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ARQUITETURA MODERNA RELIGIOSA EM PALMAS – SANTUÁRIO NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
CHEFER, Halana de Souza¹; CRUZ, Débora Lima¹; PARENTE, Thamíres Mendonça¹; PEREIRA, Marielle Rodrigues²;
1. Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA,
Graduação em Arquitetura e Urbanismo
engcivil.halana@gmail.com; deboralima2312@gmail.com; thamiresmparente@gmail.com
2. Universidade Federal do Tocantins – UFT e Centro Universitários Luterano de Palmas –
CEULP/ULBRA, Universidade Técnica de Lisboa - Arquitetura
Curso de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo
mariellerodriguez@yahoo.com.br
RESUMO
Pretende – se neste artigo, abordar aspectos que tornam o Santuário Nossa Senhora de Fátima uma referência da arquitetura religiosa moderna na Amazônia, projetada no ano de 1996 pelo arquiteto Marconio Porto na cidade de Palmas, capital do estado do Tocantins. Desde os seus primórdios até a época atual, o cristianismo sempre representou a relação do homem com o sagrado, e isso foi traduzido na arquitetura. A arquitetura cristã ao final do século XIX e início do século XX, era caracterizada pelo ecletismo e marcada pela inspiração da planta basilical ou da planta central, sem grandes inovações, basicamente repetindo os estilos anteriores. Posteriormente, com as inovações do século XX, por meio de novas técnicas e novos materiais, a arquitetura cristã se reinventa no Brasil, sendo essas reinvenções perceptíveis nas obras de Niemeyer, e traduzidas também na região Amazônica. O objetivo da presente pesquisa é analisar a modernidade arquitetônica do Santuário Nossa Senhora de Fátima, dentro dos pressupostos críticos de Bruno Zevi sobre a arquitetura cristã e sua linguagem moderna. Foram utilizados levantamento bibliográfico, para que tivéssemos uma abordagem ampla e contextualizada da arquitetura cristã, com intuito de dar entendimento da arquitetura modernista em Palmas; assim como entrevista ao autor do projeto; fontes fotográficas e projetuais. Ao analisar o Santuário Nossa Senhora de Fátima, percebe-se que o templo faz referência à arquitetura cristã conforme o entendimento de Bruno Zevi, (1978) sobre “o caráter dinâmico do homem, orientando todo o edifício segundo o seu caminho, construindo e encerrando o espaço ao longo do seu caminhar” (ZEVI, B. 1978, p.72), ao passo que reinventa a forma na arquitetura religiosa tocantinense, por meio de uma diferença intuitiva e conceptual das demais igrejas tradicionais ao utilizar estrutura metálica, trazendo leveza e modernidade a edificação na última capital planejada no final do século XX.Percebe-se que o modernismo ainda continua a conduzir a mudança na linguagem arquitetônica na região amazônica.
Palavras-chave:Arquitetura Religiosa; Arquitetura Moderna; Palmas
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1. O SURGIMENTO DA ARQUITETURA CRISTÃ E A
APROPRIAÇÃO DA BASÍLICA ROMANA
No início a arquitetura cristã era simples, utilizada apenas para realizar cultos sem que os fiéis
fossem perseguidos, porém, com a aprovação do *Édito de Milão por parte de **Constantino
(que visava aumentar sua popularidade já que a população cristã estava em ascendência),
eles puderam professar sua fé livremente, e a partir daí, careciam de um local que acatasse
suas necessidades e seu caráter. (Concreto em curva)
O livro História Da Arquitetura Da Antiguidade Aos Nossos Dias; Jan Gympel (1996, p. 14)
nos relata que para acabar com as lutas pelo poder, o Imperador Diocleciano dividiu o Império
Romano por quatro soberanos que poderiam ter os mesmos direitos. Porém, surgiram novos
conflitos após a sua abolição, e Constantino saiu vencedor em 312. O cristianismo era
fortemente perseguido pelo estado, e a reconciliação foi uma das estratégias adotadas pelo
governo. A partir de então, para corresponder à sua nova posição, a ***igreja necessitava de
novas edificações, pois nas antigas religiões, os locais de culto eram destinados apenas para
os sacerdotes sendo os deuses adorados ao externo. Por meio da necessidade de salas
espaçosas para reunião dos fiéis,os cristãos se embasaram nas formas arquitetônicas do
império romano,para o provimento da arquitetura paleocristã, desenvolvida a partir das
variedades de soluções e de tipologias já existentes. Nesse sentido, os mausoléus dos
imperadores serviram de modelo aos mátria (santuário de mártires), as termas aos batistérios,
a basílica de origem profana - edifício que servia de mercado, sala de recepção e de tribunal
onde o imperador exercia a justiça em público – transformou então, a basílica numa igreja
cristã. Foram impostas novas exigências arquitetônicas aos modelos já existentes, que
correspondiam à necessidade de uma orientação nítida da nave central da igreja no sentido
do altar e do trono episcopal; surgindo da idéia de uma edificação orientada. Na basílica
paleocristã, foi construída uma nave transversal ou transepto na extremidade do corpo
longitudinal virada à nascente.
Os romanos já adotavam as basílicas como um lugar civil, posteriormente os cristãos
começaram a utilizar esses edifícios para realizar suas celebrações. As principais
características dessa arquitetura eram a espiritualidade, o simbolismo, a simplicidade e a
inspiração em temas bíblicos.
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Jonathan Glancey (2001,p. 35) explica que a basílica romanaera estruturada por duas naves
lateriais e uma nave principal coberta com teto de concreto abobadado, sendo a nave principal
com 80 metros de comprimento, 25 metros de largura e 35 metros de altura. Segundo o autor,
a basílica romana serviu de inspiração para concepção das primeiras igrejas cristãs.
A Basílica em Trier na Alemanha construída pelo Imperador Constantino no início do século
IV d.c,já demonstrava o vínculo existente entre os templos romanos e o cristianismo. Essa
relação foi concretizada em 313 d.c quando o Imperador Constantino converte o Império
Romano ao Cristianismo.
A partir de então, deu-se início à arquitetura cristã, disseminando suas características e
linguagens e diferenciando-a da arquitetura civil, se tornando um divisor de águas do
cristianismo e da sua arquitetura depois de Constantino.
Segundo José Ramon Alonso Pereira (2010, p.104), o princípio tipológico de todas as igrejas
cristãs tem sua origem na basílica romana. Ainda que possamos nos remontar
arquitetonicamente mais além, pode-se estabelecer a evolução de ambas a partir da ****estoa
grega, sendo o espaço basilical o resultante da cobertura do espaço definido por duas estoas
apostas.
De acordo com Bruno Zevi (1978, pg 65), se podermos comparar uma basílica romana com
uma igreja cristã,iremos encontrar poucos elementos relativamente diferenciadores, além da
escala, porém esses elementos significam uma palavra profundamente nova na ideia e no
estabelecimento do problema espacial. Entretanto, veremos a manutenção dos princípios
cristãos para concepção arquitetônica dos templos, acompanhadas de poucas modificações
até o século XX.
2. DE BIZÂNCIO AO MODERNISMO: A TRANSFORMAÇÃO DA
ARQUITETURA CRISTÃ ATÉ O SÉCULO XX
Embasada nas formas arquitetônicas da arquitetura romana ligada ao mundo profano, a
arquitetura cristã desenvolveu uma grande variedade de soluções e de tipologias. A partir
dessa apropriação, várias igrejas cristãs foram construídas influenciadas pelos elementos da
basílica romana. Segundo o livro A História da Arquitetura:
As primeiras igrejas cristãs em Roma e no império do ocidente baseavam-se nas basílicas. Apesar de subsequentemente alteradas, as melhores que restaram são Santa Sabina (422-32 d.C.) e Santa Maria Maggiore (432 – 40 d. C.). Mas, no século VI, quando a escuridão se abateu sobre a Europa ocidental, Justiniano I, imperador do império do oriente, revolucionou não
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apenas a construção de igrejas, mas a arquitetura como um todo, com um dos mais magníficos e aventurosos edifícios de todos os tempos, a igreja de
Hagia Sophia (532-37 d. C.) ou Divina Sabedoria. Jonathan Glancey (2000,p.
38 e 39)
Os arquitetos dessa obra, Antêmio de Trales e Isídoro de Mileto eram habilidosos engenheiros
e matemáticos, que criaram um vasto local de congregação, um espaço sob grandes tetos
abobadados e a impressionante cúpula central, livre da intervenção de colunas e paredes. Ao
longo dos 500 anos seguintes, a arquitetura em cúpula espalhou-se pelo território que se
tornou o Império Bizantino.De acordo com Jan Gympel (2001, p. 15), em vez de utilizar volume
e peso, optaram por leveza e elegância. Também por questões de construção, a sobreposição
de abóbodas e cúpulas eram cada vez mais utilizadas.
A partir do século X, a linguagem românica surgiu baseada em elementos de estruturas
maciças, abóbodas e arcos romanos, adaptando-se aos senhores guerreiros do Norte que
ocuparam a Europa. Segundo o livro A História da Arquitetura:
Um dos maiores edifícios românicos é a Catedral de Durham (1093-1133),
que se ergue sobre o topo de uma colina escarpada e domina a paisagem
circundante com um castelo, papel que muitas catedrais românicas tiveram
de desempenhar. Seu interior é espetacularmente cavernoso: as nervuras
agudas, quase góticas, que sustentam as abóbadas são, por sua vez,
sustentadas por fileiras de colunas maciças, alternadamente redondas e
compostas (com várias colunas menores).Jonathan Glancey (2001, pg 44)
Logo após, por volta do fim do século XII, arquitetura gótica surgida nos arredores de Paris,
foi a primeira a se desvincular inteiramente da procedente ao inovar estruturalmente a
integridade construtiva do templo enquanto recurso muralho. O autor Glancey (2000, p. 53)
nos relata que a linguagem gótica que defende, foi o primeiro a desafiar a ortodoxia
arquitetônica. Era uma maneira de construir que devolveria seu caráter distintivo na Europa
por 400 anos, antes de finalmente ceder lugar à revivescência clássica pela renascença
italiana. A linguagem gótica tem como característica elevar a vida cotidiana aos céus,
buscando tocar a face de Deus. Uma das edificações mais marcante foi a Catedral de
Beauveais, pois atendia claramente a este aspecto, sendo a sua nave central a mais alta já
construída e grandiosa como a Torre de Babel bíblica.
Com o desenvolvimento dos antigos burgos e ascensão da burguesia da cidade feudal,
vislumbramos o surgimento do renascimento patrocinado pelos mecenas. Esse movimento foi
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um divisor de águas na história da arquitetura, sendo marcado como um período em que os
livros, a capacidade de ler e o conhecimento deixaram de estar limitados ao clero. Isso levou
ao desafio à ortodoxia católica que culminou na reforma e na igreja protestante. A
transformação da arquitetura em uma linguagem renascentista teve início com a obra de
Brunelleschi e principalmente a cúpula que foi acrescentada à catedral de Florença entre 1420
e 1436.
Segundo o livro As Aparências em Arquitetura:
A catedral medieval era composta para levar os fiéis ao altar e este era o
ponto culminante da organização espacial. O mundo renascentista,
retornando aos cânones da antiguidade, retornou também ao mundo
centrado no homem, a “este mundo”, ao mundo do Deus grego, que foi
homem. Ocorre uma espécie de paganização do espaço, em que o homem
passa a ser novamente a medida de todas as coisas. O significado religioso
da Igreja é substituído por um significado humano. Maria Lucia Malard (2006,
p. 65)
No final do século XVI e no fim do movimento renascentista foi caracterizado pelo surgimento
da arquitetura barroca, dita como uma linguagem caprichosa, se estendendo à literatura e as
belas artes em geral. Mais precisamente, é o período da história da arte situado entre o
Renascimento e o Neoclassicismo (fins do século XVI até meados do século XVII). Essa nova
linguagem arquitetônica desenvolvida como uma reação aos exageros da arte clássica teve
origem na Itália. O início desse movimento foi essencialmente “religioso”, concebido pela
Contra-reformas, quando os papas, no intuito de mostrar ao mundo a grandeza do Catolicismo
Romano, convocaram grandes artistas para uma verdadeira remodelação da Cidade Eterna.
EDIPE (1988, p.515).
Um modelo que se tornou paradigmático para a construção das igrejas
católicas um corpo basilical com uma nave longitudinal coberta por abóbadas
de berço que termina num espaço central, o cruzeiro, coroado por uma cúpula
de tambor, as naves laterais foram reduzidas a capelas separadas umas das
outras e por vezes da própria nave central sendo, no entanto importantes do
ponto de vista construtivo, como contrafortes. Jan Gympel (1996, p. 52)
Essa tipologia se tornou um marco na história da arquitetura por buscar um requinte estético
exorbitante, utilizando curvas delirantes e provocando impacto emocional por sua
complexidade.
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Segundo o Livro Ecletismo na Arquitetura Brasileira, as velhas classificações consideravam a
neoclassicismo e o ecletismo não só como experiências subsequentes, mas também como
antitéticas. Porém, aos poucos, a adoção pela crítica de termos como clássico e romântico; o
aprofundamento do significado da imitação (seja ela relativa à antiguidade greco-romana, seja
à medieval); a descoberta de que havia uma dialética constante entre razões éticas, sociais e
políticas e de que existia uma única clientela, a burguesia em ascensão. Luciano Patetta
(1987, p. 10)
A partir da introdução dos novos materiais como o ferro e vidro no final do século XIX, vimos
a inovação estrutural da arquitetura religiosa, principalmente ao depararmos com o movimento
Arte Nouveau, exemplificado e difundido na obra de Gaudí, no templo da Sagrada Família,
com suas formas orgânicas.
Gaudí daria a arquitetura o retorno ao entendimento da estrutura enquanto obra de arte, título
que se perdera desde o movimento goticista que tinha como principal função tocar o céu. A
Art Noveau rompe com os estilos historicistas do século XIX e abre o caminho para a
arquitetura moderna que viria no século XX.
De acordo com o Livro História da Arquitetura Moderna, o movimento moderno compreende
um grande número de contribuições individuais e coletivas, e não é possível fixar sua origem
num só lugar ou num único ambiente cultural. Aquilo que se pode constatar com segurança é
a coerência dos diversos resultados que se tem a partir de 1927, quando foi possível
determinar uma linha comum de trabalho entre as pessoas e os grupos de diversas nações.
De acordo Leonardo Benevolo (2001, p. 403), em primeiro lugar o movimento moderno teve
influência da obra de didática de Walter Groupius e de seus colaboradores da Bauhaus, e a
obra de Le Corbusier com seus trabalhos isolados. Em seguida é possível enumerar algumas
experiências ligadas aos movimentos culturais do período anterior à guerra e do período
bélico.
Nesse contexto de resplandecência do movimento modernista no século XX, principalmente
a partir do pós segunda guerra mundial, arquitetura religiosa no Brasil segundo Gabriel Frade
(2007) no Brasil nasce, ainda que tardiamente e indiretamente, em Minas Gerais, com o
projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, em 1940, por meio do convite do prefeito da cidade de
Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek (1902-1976), para desenvolver o projeto de um teatro
municipal e um conjunto de edifícios em um novo e afastado bairro da cidade, a Pampulha.
Niemeyer então criou o conjunto arquitetônico da Pampulha, que além de outros edifícios
possuía uma capela dedicada a São Francisco de Assis.
[*****]Capela: Segundo o Mon. Guilherme Schubert (1987. p.28 ), capela é “um templo de dimensões menores,
destinado a um número reduzido de pessoas, mas preparado para que nele possa ser celebrada a missa”.
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A *****capela é considerada a obra mais instigante do conjunto, por ser totalmente inovadora
– seja pelo ponto de vista arquitetônico, seja pela engenharia empregada - utilizando uma
casca de concreto em formato de parábola para cobrir a nave, associada a abóbodas para o
abrigo das demais dependências religiosas. Esse formato teria sido fruto da inspiração na
geografia característica de Minas Gerais, com suas montanhas sinuosas. Até aquele
momento não havia construído uma igreja como aquela no Brasil. De fato, ela tornou-se um
marco na própria arquitetura moderna, ao romper inclusive com os cânones do funcionalismo
de Le Corbusier. (Frade, 2007, p. 103-104).
Conforme Gabriel Frade (2007), a arquitetura religiosa católica ao final do século XIX e início
do século XX, era caracterizada pelo ecletismo e marcada pela inspiração da planta basilical
ou da planta central, sem grandes inovações, basicamente repetindo os estilos anteriores. No
interior das igrejas desse período estão presentes uma série de elementos devocionais, que
em vez de introduzir os fiéis no ministério da salvação, acabam tendo a função de distração
e de separação, distanciando-os de uma participação ativa na liturgia.
De acordo com Gabriel Frade (2007), o afastamento entre igreja e mundo ficou mais evidente
no início do século XX, com ênfase no mundo das artes e arquitetura. Nasce então, o
Movimento Litúrgico, no início do mesmo século com o intuito de retomar o verdadeiro espírito
cristão presente na liturgia e na sua linguagem simbólica, incluindo a arquitetura religiosa. O
ML então, dita dois princípios básicos: a participação ativa na liturgia e o retorno às fontes do
cristianismo, estendendo-se também para a questão da arte e da arquitetura.
Estes princípios significavam que, a construção dos espaços destinados ao culto que
privilegiassem uma maior participação da comunidade através da eliminação ou redução de
alguns elementos arquitetônicos de índole mais devocional – diminuição ou retirada da
estatuária interna, redução de altares laterais, eliminação da pala do altar, dando maior
centralidade ao altar, mesa de Cristo.
A arquitetura moderna, resultado desse movimento cultural complexo, criou novas
perspectivas, que acabariam por tocar também a questão religiosa. O rompimento com o
ecletismo, presente até então em matéria dos estilos arquitetônicos no campo católico, foi
possível pelo encontro da arquitetura moderna com a atitude do movimento litúrgico, o que
possibilitou um maior diálogo e uma maior reflexão entre arquitetura moderna e igreja,
resultando em uma arquitetura moderna religiosa.
De acordo Jonathan Glancey (2000, p. 44), um exemplo desta modernidade é a Catedral
Nossa Senhora Aparecida em Brasília, que é composta por um grupo de vigas de concreto
unidas no topo por uma cinta de concreto e aço. O assoalho circular colocada abaixo do nível
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do chão e, portanto, mais baixa do que a entrada, cria uma ilusão de espacialidade no interior.
A Catedral começou a tomar forma em 1959, quando se construiu a estrutura da nave. O
edifício é formado por 16 elementos estruturais parabólicos iguais, com altura de 27 metros e
pesando aproximadamente 96 toneladas, que ascendem em direção ao céu.
O percurso, do exterior para um túnel estreito onde a luz é pouca, leva à nave intensamente
iluminada. Segundo Luciane Scottá. (2010, p. 82-85), “Niemeyer decidiu fazer dela uma obra
revolucionária, digna da capital da qual deveria ser um dos monumentos marcantes”.Em 1970,
continuou-se a construção dos demais elementos: espelho d’água circundando toda a
edificação com 12 metros de largura, batistério, campanário com 20 metros de altura e quatro
sinos doados pela Espanha, interior da nave, vitrais, sacristia.
Diante dessas questões podemos demonstrar e analisar a transformação da planta
arquitetônica religiosa da arquitetura românica até o moderno.
Fig. 1:Fonte: FRADE; Gabriel. Arquitetura Sagrada no Brasil, sua evolução às vésperas do Concílio
Vaticano II. Edições Loyola. São Paulo. Belos Tempos. 2007. [Online] Disponível em
<https://belostemplos.wordpress.com/a-diferenca-entre-basilica-catedral-igreja-capela-e-santuario/>
Acesso em: 02 nov. 2016.
A arquitetura religiosa teve uma longa evolução desde a criação do Cristianismo, e até hoje
detemos de conhecimentos e características agregados dessas tipologias, sendo cada
contribuição importante para a arquitetura. Por isso, temos atualmente grandes exemplares
no Brasil de arquitetura moderna religiosa.
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3. SANTUÁRIO NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
3.1 Aspectos históricos da construção
Idealizada e construída na década de 90, o Santuário Nossa Senhora de Fátima visava suprir
as necessidades dos fieis locais, com uma arquitetura inovadora e moderna. Segundo relatos
do Livro Tombo (1993-2016) da Igreja, diante dos desafios enfrentados na construção da nova
capital modernista na região amazônica, que ainda não detinha diversos serviços, somados à
carência dos familiares distantes, os moradores reuniram-se em orações para minimizar os
problemas que surgiam na construção da mais nova cidade planejada do país. Começaram
então, a fazer orações no dia 04 de agosto de 1992. Esta prática foi aos poucos, ganhando
proporção, surgindo a ideia de nascer uma comunidade católica.
Encontraram uma área disponível na quadra 306 Sul, e no dia 22 de março de 1993, o
secretário municipal, reuniu-se com a comissão que estava à frente deste processo, para
definir sobre os trabalhos de limpeza e posse da área. Em 27 de março, um grupo maior foi
ao terreno para executar a limpeza e demarcá-lo com uma cruz de madeira e a fazer orações,
sendo um momento histórico e festivo para a comunidade. A primeira missa ainda sem templo
foi celebrada pelo Padre Antônio Dalmasso, no dia 04 de abril de 1993, às 07 horas da manhã,
tornando-se constante aos domingos.
A escolha do nome da igreja foi definida primeiramente por meio de votação, a qual os homens
elegeram São Francisco de Assis, porém, esta ideia foi contestada pelas mulheres, com o
argumento de já existir uma comunidade destinada a este santo, passando a ser chamada de
Nossa Senhora de Fátima como padroeira da comunidade, visto que se aproximava o mês de
maio, o qual é dedicado à Nossa Senhora.
3.2 O SANTUÁRIO EM SUA MODERNIDADE EM PALMAS
O Santuário Nossa Senhora de Fátima foi projetado pelo arquiteto Marconio Porto. Como
morador local desde 1994 e acompanhando o movimento da comunidade diante da
preocupação dos fieis em construir um local para que pudesse ser celebrada as missas, o
arquiteto se prontificou em ajudar doando o projeto arquitetônico da igreja à comunidade. Para
compor a equipe da concepção projetual, arquiteto convidou dois engenheiros, sendo eles o
João Marques e Erondino Valadares, que também abraçaram a causa.
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O formato da igreja origina-se a partir do terreno triangular, em que foi construído como mostra
a figura 2. Segundo o arquiteto, sua localização em frente a uma avenida, juntamente com
sua forma, nos direciona ao alto, faz referência a Deus, pois cada edifício precisa compor seu
caráter, com sua finalidade exposta e marcada.
Marconio Porto, em uma entrevista concedida em 13 de outubro de 2016, disse que propôs a
estrutura da igreja em concreto armado, porém, ao consultar o engenheiro para fazer o cálculo
da obra, o mesmo sugeriu que fosse utilizada a estrutura metálica por ser mais simples e com
um custo menor. O arquiteto explica que, por mais moderno que seja o edifício, precisa
corresponder à sua época, sem que sobressaiam exageros de forma que os leigos não
entendam o que a estrutura pretende transmitir.
Após a primeira etapa concluída da construção da igreja, o subsolo foi utilizado para a
realização das missas, uma vez que o térreo ainda não estava em condições para ser utilizado
e hoje funciona como salas de catequese, capela e também uma copa.
Um templo para fiéis necessita de algo de especial e diferente além da sua bela forma
arquitetônica. Durante a primeira missa realizada no dia 13 de maio de 2001 na nave do
santuário, foi içado ao teto da igreja um pesado terço com contas de madeira maciça e ligadas
por aço galvanizado, medindo 23 metros de comprimento e pesa cerca de 200 kg, projetado
por Marcos Vilas Boas e foi confeccionado pelo marceneiro Renato Lasch.
A cobertura do templo é com telha cerâmica, oriundo da Itália em cor azul, remetendo às cores
simbólicas da imagem de Nossa Senhora, e oferecendo um excelente resultado à estrutura
de laje inclinada, com cinco águas que o projeto propõe como mostra a Figura 2. O piso é
revestido em granito tanto no subsolo como no térreo facilitar a manutenção.
Quanto à iluminação natural, além da abertura destinada para ventilação, que traz também
luminosidade, há janelas de vidro que tomam grande parte das laterais da igreja. Na
iluminação artificial, havia círculos no gesso para disposição das lâmpadas, que
posteriormente fora substituído por lustres – figura 3.
A planta baixa do Santuário possui apenas nave central, se diferenciando das igrejas
convencionais que possuem nave central e nave lateral. Ao analisar esta obra arquitetônica,
percebe-se que o templo faz referência à arquitetura cristã conforme o entendimento de Bruno
Zevi, (1978) sobre “o caráter dinâmico do homem, orientando todo o edifício segundo o seu
caminho, construindo e encerrando o espaço ao longo do seu caminhar” (ZEVI, B. 1978, p.72).
Essa obra possui uma reinvenção da forma na arquitetura religiosa tocantinense, com uma
diferença intuitiva e conceptual das demais igrejas tradicionais.
O projeto do altar é original, sendo mais elaborado que uma mesa possui o formato de uma
pomba e, ao mesmo tempo, na vista frontal, apresenta em sua estrutura um M de Maria, com
a relação do Espírito Santo de Deus sobre Maria: nasce o Salvador, seja na história sagrada,
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seja na Eucaristia, cuja transubstanciação se dá sobre a mesa do altar. Foi providenciada
Relíquias de São Gaspar, em homenagem aos Padres Estigmáticos, para serem depositadas
no vértice frontal da mesa.
O mosaico disposto atrás do altar representa Nossa Senhora de Fátima e os três pastorinhos,
de forma a venerar a padroeira do Santuário. Foi criado pelo artista plástico Dirso José de
Oliveira. Contudo, o mosaico tira o foco da liturgia, dos gestos e da consagração que é a
essência da missa. Uma alternativa seria posicioná-lo na abertura superior em forma de vitral.
Ainda de acordo com Marconio, a igreja foi projetada para ter ventilação natural, porém, como
a cidade de Palmas possui um clima preponderantemente quente durante a maior parte do
ano, houve a necessidade de alocar aparelhos de ar condicionado no interior da igreja. Para
que não houvesse intervenção no projeto original o arquiteto propôs que fosse construída
paredes curvas em seu entorno, possibilitando assim que os aparelhos de ar condicionado e
as sapatas de concreto não ficassem expostas a visão da população, porém, essa
recomendação não foi executada.
Figura 2: Vista Superior – Santuário Nossa Senhora de Fátima
Fonte: Marconio Porto, Autor do Projeto
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Figura 3: Interior – Santuário Nossa Senhora de Fátima
Fonte: Próprias autoras
Figura 4: Planta Baixa Subsolo – Santuário Nossa Senhora de Fátima
Fonte: Marconio Porto,2004.
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Fig.5: Planta Baixa Térreo – Santuário Nossa Senhora de Fátima
Fonte: Marconio Porto,2004.
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CONCLUSÃO
O modernismo conduziu a mudança na linguagem arquitetônica das igrejas e das construções
de todos os setores. Porém, a edificação não pode ser tão complexa a ponto de que ela não
seja entendida a quem é direcionada.
Utilizamos esse trabalho para apresentar as diferentes tipologias arquitetônicas do templo que
evoluiu em suas diversas temporalidades, deixando de lado a concepção formal basilical e se
transformando em novas concepções formais mais ousadas.
Vimos que a modernidade arquitetônica religiosa também chegou na Amazônia legal, apesar
de tardiamente, sendo que em Palmas, capital do Tocantins, temos um único exempla dessa
tipologia nessa linguagem, demonstrado por meio do estudo do Santuário Nossa Senhora de
Fátima.
Esse templo atende os aspectos cristãos, direcionando a visão do observador ao céu, que ao
adentrar ao recinto, encontra a luz, muito utilizada nos templos cristãos, e, ao mesmo tempo
corresponde a arquitetura moderna na utilização de novos materiais e novas formas
conceptuais.
O desenvolvimento deste ensaio permitiu uma singela contribuição na arquitetura moderna
que se faz presente em Palmas, e ao mesmo tempo atual na região amazônica, servindo
futuramente como base ou complemento para futuros estudos e análises sobre a arquitetura
moderna na Amazônia.
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REFERÊNCIAS
APOSTOLADO SPIRITUS PARACLITUS; A Diferença entre Basílica , Catedral , Igreja , Capela e
Santuário. SPIRITUS PARACLITUS. 2010. [Online] Disponível em <
http://www.paraclitus.com.br/2010/magisterio/papado/a-diferenca-entre-basilica-catedral-
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EDIPE; Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional. Livraria Editora Iracema LTDA.
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