Post on 06-Dec-2014
EXPRESSÃO ORAL NO ENSINO FUNDAMENTAL II1
Elisângela de Matos Melo Nunes2
Dra. Maria de Nazaré da Rocha Penna3
RESUMO:
A escola tem o papel de mostrar aos alunos a existência de inúmeras variações lingüísticas, proporcionando-os caminhos para o desenvolvimento da produção oral e escrita. O trabalho com linguagem oral em sala de aula deve ser desenvolvido com a utilização de diferentes gêneros discursivos, escolhendo-se aqueles mais recorrentes nos meios sociais dos alunos. Cabe também a escola trabalhar a oralidade, apontando as diferenças e semelhanças entre a fala e a escrita. Este trabalho tem por objetivo, portanto, analisar e refletir sobre a importância da expressão oral no Ensino Fundamental II, reconhecendo a influencia da oralidade na abordagem da leitura e da produção de textos, valorizando a linguagem de seu grupo social como instrumento adequado e eficiente na comunicação e nas interações com outras variedades. A metodologia aplicada à elaboração desse artigo foi a pesquisa bibliográfica em que autores como Marcushi (2003), Bakhtin (1998), Tardelli (2002), Bagno (1997), entre outros, que tratam da temática foram consultados, e suas obras lidas, analisadas e refletidas. Verificou-se que é necessário favorecer o exercício da oralidade em situações sociais de uso para que o aluno seja capaz de planejar a sua escrita pensando no seu interlocutor, nas intenções que os levarão à produção de um gênero e não de outro.
Palavras chave: oralidade, ensino, práticas pedagógicas.
ABSTRACT:
The school's role is to show students that there are many linguistic variations, providing paths for the development of speaking and writing. Work on oral language in the classroom should be developed with the use of different genres, choosing those most frequent in the social student. It is also the school oral work, pointing out the differences and similarities between speech and writing. This paper aims, therefore, analyze and reflect on the importance of speaking in Elementary Education II, recognizing the influence of the oral approach in reading and text production, emphasizing the language of their social group as an appropriate and efficient communication and interactions with other varieties. The methodology applied to the preparation of this article was a literature in which authors such as Marcush (2003), Bakhtin (1998), Tardelli (2002), Bagno (1997), among others, dealing with the subject were consulted, and read his works, analyzed and reflected. It was found that it is necessary to encourage the practice of speaking in social situations of use for learners to be able to plan their writing thinking of his interlocutor, and the intentions that will lead to the production of one gender and not another.
key words: orality, teaching, pedagogical practices
1 - INTRODUÇÃO
1 Trabalho apresentado no Curso de Letras promovido pela Faculdade, em Aracati-CE.2 Professora do Ensino fundamental II e Discente do Curso de Letras da Faculdade Vale do Jaguaribe – FVJ.3 Doutora e orientadora da Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ.
O aluno quando sai do ensino fundamental espera-se que seja capaz de planejar um
texto, levando em consideração o propósito, o destinatário e a posição do enunciador, como
também de expressar oralmente suas idéias e pensamentos. E que, de certa forma já tenha
deixado de lado o jeito “errado de falar” empregando “perfeitamente” a língua padrão,
podendo expressar-se adequadamente nas várias situações cotidianas. Esquecem-se de que o
aluno antes de entrar na escola e de ser alfabetizado já domina uma norma lingüística e ao
ignorar esse conhecimento prévio estamos considerando-o um ser oco que precisa aprender a
“língua” portuguesa. Enquanto as escolas não reconhecerem a existência de variedades do
português vão refrear as possibilidades de uso lingüístico impondo assim o português padrão;
ensinando-os uma gramática com caráter prescritivo e discriminatório. E desta maneira,
acabam valorizando apenas quem já tem uma bagagem lingüística e excluindo os que não
têm. Consequentemente, os alunos que ainda não tem esse “domínio” da língua padrão
demonstram medo, insegurança e muitas vezes temor diante da possibilidade de falar,
temendo o ridículo e o constrangimento. Os alunos não devem se preocupar em falar “certo
ou errado”, mas saber empregar o que falar e como falar satisfatoriamente, considerando a
situação de comunicação. A escola não tem o papel de ensinar o aluno a falar. Pois os mesmos
já aprendem muito antes da idade escolar. Nesse contexto, os Parâmetros Curriculares
Nacionais (Brasil/MEC, 1998, p.25) afirma-nos que: “cabe à escola ensinar o aluno a utilizar
a linguagem oral no planejamento e realização de apresentações públicas: realização de
entrevistas, debates, seminários, apresentações teatrais etc”.
Portanto, é papel da escola mostrar aos alunos a existência de inúmeras variações
lingüísticas, proporcionando-os caminhos para o desenvolvimento da produção oral. Castilho
(1998, p.121) sugere que “uma ênfase particular deveria ser dada à língua falada porque esta
modalidade retém muitos dos processos de constituição da língua, os quais não aparecem na
língua escrita”. O trabalho com linguagem oral em sala de aula deve ser desenvolvido com a
utilização de diferentes gêneros discursivos, escolhendo-se aqueles mais recorrentes nos
meios sociais dos alunos. Pode-se trabalhar com fábulas, resumo de novelas, propagandas,
anúncios, cartas, bilhetes, receitas, entre outros. Esses trabalhos devem ser realizados em
atividades significativas, tais como: seminários, dramatização de textos teatrais, simulação de
programas de rádio e televisão, de discursos políticos e de outros usos públicos da língua oral.
Só assim será possível dar sentido e função ao trabalho com aspectos de entonação, dicção,
gesto e postura que, no caso da linguagem oral, tem um papel complementar que dá sentido
aos textos. O educando necessita saber que não existe uma gramática pronta para a língua
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falada, mas diferentes vocabulários na construção de textos falados. Assim sendo, é preciso
refletir sobre a comunicação oral para conhecer os principais motivos da pouca ou da falta do
desenvolvimento da oralidade nas situações de comunicação no contexto escolar, e assim
fazer um planejamento específico para sua aplicação em sala de aula. O professor deve
também realizar atividades que possam ajudar o aluno a perceber que existem textos que são
tipicamente escritos e outros que são tipicamente falados como também existem textos que se
configuram tanto pela utilização de características da escrita como da fala.
Para realizar esse artigo utilizou-se a metodologia da pesquisa bibliográfica em que
diversos autores foram consultados e através da leitura analítica e crítica de obras sobre o
tema, foi possível elaborar esse trabalho, que se divide em três seções: a primeira trata sobre a
importância da oralidade no processo de ensino-aprendizagem da língua; a segunda aborda a
obtenção da linguagem oral em sala de aula, por último analisa-se o ensino de gêneros orais.
Com o estudo, foi possível verificar que podemos desfazer o mito da supremacia da
escrita sobre a fala, e mostrar que a mesma contribui na formação cultural, social e na
preservação de tradições não escritas. Como também enfatizar que a oralidade pode ser usada
de maneira a fazer-se pensar e agir sobre o mundo. Mostrando assim que a expressão oral
deve envolver o educando na utilização tanto da língua formal quanto da língua informal.
Adequando as variedades da língua oral às circunstâncias da comunicação.
2 - A IMPORTÂNCIA DA ORALIDADE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA
O trabalho do professor para desenvolver a oralidade do aluno não se limita às séries
iniciais, mas a todas as séries, desde o fundamental até o ensino médio, orientando-os para as
falas adequadas ao contexto de uso e estimulando-os no desenvolvimento da competência
oral, para que saiam do ensino médio com a capacidade de elaboração, de articulação e
maturação para a exposição oral competente desenvolvida. Os PCN de ensino médio, Língua
Portuguesa, afirmam que: “A linguagem, na escola, passa a ser objeto de reflexão e análise,
permitindo ao aluno a superação e/ou a transformação dos significados veiculados". Então, é
papel da escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral no planejamento e realização de
apresentações públicas; com atividades de linguagem oral planejadas, com textos de
diferentes gêneros, com diferentes objetivos e interlocutores, em função de determinadas
condições de produção e situações de interação, nas quais possam desenvolver suas
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habilidades e competências de produção e recepção de textos orais usados em situações mais
formais.
Sobre a língua falada, Castilho (1998, p.13) afirma que:
[…] não se acredita mais que a escola deve concentrar-se apenas no ensino da língua escrita, a pretexto de que o aluno já aprendeu a língua falada em casa. Ora, se essa disciplina se concentrasse mais na reflexão sobre a língua que falamos, deixando de lado a reprodução de esquemas classificatórios, logo se descobriria à importância da língua falada, mesmo para a aquisição da língua escrita.
Fávero et al (1999), a favor do texto falado, argumenta que: “O desenvolvimento do
texto falado está diretamente ligado ao modo como a atividade interacional se organiza entre
os participantes. Essa organização resulta de decisões interpretativas, inferidas a partir de
pressupostos cognitivos e culturais, tomadas durante o curso da conversação”. E Marcuschi
(2003) afirma que: “A oralidade seria uma prática social interativa para fins comunicativos
que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora; ela
vai desde uma realização mais informal a mais formal nos mais variados contextos de uso.”
Nessa linha de pensamento, a escola deve proporcionar sequências didáticas para o ensino da
expressão oral em diversos gêneros, nas quais o aluno possa desenvolver seu desempenho e
aperfeiçoá-lo, adequando a fala a determinados contextos. Também Marcuschi (1997) fala em
adequação às diferentes situações comunicativas. Sendo assim, trabalhar a oralidade em sala
de aula é muito mais que leitura de textos em voz alta ou ensinar a falar a norma culta. É
reconhecer a importância da comunicação oral como um conteúdo que vai além da sala de
aula. Sendo a oralidade um instrumento valioso, a escola deve por em relevância o seu papel
no processo ensino-aprendizagem. Diante disso, faz-se necessário criar um ambiente em que
os alunos possam, além de expor suas opiniões, também saiba ouvir e perceber o
desenvolvimento e as descobertas do outro, para que através da comunicação oral os mesmos
possam promover suas produções textuais, aperfeiçoando o seu desempenho oral por meio de
uma aprendizagem individual e coletiva, envolvendo regras de comportamento social,
enfatizando os elementos não-verbais que fazem parte da interação: como gestos, expressões
faciais, postura corporal, dentre outros. E realizarem atividades mais complexas como:
apresentação de palestras e seminários, realização de entrevistas, produção de programas de
radio, TV e outros. Para tanto, se faz necessário que o professor oriente os alunos e debata
sobre o propósito dessas atividades. Como também propicie aos alunos à efetiva pratica de
leitura em diferentes gêneros textuais, motivando-os a incluir-se no mundo da linguagem oral,
no qual poderão perceber que a língua pode ser recriada a todo instante.
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De acordo com Dolz e Scheneuwly (2005), “O professor é a chave certa para que os
alunos entendam, busquem e aprendam, pois cabe a ele ir à busca de novos estudos de ensino
e aprendizagem”. Para tanto, o verdadeiro trabalho pedagógico deve possibilitar ao aluno o
desenvolvimento de sua competência discursiva. Diante desse argumento, compete à escola
ensinar o aluno a empregar a linguagem oral no planejamento e na realização de
apresentações públicas, ensinando uma linguagem oral expressiva que possibilite o uso da
linguagem mais formalizada. São muitas as razões que nos levam a ensinar a língua oral.
Destacamos as seguintes: a formação de futuros cidadãos; o uso adequado nas distintas
situações com diferentes interlocutores; a formação de falantes capazes de adequar às
variedades da língua oral às circunstâncias da comunicação e desenvolver nos alunos a
capacidade de registros formais da oralidade. Portanto, para se desenvolver as habilidades
orais é importante que se promova atividades interativas envolvendo os participantes no
dialogo, nas trocas de idéias.
Segundo Vygotsky (1983), os objetivos da aprendizagem são classificados em:
domínio cognitivo; domínio afetivo e domínio psicomotor. No domínio cognitivo a
aprendizagem está ligada a informações, conhecimentos ou capacidades intelectuais; são as
habilidades de memorização, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. No
domínio afetivo a aprendizagem está relacionada às emoções, gostos ou atitudes e
sentimentos: são as habilidades de resposta, valorização, organização e caracterização. Já no
domínio psicomotor estão habilidades relacionadas a movimentos básicos fundamentais, aos
reflexos, as habilidades perceptivas e físicas e a comunicação não discursiva: são as
aprendizagens que ressaltam o uso e a coordenação dos músculos. No entanto, para
desenvolver esses objetivos de aprendizagem é preciso que o professor planeje sua ação,
vinculada ao projeto pedagógico da escola, no qual tenha a responsabilidade de garantir a
todos os alunos o acesso aos saberes lingüísticos necessário para o exercício pleno da
cidadania. Nesse contexto, o espaço escolar deve proporcionar atividades que possibilitem ao
aluno tornar-se um falante ativo e competente, capaz de compreender os discursos e organizar
suas idéias de maneira clara, coerente e coesa.
3 - A OBTENÇÃO DA LINGUAGEM ORAL EM SALA DE AULA.
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A escola deve adequar à oralidade que o aluno utiliza em seu dia-a-dia a diversas
situações de uso, propondo alternativas para o ensino do oral em sala de aula, desvinculando a
oralidade de atividades escritas e ocupando-se principalmente em atividades que valorizem a
aprendizagem e não o ensino. O psicólogo suíço Bernard Schneuwly, em entrevista à Nova
Escola em 2002, afirmou que: “Cabe a escola ensinar o aluno a utilizar a língua oral nas
diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais”. Diante disso, a escola
deve proporcionar sequências didáticas para o ensino do oral em diversos gêneros por meio de
atividades concretas que possibilite o aluno exercitar a expressão oral, preparando-o para
“falar em público” em diferentes situações de comunicação real. Já que os gêneros da fala têm
aplicação direta em vários campos da vida social, o professor deve orientar os alunos a
participarem de diálogos, relatos e discussões, participarem de seminários e congressos, expor
opiniões, dentre outros. Como também considerar os aspectos semânticos, gramaticais e
lingüísticos através do exercício da conversação. Com o trabalho efetivo e eficaz da oralidade
em sala de aula estaremos estimulando o desenvolvimento de alunos participativos e críticos
capazes de expor suas idéias e argumentar suas opiniões. Nesta linha de pensamento os PCN
(1998, p.67) apresentam a “fala pública” como foco da oralidade em sala de aula ao afirmar
que:
Ensinar a língua oral significa para a escola possibilitar acesso a usos da linguagem mais formalizadas e convencionais que exijam controle mais consciente e voluntário da enunciação, tendo em vista a importância que o domínio da palavra publica tem no exercício da cidadania. Ensinar língua oral não significa trabalhar a capacidade de falar em geral. Significa desenvolver o domínio dos gêneros que apóiam a aprendizagem escolar de Língua Portuguesa e de outras áreas e, também, os gêneros da vida pública no sentido mais amplo do termo.
Nesse sentido, é preciso que o professor chegue à sala de aula com uma reflexão
consistente sobre sua pratica pedagógica na abordagem da competência de uso da língua
fundamentada em conhecimento teórico, tendo como ponto de partida o conhecimento
linguístico que o aluno dispõe ao chegar à escola. Para o ensino da oralidade, é necessário o
conhecimento dos gêneros orais e um planejamento mediante técnicas capazes de garantir de
fato esse ensino, não só por todo o ensino fundamental, mas para quaisquer situações formais
publicas. No entanto, o professor deve ter clareza sobre o que vai ensinar, como vai ensinar e
quais os recursos a serem utilizados, dispondo-se a atividades significativas. Para que a
oralidade deixe de ser uma atividade auxiliar da escrita e passe a ser um objeto de ensino
produtivo da língua, é preciso que o professor tenha um embasamento teórico.
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Com base no fato de que a fala já conseguiu um lugar no ensino da língua materna,
Marcuschi (1996) argumenta a favor do trabalho da língua falada a partir de quatro premissas:
a primeira é a heterogeneidade e as variações da língua, a segunda é que a escola deve ocupar-
se da fala propondo um paralelo de análise com a escrita; a terceira, fala sobre a exploração de
textos de diversos gêneros, tanto na modalidade de uso da língua escrita quanto na língua
falada; na quarta e ultima, o autor refere-se ao uso da língua em textos contextualizados. Os
textos orais vão desde uma forma mais coloquial de fala, como conversas com familiares ou
amigos, até uma fala planejada e adequada. A exposição oral de determinado assunto em
situações formais merece atenção por parte dos falantes, possibilitando assim a otimização na
exposição e defesa de idéias. O professor deve verificar a participação dos alunos nos
diferentes textos orais, pois a sua orientação e avaliação são essenciais para o
desenvolvimento da habilidade e competência da oratória dos alunos.
Segundo o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD/2005), Língua Portuguesa, o
trabalho com a linguagem oral deve: favorecer o uso da linguagem oral na interação em sala
de aula como mecanismo de ensino-aprendizagem; recorrer à oralidade na abordagem da
leitura e da produção de textos; explorar as diferenças e semelhanças que se estabelecem entre
a linguagem oral e a escrita; valorizar e efetivamente trabalhar a variação e a heterogeneidade
lingüísticas, introduzindo a norma culta relacionada ao uso público ou formal da linguagem
oral, sem no entanto, silenciar ou menosprezar as outras variedades, quer regional, quer
social, quer estilística, e propiciar o desenvolvimento das capacidades envolvidas nos usos da
linguagem oral próprios das situações formais e públicas.
O estudo da Língua Oral deve garantir que as atividades em sala de aula envolvam
fala, escuta e reflexão sobre a língua. Devendo ser instigada como um meio para comunicar
informações ao interlocutor em diferentes situações.
4 - O ENSINO DE GÊNEROS ORAIS
Cabe a escola uma preparação da modalidade oral, em que o aluno saiba falar em
público e enunciar seu pensamento oralmente. Percebendo que diferentes contextos exigem
também diferentes maneiras de se expressar por meio da fala, essa expressão oral vai refletir o
contexto social no qual o aluno está inserido, podendo adequar sua linguagem de acordo com
o contexto; nessa circunstância é necessário reconhecer e respeitar as diferenças culturais
presentes na língua. No Ensino Fundamental II devem ser trabalhadas atividades mais
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complexas, utilizando gêneros orais mais formais, fazendo uma organização prévia do tema a
ser trabalhado para saber o que se vai dizer oralmente.
Ensinar a língua oral na escola, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,
significa: “desenvolver o domínio dos gêneros que apóiam a aprendizagem escolar da Língua
Portuguesa e de outras áreas (exposição, relatório de experiência, entrevista, debate, etc) e,
também, os gêneros da vida pública no sentido mais amplo do termo...” Nesse contexto, se faz
imprescindível o aperfeiçoamento tanto da modalidade escrita como da modalidade falada de
acordo com os objetivos de uma comunicação concreta. Nessa perspectiva, “os gêneros
constituem ações de linguagem que requerem do agente produtor uma escolha que deve ser
feita a partir de gêneros já existentes, nos quais poderá decidir aplicar e acrescentar algo, ou
recriá-los, adequando-os à intenção comunicativa de acordo com o contexto”, (Bronckart,
1994). O mesmo assegura que:
A escolha do gênero deverá levar em conta os objetivos visados, o lugar social e os papéis dos participantes. Além disso, o agente deverá adaptar o modelo do gênero a seus valores particulares, adotando um estilo próprio, ou mesmo contribuindo para a constante transformação dos modelos.
Para Koch e Elias (2009, p.74) é preciso “possibilitar ao aluno o domínio do gênero,
primeiramente para melhor conhecê-lo ou apreciá-lo, de modo a ser capaz de compreendê-lo,
produzi-lo na escola e fora dela (...)”. Como o ensino da língua oral ocupa pouco espaço nas
escolas, e ainda é vista apenas como um meio para o aprendizado da escrita, torna-se difícil
considerar o ensino da oralidade como um conteúdo essencial da língua materna. Isso
acontece pelo simples fato de se considerar a língua falada apenas a que é dominada no nosso
cotidiano e não como uma língua falada formal. É importante ressaltar que devemos
considerar a fala e a escrita como práticas igualmente eficazes de ensino, pois permitem a
construção de textos coesos e coerentes. Para que o ensino do oral seja de fato um objeto de
estudo, se faz necessário considerá-lo como um objeto de ensino paralelo à escrita, passível de
discussão, reflexão e de avaliação.
O professor deve, ao ensinar os gêneros orais, selecionar os que precisam ser
ensinados e identificar os elementos estáveis que determinam à ocorrência do gênero que se
quer ensinar e analisá-los com os alunos. E deve também levar em conta que tanto os gêneros
orais quanto os escritos precisam ser ensinados, já que existe uma interação entre ambos. No
entanto, apesar de disporem do mesmo sistema de signos lingüísticos não são de natureza
semelhante. Da mesma forma que só se aprende a escrever, escrevendo, só se aprende a falar,
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falando. As formas orais que servem à realidade escolar são: exposição, entrevista, discussão
em grupo e relatório, entre outros. Os que servem à vida pública são: gêneros de instâncias
oficiais, negociação e debate, entrevista profissional, conferencia, homilia, dentre outros. E os
gêneros orais realizados em público, tidos como lugares sociais de comunicação são: rádio,
televisão, igreja, universidade e escola. Os gêneros orais privados cotidianos são: o diálogo
familiar-cotidiano, os gêneros breves cotidianos de saudação, as despedidas, os votos, os
relatos cotidianos, os telefonemas e os avisos, dentre outros. Assim, o grau de formalidade do
gênero é determinado pelo lugar social de comunicação.
Neste contexto, Dolz e Schneuwly (2004, p. 174) afirmam que:
Os gêneros orais [...] são instrumentos – ou melhor, megainstrumentos, visto que podemos considerá-los como a integração de um grande conjunto de instrumentos num todo único – que fazem à mediação da atividade de linguagem comunicativa. Falta-nos ainda escolher, dentre uma enorme variedade de gêneros, aqueles que podem, e talvez mesmo devam, tornar-se objeto de ensino. Já que o papel da escola é sobretudo o de instruir, mais do que o de educar, em vez de abordarmos os gêneros da vida privada cotidiana, é preciso que nos concentremos no ensino dos gêneros da comunicação pública formal. Por um lado, [...] exposição, relatório de experiência, entrevista, discussão em grupo etc [...] e, por outro lado, aqueles da vida pública no sentido lato do termo (debate, negociação, testemunho diante de uma instância oficial, teatro etc.).
Nesse sentido, os gêneros usados pelos falantes no dia-a-dia dispensam qualquer
abordagem e sistematização didática, são absolutamente espontâneos, não se aprende no
âmbito escolar. É importante trabalhar a oralidade com o apoio da língua escrita para que o
educando possa esquematizar e organizar suas ideias e argumentos. Já que a fala e a escrita
são gêneros diversos que podem ser trabalhados em sala de aula como objeto de ensino, um
deles é a exposição oral, também chamada de seminário, um instrumento privilegiado de
transmissão de conteúdos. Se referindo a esse gênero Dolz e Schneuwly (2004, p. 174) ainda
relata que:
A exposição é um discurso que se realiza numa situação de comunicação específica que poderíamos chamar de bipolar, reunindo o orador ou expositor e seu auditório [...] Mas, se esses dois atores encontram-se reunidos nessa troca comunicativa particular que é a exposição, a assimetria de seus respectivos conhecimentos sobre o tema da exposição os separa: um, por definição, representa um “especialista”; o outro é mais difícil de caracterizar, mas, pelo menos, apresenta-se como alguém disposto a aprender alguma coisa. Logo, o enunciador, por meio de seu discurso, tende a reduzir a assimetria inicial de conhecimentos.
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O professor precisa antes de pedir para que seus alunos apresentem um seminário
trabalhar com os mesmos o “como fazer”, o passo a passo desde a pesquisa bibliográfica
sobre o tema ou o assunto a ser abordado até a exposição, sem esquecer os elementos estáveis
na situação de comunicação da aula expositiva, são eles:
Os materiais escritos que vão dar apoio ao professor e ao aluno na escrita;
Os conteúdos, procedimentos e competências, a serem ensinados e aprendidos, e os
objetivos a serem alcançados, previamente determinados por escrito;
As atividades propostas, oralmente e por escrito, para que os objetivos se realizem;
Um planejamento prévio do tempo e espaço, registrado por escrito;
A exposição oral que considere todos os elementos citados, dentre outros.
O trabalho com a oralidade vai além das aulas de língua portuguesa, transcorre por
todas as disciplinas. O professor deve avaliar toda a evolução do aluno desde a sua postura
como expositor, os gestos, a voz, a entonação, as imagens e notas de apoio. Essa avaliação
deve ser prevista e planejada para que possa intervir e redirecionar os trabalhos realizados
como também ajudá-los a observar e refletir sobre a fala produzida em diferentes situações
comunicativas e perceberem que em algumas situações de oralidade é preciso fazer uso da
escrita, pois a mesma funciona como suporte para organizar a fala.
O desenvolvimento da capacidade de expressão oral do aluno vai depender do
ambiente escolar, que acolha e respeite as diferenças e as diversidades. Pois segundo os PCNs
(1997,p.49) “Expressar-se oralmente é algo que requer confiança em si mesmo. Isso se
conquista em ambientes favoráveis à manifestação do que se pensa, do que se é...”. Portanto, a
escola deve ser um espaço para a livre expressão e criar oportunidades para o intercâmbio
oral, no qual os alunos possam argumentar, expor, formular, explicar, debater sobre temas
transversais; produzirem textos orais com diversos propósitos adequando as normas e
registros segundo o contexto comunicativo e por fim expressar-se oralmente tendo em conta
as características das diferentes situações comunicativas.
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, procurou-se fazer uma reflexão sobre a metodologia do ensino da
oralidade em sala de aula para que possa contemplar de fato a prática discursiva da mesma,
como um conteúdo essencial da língua portuguesa no ensino fundamental que deve ser
ensinado através de uma consciente sistematização didática. O professor deve ter clareza
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sobre esse conteúdo, valorizando assim as diferentes possibilidades de produção de textos
orais que podem também ser relacionados com a escrita.
O trabalho oral em sala de aula deve favorecer os alunos a utilização dos gêneros
orais, de maneira a possibilitar-lhes a produção de textos orais argumentativos e discursivos
sobre temas sociais relevantes, estimulando o pensamento crítico e favorecendo a
aprendizagem nas diferentes áreas do conhecimento. Para serem capazes de expressar-se em
diferentes situações de comunicação, seja de um debate, de um depoimento oral, ou de uma
entrevista. Para isso, o professor precisa trabalhar a fala de forma sistemática todos os dias.
As atividades trabalhadas em sala devem ter como meta a aprendizagem que proporcione o
aperfeiçoamento da modalidade oral de acordo com os objetivos de uma comunicação
contextualizada nas mais diversas situações de uso.
Sabemos que trabalhar a oralidade em sala de aula não é tarefa assim tão fácil, pois são
muitos os fatores que a dificulta, tais como a falta de preparo por parte dos professores, que
viam a expressão oral apenas como um complemento da escrita; os livros didáticos que
trabalham a oralidade superficialmente; o medo de falar em público dos alunos, que temem
errar e serem ridicularizados pelos colegas, a não aprovação pelo professor e o
constrangimento. Sendo assim, é preciso criar um ambiente que convide à escuta e à fala e
aja uma integração e uma interação entre alunos e professor, através de um ambiente escolar
propicio a construção do conhecimento, sem o fantasma da reprovação.
É muito importante que o professor seja criativo ao escolher dinâmicas para trabalhar
a prática da oralidade, pois o conteúdo deve ser abordado de maneira eficaz e estimulante por
meio da participação ativa dos alunos, possibilitando-lhes a pesquisa, a argumentação e a
organização da exposição oral, da roda de conversa, dos debates; com a orientação e o
acompanhamento do professor, levá-los a criar hipóteses, analisar e avaliar o material
trabalhado, oportunizando-os a ser construtores de seus conhecimentos. Para tanto, se faz
necessário diferentes textos que abordem o conteúdo trabalhado, que possam servir de
subsídios para que os alunos possam argumentar e contra-argumentar suas opiniões.
Não podemos nos esquecer que a prática de atividades de expressão oral estimula o
aluno à liberdade de expressar-se oralmente com o objetivo de comunicação independente se
a mesma está “correta” nas regras gramaticais. Pois devemos levar em conta os diferentes
contextos que o aluno está inserido, ajudando-os a adequar sua fala nas mais variadas
situações.
Com este estudo, percebemos que a realização de atividades orais em sala de aula
contribui para as práticas sociais dos alunos, além de colaborar com diversas disciplinas.
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Sendo assim, não podemos mais pensar no ensino da oralidade como um simples apoio à
escrita ou como apenas um transmissor de informações. Mas como um aprendizado que
possibilita a interação entre os elementos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
Espera-se que esse artigo estimule novas formas de abordagem do assunto, conferindo
espaço para que a oralidade em sala de aula seja de fato vista como um objeto de estudo. E
que, no ensino fundamental, os gêneros orais trabalhados em sala de aula não sejam reduzidos
a simples conversão de enunciados escritos.
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