Post on 30-Nov-2014
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SIMPÓSIO VIRTUALCUIDAR DE IDOSOS
AS VÁRIAS MANEIRAS DE CUIDAR
INTERDISCIPLINARIDADE NO CUIDADO DO IDOSO DEPENDENTE
MÁRCIO BORGESMÁRCIO BORGESGeriatra – Editor de ConteúdoGeriatra – Editor de Conteúdo
Presidente da ABRAz MGPresidente da ABRAz MG
ExtremosUma madrugada,Um pai acamado,Uma filha acordada... banhando... secando... untando...
Nestes gestos,Diários e incansáveis,Por anos à fio,A sofrida tarefa de cuidar!
Temos um idoso, uma idosaDoente, terminante.Sobra-lhe o cuidado – untado está.É imensa a distância que os afasta da solidão!
Felizes os nossos velhosQue são secados e untados! E nossos filhos e netos, Nossa biológica continuação? Onde estarão, onde irão, o que farão?
Norberto Seródio Boechat geriatra
• A finalidade deste simpósio virtual:– Discutir conceitos, visões e expectativas relativas ao
universo gerontológico, em especial ao cuidado holístico do idoso dependente.
– Levar informação e formação para locais não atingidos pelos grandes centros, usando o alcance e a força que a internet proporciona.
– Fazer uma grande rede de troca de experiências entre os familiares, cuidadores e profissionais de saúde, preenchendo uma lacuna enorme gerada pela falta de capacitação eficaz para com o cuidado com o idoso dependente.
• Nesta palestra falaremos sobre as várias maneiras de cuidar, sob o ponto de vista da medicina geriátrica:– Cuidar como verbo e como objeto.– A humanização da medicina e a visão da geriatria
como especialidade.– O cuidado como recurso de propedêutica e
tratamento do idoso dependente.– Cuidar dos idosos dependentes, principalmente
cuidar da mulher idosa e dependente.– A avaliação global geriátrica como instrumento eficaz
no cuidado do idoso dependente.
• A palavra terapia é de origem grega e significa: EU CUIDO• Na antiga Grécia, o verdadeiro papel daquele que cuida,
do terapeuta é o de se colocar junto àquele necessitado, ao que sofre, mobilizando toda a sua experiência e saber, procurando oferecer o melhor cuidado possível.
• Os gregos, para compreender seus doentes, eles inclinavam até o leito, ouviam e examinavam, numa posição de reverência e respeito. Assim, enclinar derivou uma outra palavra muito usada em nossa língua, que também traduz em tratar, em cuidar: clínica (do grego klinos)
Do Verbo Cuidar
• Nesse sentido, ao nos referirmos à função terapêutica, pouco importa, inicialmente, a especialidade daquele que a exerce. O terapeuta pode ser um médico, um psicólogo, um fisioterapeuta, uma assistente social, uma enfermeira, até mesmo, (por que não?) um vizinho, ou seja, todo aquele a quem, em um certo momento, é dirigido um insidioso pedido de ajuda com relação a um sofrimento que busca um outro que possa compartilhá-lo, e que se disponha a acolher este pedido. Um sofrimento que o próprio sujeito desconhece, mas que encontra no sintoma, na queixa, sua forma de expressão mais requintada, quase sempre, a única possível naquele instante de sua vida." (Rubens Marcelo Volich, publicado em O Mundo da Saúde, ano 24, v. 4, jul/ago 2000, p. 237-245.)
• No caso presente, o objeto (somente no sentido semântico) de nosso cuidado é o idoso. E os idosos que mais necessitam do cuidado são aqueles mais depedentes.
• Termos como dependência, independência, autonomia, fragilidade, capacidade funcional, incapacidade, qualidade de vida, atividades de vida diária ajudam-nos a compreender melhor como deverá ser o envolvimento profissional com o idoso dependente.
• Tratar patologias e sistemas, fazer a anamnese, examinar, solicitar exames complementares e instituir terapêutica continuarão sendo os pilares da medicina. Porém com o cliente idoso, ter uma visão global, focando principalmente em suas capacidades e incapacidades, proporciona um cuidado melhor, baseada na boa medicina geríatrica.
Do Objeto de Cuidar
• AUTONOMIA: Habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre sua vida, de acordo com suas próprias regras e preferências.
• INDEPENDÊNCIA: Capacidade de viver indepente na comunidade com pouca ou nenhuma ajuda de outros.
• INCAPACIDADE: Declínio ou perda da capacidade de realizar atividades da vida diária, resultante de limitação funcional de um órgão ou membro do corpo.
• CAPACIDADE FUNCIONA: Manutenção plena das habilidades físicas e mentais desenvolvidas ao longo da vida, necessárias e suficientes para uma vida com independência e autonomia
• QUALIDADE DE VIDA:– É um conceito multidimensional, relacionado com muitos
fatores como: satisfação pessoal, bem-estar, moradia,
segurança, poder econômico, estar livre de doenças, etc.
– É a percepção que o indivíduo tem de sua posição na
vida, de acordo com a sua cultura e seus próprios valores
e objetivos de vida. No envelhecimento ela é fortemente
determinada pela manutenção da autonomia e da
independência.
• A gerontologia é ciência recente, iniciada nos primeiros anos do século XX. Já é capaz de responder muitas das questões relativas ao estudo do envelhecimento, suas causas e conseqüências, oferendo soluções eficazes para uma melhor qualidade de vida para os idosos.
• Um dos pilares da gerontologia é, justamente, olhar o idoso como pessoa e orientar toda a propedêutica com foco para o aspecto multidisciplinar.
• Trabalhar com o idoso, preocupado com a sua valorização e bem-estar é saber trabalhar em equipe.
• Sozinho, a medicina, a enfermagem, a fisioterapia, a fonoaudiologia e várias outras especialidades, pouco podem fazer.
• Assim, trabalhar com o idoso é ter uma visão ampla e multidisciplinar (trabalhar junto com vários tipos de profissionais), visando promover o envelhecimento com autonomia, ou tratar de problemas de saúde de maneira integrada, somando experiências profissionais.
• O geriatra deve buscar em sua clínica, em seu hospital este tipo de abordagem holística. Ainda é novidade em quase todas as regiões do Brasil, mas, aos poucos, temos certeza que esta mentalidade prevalecerá.
• Envelhecimento bem sucedido: Pessoas que demonstram perdas mínimas de determinadas funções (ex. densidade óssea, função cognitiva, função imunológica, etc...) associadas à idade. Representa uma porção potencialmente crescente da população global em processo de envelhecimento.
• Envelhecimento usual: Pessoas que apresentam prejuízos significativos comparado com o das pessoas mais jovens, mas não são qualificados como doentes. Apresentam grandes diferenças entre os indivíduos da mesma idade. Essas pessoas em “que pesam mais o efeito da idade” tem risco aumentado para o surgimento de doenças ou incapacidades específicas.
• Envelhecimento patológico: Pouca ou nenhuma autonomia, dependência importante, baixa capacidade funcional, atividades de vida diária com dependência. Alzheimer, Parkinson, isquemia cerebral, acamados...
Envelhecimentos...
• Cuidar dos idosos dependentes– É o grande desafio para a gerontologia e a geriatria.
Também é para todos os profissionais de saúde, para os cuidadores e para os familiares que trabalham diretamente com este idoso.
– Como questão demográfica sabemos que:• A população idosa brasileira irá dobrar nos próximos 20
anos (15 milhões para 32 milhões).• A população dos mais idosos – acima de 80 anos, não irá
dobrar, IRÁ TRIPLICAR.• A dependência é maior com a idade mais avançada!• A pergunta óbvia e preocupante: QUEM IRÁ CUIDAR DE
TANTOS IDOSOS?
• Fragilidade da idosa:– Assunto pouco revisto pela literatura gerontológica.
Demanda uma série de intervenções de políticas públicas para a terceira idade.
– Questões relativa à fragilidade da idosa:• Expectativa de vida maior que ao do idoso.• Mais passíveis de abandono e solidão.• Sofrem maus tratos com maior freqüência que o idoso
homem. Os agentes dos maus tratos, na sua grande maioria, são a família ou sua “suposta rede de proteção”: profissionais de saúde, vizinhos, parentes...
• Incipientes as iniciativas de real proteção por parte da sociedade organizada e dos poderes públicos.
• Quando falamos em cuidar de idosos, é claro que existem alguns princípios básicos. Eric Pfeiffer, psicogeriatra americano, elaborou em 1885, o que ele chamou de PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA SE TRABALHAR COM PACIENTES IDOSOS:– PACIENTES IDOSOS SÃO TRATÁVEIS: doença na velhice não
é meramente uma ocasião para lamentação, mas sim um chamado para intervenção.
– CUIDADOS AOS IDOSOS REQUEREM UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR: somente uma abordagem multidisciplinar integrada tem uma chance realista de retornar um idoso com incapacidades múltiplas a um funcionamento normal ou perto do normal.
PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA SE TRABALHAR COM PACIENTES IDOSOS
• UMA INTERVENÇÃO NA VIDA DE UM PACIENTE IDOSO DEVE SER PRECEDIDO POR UMA AVALIAÇÃO ABRANGENTE DE TODO O SEU FUNCIONAMENTO: é o que se chama de avaliação geriátrica ampla, ou seja, não somente avaliar o idoso em relação à sua saúde, mas também fazer avaliações de seus recursos sociais e financeiros, bem como sua independência para as atividades para a vida diária.
• CUIDADO AO PACIENTE IDOSO REQUER UM NOVO TIPO DE SERVIÇO - O GERENTE DE CASO: ou seja, um profissional habilitado em gerontologia, que possa implantar e gerenciar um plano de cuidados para o idoso, que leve em conta as limitações, as necessidades e o status funcional, bem como os recursos disponíveis na comunidade
• O PAPEL DA FAMÍLIA É DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA NO CUIDADO AO PACIENTE IDOSO!
• CUIDAR DO IDOSO REQUER TREINAMENTO ESPECIALIZADO EM GERIATRIA E GERONTOLOGIA: o idoso é um tipo de paciente especial, tratado de maneira própria e especial por profissionais especiais, treinados em geriatria e gerontologia.
• NÃO SÓ OS PACIENTES IDOSOS SÃO TRATÁVEIS, COMO TAMBÉM EDUCÁVEIS: aqui, afirma-se que os pacientes são capazes e estão interessados em aprender informações vitais sobre sua própria experiência de envelhecimento e são hábeis em aprender sobre como melhorar o auto-cuidado.
• PESSOAS IDOSAS NÃO SÓ SÃO TRATÁVEIS E EDUCÁVEIS, COMO TAMBÉM NOS ENSINAM SOBRE ENVELHECER: os idosos são experts em relação à experiência do envelhecimento, pois já estão vivendo esta fase em toda a sua plenitude!
• AVALIAÇÃO GLOBAL GERIÁTRICA (AGA)– É uma avaliação multidisciplinar na qual os múltiplos
problemas de pessoas idosas são descobertos, descritos e explicados; onde os recursos e habilidades são catalogados e um plano de cuidado coordenado e intervenções são desenvolvidos.
– É o processo diagnóstico multidimensional, usualmente interdisciplinar, para determinar deficiências ou habilidades dos pontos de vista médico, psicossocial e funcional.
• OBJETIVOS DA AGA Obter um diagnóstico multidimensional
Desenvolver um plano de tratamento e de reabilitação
Facilitar gerenciamento de recursos necessários para o
tratamento
Ser o instrumento de excelência na avaliação o idoso. E
quanto mais dependente for, maior será o potencial
deste instrumento de avaliação para pessoas idosas.
• Saúde física– História tradicional e exame físico– Avaliação de rotina da audição e da visão
• Avaliação da continência
• Nutrição e avaliação alimentar
• Habilidade funcional– Atividades de rotina básica– Atividades diárias comuns– Avaliação do desempenho– Avaliação da marcha, da mobilidade e
da probabilidade do risco de quedas
• Saúde mental– Avaliação cognitiva– Avaliação da depressão
• História social
• Adequação ambiental
O que é avaliadona AGA
• Múltiplas causas• Não constituem risco
iminente de vida• Comprometem
severamente a qualidade de vida
• Terapêutica complexa
GIGANTES DA GERIATRIA
IMOBILIDADEIMOBILIDADE
IATROGENIAIATROGENIA
INSTABILIDADE POSTURALINSTABILIDADE POSTURAL
INCONTINÊNCIASINCONTINÊNCIAS
INSUFICIÊNCIA CEREBRALINSUFICIÊNCIA CEREBRAL
• Finalizando esta contribuição, gostaríamos de colocar a importância da capacitação dos profissionais de saúde, dos cuidadores e dos familiares.
• A capacitação para cuidar de idoso dependente é uma necessidade imperativa, que requer uma grande mobilização de toda a sociedade, sob pena de, no futuro bem próximo, ver instalado um verdadeiro caos no sistema de saúde e de assistência social, com o crescimento exponencial dos idosos muito idosos, e dos muito dependentes que por certo virão.