrada e com
baixo teor de gordura, açúcar e carne vermelha contribuem para a diminuição da
Pegada Hídrica.
O presente estudo promove uma visão de como os padrões de consumo
podem interferir no meio ambiente de forma negativa, e diante disso, se faz de extrema
importância o comprometimento dos órgãos gestores de recursos hídricos e dos
produtores em otimizar o uso da água, de modo a evitar gastos exorbitantes e
promover seu uso racional.
20
Para que se possa reduzir a Pegada Hídrica da alimentação é necessário
tanto um comprometimento dos produtores, quanto dos consumidores. A prática de
reuso e reinserção da água no ciclo produtivo e a utilização, sempre que possível, de
água de chuva, são exemplos de medidas sustentáveis e viáveis na produção de
alimentos. Já para os consumidores é essencial ter a consciência ambiental para
alcançar um padrão alimentar sustentável. Alternar os tipos de carnes consumidas na
rotina alimentar, aumentar a frequência do consumo de peixe, e até mesmo a prática
do vegetarianismo ou veganismo são alternativas mais sustentáveis. O consumo de
carnes, principalmente vermelha, carrega uma grande parcela da apropriação de água
doce no mundo, contribuindo grandemente para a escassez hídrica.
CONCLUSÃO
Os alunos entrevistados apresentaram valores de Pegada Hídrica per capita
acima da média nacional. Essa diferença pode ter ocorrido devido aos hábitos
alimentares da região onde a pesquisa foi realizada e idade média dos entrevistados.
Embora a Engenharia Ambiental tenha apresentado maior Pegada Hídrica,
este resultado se deu não somente pela influência do tipo de carne mais consumida
combinada a frequência de consumo, mas também pela expressiva presença de
alimentos processados nas dietas, tornando as PHs dos indivíduos relativamente
altas, se comparado aos outros cursos.
O gênero teve influência na PH da maioria dos cursos, sendo a Pegada
Hídrica dos homens mais expressiva que a das mulheres.
21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GIACOMIN, G. S., OHNUMA JR, A. A. Estimativa da Pegada Hídrica de um Grupo de Alunos de uma Instituição de Ensino Superior. Revista Internacional de Ciências, Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 49-63, 2017;
HOEKSTRA, A.Y. et al., The water footprint assessment manual: Setting the global standard, Earthscan, London, UK. 2011;
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MAIA, H. J. L. et al., A Pegada Hídrica e Sua Relação com os Hábitos Domésticos, Alimentares e Consumistas dos Indivíduos. Polêm!ca, Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, 2012;
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22
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ANEXO 1 – QUADRO DE ALUNOS MATRICULADOS NO CT EM 2018
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ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO
Data: ___/____/_______
Nome do aluno:
_________________________________________________________
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
Idade:_______________ Período de ingresso:_________________
Curso:______________________________________________________________
1. Quantos turnos você permanece na universidade?
( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Noite
2. Você consome carne? Se sim, tem preferência por carne vermelha ou
branca?
( ) Branca (frango) ( ) Branca (peixe) ( ) Vermelha ( ) Não consome carne
3. Se consome algum tipo de carne, quantas vezes por semana?
( ) 1x por semana ( ) 2 a 3x por semana ( ) Todos os dias
4. Quais alimentos você normalmente consome:
a) No café da manhã?
( ) Pães ____ ( ) Ovos_____ ( ) Leite____________
( ) Frutas Quais?_____________________________________________
Outros:
b) No almoço?
( ) Feijão______ ( ) Arroz______ ( ) Macarrão______
( ) Verduras Quais? __________________________________________
Outros:
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c) No jantar?
( ) Pães_____ ( ) Cuscuz_____ ( ) Macaxeira_____ ( ) Tapioca_____
Outros:
5. Você costuma fazer pequenos lanches nos intervalos das aulas? Se sim, o
que consome?