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Apolónio de Tiana
Apeiron Edições | 9
INTRODUÇÃO
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É provável que alguns de nós já tenham ouvido falar de Apolónio
de Tiana, porém saber ao certo quem foi e o que fez apresenta-se uma
tarefa difícil, uma vez que são escassas as obras biográficas a seu res-
peito. Este é um dos muitos assuntos indexados às páginas do ocul-
tismo ou da magia. O tema em si é complexo porque engloba um perí-
odo obscuro da história da humanidade. Estamos a falar de aconteci-
mentos do início da nossa era cristã, ou seja, de há dois mil anos. Uma
época em que proliferavam as seitas, os cultos e rituais, mistérios
(muitos deles ainda presentes no Ocidente), mesclados com antigas
crenças e superstições, e onde a religião cristã de cariz católico, tal
como hoje a vemos, ainda não tinha o seu corpo definido. Neste con-
texto, encontramos Apolónio, filósofo nascido em Capadócia, actual
Turquia, mas também Jesus, judeu, nascido em Belém, fazendo fé nos
relatos bíblicos. A complexidade deste período é de tal ordem que
marcar a fronteira histórica entre Apolónio e Jesus é quase impossível,
pois ambos colidem no modo como se apresentavam (de túnica, com
cabelos longos e sandálias), no modo como falavam e pregavam (ti-
nham o dom da palavra e cativavam quem os ouvia) e, sobretudo nos
milagres que operavam (a ressuscitação dos mortos, a multiplicação do
vinho e do pão). Refira-se que a palavra milagre era uma terminologia
não existente na época, mas hoje é corrente ouvi-la no contexto religi-
oso para definir algo extraordinário, ou seja, que está fora do domínio
da nossa compreensão. Contudo, há milhares de anos tal atributo era
visto como próprio dos sábios que, de facto, realizavam acções inexpli-
cáveis. Apolónio era um desses homens sábios, grande taumaturgo
que tinha a capacidade de operar coisas maravilhosas, desafiando,
aparentemente, as leis da natureza.
O que se apresenta nesta obra é uma página secreta, dentro do
esoterismo, de um homem-filósofo de nome Apolónio de Tiana que
George Mead, Eduardo Amarante, Dulce L. Abalada
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viveu há dois mil anos, na mesma época da de Jesus, pregando a pala-
vra de sabedoria, reformando cultos e mistérios, operando coisas ma-
ravilhosas à vista de todos, com poderes que só os magos detinham.
Se, por um lado, essa aptidão granjeou grandes simpatias entre as
gentes do povo, fez nascer, por outro lado, fortes sentimentos de anti-
patia, sobretudo entre os agentes que na época se perfilavam contra
os que pudessem ameaçar a sua autoridade, quer fosse política ou
religiosa. Diga-se de passagem que Apolónio soube muito bem con-
tornar estas aparentes dificuldades graças à sua arte de dialogar com
todos, dando conselhos a quem os pedia, quer fossem imperadores, ou
doutos, ou à multidão que se reunia à sua volta para o ouvir. Tinha o
dom da palavra, da oratória e o magnetismo próprio de um filósofo co-
nhecedor da verdade. Desde cedo iniciou-se na filosofia pitagórica, cuja
disciplina e ensinamentos seguiu criteriosamente, embora tivesse parti-
cipado, com satisfação, em muitos diálogos com os seus amigos que
seguiam os ensinamentos platónicos e peripatéticos. Porém, a uma
dada altura da sua juventude, Apolónio, respondendo à necessidade de
aprofundar mais os seus conhecimentos, a sabedoria, decidiu então
empreender os caminhos mais profundos da filosofia: a oriental, através
dos sábios orientais, dos brâmanes dos Himalaias. Pode afirmar-se com
segurança que foi um filósofo, um amante da verdade que nunca rega-
teou esforços em buscar e aprender mais para encontrar o conhecimen-
to, a Verdade. Com esse propósito aliou o conhecimento ocidental, ten-
do-se iniciado nos principais mistérios do Ocidente, com a sabedoria
oriental; ambos se complementam para quem pretenda caminhar na
senda da Sabedoria. Apolónio de Tiana alcançou a iniciação pelo estudo
contínuo dos ensinamentos e pela exigente e diária disciplina prática da
filosofia pitagórica (ocidental), bramânica e budista (oriental).
Se há filósofo que melhor espelhe a vivência da filosofia no dia-a-
-dia, como meio de chegar à Sabedoria, é Apolónio de Tiana. Não es-
tamos a falar da filosofia como é estudada, ensinada e compreendida
na actualidade. Estamos a falar da filosofia à maneira clássica, conside-
rada a mãe de todas as ciências há mais de dois mil anos. Essa ciência
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era só abraçada por alguns que amavam o saber e procuravam encon-
trar respostas para as grandes questões relativas à origem do universo
e do homem: filosofia como disciplina de exigência, de rigor para con-
sigo próprio; uma filosofia que exige a prática do ensinamento como
meio de alcançar a realização das palavras proferidas pelo oráculo e
impressas na porta do Templo de Delfos … Oh homem, conhece-te a ti
mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses . Daí a terminologia da
palavra filosofia consistir em duas simples palavras que resumem a
essência do objectivo que os estudiosos da época se propunham al-
cançar: filo (de filia) = amigo + sofia = saber. Nestes termos, filo + sofos
(filósofo) define-se como amigo do saber ou amante da sabedoria,
uma das principais condições para empreender o árduo e esforçado
caminho de trabalho de investigação das coisas e do homem (a que a
disciplina e a dedicação ou amor com que nos entregamos ao trabalho
não são factores alheios), na busca de respostas às eternas perguntas
sobre o sentido da Vida e a sua relação com o Destino, as moiras que o
tecem, tema tão caro entre o pensamento grego. Ora esse mesmo
destino viria a ser irónico para o nosso filósofo Apolónio de Tiana. Ape-
sar da importância que teve na época, o facto é que o pouco que dele
se conhece, nomeadamente os seus escritos ou aquilo que terá dito,
levantam sérias reservas quanto à sua autenticidade, porque os seus
ensinamentos foram sujeitos a falsificações e deturpações. Resta-nos,
porém, o Nuctemeron, embora dele também existissem versões falsas.
O que marca este estado de coisas resulta de que a sua vida e obra
coincidiu com uma outra personagem igualmente impactante para a
história religiosa do Ocidente: Jesus de Nazaré ou Jeshua Ben Pandira,
como é reconhecido nos escritos dos judeus. Todavia, os relatos da
vida e obra de Jesus bíblico são posteriores à sua morte. O que terá
acontecido para que não hajam vestígios de quem foi, e o que fez,
Apolónio de Tiana? Se Apolónio de Tiana e Jesus viveram na mesma
época, sabendo nós que Apolónio esteve em Roma, Grécia e nos locais
onde Jesus marcou presença, perguntamo-nos. Não terão ambos se
cruzado no caminho? Que relação existiu entre Apolónio e Jesus? Te-
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rão sido rivais? Terão sido a mesma pessoa? Que ensinamentos terão
pregado? Que história estará por detrás de um e de outro?
Apolónio de Tiana, o taumaturgo contemporâneo de Jesus é uma obra
marcadamente esotérica (interna), na verdadeira acepção da palavra.
É a única do seu género no mercado editorial português. O ensinamento
interno que tornamos público com este livro tem o condão de transfor-
mar o oculto em conhecimento e, segundo M.me Blavatsky (v. Doutrina
Oculta) o esoterismo, quando acessível a todos, deixa de ser interno
(esotérico) para passar a ser externo (exotérico), mais abrangente.
Esta é uma obra composta por quatro capítulos:
O primeiro serve como intróito à temática versada no
livro: o que é a teurgia; a magia branca e a magia negra e a sua
filha nos tempos actuais, a feitiçaria, referenciando a via da di-
reita e a via da esquerda nos caminhos percorridos pelos ma-
gos brancos e magos negros, respectivamente; o ocultismo e
os seus perigos; e, de forma sucinta, a taumaturgia;
O segundo capítulo fala resumidamente da cronologia
da vida e obra do filósofo e a sua relação com a época em que
vivia. Neste capítulo recorremos ao estudo das fontes e escritos
clássicos para abordar a polémica questão de Apolónio e Jesus;
O terceiro capítulo trata da obra que se conhece do filó-
sofo, Nuctemeron, que consta de frases contendo ensinamen-
tos esotéricos que foram intencionalmente velados e divididos
em 12 horas. Pelo carácter simbólico e oculto do ensinamento
tentámos, na medida do possível, tornar compreensível aos
nossos leitores a mensagem que aí subjaz, salvaguardando, no
entanto, que tal interpretação não se esgota em tão simples
explicações, pois as chaves para se alcançar o conhecimento
das coisas estão encobertas por sete véus;
Por último, o quarto capítulo consta de uma obra bas-
tante interessante sobre Apolónio de Tiana (e quase única,
acrescente-se), de George S. Mead, que decidimos incluir nes-
te livro, traduzida e revista do original.
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Não gostaríamos de terminar esta introdução sem deixar de citar as
palavras sábias de Confúcio, as quais, considerando-as desde já oportu-
nas para concluir a obra sobre o homem-filósofo Apolónio de Tiana,
resumem, em primeira instância, o dramatismo de toda a caminhada do
homem rumo ao seu destino: a sabedoria; e, em segunda instância, são
a chave para o homem penetrar no mistério da sua existência: O maior
indício de sabedoria é a harmonia entre as palavras e os actos.
Dulce Leal Abalada
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CAPÍTULO I
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TAUMATURGIA. TEURGIA, MAGIA E OCULTISMO
A magia é a ciência tradicional dos segredos da natureza
que a nós foi transmitida pelos magos . Eliphas Lévi
1. Taumaturgia e taumaturgo
A palavra taumaturgia deriva de duas palavras gregas: thauma,
prodígio ou milagres + theourgia, acção divina. Assim, literalmente,
podemos dizer que taumaturgia significa os prodígios ou milagres ope-
rados pela acção divina, ou melhor dito, o poder de fazer milagres com
a ajuda dos deuses. Sob este prisma a taumaturgia, também chamada
de medicina divina, é o estudo de um conjunto de técnicas que possibili-
tam a prática de um milagre. Logo, o homem que pratica a taumaturgia,
(o taumaturgo), é aquele que opera milagres. Neste contexto é necessá-
rio, antes de mais, entender o que queremos dizer com a palavra mila-
gre. Saber o seu significado é a condição sine qua non para se estudar
taumaturgia. Se o abordamos sob o prisma do Ocultismo temos que os
milagres mais não são do que os efeitos naturais de causas extraordiná-
rias; de um poder adquirido que se encontra nas mãos de poucos.
A Taumaturgia é o ramo da Magia que cuida da Medicina Oculta ou
da Ciência do poder de Curar, tal como actualmente a entendemos.
O propósito desta ciência é criar no ser humano as estruturas essenci-
ais que possibilitem e levem ao desaparecimento da deficiência no
indivíduo, isto é, à sua cura. É uma forma de energia orientada que
todo o ser humano dispõe, mas que, no entanto, desconhece e, uma
vez conhecida leva a saúde ao indivíduo. A base da cura é a procura da
harmonia do homem consigo próprio, ou melhor, o equilíbrio saudável