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A PARTICIPAÇÃO LINGUÍSTICA ENQUANTO MOVIMENTO SOCIAL
Alzira Ioná Corrêa Lopes
ResumoO presente trabalho desenvolve uma reflexão para os educadores no
exercício de suas práticas pedagógicas, objetivando averiguar a atuação de movimentos sociais que instrumentalizam da língua cultural como parte da cultura e meio para orientação do processo ensino aprendizagem e da cidadania. A partir dessas reflexões pretende-se promover o reconhecimento da importância da implementação de um currículo multicultural que tenha a cultura atuante no processo ensino aprendizagem. Verifica-se, ainda, a necessidade do uso de atividades lingüísticas que exercitem constantemente a construção e interpretações conjuntas como tarefas socioculturais, desenvolvendo a capacidade de reflexão sobre as diferenças entre a língua padrão e a cultura, que já está no próprio processo de aquisição e construção dos objetos lingüísticos, sendo intensificado na escola, construindo noções, relações e estratégias, para que, professor e aluno, possam falar uma mesma linguagem na busca do conhecimento e da atuação social. Verifica-se, então, que buscar uma metodologia mais eficaz para que a língua cultural auxilie o ensino da língua portuguesa; com iniciativas criativas de caráter científico e cultural; objetivará um contexto que se garanta espaço, estímulo e oportunidade para o cidadão.
Palavras-chaveLíngua, Comunicação, Cultura, Movimento social.
ResumenEl presente trabajo desarrolla una reflexión para los educadores en el ejercicio
de sus actuaciones pedagógicas. El objetivo general es averiguar la importancia de la lengua cultural como parte de la cultura y medio para orientación del proceso de enseñanza-aprendizaje actuando como movimientos sociales. A partir de las reflexiones desarrolla relevante el reconocimiento de la importancia de la implementación de un currículo multicultural que tenga a la lengua parauara actuante en el proceso de enseñanza-aprendizaje. Se verifica, además, la necesidad del uso de actividades lingüísticas que ejerciten constantemente la construcción e interpretación conjunta como tareas socio culturales, desarrollando la capacidad de reflexión sobre las diferencias entre la lengua modelo y la cultural, que ya está en el propio proceso de adquisición y construcción de los objetos lingüísticos, siendo intensificada en la escuela, construyendo nociones, relaciones y estrategias, para que, profesor y alumno, puedan hablar un mismo lenguaje en la búsqueda de conocimiento e de la actuación social. Se concluye que buscar una metodología más eficaz para que la lengua cultural auxilie la enseñanza de la lengua portuguesa, con iniciativas creativas de carácter científico y cultural; buscará un contexto en el que se garantice espacio, estímulo y oportunidad para que el alumno realice su desarrollo en el trabajo pedagógico.
Palabras llave: Lengua, Comunicación, Cultura, Movimiento Social.
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Introdução
O objetivo deste artigo é desenvolver uma reflexão capaz de situar os
educadores diante de um momento histórico-cultural; enquanto movimento social;
em que estamos vivendo, buscando indicações de linguagens que possam auxiliar
na construção de pensares e fazeres, onde se possa assumir efetivamente a
responsabilidade de um educador investindo na formação do cidadão, de maneira
que este se capacite a tomar os rumos da história e da cultura, enriquecendo a vida
humana; inserindo, de forma real e atuante, a pluralidade cultural do âmbito escolar.
Perante as abordagens contemporâneas sobre os “novos movimentos
sociais” nota-se o surgimento do movimento social cultural da linguagem, que vem
se apresentando de maneira tímida, mas incisiva ao longo dos anos, fruto de uma
globalização que dissemina novidades, inclusive novas linguagens. O surgimento de
novos movimentos sociais, como o da linguagem, vem para corroborar teorias que
apresenta o sujeito como um coletivo difuso que luta pelos progressos da
modernidade, porém criticando-a; enfatiza as relações micro-sociais e culturais;
constrói um modelo teórico baseado na cultura; e analisa os atores por suas ações
coletivas e identidade coletiva criada no processo (Picolotto apud Gohn 2000).
A escola, muitas vezes, não busca procedimentos mais eficientes para o
crescimento, descoberta e apropriação do saber, tendo em vista a variação sócio-
cultural. Para tanto, faz-se necessário que a escola e todos os seus segmentos
busquem adequar o currículo à realidade de seu contexto cultural. Por isso percebe-
se a necessidade da verificação de um movimento social que atua timidamente
encaminhado por um grupo de linguístas que tentam eliminar com a cultura do uso
da língua cultural com “erro gramatical”, levando ao preconceito linguístico, criando
um sistema exclusório na sociedade, afetando, dessa forma, o sentido de contribuir
para a efetivação de um currículo multicultural que auxilie tanto no acesso ao mundo
da leitura quanto da escrita.
O desenvolvimento da referida reflexão foi organizada de modo a encaminhar
uma discussão quanto ao complexo das relações sócio-culturais atuando como
movimento social, dentre os quais educadores e educandos estão inseridos, tendo
em vista o papel da educação no processo de formação do cidadão, além da
utilização de uma linguagem que contribua para valorização cultural; abordando a
linguagem auxiliadora na guerra cultural, bem como a necessidade da busca de uma
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renovação lingüística; apresenta, ainda, a proposta dos parâmetros curriculares
nacionais, além dos temas transversais, que norteiam discussões pedagógicas na
elaboração, planejamento e reflexões sobre a prática educativa. Ainda são
apresentadas sugestões e recomendações sobre a língua cultural como meio para
orientação do processo ensino aprendizagem e de transformação social.
A linguagem auxiliadora na “guerra cultural”
Diante do cenário mundial, considerando Alves (1992), o capitalismo vem
produzindo, historicamente perante a educação, um antagonismo entre escola e
trabalho. Isso vem acontecendo não só no Brasil, como na maioria dos países de
terceiro mundo. O antagonismo consiste nas exclusões diversas, multiplicando os
trabalhadores sem trabalho, estudantes sem estudo e cidadãos sem cidadania,
contribuindo para a formação capitalista da educação.
Segundo a autora Alves (1992), faz-se necessária a busca de novos
caminhos e extinção desses mecanismos exclusórios, contribuindo com
estratégias que recoloquem a escola como “lugar do saber e do sabor”.
Percebe-se que o fenômeno da globalização, de acordo com Bartolomé
citado por Silva (2001), tem sido encarado como um distanciador entre as classes
sociais dos primeiro e terceiro mundos. Esse fato atrelado à questão de imigração
vem acrescentando a esse cenário global a desvalorização das identidades étnica
e racial, surgindo uma verdadeira “guerra cultural”. Essa questão não deveria
acontecer, pois a globalização deveria oferecer importantes desafios para facilitar
as inter-relações econômicas, políticas e culturais.
Segundo o autor essa “guerra cultural” possui uma linguagem que os
educadores precisam saber lidar para que as diferenças sociais presentes possam
ser dizimadas. Ele comenta que tudo isso é fruto de uma educação acrítica que
desfragmentaliza o corpo do conhecimento, tornando difícil realizar compreensões
mais críticas da realidade.
E é perante essa “guerra cultural” que se percebe a ocorrência de um
movimento social que se torna cada vez mais evidente, demonstrando, de acordo
com a concepção de Alain Touraine citado por Picolotto (2007:161), uma “ação
conflitante de agentes de classes sociais lutando pelo controle do sistema de ação
histórica”; definindo os dois alicerces fundamentais: o da racionalização, com as
classes dominantes e dirigentes; e da subjetivação, mostrando-se como
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instrumento de defesa e resistência das classes dominadas. Refletindo, diante
dessa definição de Touraine, definiríamos que a racionalização ocorreria tendo
como sujeitos as pessoas detentoras de uma “linguagem correta” perante uma
estruturação gramatical da sociedade; enquanto que a subjetivação aconteceria
com a submissão da linguagem cultural como instrumento defensivo e de
resistência das classes que utilizam em seu cotidiano um vocabulário cultural sem
a “correção” tão exigida por uma sociedade exclusória. Dessa forma, analisando o
autor, pode-se perceber que os dominantes evidenciando suas funções de atores
racionais utilizando-se da lógica natural da obtenção do saber; enquanto os
dominados resistem reivindicando suas próprias identidades lingüísticas perante
uma globalização que sugere e cria múltiplas linguagens.
Marcuch (2003) diz que o letramento enquanto prática social formalmente
ligada ao uso da escrita tem uma história rica e multifacetada e que, numa
sociedade como a nossa, a escrita, enquanto manifestação formal dos diversos
tipos de letramento é mais do que uma tecnologia. Ela se tornou um bem social
indispensável para enfrentar o dia-a-dia, seja nos centros urbanos ou na zona
rural. Neste sentido, pode ser vista como essencial à própria sobrevivência no
mundo moderno. Não por virtudes que lhe são imanentes, mas pela forma como se
impôs e a violência com que penetrou nas sociedades modernas e impregnou as
culturas de um modo geral. Daí o autor frisar que a escrita tornou-se indispensável,
ou seja, sua prática e avaliação social a elevaram a um status mais alto, chegando
a simbolizar educação, desenvolvimento e poder.
Diante desses fatos levantados percebe-se a importância do educando ter
contato, de forma sistematizada, como o processo lingüístico que envolve a sua
participação social no processo educativo. Cabe, portanto, aos educadores auxiliar
na efetivação desse processo.
Busca de renovação lingüística: uma necessidade
Sabendo que a linguagem contribui para a construção social do educando, o
educador precisa utilizar-se dela para criar um espaço pedagógico que seja
positivo, incentivando a desconstrução da manipulação ideológica, construindo a
pedagogia da esperança, inspirada no caminho da criticidade e humanidade.
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No entender de Larrosa, citado por Silva, “é a linguagem que pode auxiliar
nessa formação do que é real, pois ela é um modo da aparição do ser e, portanto,
o lugar da verdade” (2001:58).
É diante de uma perspectiva de “domínio” de uma variante culta da língua
materna que a riqueza da língua deve emergir diante de uma rica vivência,
iniciando valores socioculturais que sejam práticos para a vida do educando. Mas
não adianta afirmar a importância destas propostas como princípio e depois
abandoná-las perante a prática. No entender de Ilari, citado por Santos (1995:18):
Ter acesso a uma língua não significa somente apreender técnicas frias sem contexto, lidar com a leitura não é somente decodificar símbolos, dominar a variante culta não é “empanturrar-se” com a gramática tradicional, trabalhar a literatura não é decorar bibliografias e características de autores ou movimento literários ou listas de obras. Não se aprende o que não se vive, muito menos se organiza o que não se aprendeu; é preciso então dar a linguagem do educando um caráter de vivência.
Cada professor é uma personalidade única, cada aluno um indivíduo diferente,
cada classe constitui uma realidade particular, cada escola tem sua característica
própria, cada momento histórico possui suas peculiaridades. Essa realidade
complexa e dinâmica exige também seu devido respeito - e receitas milagrosas,
para um ensino ao mesmo tempo coerente com essa realidade e eficiente, não
existem. (ALVES, 1996:18)
Segundo a exposição de Picolotto (2007:162), a teoria de Touraine há o
sujeito – reconhecido como ator e não só como consumidor – portanto, parte
integrante e atuante na sua produção. De acordo com o autor, o processo de
formação do sujeito não pode ser realizado individualmente, mas coletivamente,
senão tal sujeito não faria parte de um determinado movimento social, não teria
porque lutar por ações individualistas, pois não haveria uma ação cidadã,
buscando melhorias de vida para a sociedade. Então Picolotto cita Touraine:
Sem esta passagem para o movimento social, o sujeito corre o risco de dissolver-se na individualidade; sem este recurso há um princípio não social de ação na vida social, a idéia de movimento social cai na tentação alienante de se conformar com o sentido da história. Não existe sujeito sem engajamento social; não existe movimento social sem apelo direto à liberdade e à responsabilidade do sujeito (Touraine, 1998:302).
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Dessa forma, a renovação da atuação educativa, segundo Santos (1996),
depende de uma busca incansável, tanto individual quanto coletiva, no sentido de
mudanças que possam efetivar-se na prática. Os estudos de Touraine comentam,
ainda, que o Estado deve ser organizador da sociedade, onde os movimentos
sociais – também o linguístico – devem criar projetos que divulguem a riqueza
cultural – linguagem cultural – garantindo o direito à diferença e à democracia.
Diante do exposto precisa-se buscar enriquecimento nas trocas de informação e
de experiências produtivas, inseridas no contexto sociocultural do aluno, que
poderão progressivamente, criar e revelar as condições necessárias para relevar
entre os fins propostos para o ensino da língua e os meios que poderão ser
utilizados pelo professor diante do processo ensino-aprendizagem tornando, dessa
forma, aulas mais atraentes e, principalmente, ligadas ao cotidiano do aluno. E é a
partir dessa busca que, segundo a autora, aparecerão técnicas e instrumentos que
possibilitem auxiliar na conduta pedagógica do professor, organizadas de acordo
como o trabalho didático mais adequado às necessidades dos educadores e as
premissas estabelecidas ao ensino da Língua Portuguesa. A adequação e
eficiência do ensino da língua materna poderão auxiliar na construção de uma
metodologia capaz de adicionar formas e meios de trabalho que permitam, tanto
ao professor quanto ao aluno, um conhecimento lingüístico mais dinâmico.
Mas nada adianta sem o querer “fazer” do aluno e o querer “mudar” do
professor. Não há procedimento revolucionário que funcione sozinho. Sem a
sustentabilidade da mudança de um educador que possua compromisso; não só
com o discurso progressista, mas principalmente com a prática, assim como o
aluno que possua predisposição em atuar de acordo com o proposto; não haverá
criatividade ou saberes construtivos que deem jeito.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais
Os parâmetros Curriculares Nacionais; elaborado pela Secretaria de
Educação Fundamental - SEF - MEC (1997); pretendem ser um elemento
catalisador a partir do qual o sistema educacional do país se organize a fim de que;
respeitadas as diversidades culturais, étnicas, religiosas e políticas que caracterizam
uma sociedade múltipla, estratificada e complexa possam promover uma educação
atuante no processo de construção da cidadania, tendo como objetivo maior uma
educação inclusiva em todos os sentidos. Tendo em vista que, na execução dos
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PCN’s, o aluno se torne sujeito de sua própria formação em um complexo processo
interativo e que proporcione ao professor ocasião para também se tomar sujeito de
conhecimento. De acordo com a Secretaria de Educação Fundamental - SEF - MEC
(1997) sua função é garantir e orientar (...) socializando discussões, pesquisas e
recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros
(...) os mais isolados com menor contato com a produção pedagógica atual. (p. 13).
Abordando questões relevantes para o ensino fundamental, os PCN’s, além
de apresentar um projeto educacional que propõe uma reflexão sobre a seleção de
conteúdos como também exige uma ressignificação destes conteúdos, passando a
incluir procedimentos, valores, normas e atitudes. Esse projeto deve resultar do
próprio processo democrático, nas suas dimensões mais amplas, envolvendo a
contraposição de diferentes interesses e a negociação políticas necessárias para
encontrar soluções para os conflitos de movimentos sociais – linguístico. Há, então;
considerando o estudo de Picolotto (2007:162, 163) sobre os “Novos Movimentos
Sociais”; de se verificar em Touraine, a necessidade de haver uma articulação entre
a racionalização – ação dominante – e a subjetivação – ação dominada, buscando a
conciliação e evitando um “conflito cultural”.
Na explicitação dos objetivos envolvendo os procedimentos, normas e valores
inerentes a cada área estudada, especificamente da base comum nacional,
potencializam o desenvolvimento de todas as capacidades do aluno, de modo a
tomar o ensino pautado em aprendizagens que sirvam a novos saberes.
Na organização dos Parâmetros Curriculares é dado o tratamento da área e
de seus conteúdos, onde são inseridos problemas sociais da escola e da
comunidade para serem tratados permeando a concepção, os objetivos, os
conteúdos e orientações no decorrer de toda escolaridade. São os Temas
Transversais definidos pejos PCN’s como: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação
Sexual, e Pluralidade Cultural.
Os Temas Transversais
Eleitas como Temas Transversais para o trabalho escolar, algumas questões
sociais nortearam a construção da cidadania e da democracia, envolvendo muitos
aspectos de diferentes dimensões da vida social. Para definir estas questões
sociais, foi preciso estabelecer critérios baseados na: urgência social, abrangência
nacional, possibilidade de ensino e aprendizagem no Ensino Fundamental e o
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favorecimento a compreensão da realidade e a participação social. “Dessa forma, o
trabalho com temas sociais na escola, por se tratar de conhecimentos diretamente
vinculados à realidade, deve estar aberto à assimilação de mudanças apresentadas
por essa realidade.” (Secretaria de Educação Fundamental - SEF - MEC, 1997:35).
A pluralidade Cultural; eleita como um dos Temas Transversais por auxiliar no
desenvolvimento da capacidade de posicionar-se diante das questões na vida social
coletiva; diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e
culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional. Propicia,
ainda, a percepção de que essa característica sociocultural é expressão de uma
pluralidade dinâmica, a qual tem sido benéfica e estimuladora na definição de
valores universais.
Com reflexões baseadas nos estudos de Picolotto (2007:163) citando
Touraine perante suas definições a cerca dos três tipos de movimentos sociais; a
linguagem cultural se insere como movimento cultural, pois trata de seus direitos
culturais e não em conflitos com adversários. E os direitos culturais, considerando o
autor, ressaltam orientações a cerca da cultura de uma sociedade informando os
diversos sentidos pelos quais os sujeitos se relacionam com o poder. Já a norma
culta da língua – tida como a correta – poderia ser inserida como movimento
histórico; pois mostram a expressão de ações coletivas, questionando os rumos dos
modelos de desenvolvimento.
No entanto, o uso mais adequado para definir os dois movimentos: cultural da
linguagem e o referente à “correta gramaticalmente” seria, analisando Touraine,
como movimento societais; pois haveria a possibilidade em combinação de um
conflito social com um projeto cultural, fazendo sempre referência a um sujeito – o
ator identificando-se com os direitos do sujeito (vertente utópica), e concentrando
sua luta contra um adversário social (vertente ideológica). Dessa forma as duas
línguas seriam respeitadas aceitas e exploradas qualitativamente visando o objetivo
principal na educação: educar cidadãos.
Portanto, a escola tem um papel crucial a desempenhar no processo de
mudar mentalidades, superar preconceitos e a discriminação onde os direitos
culturais das minorias também sejam respeitados. Ainda são registradas situações
discriminatórias de raça/etnia - embora essa atitude já seja considerada crime.
Atitudes discriminatórias acontecem em razão do desconhecimento ou aceitação da
pluralidade cultural presente nos estados brasileiros, constituídos de diferentes
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classes sociais e grupos raciais formando uma realidade contraditória, plural e
polissêmica, com movimentos sociais distintos, pois a presença dos vários grupos
implica, necessariamente, na multiplicidade de valores e pontos de vista político e
religioso também contraditório. A Secretaria de Educação Fundamental - SEF - MEC
(1997:20) informa:
As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias, na construção de suas formas de subsistências, na organização de sua vida social e política, nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de conhecimentos, etc. A diferença entre culturas é fruto da singularidade desses processos em cada grupo social.
Então, ao adotar Pluralismo Cultural como metodologia impulsionadora desse
estudo, pretende-se desenvolver uma concepção de sociedade cultural onde se nota
a diversidade como traço fundamental na construção de uma identidade nacional. A
coexistência no solo brasileiro da ampla diversidade étnica, religiosa e lingüística,
favorece o aparecimento de uma pluralidade de alternativas que, ou por mediações,
ou no convívio direto, evidencia a polissemia subjetiva que permite as escolhas de
novos encontros, como também, contribuir para vencer entraves como a
discriminação e exclusão social, para a consecução da plenitude da cidadania para
todos e para nossa nação.
Conclusões, sugestões e recomendações:
Perante as abordagens contemporâneas sobre os “novos movimentos
sociais” nota-se o surgimento do movimento social cultural da linguagem, surgindo
através de grupos de lingüistas que estão revolucionando o “português” aprendido
na escola, informando que, o que vale, agora, numa revolução global de linguagens,
é falar o português brasileiro, respeitando a cultura da língua falada pelo povo, que
as famílias usam, que nós utilizamos em nosso cotidiano, e não aquela que pregam
os manuais dominantes ou pelos detentores do poder linguístico como os
consultórios gramaticais; pois não se pode estudar somente a língua como se ela
fosse falada por cidadãos culturalmente influenciados, sem levar em consideração
os fenômenos sociais inevitáveis que circulam em torno do uso da língua em
sociedade.
É, então, num contexto cultural rico e vislumbrante que se encontra inserida a
língua cultural, vivida no dia-a-dia pela população, para, justamente, nomear,
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caracterizar, definir, qualificar, distinguir, contextualizar, demonstrar, contextualizar,
significar, analisar, enfim, identificar os costumes de uma sociedade. Dentre esses e
outros costumes, modos de vivência, é que se percebe o vocabulário da língua
cultural mesclando-se à rotina das sociedades.
É bem verdade que algumas formas lingüísticas gozam de prestígio na
sociedade e outras sofrem estigma. As que gozam de prestígio seriam aquelas
usadas pelas camadas dominantes, geralmente com o português tido como o
padrão. Porém essa verdade já não é mais absoluta, pois quando uma classe social
assume o poder a sua maneira de usar a língua será a mais considerada. A
discriminação pela linguagem é um dos pouquíssimos motivos pelos quais unem o
espectro político. Então o movimento social linguístico tenta enfatizar e representar
uma revolução linguística, por não tratar de uma situação individual, mas sim
coletiva.
É claro que é preciso valorizar a língua cultural, todavia faz-se necessário
orientar o educando que existem normas sociais que vão cobrar dele determinadas
regras sociais: determinadas maneiras para falar e para escrever; fazê-lo perceber
que a língua varia de acordo com a intenção social, pois a variação estilística está
presente em todos os indivíduos e ela será ampliada e sistematizada pelo acesso à
cultura letrada. Portanto, faz-se necessário mostrar ao aluno a maleabilidade da
língua e o domínio sobre ela nas diferentes situações sociais.
A linguagem cultural é, então, motivo de um movimento social e grande
manifestação cultural, contextualizada no dia-a-dia da população. Porque, então não
aproveitar na escola toda essa carga cultural que os educandos já trazem para
escola? É preciso prevalecer a identificação popular, as suas raízes comunitárias e
culturais, utilizar o conhecimento já adquirido como suporte para novas linguagens.
Considerar a bagagem cultural desses alunos é papel de uma escola que busca a
construção de uma educação cidadã. O referido movimento social deveria, portanto
servir de mediador entre o sujeito – falante de uma língua cultural – e os detentores
e dominadores de uma linguagem padrão; desenvolvendo projetos que possam
garantir a democracia e o direito às diferenças.
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Bibliográfica Citada
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