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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DISTÚRBIOS DA COMUNICAÇÃO HUMANA
AUDIÇÃO E BIOMARCADORES DO METABOLISMO
OXIDATIVO EM ESCOLARES DE REGIÃO
FUMICULTORA DO RIO GRANDE DO SUL
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Letícia Regina Kunst
Santa Maria, RS, Brasil
2013
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AUDIÇÃO E BIOMARCADORES DO METABOLISMO
OXIDATIVO EM ESCOLARES DE REGIÃO FUMICULTORA
DO RIO GRANDE DO SUL
Letícia Regina Kunst
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana, Área de Concentração em Audição e Equilíbrio: diagnóstico, habilitação,
reabilitação, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,RS), como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Distúrbios da
Comunicação Humana
Orientador: Profº. Dr. Aron Ferreira da Silveira Co-orientadora: Profª. Dra. Michele Vargas Garcia
Santa Maria, RS, Brasil
2013
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_______________________________________________________________ © 2013 Todos os direitos autorais reservados a Letícia Regina Kunst. A reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita com autorização por escrito do autor. Endereço: Av. Itaimbé, 655, apto 307, Centro, Santa Maria/RS. Fone: (55) 9623-1801 End. Eletr: leticiakunst@yahoo.com.br _______________________________________________________________
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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências da Saúde
Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado
AUDIÇÃO E BIOMARCADORES DO METABOLISMO OXIDATIVO EM
ESCOLARES DE REGIÃO FUMICULTORA DO RIO GRANDE DO SUL
elaborada por Letícia Regina Kunst
como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana
COMISSÃO EXAMINADORA:
__________________________________ Aron Ferreira da Silveira, Profº. Dr. (UFSM)
(Presidente/Orientador)
__________________________________________ Michele Vargas Garcia, Profª. Dra. (UFSM)
(Co-orientadora)
_________________________________________ Pricila Sleifer, Profª. Dra. (UFRGS)
__________________________________________
Valdete Valetins dos Santos Filha, Profª, Dra, (UFSM)
Santa Maria, 01 de Março de 2013
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Dedicatória
A minha Família:
Aos meus pais José e Miria,
pelo amor incondicional, pelos valores
ensinados, pelo incentivo constante e
por sempre estarem ao meu lado
e me mostrarem que, apesar das dificuldades,
no final tudo vale a pena.
Ao meu irmão Leonardo (o Gordo),
pelo amor, amizade, conselhos e confiança.
A Jea, minha segunda mãe!
Não encontro palavras para agradecer
por tudo que fizeste por mim.
Com certeza sem você ao meu lado
tudo seria mais difícil. Obrigada pela acolhida,
paciência, amor, amizade, apoio e por sempre
acreditar em mim e me impulsionar
a buscar mais e mais.
A Tita e a Vó Maria,
por não medirem esforços para me verem
feliz e realizar meus sonhos!
A vocês eu dedico esta dissertação e todo meu amor!
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AGRADECIMENTOS
Talvez eu não consiga expressar em palavras escritas a minha gratidão a todos que contribuíram de alguma forma com este trabalho. A
todos vocês, meu mais sincero OBRIGADA!
A Deus, por me dar a vida, luz para guiar o meu caminho e força para não desistir e realizar meus sonhos e objetivos.
Aos meus orientadores, Dr. Aron e Dra. Michele, por terem me acolhido e acreditado em mim. Obrigada pelos ensinamentos, incentivo,
paciência, amizade e carinho.
A profª Dra. Tania, minha primeira orientadora, pelos ensinamentos transmitidos!
A Dra. Pricila Sleifer, Dra. Maria Fernanda e a Dra. Valdete Valentins pelas grandiosas contribuições a esta dissertação.
A Daya, por estar sempre ao meu lado. Pela amizade, companheirismo, aprendizados, disponibilidade e pelos inúmeros favores prestados.
Ao Alencar, meu Anjo da Guarda! Obrigada pela parceria, aprendizado, paciência, incentivo e amizade. Serei eternamente grata a você!
As minhas colegas e amigas: Enma, Ailime, Famy, Lari, Vane, Lu, Amanda e Licia pela amizade, apoio constante e pelos inúmeros
momentos de alegria e descontração.
As minhas maninhas de projeto: Tai, Caci, Daila, Gra e Simi pela amizade, parceria, auxílio e carinho.
Ao Renato por todo auxílio prestado e por nos dar a Agatha - minha parceria fiel nas longas madrugadas de estudo.
Ao pessoal do laboratório Biogenômica, do CEREST, da Escola de Ensino Fundamental Três de Maio e da Prefeitura Municipal de
Agudo por terem me recebido e tornado possível a realização deste trabalho.
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As crianças que participaram deste estudo, seus pais, professores e escola, pelo apoio e carinho.
Aos meus professores do curso de Fonoaudiologia e do PPGDCH, aos colegas de mestrado e das ATFONs 2009, 2010 e 2011 pelos
conhecimentos compartilhados.
A Todos que de alguma forma estiveram ao meu lado nesta longa trajetória: Obrigada!
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“Quero, um dia, dizer às pessoas que nada foi em vão...
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às
pessoas, que a vida é bela sim e que eu sempre dei
o melhor de mim... e que VALEU A PENA.”
Mário Quintana
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RESUMO
Dissertação de Mestrado Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana
Universidade Federal de Santa Maria
Audição e biomarcadores do metabolismo oxidativo em escolares de região fumicultora do Rio Grande do Sul
Autora: Letícia Regina Kunst
Orientador: Aron Ferreira da Silveira Co-orientadora: Michele Vargas Garcia
Objetivo: avaliar o sistema auditivo e o metabolismo oxidativo de escolares residentes de região fumicultora. Material e método: Participaram do grupo estudo (GE) 21 escolares normo-ouvintes residentes de região fumicultora e, do grupo controle (GC) 25 escolares normo-ouvintes que não residiam na zona rural. O sistema auditivo foi avaliado por meio das emissões otoacústicas produto de distorção (EOAPD) e supressão das EOAPD. Os biomarcadores do metabolismo oxidativo foram: ensaio cometa, teste de micronúcleos (MN), Diclorofluoresceína diacetato (DCFH-DA) referente a taxa de radicais livres e ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística. Resultados: os escolares de ambos os grupos apresentaram EOAPD presentes. Detectou-se diferença significativa, entre os grupos, na orelha direita (OD) na frequência de 4000 Hz e na orelha esquerda (OE) na frequência de 2000 Hz, sendo a média de amplitude das EOAPD do GE menor que a do GC. Quanto à média da amplitude das duas orelhas, a do GE apresentou-se inferior em todas as frequências, verificando-se diferença significativa nas frequências de 2000 e 4000 Hz. Na média geral da amplitude das EOAPD por orelha, não foi observada diferença significativa. Referente à ocorrência do efeito de supressão, os sujeitos de ambos os grupos apresentaram efeito de supressão das EOAPD presente. Ao comparar a ocorrência do efeito de supressão das EOAPD entre os grupos, não foi detectada associação estatística significativa. Quanto os biomarcadores do metabolismo oxidativo: no ensaio cometa, taxa de produção de radicais livres e ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA a média do GE mostrou-se significativamente mais elevada que a do GC. No teste de MN, verificou-se diferença significativa quanto ao somatório de células alteradas e a frequência de células binucleadas, sendo a média do GE mais elevada que a do GC. Já, referente à frequência de células com MN não observou-se diferença significativa entre os grupos. Verificou-se associação entre amplitude das EOAPD e os biomarcadores do metabolismo oxidativo, porém quanto a supressão das EOAPD esta associação não foi observada. Conclusão: Ambos os grupos obtiveram EOAPD e efeito de supressão das EOAPD presentes, porém o GE apresentou uma diminuição na média da amplitude das EOAPD em todas as frequências. O GE apresentou índice significativamente mais elevado em todos os biomarcadores do metabolismo oxidativo. Foi verificada associação entre nível de resposta das EOAPD e os resultados dos testes de verificação do metabolismo oxidativo.
Palavras-chave: praguicidas, fumo, audição, estresse oxidativo e criança.
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ABSTRACT
Master‟s Degree Dissertation Program of Post-graduation in Human Communication Disorders
Federal University of Santa Maria
Hearing and biomarkers of oxidative metabolism in students of a tobacco-producing region of Rio Grande do Sul
Author: Letícia Regina Kunst
Advisor: Aron Ferreira da Silveira Co-Advisor: Michele Vargas Garcia
Objective: to evaluate the auditory system and the oxidative metabolism of students who lived in a tobacco-producing region. Methods: 21 normal-hearing students from the tobacco-producing region, study group (SG), and 25 normal-hearing students who did not live in the countryside, control group (CG), participated of this research. The auditory system was evaluated by the distortion-product otoacoustic emissions (DPOAE) and by the suppression of DPOAE. The biomarkers of oxidative metabolism were: comet assay, micronuclei test (MN), dichlorofluorescein diacetate (DCFH-DA) for the rate of free radicals and fluorimetric assay for the quantitation of DNA. The data were exposed to statistical analysis. Results: The students of both groups revealed DPOAE presented. A significant difference was detected between groups in relation to the right ear (RE) in the frequency of 4000 Hz and to the left ear (LE) in the frequency of 2000 Hz, with a mean of SG lower than the one found for the CG. Considering the mean of both ears, the SG presented lower mean among all the frequencies and it was found a significant difference in the frequencies of 2000 and 4000 Hz. Considering the overall mean of DPOAE by ear, it was observed no significant differences. In relation to the occurrence of suppression, the individuals of both groups showed suppression effect of DPOAE presented. By comparing the occurrence of suppression of DPOAEs, between groups, no statistically significant association was detected. Concerning the biomarkers of oxidative metabolism: the comet assay, the rate of production of free radicals and fluorimetric assay for quantitation of DNA; the mean of the SG was significantly higher than the one found in the CG. In the MN test, it was found a significant difference in the sum of abnormal cells and the frequency of binucleated cells, with the mean of the SG higher than the mean of the CG. And, in relation to the frequency of cells with MN, it was verified no significant difference between both groups. It was verified an association between amplitudes and biomarkers of oxidative metabolism, but as the suppression of DPOAE this association was not observed. Conclusion: Both groups revealed DPOAE and suppression effect of DPOAE presented, but the SG showed a decrease in mean amplitudes at all frequencies. The SG showed a significantly higher index in all biomarkers of oxidative metabolism. It was verified association between level response of DPOAE and the results of the oxidative metabolism verification tests.
Keywords: pesticides, tobacco, hearing, oxidative stress and child.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Classificação do Dano ao DNA..............................................................29
Figura 2 - Classificação das células do teste de MN..............................................31
Artigo 1
Figura 1 – Classificação das células do teste de MN.............................................41
Artigo 2
Figura 1 - Classificação do Dano ao DNA..............................................................64
Figura 2 - Classificação das células do teste de MN..............................................65
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LISTA DE TABELAS
Artigo 1
Tabela 1 – Análise comparativa dos valores médios (média e desvio padrão) da
amplitude de resposta das EOAPD, por frequência e média geral da OD, OE e
média da OD e OE, entre os grupos estudo e controle (n=46):............................... 44
Tabela 2 – Análise comparativa dos valores médios (média, desvio padrão) da taxa
de produção de radicais livres (DCFH-DA) e da frequência de células anormais no
teste MN, entre o grupo estudo e grupo controle (n=36):......................................... 45
Artigo 2
Tabela 1 – Análise comparativa da ocorrência do efeito de supressão das EOAPD
entre os grupos estudo e controle (n=46):................................................................ 67
Tabela 2 – Análise comparativa dos valores médios (média e desvio padrão) do
índice de dano do ensaio cometa e do ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA,
entre os grupos estudo e controle (n=36):................................................................ 68
Tabela 3 – Análise comparativa dos valores médios (média e desvio padrão) das
variáveis do teste de MN entre os grupos estudo e controle (n=36):........................ 69
Tabela 4 - Associação entre efeito de supressão das EOAPD e índice de dano ao
DNA em testes genotóxicos entre os grupos estudo e controle:.............................. 69
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LISTA DE REDUÇÕES
ATL Audiometria Tonal Liminar
BN binucleada
CCE Células Ciliadas Externas
dB decibéls
dBNA decibel nível de audição
dBNPS decibel nível de pressão sonora
DCF diclorofluoresceína
DCFH dihidroclorofluoresceína
DCFH-DA diclorofluoresceína diacetato
DNA Ácido Desoxirribonucleico
EO Estresse oxidativo
EOA Emissões Otoacústicas Evocadas
EOAPD Emissões Otoacústicas Evocadas Produto de Distorção
EROS Espécies reativas de oxigênios
Hz hertz
mA microAmperes
mL mililitro
MN micronúcleo
Nm nanômetro
NO● Óxido nítrico
PEATE Potenciais Evocados Auditivos de Tronco Encefálico
pH Potencial Hidrogeniônico
RPM Rotações por minuto
SOCM Sistema Olivococlear Medial
V Voltz
μL microlitros
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LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................96
APÊNDICE B - Termo de Autorização Institucional...................................................98
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................. 15 2 OBJETIVOS.................................................................................. 20 3 MATERIAL E MÉTODO................................................................ 21 3.1 Delineamento.............................................................................................. 21 3.2 Aspectos éticos ......................................................................................... 21 3.3 Caracterização da amostra....................................................................... 21 3.4 Metodologia................................................................................................ 23 3.5 Análise dos dados...................................................................................... 32 4 ARTIGO 1 – EMISSÕES OTOACÚSTICAS E BIOMARCADORES DO ESTRESSE OXIDATIVO EM ESCOLARES DE REGIÃO FUMICULTORA................................................................................ 33 4.1 Resumo....................................................................................................... 33 4.2 Abstract....................................................................................................... 34 4.3 Introdução................................................................................................... 35 4.4 Material e Método....................................................................................... 38 4.5 Resultados.................................................................................................. 43 4.6 Discussão................................................................................................... 46 4.7 Conclusão................................................................................................... 51 4.8 Referências................................................................................................. 52 5 ARTIGO 2 - SISTEMA OLIVOCOCLEAR MEDIAL E GENOTOXICIDADE EM ESCOLARE DE REGIÃO FUMICULTORA .......................................................................................................... 55 5.1 Resumo....................................................................................................... 55 5.2 Abstract....................................................................................................... 56 5.3 Introdução................................................................................................... 57 5.4 Material e Método....................................................................................... 60 5.5 Resultados.................................................................................................. 67 5.6 Discussão................................................................................................... 70 5.7 Conclusão................................................................................................... 75 5.8 Referências................................................................................................. 76 6 DISCUSSÃO GERAL ................................................................... 81 7 CONCLUSÃO............................................................................... 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 88 APÊNDICES..................................................................................... 96
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1 INTRODUÇÃO
Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor e o maior exportador de
fumo do mundo. A cultura do fumo é desenvolvida em 704 municípios do Sul do país
e envolve mais de 187 mil pequenos produtores rurais, sendo o estado do Rio
Grande do Sul, o maior produtor brasileiro (SINDITABACO, 2011). No Rio Grande do
Sul a fumicultura é uma atividade agrícola de pequeno porte, com uso massivo de
agrotóxicos. Agricultores de pequeno porte têm sua atividade eminentemente
familiar, em que adultos e crianças se ajudam mutuamente no trabalho. Isso faz com
que crianças e jovens estejam sujeitos a elevado risco de contaminação.
Em razão do benefício do agrotóxico para o sucesso da produção agrícola,
sua utilização ainda é amplamente disseminada e de forma irracional, não sendo
considerados os malefícios à saúde a curto, médio e longo prazo (ARAÚJO et al.,
2007; KÖRBES et al., 2010).
No meio rural, a exposição não se limita apenas ao trabalhador, mas a toda
sua família que convive junto à plantação, inclusive aqueles que não ajudam no
trabalho. Segundo Perry (2003) o contato também pode ocorrer por meio de
resíduos nas roupas dos pais, no solo, na água e nos alimentos.
O efeito da exposição continuada a agrotóxicos, por crianças e jovens é
pouco conhecido. Por estarem em desenvolvimento, os seus organismos são mais
vulneráveis a ação dos produtos químicos. A diferença entre adultos e crianças não
se limita apenas ao tamanho, observa-se relativa imaturidade das funções
fisiológicas e bioquímicas dos sistemas, na proporção dos componentes corporais
(água, proteínas, gordura e minerais) e na estrutura anatômica dos órgãos e,
também, na capacidade de metabolizar e excretar substâncias tóxicas (PERRY,
2003). Além disso, apresentam certos hábitos como “levar a mão à boca”, que
aumentam as chances de ingerir compostos tóxicos presentes na água, solo e
poeira domiciliar (BENÍTEZ-LEITE et al., 2010).
Na cultura do fumo, além dos riscos à saúde devido à exposição aos
agrotóxicos, esta população está sujeita a problemas de saúde decorrentes da
absorção transdérmica da nicotina. Em humanos, a nicotina é facilmente absorvida
pela pele. Assim, quando os sujeitos entram em contato com a folha do fumo, alta
quantidade de nicotina transdermal é absorvida (ARCURY et al., 2003), provocando
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um quadro de intoxicação. Porém, ainda não se conhecem os efeitos crônicos à
saúde devido à exposição dermal da nicotina, bem como sobre o sistema auditivo.
Na produção de fumo são utilizados diversos tipos de agrotóxicos, de classes
e toxicidade variadas. Entre os agrotóxicos mais utilizados estão os
organofosforados, altamente tóxicos (DA SILVA, 2011). Recentemente os
agrotóxicos organofosforados foram introduzidos no grupo de alta prioridade para
pesquisa de ototoxicidade devido à exposição ocupacional, da qual já faziam parte
os solventes, metais e asfixiantes (AZEVEDO, 2004).
A ototoxicidade em decorrência do contato com os agrotóxicos provoca
alteração vestibular e/ ou coclear. Além disso, tem sido evidenciado também seu
potencial neurotóxico (HOSHINO et al., 2008). Atualmente, vários estudos têm
demonstrado estreita relação entre perda auditiva e exposição a agrotóxicos
(HOSHINO et al., 2008; CRAWFORD et al., 2008; FINKLER et al., 2012). Körbes et
al. (2010) investigou o efeito agudo dos organofosforados sobre a audição de
cobaias. Não foi observada alteração funcional da cóclea e nervo auditivo, porém,
verificou alterações na citioarquitetura das células ciliadas externas (CCE) da cóclea.
São escassos na literatura compulsada estudos que relacionam apenas a
nicotina à perda auditiva. Em geral, a discussão se atém aos efeitos ototóxicos da
nicotina no fumo relacionado ao hábito de fumar. Segundo Cocchiorella, Sharp e
Persky (1995 apud OLIVEIRA; LIMA, 2009), a nicotina pode ter efeito ototóxico
direto e causar isquemia coclear.
O sistema auditivo constitui-se em sistema auditivo periférico e central. Na
avaliação audiológica, pode-se realizar a avaliação do órgão periférico- a cóclea- e
ainda avaliar a função auditiva central, podendo assim identificar o funcionamento da
via auditiva aferente e\ou eferente.
A avaliação da função coclear pode ser realizada por meio das emissões
otoacústicas evocadas (EOA) que, tem-se demonstrado um método eficaz de
detecção precoce de alterações auditivas. A presença das EOA indica que a
fisiologia coclear está normal (DURANTE et al., 2005). Segundo Kemp (1998), pode-
se observar alterações nas respostas das EOA antes que sejam registradas
alterações no limiar auditivo (mínimo som percebido pela orelha humana). Este tipo
de avaliação é usado também para o monitoramento de perdas auditivas.
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Com a descoberta das EOA foi possível observar fisiologicamente a função
do sistema auditivo eferente por meio da análise da amplitude das EOA que pode
ser reduzida com a aplicação de um estímulo acústico competitivo. O efeito
denominado supressão das EOA, é determinado pela subtração dos valores da
amplitude das EOA obtidos nas condições com e sem estimulação contralateral e,
pode ser resultante da ação da via eferente olivococlear (WARR; GINAN, 1979).
O sistema olivococlear dividi-se em dois feixes: sistema olivococlear lateral
(SOCL) e sistema olivococlear medial (SOCM). O SOCL é composto
primordialmente por fibras não mielinizadas e não cruzadas, as quais inervam as
células ciliadas internas (CCI). E, o SOCM é composto por fibras mielinizadas e
principalmente cruzadas (75%), as quais vão se conectar diretamente às CCE
(DURANTE, 2011). A presença da supressão ou redução das EOA evidencia o
funcionamento normal do SOCM (MUÑIZ; VENTURA; ALGARRA, 2006). Havendo
0,5 a 1dB de redução já é considerado que o SOCM está com funcionamento normal
(COLLET et al.,1992).
Bernardi (2000) refere que o registro das EOA e a análise do efeito de
supressão podem servir como instrumento importante na detecção precoce das
alterações auditivas de origem coclear e retrococlear respectivamente e para a
elaboração de ações preventivas em audiologia.
O biomonitoramento individual é a forma mais eficiente de prevenir e
diagnosticar precocemente episódios de intoxicação por agrotóxicos (OLIVEIRA-
SILVA et al., 2001), bem como identificar fatores de risco para o desenvolvimento de
determinadas patologias (MUNIZ et al., 2008 apud DA SILVA, 2011). A
monitorização biológica da exposição a agentes químicos é uma medida das
substâncias ou seus metabólitos em vários meios biológicos como sangue, urina,
saliva, ar exalado e outros. Estes parâmetros biológicos são denominados
indicadores biológicos ou biomarcadores (AMORIN, 2003).
O organismo humano está sujeito ao estresse oxidativo (EO) que é definido
como o desequilíbrio entre os sistemas oxidantes (espécies reativas de oxigênio) e
antioxidantes, em favor dos primeiros (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004), causando
danos em muitos constituintes celulares, como lipídios insaturados, proteínas e DNA
(FINDLAY; TAPIERO; TOLUNSEND, 2005). O EO pode ser causado por espécies
reativas de oxigênio (EROs) provenientes do meio ambiente ou geradas pelo próprio
organismo (BARREIROS; DAVID; DAVID, 2006). Os agrotóxicos (LUZ; SANTOS;
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MELO, 2003), bem como a nicotina (WETSCHER et al., 1995 apud DA SILVA 2011)
são reconhecidos por gerar espécies reativas.
As EROs estão envolvidas em um número cada vez mais expressivo de
patologias, incluindo, em menor frequência, a perda da audição. Estudos têm
sugerido que o EO causado por diversos fatores de risco podem alterar a audição.
(BJELLAND; SEEBERG, 2003; ARBOLEDA-MORENO et al., 2004). Na cóclea o EO
provoca a perda de membranas celulares, que relacionadas ao nosso sistema
auditivo corresponde à perda da membrana biológica das células ciliadas (HUANG
et al., 2000).
As EROs produzidas pelo EO tem uma alta reatividade, e uma meia vida curta
(VOSS; SIEMS, 2006). Por este motivo, sua determinação in vivo não é viável. Em
contrapartida os lipídeos, proteínas, carboidratos e ácidos nucléicos (DNA), após
serem modificados pelas espécies reativas, têm uma meia vida maior, o que os torna
marcadores ideais do EO. Dentre estes marcadores encontramos o teste cometa,
teste de micronúcleos (MN) (VASCONCELOS et al., 2007) e, atualmente, os testes
que utilizam reagentes fluorescentes também vem sendo utilizados para esta
finalidade.
O ensaio cometa pode ser utilizado para o biomonitoramento humano,
genotoxicologia, monitoramento ecológico e como uma ferramenta para investigar
danos ao DNA e reparo em diferentes tipos celulares, em resposta a uma série de
agentes nocivos ao DNA, tais como radiações, químicos e drogas (MCKENNA;
MECKOWN; MECKLVEY-MARTIN, 2008).
O teste de MN é um teste genotóxico usado com muita freqüência para
avaliar as consequências do meio ambiente e no monitoramento de populações
ocupacionalmente expostas (MARTÍNEZ-VALENZUELA et al., 2009). MN são
pequenos fragmentos cromossômicos acêntricos ou cromossomos inteiros deixados
para trás durante a divisão celular mitótica e aparecem no citoplasma das células em
interfase como um pequeno núcleo adicional (KUMAR; PANNEERSELVAM, 2008).
A utilização de sondas fluorescentes para a detecção e quantificação de
pequenas quantidades de DNA desempenham um papel cada vez mais importante
em diversos estudos e aplicações biológicas, como técnicas de biologia molecular e
de diagnóstico (DRAGAN et al., 2010). Devido a uma maior sensibilidade, os
métodos fluorescentes têm sido extremamente utilizados para monitorar a produção
de espécies reativas em células de diferentes tecidos. Outra grande vantagem
19
desses métodos está na sua alta sensibilidade de detecção dessas espécies,
permitindo uma análise quantitativa (SILVEIRA, 2004).
A identificação de danos não perceptíveis (diagnóstico preditivo), com
possíveis efeitos num futuro mais distante sobre a saúde é de suma importância.
Identificar precocemente danos auditivos permite proporcionar melhores condições
de vida a estes sujeitos, principalmente quando se sabe das interferências da perda
auditiva na qualidade de vida das pessoas. Especialmente no caso de escolares, as
consequências sobre seu desenvolvimento/aprendizado ou mesmo futuramente na
vida adulta.
A partir do exposto, os objetivos deste estudo foram avaliar o sistema auditivo
e o metabolismo oxidativo de escolares residentes de região fumicultora,
considerando que estes sujeitos, mesmo que indiretamente, estão expostos a
diversas substâncias tóxicas.
Esta dissertação foi constituída no modelo Alternativo e subdivide-se nos
capítulos: Introdução, Material e Método, Artigo de Pesquisa 1, Artigo de Pesquisa 2,
Discussão Geral e Conclusões.
Os artigos de pesquisa serão enviados a periódicos científicos da área.
20
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Avaliar o sistema auditivo e o metabolismo oxidativo de escolares residentes
de região fumicultora.
2.2 Objetivos Específicos
Avaliar a função coclear através da análise da amplitude das EOAPD em
escolares residentes de região fumicultora.
Avaliar a função do SOCM através do efeito de supressão das EOAPD em
escolares residentes de região fumicultora.
Traçar o perfil oxidativo de escolares residentes de região fumicultora.
Correlacionar os achados audiológicos (EOAPD e supressão das EOAPD)
com os resultados do perfil oxidativo de escolares residentes de região
fumicultora.
21
3 MATERIAL E MÉTODO
3.1 Delineamento
Trata-se de um estudo observacional, prospectivo e transversal.
3.2 Aspectos éticos
O Projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em
Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, no dia 31 de
outubro de 2011, sob o número: 0237.0.243.000-11.
Os pais e/ou responsáveis que mostraram interesse que o escolar
participasse da pesquisa, bem como o assentimento do mesmo, foram informados
sobre os procedimentos metodológicos da mesma e, assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A).
Os dados de identificação são sigilosos. Somente foram avaliados aqueles
escolares que concordaram com a pesquisa e tiveram o TCLE assinado pelo
responsável.
3.3 Caracterização da Amostra
Para a realização deste estudo foram selecionados escolares de dois
municípios da região central do Rio Grande do Sul. O grupo estudo (GE) foi
composto por escolares residentes na zona rural fumicultora de um município da
região central do Rio Grande do Sul. E, para o grupo controle (GC), foram
recrutados escolares residentes na zona urbana de outro município, não fumicultor,
também da região central do estado. Optou-se por selecionar os escolares do GC da
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zona urbana de um município distinto do GE, para garantir que estes sujeitos
estivessem livres da exposição a agrotóxicos e nicotina derivada da folha do tabaco.
Os sujeitos foram selecionados em escolas da rede pública dos respectivos
municípios.
A seleção dos sujeitos obedeceram aos seguintes critérios:
3.3.1 Critérios de inclusão
Os sujeitos que participaram do grupo estudo (GE) deveriam:
Ter idade entre sete a 14 anos;
Residir na zona rural fumicultora;
Ser normo-ouvinte;
Não estar exposto continuamente a ruídos intensos;
Não conviver diariamente com fumantes;
Os sujeitos que participaram do grupo controle (GC) deveriam:
Ter idade entre sete a 14 anos;
Não residir na zona rural;
Ser normo-ouvinte;
Não estar exposto continuamente a ruídos intensos;
Não conviver diariamente com fumantes;
3.3.2 Critérios de exclusão
Foram excluídos do GE, bem como do GC os sujeitos que:
apresentaram alterações neurológicas evidentes;
apresentaram histórico de alterações otológicas;
apresentaram alterações audiológicas, segundo critério adotado para
este estudo;
23
apresentaram doenças crônicas e/ou fazem uso de medicação
continuada.
A amostra de conveniência contou inicialmente com 48 voluntários. Destes
dois apresentaram alterações na avaliação audiológica básica sendo excluídos da
pesquisa e encaminhados aos atendimentos necessários.
A amostra final ficou constituída de 46 escolares com idade entre sete a 14
anos, que foram divididos em dois grupos:
Grupo estudo (GE): 21 escolares, 12 do gênero feminino e nove do gênero
masculino, com idades entre sete a 14 anos, normo-ouvintes, residentes da zona
rural fumicultora.
Grupo controle (GC): 25 escolares, 17 do gênero feminino e oito do gênero
masculino, com idades entre sete a 14 anos, normo-ouvintes, não residentes da
zona rural.
3.4 Metodologia
Este estudo foi desenvolvido em parceria com o Centro de Referência em
Saúde do Trabalhador (CEREST) de Santa Maria/RS, com autorização prévia do
Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPS) da Secretaria Municipal de
Saúde de Santa Maria. E ainda, contou com o apoio da Secretária Municipal de
Saúde e de Educação do município de origem das crianças do GE.
3.4.1 Seleção do GE
Os sujeitos do GE foram selecionados em uma escola pública localizada na
zona rural de um município fumicultor. Inicialmente foi realizada uma reunião com a
direção da escola para explicar os objetivos do estudo e assinatura do Termo de
Autorização Institucional (APÊNDICE B). Após a autorização, foi aplicado um breve
questionário aos alunos para identificar os escolares que residiam na zona rural
fumicultora, ou seja, que os pais são fumicultores.
24
Foi enviado um convite com informações sucintas da pesquisa aos pais de
todos os sujeitos selecionados, para participarem de uma reunião na qual os
pesquisadores expuseram de forma clara e detalhada a metodologia do estudo.
Após a reunião, àqueles que manifestaram interesse receberam uma requisição de
autorização, na qual constava detalhes da pesquisa, solicitação de autorização para
coleta sanguínea e dados pessoais para contato. Foi elaborada esta autorização
para o controle dos pesquisadores e da escola, pois, nem sempre era possível
contatar diretamente com os pais. Posteriormente, os pais que autorizaram a
participação do filho na pesquisa, entregaram a autorização na secretaria da escola
para então serem agendadas as coletas.
Composição do GE: 160 sujeitos responderam ao questionário inicial, desses
103 foram selecionados e 57 não se enquadraram neste critério de inclusão (residir
na zona rural fumicultora) sendo excluídos da pesquisa. Dos alunos selecionados,
apenas os pais de 25 escolares consentiram a participação do filho (a) na pesquisa.
Destes 25 escolares, três não puderam comparecer no dia da avaliação e um foi
excluído segundo critério de exclusão deste estudo.
As avaliações do GE foram realizadas nos meses de novembro e dezembro
de 2011, compreendendo o período de intervalo entre a colheita e o plantio do fumo,
a fim de evitar predomínio de algum dos agentes, considerando que a exposição
aos agrotóxicos é maior no período de plantio e da nicotina é maior na época da
colheita.
Para facilitar o transporte dos sujeitos à cidade de Santa Maria, eles foram
divididos em três grupos para as avaliações. O transporte dos escolares do GE,
bem como de seus responsáveis, foi de responsabilidade da prefeitura municipal da
cidade de origem das crianças. Todos os escolares compareceram acompanhados
por algum responsável.
3.4.1 Seleção do GC
Quanto ao recrutamento dos sujeitos do GC foram visitadas três escolas
públicas da cidade de Santa Maria. Primeiramente, foi realizada uma reunião com a
direção de cada escola na qual foram expostos os objetivos da pesquisa e assinado
25
o Termo de Autorização Institucional (APÊNDICE B).
Após autorização das escolas, foram entregues convites aos alunos, somente
àqueles dentro da faixa etária do estudo, contendo informações sucintas da
pesquisa. Àqueles que tiveram interesse na participação do filho na pesquisa,
completaram com seus dados pessoais e devolveram o convite a secretaria da
escola, posteriormente entregue a pesquisadora responsável. Por meio dos dados
informados, os sujeitos foram contatados para agendamento das avaliações.
Composição do GC: Foram convidados em média 250 alunos, desses
somente 57 sujeitos demonstraram interesse em participar da pesquisa. Todos os
sujeitos foram contatados, porém apenas 26 participaram da pesquisa, sendo um
excluído segundo critério de exclusão deste estudo.
3.4.3 Procedimentos de coleta de dados
As avaliações audiológicas e as coletas dos materiais biológicos, de ambos
os grupos, foram realizadas no CEREST, preferencialmente todas no mesmo dia.
Primeiramente os pais e/ou responsáveis e o próprio sujeito foram submetidos
a anamnese, no qual foram pesquisadas informações referentes aos dados
pessoais, histórico otológico e de saúde geral, queixa auditivas, alimentação,
hábitos, desempenho escolar e aspectos socioambientais.
Todos os participantes foram submetidos às seguintes avaliações: inspeção
visual do meato acústico externo, audiometria tonal liminar (ATL), imitanciometria,
emissões otoacústicas evocadas produto de distorção (EOAPD) com e sem ruído
contralateral. Além das avaliações audiológicas foi realizada a pesquisa dos
biomarcadores do metabolismo oxidativo.
3.4.3.1 Avaliações audiológicas
Inicialmente foi realizada uma triagem audiológica para atender os critérios de
inclusão e exclusão do estudo. Primeiramente foi executada a inspeção visual do
26
meato acústico externo utilizando o Otoscópio Clínico da marca Klinic Welch-Allyn,
para então realizar a ATL.
A ATL foi realizada em cabina acusticamente tratada com o audiômetro da
marca Interacoustics, modelo AC40 e fone de ouvido TDH-39. Por se tratar de uma
triagem audiológica, na ATL foram pesquisados somente os limiares de via aérea
nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz. A técnica utilizada foi descendente-
ascendente. Foram considerados indivíduos normo-ouvintes aqueles que
apresentaram média tritonal (500, 1000 e 2000 Hz) menor ou igual a 25 dBNA
(decibel Nível de Audição) (LLOYD II; KAPLAN, 1978).
As medidas de imitancio acústica foram realizadas por meio do analisador de
orelha média da marca Interacoustics, modelo AT 235 e tom-sonda 226 Hz, para
pesquisa da curva timpanométrica e dos reflexos acústicos. Estes foram
pesquisados nas frequências de 500 a 4000Hz bilateralmente, no modo
contralateral. Foram incluídas na amostra somente os escolares com timpanograma
tipo A e reflexos acústicos presentes (JERGER, 1970).
Posteriormente os sujeitos foram avaliados por meio das EOAPD em ambas
as orelhas, primeiramente na ausência e, após, na presença de estimulação
acústica contralateral. O registro das EOAPD foi realizado em local silencioso
utilizando o analisador coclear da marca Interacoustics modelo Otoread Screening.
Para obtenção das EOAPD (2F1-F2) foram utilizados dois tons puros na razão de
F2/F1=1,22, onde F1 é apresentada na intensidade de L1 = 65dBNPS e F2 em L2 =
55dBNPS. Para medida das EOAPD foram testadas as frequências de 1500, 2000,
3000, 4000, 5000 e 6000Hz. Foi considerado EOAPD presentes, quando a relação
sinal/ruído foi igual ou superior a 6dBNPS em pelo menos três frequências
(WAGNER et al., 2008).
Neste estudo, foram pesquisadas as EOAPD, pois estas avaliam uma faixa
mais ampla de frequências, incluindo as altas frequências, importantes na avaliação
de sujeitos expostos a ruído e/ou substâncias tóxicas. Descritas por David Kemp
(1978), as EOAPD são evocadas como resposta da intermodulação de dois tons
puros simultâneos de freqüências próximas (F1 e F2), denominados tons primários,
e apresentam como diferencial a capacidade de comportamento por freqüência.
A estimulação acústica contralateral foi um ruído branco, na intensidade de 60
dBNA (COLLET et al., 1992), gerado pelo audiômetro já citado (Interacoustics
Modelo AC 40, via fone auricular TDH-39). A fim de evitar a manipulação da sonda
27
das EOAPDs, o fone foi acoplado na orelha contralateral à captação das EOAPDs
antes do início do teste. Nesta pesquisa, obedeceu-se a seguinte ordem de
testagem: EOAPD na orelha direita (OD) sem ruído, EOAPD na OD com ruído,
EOAPD na orelha esquerda (OE) sem ruído, EOAPD na OE com ruído.
O cálculo da supressão contralateral das EOAPD foi feito pela subtração do
nível de resposta das EOAPD sem estimulação acústica contralateral do nível de
resposta das EOAPD com estimulação acústica contralateral. A análise do efeito de
supressão foi por response (resposta geral). O response é calculado a partir da
média geométrica das freqüências sob teste. Neste estudo, foi considerado efeito de
supressão presente quando houve redução das amplitudes das EOAPD de pelo
menos 0,5 dB e efeito de supressão ausente quando não ocorreu redução, ou seja,
diferença menor que 0,5 ou negativa. De acordo com Collet et al. (1992), um efeito
de supressão de 0,5 a 1,0 dB revela a integridade do SOCM.
Após as avaliações audiológicas os responsáveis receberam uma devolutiva
sendo orientados quanto aos resultados de cada teste e os encaminhamentos
necessários para aqueles que apresentaram alteração nos resultados.
3.4.3.2 Procedimentos de coleta do material biológico
Para a determinação do perfil oxidativo foi realizada uma coleta de material
biológico (sangue e células epiteliais da mucosa oral).
A coleta sanguínea foi executada do seguinte modo: o material biológico foi
obtido por meio de punção venosa, efetuada por uma técnica de enfermagem
capacitada. Os lacres da seringa e agulha foram retirados na frente do voluntário e
em seguida, foram conectadas. O sangue foi imediatamente armazenado em um
tubo com anticoagulante de heparina sódica. Após a coleta, seringa e agulha foram
descartadas em recipientes próprios para materiais perfurocortantes e infecto-
contagiosos. Este material foi utilizado nas seguintes avaliações: ensaio cometa,
Diclorofluoresceína diacetato (DCFH-DA) referente a taxa de produção de radicais
livres e ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA.
28
Logo em seguida foi efetuada a coleta das células epiteliais da mucosa oral.
Este material foi utilizado apenas no teste de micronúcleos, o procedimento de
coleta foi descrito abaixo, no detalhamento do respectivo teste.
Todo material biológico foi identificado e enviado ao laboratório de
Biogenômica da UFSM do Departamento de Morfologia-CCS, onde foram realizadas
as análises.
3.4.4 Avaliação de marcadores do metabolismo oxidativo
O perfil oxidativo foi constituído pelos seguintes indicadores de estresse ou
dano oxidativo: ensaio cometa, teste de micronúcleos, Diclorofluoresceína diacetato
(DCFH-DA) referente a taxa de produção de radicais livres e ensaio fluorimétrico de
quantificação de DNA.
3.4.4.1 Ensaio cometa
O Ensaio Cometa foi realizado de acordo com o método proposto por Singh et
al., (1988) e modificado por Collins, Ma e Duthie, (1995). Para cada indivíduo foram
confeccionadas lâminas em duplicata. Todos os passos foram conduzidos sem luz
direta para prevenir danos adicionais ao DNA. Para execução da técnica, foram
misturados 5μL de amostra (leucócitos) com 90μL de 0,75% Agarose low melting
(baixo ponto de fusão) em um microtubo. O material foi adicionado em uma lâmina
pré-coberta com agarose 1,5%, e coberta por uma lamínula, ficando na geladeira por
cinco minutos. Após, a lamínula foi retirada e a lâmina colocada em uma cuba com
solução de lise por um dia, a 4°C. Em seguida, foi realizada a eletroforese das
lâminas, utilizando tampão de eletroforese, de forma que as lâminas ficaram nessa
solução por 25 minutos em repouso para permitir o desenovelamento do DNA, e
posteriormente foi realizada a eletroforese por 25 minutos a 25 Voltz (V) e 300
microAmperes (mA). Então, as lâminas foram lavadas com solução neutralizadora
por cinco minutos por três vezes e foram lavadas duas vezes com água destilada e
29
ficaram em temperatura ambiente para secagem até o dia seguinte. As lâminas
foram reidratadas por cinco minutos e colocadas em uma cuba contendo solução
fixadora por dez minutos. A seguir, foram lavadas três vezes e postas para secar em
temperatura ambiente. Foram novamente reidratadas por cinco minutos e colocadas
em uma cuba contendo solução corante por 25 minutos a 37°C. Depois da
coloração, as lâminas foram lavadas por três vezes em água destilada e novamente
colocadas para secar em temperatura ambiente.
As lâminas foram analisadas em microscópio óptico binocular da marca
Olympus®, modelo CX40, com aumento de 400 vezes. Foi feita uma contagem, para
cada amostra, de 100 células (50 por lâmina). As lâminas foram analisadas por dois
observadores independentes e, para o índice de dano (ID), foi considerada a média
dos danos das duas lâminas analisadas. O cálculo do índice de dano (ID), foi feito a
partir da fórmula proposta por Cavalcanti et al. (2008): ID= (0 x n0) + (1 x n1) + (2 x
n2) + (3 x n3) + (4 x n4), onde n = número núcleos de cada classe analisada.
As cinco categorias que foram usadas para classificação do Cometa são
aquelas propostas por García et al. (2004) e mostradas na figura 1, a seguir:
Fígura 1. Classificação do Dano ao DNA. (Fronza et al., 2011).
3.4.4.2 Teste de Micronúcleos
Para o teste de MN foram coletadas células epiteliais da mucosa oral, por
meio do esfregaço (raspagem) da mucosa da bochecha, em média de dez vezes de
30
cada lado, utilizando escova Cytobrush ou Swab, visando adquirir o máximo possível
de células epiteliais, sem machucar o participante. Logo após a coleta, o material foi
depositado em um tubo cônico tipo Falcon, contendo 2 mL de solução fisiológica ou
solução PBS pH 7,4. Para o transporte do material até o laboratório este foi mantido
refrigerado em caixa de isopor.
As amostras foram centrifugadas a 1000-1500 RPM por dez minutos em
temperatura ambiente. Posteriormente foi desprezado o sobrenadante usando
pipetas Pauster individuais, com cuidado para não remover o pellet de células. Então
foi adicionado 1,5 mL de solução fixadora e centrifugado novamente a 1000-1500
RPM durante 1-2 minutos. Novamente foi desprezado o sobrenadante, mantendo
um pouco da solução fixadora no tubo, e então homogeneizado o conteúdo com
pipetas Pauster para ressuspender as células. O conteúdo foi depositado em
lâminas limpas e previamente identificadas, as quais foram colocadas para secar em
temperatura ambiente por 10-15 minutos. Depois foi realizada a coloração utilizando
corantes panóticos. Para finalizar as lâminas foram lavadas com água destilada para
retirar o excesso de corante e colocadas novamente para secar em temperatura
ambiente durante a 20-25 minutos.
Depois de seco, o material foi observado em microscópio óptico binocular da
marca Olympus®, modelo CX40, com magnificação de 400x para contagem dos
micronúcleos presentes e posterior análise dos dados. Foram contadas 1000 células
sendo classificadas quanto: célula normal (sem alteração), célula com MN, célula
binucleada (BN), célula com pontes nucleares (PNs) e células com Buds nucleares
(BUD) ou “Broken eggs”, conforme a figura 2:
31
Fígura 2. Classificação das células do teste de MN: A (célula sem alteração); B (célula com MN); C (célula BN). (FRONZA et al., 2011)
3.4.4.3 Taxa de produção de radicais livres
A potencial geração de EROs foi monitorada por meio do uso de uma sonda
fluorescente, a 2,7‟- diclorofluoresceína (DCF). Este ensaio foi baseado no seguinte
pressuposto químico: o diacetato de diclorofluoresceína (DCFH-DA) é capaz de se
difundir através de membranas celulares. Dentro das células esta molécula é
deacetilada pela ação das enzimas esterases intracelulares (ROTA; CHIGNELL;
MASON, 1999). Esta reação forma, por sua vez, um produto não-fluorescente, a
dihidroclorofluoresceína (DCFH). A DCFH na presença de EROs é oxidada
(preferencialmente peróxidos, hidroperóxidos e Óxido nítrico - NO●) passando para
uma forma altamente fluorescente a diclorofluoresceína (DCF). Assim, quanto maior
a fluorescência detectada pela maior absorbância avaliada pelo fluorímetro, maior a
ocorrência de compostos oxidantes. Esta avaliação foi realizada conforme Da Costa
Krewer et al. (2011).
32
3.4.4.4 Ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA.
No ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA, inicialmente o sangue total
foi centrifugado a 2000 RPM durante dez min. Para esta técnica foi utilizado o
plasma sanguíneo.
Antes de iniciar o experimento fez-se a leitura da placa de Elisa vazia. Em
seguida, pipetou-se 10μL do plasma em placa de Elisa preta em, no mínimo,
quadruplicatas. Na sequência foi adicionado 10μL do reagente PicoGreen® . Após o
término das pipetagens, a placa foi mantida em repouso (incubação) durante 5
minutos, em temperatura ambiente e de forma protegida da luz (pois o reagente
PicoGreen® é fotossensível). Passado o período de incubação, realizou-se a leitura
da placa em fluorescência, com 480nm de excitação e 520 nm de emissão. A
interpretação dos valores obtidos é dada de forma que quanto maior o valor de
fluorescência, mais DNA livre há no meio, indicando morte celular.
3.5 Análise dos dados
Os dados coletados foram dispostos em uma planilha eletrônica Excel 2007,
para posterior análise estatística. Primeiramente realizou-se a análise descritiva das
variáveis. Em seguida foi feita a análise inferencial.
As análises estatísticas foram executadas com o auxílio do software SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences), versão 17.0. Para verificar a
normalidade das variáveis utilizou-se o teste Kolmogorov-Smirnov.
Para todas as análises comparativas, das variáveis numéricas, foi utilizado o
teste t-Student para amostras independentes. Já, na comparação da variável
categórica ocorrência do efeito de supressão das EOAPD foi utilizado o teste Exato
de Fisher. Na comparação entre ocorrência de efeito de supressão e os testes
genotóxicos foi utilizado o teste de Mann Whitney.
Em todas as análises foi adotado nível de significância de 5%.
33
4 ARTIGO 1 - EMISSÕES OTOACÚSTICAS E BIOMARCADORES DO ESTRESSE OXIDATIVO EM ESCOLARES DE REGIÃO FUMICULTORA
4.1 Resumo
Objetivo: verificar a associação entre a amplitude das Emissões otoacústicas
produto de distorção (EOAPD) e biomarcadores do estresse oxidativo (EO) em
escolares residentes de região fumicultora. Material e método: Participaram do
grupo estudo (GE) 21 escolares normo-ouvintes residentes de região fumicultora e,
do grupo controle (GC) 25 escolares normo-ouvintes que não residiam na zona rural.
O sistema auditivo foi avaliado por meio das EOAPD e os biomarcadores do EO
foram: Diclorofluoresceína diacetato (DCFH-DA) e teste de micronúcleos (MN).
Resultados: Os dois grupos apresentaram EOAPD presentes em ambas as orelhas.
Detectou-se diferença significativa, entre os grupos, na orelha direita (OD) na
frequência de 4000 Hz e na orelha esquerda (OE) em 2000 Hz, sendo a média de
amplitude das EOAPD do GE menor que a do GC. Quanto a média das duas
orelhas, o GE apresentou média inferior em todas as frequências, verificando-se
diferença significativa em 2000 e 4000 Hz. Na média geral das EOAPD por orelha,
não foi observada diferença significativa. Na taxa de produção de radicais livres a
média do GE mostrou-se significativamente mais elevada que a do GC. Quanto a
freqüência de células alteradas no teste de MN a média do GE também apresentou-
se significativamente mais elevada que a do GC. Na comparação entre a amplitude
das EOAPD e os resultados dos biomarcadores do EO, verificou-se correlações
importantes. Conclusão: O GE apresentou nível de resposta das EOAPD menor em
todas as freqüências e índices elevados dos biomarcadores do EO, sendo verificada
associação entre as avaliações.
Palavras-chave: praguicidas, fumo, audição, estresse oxidativo, criança.
34
ARTICLE 1 - OTOACOUSTIC EMISSIONS AND BIOMARKERS OF OXIDATIVE STRESS IN STUDENTS OF A TOBACCO-PRODUCING REGION 4.2 Abstract
Objective: To verify the association between the amplitude of distortion-product
otoacoustic emissions (DPOAE) and biomarkers of oxidative stress (OS) in resident
students of the tobacco-producing region. Methods: 21 normal-hearing students
from the tobacco-producing region, study group (SG), and 25 normal-hearing
students who did not live in the countryside, control group (CG), participated of this
research. The auditory system was assessed by DPOAE and the following
biomarkers: dichlorofluorescein diacetate (DCFH-DA), and micronucleus test (MN).
Results: Both groups revealed DPOAE presented in both ears. Significant difference
was detected between groups in the right ear (RE) in the frequency of 4000 Hz and
in the left ear (LE) in the frequency of 2000 Hz, with the mean amplitude of the
DPOAE of the SG lower than the one found in the CG. Considering the mean of both
ears, the SG presented lower mean across all frequencies and it was found a
significant difference in the frequencies of 2000 and 4000 Hz. The overall mean of
DPOAE, by ear, no significant differences were observed. In relation to the rate of
production of free radicals, the mean of the SG was significantly higher than that of
the mean of the CG. For the frequency of abnormal cells in the MN test, the mean of
the SG also was considerate significantly higher than the mean of the CG.
Comparing the amplitudes and the results of biomarkers of EO, significant
correlations were identified. Conclusion: The SG showed a lower response level of
DPOAE at all frequencies and high levels of biomarkers of EO, being observed
association between the assessments.
Keywords: pesticides, tobacco, hearing, oxidative stress, child.
35
4.3 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos tem aumentado a preocupação sobre as consequências e
riscos para a saúde humana gerados pela exposição aos agrotóxicos. Devemos
lembrar que não é apenas o trabalhador rural que está exposto, mas sim toda sua
família. Os filhos dos agricultores podem estar expostos desde o período pré-natal e
constituem um grupo especial de risco.
O efeito da exposição continuada a agrotóxicos, por crianças e jovens é
pouco conhecido. Por estarem em desenvolvimento, os seus organismos são mais
vulneráveis a ação dos produtos químicos. Além disso, apresentam certos hábitos
mais frequentes, como “levar a mão à boca”, que aumentam as chances de ingerir
compostos tóxicos presentes na água, solo e poeira domiciliar (BENÍTEZ-LEITE et
al., 2010).
No meio rural, o uso de agrotóxicos ainda é a principal estratégia dos
agricultores para combater e prevenir as pragas agrícolas e, garantir maior
produtividade e rendimento das culturas (KUMAR; PANNEERSELVAM, 2008).
Porém, apesar de conhecer os danos dos mesmos, os agricultores fazem uso
indiscriminado e sem devida proteção individual. Esta ação acarreta
significativamente o aumento das intoxicações agudas e crônicas, por este tipo de
produto (HOSHINO et al., 2009). Na fumicultura, além dos riscos à saúde devido à
exposição aos agrotóxicos, esta população está sujeita a problemas de saúde
decorrentes do contato com a folha do tabaco, podendo alta quantidade de nicotina
ser absorvida pela pele (ARCURY et al., 2003), provocando um quadro de
intoxicação. Porém, os efeitos crônicos à saúde devido à exposição dermal da
nicotina, bem como sobre o sistema auditivo, ainda não são conhecidos.
Nos últimos anos os agrotóxicos organofosforados, mais utilizados na
fumicultura, foram introduzidos no grupo de alta prioridade para pesquisa de
ototoxicidade devido à exposição ocupacional (AZEVEDO, 2004). Ototoxicidade é
definida como dano aos sistemas coclear e/ou vestibular resultante de exposição a
substâncias químicas. Referente à ototoxicidade da nicotina são limitados os
estudos que relacionam apenas a nicotina à perda auditiva. Em geral, a discussão
se atém aos efeitos ototóxicos da nicotina no fumo relacionado ao hábito de fumar.
36
O organismo humano está sujeito ao estresse oxidativo (EO) que é definido
como o desequilíbrio entre os sistemas oxidantes e antioxidantes em favor dos
primeiros. São geradas inúmeras espécies reativas oxigênio (EROs), dentre elas os
radicais livres que, diferentemente das demais, apresentam um elétron
desemparelhado na sua camada eletrônica, favorecendo a ocorrência de danos
oxidativos (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004). Essas EROs podem ser formadas a
partir de fontes exógenas como fumo, radiações, luz ultravioleta, solventes, alguns
fármacos (BIESALKI, 2002) e agrotóxicos (KUMAR; PANNEERSELVAM, 2008) ou
de fontes endógenas. As EROs estão envolvidas em um número cada vez maior de
patologias, dentre elas a perda da audição (alteração de funcionamento coclear).
Uma forma de prevenir precocemente os danos causados pela exposição à
substâncias tóxicas é por meio do biomonitoramento humano. Este permite
identificar fatores de risco para o desenvolvimento de determinadas patologias
(MUNIZ et al., 2008 apud DA SILVA, 2011), podendo estar entre elas a perda
auditiva. A monitorização biológica da exposição a agentes químicos é uma medida
das substâncias ou seus metabólitos em vários meios biológicos como sangue,
urina, saliva, ar exalado e outros. Estes parâmetros biológicos são denominados
indicadores biológicos ou biomarcadores (AMORIN, 2003).
Os biomarcadores podem ser usados para indicar os danos às
macromoléculas (lipídios, proteínas e DNA) causados pelo EO (HWANG; KIMB,
2007). Existem diferentes biomarcadores para avaliar o EO: alguns verificam os
resultados do EO nos alvos especificamente como danos ao DNA que podem ser
avaliados, por exemplo, pelo teste de micronúcleos (MN), ou, quantificar os níveis de
produção de EROs no organismo utilizando os métodos fluorescentes.
O teste MN é utilizado no monitoramento de populações ocupacionalmente
expostas há muitos anos (KOHATSU; SHIMABUKURO; GATTÁS, 2007). MN são
fragmentos cromossômicos acêntricos ou cromossomos inteiros deixados para trás
durante a divisão celular mitótica e aparecem no citoplasma das células em interfase
como um pequeno núcleo adicional (KUMAR; PANNEERSELVAM, 2008).
Atualmente, este teste em células da mucosa oral tem sido utilizado para avaliar
múltiplos fatores, incluindo exposições ambientais e ocupacionais, como aos
agrotóxicos, estilos de vida (alcoolismo, tabagismo, estresse etc) câncer e outras
doenças (BORTOLI; AZEVEDO; SILVA, 2009).
37
Recentemente os métodos fluorescentes vêm se destacando devido a uma
maior sensibilidade e, têm sido extremamente utilizados para monitorar a produção
de EROs em células de diferentes tecidos. Outra grande vantagem desses métodos
está na sua alta sensibilidade de detecção dessas espécies, permitindo uma análise
quantitativa (SILVEIRA, 2004). Dentre estes métodos fluorescentes encontra-se a
Diclorofluoresceína diacetato (DCFH-DA), referente a taxa de produção de radicais
livres.
Ainda a avaliação da função coclear, pode ser realizada por meio das
emissões otoacústicas evocadas (EOA). Esse exame é um método eficaz de
detecção precoce de alterações auditivas. Segundo Kemp (1998), podem-se
observar alterações nas respostas das EOA antes que sejam registradas alterações
no limiar auditivo (mínimo som percebido pela orelha humano). Este tipo de
avaliação é usado também para o monitoramento de perdas auditivas. As EOA
possuem maior especificidade e sensibilidade para identificar alterações nas células
ciliadas externas (CCE), pois, estas lesões provocam diminuição da amplitude das
EOA e da relação sinal/ruído, podendo inclusive haver ausência de resposta na
região de maior dano (SOUSA et al., 2008).
Como se sabe a audição é um dos sentidos mais importantes para o
aprendizado e seu desenvolvimento está diretamente ligado ao da fala e ao
aprendizado de leitura e escrita. Por isso, é importante identificar precocemente
danos auditivos em escolares expostos à diversas substâncias tóxicas, e assim
prevenir possíveis efeitos num futuro mais distante sobre a qualidade de vida destes
jovens.
Com base no exposto, o presente estudo teve como objetivo verificar a
associação entre a amplitude das EOAPD e biomarcadores do EO em escolares
residentes de região fumicultora, com o intuito de alertar e prevenir danos futuros
nesta população.
38
4.4 MATERIAL E MÉTODO
O presente foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos
da instituição de origem, registrada sob o protocolo 0237.0.243.000-11. Esta
pesquisa foi realizada em parceria com Centro de Referência em Saúde do
Trabalhador (CEREST), de Santa Maria. Todos os sujeitos concordaram em
participar da pesquisa, receberam cópia e apresentaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A) assinado pelos responsáveis. Trata-se
de um estudo observacional, prospectivo e transversal.
Participaram deste estudo escolares residentes na zona rural fumicultora de
um município da região central do Rio Grande do Sul, que compuseram o grupo
estudo (GE). E, para o grupo controle (GC) foram recrutados escolares residentes
da zona urbana de outro município, não fumicultor, da região central do estado.
Optou-se por selecionar os escolares do GC de outro município, para garantir que
estes sujeitos estivessem livres da exposição a agrotóxicos e nicotina derivada da
folha do tabaco.
Os critérios de inclusão adotados neste estudo foram: idade entre sete e 14
anos, ser normo-ouvintes e não estar exposto continuamente a ruídos intensos e a
fumaça de cigarro. E como critérios de exclusão os seguintes fatores: apresentar
histórico de alterações otológicas, apresentar alterações audiológicas segundo
critério adotado para este estudo e apresentar doenças crônicas e/ou fazer uso de
medicação continuada.
Na seleção do GE 103 escolares residentes em região fumicultora foram
convidados à participar da pesquisa, porém apenas 25 demonstraram interesse,
sendo que 22 participaram da pesquisa. Para o recrutamento do GC foram visitadas
três escolas públicas, sendo convidados em média 250 alunos, porém
demonstraram interesse apenas 57 sujeitos e destes somente 26 escolares
participaram da pesquisa. Todas as escolas permitiram a divulgação da pesquisa e
assinaram o Termo de Autorização Institucional (APÊNDICE B).
A amostra de conveniência contou inicialmente com 48 voluntários. Destes,
dois apresentaram alterações na avaliação audiológica básica sendo excluídos da
pesquisa e encaminhados aos atendimentos necessários. A amostra final ficou
constituída de 46 escolares com idade entre sete a 14 anos, que foram divididos em
39
dois grupos:
Grupo estudo (GE): 21 escolares, 12 do gênero feminino e nove do gênero
masculino, com idades entre sete a 14 anos, normo-ouvintes, residentes da zona
rural fumicultora.
Grupo controle (GC): 25 escolares, 17 do gênero feminino e oito do gênero
masculino, com idades entre sete a 14 anos, normo-ouvintes, não residentes da
zona rural.
Tanto as avaliações audiológicas como as coletas dos materiais biológicos,
de ambos os grupos, foram realizadas no CEREST, preferencialmente todas no
mesmo dia.
Inicialmente os pais e/ou responsáveis e o próprio sujeito foram submetidos a
um questionário, no qual foram pesquisadas informações referentes aos dados
pessoais, histórico otológico e de saúde geral, queixas auditivas e aspectos
socioambientais.
Para verificar a condição auditiva os escolares foram submetidos a inspeção
visual do meato acústico externo utilizando o Otoscópio Clínico da marca Klinic
Welch-Allyn, para então realizar a audiometria tonal limiar (ATL).
A ATL foi realizada em cabina acusticamente tratada com o audiômetro da
marca Interacoustics, modelo AC40 e fone de ouvido TDH-39. Por se tratar de
apenas uma triagem audiológica, na ATL foram pesquisados somente os limiares de
via aérea nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz. A técnica utilizada foi
descendente-ascendente. Foram considerados indivíduos normo-ouvintes aqueles
que apresentaram média tritonal (500, 1000 e 2000 Hz) menor ou igual a 25 dBNA
(decibel Nível de Audição) (LLOYD II e KAPLAN, 1978).
As medidas de imitancia acústica foram realizadas por meio do analisador de
orelha média da marca Interacoustics, modelo AT 235 e tom-sonda 226 Hz, para
pesquisa da curva timpanométrica e dos reflexos acústicos. Estes foram
pesquisados nas frequências de 500 a 4000Hz bilateralmente, no modo
contralateral. Foram incluídas na amostra somente crianças com timpanograma tipo
A e reflexos acústicos presentes (JERGER, 1970).
Posteriormente os sujeitos foram avaliados por meio das Emissões
otoacústicas produto de distorção (EOAPD) em ambas as orelhas. Foram
pesquisadas as EOAPD, pois estas avaliam uma faixa mais ampla de frequências,
incluindo as altas frequências, importantes na avaliação de sujeitos expostos a ruído
40
e/ou substâncias tóxicas. Descritas por David Kemp (1978), as EOAPD são
evocadas como resposta da intermodulação de dois tons puros simultâneos de
frequências próximas (F1 e F2), denominados tons primários, e apresentam como
diferencial a capacidade de comportamento por frequência.
O registro das EOAPD foi realizado em local silencioso utilizando o analisador
coclear da marca Interacoustics, modelo Otoread Screening. Para obtenção das
EOAPD (2F1-F2) foram utilizados dois tons puros na razão de F2/F1=1,22, onde F1
é apresentada na intensidade de L1 = 65dBNPS e F2 em L2 = 55dBNPS. Para
medida das EOAPD foram testadas as frequências de 1500, 2000, 3000, 4000, 5000
e 6000Hz. Foi considerado EOAPD presentes, quando a relação sinal/ruído foi igual
ou superior a 6 dBNPS em pelo menos três frequências (WAGNER et al., 2008).
As EOAPD foram também avaliadas pela comparação dos valores médios da
relação sinal/ruído por frequência entre o GE e GC.
Além disso, executou-se a coleta do material biológico, porém, apenas 18
sujeitos do GE e 18 sujeitos do GC realizaram este procedimento, diminuindo a
amostra para estas avaliações.
A fim de avaliar parâmetros de EO, foram realizados os seguintes testes
experimentais: Diclorofluoresceína diacetato (DCFH-DA), referente a taxa de
radicais livres, e teste de micronúcleos (MN), para avaliação de possíveis alterações
metanucleares.
Para determinar a taxa de produção de radicais livres foi realizada uma coleta
sanguínea. O material biológico foi obtido por meio de punção venosa, efetuada por
uma técnica de enfermagem capacitada. Os lacres da seringa e agulha foram
retirados na frente do voluntário e em seguida, foram conectadas. O sangue foi
imediatamente armazenado em um tubo com anticoagulante de heparina sódica.
Após a coleta, seringa e agulha foram descartadas em recipientes próprios para
materiais perfurocortantes e infecto-contagiosos.
A DCFH-DA é baseada no seguinte pressuposto químico: o diacetato de
diclorofluoresceína (DCFH-DA) é capaz de se difundir através de membranas
celulares. Dentro das células esta molécula é deacetilada pela ação das enzimas
esterases intracelulares (ROTA; CHIGNELL; MASON, 1999). Esta reação forma, por
sua vez, um produto não-fluorescente, a dihidroclorofluoresceína (DCFH). A DCFH
na presença de EROs, principalmente peróxido de hidrogênio, é oxidada passando
para uma forma altamente fluorescente a diclorofluoresceína (DCF). Assim, quanto
41
maior a fluorescência emitida, maior a ocorrência de compostos oxidantes. Esta
avaliação foi realizada conforme Da Costa Krewer et al. (2011).
Já para o teste de MN foram coletadas células epiteliais da mucosa oral, por
meio do esfregaço (raspagem) da mucosa da bochecha. Logo após a coleta, o
material foi depositado em um tubo cônico tipo Falcon, contendo 2 mL de solução
fisiológica ou solução PBS pH 7,4, sendo mantido refrigerado em caixa de isopor até
o processamento. As amostras foram centrifugadas a 1000-1500 RPM por 10
minutos em temperatura ambiente. Posteriormente foi desprezado o sobrenadante
usando pipetas Pauster individuais. Então foi adicionado 1,5 mL de solução fixadora
e centrifugado novamente a 1000-1500 RPM durante 1-2 minutos. Novamente foi
desprezado o sobrenadante, mantendo um pouco da solução fixadora no tubo, de
forma a homogeneizar o conteúdo para ressuspender as células e dispô-las em
lâminas limpas e previamente identificadas. Após a devida secagem, realizou-se
coloração utilizando corantes panóticos. Para finalizar as lâminas foram lavadas com
água destilada para retirar o excesso de corante e mantidas em temperatura
ambiente para secagem.
Depois de seco, o material foi observado em microscópio óptico binocular da
marca Olympus®, modelo CX40, com magnificação de 400x para contagem das
células presentes e posterior análise dos dados. Foram contadas 1000 células
sendo classificadas quanto: célula normal (sem alteração), célula com MN, célula
binucleada (BN), célula com pontes nucleares (PNs) e células com Buds nucleares
(BUD) ou “Broken eggs”, conforme a figura abaixo:
Fígura 1. Classificação das células do teste de MN: A (célula sem alteração); B (célula com MN); C (célula BN). (FRONZA et al., 2011).
42
Para efeitos comparativos, foi utilizado o somatório de células anormais, de
todos os tipos, no total das 1000 células avaliadas.
Os dados coletados foram dispostos em uma planilha eletrônica Excel 2007,
para posterior análise estatística. As análises estatísticas foram executadas com o
auxílio do software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 17.0.
Para verificar a normalidade das variáveis utilizou-se o teste Kolmogorov-Smirnov.
Para todas as análises comparativas foi utilizado o teste t-Student para
amostras independentes. Foi adotado nível de significância de 5%, em todas as
análises.
43
4.5 RESULTADOS
Todos os sujeitos, tanto do GE quanto do GC, apresentaram EOAPD
presentes em ambas as orelhas.
Ao comparar a amplitude de resposta das EOAPD entre os grupos por
frequência, foi detectada diferença estatisticamente significante na OD para a
frequência de 4000 Hz (p<0,05), indicando que a média do GE (18,0±6,3) mostrou-
se menor que a do GC (21,7±5,6). Na OE a diferença significativa se configurou na
frequência de 2000 Hz, onde, novamente a média do GE (21,0±7,1) mostrou-se
menor que a do GC (25,3±5,1) (tabela 1).
Em relação a comparação de médias das demais frequências, tanto da OD
quanto da OE, as diferenças observadas entre o GE e GC não se mostraram
significativas (p>0,05), embora tenha se observado que, de modo geral, as médias
do GE mostraram-se menores que as do GC.
Considerando a média da OD e OE, o GE apresentou média inferior ao GC
em todas as frequências. Observou-se que para a média na frequência de 2000 Hz
foi detectada diferença significativa (p<0,05), de forma que, o GE (21,2±6,7)
apresentou média menor que o GC (25,4±4,4). Outra diferença significativa (p<0,05)
foi evidenciada na média da frequência de 4000 Hz, onde, novamente a média do
GE (18,2±4,9) se mostrou inferior que a do GC (21,1±4,9) (tabela 1).
Na média geral das EOAPD por orelha, não foi observada diferença
estatisticamente significante (tabela 1).
44
Tabela 1- Análise comparativa dos valores médios (média e desvio padrão) da amplitude de resposta das EOAPD, por frequência e média geral da OD, OE e média da OD e OE, entre os grupos estudo e controle (n=46):
EOAPD
Grupos
Valor-p Estudo (n=21) Controle (n=25)
Média Desvio padrão
Amplitude (Min-Max)
Média Desvio padrão
Amplitude (Min-Max)
OD
1500 Hz 21,4 6,8 8 – 32 21,4 7,0 3 – 30 0,993¶
2000 Hz 21,4 7,6 10 – 37 25,4 5,9 11 – 35 0,051¶
3000 Hz 22,4 6,2 8 – 31 22,4 5,1 13 – 31 0,990¶
4000 Hz 18,0 6,3 0 – 27 21,7 5,6 11 – 32 0,043¶*
5000 Hz 21,8 9,7 0 – 34 22,3 7,0 9 – 34 0,837¶
6000 Hz 20,8 10,5 0 – 34 23,7 6,7 9 – 36 0,288§
Média geral OD 20,9 6,7 5,3 – 31,5 22,8 4,7 12,2 – 32,0 0,251¶
OE
1500 Hz 20,1 6,2 6 – 28 20,6 7,7 -5 – 33 0,814¶
2000 Hz 21,0 7,1 6 – 34 25,3 5,1 17 – 36 0,020¶*
3000 Hz 21,0 7,9 1 – 33 22,9 3,6 16 – 34 0,322§
4000 Hz 18,3 6,4 0 – 27 20,4 5,5 4 – 29 0,224¶
5000 Hz 22,6 7,6 2 – 32 24,4 5,5 9 – 35 0,362¶
6000 Hz 24,0 8,3 0 – 35 25,2 5,9 12 – 36 0,584¶
Média geral OE 21,2 5,8 6,0 – 29,8 23,2 4,0 12,3 – 31,7 0,169¶
Média OE – OD
Média 1500 Hz 20,8 5,8 7,5 – 29,0 21,0 6,7 1,0 – 30,0 0,891¶
Média 2000 Hz 21,2 6,7 8,0 – 34,5 25,4 4,4 17,5 – 35,0 0,019§*
Média 3000 Hz 21,7 6,4 4,5 – 31,0 22,6 3,7 14,5 – 31,0 0,561§
Média 4000 Hz 18,2 4,9 6,5 – 27,0 21,1 4,9 10,0 – 30,5 0,049¶*
Média 5000 Hz 22,2 7,6 1,0 – 32,5 23,3 5,3 9,0 – 34,5 0,563§
Média 6000 Hz 22,4 7,8 0,0 – 33,0 24,4 5,6 10,5 – 36,0 0,331§
Média geral 21,0 5,6 5,9 – 30,7 23,0 4,1 12,3 – 31,9 0,171¶
Legenda: EOAPD = emissões otoacústicas produto de distorção; OD = orelha direita; OE= orelha esquerda; Min-Max = mínimo e máximo; ¶: Teste t-Student para grupos independentes assumindo homogeneidade de variâncias; §: Teste t-Student para grupos independentes assumindo heterogeneidade de variâncias; *p< 0,05;
Na comparação da taxa de produção de radicais livres (DCFH-DA), entre os
grupos, observou-se que a média do GE (23.144,2±2726,5) mostrou-se
significativamente (p<0,01) mais elevada que a média do GC (20.532,9±2447,1)
(tabela 2). Estes resultados indicam que o grupo de escolares expostos apresenta
um número maior de EROs.
45
Nos resultados referentes a comparação de médias da frequência de células
anormais no teste de MN foi detectada diferença estatisticamente significativa
(p<0,01), de forma que, a média do GE (24,9±9,8) mostrou-se mais elevada que a
média do GC (14,9±7,8) (tabela 2), isto nos mostra que o grupo de escolares
expostos apresenta um índice de dano a nível nuclear (células alteradas) maior que
o grupo não exposto.
Tabela 2 – Análise comparativa dos valores médios (média, desvio padrão) da taxa de produção de radicais livres (DCFH-DA) e da frequência de células anormais no teste MN, entre o grupo estudo e grupo controle (n=36):
Variável
Grupos
Valor-p Estudo (n=18) Controle (n=18)
Média Desvio padrão
Amplitude (Min-Max)
Média Desvio padrão
Amplitude (Min-Max)
Taxa de produção de radicais livres
23.144,2 2726,5 16899,5 – 27850,5
20.532,9 2447,1 16525,3 – 25236,6
0,005¶*
Frequência de células anormais –
teste MN
24,9 9,8 3,0 – 42,0 14,9 7,8 7,0 – 40,0 0,002§*
Legenda: DCFH-DA = Diclorofluoresceína diacetato; Min-Max = mínimo e máximo; ¶: Teste t-Student para grupos independentes assumindo homogeneidade de variâncias; §: Teste t-Student para grupos independentes assumindo heterogeneidade de variâncias; *p< 0,05;
46
4.6 DISCUSSÃO
Os filhos de fumicultores constituem um grupo especial de risco aos efeitos
adversos à saúde decorrentes da exposição continuada aos agrotóxicos e nicotina.
Ao realizar-se este estudo acreditava-se que o grupo de escolares expostos aos
agrotóxicos e nicotina apresentaria indicadores de possíveis alterações cocleares e
de estresse oxidativo como: amplitude das EOAPD reduzida e, elevada taxa de
produção de radicais livres bem como da frequência de células alteradas no teste de
MN, respectivamente. Todos estes achados foram encontrados, alguns de modo
estatisticamente significantes outros não, e a seguir serão cotejados com a literatura.
Tendo em vista a escassez de estudos sobre o efeito da exposição a
agrotóxicos e nicotina (folha do tabaco) sobre o sistema auditivo e associação com
biomarcadores de EO, nossos resultados foram comparados sempre que possível
com pesquisas semelhantes. Na ausência destes, os mesmos foram relacionados a
estudos com sujeitos expostos a ruídos, medicação ototóxica, cigarro, que
apresentam alguma possível correlação.
As EOA captam o funcionamento da cóclea por meio das respostas das CCE,
o teste pode revelar a integridade ou a alteração dessas estruturas, antes das
mesmas apontarem irregularidades no exame de audiometria tonal liminar (COELHO
et al., 2010).
A perda auditiva devido a exposição a agrotóxicos apresenta uma
configuração semelhante à decorrente de medicação ototóxica e ruído, ou seja,
caracteriza-se por ser uma alteração neurossensorial, que acomete inicialmente as
altas frequências (HOSHINO et al., 2008). Vários autores têm demonstrado a
importância das EOA no monitoramento audiológico de sujeitos ocupacionalmente
expostos, sendo útil no diagnóstico precoce dos danos auditivos em estágios iniciais.
Dentre os tipos de EOA encontram-se as Emissões otoacústicas transientes (EOAT)
e a EOAPD. Estas duas técnicas têm-se demonstrado eficazes para avaliar
alterações precoces no funcionamento coclear de populações ocupacionalmente
expostas (ruídos e/ou químicos). A desvantagem das EOAT é que esta técnica não
alcança as frequências acima de 4000 Hz, diferentemente das EOAPD que são mais
eficazes para detectar frequências mais agudas, importantes na avaliação de
sujeitos ocupacionalmente expostos a ruído, pesticidas e/ou solventes pelo fato
47
destes atingirem inicialmente as frequências altas (COELHO et al., 2010). Por este
motivo, nesta pesquisa optou-se por realizar as EOAPD para abranger um número
maior de altas frequências. Com isso pode-se ter deixado de captar alterações que
já podem estar na cóclea (CCE), pois as EOAT são mais sensíveis para captar
alterações de CCE que as EOAPD.
Como referido anteriormente, as alterações audiológicas causadas pela
exposição a agrotóxicos tem configuração semelhante às causadas pelo ruído.
Segundo Frota e Iorio (2002), alterações cocleares decorrentes da exposição a
níveis elevados de pressão sonora devem provocar mudanças precoces na
amplitude das EOA. Assim, acreditasse que as alterações cocleares causadas pelos
agrotóxicos bem como da nicotina também podem gerar precocemente alterações
na amplitude das EOA. Nesta pesquisa, os escolares expostos aos agrotóxicos e
nicotina apresentaram alterações na amplitude das EOA precocemente, ou seja, a
média da amplitude de resposta das EOAPD foi inferior no GE em todas as
frequências, com diferença significativa nas frequências de 2000 e 4000 Hz (Tabela
1). Estes achados concordam com a hipótese anteriormente referida.
As EOA possuem maior especificidade e sensibilidade para identificar
alterações nas CCE, pois, estas lesões provocam diminuição da amplitude das EOA
(SOUSA et al., 2008) Os resultados do presente estudo concordam com os autores
supracitados, pois, verificou-se que o GE apresentou média da amplitude das
EOAPD menor que a do GC em todas as frequências, sendo detectada diferença
significativa nas frequências de 2000 e 4000 Hz. Estes resultados sugerem que a
exposição aos agrotóxicos e nicotina pode estar causando uma diminuição funcional
precoce das CCE da cóclea no grupo de crianças expostas, já evidenciado pelas
EOAPD.
Körbes et al. (2010) investigaram o efeito dos organofosforados sobre a
audição de cobaias. Os autores não observaram alteração funcional da cóclea
evidenciada pela presença das EOAPD, apenas verificaram que os dois grupos que
receberam agrotóxicos apresentaram alterações na citoarquitetura das CCE, com
maior prejuízo das cobaias que receberam alta dosagem. Os resultados do estudo
corrente se assemelham aos achados dos autores anteriormente citados, apesar de
se tratar de estudo com cobaias, também não encontrou-se alteração funcional da
cóclea, destacada pela presença das EOAPD. Porém, foi verificada uma diferença
na média da amplitude de resposta das EOAPD entre os grupos, que pode
48
caracterizar indícios de diminuição funcional precoce das CCE da cóclea no grupo
de escolares expostos (Tabela 1).
Quanto à ação da nicotina sobre o sistema auditivo, os estudos encontrados
na literatura são relativamente limitados, a maioria se atém aos efeitos do cigarro
sobre a audição, onde a nicotina é uma das suas principais substâncias. Um estudo
que avaliou o efeito do cigarro sobre o sistema auditivo comparou os resultados das
EOAT, dentre outros testes, entre fumantes e não fumantes. Estes autores
verificaram que o grupo de fumantes apresentou nível de resposta das EOAT menor
nas frequências de 1000 Hz em ambas orelhas e 4000Hz na OE e concluíram que o
cigarro tem um efeito nocivo ao sistema auditivo (PASCHOAL; AZEVEDO, 2009). Os
resultados deste estudo vão ao encontro dos achados dos autores anteriormente
citados, apesar da utilização das EOAPD. Observou-se que o GE apresentou nível
de resposta das EOAPD menor ou igual ao GC em todas as frequências em ambas
as orelhas, apresentando diferença significativa na frequência de 4000 Hz na OD e
na frequência de 2000 Hz na OE. Considerando a média das duas orelhas, o GE
apresentou nível de resposta das EOAPD menor em todas as frequências, com
diferença significativa nas frequências de 2000 e 4000 Hz (Tabela 1).
Na literatura encontram-se diversos estudos de biomonitoramento humano
em populações expostas a agrotóxicos, inclusive de crianças expostas (MARTÍNEZ-
VALENZUELA et al., 2009; BENÍTEZ-LEITE et al., 2010; DA SILVA et al., 2012).
Estes estudos são uma ferramenta importante para estimar os riscos, prevenir e
diagnosticar precocemente futuras alterações, decorrentes da exposição a diversas
substâncias tóxicas, como agrotóxico e nicotina.
No estudo corrente, no teste de MN, foi detectada diferença estatisticamente
significativa ao comparar o somatório de células anormais entre os grupos, sendo a
média do GE mais elevada que a do GC. Estes achados concordam com os
resultados de outros estudos que também encontraram diferença significativa em
todos os tipos de células anormais ao compararem o grupo exposto com o GC
(MARTÍNEZ-VALENZUELA et al., 2009; DA SILVA et al., 2012). Outros autores
estudaram especificamente crianças expostas a agrotóxicos e também observaram
aumento significativo na frequência de células com MN no grupo exposto (BENÍTEZ-
LEITE et al., 2010). Diferentemente dos demais autores Pastor et al. (2003) não
encontraram diferença entre sujeitos expostos e não expostos a agrotóxicos quanto
a frequência de MN.
49
Outro biomarcador utilizado neste estudo foi a taxa de produção de radicais
livres, este é um método fluorescente que permite a detecção de EROs. Este
método é baseado na oxidação da sonda não fluorescente dihidroclorofluoresceína
(DCFH) para formar um produto altamente fluorescente, a 2,7‟- diclorofluoresceína
(DCF) (CHEN et al., 2010). Sabe-se que quando a diclorofluoresceína diacetato
(DCFH-DA) é adicionado às células, ele se difunde através da membrana e é
hidrolisado por esterases citosólicas para libertar DCF•- que, após a reação com
espécies oxidantes, forma um composto altamente fluorescente a DCF, sendo que a
base deste ensaio é atribuída a emissão de fluorescência que está diretamente
proporcional a presença de EROs (ROTA; CHIGNELL; MASON, 1999).
Os efeitos biológicos e toxicológicos atribuídos as EROs são cada vez mais
objeto de interesse de pesquisadores de diferentes áreas, principalmente por serem
associadas a várias condições patológicas. No entanto, as EROs apresentam
algumas características que dificultam sua detecção como uma alta reatividade e
uma meia vida curta (VOSS; SIEMS, 2006), fato que dificulta sua determinação in
vivo. Por este motivo, as sondas fluorescentes para a detecção de EROs são
ferramentas promissoras. As sondas fluorescentes são excelentes sensores de
EROs, devido à sua alta sensibilidade e simplicidade na coleta de dados (GOMES;
FERNANDES; LIMA, 2005).
Apesar disso, conforme observado na literatura, esta técnica ainda não vem
sendo muito empregada nos estudos de biomonitoramento humano. Neste estudo
esta técnica mostrou-se altamente sensível para detecção EROs e um bom
biomarcador de EO na população estudada. Os resultados desta pesquisa mostram
que, na comparação da taxa de produção de radicais livres, a média do GE
apresentou-se significativamente (p<0,01) mais elevada que a média do GC.
Neste estudo, buscou-se verificar se há associação entre a amplitude das
EOAPD e os biomarcadores do EO em escolares expostos a agrotóxicos e nicotina.
Para que se tenha um significado clínico o resultado desta associação deve
apresentar-se de modo inverso, ou seja, a redução da amplitude das EOAPD deve
estar relacionada ao aumento dos índices dos biomarcadores do EO, e vice-versa.
Na presente pesquisa, esta associação inversa foi observada e do modo esperado,
em ambos os grupos. Os resultados deste estudo revelam que o GE apresentou
nível reduzido da amplitude das EOAPD e índice elevado de células alteradas no
teste de MN e na taxa de produção de radicais livres, ao comparar com o GC. Estes
50
achados indicam uma associação entre amplitude das EOAPD e os biomarcadores
do EO.
51
4.7 CONCLUSÃO
Neste estudo os escolares de ambos os grupos apresentaram EOAPD
presentes. Porém, o GE apresentou média da amplitude de resposta das EOAPD
menor em todas as frequências. Estes resultados sugerem que a exposição aos
agrotóxicos, assim como a nicotina, pode estar causando uma diminuição funcional
coclear (CCE) precoce no grupo de escolares expostos.
O GE apresentou índice significativamente mais elevado na taxa de produção
de radicais livres e presença elevada de células alteradas no teste de MN. Estes
índices elevados dos biomarcadores do EO, também, podem estar associados à
exposição destes sujeitos aos agrotóxicos e nicotina.
Portanto, estes resultados apontam uma associação entre a amplitude das
EOAPD e índices dos biomarcadores do EO em escolares residentes de região
fumicultora.
52
4.8 REFERÊNCIAS
Benítez-Leite S, Machi ML, Fernandez V, Franco D, Ferro EA, Mojoli A et al. Daño celular en una población infantil potencialmente expuesta a pesticidas. Pediatr . (Asunción). 2010; 37(2):97-106. Kumar LP, Panneerselvam N. Toxic Effects Of Pesticides: A Review On Cytogenetic Biomonitoring Studies. Facta Universitatis Series: Medicine and Biology. 2008;15(2):46-50. Hoshino ACH, Pacheco-Ferreira H, Taguchi CK, Tomita S, Miranda MF. A auto-percepção da saúde auditiva e vestibular de trabalhadores expostos a organofosforados. Rev CEFAC. 2009;11(4):681-687. Arcury TA, Quandt SA, Preisser JS, Bernert JT, Norton D, Wang J. High levels of transdermal nicotine exposure produce green tobacco sickness in Latino farmworkers. Nicotine Tob Res. 2003; 5(3): 315-21. Azevedo APM. Efeito de produtos químicos e ruído na gênese de perda auditiva ocupacional [Dissertação]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde
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55
5 Artigo 2 – SISTEMA OLIVOCOCLEAR MEDIAL E GENOTOXICIDADE EM ESCOLARES DE REGIÃO FUMICULTORA
5.1 Resumo
Objetivo: avaliar a associação entre a função do sistema olivococlear medial
(SOCM) e biomarcadores genotóxicos em escolares residentes de região
fumicultora. Material e método: Participaram deste estudo 21 escolares normo-
ouvintes residentes de região fumicultora que compuseram o grupo estudo (GE) e,
25 escolares normo-ouvintes que não residiam na zona rural que constituíram o
grupo controle (GC). O SOCM foi avaliado através da supressão das Emissões
otoacústicas produto de distorção (EOAPD) e os biomarcadores genotóxicos foram:
ensaio cometa, teste de micronúcleos (MN) e ensaio fluorimétrico de quantificação
de DNA. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística. Resultados: Ao
comparar a ocorrência do efeito de supressão das EOAPD entre os grupos, não foi
detectada associação significativa. Tanto no ensaio cometa como no ensaio
fluorimétrico de quantificação de DNA a média do GE mostrou-se significativamente
mais elevada que a do GC. No teste de MN, verificou-se diferença significativa
quanto ao somatório de células alteradas e a frequência de células binucleadas,
sendo a média do GE mais elevada que a do GC. Já, referente à frequência de
células com MN não observou-se diferença significativa entre os grupos. Não foi
detectada associação entre ocorrência do efeito de supressão e os resultados dos
biomarcadores genotóxicos. Conclusão: O GE não apresentou alterações no
SOCM, evidenciado pela presença de supressão das EOAPD, porém apresentou
índices de dano significantemente mais elevados dos biomarcadores genotóxicos.
Entretanto, não verificou-se associação entre supressão das EOAPD e
genotoxicidade.
Palavras-chave: praguicidas, fumo, audição, via eferente, genotoxicidade, crianças.
56
ARTICLE 2 - MEDIAL OLIVOCOCHLEAR SYSTEM AND GENOTOXICITY IN STUDENTS OF THE TOBACCO-PRODUCING REGION
5.2 Abstract
Objective: To evaluate the association between the function of the medial
olivocochlear system (MOS) and the biomarkers of genotoxicity in resident students
from the tobacco-producing region. Methods: This research included 21 normal-
hearing students from the tobacco-producing region, study group (SG), and 25
normal-hearing students who did not live in the countryside, control group (CG). The
MOS was assessed by the of distortion product otoacoustic emissions (DPOAE) and
genotoxic biomarkers, such as: comet assay, micronucleus test (MN) and fluorimetric
assay for the quantification of DNA. The data were subjected to statistical analysis.
Results: By comparing the occurrence of suppression of DPOAEs between the
groups, no significant association was detected. Considering the comet assay and
the fluorimetric assay for quantitation of DNA, the mean of the SG was considerate
significantly higher than the mean of the CG. In the MN test, it was found a significant
difference in the sum of abnormal cells and in the frequency of binucleated cells, with
the mean of the SG higher than the one found in the CG. And, in relation to the
frequency of cells with MN, it showed no significant difference between both groups.
No association was found between the occurrence of suppression and the results of
genotoxicity biomarkers. Conclusion: The SG had no change in MOS, which was
evidenced by the presence of DPOAE suppression, but it presented injury rates
considerate significantly higher in relation to the genotoxic biomarkers. However,
there was no association between DPOAE suppression and genotoxicity.
Keywords: pesticides, tobacco, hearing, efferent pathway, genotoxicity, children.
57
5.3 INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de fumo do mundo,
sendo a fumicultura uma atividade de grande importância social e econômica no
país. Geralmente, é realizada por pequenos agricultores (agricultura familiar), onde
toda família trabalha e vive próxima a plantação, estando expostos a diversas
substâncias tóxicas.
Na fumicultura, diversos tipos de agrotóxicos, de classes e toxicidades
variadas, são amplamente utilizados, principalmente os organofosforados. A
aplicação de agrotóxicos é ainda o meio mais eficaz para combater e prevenir as
pragas agrícolas. O uso indiscriminado destas substâncias químicas garante maior
produtividade e reduz as perdas da safra, porém os malefícios à saúde a curto,
médio e longo prazo são desconsiderados (ARAÚJO et al., 2007; KÖRBES et al.,
2010). Contudo, na fumicultura, além dos agrotóxicos, os fumicultores estão
expostos a outros compostos orgânicos altamente tóxicos presentes nas folhas do
fumo, dentre eles destaca-se a nicotina.
A exposição a toxinas ambientais pode ocorrer por várias rotas de absorção:
inalação, ingestão ou dérmica, e pode ocorrer desde o período pré-natal (NERI et
al., 2006). As crianças estão expostas aos agrotóxicos tanto por vias ambientais (em
suas casas, escolas, jardins, alimentos e água contaminadas), como por vias
ocupacionais, durante sua participação nas atividades laborais da família e através
do contato por meio de resíduos nas roupas dos pais (SARCINELLI, 2003; PERRY,
2003).
As crianças constituem um grupo com características particulares de
exposição e especial vulnerabilidade à tóxicos ambientais. Além de estarem em fase
de desenvolvimento, diferem dos adultos por apresentarem relativa imaturidade das
funções fisiológicas e bioquímicas dos sistemas, na proporção dos componentes
corporais (água, proteínas, gordura e minérios), na estrutura anatômica dos órgãos,
na capacidade de metabolizar e excretar substâncias tóxicas (PERRY, 2003). Além
disso, apresentam certos hábitos mais frequentemente, como “levar a mão à boca”,
que aumentam as chances de ingerir compostos tóxicos presentes na água, solo e
poeira domiciliar (BENÍTEZ-LEITE et al., 2010).
58
A gama de efeitos adversos à saúde, decorrentes dos agrotóxicos, incluem
danos agudos e crônicos (BENÍTEZ-LEITE et al., 2010). Atualmente, vários estudos
têm demonstrado estreita relação entre perda auditiva e exposição a agrotóxicos
(HOSHINO et al., 2008; CRAWFORD et al., 2008; FINKLER et al., 2012). Os
agrotóxicos organofosforados induzem a alterações do sistema auditivo e vestibular,
tendo sido evidenciado também seu potencial neurotóxico (HOSHINO et al., 2008),
podendo afetar inclusive o sistema auditivo central.
Ainda não há muitas informações a respeito dos efeitos crônicos à saúde
decorrente da exposição dermal a nicotina da folha do tabaco. A principal discussão
a cerca dos efeitos ototóxicos da nicotina no fumo está relacionada ao hábito de
fumar. Alguns estudos reportam que a nicotina pode ter efeito ototóxico direto e
causar isquemia coclear (COCCHIORELLA; SHARP; PERSKY, 1995 apud
OLIVEIRA; LIMA, 2009), bem como, interfere na transmissão neural da informação
auditiva (HARKRIDER, CHAMPLIN, MCFADDEN, 2001).
O sistema auditivo central é constituído por vias auditivas aferentes e
eferentes. A via auditiva eferente dividi-se em dois feixes: sistema olivococlear
lateral e sistema olivococlear medial (SOCM). O SOCM é constituído por fibras
mielinizadas e predominantemente cruzadas, que vão inervar as células ciliadas
externas (CCE) (DURANTE, 2011). O funcionamento normal do SOCM pode ser
evidenciado pela supressão ou redução das EOA com a aplicação de um ruído
competitivo ipsilateral ou contralateralmente (MUÑIZ; VENTURA; ALGARRA, 2006).
O registro das EOA e a análise do efeito de supressão podem ser utilizados na
detecção precoce das alterações auditivas de origem coclear e retrococlear e para a
elaboração de ações preventivas em audiologia (BERNARDI, 2000).
O biomonitoramento humano é a forma mais eficiente de prevenir e
diagnosticar precocemente danos decorrentes da exposição humana a agentes
químicos, com potencial genotóxico (ANGERER et al., 2007 apud DA SILVA, 2011).
O organismo humano está sujeito ao estresse oxidativo que é definido como o
desequilíbrio entre os sistemas oxidantes (espécies reativas de oxigênio) e
antioxidantes, em favor dos primeiros (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004), causando
danos em muitos constituintes celulares, como lipídios insaturados, proteínas e DNA
(FINDLAY; TAPIERO; TOLUNSEND, 2005).
Vários agrotóxicos foram submetidos a testes e revelaram possuir potencial
genotóxico (KUMAR; PANNEERSELVAM, 2008). O fumo também vem sendo
59
reportado como fator causal de aumento dos índices de genotoxicidade (FRONZA et
al., 2011). Genotoxicidade é a capacidade que algumas substâncias têm de induzir
alterações no material genético (DNA) de organismos a elas expostos (KOHATSU;
SHIMABUKURO; GATTÁS, 2007), esta alteração é considerada um fator de risco
primário para efeitos de longo prazo.
Embora exista uma variedade de biomarcadores disponíveis para avaliar os
danos genotóxicos, tanto transitórios como permanentes, a maioria dos estudos de
biomonitoramento tem utilizado os testes de micronúcleos (MN) e ensaio cometa.
Estas duas técnicas têm sido amplamente utilizadas para investigar danos ao DNA
em populações ocupacionalmente expostas e tem-se demonstrado serem testes
rápidos e sensíveis (GROVER et al., 2009 apud DA SILVA 2011; BENÍTEZ-LEITE et
al., 2010).
Atualmente o uso de sondas fluorescentes, como no Ensaio fluorimétrico de
quantificação de DNA com a utilização do reagente Picogreen, vem se destacando.
Esta é uma técnica objetiva e altamente sensível, a qual detecta pequenas
quantidades de DNA em solução. Esta técnica desempenha um papel cada vez mais
importante em diversos estudos e aplicações biológicas, sendo bastante empregada
na biologia molecular (DRAGAN et al., 2010), mas, também pode ser usada para
analisar o efeito genotóxico ou genoprotetor de um determinado composto.
A partir do exposto, o objetivo deste trabalho foi verificar a associação entre a
função da via auditiva eferente e biomarcadores genotóxicos em escolares
residentes de região fumicultora, com o intuito de alertar e prevenir danos futuros
nesta população.
60
5.4 MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo observacional, prospectivo e transversal. Este estudo
foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da instituição de
origem, registrada sob o protocolo 0237.0.243.000-11 e contou com o apoio do
Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), de Santa Maria. Todos
os sujeitos concordaram em participar da pesquisa e apresentaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A) assinado pelos
responsáveis.
Os sujeitos deste estudo foram selecionados em escolas da rede pública de
dois municípios da região central do Rio Grande do Sul. Todas as escolas
permitiram a divulgação da pesquisa e assinaram o Termo de Autorização
Institucional (APÊNDICE B).
Os escolares para participar da presente pesquisa apresentaram como
critérios de inclusão: idade entre sete e 14 anos, ser normo-ouvintes, presença de
EOAPD, não estarem expostos continuamente a ruídos intensos e a fumaça de
cigarro. E como critérios de exclusão os seguintes fatores: apresentar histórico de
alterações otológicas, apresentar alterações audiológicas, segundo critério adotado
para este estudo e apresentar doenças crônicas e/ou fazer uso de medicação
continuada.
No grupo estudo (GE), participaram escolares residentes de zona rural
fumicultora. E, do grupo controle (GC) os escolares eram residentes de zona urbana
de outro município, não fumicultor. Os escolares do GC foram selecionados em um
município diferente do GE, com o objetivo de garantir que estes sujeitos estivessem
livres da exposição a agrotóxicos e nicotina derivada da folha do tabaco.
Na seleção do GE 103 escolares se enquadraram nos critérios de inclusão do
estudo, porém apenas 25 demonstraram interesse em participar da pesquisa, e
desses 22 participaram da pesquisa. Para o recrutamento do GC foram visitadas
três escolas públicas, sendo convidados em média 250 alunos, porém
demonstraram interesse apenas 57 sujeitos e destes somente 26 escolares
participaram da pesquisa.
A amostra de conveniência deste estudo contou inicialmente com 48
voluntários. Destes, dois apresentaram alterações na avaliação audiológica básica
61
sendo excluídos da pesquisa e encaminhados aos atendimentos necessários. A
amostra final ficou constituída de 46 escolares, sendo 21 pertencentes ao GE e 25
pertencentes ao GC.
As avaliações audiológicas e as coletas dos materiais biológicos, de ambos
os grupos, foram realizadas no CEREST, preferencialmente todas no mesmo dia.
Inicialmente os pais e/ou responsáveis e o próprio sujeito foram submetidos a
um questionário, para identificação dos critérios de inclusão e exclusão. Todos os
escolares foram submetidos a inspeção visual do meato acústico externo utilizando
o Otoscópio Clínico da marca Klinic Welch-Allyn, para verificação de quaisquer
alterações que pudessem dificultar a realização dos testes, e avaliação audiológica
básica, composta por: audiometria tonal liminar (ATL) e imitanciometria.
A ATL foi realizada em cabina acusticamente tratada com o audiômetro da
marca Interacoustics modelo AC40 e fone de ouvido TDH-39. Na ATL foram
pesquisados os limiares de via aérea nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000
Hz. A técnica utilizada foi descendente-ascendente. Foram considerados indivíduos
normo-ouvintes aqueles que apresentaram média tritonal (500, 1000 e 2000 Hz)
menor ou igual a 25 dBNA (decibel Nível de Audição) (LLOYD II e KAPLAN, 1978).
As medidas de imitancia acústica foram realizadas com o equipamento AT
235, da marca Interacoustics e tom-sonda 226 Hz, para pesquisa da curva
timpanométrica e dos reflexos acústicos. Estes foram pesquisados nas frequências
de 500 a 4000Hz bilateralmente, no modo contralateral. Foram incluídas na amostra
somente crianças com timpanograma tipo A e reflexos acústicos presentes
(JERGER, 1970).
Posteriormente os sujeitos foram avaliados por meio das EOAPD em ambas
as orelhas, primeiramente na ausência e, após, na presença da estimulação
acústica contralateral. O registro das EOAPD foi realizado em local silencioso
utilizando o equipamento portátil Otoread Screening da marca Interacoustics. Para
obtenção das EOAPD (2F1-F2) foram utilizados dois tons puros na razão de
F2/F1=1,22, onde F1 é apresentada na intensidade de L1 = 65dBNPS e F2 em L2 =
55dBNPS. Para a medida das EOAPD foram testadas as frequências de 1500, 2000,
3000, 4000, 5000 e 6000Hz. Foi considerado EOAPD presentes, quando a relação
sinal/ruído foi igual ou superior a 6 dBNPS em pelo menos três frequências
(WAGNER et al., 2008).
62
A estimulação acústica contralateral foi um ruído branco, na intensidade de 60
dBNA (COLLET et al., 1992), gerado pelo audiômetro já citado (Interacoustics,
modelo AC 40, via fone auricular TDH-39). A fim de evitar a manipulação da sonda
das EOAPDs, o fone foi acoplado na orelha contralateral à captação das EOAPDs
antes do início do teste. Nesta pesquisa, obedeceu-se a seguinte ordem de
testagem: EOAPD na orelha direita (OD) sem ruído, EOAPD na OD com ruído,
EOAPD na orelha esquerda (OE) sem ruído, EOAPD na OE com ruído.
O cálculo da supressão das EOAPD foi feito pela subtração do nível de
resposta das EOAPD sem estimulação acústica contralateral do nível de resposta
das EOAPD com estimulação acústica contralateral. A análise do efeito de
supressão foi por response (resposta geral). O response é calculado a partir da
média geométrica das freqüências sob teste. Neste estudo, foi considerado efeito de
supressão presente quando houve redução das amplitudes das EOAPD de pelo
menos 0,5 dB e efeito de supressão ausente quando diferença foi menor que 0,5 ou
negativa. De acordo com Collet et al. (1992), um efeito de supressão de 0,5 a 1,0 dB
revela a integridade do SOCM.
Por último foi executada a coleta do material biológico para realizar os testes
genotóxicos, porém, apenas 18 sujeitos do GE e 18 sujeitos do GC realizaram este
procedimento, diminuindo a amostra para estas avaliações.
Os testes de genotoxicidade realizados neste estudo foram: ensaio cometa,
teste de micronúcleos (MN) e ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA. A coleta
do material biológico (sangue e células epiteliais da mucosa oral), para a execução
desses testes, foi efetuada por uma técnica de enfermagem capacitada. Após a
coleta, o sangue foi imediatamente armazenado em um tubo com anticoagulante de
heparina sódica e, utilizado no ensaio cometa e ensaio fluorimétrico de quantificação
de DNA. As células epiteliais, para o teste de MN, foram depositadas em um tubo
cônico tipo Falcon, contendo 2 mL de solução fisiológica ou solução PBS pH 7,4.
O Ensaio Cometa foi realizado de acordo com o método proposto por Singh et
al., (1988) e modificado por Collins Ma e Duthie, (1995). Para cada indivíduo foram
confeccionadas lâminas em duplicata. Todos os passos foram conduzidos sem luz
direta para prevenir danos adicionais ao DNA. Para execução da técnica, foram
misturados 5μL de amostra (leucócitos) com 90μL de 0,75% Agarose em um
eppendorf. A solução foi adicionada em uma lâmina pré-coberta com 1% de agarose
normal, e coberta por uma lamínula, ficando na geladeira por cinco minutos. Após, a
63
lamínula foi retirada e a lâmina colocada em uma cuba com solução de lise por um
dia, a 4°C. As lâminas foram retiradas da solução de lise e lavadas com água
destilada. Em seguida, foram colocadas em uma cuba horizontal contendo solução
de eletroforese. As lâminas ficaram nessa solução por 20 minutos em repouso para
permitir o desenovelamento do DNA, e posteriormente foi realizada a eletroforese
por 20 minutos a 25 Voltz (V) e 300 microAmperes (mA). Então, as lâminas foram
colocadas em uma cuba com solução neutralisadora por cinco 45 minutos, foram
lavadas três vezes com água destilada e ficaram secando até o outro dia em
temperatura ambiente. As lâminas foram reidratadas por cinco minutos e colocadas
em uma cuba contendo solução fixadora por dez minutos. A seguir, foram lavadas
três vezes e postas para secar em temperatura ambiente. Foram novamente
reidratadas por cinco minutos e colocadas em uma cuba contendo solução corante
por 25 minutos a 37°C. Depois da coloração, as lâminas foram lavadas por três
vezes em água destilada e novamente colocadas para secar em temperatura
ambiente.
As lâminas foram analisadas em microscópio óptico binocular da marca
Olympus®, modelo CX40, com aumento de 400 vezes. Foi feita uma contagem, para
cada amostra, de 100 células (50 por lâmina). As lâminas foram analisadas por dois
observadores independentes e, para o índice de dano (ID), foi considerada a média
dos danos das duas lâminas analisadas. O cálculo do índice de dano (ID), foi feito a
partir da fórmula proposta por Cavalcanti et al. (2008): ID= (0 x n0) + (1 x n1) + (2 x
n2) + (3 x n3) + (4 x n4), onde n = número núcleos de cada classe analisada.
As cinco categorias que foram usadas para classificação do Cometa são
aquelas propostas por García et al. (2004) e mostradas na figura 1, a seguir:
64
Fígura 1. Classificação do Dano ao DNA. (Fronza et al., 2011).
No teste de MN, as amostras de células epiteliais da mucosa oral foram
centrifugadas a 1000-1500 RPM por dez minutos em temperatura ambiente.
Posteriormente foi desprezado o sobrenadante usando pipetas Pauster individuais,
com cuidado para não remover o pellet de células. Então foi adicionado 1,5 mL de
solução fixadora e centrifugado novamente a 1000-1500 RPM durante 1-2 minutos.
Novamente foi desprezado o sobrenadante, mantendo um pouco da solução
fixadora no tubo, e então homogeneizado o conteúdo com pipetas Pauster para
ressuspender as células. O conteúdo foi depositado em lâminas limpas e
previamente identificadas, as quais foram colocadas para secar em temperatura
ambiente por 10-15 min. Depois foi realizada a coloração utilizando coloração
panótica. Para finalizar as lâminas foram lavadas com água destilada para retirar o
excesso de corante e colocadas novamente para secar em temperatura ambiente
durante a 20-25 min.
Depois de seco, o material foi observado em microscópio óptico binocular da
marca Olympus®, modelo CX40, com magnificação de 400x para contagem dos
micronúcleos presentes e posterior análise dos dados. Foram contadas 1000 células
sendo classificadas quanto: célula normal (sem alteração), célula com MN, célula
binucleada (BN), célula com pontes nucleares (PNs) e células com Buds nucleares
(BUD) ou “Broken eggs”, conforme a figura abaixo:
65
Fígura 2. Classificação das células do teste de MN: A (célula sem alteração); B (célula com MN); C (célula BN). (FRONZA et al., 2011)
Para efeito comparativo, foram utilizados somente os resultados de índice de
dano ao DNA no Ensaio Cometa. E, para o teste de MN, considerou-se o somatório
de células anormais, o total de células com MN e o total de células binucleadas.
No ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA, inicialmente o sangue total
foi centrifugado a 2000 RPM durante dez min. Para esta técnica foi utilizado o
plasma sanguíneo.
Antes de iniciar o experimento fez-se a leitura da placa de Elisa vazia. Em
seguida, pipetou-se 10μL do plasma em placa de Elisa preta em, no mínimo,
quadruplicatas. Na sequência foi adicionado 10μL do reagente PicoGreen®. Após o
término das pipetagens, a placa foi mantida em repouso (incubação) durante 5 min,
em temperatura ambiente e de forma protegida da luz (pois o reagente Picogreen é
fotossensível). Passado o período de incubação, realizou-se a leitura da placa em
fluorescência, com 480nm de excitação e 520 nm de emissão. A interpretação dos
valores obtidos é dada de forma que quanto maior o valor de fluorescência, mais
DNA livre há no meio, indicando morte celular.
As análises estatísticas foram executadas com o auxílio do software SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences), versão 17.0. Para verificar a
normalidade das variáveis utilizou-se o teste Kolmogorov-Smirnov. Em todas as
análises foi adotado nível de significância de 5%.
Para a análise da ocorrência do efeito de supressão das EOAPD foi utilizado
o teste Exato de Fisher. Na comparação dos resultados do Ensaio Cometa, ensaio
fluorimétrico de quantificação de DNA e teste de micronúcleos (MN) utilizou-se o
66
teste t-Student para amostras independentes. E, para comparação entre ocorrência
de efeito de supressão e os testes genotóxicos foi utilizado o teste de Mann Whitney.
67
5.5 RESULTADOS
Todos os sujeitos, de ambos os grupos, apresentaram EOAPD em ambas as
orelhas.
Na comparação da ocorrência do efeito de supressão entre OD e OE, tanto
no GE como GC, não verificou-se diferença significativa (p< 0,05). Em função disto,
passou-se a considerar a presença ou ausência do efeito de supressão das EOAPD
da OD e da OE simultaneamente, levando-se em consideração somente o grupo ao
qual os escolares pertenciam. Considerou-se ausência de supressão da EOAPD
quando este esteve ausente em ambas as orelhas.
Ao comparar a ocorrência do efeito de supressão das EOAPD entre os
grupos, não foi detectada associação estatística significativa (p>,05), apontando
para uma relação de independência entre grupos e ocorrência de supressão das
EOAPD (tabela 1).
Tabela 1- Análise comparativa da ocorrência do efeito de supressão das EOAPD entre os grupos estudo e controle (n=46):
Supressão Grupos
Valor-pʄ Estudo (n=21) Controle (n=25)
Presente 19 (90,5%) 25 (100,0%)
0,203
Ausente 2 (9,5%) 0 (0,0%)
ʄ: Teste Exato de Fisher; * p<0,05
Na comparação da média do índice de dano no Ensaio Cometa os resultados
apontaram que a média do GE (48,4±3,2) mostrou-se significativamente mais
elevada que a do GC (37,1±17,2). A diferença significativa também se configurou na
comparação do escore do teste Ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA, onde
a média no GE foi mais elevada que no GC (46,1±18,9 vs.24,5±4,9; p<0,001) (tabela
2).
68
Tabela 2 - Análise comparativa dos valores médios (média e desvio padrão) do índice de dano do ensaio cometa e do ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA, entre os grupos estudo e controle (n=36):
Grupos
Valor-p Estudo (n=18) Controle (n=18)
Média Desvio padrão
Amplitude (Min-Max)
Média Desvio padrão
Amplitude (Min-Max)
Ensaio Cometa
48,4 3,2 28,5 – 70,5 37,1 17,2 11,0 – 74,0 0,033¶
Ensaio fluorimétrico quantificação
de DNA
46,1 18,9 25,7 – 84,8 24,5 4,9 19,1 – 38,4 <0,001§
Legenda: Min-Max = mínimo e máximo; ¶: Teste t-Student para grupos independentes assumindo homogeneidade de variâncias; §: Teste t-Student para grupos independentes assumindo heterogeneidade de variâncias; *p< 0,05;
No teste de MN, ao comparar o somatório de células anormais entre os
grupos, foi detectada diferença estatisticamente significativa (p<0,01), de forma que,
a média do GE (24,9±9,8) mostrou-se mais elevada que a média do GC (14,9±7,8)
(tabela 2). Nos resultados referentes a comparação entre grupos da frequência de
células binucleadas, foi detectada diferença estatística significativa (p<0,01), de
forma que, o grupo estudo (12,2±6,5) apresentou média mais elevada que o grupo
controle (6,3±2,2). Na comparação da freqüência de células com MN o GE também
apresentou a taxa de células com MN maior que o GC, porém a diferença
significativa não se configurou (p>0,05), apontando que, as variações das médias
entre os GE e GC se devem ao acaso (tabela 3).
69
Tabela 3 - Análise comparativa dos valores médios (média e desvio padrão) das variáveis do teste de MN entre os grupos estudo e controle (n=36):
Variáveis
Grupos
Valor-p Estudo (n=18) Controle (n=18)
Média Desvio padrão
Amplitude Média Desvio padrão
Amplitude
Células anormais 24,9 9,8 3,0 – 42,0 14,9 7,8 7,0 – 40,0 0,002§*
Binucleadas 12,2 6,5 2,0 – 27,0 6,3 2,2 3,0 – 11,0 0,002§
Micronúcleos 11,6 7,2 0,0 – 24,0 8,2 7,2 1,0 – 32,0 0,168¶
Legenda: MN = micronúcleos ¶: Teste t-Student para grupos independentes assumindo homogeneidade de variâncias; §: Teste t-Student para grupos independentes assumindo heterogeneidade de variâncias; *p< 0,05;
Tomando como base de comparação a presença e ausência do efeito de
supressão das EOAPD, foi comparado, em cada grupo, o índice de dano do Ensaio
cometa e Ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA, bem como, a frequência de
células anormais do teste de MN. Conforme os resultados da tabela 4, não foram
detectadas diferenças estatisticamente significativas (p>0,05), indicando que as
médias das variáveis comparadas independem da supressão no GE. Nas
informações referentes ao GC não foram registrados caso de ausência de supressão
das EOAPD, o que impediu a realização da análise comparativa.
Tabela 4 - Associação entre efeito de supressão das EOAPD e índice de dano ao DNA em testes genotóxicos entre os grupos estudo e controle:
Variáveis
Grupos
Estudo Controle
Supressão Supressão
Presente (n=16)
Ausente (n=2)
pƐ Presente (n=18)
Ausente (n=0)
Ensaio Cometa 48,2±13,7 50,2±10,2 0,844 37,1±17,2 ±
Ensaio fluorimétrico quantificação de
DNA
45,1±18,6 53,2±27,2 0,569 24,5±4,9 ±
Células anormais – teste de MN
24,9±10,3 25,0±7,1 0,994 14,9±7,8 ±
Ɛ: Teste de Mann Whitney; *p < 0,05;
70
5.6 DISCUSSÃO
Os potenciais efeitos na saúde associados com a exposição de crianças a
agrotóxicos são objeto de preocupação constante. Porém, os efeitos crônicos da
exposição continuada a agrotóxicos, bem como a nicotina (folha do tabaco), sobre o
corpo humano em desenvolvimento ainda são pouco conhecidos.
Como referido anteriormente os agrotóxicos podem afetar o sistema auditivo
periférico e central. Na presente pesquisa, foi estudado o efeito dos agrotóxicos e
nicotina sobre o SOCM por meio da supressão das EOAPD. Ao comparar a
ocorrência do efeito de supressão das EOAPD entre os grupos, não foi detectada
associação estatística significativa (p>,05), apontando para uma relação de
independência entre grupos e ocorrência de supressão das EOAPD Estes
resultados sugerem que a exposição a substâncias tóxicas (agrotóxicos e nicotina)
não afetou as funções do SOCM na população estudada.
Ressalta-se que, devido à escassez de estudos relacionando o SOCM com
exposição aos agrotóxicos e nicotina, os resultados desta pesquisa foram
comparados sempre que possível com estudos semelhantes. Na ausência desses,
os mesmos foram relacionados a estudos com sujeitos expostos a ruído e/ou outras
substâncias ototóxicas e também com estudos que avaliaram o sistema auditivo
central por meio de potenciais evocados auditivos.
Os agrotóxicos organofosforados, mais utilizados na lavoura de fumo,
apresentam um mecanismo de ação, baseado na inibição da acetilcolinesterase, que
consequentemente aumenta o nível do neurotransmissor acetilcolina nas sinapses
(OLIVEIRA-SILVA et al., 2001). Segundo Harkrider, Champlin, McFadden (2001) a
nicotina também apresenta efeito sobre o neurotransmissor acetilcolina. Os mesmos
pesquisadores avaliaram os resultados das EOA e PEATE de dez sujeitos normo-
ouvintes e não fumantes, após a administração da nicotina, e perceberam que a
mesma interfere na transmissão neural da informação auditiva. O efeito da nicotina
nos centros neurais altos pode ter efeito inibitório eferente sobre as CCE. Isto se
deve à aceleração da acetilcolina, que é o neurotransmissor da eferência do sistema
auditivo, o que implicaria no aumento do efeito da supressão das EOA.
Outra pesquisa avaliou o efeito do cigarro sobre o sistema auditivo
comparando os resultados da audiometria convencional e de alta frequência, das
71
EOAT e do efeito supressão entre fumantes e não fumantes e concluíram que o
cigarro tem um efeito nocivo sobre a audição. Especificamente sobre a avaliação do
SOCM os estudiosos observaram uma redução no nível de resposta das emissões
otoacústicas (supressão) em 100% dos casos em ambos os grupos, sendo que o
grupo de fumantes apresentou valores maiores de supressão quando comparado ao
grupo não fumante (PASCHOAL; AZEVEDO, 2009). Os resultados desta pesquisa
discordam dos dois estudos anteriormente referidos, pois, não verificou-se aumento
no efeito de supressão das EOAPD dos escolares expostos a agrotóxicos e nicotina.
Um estudo, que avaliou a condição do SOCM de sujeitos expostos a
solventes orgânicos por meio do efeito de supressão das EOAT, observou que a
presença do efeito supressor das EOAT foi maior no grupo controle (72%) em
comparação ao grupo estudo (58%), mas esta diferença não foi estatisticamente
significante (QUEVEDO; TOCHETTO; AMARAL, 2012). Na presente pesquisa a
presença do efeito supressor também foi maior no GC (100%) quando comparado
ao GE (90%), mas esta diferença foi ainda menos expressiva.
Körbes et al. (2010) investigaram o efeito dos organofosforados sobre a
audição de cobaias. Foi realizado EOAPD, PEATE e análise histológica da cóclea
de três grupos de cobaias (controle, submetidos a baixa e alta dosagem de
agrotóxicos). Os autores não observaram alteração funcional da cóclea e nervo
auditivo, apenas verificaram que os dois grupos que receberam agrotóxicos
apresentaram alterações na citoarquitetura das CCE, com maior prejuízo das
cobaias que receberam alta dosagem. Nesta pesquisa, também não foi observado
alteração funcional do SOCM.
Manjabosco, Morata e Marques (2004) referem que a perda auditiva pode ser
uma manifestação precoce da intoxicação a agrotóxicos, lesionando tanto o
componente periférico, quanto a audição central. O registro das EOA e a análise do
efeito de supressão podem ser utilizados na detecção precoce das alterações
auditivas de origem coclear e retrococlear (BERNARDI, 2000). O presente estudo,
não demonstrou alteração no sistema auditivo, evidenciado pela presença das
EOAPD e efeito de supressão.
Outra forma de prever riscos de desenvolvimento de diversas doenças
decorrente da exposição a substâncias tóxicas é por meio do biomonitoramento.
Esta é uma ferramenta útil para estimar o risco genético a partir de uma exposição
integrada a uma complexa mistura de produtos químicos (KUMAR;
72
PANNEERSELVAM, 2008). Neste estudo, os biomarcadores genotóxicos utilizados
foram: ensaio cometa, ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA e teste de MN.
No ensaio cometa o grupo de escolares expostos apresentou índice de dano
significativamente mais elevado que o grupo não exposto. Estes achados vão ao
encontro dos resultados de outros autores (JUFFO et al., 2009), que ao estudarem
os efeitos genotóxicos em fumicultores por meio do teste cometa, também
demonstraram que o grupo exposto apresentou um aumento significativo de danos
ao DNA quando comparados ao GC. Da Silva et al. (2012) também observou
aumento de dano ao DNA pelo ensaio cometa três vezes maior em fumicultores
comparado ao grupo não exposto.
Segundo Da Silva (2011) os possíveis danos genotóxicos ocasionados pela
nicotina são ainda desconhecidos. Alguns estudos (KLEINASSER et al., 2005 apud
DA SILVA, 2011; SOBKOWIAK; LESICKI, 2009 apud DA SILVA, 2011) observaram
efeito genotóxico da nicotina por meio do ensaio cometa.
No ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA o grupo de escolares
expostos também apresentou média mais elevada que o GC, esta diferença foi
altamente significante (p<0,001). O ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA é
um teste que utiliza o reagente fluorescente ultrassensível Quant-iT™ PicoGreen®
dsDNA (Invitrogen), o qual detecta pequenas quantidades de fita dupla de DNA em
solução (AHN et al., 1996). O PicoGreen (PG) se liga ao DNA e ao ligar-se aumenta
sua fluorescência > 1000 vezes e esta é proporcional a quantidade de DNA presente
(circulante) (IKEDA, IWAKIRI, YOSHIMORI, 2009; DRAGAN; BISHOP; GEDDES,
2010).
Na literatura consultada, os estudos que utilizam o ensaio fluorimétrico de
quantificação de DNA como biomarcador de exposição a pesticidas são limitados.
Porém, é uma técnica que desempenha um papel cada vez mais importante em
diversos estudos e aplicações biológicas, como técnicas de biologia molecular e de
diagnóstico (DRAGAN et al., 2010); como biomarcador para doenças severas como
a Dengue Hemorrágica (HA et al., 2011).
No presente estudo o ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA, utilizando
o reagente Picogreen, mostrou-se ser uma técnica eficaz e altamente sensível para
analisar o efeito genotóxico dos pesticidas sobre a população exposta. Estes
resultados vão ao encontro dos achados de Parra, Sánchez-Fortún e Castanõ
(2010), apesar das análises terem sido feitas em diferentes tipos de células
73
(linfócitos e células teciduais). Eles estudaram a aplicabilidade do reagente
Picogreen na quantificação de DNA para determinar o efeito genotóxico induzido por
agrotóxicos organofosforados em células teciduais de peixes. Eles concluíram que
esta metodologia foi capaz de colocar em evidência o grau de danos ao DNA
induzidos por estes agrotóxicos, e, portanto, pode ser utilizada para prever a
genotoxicidade de pesticidas, neste tipo de células. E ressaltam que a quantidade de
produtos químicos necessários, o custo e o tempo requerido para o teste é
drasticamente reduzido, podendo substituir outros testes de genotoxicidade.
Já o teste de MN é uma técnica amplamente utilizada nos estudos de
biomonitoramento de populações expostas a diversas substâncias tóxicas. No
estudo corrente, no teste de MN, foi detectada diferença estatisticamente
significativa ao comparar o somatório de células anormais e a freqüência de células
binucleadas entre os grupos, sendo a média do GE mais elevada que a do GC. No
entanto, na comparação da freqüência de células com MN a diferença significativa
não se configurou, apesar da média do GE ser maior que a do GC. Estes achados
concordam parcialmente com os resultados de outros estudiosos que encontraram
diferença significante em todos os tipos de células anormais ao compararem o grupo
exposto com o GC (MARTÍNEZ-VALENZUELA et al., 2009; BENÍTEZ-LEITE et al.,
2010; DA SILVA et al., 2012).
A maioria dos estudos analisa apenas a frequência de células com MN,
diferentemente deste estudo. Diversos estudos relataram aumento significativo na
frequência de MN em sujeitos expostos a agrotóxicos, quando comparadas com um
grupo controle (SAILAJA et al., 2006; MARTÍNEZ-VALENZUELA et al., 2009;
BORTOLI; AZEVEDO; SILVA, 2009). Outros autores estudaram especificamente
crianças expostas a agrotóxicos e também observaram aumento significativo na
freqüência de células com MN no grupo exposto (NERI, 2006; BENÍTEZ-LEITE et
al., 2010). Os resultados deste estudo discordam dos achados dos referidos autores.
No entanto, estes resultados vão ao encontro dos achados de Pastor et al. (2003)
que também não encontraram diferença entre sujeitos expostos e não expostos a
agrotóxicos quanto a frequência de MN.
Estudos têm sugerido que o estresse oxidativo causado por diversos fatores
de risco podem alterar a audição (BJELLAND; SEEBERG, 2003; ARBOLEDA-
MORENO et al., 2004). No presente estudo, buscou-se analisar a associação entre
as funções do SOCM (presença e ausência da supressão das EOAPD) e os danos
74
genotóxicos. Nossos resultados apontam que o índice de dano encontrado nos
testes genotóxicos independe da supressão das EOAPD no GE, ou seja, não há
associação positiva entre as variáveis. Fronza et al. (2011) verificaram que
indivíduos tabagistas apresentam índices elevados de genotoxicidade, evidenciado
pelo ensaio Cometa, porém, não observaram associações significativas entre a
ausência de efeito de supressão das EOAPD e genotoxicidade.
75
5.7 CONCLUSÃO
Neste estudo não foram observadas alterações no SOCM, evidenciada pela
presença de supressão das EOAPD, nos escolares residentes de região fumicultura.
Porém, já foram observados índices de dano significantemente elevados dos
biomarcadores genotóxicos, nos escolares expostos. Entretanto, não verificou-se
associação entre supressão das EOAPD e genotoxicidade.
Estes achados mostram que não há alteração da função auditiva (SOCM),
porém, os resultados dos biomarcadores genotóxicos indicam a presença de um
perfil genético suscetível para o desenvolvimento de futuras patologias decorrentes
da exposição a estes pesticidas, podendo estar entre elas à perda auditiva.
76
5.8 REFERÊNCIAS
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81
6 DISCUSSÃO GERAL
Os efeitos na saúde em conseqüência da exposição de crianças a agrotóxicos
são objeto de preocupação constante. No caso da fumicultura os riscos a saúde são
agravados pelo contato com a nicotina contida na folha do tabaco. As crianças
constituem um grupo especial de risco, pois, seu organismo em desenvolvimento
está mais vulnerável as ações destas substâncias tóxicas. Dentre os efeitos
adversos à saúde decorrentes da exposição aos agrotóxicos, bem como a nicotina,
pode-se citar as alterações no sistema auditivo.
O principal propósito desta pesquisa foi identificar precocemente possíveis
danos não perceptíveis, como danos auditivos, causados pela exposição aos
agrotóxicos e nicotina. O diagnóstico precoce permite proporcionar melhores
condições de vida a estes sujeitos, principalmente quando se sabe das
interferências da perda auditiva na qualidade de vida das pessoas. Especialmente
no caso de escolares, as consequências sobre seu desenvolvimento/aprendizado ou
mesmo futuramente na vida adulta.
A gama de efeitos adversos à saúde, decorrentes dos agrotóxicos, incluem
danos agudos e crônicos (BENÍTEZ-LEITE et al., 2010). Os agrotóxicos
organofosforados induzem a alterações do sistema auditivo e vestibular, tendo sido
evidenciado também seu potencial neurotóxico (HOSHINO et al., 2008), podendo
afetar inclusive o sistema auditivo central.
Referente à ação da nicotina sobre o sistema auditivo são escassos os
estudos na literatura. Algumas pesquisas reportam que a nicotina pode ter efeito
ototóxico direto e causar isquemia coclear (COCCHIORELLA; SHARP; PERSKY,
1995 apud OLIVEIRA; LIMA, 2009), bem como, interfere na transmissão neural da
informação auditiva (HARKRIDER, CHAMPLIN, MCFADDEN, 2001).
Neste estudo todos os sujeitos apresentaram EOAPD presentes,
evidenciando bom funcionamento coclear (CCE). Porém, no grupo de escolares
expostos já verificou-se uma diminuição na média da amplitude das EOAPD em
todas as frequências em comparação com o GC, sendo detectada diferença
significativa nas frequências de 2000 e 4000 Hz. Estes achados sugerem que a
exposição aos agrotóxicos e nicotina pode estar causando uma diminuição funcional
82
das CCE (cóclea) precoce no grupo de escolares expostos, evidenciado pelas
EOAPD. Os resultados deste estudo vão ao encontro do proposto por Sousa et al.,
(2008), os quais referem que as alterações na CCE provocam uma diminuição da
amplitude das EOA.
Dentre os tipos de EOA encontram-se as Emissões otoacústicas transientes
(EOAT) e a EOAPD. Estas duas técnicas têm-se demonstrado eficazes para avaliar
alterações precoces no funcionamento coclear de populações ocupacionalmente
expostas (ruídos e/ou químicos). A desvantagem das EOAT é que esta técnica não
alcança as frequências acima de 4000 Hz, diferentemente das EOAPD que são mais
eficazes para detectar frequências mais agudas, importantes na avaliação de
sujeitos ocupacionalmente expostos a ruído, pesticidas e/ou solventes pelo fato
destes atingirem inicialmente as frequências altas (COELHO et al., 2010). Por este
motivo, nesta pesquisa optou-se por realizar as EOAPD para abranger um número
maior de altas frequências. Com isso pode-se ter deixado de captar alterações que
já podem estar na cóclea (CCE), pois as EOAT são mais sensíveis para captar
alterações de CCE que as EOAPD.
Como citado anteriormente estas substâncias tóxicas (agrotóxicos e nicotina)
podem também ter efeito neurotóxico, inclusive afetar o sistema auditivo central. A
supressão das EOA é uma técnica que permite avaliar a funcionalidade do SOCM.
Nesta pesquisa, não observou-se diferença significante quanto a ocorrência do
efeito de supressão, sugerindo que a exposição aos agrotóxicos e nicotina não
afetou as funções do SOCM na população estudada.
Segundo Bernardi (2000) o registro das EOA bem como a análise do efeito de
supressão podem ser utilizados na detecção precoce das alterações auditivas de
origem coclear e retrococlear. No estudo corrente, não verificou-se alteração no
SOCM evidenciado pela presença da supressão das EOAPD, porém, no registro das
EOAPD já verificou-se uma diminuição na amplitude das EOAPD no GE, o que pode
ser um indício de diminuição da função coclear (CCE) precoce.
Atualmente existe uma crescente de estudos sobre o estresse oxidativo e
suas consequências na saúde humana. Este é definido como o desequilíbrio entre
os sistemas oxidantes (EROs) e antioxidantes, em favor dos primeiros. As EROs
estão associadas a um número cada vez maior de patologias, incluindo, em menor
frequência, a perda da audição (alteração de funcionamento coclear).
83
Com isso tem-se outra forma de prevenir precocemente os danos causados
pela exposição a substâncias tóxicas, como agrotóxicos e nicotina, por meio do
biomonitoramento humano, o qual é realizado utilizando parâmetros biológicos
chamados biomarcadores. Esse permite identificar fatores de risco para o
desenvolvimento de determinadas patologias (MUNIZ et al., 2008 apud DA SILVA,
2011), podendo estar entre elas a perda auditiva.
Existe uma grande variedade de biomarcadores disponíveis para avaliar os
efeitos do estresse oxidativo, alguns verificam os resultados da exposição nos alvos
especificamente como danos ao DNA (teste de MN e ensaio cometa) ou, quantificam
os níveis de produção de EROs no organismo utilizando os métodos fluorescentes.
A capacidade que algumas substâncias têm de induzir alterações no material
genético (DNA) de organismos a elas expostos é chamada genotoxicidade
(KOHATSU; SHIMABUKURO; GATTÁS, 2007). Pesquisas já demonstraram que
tanto os agrotóxicos (KUMAR; PANNEERSELVAM, 2008) como a nicotina (FRONZA
et al., 2011) possuem este efeito genotóxico. A genotoxicidade pode ser avaliada por
meio do ensaio cometa, teste de MN e/ou ensaio fluorimétrico de quantificação de
DNA.
No ensaio cometa o grupo de escolares expostos (GE) apresentou índice de
dano significativamente mais elevado que o grupo não exposto (GC). Estes achados
vão ao encontro dos resultados de outros autores que também encontraram
aumento significativo do índice de dano a DNA no grupo exposto (fumicultores)
quando comparado ao GC (JUFFO et al., 2009; DA SILVA et al. 2012).
No teste de MN, observou-se diferença significativa ao comparar o somatório
de células anormais e a freqüência de células binucleadas entre os grupos, sendo a
média do GE mais elevada que a do GC. Estes achados concordam com os
resultados de outros pesquisadores que encontraram diferença significativa em
todos os tipos de células anormais ao compararem o grupo exposto com o GC
(MARTÍNEZ-VALENZUELA et al., 2009; BENÍTEZ-LEITE et al., 2010; DA SILVA et
al., 2012).
No entanto, na comparação da freqüência de células com MN a diferença
significativa não se configurou. Estes resultados discordam dos achados de diversos
estudos os quais relataram um aumento significativo na frequência de MN em
sujeitos expostos a agrotóxicos, quando comparadas com um GC (SAILAJA et al.,
2006; MARTÍNEZ-VALENZUELA et al., 2009; BORTOLI; AZEVEDO; SILVA, 2009),
84
inclusive naqueles que estudaram especificamente crianças expostas a agrotóxicos
(NERI, 2006; BENÍTEZ-LEITE et al., 2010). Porém, nossos resultados corroboram os
achados de Pastor et al. (2003) que também não verificaram diferença entre sujeitos
expostos e não expostos a agrotóxicos quanto a frequência de MN.
Recentemente a utilização de sondas fluorescentes vem se destacando por
serem métodos altamente sensíveis e que permitem uma análise quantitativa.
Dentre estas técnicas pode-se destacar: o Ensaio fluorimétrico de quantificação de
DNA, com a utilização do reagente Picogreen, o qual detecta pequenas quantidades
de DNA em solução (DRAGAN et al., 2010); e a Taxa de produção de radicais livres
que permite a detecção de EROs, baseado na oxidação da sonda não fluorescente
dihidroclorofluoresceína (DCFH) para formar um produto altamente fluorescente, a
2,7‟- diclorofluoresceína (DCF) (CHEN et al., 2010).
No ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA o grupo de escolares
expostos também apresentou média mais elevada que o GC, esta diferença foi
altamente significante (p<0,001). São escassos na literatura, estudos que utilizam o
ensaio fluorimétrico de quantificação de DNA como biomarcador de exposição a
pesticidas. Porém, é uma técnica que desempenha um papel cada vez mais
importante em diversos estudos e aplicações biológicas, como técnicas de biologia
molecular e de diagnóstico (DRAGAN et al., 2010); como biomarcador para doenças
severas como a Dengue Hemorrágica (HA et al., 2011). Contudo, nesta pesquisa
esta técnica mostrou-se ser eficaz e altamente sensível para analisar o efeito
genotóxico das substâncias tóxicas estudadas, sobre a população exposta. Estes
resultados vão ao encontro dos achados de Parra, Sánchez-Fortún e Castanõ
(2010) que, apesar das análises terem sido realizadas em diferentes tipos de células
(linfócitos e células teciduais), concluíram que esta metodologia foi capaz de colocar
em evidência o grau de danos ao DNA induzidos por agrotóxicos, e, portanto, pode
ser utilizada para prever a genotoxicidade de pesticidas, neste tipo de células.
A taxa de produção de radicais livres (DCFH-DA) também não é uma técnica
muito empregada nos estudos de biomonitoramento humano. No presente estudo
esta técnica mostrou-se altamente sensível para detecção EROs e um bom
biomarcador na população estudada. Os resultados desta pesquisa mostram que, na
comparação da taxa de produção de radicais livres, a média do GE apresentou-se
significativamente (p<0,01) mais elevada que a média do GC.
85
Ao correlacionar os achados das avaliações audiológicas e os biomarcadores
do metabolismo oxidativo, verificou-se associação entre a amplitude das EOAPD e
os índices dos biomarcadores do metabolismo oxidativo. Entretanto, esta associação
não foi observada entre ocorrência do efeito de supressão das EOAPD e os
resultados dos biomarcadores do metabolismo oxidativo.
86
7 CONCLUSÃO
Os resultados desta pesquisa evidenciaram que:
- Os escolares de ambos os grupos apresentaram EOAPD e efeito de
supressão presentes, evidenciando função coclear e retrococlear (SOCM) normais,
respectivamente.
- O GE apresentou índices significativamente mais elevados em todos os
testes de verificação do metabolismo oxidativo, em comparação ao GC, sendo
verificada diferença significativa entre os grupos;
- Observou-se associação entre a amplitude das EOAPD (nível reduzido) e os
resultados dos biomarcadores do metabolismo oxidativo (índices elevados);
- Não foi verificada associação entre ocorrência de supressão das EOAPD e
os resultados dos biomarcadores do metabolismo oxidativo.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- As avaliações audiológicas ainda não demonstraram alterações
permanentes do sistema auditivo, evidenciado pela presença das EOAPD e do efeito
de supressão. Porém, no grupo de escolares expostos já verificou-se uma
diminuição na média da amplitude das EOAPD em todas as frequências em
comparação com o grupo controle. Estes resultados indicam que a exposição aos
agrotóxicos, assim como a nicotina, pode estar causando uma diminuição funcional
coclear (CCE) precoce no grupo de escolares expostos.
- Referente aos biomarcadores do metabolismo oxidativo, em todos os testes
foi observada diferença significativa entre os grupos. O nível mais elevado de EROs
no GE, evidenciado pelo índice elevado na taxa de radicais livres (DCFH-DA), pode
ser o motivo da presença elevada de células alteradas a nível nuclear, visualizadas
através do teste de MN, bem como do índice superior de dano ao DNA pelo ensaio
cometa, quando comparado ao GC.
- A média inferior da amplitude das EOAPD e os índices elevados dos
biomarcadores do metabolismo oxidativo encontrados no GE, associam-se à
exposição destes sujeitos aos agrotóxicos e a nicotina da folha do tabaco.
- Os resultados desta dissertação indicam que já existe a necessidade do
biomonitoramento individual, bem como do monitoramento audiológico nesta
população. A detecção precoce de uma exposição perigosa pode diminuir
significativamente a ocorrência de efeitos adversos a saúde, por isso, além de
investigar a saúde dos escolares expostos, é necessário investir na educação e
implantar medidas de prevenção e controle da exposição.
- Sugere-se que novas pesquisas, com um número maior de sujeitos, sejam
realizadas nesta área.
88
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APÊNCICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Ministério da Educação
Universidade Federal de Santa Maria/RS Centro de Ciências da Saúde
Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana
Pesquisadores responsáveis: Professor Doutor Aron Ferreira da Silveira
Aluna: Fonoaudióloga Letícia Regina Kunst CREFONO7 9513 RS/P
Telefone: (55) 91819526 / (55) 3307-6409
E-mail : leticiakunst@yahoo.com.br
O seu filho (a) está sendo convidado a participar da pesquisa “Audição e biomarcadores do metabolismo oxidativo em escolares de região fumicultora do Rio Grande do Sul”, que tem por objetivo avaliar a audição e o metabolismo oxidativo (saúde geral) de escolares de sete a 14 anos da região central fumicultora do RS.
Para realização deste estudo contamos com a sua colaboração, permitindo que seu filho se submeta a algumas avaliações.
Primeiramente será realizada uma entrevista sobre a saúde geral e auditiva, aspectos escolares de seu filho e socioambientais.
Em seguida serão executados os testes para avaliar a audição da criança. A avaliação da audição é composta por cinco testes. No primeiro, o participante ouvirá alguns sons (“apitos”) através de fones de ouvido, e deverá levantar a mão toda vez que ouvir o apito.
Para outros três exames será colocada uma rolha de borracha na entrada de uma orelha e um fone de ouvido na outra orelha. Nestas avaliações o participante também ouvirá alguns sons. Em todos os exames o participante não precisará responder nada, os aparelhos darão as respostas.
Na última avaliação serão colocados adesivos metálicos na testa e na orelha do participante, que irão captar a resposta auditiva. O participante deverá apenas contar o número de apitos, quando a pesquisadora solicitar.
Além dessas avaliações, serão feitos exames de sangue e de saliva para ver a saúde geral das crianças. Os exames serão para verificar o nível de colesterol, glicose e outros testes. Um farmacêutico e/ou biomédico capacitado coletará, do braço da criança, uma amostra de sangue. Os lacres da seringa e agulha serão retirados na frente do paciente e em seguida o sangue será coletado. Também será feita uma raspagem na bochecha da criança com uma escova adequada para a coleta.
Benefícios: os indivíduos que participarem desta pesquisa serão beneficiados, pois receberão avaliação audiológica gratuita e, se apresentarem algum problema de audição, receberão as devidas orientações e encaminhamentos. Ainda estarão fazendo uma checagem geral da saúde. Além disso, a participação da criança poderá ajudar muitas pessoas no futuro que se beneficiarão direta ou indiretamente com os resultados deste estudo. E, no final do estudo, toda família poderá participar de palestras e receber material informativo sobre a importância do uso de equipamentos de proteção individual. Potenciais de riscos e possíveis desconfortos: A colocação da rolha de borracha na entrada da orelha poderá causar sensação de leve pressão e causar um leve desconforto. A criança pode sentir um pouco de cansaço durante as avaliações audiológicas, porém
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sempre será respeitada a tolerância dela quanto à disposição em realizar os exames. Um leve incômodo poderá ser referido quando for feita a coleta da saliva, pela raspagem da bochecha, mas sem risco de dor. Na coleta de sangue sentirá uma leve “picadinha” no braço, podendo doer um pouco e a pele ficar arroxeada no local da coleta, o que melhora em pouco tempo. Considero-me igualmente informado:
Há liberdade de deixar de participar do estudo e de solicitar explicações sobre a pesquisa a qualquer momento, sem prejuízo ou custo para a criança e familiares;
Os dados de identificação serão sigilosos e as crianças não terão seus nomes expostos/divulgados em nenhum momento;
Avaliações realizadas serão usadas para obter informações relacionadas à pesquisa e, após, serão arquivadas pelos pesquisadores para posteriores trabalhos nas áreas de fonoaudiologia, saúde pública e áreas afins; utilizadas única e exclusivamente para fins de pesquisa, publicações em revistas e eventos científicos
De que não terei gastos nesta pesquisa e não receberei pagamento para
participação nesta pesquisa.
Observação: O presente documento é baseado nas Diretrizes e Normas Regulamentadoras para a Pesquisa em Saúde, do Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196/96), sendo assinado em duas vias iguais, ficando uma via para o participante e a outra para a pesquisadora responsável.
Mediante os esclarecimentos recebidos dos pesquisadores, eu____________________________________________________________ portador do documento de identidade número _____________________, responsável por__________________________________________________ concordo com participação do mesmo (a) na pesquisa acima referida. Afirmo que estou ciente de que os dados deste estudo serão divulgados em meio científico, sem a identificação dos participantes.
Data: ___/___/___
_________________________ ____________________________ Assinatura do responsável Assinatura da pesquisadora
Eu ______________________________________ concordo em participar desta pesquisa. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa – CEO- UFSM Av. Roraima, 10 000, Prédio da Reitoria – 7º andar – Campus Universitário – 97105-900 – Santa Maria/RS Tel: (55) 3220-9362
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APÊNDICE B – Termo de Consentimento Institucional
Termo de Consentimento Institucional
Universidade Federal de Santa Maria/RS
Centro de Ciências da Saúde
Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana
TERMO DE CONSENTIMENTO INSTITUCIONAL
Esta pesquisa intitulada Audição e biomarcadores do metabolismo
oxidativo em escolares de região fumicultora do Rio Grande do Sul, está sendo
realizada pela fonoaudióloga Letícia Regina Kunst, CREFONO7 9513 RS/P, sob orientação
do professor Dr. Aron Ferreira da Silveira, e tem como objetivo avaliar o sistema auditivo e o
metabolismo oxidativo de escolares de sete a 14 anos da região central fumicultora do RS.
Esta pesquisa foi analisada e aprovada pelo comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Santa Maria/RS em 31 de outubro de 2011, sob o número: 0237.0.243.000-11.
Na escola será realizada uma triagem, através de um breve questionário, para
identificar as crianças que se enquadram nos critérios de inclusão do estudo. Àquelas que
se enquadrarem nos critérios serão entregues convites aos pais, para participação dos filhos
no estudo, nos quais constarão explicações sucintas sobre a pesquisa. Em um segundo
momento, os pais e/ou responsáveis que manifestarem interesse serão convidados para
uma reunião, na qual a pesquisadora irá expor com mais detalhes a metodologia da
pesquisa e seus benefícios, então serão agendadas as avaliações.
Para as crianças que participarem da pesquisa, será entregue aos pais/responsáveis
um termo de consentimento livre e esclarecido fornecido pela pesquisadora. Nesse termo
constarão informações detalhadas sobre os procedimentos da pesquisa, riscos e benefícios,
além da garantia do sigilo sobre os dados coletados e da liberdade de desistência da
participação a qualquer momento. Ressalta-se que a participação da criança dependerá da
assinatura desse documento, além do assentimento da própria criança em participar do
estudo.
As crianças que os pais/responsáveis consentirem a participação passarão por
diversas avaliações.
Serão realizados testes para avaliar a audição da criança. As avaliações realizadas
serão as seguintes: inspeção visual do meato acústico externo, audiometria tonal liminar,
imitanciometria, emissões otoacústicas evocadas produto de distorção com e sem ruído
contralateral. Além das avaliações audiológicas, serão feitos exames laboratoriais para
análise do metabolismo da criança. Para esses testes será coletada uma amostra de
sangue e de saliva.
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As avaliações da audição bem como a coleta do material biológico serão realizadas
no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) de Santa Maria/RS. Estes
procedimentos não causarão danos ou risco à saúde da criança. Todas as avaliações serão
realizadas por profissionais especializados.
A participação da instituição será assegurada, e todos os dados obtidos serão
mantidos em sigilo. Esses serão analisados estatisticamente, com posterior publicação dos
resultados. A participação de seu aluno nesta pesquisa poderá ser suspensa a qualquer
momento, sem prejuízo ou custo para a criança ou para a instituição.
A pesquisadora estará disponível para qualquer dúvida, nos telefones (55) 91819526
ou (55) 3307-6409 ou por e-mail leticiakunst@yahoo.com.br.
Eu, ___________________________________________ responsável legal pela instituição
_________________________________________________ autorizo a participação das
crianças na presente pesquisa. Estou ciente da finalidade deste estudo, e por isso dou
consentimento à pesquisa, contribuindo, assim, para melhor qualidade de vidas das
crianças.
_______________________________________
Assinatura do responsável pela instituição
_______________________________________
Assinatura da pesquisadora
Santa Maria, ___/___/___
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa – CEO- UFSM Av. Roraima, 10 000, Prédio da Reitoria – 7º andar – Campus Universitário – 97105-900 – Santa Maria/RS Tel: (55) 3220-9362