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PARADIGMAS CONTEMPORÂNEOS DE EDUCAÇÃO
CONSTRUINDO REFERENCIAIS DE APOIO PARA A PRÁTICA DOCENTE
Prof. Dr. Adelar Hengemühle1
Março/2010
Resumo: 06 dimensões para construir um campo teórico que sustente práticas pedagógicas inovadoras e qualificadas ; 09 passos para preparar as instituições educacionais, principalmente os docentes, com o propósito de levar o idealizado para a prática, é o que resume este ensaio.
Palavras-chave: Fundamentos Teóricos – Projeto Pedagógico - Perfil de Estudante – Conteúdos – Metodologia - Avaliação
Referencial teórico consistente; projeto pedagógico para orientar as ações e as
metas; gestão que coordene esforços coletivos para dinamizar coletivamente o
projeto, operacionalizando as ações que levem às metas; formação continuada
para qualificar os docentes e material didático de apoio coerente com o projeto
pedagógico, são pressupostos sobre os quais se assentam as bases de uma
instituição educacional que deseja caminhar para a excelência em sua missão.
Este ensaio,
fundamentado em paradigmas teóricos da contemporaneidade,
centrado no projeto pedagógico como referência para a ação;
preocupado em superar os entraves históricos que limitam a ação
qualificada dos docentes, entre os quais os conceitos que permeiam as
várias dimensões dos conteúdos e do seu sentido de ser, somado às
dificuldades da metodologia e avaliação;
focado na elaboração de material didático de apoio, coerente com os
paradigmas teóricos,
1 Mestre em Educação pela UNICAMP/Campinas/SP (Linha de Pesquisa: Metodologia de Ensino), Doutor em Educação pela PUCRS (Linha de Pesquisa Formação de Professores), autor dos livros Gestão de Ensino e Práticas Pedagógicas e Formação de Professores: da função de Ensinar ao Resgate da Educação, ambos editados pela Ed. Vozes e organizador dos livros “Significar a Educação: da Teoria à Sala de Aula”, pela EDIPUCRS e “Da teoria à prática: a escola dos sonhos é possível” editado pela Universidade Federal do Ceará, Diretor do Instituto de Educação Cenecista Marquês de Herval e da Faculdade Cenecista de Osório, Osório/RS
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deseja contribuir com aqueles educadores abnegados que buscam ação
diferenciada em sua atuação profissional.
A temática aqui abordada é ampla e complexa. Neste pequeno ensaio,
sucintamente, vamos retomar alguns referenciais teóricos e voltar o foco para
indicadores práticos. Por isso, o (a) prezado leitor (a), para ter a compreensão
fundamentada do presente ensaio, necessitará da leitura de produções
anteriores2.
BENGALAS DE APOIO: REFERENCIAIS TEÓRICOS
Toda a ação do presente que desprezar ou não se apoiar nos
conhecimentos gerados e testados pela humanidade no passado corre grande
risco de tatear no escuro e cometer erros que, na educação, às vezes, são
irrecuperáveis, ou causam grandes problemas para os estudantes. É sobre as
teorias do passado que se assentam nossas práticas e é a partir delas que
construímos as novas, sempre mais complexas. Projetos e ações educacionais
precisam ser prospectados e executados com cuidado e zelo, pois mexem com
pessoas, em especial, pessoas, normalmente, em fases conflituosas (crianças,
adolescentes...) da vida e de formação. As teorias, como nos ensinou o Prof. Von
Zuben, da Unicamp, são nossas bengalas de apoio que ajudam a caminhar com
segurança.
Em linhas gerais, nesses referenciais teóricos, aprendemos, entre outras
coisas, que é desejo e necessidade da pessoa, desde os primórdios, encontrar
respostas para compreender o meio, agir conscientemente e de forma integrada
no mesmo, constituindo-se como sujeito capaz e em movimento. Portanto, nossos
referenciais precisam estar apoiados, entre outros, no respeito às dimensões
humanas e na visão sobre os cenários do contexto. A partir deles, construímos
fundamentos de apoio educacional para que possamos delinear as práticas
desenvolvidas na comunidade escolar com objetividade, disciplina, metas e,
2 Artigos “(Re) avaliando processos e conceitos” (/Agosto/2009), “Desenvolver habilidades, formar para as competências: modelos novos, práticas antigas” (Fev/2010) e o livro “Formação de Professores: da função de Ensinar ao Resgate da Educação”
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principalmente, voltadas para possibilitar ao ser humano desenvolver seu sentido
de vida, compreendendo a vida de forma sempre mais complexa.
Portanto, para ordenar a bússola da caminhada pedagógica, apontamos, a
seguir, uma filtragem de pensamentos que nos ajudam a organizar a visão e a
prática pedagógica. O pensamento dos teóricos, a seguir, procura fundamentar e
levar à compreensão 06 dimensões (cenários, concepção de homem, perfil de
estudante, fundamentos educacionais, perfil de professor e modelo de gestão)
que, acrescentadas à avaliação3 do processo, podem ser uma referência de
campo teórico para a construção do projeto pedagógico da instituição educacional.
DIMENSÃO 1
CENÁRIOS LOCAIS, REGIONAIS E MUNDIAIS:
REFLEXÕES SOBRE A REALIDADE DE ONDE VÊM NOSSOS ESTUDANTES
E PARA A QUAL PRECISAMOS TORNÁ-LOS COMPETENTES
A vida é dinâmica. Os referenciais mudam de forma célere. Não há mais,
aliás nunca houve, verdades acabadas. A cultura é herdada e reconstruída.
Assim, segundo Bordenave e Pereira (2001:24),
“Em um mundo de mudanças rápidas, o importante não são os
conhecimentos ou idéias, nem os comportamentos corretos e fáceis que se
esperam, mas sim o aumento da capacidade do aluno – participante e
agente da transformação social – para detectar os problemas reais e
buscar para eles soluções originais e criativas”.
Sobre as transformações e análises dos cenários, temos vastas referências
hoje. Entre tantos fundamentos, segundo nossa compreensão, esta acima
sintetiza o desafio educacional quando pretendemos desenvolver práticas
pedagógicas que capacitem os discentes a bem viver em contexto volátil, onde os
3 Aqui nos referimos à avaliação do projeto pedagógico que necessita de processo (pesquisa junto à comunidade interna e externa) para conhecer as aproximações e distanciamentos ocorridos na prática, a luz do que foi idealizado no projeto pedagógico. A partir destes dados, a instituição promove seus reposicionamentos.
3
referenciais mudam diariamente e a pessoa precisa ter cérebro sistêmico
preparado para olhar a realidade, acessar seu conhecimento teórico ou buscar
novos conhecimentos e ser capaz de compreender ou resolver os novos desafios
presentes em seu dia-a-dia.
REFLEXÃO: O material de apoio didático precisa incorporar os problemas locais,
regionais e mundiais, para que o estudante, apoiado nos fundamentos teóricos
desenvolvidos na prática pedagógica, seja capaz de compreender, resolver e agir
em situações reais de vida.
DIMENSÃO 2
EDUCAÇÃO: RESPEITO À NATUREZA HUMANA
A primeira preocupação de quem planeja e desenvolve ações educativas é
com a pessoa, pois ela é o ponto de partida e de chegada de toda reflexão e ação
pedagógica. Sucintamente, trazemos algumas reflexões sobre a pessoa que
consideramos importantes para iluminar as práticas pedagógicas. De acordo com
Popper, (1995: 70), “Possuímos uma curiosidade inata geneticamente
fundamentada e um instinto de exploração, que nos torna ativos na exploração
do nosso meio ambiente físico e social. Em ambos os casos, somos ativos
solucionadores de problemas”. Seguem Bordenave e Pereira (2001:24), “ A
aprendizagem precisa ser desejada, apoiada no interesse por resolver um
problema, detectar os problemas reais e buscar para eles soluções”. Rosa (1994,
48) afirma que “Só pensamos sobre alguma coisa quando esta nos parece
intrigante, curiosa ou interessante”.
Percebemos, nas afirmações acima, alguns termos importantes que
caracterizam o ser humano; entre estes, curioso, desejoso, interessado. Para
provocar desejo, a situação precisa ser interessante. O problema é um instigador
da motivação. É preciso ser ativo, ter instinto de exploração... Temos, portanto, um
quadro interessante para pensar a educação voltada para pessoas.
4
Outros referenciais, em síntese, sugerem que, mesmo com toda a
individualidade característica da pessoa, o ser humano possui, no mínimo, três
dimensões e potencialidades: a dimensão afetiva e as potencialidades de ter
inteligência e vontade de querer saber por que as coisas são como são. Portanto,
uma prática pedagógica que não cultive a afetividade, não considere que todos
são inteligentes e têm vontade de saber por que as coisas são como são, estará
distanciada da natureza humana.
REFLEXÃO: O material de apoio didático precisa oferecer subsídios para que os
desejos e necessidades naturais da pessoa possam ser contemplados e
desenvolvidos.
DIMENSÃO 3:
PERFIL DE ESTUDANTE NECESSÁRIO NO CONTEXTO DO SÉCULO
XXI
Os cenários, as dimensões e potencialidades do ser humano são os
parâmetros para definir o perfil de estudante. O referencial mais significativo para
definir este perfil a ser buscado pelas Instituições Educacionais no Século XXI e
que tem a preocupação em resgatar o ser humano em sua inteireza, são os quatro
pilares da educação apresentados por Delors (1996), dos quais transcrevemos e
destacamos alguns tópicos abaixo.
Aprender a Ser Aprender a Conhecer Honestidade e coerência. Valores éticos e morais. Liberdade e responsabilidade. Perseverança, constância e
persistência. Equilíbrio emocional.
Consciência de aprender a aprender, atualizar-se sempre.
Espírito de pesquisa e de busca. Capacidade de argumentar. Integração da teoria e da prática. Apropriação crítica das informações e recursos
tecnológicos. Aprender a Fazer Aprender a Conviver
Criatividade. Liderança Capacidade de comunicação. Espírito de iniciativa, invento e
Autoconhecimento para conhecer e compreender os outros.
Respeito às diferenças culturais, sociais e religiosas. Espírito cooperativo e de equipe.
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imaginação. Solução de problemas.
Capacidade para enfrentar as tensões entre as pessoas, grupos e nações.
Capacidade de dialogar.
Temos, assim, as dimensões subjetivas e cognitivas da pessoa, elencadas
nos pilares, ou seja, ser, conviver, conhecer e fazer. O desafio maior não está em
elaborar este perfil, mas em conceituar cada um dos termos e dar-lhes dimensão
concreta no processo das práticas pedagógicas. A comunidade escolar, interna e
externa, precisa refletir e definir os conceitos (ética, espírito de pesquisa,
capacidade de argumentar, solução de problemas, espírito cooperativo e de
equipe...) para que, com os conceitos claros, possa pensar e elaborar a
metodologia e a avaliação para que desenvolvam o perfil almejado, buscando a
coerência entre o idealizado e o praticado.
IMPORTANTE: O perfil almejado de estudante é o ponto central de todo
projeto pedagógico. O estudante é o motivo de existir da instituição educacional. É
dele e para ele que convergem as reflexões e as práticas. Portanto, ao ter
identificado o cenário contextual, ao ter refletido o ser humano, ao ter esclarecido
o perfil de estudante a formar nesta realidade, desenvolvendo as dimensões e
potencialidades da pessoa; precisamos fundamentar a educação que leve a este
desenvolvimento, tendo docentes e gestão adequada para dinamizar o processo
da ação pedagógica.
REFLEXÃO: O material didático de apoio precisa apresentar subsídios que
embasem, orientem e levem professores e estudantes ao desenvolvimento do
perfil almejado.
DIMENSÃO 4
EDUCAÇÃO: FUNDAMENTOS PARA ORIENTAR A AÇÃO
EDUCACIONAL
São os fundamentos educacionais que sustentam nossa prática e orientam
o caminho para as metas a serem alcançadas. Temos hoje um vasto material de
referenciais teóricos, alguns dos quais procuramos filtrar a seguir. Este conjunto
6
de fundamentos tem em comum a preocupação com as dimensões e
potencialidades humanas, suas necessidades e desejos, além do olhar voltado
para os contextos que precisam ser compreendidos e nos quais cada pessoa
busca realizar o seu sentido de vida. Na educação, o desafio, hoje, é apropriar-se
e desenvolver fundamentos que possibilitem desenvolver ao máximo as
potencialidades humanas.
Na educação, historicamente, os referenciais têm mudado, à medida que a
humanidade vai avançando em sua compreensão da vida e da pessoa. Hoje, de
acordo com Gadotti (1992, 09), “Educar significa capacitar, potencializar para que
o educando seja capaz de buscar a resposta do que pergunta, significa formar a
autonomia”. Complementando Gadotti, Bordenave e Pereira (2001, 47) citam
Rogers quando este afirma que
“... o único homem educado é aquele que aprendeu como aprender, como adaptar-
se à mudança; o homem que tenha compreendido que nenhum conhecimento é
seguro, e que somente o processo de buscar o conhecimento dá uma busca para a
segurança”
Partindo destes pensamentos, podemos afirmar que o processo de
potencializar o ser humano, ou seja, o processo de educação nunca estará
concluído. Logo, o segredo de educar está relacionado com o ato de preparar o
cérebro, para que a pessoa possa buscar, por si, infinitamente, novas respostas
para problemas sempre mais complexos. Os conceitos de educação, hoje, estão
muito aderentes aos pensamentos acima.
A partir de algumas categorias que estão em voga na atualidade,
apresentaremos, a seguir, o pensamento mais pontual de alguns teóricos,
organizados em 08 princípios, nos quais, além de referendar fundamentos,
também estaremos apontando possíveis alternativas para superar entraves que
limitam a prática idealizada.
PRINCÍPIO EDUCACIONAL 1
7
Os Conhecimentos Teóricos desenvolvidos nas práticas pedagógicas devem
ser úteis na vida das pessoas
Se os conhecimentos escolares não ajudarem as pessoas a viver com mais
qualidade, então a escola precisa rever suas práticas. Estas idéias são expressas
por muitos teóricos, como Paulo Freire (1999), quando insistia em que a
aprendizagem escolar precisa ser útil para a vida. Tomaz Tadeu da Silva
(1995), afirmando que “aprender gramática, ciências ou geografia é também
aprender disposições, consciência e sensibilidades em relação ao mundo que está
sendo descrito”. Delors (1996) que, nos quatro pilares da educação para o séc.
XXI, além de preocupar-se com o SER e o CONVIVER, propunha, no
CONHECER e FAZER, a necessidade de formar pessoas com espírito de
pesquisa, com capacidade de resolver problemas, entre outros. E Morin (2000,
40), quando criticava que os problemas fundamentais e os problemas globais
estão ausentes das ciências disciplinares.
Os seres humanos somos movidos pela motivação de encontrar sentido de
vida e utilidade quando nos empreendemos em uma ação. Portanto, a ação
educativa precisa expressar sentido e utilidade, tanto para os docentes como para
os estudantes. Sem isto, o fazer se torna automático no cumprimento de uma
tarefa insignificante que fazemos, porque alguém mandou fazer e da qual pouco
proveito levaremos.
Reflexão: O material de apoio didático precisa aproximar o conteúdo teórico dos
conteúdos do senso comum (empíricos), para que o estudante veja sentido no
mesmo e possa usá-lo para a compreensão e a solução de problemas do seu
contexto.
PRINCÍPIO EDUCACIONAL 2
A Educação do Século XXI precisa preparar o sujeito para ser
Competente
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O termo formar para as Competências, nos últimos anos, é muito abordado,
pouco compreendido e, muito menos, praticado nas salas de aula. Vamos tentar
simplificar este tema a partir dos conceitos de pensadores contemporâneos.
Segundo Moretto (2001, 86) “O objetivo da nova proposta para o ensino é
desenvolver a capacidade do sujeito para abordar situações complexas”. E assim,
Moretto (2001, 19) conceitua o termo: “Competência é a capacidade de o sujeito
mobilizar recursos (cognitivos) visando a abordar uma situação complexa”. Segue-
se Perrenoud (1999, 07) quando afirma que “Competência..é .capacidade de agir
eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimento, mas
sem limitar-se a eles”. E acrescenta o mesmo autor (1999, 53)
“Uma abordagem por competências determina o lugar dos conhecimentos –
eruditos ou não – na ação: eles constituem recursos, frequentemente
determinantes para identificar e resolver problemas, para preparar e para tomar
decisões”.
Por fim, mais alguns pensamentos de Perrenoud (1999) afirmando que
competência é a capacidade de o sujeito mobilizar recursos (cognitivos) visando
a abordar uma situação complexa. Em outro momento o autor diz que
competência em educação é a faculdade de ompetência em educação é a faculdade de mobilizar mobilizar um conjunto de um conjunto de recursosrecursos
cognitivoscognitivos - como saberes, habilidades e informações - para - como saberes, habilidades e informações - para solucionarsolucionar com com
pertinência e eficácia uma série de pertinência e eficácia uma série de situações complexas fora da rotina. situações complexas fora da rotina. Por fim,Por fim,
João Carlos Wilke,4 lembra que visar ao desenvolvimento de competências é
quebrar a cabeça para criar situações-problema que sejam, ao mesmo tempo,
mobilizadoras e orientadoras para aprendizagens específicas.
Portanto, formar para as competências requer introduzir e trabalhar a partir de
problemas significativos do contexto dos estudantes nas práticas pedagógicas e
exercitá-los para que resolvam os mesmos, apoiados nos conteúdos teóricos.
Assim, compreendemos estar formando pessoas competentes, capazes de
resolver problemas fora da rotina.
4 www.jcwilke.hpg.ig.com.brwww.jcwilke.hpg.ig.com.br
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Reflexão: Material de apoio didático precisa trazer problemas significativos do
contexto local, regional e mundial e encaminhar os estudantes para que,
apropriando-se dos conteúdos teóricos, sejam capazes de mostrar compreensão
e/ou solução dos problemas.
PRINCÍPIO EDUCACIONAL 3
Formar Pessoas Competentes pressupõe desenvolver as suas
Habilidades
Não há pessoas competentes se não tivermos cérebros exercitados em
situações complexas. Tal qual o termo formar para as Competências, o termo
desenvolver Habilidades está em voga nos últimos anos, embora, na maioria das
vezes, mal compreendido e muito menos praticado. A sua prática, aliás, está
ligada a uma mudança significativa das práticas pedagógicas - metodologia e
avaliação. Vamos ao pensamento de alguns teóricos. Afirma Moretto (2001, 21)
que
“Habilidade... saber fazer algo específico. Isto significa que estará sempre
associado a uma ação, física ou mental, indicadora de uma capacidade adquirida.
Assim, identificar, relacionar, correlacionar, aplicar, analisar, avaliar, manipular com
destreza são verbos que podem indicar a habilidade do sujeito em campos
específicos”.
Ação física, como sabemos, origina-se na ação mental e para haver ação
mental, precisamos de cérebro desenvolvido. A grande função da educação hoje é
exercitar o cérebro em ações complexas. Por isso, restringimo-nos a relacionar,
neste momento, o termo habilidade à ação de exercitar o cérebro com exercícios
mentais superiores (argumentar, analisar, compreender...).
Aqui, Thereza Bordoni5 traz também sua contribuição, ao afirmar que em lugar
de continuar a decorar conteúdos, o aluno passará a exercitar habilidades e,
através delas, à aquisição de grandes competências, ou seja, desenvolvendo
5 www.vaganaescola.com.brwww.vaganaescola.com.br
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habilidades através dos conteúdos. Percebe-se que os termos competência,
habilidade e conteúdo estão interligados na ação pedagógica. Fica pertinente
que, para formar pessoas competentes, precisamos mudar a metodologia e
avaliação: de receber informações, decorá-las e repeti-las, PARA receber
problemas, analisá-los à luz dos conteúdos teóricos e ter capacidade de
argumentar, refletir... possíveis compreensões ou aplicar, reconstruir, solucionar
problemas, sempre embasados na teoria.
Reflexão: Material de apoio didático de qualidade precisa desafiar os estudantes
para que exercitem o cérebro, a partir de problemas, fundamentados nos
conteúdos teóricos, provocando o desenvolvimento de exercícios mentais
superiores (refletir, analisar, argumentar...) que denominamos aqui de habilidades.
PRINCÍPIO EDUCACIONAL 4
UM DOS PRESSUPOSTOS BÁSICOS PARA QUE AS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS SEJAM BEM SUCEDIDAS EXIGE QUE OS DOCENTES
TENHAM CLAREZA DOS CONCEITOS SOBRE OS CONTEÚDOS: SENSO
COMUM E TEÓRICO
Conteúdo é um termo utilizado no cotidiano das Instituições de Educação. Seu
conceito, no entanto, não está claro no nível pedagógico. Em dicionários,
encontramos definições como, que está dentro de algo (O conteúdo do copo é
água), assunto ou matéria (o conteúdo do texto), ou ainda, fatos, temas,
situações, problemas, conceitos, princípios, valores, conhecimentos, etc,
produzidos pelo ser humano ou pelo meio ambiente (natureza). Nesse sentido,
parece que tudo está situado no mesmo nível de compreensão, mas não é. Senão
vejamos:
na história da humanidade, como nos dias atuais, as pessoas, no seu dia-a-
dia, estão diante de fatos, problemas, situações... , alguns corriqueiros,
outros novos, normalmente com limitada compreensão ou solução. É o
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chamado campo empírico, ou senso comum, pois está incorporado no
imaginário das pessoas;
também, tanto na história, como hoje, temos pessoas que, através de
processos investigativos sempre mais avançados, são capazes, segundo
Carlos Fontes6, de organizar um conjunto coerente de princípios que
explicam fenômenos complexos, tornando-os compreensíveis aos olhos
das pessoas que têm limitada compreensão diante de certos fatos,
situações e problemas. É o chamado campo teórico.
Para haver compreensão, é preciso aproximar o campo empírico do campo
teórico, onde um explica o outro e abre o horizonte de análise de fatos, situações
e problemas sempre mais complexos.
Aqui temos, como já foi abordado nos artigos anteriores, um grande problema
na educação, pois não há clareza dos conteúdos que se encontram no campo
empírico e no campo teórico. É preciso classificar o que é empírico (que precisa
ser explicado) e o que é teórico (que explica algo). Para ilustrar essa problemática
dos conteúdos e seus conceitos, temos a figura abaixo, onde o campo empírico
(senso comum do presente e do passado) e o senso teórico estão interligados e
significados.
6 www.afilosofia.no.sapo.pt/conceitos
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SENSO COMUM DO PASSADO
SENSO COMUM DO PRESENTE
CAMPO EMPÍRICO
SENSO TEÓRICO
Reflexão: O material de apoio didático precisa deixar claro o que é conteúdo do
senso comum e o que é conteúdo do senso teórico, onde os conteúdos do senso
teórico serão a luz para compreender e/ou resolver os problemas do senso
comum (empírico).
PRINCÍPIO EDUCACIONAL 5
OS CONTEÚDOS TEÓRICOS DO PASSADO PRECISAM SER
RESSIGNIFICADOS NO PRESENTE, COM SENTIDO PARA O PROFESSOR
E ESTUDANTES.
Se Paulo Freire ensina que aquilo que se aprende na escola precisa ser útil
na vida dos estudantes, então, antes de tudo, o professor precisa conhecer o
porquê de cada fórmula, lei e conceito. No entanto, na realidade, além da falta de
clareza sobre o que é conteúdo, poucos profissionais conhecem o sentido de ser
dos mesmos. De acordo com Moretto (2001, 20), “Para resolver uma situação
complexa, o primeiro elemento exigido é conhecer os conteúdos.”
Temos aqui outro problema: como o docente que não conhece os problemas
que o conteúdo é capaz de resolver, vai saber, diante de um problema, que
conteúdo abordar?
Para ressignificar os conteúdos do passado, hoje, Gramsci, citado por
Perrenoud (1999), afirma que
“as idéias e formulações mais iluminadoras são tipicamente do tipo conjuntural. Para
fazer um uso mais geral delas, elas têm que ser cuidadosamente extraídas de sua
concreta e específica imersão histórica e transplantadas para novo solo com
considerável cuidado e paciência”.
Portanto, conhecer os porquês do surgimento dos conteúdos teóricos
possibilita ao docente olhar para a realidade hoje e visualizar situações e
problemas no contexto do estudante, onde estes se tornam significativos. Para
que o professor tenha esta visão, precisa pesquisar e ter à sua disposição
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material de apoio que lhe possibilite conhecer a origem dos conteúdos
teóricos e, a partir destes dados, significá-los no presente dos estudantes.
Para corroborar, acrescentamos o pensamento de mais alguns teóricos. Freire
(1997, 33) diz que é preciso “Discutir com os alunos a razão de ser dos saberes
em relação com o ensino dos conteúdos”. Morin (2000, 36) afirma que é “Preciso
situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido”.
Perrenoud (1999, 45) comenta que “Para ter sentido para os alunos, o
aprendizado precisa ser associado às práticas sociais.”
Para ajudar no processo de ressignificação, há alguns anos adotamos a figura
abaixo, onde o professor se apropria da história dos conteúdos – senso comum do
passado e senso teórico e, desta forma, tem visão significativa dos conteúdos na
realidade dos estudantes.
Reflexão: O material didático de apoio precisa apresentar, de cada conteúdo
teórico, os fatos, situações e problemas que o originaram e sugerir fatos,
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situações e problemas do contexto local, regional e mundial dos estudantes,
onde este conteúdo teórico se torna significativo.
PRINCÍPIO EDUCACIONAL 6
PARA MOTIVAR E PROVOCAR O DESEJO NOS ESTUDANTES, OS
CONTEÚDOS DEVEM ESTAR RELACIONADOS A PROBLEMAS
SIGNIFICATIVOS PARA ELES EM SEU CONTEXTO
Formar pessoas competentes, com espírito de pesquisa, pressupõe
compreender e resolver problemas, apoiado em conteúdos teóricos. Além desta
relação com a formação de competências, o termo problema também está
relacionado à motivação humana. Receber um enigma/problema para resolver
significa pôr-se em situação de desconforto, de caos. O ser humano, no entanto,
ao encontrar-se no caos, põe-se em constante movimento para sair do mesmo,
procurando estabelecer uma nova ordem. O caos causa aflição, a ordem causa
conforto que, no entanto, leva a novos caos e à busca de novas zonas de
conforto. Portanto, o problema é um recurso significativo para provocar o desejo e
a motivação nos estudantes.
No entanto, problematizar nas práticas pedagógicas já é por si só, um
problema, pois há muita confusão para conceituar o termo. Por isso vamos a
algumas possíveis compreensões. Em Saviani,7 encontramos contribuições bem
pontuais e simples para este conceito, já com dimensão pedagógica. Ressalta o
autor que a essência do problema é a necessidade. Algo que eu não sei não é
problema, mas quando eu ignoro alguma coisa que eu preciso saber, eis-me
diante de um problema. Em outro momento, diz o autor, que da mesma forma, um
obstáculo que é necessário transpor, uma dificuldade que precisa ser superada,
uma dúvida que não pode ser dissipada são situações que se nos configuram
como verdadeiramente problemáticas. Mais adiante, continua o autor, a
compreensão do conceito problema supõe a necessidade. Esta só pode existir se
ascender ao plano consciente, ou seja, se for sentida pelo homem como tal. O
7 Saviani, Dermeval. Educação do Senso Comum à consciência filosófica. 17 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007
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conceito problema implica tanto a conscientização de uma situação de
necessidade (aspecto subjetivo) como uma situação conscientizadora da
necessidade (aspecto objetivo). Conclui Saviani que, em suma, problema, apesar
do desgaste determinado pelo uso excessivo do termo, possui um sentido
profundamente vital e altamente dramático para a existência humana, pois indica
uma situação de impasse.
Reflexão: Retomamos – problema está relacionado a formar pessoas
competentes. Como já frisado anteriormente no termo competência, o material de
apoio didático precisa apresentar problemas do contexto local, regional e mundial
e levar os estudantes a utilizar os conteúdos teóricos para compreender e/ou
resolver os mesmos.
PRINCÍPIO EDUCACIONAL 7
A METODOLOGIA ORIENTA O CAMINHO QUE NOS LEVA ÀS METAS
Com os fundamentos de apoio teórico construídos e clareados, chegamos
mais próximos da prática. Chegamos à reflexão da metodologia. Vamos iniciar
com possíveis conceitos. O termo Método (do Grego methodos), met' hodos
significa, literalmente, "caminho para chegar a um fim". Se a etimologia da palavra
nos diz que é “o caminho para chegar a um fim”, precisamos definir qual o
caminho e a que fim queremos chegar. Aqui recorremos a uma passagem de
Lênin quando este autor afirma que “ a essência do método é a teoria”. Portanto,
o método está embasado na teoria, a partir da qual compreendemos o mundo e a
vida que, em consequência vai estar expressa no projeto pedagógico,
principalmente na parte onde está definido o perfil de estudante que queremos
formar.
É no perfil de estudante buscado que vamos focar nossas reflexões sobre a
metodologia. Costumeiramente, hoje, este perfil está aderente com “ a formação
de pessoas que tenham espírito investigativo, críticos, capacidade argumentativa,
capazes de compreender e resolver problemas...” Para orientar–nos
metodologicamente no caminho desta formação, há alguns anos temos indicado a
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figura abaixo, cujo objetivo é levar o estudante de sua realidade e compreensão
empírica para a compreensão científica. Neste processo, o professor organiza a
ação pedagógica, desafiando o estudante a partir de problemas, levando-o a
situar-se diante destes problemas no passado, tendo o conteúdo teórico como luz
para compreender e/ou resolver o problema e, a partir deste momento, o
estudante recebe outros problemas os quais precisa resolver, apoiando-se no
conteúdo teórico desenvolvido. Precisa mostrar compreensão. Teremos, assim,
um processo de pesquisa e, além de estarmos coerentes com o perfil idealizado,
estamos apoiados nos fundamentos teóricos que embasam a educação da
contemporaneidade.
Reflexão: Material didático de qualidade precisa organizar o desenvolvimento de
cada conteúdo teórico, partindo de problemas, ou sugerindo os mesmos;
apontando aspectos empíricos do passado, para que os estudantes se situem
historicamente nestes problemas; apresentar, de preferência, mais do que um
conteúdo ou referenciais teóricos para que os estudantes possam
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compreender/resolver os problemas e, na parte da exercitação (passo 4 e 5 do
arco acima), apresentar novos problemas do contexto, solicitando que os
estudantes os resolvam ou mostrem sua compreensão, sempre com fundamento
teórico.
PRINCÍPIO EDUCACIONAL 8
AVALIAÇÃO - O REFERENCIAL PARA CONHECER AS APROXIMAÇÕES E
DISTANCIAMENTOS DAS METAS ALMEJADAS
Se no perfil de estudante definimos as metas e na metodologia o caminho para
chegar às metas, na avaliação precisamos saber até que ponto as metas
almejadas e exercitadas foram ou não atingidas. Tyler8, considerado o pai da
avaliação educacional, encara a avaliação como a comparação constante entre os
resultados dos alunos, ou o seu desempenho e objetivos, previamente
definidos. A avaliação é, assim, o processo de determinação da extensão com
que os objetivos educacionais se realizam. Outros autores citados no mesmo
artigo como Bloom, Hastings e Madaus também relacionam a avaliação com a
verificação de objetivos educacionais. Noizet, Caverni e Cardinet, também
citados, se referem à avaliação como um processo de verificação de objetivos
Também Ketele, continuando no mesmo artigo acima, referencia a avaliação ao
processo de verificação de objetivos previamente definidos. Segundo esse
autor, é no próprio processo de ensino-aprendizagem que surge a avaliação,
funcionando como um mecanismo que verifica se os objetivos pretendidos
foram efetivamente atingidos.
Fica constatado que o ponto de apoio do processo avaliativo está no perfil de
estudante a ser formado, que:
também está relacionado com as competências;
está focado nos exercícios mentais (habilidades);
8 António Rosado & Catarina Silva. Artigo “Conceitos Básicos sobre avaliação das aprendizagens” http://home.fmh.utl.pt/~arosado/ESTAGIO/conceitos.htm
18
é provocado pelos problemas do contexto;
está fundamentado nos conteúdos teóricos; e
é desenvolvido pelo caminho metodológico.
Apoiados nos fundamentos teóricos educacionais abordados e nos indicativos
de perfil de estudante a ser formado, os instrumentos de avaliação, sejam provas,
trabalhos, produções... dos estudantes, estão apoiados no perfil de estudante
almejado, nas habilidades superiores, na problematização e nos conteúdos
teóricos. Vamos exemplificar estas idéias abaixo:
a) O Instrumento de avaliação focado na verificação do desenvolvimento
das habilidades superiores
A estrutura de um instrumento de avaliação que busca verificar o
desenvolvimento das habilidades superiores (identificar, argumentar,
compreender...) é diferente das práticas tradicionais, nas quais o estudante repete
informações/verdades repassadas pelo professor. Agora trabalhamos com
referenciais que precisam estar muito bem claros, pois, como vimos nos artigos
anteriores, não trabalhamos mais com questões que exigem respostas do tipo
certas ou erradas, mas sim, com exercícios mentais superiores, onde precisamos
conhecer o maior ou menor grau de desenvolvimento da mente. Algumas escolas
estão adotando, com dificuldades, mas com avanços, o seguinte cabeçalho para
os instrumentos de avaliação:
(DADOS DA INSTITUIÇÃO E DO ALUNO)
1. Conteúdo teórico a ser avaliado: Ex: Ecossistema2. Habilidades que serão avaliadas:Ex: a) Identificar as causas do problema da poluição do Rio dos Sinosb) Analisar os focos dos problemas, à luz dos referenciais teóricosc) Apresentar propostas, teoricamente
3. Outros critérios:- Ortografia, ...
- Em cada análise e argumento devem ser citados, no mínimo, um autor e de cada autor, no mínimo, uma citação.
19
fundamentadas e argumentadas para a solução do problema 4. Critérios para obtenção dos conceitos:APTO: o aluno será considerado apto se desenvolver as habilidades de analisar e argumentar solicitadas acima, dentro dos critérios estabelecidos.NÃO APTO: Se o aluno desenvolver apenas uma das seguintes habilidades: analisar ou argumentar.Obs: Poderá ser considerado “APTO” o aluno que tenha desenvolvido uma das duas habilidades – analisar e argumentar, e que tenha desenvolvido bem a habilidade de identificar.
Onde:
1. é apontado o conteúdo teórico a ser avaliado;
2. os verbos indicam as habilidades que serão avaliadas. Lembramos que o
conceito dos termos deve estar claro para o professor e para o estudante
(o que é Identificar? Comparar? Analisar? Argumentar?)
3. neste quadro, o professor fica à vontade para colocar outros critérios que
deseja avaliar;
4. aqui, o professor deixa claro o que estudante precisa desenvolver para
atingir o conceito. Neste exemplo acima, a escola trabalha com conceito
APTO e NÃO APTO.
b) Possível estrutura das questões, tendo como fundamento as
habilidades, a problematização, o apoio dos conteúdos teóricos e o
perfil de estudante a ser formado
Um dos problemas percebidos na prática é a incoerência entre o proposto
no cabeçalho (habilidades...) e as questões. Para haver coerência, sugerimos
a seguinte estrutura para as questões.
o estudante recebe um ou mais problemas do contexto;
são indicados os referenciais teóricos nos quais o estudante irá apoiar-
se nas análises e formar o quadro de fundamentos para a
argumentação; e
será solicitado que, fundamentado nos conteúdos teóricos... e nos
autores... estudados, apresente suas conclusões argumentadas sobre a
compreensão e/ou solução do(s) problema(s).
20
De acordo com o exemplo de cabeçalho do instrumento apresentado acima,
segue um referencial de questões coerentes com o proposto:
Na coleta de dados realizada sobre o ecossistema da bacia do Rio dos
Sinos, detectou-se o grave problema da poluição da água, da precária
condição de sobrevivência da fauna e da flora. Identifique as cinco
maiores causas dessa situação, tendo como referencial os dados
apontados nas aulas.
Analise os focos dos problemas (no mínimo 02 problemas), à luz dos
referenciais teóricos (no mínimo 01 para cada problema) desenvolvidos
durante as aulas
A partir dos estudos e análises, escreva uma carta ao Secretário
Municipal do Meio Ambiente, apresentando a sua proposta,
argumentada teoricamente (no mínimo dois fundamentos), para a
solução de um dos problemas focados.
REFLEXÃO: O material didático de apoio, as avaliações precisam pôr-se de
acordo com a proposta pedagógica, principalmente para conhecer as distâncias e
as aproximações entre o perfil de estudante almejado e efetivamente
desenvolvido.
DIMENSÃO 5
O PERFIL DE DOCENTE NECESSÁRIO PARA DINAMIZAR A AÇÃO
PEDAGÓGICA
A crise da formação e das práticas incorporadas na cultura dos docentes
parece que, finalmente, se instalou em nossas instituições. Hoje é preciso atentar
para uma função do docente diferenciada daquela que saudosamente trazemos
21
do passado. Alguns teóricos nos ajudam a pensar a ação do professor hoje.
Vygostsky (1994), afirma que o papel do professor é mediar o processo entre o
que o aluno já sabe e o novo conhecimento a ser aprendido. Oliva (1990),
completa que compete ao professor desafiar, instigar a dúvida, retirar dos alunos
as certezas que os colocam em situação tão confortável. Para Freire, citado por
Berbel (1998, 19),
“a tarefa do professor, e num sentido mais amplo a do educador, é a de
problematizar aos educandos, os conteúdos que os mediatizam, e não a de
dissertar sobre ele, de dá-lo, de entendê-lo, de entregá-lo como se tratasse
de algo já feito, elaborado, acabado, terminado”.
Antunes (1998) argumenta que o professor deve usar a ferramenta dos
conteúdos postos pelo meio ambiente e pelo meio social para estimular as
diferentes inteligências de seus alunos e levá-los a se tornarem aptos a resolver
problemas ou, quem sabe, criar produtos válidos para seu tempo e sua
cultura.
Estes pensamentos vêm ao encontro do referencial teórico que defendemos
no presente ensaio, ou seja, se queremos práticas pedagógicas apoiadas em
determinados referenciais teóricos e perfil de estudante a ser desenvolvido, então
precisamos nos preocupar para que o perfil do professor seja aderente. Para
reverter o cenário atual dos problemas da formação inicial dos professores,
precisamos investir em projetos de formação continuada, exercitando a teoria na
prática, para que os docentes se tornem capazes de responder com competência
diante dos desafios contemporâneos e dos ideais que buscamos como instituição.
REFLEXÃO: O material didático, tendo ciência da realidade, das sequelas da
formação dos professores e das práticas incorporadas por estes, precisa, além de
institucionalmente preocupar-se com a formação continuada, fornecer material de
apoio para que os professores possam sentir-se seguros na prática.
22
DIMENSÃO 6
A GESTÃO DOS PROCESSOS EDUCACIONAIS COORDENA ESFORÇOS
COLETIVOS PARA QUE AS METAS INSTITUCIONAIS SEJAM ATINGIDAS
Levar os referenciais teóricos contemporâneos à prática também necessita
de nova postura dos dirigentes. Segundo Faundez (1993), é preciso mudar o foco
do gestor.
De o gestor ser visto como chefe, autoritário, burocrata PARA líder,
empreendedor, que coordena esforços coletivos em busca da inovação, focado
nas metas do plano institucional; da postura centralizadora, individualista e busca
de culpados para os resultados insatisfatórios, PARA uma postura de delegação,
trabalho em equipe, buscando as causas dos resultados insatisfatórios; de ver
satisfeitos seus desejos de poder e ser centro das atenções, PARA preocupar-se
em suprir as necessidades da equipe; de centralizar as informações, PARA
disseminar as informações e municiar a equipe; de decidir sozinho, PARA decidir
em equipe; da visão fragmentada da organização, PARA visão sistêmica da
organização; de tomar decisões baseado em “achismos”, PARA tomar decisões
baseadas em dados investigados; de tentar resolver todos os problemas sozinho
PARA analisar, chegar a consensos, assumindo e resolvendo os problemas no
coletivo. Acrescentamos a essas considerações outras reflexões que contribuem para a
boa gestão:Cultura do planejamento, prática e avaliação do planejado.
O sucesso das inovações depende da construção coletiva e do sentido que
as mesmas causam aos colaboradores.
Ser empreendedor criativo, responsável e com agilidade de ação.
Reflexão: Dos gestores, em especial dos diretores e coordenadores,
depende, em grande parte, o sucesso ou não do processo educacional das
instituições. É preciso que esses estejam atualizados, conheçam e exercitem a
proposta pedagógica e tenham perfil adequado para dinamizar a organização
institucional que, apoiada em planejamento, coordene esforços coletivos,
levando às metas almejadas e definidas pela Mantenedora.
23
DOS REFERENCIAIS TEÓRICOS PARA A PRÁTICA
Embasados pelo referencial teórico refletido, propomos, a seguir, 09 passos
para aproximar a teoria da prática
Compreendemos que, assim, estaremos dando unidade à nossa ação,
podendo, em cada escola legitimar os discursos, pois teremos aporte teórico,
projeto e material de apoio interligados e consistentes. Temos consciência de ser
esta uma missão que irá demandar muito estudo, pesquisa, esforço, em especial
no que se refere aos termos conteúdo, metodologia e avaliação.
Estamos diante de uma mudança paradigmática e toda mudança vem
acompanhada de um reposicionamento do nosso pensar e agir, o que não ocorre
em um passe de mágica, mas traz resistências, comodismos, entre outros, pelas
complexidades humanas que têm, em seu pano de fundo, dimensões e segredos
nem sempre fáceis de serem compreendidos e desvendados. No entanto, um
projeto institucional que se mostre coerente com as dimensões, potencialidades
humanas e as necessidades dos cenários do contexto, que cause impacto e
sentido nas pessoas, tem grandes chances de, progressivamente, ser adotado e
efetivado satisfatoriamente pela comunidade educacional.
Os passos a seguir são apenas sugestão, mas vêm permeados por lógicas
que foram amplamente testadas com instituições e profissionais da educação
durante muitos anos.
Passo 1
Projeto Pedagógico Institucional
O pressuposto primeiro para a elaboração de material didático de apoio aos
docentes e orientação para as unidades é a necessidade de uma referência. Onde
vamos apoiar e justificar nossa ação? Para onde vamos caminhar? Este é aspecto
primeiro. Esta referência, em nível de Mantenedora, comumente, é denominada
24
Projeto Pedagógico Institucional. A Mantenedora, de forma coletiva e participativa,
define as bases que serão as referências para a fixação das metas: aonde
queremos chegar. Clareado e definido AONDE queremos chegar, podemos nos
ater a refletir e a definir os caminhos: COMO vamos chegar às metas.
Um projeto pedagógico precisa ser sucinto, de fácil compreensão e aplicação.
Por isso, propõe-se um referencial de Projeto Pedagógico, a seguir, que pode ter a
seguinte estrutura, toda ela já fundamentada no referencial teórico acima:
a) Cenários: visão do contexto local, regional e mundial de onde vêm
nossos estudantes e para o qual precisamos prepará-los.
b) Concepção de Homem: é preciso definir como compreendemos o Ser
Humano? Como ele aprende? Como se motiva? Suas potencialidades e
dimensões (afetivo, inteligente, com vontade....). Ter concepção de
Homem pressupõe ter instituições e práticas pedagógicas voltadas em
respeito ao mesmo.
c) Perfil de estudante que queremos: se temos claro o cenário no qual
este estudante vive ou vai viver, a concepção de Homem, então
precisamos definir qual é o perfil de estudante que queremos formar.
Aqui está o ponto central do Projeto Pedagógico. É no perfil que
estão nossas metas que indicarão COMO serão as práticas pedagógicas
(metodologia e avaliação), as relações e a organização institucional.
d) Fundamentos Educacionais: neste ponto o Projeto define os
fundamentos teóricos nos quais se apoia. Este apoio dá clareza e
segurança aos membros da comunidade educativa em seu caminhar.
Além de saber aonde queremos chegar e como chegaremos lá, é
fundamental saber os porquês.
25
e) Perfil de Professor: se queremos um perfil de estudante que esteja em
consonância com os cenários e as concepções humanas, se apoiamos o
projeto em determinados fundamentos, então precisamos ter claro o
perfil de professor de que precisamos para dinamizar as práticas
pedagógicas. Tendo claro o perfil, tanto na contratação como na
exclusão, teremos mais claro por que estamos procedendo desta ou
daquela forma. Assim, também teremos as bases para definir a
Formação Continuada dos Professores.
f) Gestão Institucional: para dinamizar a gestão institucional, coordenar
os esforços coletivos e chegar às metas, precisamos definir o modelo de
gestão que queremos e precisamos. É comprovado que a gestão,
passando por todos os níveis, em especial partindo da Direção, é
fundamental para o sucesso ou fracasso da Instituição. Ter claro o
modelo de gestão também ajuda na avaliação da gestão, inclusive
quando se necessita contratar ou excluir alguém do processo.
g) Avaliação do projeto: precisamos ter instrumentos (avaliar práticas,
instrumentos de avaliação pedagógica, pesquisa – focada no perfil de
estudante, professor, gestor...almejados) para que possamos conhecer,
coletivamente, como, na prática, o idealizado está ocorrendo e nos
reposicionar para qualificar as fraquezas detectadas.
Passo 2
Ter Clareza de Conceito quanto ao Perfil de Estudante almejado
Tendo Projeto Pedagógico construído e documentado, precisamos clarear os
termos-chave usados no perfil de estudante que queremos. Sem saber o conceito
simplificado do que significam os termos que irão nortear a ação, como saber
COMO realizar a ação pedagógica? Abaixo, um referencial de como esse
processo pode ser feito em nível de Mantenedora:
26
Perfil de estudante almejado (Alguns exemplos)
Significado desse perfil para a CNEC
Crítico
Empreendedor
Espírito de pesquisa
Um exemplo de uma escola que está exercitando este processo:
Perfil almejado
pela escola
Sentido deste perfil para os professores
ConscienteConsciente que sabe, que tem a noção, racional, responsávelque sabe, que tem a noção, racional, responsável
Investigativo:Investigativo: pesquisador, inquiridor
Crítico:Crítico: aquele que tem a faculdade de examinar e julgar
InstigadorInstigador que incita, estimula
Pró-ativoPró-ativo que toma a iniciativa da ação
Solidário:Solidário: em que há responsabilidade mútua, em que há responsabilidade mútua, aderido à causa ou
sentimento do outro
Responsável:Responsável: que tem de tratar de algo, alguém que reflete antes de agir que tem de tratar de algo, alguém que reflete antes de agir
Passo 3
Exercitar o Perfil de Estudante na prática
Tendo definido o sentido do perfil pela Mantenedora, cada Instituição, nas
reuniões pedagógicas, nas jornadas pedagógicas... pode avançar no processo,
discutindo como será a metodologia e a avaliação para alcançar o perfil almejado.
Vejamos o quadro a seguir:
Perfil de estudante almejado Significado desse perfil para a
Como será a metodologia para
Como será a avaliação para
27
(Alguns exemplos) escola/curso garantir o desenvolvimento desse perfil?
conhecer em que nível o perfil foi desenvolvido?
Crítico
Empreendedor
Espírito de pesquisa
Apoiados pelo Projeto Pedagógico Institucional, conceituados e compreendidos
os principais termos, em especial o Perfil de Estudante almejado que norteia as
práticas institucionais, iniciamos a preparação do material didático que irá apoiar
os fazeres dos docentes.
Passo 4
Mapeamento dos conteúdos teóricos
Para que possamos ter uma visão geral e sistêmica de todos os conteúdos,
sugerimos o mapeamento a seguir:
a) Mapeamento dos conteúdos por componente curricular
Por componente curricular. Ex. Matemática
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 1ªEM 2ªEM 3ªEM
b) Mapeamento dos conteúdos por série: Para que tenhamos uma visão
interdisciplinar dos conteúdos por série, propõe-se o mapeamento abaixo.
Por Série: Ex. 5a Série
28
Port. Mat..... Hist.... Geo.... Ciências ......
.
Tendo feito este segundo mapeamento, poderemos fazer uma primeira
classificação em relação aos conteúdos que se repetem e os temas que se
aproximam entre os componentes curriculares. Este mapeamento, chamado aqui
de interdisciplinar, possibilita a otimização do desenvolvimento dos conteúdos
teóricos em cada componente curricular.
Passo 5
Classificação dos conteúdos: senso comum presente/passado e senso
teórico (Os passos 4, 5 e 6 precisam ser feitos concomitantemente, pois
estão interligados)
Como já refletido no referencial teórico, diante do contexto atual onde existe,
desde os documentos oficiais, uma grande confusão entre o que é conteúdo
teórico (lei, fórmula, conceito... que explica algo) e senso comum (fatos e
problemas empíricos do presente/passado) que precisam ser explicados, faz-se
necessário analisar e classificar os conteúdos. Propomos a seguinte tabela para
organizar a classificação:
Conteúdos do Senso Teórico
(Alguns exemplos)
Conteúdos do senso comum do passado
Conteúdos do senso comum do contexto presente
Ética
Fórmula de Báscara
29
Raiz Quadrada
Período composto por
subordinação
Passo 6
Ressignificação dos Conteúdos Teóricos
Colocamos a ressignificação dos Conteúdos Teóricos como passo 6
somente a título de organização. Na verdade, como já frisado, os passos 4, 5 e 6
precisam acontecer de forma concomitante. Explicamos: não é possível conhecer
os conteúdos teóricos (mapeamento do passo 4) sem ter feito a classificação entre
teórico e senso comum (passo 5), como também não é possível estabelecer a
aderência do senso comum do presente, com o senso comum do passado e o
senso teórico que o explica, se o docente não tiver clareza das situações e dos
problemas (senso comum do passado) que originaram o senso teórico (passo 6).
Trazemos, abaixo, um referencial para orientar o processo de ressignificação.
Obs: A ordem das colunas depende de cada situação ou do conhecimento
sobre o tema. Podemos partir do conhecimento teórico e depois buscar, tanto na
origem como hoje, as aderências; como também, podemos partir do senso comum
– presente e passado – e, depois buscar a aderência no senso teórico.
Conteúdos do senso comum do contexto presente dos alunos e que são explicados, compreendidos ou solucionados pelos conteúdos teóricos
Conteúdos do senso comum do passado e que deram origem ou são explicados pelos conteúdos teóricos
Conteúdos do Senso Teórico
30
Criminalidade,
discriminações, acidentes de
trânsito, uso de bebidas
alcoólicas
Indisciplina nas civilizações
da antiguidade, a lei do mais
forte, disputas de poder –
gregos, romanos.
O ser humano e as regras
de convivência social
O ser humano e as regras
de convivência social
Astros, mitos, satélite natural Astronomia
Reator nuclear, pequenas
massas e grande geração de
energia
Grandes massas para
pequena geração de energia
(queima de madeira,
combustível, carvão mineral)
Física Quântica – fusão
nuclear
DNA, células tronco,
clonagem, transgênicos,
anticorpos
Cor da pele, etnias
humanas, hereditariedade,
albinismos
Genética
Alterações climáticas,
extinção de animais,
tsunami, desmoronamentos
Desertificação, crescimento
urbano, desmatamentos
Relações do homem com o
meio
Na prática e embasados em escolas que já desenvolveram este processo,
tanto o passo 5, como o passo 6 podem ser desenvolvidos por componente
curricular. Exemplo: os docentes do mesmo componente dividem os conteúdos
teóricos do componente curricular de todas as séries, a partir do mapeamento, e
cada docente assume “x” conteúdos teóricos e faz a ressignificação
presente/passado do senso comum e senso teórico.
Passo 7
Problematização dos Conteúdos
O material didático, como apoio e referência à prática, além de fornecer os
conteúdos classificados e ressignificados, precisa apresentar exemplos de
problemas da atualidade que irão ajudar os docentes a organizar o caminho
metodológico. Embasados em Saviani, para o qual o termo problema está
31
relacionado a necessidades humanas não supridas, podemos construir, por
componente curricular, um quadro de necessidades e problemas, como segue:
Necessidades da Pessoa Humana Problemas no Contexto
Beber água limpa Poluição das águas Respirar, equilíbrio ambiental (chuvas...) Desmatamento, poluição do ar, catástrofes
ambientais (ciclones...)Conviver em harmonia, afeto ... Guerras, egoísmos, individualismos,
exclusões , violência (mortes, agressões ...)...
Alimentar-se, moradia, agasalhar-se... Fome, moradores de rua, pessoas passando frio...
Fazer uma viagem de férias, a negócios ... Acidentes, carro estragado, curva mal feita no asfalto...
Saúde do corpo, mente... Doenças do corpo (câncer, gripe, coração...) e mente (depressão, ...)
Ética, valores morais, honestidade.. Desvios, roubos, desrespeito, mentiras, dinheiro a qualquer preço...
Desvios, roubos, desrespeito, mentiras, dinheiro a qualquer preço...
Desequilíbrio financeiro, dívidas, cheque especial, ..
Comunicar-se, entre outros, por escrito, criando para tanto símbolos e estruturas linguísticas
Desconhecimento da estrutura linguística, causando, com isso, problemas na comunicação, como, oração subordinada sem oração principal, pontuação, ...
Ligação com um Ser Superior (Deus, Alá, Javé...)
Falta de crença, fé, valores...
Utilizar as riquezas naturais Uso indiscriminado dos recursos naturais
Com este quadro de informações acima, somado com a ressignificação dos
conteúdos teóricos podemos, agora, por componente curricular, aproximar os
problemas dos conteúdos teóricos, como mostra o quadro abaixo:
PROBLEMAS DA COMUNIDADE LOCAL,
REGIONAL E MUNDIAL RELACIONADOS
À ÁREA DE FORMAÇÃO
CONTEÚDOS TEÓRICOS ADERENTES
AOS PROBLEMAS
A exclusão por causa da cor da pele, deficiência física, o índio deslocado de suas terras...
O ser humano como ser preconceituoso
Divisões sociais geradas pelas disputas de poder, exclusão dos mais fracos.
O ser humano como um ser competitivo
Chuva ácida, poluição do ar, da água, do solo.
Soluções químicas
32
Síndrome de down, deficiência mental, ...
Genética
Mudança das marés, mudanças climáticas, lixo espacial
Astronomia
Tendo referenciais de problematização para cada conteúdo teórico, estamos
agora instrumentalizados para exercitar os professores na prática pedagógica –
metodologia e avaliação.
Passo 8
Metodologia – o caminho que nos leva às metas
Tendo:
a Mantenedora projeto pedagógico institucional, com perfil de
estudante almejado conceituado, para que todos tenham a
compreensão do significado do perfil pretendido;
os professores referenciais sobre o sentido de ser dos conteúdos,
clareza sobre os conteúdos do senso comum e teórico, referenciais
de conteúdos problematizados;
então estamos preparados para orientar o caminho (metodologia) que nos levará à
meta almejada.
Para exercitar as dimensões até aqui abordadas e a metodologia, tanto a
Mantenedora como cada unidade institucional necessita de projeto de formação,
oportunizando aos docentes refletir e socializar suas práticas, movidos pela base
teórica. Esta ação precisa ser motivada e provocada. Inicialmente os gestores
principais – direção e coordenação das escolas ou faculdades - são “ungidos” e
incorporam a proposta projetada. Se as instâncias superiores das unidades não
assumirem o projeto pedagógico, que se supõe foi construído coletivamente, o
mesmo estará fadado ao fracasso.
Da equipe diretiva parte a motivação para os docentes. Jamais sob forma
de imposição, mas sempre sob o prisma da significação. Lembremo-nos: as
33
pessoas assumem novos paradigmas se estes provocarem sentido e as
convencerem de que há mais chances de sucesso do que nas práticas anteriores.
Dito isso, é preciso exercitar o corpo docente. Um bom exemplo para elaborar
material didático de apoio é o livro Estratégias de Ensino e Aprendizagem, de
Bordenave e Pereira9, que vem estruturado a partir da problematização +
teorização + produção teoricamente fundamentada, apoiado no Arco de
Maguerez. Nele, o material didático direciona as ações para que o professor,
passo a passo, possa desenvolver o processo pedagógico, onde:
os conteúdos teóricos são ressignificados e úteis para a vida do aluno;
o professor aborda os conteúdos dentro de uma relação de aproximação e
significação – senso comum do presente, senso comum do passado e
senso teórico;
os problemas do contexto servem para provocar a motivação e situar os
alunos no presente e no passado, desenvolvendo o espírito de pesquisa; e
os conteúdos teóricos têm a função de explicar e oferecer compreensão
dos problemas ou dos fatos desconhecidos dos estudantes.
Embasados nas teorias indicadas e desenvolvidas, sugerimos os seguintes
passos para desenvolver a abordagem de um conteúdo teórico. Apoiados em
Bordenave e Pereira (2001), esta também pode ser a estrutura do material
didático de apoio.
Primeiro Momento da aula
O material apresenta, através de pequenos textos, figuras, ..., problemas
comuns do contexto dos estudantes de várias partes do Brasil e provoca
perguntas nos alunos, do tipo: por que isto acontece?....como podemos resolver
esta questão?.... Além de o professor apresentar determinados problemas, os
estudantes podem acrescentar outros. As respostas dos alunos aos
questionamentos, neste momento, estão embasadas nas suas concepções
prévias, sem ou com pouca fundamentação teórica.
9 Bordenave, Juan Diaz; Pereira, Adair Martins. Estratégias de ensino e aprendizagem. 22 ed. Petrópolis:Vozes, 2001
34
Segundo Momento da aula
O material didático apresenta problemas, fatos, situações do passado,
similares aos problemas do presente, para que os estudantes possam situar-se no
contexto histórico dos fatos.
Terceiro Momento da aula
Após esse momento inicial de provocação e de olhar histórico, o material
apresenta o conteúdo teórico que deverá explicar os problemas abordados. Este
material pode ser as fórmulas, os conceitos, os textos explicativos de algum
teórico, ou referenciais onde o docente e os estudantes podem encontrar mais
fundamentos. Para os pequenos (educação infantil e séries iniciais), o conteúdo
teórico pode ser uma história em quadrinhos, uma fábula.... O professor, à medida
das necessidades, amplia o material teórico, ou o próprio material de apoio pode
indicar bibliografias onde os estudantes podem ampliar os fundamentos.
Quarto Momento da Aula
No momento seguinte, para exercitar o processo, o material didático pode
trazer novos problemas e solicitar que o estudante, de forma individual ou em
grupo, usando o conteúdo teórico desenvolvido, apresente a solução do(s)
problema(s), ou sua compreensão teoricamente fundamentada e argumentada.
Quinto Momento da aula
Momento final do processo de abordagem de um conteúdo teórico. Embora
a avaliação esteja presente em todo o processo, neste momento final, o
estudante, de forma individual, é submetido a uma produção problematizadora,
em consonância com o processo desenvolvido – problema + teoria +
compreensão/solução teoricamente fundamentada.
Para ajudar os professores a exercitar a prática pedagógica, nos momentos
de formação continuada nas escolas, reuniões pedagógicas, jornadas
35
pedagógicas ..., sugerimos o seguinte quadro, onde os mesmos, em grupos,
por componente curricular, elaboram suas aulas e socializam com os colegas:
Conteúdo teórico a ser
desenvolvido:__________
Série em que será trabalhado:
______________
Passo 1: Problematização Inicial e Compreensão Empíricaa) Que situação-problema do presente dos alunos será apresentada aos alunos, para provocar neles a motivação, o desejo de aprender o conteúdo teórico?Como será desenvolvido esse momento? b) Que questionamentos serão feitos aos alunos para que eles, no seu senso comum, expressem o que entendem em relação à situação-problema e apresentem suas soluções?Como será desenvolvido esse momento?Passo 2: Referencial Histórico da Problematização InicialQue conteúdos do senso comum do passado serão apresentados aos alunos para que eles percebam a relação presente e passado?Como esse momento será desenvolvido?Passo 3: TeorizaçãoQue conteúdo do senso teórico será desenvolvido para que os alunos possam compreender ou apresentar soluções à situação-problema do passo 1?Como será desenvolvido
36
esse momento?Passo 4: Compreensão Teoricamente FundamentadaQue novas situações-problema serão apresentados aos alunos para que os mesmos, utilizando o conteúdo teórico desenvolvido, demonstrem que compreenderam e/ou sabem resolver problemas com o novo conteúdo teórico?Como será desenvolvido esse momento?Passo 5: Produção Teoricamente FundamentadaQue instrumentos serão utilizados na avaliação e como serão as questões de avaliação para avaliar a capacidade de compreensão, solução, aplicação [...] do novo conhecimento teórico?
Não existe e nem pode existir a indicação de caminho metodológico único.
Lendo as produções dos professores em dois dos livros que organizamos,
“Significar a Educação: da teoria à sala de aula” e “Teoria e prática – a escola dos
sonhos é possível”, verificamos que cada professor, na sua individualidade e
situação, utilizou inúmeras formas para desenvolver o processo, mas nenhum
perdeu o eixo condutor apontado pelo referencial teórico: provocação de
problemas – presente e passado + teorização + produção teoricamente
fundamentada.
Passo 9
Avaliação do processo: entre o idealizado e efetivado
37
Seguindo a linha de pensamento até aqui abordada, a avaliação, como
processo, está focada nos objetivos institucionais – perfil de estudante a ser
formado pela Instituição – tendo como referencial:
formar para as competências (perfil de estudante a ser formado) – ser
capaz de resolver problemas fora da rotina. Nos perfis de estudante, temos,
comumente, p. ex., espírito de pesquisa, capaz de argumentar.... Portanto,
a partir de problemas da realidade e dos conteúdos teóricos, o estudante é
exercitado; e
desenvolver habilidades - exercitar a mente em exercícios superiores
(identificar..., analisar, argumentar..., reconstruir, aplicar...).
Com estes referenciais, acrescentados dos conteúdos – senso comum e
teórico, dos conteúdos ressignificados, problematizados e com os professores
apropriados de referencial metodológico que oriente o caminho para chegar ao
perfil almejado, teremos a base para propor modelos de instrumentos de avaliação
e a estrutura das questões.
Independente do tipo de avaliação, as questões de avaliação precisam ter, no
mínimo, a seguinte estrutura:
a) apresentar um problema da realidade; e
b) solicitar ao estudante, fundamentado em conteúdo teórico, apresentar
soluções ao problema, ou refletir o problema, trazendo argumentos que
demonstrem a sua compreensão.
A questão de avaliação precisa deixar claros os critérios da resposta solicitada.
Por exemplo, se solicito que o estudante argumente; preciso indicar: quantos
autores, quantas citações de cada autor... estou solicitando na argumentação.
Como já frisado no referencial teórico, aqui não há mais respostas do tipo certas
ou erradas, mas sim, temos como referencial o nível de desenvolvimento e a
capacidade do estudante de externar argumentos, apoiado em fundamentos
teóricos.
38
A título de ilustração, como já fizemos na abordagem teórica anteriormente,
trazemos, abaixo, algumas questões já estruturadas de acordo com os
fundamentos apresentados:
1. “Uma empresa de biotecnologia anunciou o desenvolvimento de uma planta
transgênica contendo um gene que confere resistência a um herbicida, e de uma
cabra transgênica que secreta, através das glândulas mamárias, um fator de
coagulação do sangue humano. O anúncio da comercialização das sementes da
planta provocou reações desfavoráveis por parte dos biólogos que, no entanto,
aceitaram bem a criação das cabras, cujo leite viria a ser utilizado na produção de
um medicamento para tratar hemofílicos.”
a) Fundamentado em 02 dos autores estudados, analise a diferença de
reação dos biólogos em relação à planta e à cabra, trazendo, no mínimo, uma
citação de cada autor.
b) Proponha e justifique, baseado nos referenciais teóricos desenvolvidos em
sala de aula (no mínimo 02), um teste a que a planta deve ser submetida, antes
de ser cultivada em larga escala.
2. Hoje o inverno já não é tão frio e nem o verão tão quente, ou seja, as estações
do ano já não estão mais tão bem definidas.
Apresente 3 argumentos, fundamentado em, no mínimo, 2 autores estudados, o
porquê de estes fatos estarem ocorrendo.
3. Quanto menor o número de árvores em uma região, menor poderá ser a
ocorrência de chuvas.
Fundamentado nos conteúdos estudados (no mínimo 3 fundamentos), analise
os problemas que este fato pode gerar e apresente possíveis soluções.
4. Baseados nos teóricos trabalhados em aula (no mínimo 01), onde analisamos
o conceito de hidrodinâmica, descreva, a partir de uma situação real do
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contexto, como é o processo de irrigação mais utilizado nas lavouras e que
resolve o problema da perda das plantações por causa da chuva escassa.
5. Um prédio de 10 andares possui muitos vazamentos que comprometem sua
estrutura. Com base nessa situação e fundamentado em, no mínimo, 02 autores
estudados, explique por que este problema ocorre e como resolvê-lo.
A avaliação, como a metodologia, precisa ser exercitada pelo corpo docente.
Seja nas reuniões, nas jornadas, nos grupos de estudo..., é fundamental que os
docentes formulem a elaboração de instrumentos de avaliação (cabeçalho com
habilidades, questões coerentes...) e socializem com os colegas, para que
fortaleçam suas convicções, adquiram segurança e, coletivamente, desenvolvam a
avaliação de acordo com o Projeto Pedagógico. No entanto, voltamos a lembrar:
se o material didático de apoio não estiver coerente com as bases do Projeto
Pedagógico, teremos algumas iniciativas individuais de mudança nas unidades,
no entanto, ficará muito mais difícil atingir as metas no coletivo.
Em uma rede, o grande desafio é construir a unidade. No entanto, a unidade
de ação estará muito mais fragilizada se, em todas as instâncias, não houver
aderência, comprometimento, produções e ações que demonstrem o esforço de
consolidar o idealizado na prática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como inicialmente afirmamos, a produção deste ensaio apoia-se em
produções anteriores e em bibliografias indicadas a seguir. Procuramos
apresentar, sucintamente, alguns fundamentos que, na nossa visão, são aqueles
que sintetizam o pano de fundo na compreensão dos cenários, do homem, do
perfil de estudante, dos fundamentos da educação, do perfil de docente e dos
modelos de gestão. Todos eles estão interligados e formam significativo
referencial para elaborar o projeto pedagógico, sustentando práticas educacionais
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que vêm ao encontro das necessidades da pessoa, nos cenários contemporâneos
e nas dimensões e potencialidades humanas.
À luz da teoria e conscientes dos problemas percebidos durante muitos
anos nas práticas educacionais, sugerimos 09 passos para auxiliar a instituição
educacional no processo de dinamização, aproximando a teoria da prática.
Partindo do projeto pedagógico, conceituando o perfil de estudante almejado,
sugerimos o mapeamento dos conteúdos, a classificação dos conteúdos em senso
comum – passado, presente - e senso teórico, a ressignificação e problematização
dos conteúdos, o exercício metodológico e avaliativo. Nossa história de atuação
como professor e acompanhando professores em sua ação pedagógica, sugere
que sem estes exercícios e reflexões, os docentes terão dificuldades em
desenvolver sua ação pedagógica com sucesso.
Refletido isto e permeando todo o texto, tivemos a preocupação em sugerir
formas para que o material didático de apoio possa ser referência aos docentes,
tendo em vista o projeto pedagógico sugerido. Sabemos que estamos diante de
um grande desafio. Produzir material didático de apoio, em acordo com as teorias,
é uma grande tarefa. Precisamos de trabalho coletivo de pesquisa para reunir as
informações, principalmente para clarear a questão dos conteúdos: senso comum,
senso teórico, ressignificação e problematização. Existe restrito material disponível
para investigação. Em muitas situações, precisaremos criar e inovar. Nesta tarefa,
os docentes da rede têm importante contribuição a dar.
Assim também, para a estruturação do material de apoio didático, conforme
nos sugerem Bordenave e Pereira (2001) (problematização + teorização +
produção teoricamente fundamentada), tanto na metodologia como na avaliação,
necessitaremos de trabalho minucioso e de profunda compreensão do processo,
para que possamos oferecer subsídios aos docentes na orientação da sua prática
pedagógica.
Não por último, necessitaremos de um audacioso projeto de formação
continuada dos docentes, para que os ideais do projeto pedagógico sejam
compreendidos, refletidos e concretizados. Os docentes necessitarão,
inicialmente, ter acesso ao referencial teórico. Em seguida terão que ser
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desafiados em levar a teoria à prática de suas salas de aula. Por consequência,
em seminários nas unidades, na região ..., através de oficinas... socializam a sua
prática e também entram em contato com as práticas dos seus colegas. Por fim,
não se pode esquecer de documentar e publicar as práticas, permeadas com base
teórica. Este movimento – teoria – prática - socialização – documentar – publicar...
não tem fim.
Por outro lado, não se pode esquecer dos docentes novos que anualmente
entram em nossas unidades. Estes precisam ter a oportunidade de acender à
base teórica e inserir-se no movimento teórico-prático.
O desafio é grande. Necessita de uma rede profissionalizada. Necessita de
profissionais competentes e audaciosos. No entanto, compreendemos que,
somente assim, teremos a oportunidade histórica de concretizar nossos ideais
como Educadores.
“UM SONHO QUE SE SONHA SÓ É APENAS UM SONHO
UM SONHO QUE SE SONHA JUNTO É A REALIDADE QUE COMEÇA”
(DOM HELDER CÂMARA)
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