Post on 10-Mar-2016
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Construir no Construído
ARQUITECTURA ANÓNIMA(ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)
diAnA AstridE BALEttE PECEGuEiro dE noronHA FEio
ProJECto PArA oBtEnÇÃo do GrAu dE MEstrE EM ArQuitECturA
oriEntAdor: AntÓnio JosÉ dAMAs CostA LoBAto sAntos
JÚri:PrEsidEntE: doutor HuGo LoPEs FAriAsVoGAL: doutor nuno MiGuEL GoMEs ArEnGA dA CruZ rEis
LisBoA, JuLHo,2012
FACuLdAdE dE ArQuitECturA
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOAFA UTL
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Construir no ConstruídoARQUITECTURA ANÓNIMA (ou pensar a envolvente do novo Museu dos Coches)
diAnA AstridE BALEttE PECEGuEiro dE noronHA FEio
ProJECto PArA oBtEnÇÃo do GrAu dE MEstrE EM ArQuitECturA
oriEntAdor: AntÓnio JosÉ dAMAs CostA LoBAto sAntos
JÚri:PrEsidEntE: doutor HuGo LoPEs FAriAsVoGAL: doutor nuno MiGuEL GoMEs ArEnGA dA CruZ rEis
LisBoA, JuLHo,2012
FACuLdAdE dE ArQuitECturA
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
I
Construir no Construído
Lisboa, Julho, 2012
II
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
III
Construir no Construído
Dedicado a todos, os presentes e especialmente aos ausentes, que todos os dias me acompanharam neste percurso.
IV
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
V
Construir no Construído
DaconstruçãodonovoedifíciodoMuseuNacionaldosCochesnasceo
pretexto para a discussão do valor da imagem das construções populares de
Lisboa. Sob a denominação de Arquitectura Anónima apresenta-se um estudo que
abordaaquestãourbanaetipológicadestasconstruçõeslisboetastãomarcadas
pelasuatopografiaecaracterizadospelasuahistória.Esteestudoabordaotema
construir no construído como solução para a cidade. Soluções de transformação
e adaptação às necessidades da sociedade contemporânea, mas soluções de
continuidadetambém,dasformas,damemória,daidentidadeedetudooque
constituiapaisagemdeLisboa.
Resumo
Palavras-Chave
Arquitectura Anónima, Paisagem, Lisboa, Adaptabilidade.
Tema: Construir no Construido
Título:ArquitecturaAnónima(oupensaraenvolventedonovoMuseudoscoches)
OrientadorCientífico:ProfessorDoutorAntónioJoséDamasCostaLobatoSantos
Orientanda:DianaAstrideBalettePecegueirodeNoronhaFeio(Licenciada)
Assunto: Dissertação/ProjectoparaobtençãodoGraudeMestreemArquitectura
VI
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
VII
Construir no Construído Abstract
Keywords
Anonymous Architecture, Lisbon, Townscape, Adaptability.
Tema: Build on the Built
Título:AnonymousArchitecture(orthinkthesurroundingofthenewCoachMuseum)
OrientadorCientífico:ProfessorDoutorAntónioJoséDamasCostaLobatoSantos
Orientanda:DianaAstrideBalettePecegueirodeNoronhaFeio(Licenciada)
Assunto: Dissertação/ProjectoparaobtençãodoGraudeMestreemArquitectura
FromtheconstructionoftheNationalCoachMuseum’snewbuildingcomes
thepretextforthediscussionoflisbon’spopular’sconstructionsrinit’svalueand
image. On behalf of Anonymous Architecture is presented a study that addresses
theurbanityandtypologicalconstructionremarkablebyitstopographyandchar-
acterizedbyitshistory.Theanonymousarchitecturerevealsitselfasastudyofthe
‘buildingonbuilt’thatseekssolutionstothiscity.Solutionsoftransformationand
adaptationtotheneedsofcontemporarysociety,butalsocontinuitysolutions,
continuityoftheforms,memory,identityandallthatthatprovidesthelandscape
of Lisbon.
VIII
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
IX
Construir no Construído
pag.
01. introdução 001
02. Enquadramento 003
03. num olhar sobre a cidade 009
04. ‘Manta de retalhos’ 015
05. Arquitectura urbana 013
06. Construir no Construído 037
07. Análises da Casa urbana 043
08. Considerações sobre reabilitação das
estruturas da arquitectura anónima 061
09. A casa da arquitectura anónima 063
10. A Casa sob a casa 075
11.Anovafigura-MuseudosCoches 083
12.Ofundo-RuadaJunqueiraPoente 087
13. descrição da proposta 107
14. Conclusão 121
15.Bibliografia 123
Anexos
ArQuitECturA AnÓniMA | cidade
ArQuitECturA AnÓniMA | casa
ArQuitECturA AnÓniMA | rua da Junqueira
Indice
X
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
XI
Construir no Construído
Fig. 01. “as cuecas a secar e ...”Belém,Marçode2011
Fig.02. UmimagináriodeLisboa (SerigrafiaVascoFolha)
Grup. 03. Arquitectura Anónima (DianaNoronhaFeio) 03.a)SéeAlfama(MariaMargaridaMaurício)
03.b)CasteloeMouraria 03.c)ConventodoCarmoeS.Roque 03.d)Ig.deSta.EngraciaeS.Vicente 03.e)Ig.StoEstevãoeAlfama 03.f)MosteirodeS.Vicente Grup.04.‘MantadeRetalhos’(DianaNoronhaFeio) 04.a)PátioemAlfama 04.b)Esqueletodeumedifício 04.c)Vistadeumpátio
Grup. 05. Arquitectura Urbana (DianaNoronhaFeio) 05.a)Caminhoparapeões,escadinhaparaaBica 05.b)Ruasmistas 05.c)Largo,R.doSéculo 05.d)Praceta,JardimdaAmoreiras 05.e)Entrelaçamenoeluz/sombra 05.f)PerspectivaGrandiosa,Pq.EduardoVII 05.g)Pavimento 05.h)Desníveis 05.i)IntensidadeUrbana
Fig. 06. The Eyes of The Skin: Art And The Senses; (PerformanceaovivodeMarkShepard’s;no
BurchfieldPenneyArtCenter,NI;Janeirode2011
(http://www.burchfieldpenney.org)
Grup. 07. Arquitectura Guardiã da Memória; participaçãodeManueldeOliveira; Lisbon Story;filmedeWimWenders,1994
Grup. 08. Cidades do Cinema; idem;
Grup.09.Beauty;OlafurEliasson; 09.a)2007(missdelite.blogspot.com)
09.b)1993(www.olafureliasson.net)
Indice de imagens
XII
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Grup. 10. Ambiente e memória 10.a)Oeléctricoeoamolador 10.b)Aslavadeiras (cenas de Lisbon Story;filmedeWim
Wenders,1994)
Fig.11. Estruturaurbanaearquitecturaanónima(DianaNoronhaFeio)
Fig.12. Lisboa-Composição(TapeçariaCarlosBotelho)
Fig. 13. Figura ou Fundo? (fontedesconhecida)
Fig. 14. Casa R. do Século (DianaNoronhaFeio)
Grup.15.CasaMedieval 15.a)Plantasdecasasmedievaisparisienses 15.b)Ilustraçãodoespaçomultifuncionaldo interiordeumahabitaçãonoséc.XVI (Architectures de la vie privée: maisons et mentali tés:
XVIIe-XIXe siècles,MoniqueEleb-Vidal,Anne Debarre-Blanchard,MichellePer-
rot; in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade de Arquitectura -
UTL,2009)
Fig. 16. Casa Burguesa - Distribuição (Architectures de la vie privée: maisons et mentali tés:
XVIIe-XIXe siècles,MoniqueEleb-Vidal,Anne Debarre-Blanchard,MichellePer-
rot; in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade de Arquitectura -
UTL,2009)
Fig.17. EvoluçãodaCasaMedieval (Architectures de la vie privée: maisons et mentali tés:
XVIIe-XIXe siècles,MoniqueEleb-Vidal,Anne Debarre-Blanchard,MichellePer-
rot; in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade de Arquitectura -
UTL,2009)
Grup.18.a)eb)Plantascasadoséc.XIX (Architectures de la vie privée: maisons et mentali tés:
XVIIe-XIXe siècles,MoniqueEleb-Vidal,Anne Debarre-Blanchard,MichellePer-
rot; in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade de Arquitectura -
UTL,2009)
Grup.19.Casamoderna 19.a)Evoluçãourbana-VR 19.b)Distribuiçãooptimizada-púplico/privado 19.c)Habitarmínimo
XIII
Construir no Construído
19.d)Estudosdeoptimizaçãodacozinha 19.e)Experiênciassoviéticas 19.f)Optimizaçãodosquartos (in ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; Tese de doutoramento, Faculdade
deArquitectura-UTL,2009)
Grup20.Tipologiasséc.XVIeXVII 20.a)tipologia1 20.b)tipologia2 (CARITA,Helder;Bairro Alto: Tipologias e Modos Arquitectónicos, CâmaraMunicipaldeLisboa:1990)
Grup.21Alteraçõespombalinas (CARITA,Helder;Bairro Alto: Tipologias e Modos Arquitectónicos, CâmaraMunicipaldeLisboa:1990)
Fig.22 Alteraçõestardo-pombalinas (CARITA,Helder;Bairro Alto: Tipologias e Modos Arquitectónicos, CâmaraMunicipaldeLisboa:1990)
Fig.23 MalhaUrbanadoBairroAlto (CARITA,Helder;Bairro Alto: Tipologias e Modos Arquitectónicos, CâmaraMunicipaldeLisboa:1990)
Fig24. Lisboa,1999;Ilfochrome (DossierDuarteAmaralNetto;JAProgramar)
Grup.28CasaCollage 28.a)CasaKhunder,AdolfLoos 28.b)‘carromatos’
Grup.29HabitaçõesFufuoka,S.Holl 29.a)Plantasdointerior 29.b)Imagemdointerior1 29.c)Imagemdointerior2 (FUTAGAWA,Yukio(ed.);GAarchitect-Chronicleofmodernarchi-
tects:StevenHoll;nº167,Tokio:1993)
Grup.30CasaContentor,A.Wexerl 30.a)Contentor 30.b)Organizaçãosegundoumnúcleocentral1 30.c)Organizaçãosegundoumnúcleocentral2 30.d)Alçadodocontentorcozinha 30.e)Alçadodocontentorsala (GUSTAU,GiliGalfetti (dir. coord.);AllanWexler; EditorialGustavo
Gili,Barcelona:1998)
Fig. 31 Re-inventar vínculos (fotografiaCharleseRayEames)
XIV
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Grup.32MuseudosCoches 32.a)Maquete(MMBB) 32.b)Fotomontagemcomenvolvente 32.c)Relaçãomacrocomasdinâmicas 32.d)Relaçãodirectacomaenvolvente
Fig.33 AmarginaldaCidadedeLisboa,1960
Fig.34 Esquemamorfológicodosítio
Grup.35Análisefotograficadaenvolvente(DianaNoronhaFeio)
Grup.36Esquemasconclusivos 36.a)Estadodeconservação 36.b)Levantamentodeusos 36.c)Cérceas 36.d)Revestimentos 36.e)Pormenoresdedestaque 36.f)propostadeacção
Gp. 37 Plano urbano 37.a)lugar 37.b)objectivo 37.c)conceito 37.d)esquemadepistas 37.e)cortedeconceito 37.f)proposta 37.g)diagramadedeníveis
Gp. 38 Arquitectura Anónima - Arq. Urbana 38.a)lugar 38.b)alteraçãodoedificadopropostas 38.c)axodeconceitosdaArq.Urbana 38.d)Ilustraçãoesquemadanarrativa
Fig.39. Ciclodacasa
Fig. 40. Intervenção
Fig.41. Motor
Fig.42. Motoredefiniçãodeespaço
Fig. 43. Reinventar da estrutura medieval
Fig.44. Definiçãodoprograma
Fig.45. Intervençãotiponacasa
XV
Construir no Construído
Quadros e Tabelas:
Quadro 01. Arquitectura Anónima - Intenções e Instrumentos
XVI
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
fig.01“ascuecasasecare...”Belém;Marçode2011
1
Construir no Construído
Pertinência
Objectivos
Metodologia
Motivação
01. Introdução
Paracompreenderanaturezadopresenteprojectoeasuagénese,háqueex-
plicarasuaorigem.Oproblemaremontaa2010,aquandodoiníciodaconstruçãodo
novoMuseudosCoches,emBelém,queexpõearealidade“crua”daenvolventedonovo
museu então em construção. Da constatação da falta de qualidade dessas construções
daenvolventeedoseupapelde“fundo”/”cenário”donovoMuseudosCoches,surgeo
tema deste argumento.
Oqueéa‘arquitecturaanónima’?Qualoseuvalor?Qualasuanatureza?
Acertaalturanoiníciodesteestudo,surgeumaconsideraçãodeSizaVieiraso-
bre como a paisagem urbana de Lisboa se desenvolve em torno das ‘múltiplas constru-
ções anónimas’.Ora,naassociaçãodapertinênciadesteprojectoàimagemdapaisagem
urbanadeLisboa,apresentadaporSiza,nasceotermo‘arquitecturaanónima’etraça-se
naincertezaaindadoquerepresentaráconcretamenteestetermo,oconceitoeobjecto
arquitectónico a perseguir e desvendar ao longo do estudo.
Opresenteestudocomportaduaspartesdistintasecomplementares,aarqui-
tectura anónima na cidade e a arquitectura anónima na casa. Isto é, procura-se compro-
varaexistênciadaarquitecturaanónimaenquantoumaestruturaurbana,quefunciona
comoumtodocoerentedemúltiplasconstruções,gerandoumambienteurbanopró-
prio.Construçõesessasque,porconfrontocomosedifíciosmonumentaiseinstitucio-
nais (protagonistasda cidade), seapresentamsobretudoenquantocasas,múltiplase
variadas,talcomoquem‘nelas’habita.Quecasaéessa,éoâmbitodasegundaparte
desteestudo.Afimdevalidarprincípiosapresentadosaolongodoestudo,elabora-se
umprojectoqueconfrontaocarácterprotagonistadonovoMuseudosCochescomo
anonimato da estrutura urbana que o envolve.
Adefiniçãodestetrabalhoreflecteumaprocurapessoalsobreosmodosdeac-
tuar/intervirnacidade,maisconcretamentenasconstruçõesanónimasdaRuadaJun-
queira.
Introdução
2
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
QuandoépropostootemacentraldotrabalhofinaldoMIARQ2010/11,oqual
confrontaumaarquitecturaparticularedegradada,comaconstruçãodonovoMuseu
dos Coches, começo a estruturar o entendimento de um ainda desconhecido valor des-
sas construções.
Oobjectivoérequalificarmascomofazê-lo?Partodeumarecusaemdemolir
acriticamenteasconstruçõesdaRuadaJunqueiraemproldeumatotalmentenovacons-
trução,porquantoconsideroqueestaseriaumasoluçãoquefaria“tábuarasa”detudo
oqueestevesubjacenteaoconstruídonoutrostempos,poroutroshomens,equefaz
partedagénesedaprópriaRuadaJunqueira.
Nessesentido,acreditomaisnovaloracumuladoaolongodostemposdoque
apenas na aposta em novas construções, pelo que procuro um discurso que contemple
o ora postulado. A minha propos ta para o lugar procura revelar-se como uma leitura do
carácterdaestruturaondeseinsere,que,comoqualqueracção,revelaporsiaindividu-
alidade,cunhoousubjectividadedequempropõe.
Assentenacrençadequeoactode‘arquitectar’nacidadenãodeveráserum
mundoemsiisolado,masquereflecteumasociedadeeosvaloresaelaassociados.
3
Construir no Construído
02.Enquadramento
Encontra-senasteoriassobreapercepçãoumaferramentaparacompreender
osmúltiplospapéisperceptivosdesempenhadosnacidade.Opresenteensaioencontra
nosfundamentosdafigura-fundodaGestaltosuporteconceptualparacompreendera
importânciadeumfundo,semoqualseriadifíciladefiniçãodequalquerfigura.Assim
sendo,foca-senacidade,essepapeldecenário,oufundo.
Aoabordaroconceitodefigura-fundodestacam-setrêsgrandesprincípios:cam-
poperceptivo,estruturaefigura.Osgestaltistasargumentamqueocampoperceptivo
– espaço que serve de suporte aos diversos fenómenos visuais – é entendido através
deumaestrutura,umconjuntodeelementosquepermitemadefiniçãodeumafigura.
Portanto e segundo esta teoria, a percepção mostra-se como um processo global de
organizaçãodasinformaçõessensoriais,sendoadistinção‘figura-fundo’aprimeiraorga-
nizaçãovisualnumconjuntodeestímulos.1
Para a compreensão do fundo como um todo per si é importante compreender
queaorganizaçãodasinformaçõessensoriaisassentanoprincípiodasimplicidadeefun-
cionadeacordocomasleisdoagrupamentoperceptivo,sendoestas:aleidaproximida-
de,dasemelhançaedaboaformaentreobjectos(Kendler,1974).
AênfasedateoriadaGestaltnapercepçãocomoumprocessoholísticoenoas-
pectodinâmicoeorganizativodapercepção,servecomoferramentaparacompreender
ostiposdecaracterísticasvisuaisquetendemaserpercepcionados,paraassimpoder
actuar sobre a cidade consolidada com mais essa informação adicional.
Oensaioqueseguecentra-senacompreensãoda‘estrutura’dacidadenumdu-
plosentido,istoé,enquantoumaestruturaperceptivaquesecaracteriza,nasuamaioria,
por uma aparente homogeneidade, passando despercebida e servindo de complemento
àfigura2eenquantoestruturaquesuportaavidaquotidianadoshabitantesdacidade
que complementa os lugares excepcionais de culto.
1 Muga, Henrique; Psicologia da Arquitectura; pp. 71-752 Conforme definição gestál-tica.
Enquadramento
4
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
5
Construir no Construído
ArQuitECturA AnÓniMA | cidade
fig.02um imaginário de Lisboa
6
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
gp.03.a)SéeAlfama
7
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
ARQUITECTURAANÓNIMA| cidade
SobrearecuperaçãodoChiado,em1988,SizaVieirarefere:
(...) sempre me espantou, em Lisboa o contraste entre o tecido frag-mentado e quase cubista, influenciado pela cultura árabe, e as grandes construções, os grande palácios. Este duplo determina a intensidade da expressão arquitectónica. Não existe monumento importante na cidade sem a continuidade anónima de múltiplas construções: trata-se de as-pectos qualitativos complementares. E contudo, na evolução da cidade, a perda deste sentido do papel de cada construção está aos olhos de to-dos. A generalizada ambição de protagonismo torna por isso impossível qualquer forma de protagonismo. (...) 3
AconsideraçãoqueSizaapresentasobreLisboa,ondea‘continuidadeanónima
demúltiplasconstruções’surgecomoumcenárioqueofereceprotagonismoaospalá-
cios e monumentos, anuncia o tema fulcral desta dissertação – a arquitectura anónima.
AreflexãosobrearquitecturaanónimanacidadedeLisboaincidenaidentifica-
çãodeestruturasurbanascomascaracterísticasanunciadasenoseuentendimentoen-
quantoobjectosdaproblemáticaarquitectónicanoactode“construirnoconstruído”.
3 Siza; Imaginar a Evidência, 2000;p97.
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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
gp.03.c)ConventodoCarmoeS.Roque
gp.03.d)IgrejadeSta.EngráciaeS.Vicente
9
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
03.Numolharsobreacidade
Lança-se, num primeiro instante, um olhar sobre Lisboa que corresponde a
esse tecido fragmentadoequasecubista.Entende-sequeSiza se refereàLisboaque
se encosta às colinas e se constrói em socalcos, compreendendo a cidade que desde
os primeiros tecidos espontâneos aos da revolução industrial, da segunda metade do
século XIX, cresce ao longo da margem do rio Tejo e dos seus vales e colinas. O posterior
crescimento da cidade alcança as partes altas e mais planas, tomando um díspar urban-
ismo,emregularidadeeescala.ALisboaaqueserefereSizaéentãoaLisboadascolinas,
dostecidosdaGraça,deAlfama,daMouraria,tambémaLisboadaMadragoa,S.Bento,
Lapa, Alcântara e Ajuda. Lisboadospaláciosedasmúltiplasconstruçõesanónimas.Estas
últimasconstruídasnasuaquasetotalidadeporedifíciossimplesehumildes,manifes-
tamnos laçosqueestabelecementresiasuamaior riqueza. A busca da arquitectura
anónimateminícionumitinerárioquelevaráaosmiradourosqueavistamessaLisboa
acidentadaeconstruídaaolongodahistória(vergurpo03).
gp.03.b)CasteloeMouraria
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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
gp.03.e)IgrejaStoEstevãoeAlfama
gp.03.f)MosteirodeS.Vicente
11
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
04.‘Mantaderetalhos’
Aconstruçãodacidadeemváriasidadesetemposdistintoslevouaumvastoe
variadoconjuntourbano,constítuindoaidentidadedapaisagemdeLisboa.Noentanto,
aconstruçãonacidadenasúltimasdécadasémarcadaemcertamedidaporumaapa-
rentefaltadecritérionoconjuntourbano.Portodaacidadeverifica-seumacrescente
descaracterizaçãodotecidocomgravesincongruênciasmorfológicas4.
Verifica-se,também,adesertificaçãodasestruturasdevocaçãomaishabitacio-
nal, como é o caso das estruturas urbanas da arquitectura anónima, a população migra
paranovasemaisbemequipadashabitaçõesforadoslimitesdacidade(vergrup.04).
Ocrescenteabandonoedestruiçãodosnúcleosdaarquitecturaanónimalevaaocorte
fataldaidentificaçãodacidadecomapopulação,destruindoovínculomaisimportanteà
vida‘eterna’dacidade.Urgeentãodisciplinar,dotardenovaconsciênciaasintervenções
oranecessárias,sobpenadatotaldescaracterizaçãodotecidourbanodeLisboa5.
NaLisboaqueseapresenta,aLisboadosnúcleosmaisantigos,mastambémda
generalidadedacidade,realça-seasuapersonalidadeúnicaassentenasuatopografiae
noquedelaadvém,asingularidadedasváriasarquitecturasnasescalaserelaçõesque
entre si estabelecem. Realça-se a arquitectura anónima como uma estrutura urbana e
específica,dedistintostemposemodosdeconstruirnasuatopografia.
Nestesentido,oestudoquesegueprocuramecanismosdeactuaçãonacida-
de,procurandocritériosquesefundamentamemvaloresurbanos,decontinuidadedas
estruturas próprias, dos ambientes e de memória, que assim vinculem os habitantes à
cidade.
4 Guia Urbanístico e arquit-etónico de Lisboa;1987;p.465 Idem; p. 47
12
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
gp.04.a)PátioemAlfama
gp.04.b)“Esqueleto”deumedifício
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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
gp.04.c)VistadeumpátioemAlfama
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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
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Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
05. Arquitectura urbana
Desenvolver-se-áaquioconceitode“arquitecturaurbana”enquantoumaescala
de projecto intermédia 6 (que se encontra entre o planeamento urbano e o projecto de
arquitectura)queassentaemprincípiosdecontinuidadeecoerênciamorfológica.Esta
escala de intervenção serve como uma ferramenta fundamental ao serviço da arquitec-
turaanónima,podendoatravés‘dela’devolverumsentidourbanodotecidoretalhado
da cidade.
Através de exemplos em Lisboa e com base em autores teóricos reconhecidos
procura-se sintetizar ferramentas úteis à “arquitecturaurbana”. Emparalelo, quer no
âmbito da arquitectura urbana, quer no desenho da casa, procura-se compreender as
característicasinternasdohomem(fisiológicasepsicológicas)queinfluenciamomodo
comoesteserelacionaepercepcionaoespaçoequejustificam(nasuamedida)aneces-
sidadedeumaarquitecturaquecontemplaarealdimensãofísicadohomem.
A arquitectura urbana considera uma dimensão urbana, ampla, como um pro-
jectodearquitectura.Abarcadesdeoedifício,àrua,aobairroeàcidade.Destemodo
egenericamente,umconjuntodeedifíciosencostadosunsaooutrosmarcamoritmo
de uma rua, um bairro entende-se por um conjunto de ruas e praças e a cidade inteira é
entendida como um conjunto de bairros. Sobre o modo de pensar e construir a cidade,
Ressano Garcia Lamas7 refereaexistênciadeummomentoperdidonoprojecto/desenho
da cidade. Originado pela separação das disciplinas de Arquitectura e Planeamento, per-
deu-se a escala de projecto que correlacionava o todo, a unidade arquitectónica de um
lugar.Aopassoqueactualmenteoprojectoarquitectónicotemumaintençãoconstrutiva
eimediata(deobra),oplaneamentourbanoimplicaaconduçãodeumplanonotem-
poeoconfrontocomdiferentesagentespolíticos,económicosesociais.Aarquitectura
urbana,pretendepropiciaraunidadearquitectónica,ondeoplanoeoprojectofazem
partedomesmosistema,estaéassimumapráticaentreoplaneamentoeprojectode
arquitectura.
A arquitectura urbana compreende-se enquanto uma disciplina do desenho – da
ruaedolargo–quecolocaohomemcomoprincipalsujeitoactivoeaherançacadastral/
parcelar de cada estrutura urbana como base de trabalho. Colocar o homem como refe-
6 Lamas, R. G.; Morfologia Ur-
bana e Desenho da Cidade; pp
73 - 757 idem, pp125-127
16
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
rênciaprincipaltornanecessáriaacompreensãogenéricadosmodosdepercepção.Por
conseguinte, o estudo que se segue apresenta dois princípios condutores do desenho e
do pensamento – o homem e a forma – que culminam no modo como a arquitectura é
‘percebida’–numambienteouatmosfera.
A percepção de um ambiente é criada pela interacção entre as formas que com-
põem a cidade e o modo como o homem recepciona e compreende essas formas 8. Uma
abordagem deste género implica que o acto de projectar a qualidade do espaço urbano/
públiconãoselimitearazõesfuncionais(oudo‘bomfuncionamento’dacidade),mas
encareaqualidadedoespaçopúblicocomoumaexperiênciaperceptivaesensorial.Esta
experiênciaéabordadadediferentesmodosporautorescomoZumthoreasatmosferas
sentidas,CullenempaisagensurbanasvivasouLynchnaqualidadesensíveldoespaço.
5.1 Forma
Paramelhor compreender a estrutura (urbana) da arquitectura anónima, de
modo a actuar criteriosamente sobre a mesma, inventariou-se um conjunto de temas e
instrumentos da arquitectura urbana.
Consideram-se fundamentais, para esta síntese sobre a forma, as obras de
autores como Cullen em Paisagem Urbana9,ondeofereceumavisãosistemática
doselementosmorfológicosedascaracterísticasdestaescala(darua);Zumthor,
em Atmosferas10, que aborda a relação das pessoas com as coisas, construíndo um
quadrodesensaçõeseasuainfluêncianaconstruçãodeambientessignificantes;
avisãopráticaeobjectivadeKevinLynch,emSite Planning 11; e Pallasmaa, em
The Eyes of The Skin: Architecture and the Senses, quando realça a importância de
todosossentidosnapercepção12.
Naanálisedas“formasurbanas”,considere-seoseguinteencadeamento
de questões:
- Qual é a intenção da forma urbana a criar?
- Que instrumentos servem a intenção (tanto de apoio ao acto de
desenharcomoinstrumentosqueintensificamaarquitectura)?
-Qualéoseuconteúdo,amatériacomqueseconstitui?
8 Lynch; Site Planing; p 1579Cullen, Gordon; Paisagem Urbana10 Zumthor,Peter;Atmosferas11 Lynch; Site Planing12Pallasmaa,Juhani;The Eyes of The Skin: Architecture and the Senses
17
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
5.1.1 Intenções
Deummodogenérico,admitiu-sequeaformaurbanaéconstituídapor
doistiposdeintenções,caminhos(oupercursos,queincitamàprogressão)queli-
gam recintos (lugaresdeconvívio,queconvidamàpermanênciaouqueabrandam
aprogressão)hierarquizadoseracionalmenteencadeados.
Os conceitos que se seguem foram reformulados com base em Cullen e
regrageral,asdescriçõesapresentadaspriorizamarelaçãodo indivíduocomo
espaço.
A. Caminhos:
A.1. Ruas | Caminhos para peões:
Arededecaminhosparapeõestransformaacidadenumaestruturatransitá-
vel, ligando os lugares por meio de degraus, pontes, pavimentos, por quaisquer
elementosdeconexãoquepermitammanteraacessibilidadeecontinuidade.
Estescaminhostemcaracterísticassinuosaseágeis,conferindoumadimensão
humanaàcidade.(fig.05.a))
A.2 Ruascomtrânsito:
Ao incorporar a circulação automóvel, começa a alterar-se a escala urbana. As
ruas com trânsito são uma opção, de dimensões intermédias entre o caminho
eaavenidaeque,muitoemboratornemacirculaçãomaisdifícilparaopeão,
representam uma solução de acessibilidade e deslocação de mercadorias, bens
epessoas,necessárioaofuncionamentodacidade.(fig.05.b))
A.3 Avenidas:
Sãograndeseixosessencialmenteviários,fluídaseessênciaisparaa conexão
das diferentes partes da cidade. Estas são intencionalmentemonumentais e
tendencialmente mais impessoais e austeras para os peões, por comparação à
escala e proporção rua/homem aos caminhos acima referidos
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B. Recintos:
B.1 Pátios|clusters | logradouros:
Comconfiguraçõesdistintasentreeles, todos representam lugaresondepre-
dominaaescalahumana.Comumcarácterdepermanênciamaisíntimaepes-
soalmostram-sedeterminantesparaasboas relaçõesdevizinhança.Demon-
stram-se seguros ao peão devido ao afastamento da circulação automóvel.
B.2 Largos|pracetas:
Os largos e pracetas encerram dimensões maiores do que os recintos anterior-
mente referidos, consubstanciando momentos de abrandamento da progressão
econvidandootranseunteaficar.(verfig,05.c)ed))
B.3 Praças:
Por definição, apresentam um carácter de sentido representativo ou monu-
mental,deconfiguraçãoquadrangular,apraçadeveseramplaosuficientepara
conterosmaisdiversificadosacontecimentosemultidões.Deveter-seespecial
cuidado com a circulação pedestre e automóvel.
B.4 Miradouros:
Maisevidentesemcidadescomtopografiasmaisacidentadas,representamim-
portantesespaçosparafinsdeconvíviooucontemplaçãodapaisagem.
5.1.2Instrumentos:
Umavezestabelecidasasintenções,devemesquematizar-seumasériedeins-
trumentosúteisparaodesenhodaurbanidade.
C. Conceitos base:
C.1 Escalaeproporção:
Escalaéarelaçãodetamanhosedimensõesentreosobjectos.Naarquitectura
urbana,umadimensãoparececonfortávelpelaproporçãorelativaentreasfor-
mas urbanas e a dimensão do corpo humano.
19
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
fig.05.a)Caminhoparapeões,escadinhaparaaBica
fig.05.c)Largo,R.doSéculo
fig.05.b)Ruasmistas
fig.05.d)Praceta,JardimdaAmoreiras
20
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D. Perspectiva:
Perspectivaéumaferramentaqueexploracomosentidodavisãoedetermina
o modo de ver um espaço.
D.1 Perspectivagrandiosa:
Sugere uma sensação de além, dirige o olhar para um imenso espaço longínquo.
(verfig.05.f))
D.2 Perspectivavelada:
Aconstruçãodestaperspectivaintensificaoprimeiroplanoedramatizaomo-
mentodechegada,atravésdousodebarreirastransponíveisque“velam”oque
estápordetrás.Umexemplorecorrenteéousodeárvores.
D.3 Perspectivadelimitada:
A visão é delimitada por planos. Coloca um objecto perto do ponto de fuga.
D.4 Deflexão:
Variantedaperspectivadelimitada,consisteemdeslocaroobjectoligeiramente
em relação ao eixo de visão.
D.5 Truncagem:
Oprimeiro plano corta a perspectiva. Suprimeos planos intermédios, sobre-
pondooprimeiroplanocomoúltimo,porexemplo,océu.
D.6 Contrastes:
Nasrelaçõesentreasformas/elementos,oscontrastescriamrelaçõesdetensão
emtodaaestruturaespacial,permitindointensificarasvivênciasdoespaço.
D.7 Entrelaçamento:
Oprimeiroplanodaperspectiva,enquadraplanosmaisdistantes.(verfig.05.e)
E. Configuraroespaço:
E.1 Delimitaçãodoespaço:
Éumaacçãoprimeiradodesenhofundamentalparaaorganizaçãoepercepção
humana.Estecampoédiversificável,atravésdevárioselementos,taiscomoos
que seguem:
21
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fig.05.e)Entrelaçamenoeluz/sombra
fig.05.f)PerspectivaGrandiosa,Pq.EduardoVII
22
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E.1.1 Desníveis:
Podem ser utilizados para unir ou separar actividades num mesmo espaço.
Deummodogeral,numnível inferior,temosumasensaçãodeintimidadeou
encerramento,enquantoqueaumacotaelevadasentimosodomíniodoespaço
(estandoexposto).Usualmente,oactodedescersignificabaixaraoencontro
de algo que se conhece, enquanto que subir implica ascender ao desconhecido.
(verfig.05.h))
E.1.2 Barreiras:
Tiposdeobstáculosquepermitemumaligaçãovisualcomoespaçoequead-
vêmdeoutrasdecisõessobreotipodeocupaçãopretendidodedeterminados
lugares.
E.2 Estreitamentoseaberturas:
Aaproximaçãodoslimites(gruposcompactosdeedifícios)daruaresultanuma
pressão(poucohabitual)quecontrastacomascaracterísticasdepraçaoulargo
que lhes podem anteceder. Os estreitamentos permitem tanto manter uma at-
mosferadeumlugar,semcomprometeracirculaçãoearticulaçãocomoresto
da cidade, como aumentar a pressão no peão para os ultrapassar.
E.3 Pontuação:
Pontuar uma rua ou largo, é como acrescentar ritmos de apropriação e passa-
gemnoslugares.Exemplos:acidentes,saliênciasereentrânciasentreoutros.
E.4 Imediaticidade:
Confronto repentino de naturezas distintas, comopor exemplo com água ou
com um abismo. Aumenta a tensão nos espaços.
E.5 Pavimento:
Um dos principais elementos conectores da cidade, o que permite a
continuidadeentretodososelementosconstituintes.(verfig.05.g))
E.6 Pormenores:
Animamedãoidentidadeprópriaaoslugares.
23
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gp.05.g)Continuidade-Pavimento
gp.05.h)DesníveisdelimitamopátiodaBica
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5.1.3Matéria
Amatériadizrespeitoàconstituiçãofísicadosobjectos,deummodogeral,éo
quedácorpoàforma.Abordam-segenericamenteascomponentesmatéricasdosob-
jectos e a sua consonância, isto é, a relação harmoniosa que os materiais estabelecem
entresi,criandodestemodoum“lugar”urbano/arquitectónico.Aconsonânciaentreos
materiais resultadaexperimentaçãodasdiversas combinaçõespossíveis.Oconteúdo
destepontorecorreàsobrasdeStevenHoll13eZumthor14.
F. Atextura,acor,obrilhosãoqualidadesquedeterminamomodocomoaluz
iráactuaroucomoosomseráreflectido.
F.1 Temperatura:
Cadamaterial temumatemperaturaprópria,queretiramaisoumenoscalor
corporal.Comoas formassãoconstituídaspormatéria,acadaforma“apren-
demos”aatribuir-lheumatemperatura.Atemperaturadascoisassurgecomo
algofísico,mastambémpsíquico(édefinidonainfância).
F.2 Som:
Cada espaço funciona como um instrumento grande, colecciona, amplia e trans-
mitesons.Temavercomaforma,mastambémcomassuperfíciesdosmateriais
utilizadoseomodocomoestãofixos.
F.3 Luz/Sombra:
Genericamenteprocura-seomodocomoosmateriaisreagemàluz,comoa
absorvemoureflectem.
F.3.1 Luznanoite:
A luz tambémconformaapercepçãodoespaço, comoporexemplo, a ilumi-
naçãodacidadeànoiteproporcionaumanovapercepçãodaconfiguraçãodo
espaço urbano.
F.4 Água:
Funcionandocomo”umlentefenoménica”quepotencianovosreflexosdeluze
cor, com poderes de inversão espacial, refracção, animando o espaço urbano.13 Holl, S.; Cuestionesdeper-cepción Fenomenologia de la Arquitectura14 Zumthor,Peter;Atmosferas
25
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
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27
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Deummodosintéticoapresentaram-seelementos,instrumentosecomponen-
tesda“formaurbana”.Oobjectivodestasistematizaçãonãofoiinventar,nemcriarnovos
modosdetransformaracidade,foipelocontrárioeatravésdeestudosjárealizadospor
váriosautores,encontrarumsistemadeaplicaçãopráticanoactodereabilitaracidade,
com base na morfologia presente nos locais.
Ao recentrar a atenção na importância do papel de cada construção, sendo que
uns são ‘palácios’eoutros são ‘anónimos’, realça-sequeessa“estruturaanónima”,o
suportedasrelaçõesdiáriasentreacidadeeoshabitantes,podeserintensamentevari-
adaeexpressiva.(verfig.05.i))
gp.05.i)IntensidadeUrbana
28
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5.2Homem
3.2.1ExperiênciasSensoriais
Paraqueseestabeleçaumconjuntode instrumentosaplicáveisnapráticada
arquitectura,há,antesdemaisquedefinirnoçõesaprior(isticas)dacondiçãohumanano
espaço.Omodocomoestevêoespaçoeomodocomosecolocanomesmoespaço.
Cullen 15explicao fenómenodeverdeummodorelativamentesimples: ‘Ver’
nãosócomoumprocessoestanque–comoumaimagemobtidaatrvésdeumafotogra-
fia–mastambémcomoumprocessodeassimilaçãodotododeumobjectoatravésdo
movimentosobreascoisas(ousobreoespaço).Umindivíduonãovê(percebe-percep-
ciona)acidadesimplesmentecomoumaimagemestanque–comoumpostal.Aimagem
dacidadesurge,pelocontrário,comoumamultiplicaçãocontinuadadeframes,aolongo
deumcaminho–a‘visãoserial’.
Aimagemurbanasurgecomoumasucessãodesurpresaserevelaçõessúbitas
queseconstituemcomoestímulosemitidosaosseushabitantes.Assume-seaquiquea
visãocontemplatantoaimagemestanque(oupictórica)dacidadecomoaimagememer-
gente,sendoqueestapermitefazerdaunidadeumtodocoerente,demododinâmico.
A segunda condição importante a reter é a relação que o homem estabelece com
oespaço.Ohomemrelaciona-se intrinsecamenteecontinuamentecomoespaço,no
sentidodeestabelecerasuaposiçãorelativaaomesmo–estaraquienãoali.Océrebro
funciona contrapondo as sensações de dentro e fora, ou seja, estar num lugar exacto e
delimitado reconhece-se por contraponto a uma fronteira que delimita um outro lugar.
O olho julga as distâncias de diferentes maneiras, podendo estas ser manipuladas. A
experiênciadoobservador,istoé,oseuconhecimentosobreascoisas,éumfactorde-
terminante para o modo como as vai percepcionar.
Asduasnoçõesapresentadasrepresentamumaperspectivadesíntese,canaliza-
daparaapráticadaarquitectura.Ambasserevelamcomorelaçõessinestéticasdaacção
humananoespaço.Istoporque,apercepçãoenquantoumaproduçãosinestéticaque
umindivíduofazdoespaço,dependedainteracçãodetodosossentidos.Conduzindo,
como defende Pallasmaa16,aumaexperiênciamultissensorialdoespaçoondeasquali-
dades da sua forma e da sua matéria se medem igualmente pela visão, tacto, olfacto,
pelosom,pelapele,pelosmúsculos,emsuma,por todoocorpo.Pallasmaadefende
uma arquitectura
Promenade arquitectural
Origem do conceito de le cor-busier: ”L’architecture arabe nousdonne un enseignement précieux. Elles’apprécieàlamarche,aveclepied; c’est enmarchant, en sedé-plaçantquel’onvoitsedévelopperles ordonnances de l’architecture.C’est un principe contraire àl’architecture baroque qui estconçue sur le papier, autour d’unpoint fixe théorique. Je préfèrel’enseignement de l’architecturearabe”.
LECORBUSIER.JEANNERET.OeuvreComplète1929-1934,p.24
15 Cullen, Gordon; Paisagem Urbana16 Pallasmaa, Juhani; Architec-ture and the Senses; p.4117 idem; idem;p.49
29
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
de experiênciasmultissensoriais, por oposição ao entendimento simplesmente visual
dos edifícios, característica eminentena arquitectura contemporânea.Assim, o autor
compara a visão com audição: se por um lado a visão isola, o som incorpora; a visão é
direccional,osoméomnidireccional;osentidodavisãoimplicaexterioridade,osomcria
umaexperiênciadeinterioridade;osolhosalcançam,osouvidosrecebem;osedifícios
não reagem ao nosso olhar, eles devolvem os nossos sons de volta aos ouvidos17. Deste
modo, reconhecem-se as duasnoções inicialmente apresentadas –VisãoePosição–
comoreflexodainteracçãodetodosassentidos.(fig06.)
Fig. 06. The Eyes of The Skin: Art And The Senses
30
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Gp. 07. Arquitectura Guardiã Da Memória; participaçãodeManueldeOliveira; Lisbon Story;filmedeWimWenders,1994
31
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
5.2.2Memória
NoiníciodoséculoXX,ofilósofoHenriBergson,em Matéria e Memória, apon-
tou para a estreita relação entre percepção e memória. Conforme referido pelo autor,
amemóriaéumacondiçãonecessáriaparaa formulaçãodapercepção.Dizerque“a
memóriaéuma invenção”,comoodizManueldeOliveira,éadmitirqueestaéa in-
vençãodeumcertoolharsobreascoisas,nomesmosentidoqueBergsonaprofundao
estudoeapontaamemóriacomoagentepossívelnacriaçãodasubjectividade.18
Interessa-nos vincular a esta noção dememória (também ao cinema) a per-
manênciadaarquitecturaoudeactosarquitectónicos.Desdeoprimeiroactodemarcar
um lugar, ate à criação de cidades como as de hoje, a arquitectura é uma testemunha
‘viva’dosmomentosqueocinematentacapturar.Momentosessesquesãoasacções
doshomens.Bergsondizqueosobjectosquerodeiamocorporeflectemaacçãohu-
mana sobre eles19.Aconsequênciadaacçãodeumindividuosobreoobjectoouespaço
define-seporexperiência.
Aarquitecturasuportaasmemóriasdasexperiênciasapartirdassuasdimen-
sõesconstrutivas,decorativaseestéticasquelocalizamnoespaçoetempoasdiferentes
culturas arquitectónicas, “(...) a rua ela própria tenta sobreviver através de todas as mar-
cas da sua antiga existência que ainda lá permanecem, resistindo a qualquer mudança.
Essas marcas, todavia, estão lá agarradas aos edifícios, às pedras dos passeios, e a toda
a espécie de objectos que povoam o espaço (...)” 20Numtodo,oambienteurbanocon-
struídocristalizaemsiasmarcasdosprocessossocio-culturaisdascomunidadesqueo
habitam,dascidades.Todaaideiadearquitecturaé,emsi,permanência21.
Pallasmaa - “Our domicile is the refuge of our body, memory and indentity”(...)
GabrielMarceldefendenestesentido,“I am my body” e “I am the space, where I am”
acrescentaopoetaNoelArnaud22-Aidentidade,aquiloquesomos,éonossocorpoe
onde estamos. Compreender a escala arquitectónica implica uma comparação incon-
scientedadimensãoobjectocomadimensãodocorpo.Nestamedida,ainteracçãoen-
treoobjectoeocorpodoobservadorreflecteumaexperiênciaqueespelhaasreacções
dossentidosdopróprioarquitecto.Consequentemente,aarquitecturarepresentaum
diálogodirectoentreoarquitecto(eoseucorpo)eapessoaqueencontraoseutra-
balho23.
Amanutençãodacidadecontemplatransformar,reconstruir,modificar,adaptar
etodasasferramentasdadisciplinadaarquitecturaaptasamanterocenáriodavida
quotidiana,comprovadacomoumanecessidadepsicológicadohomem24.
18 Bergson, Henri; Matéria e Memória.19idem; idem; p.15 a 1620 Gorjão Jorge, Lugares em Teoria
21Brand; How Buildings Learn; p222 Pallasmaa, Juhani;Architec-ture and the Senses; p.6423 idem; p.6724 Gorjão Jorge, Lugares em Teoria
32
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“The cities of the filmmakers, built up of momentary frag-ments, envelop us with the full vigour of the real cities”
Pallasmaa
Gp. 08. Cidades do Cinema; Lisbon Story;filmedeWimWenders,1994
33
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
5.2.3Percepção,umprocessocriativoedinâmico
Identificou-sequeainteracçãoentreasformaseohomemgeramumdetermi-
nadoambiente,estepercepcionadopelohomem.Oqueéessapercepção?Merleau-
Ponty (Fenomenologia da Percepção) afirma que a percepção não é uma ciência do
mundo, mas o fundo pressuposto por todos os actos. Trata-se de um raciocínio para a
compreensãodeumaexperiênciavivida.
Compreendeu-seanteriormentequeexistemreacçõessensoriaisoumultissen-
soriais enquanto respostas intrínsecas do homem quando se confronta com um espa-
çoequeapercepçãoécondicionadapela capacidadehumanade racionalizareusar
aexperiênciaanteriormenteadquirida–a‘cultura’.Apercepçãoéassimaexperiência
sensorialdomundomaisa influência ‘sofrida’porconvençõesevisõesculturalmente
pré-moldadas, de tal modo a que subconscientemente sejam aceites valores comuns
(‘universais’)domundoexterno25 .
Apercepçãodoespaçourbanoestásubjacenteàsintençõesdefinidasprimor-
dialmenteparaumespaço.Quantomelhorforentendidapeloindivíduo,maiorseráa
trocademensagensentreoindivíduoeoespaçoemaisintensaseráaexperiênciaar-
quitectónica26. Com base nos conhecimentos adquiridos sobre os espaços e a percepção
humana, o arquitecto manipula a forma, para que esta possa interagir com o indivíduo,
criandoumambienteurbanocoerenteesignificativo27.
Em tomdeexemplo, sobreomanipular e construir deumambienteurbano,
Lynch28demonstraque,domesmomodoquea‘intimidade’épercebidaporumpeque-
noespaço‘fechado’eaalegria/satisfaçãodeumagrandeaberturasãosensaçõesuniver-
sais, o recurso ao contraste gerado pela justaposição dos dois elementos formais torna
asensaçãode‘contractionandrelease’aindamaisforte.Oscontrastesdedoisoumais
elementospodemcoexistirgerandosituaçõesurbanasmarcanteseexpressivas,criando
escalas de tensão ao nível de toda a estrutura espacial percepcionada, oferecendo mais
intensidadeeforçaàexperiênciaurbana.AesterespeitoCullendizque“o cérebro huma-
no reage ao contraste, isto é, às diferenças entre as coisas, e ao ser estimulado simulta-
neamente por duas imagens – rua e o pátio – apercebe-se da existência de um contraste
bem marcado. Neste caso a cidade torna-se visível um sentido mais profundo; anima-se
de vida pelo vigor e dramatismo dos seus contrastes.” 29.
Já Pallasmaadefendequeassensaçõesdeconforto,protecçãoede‘casa’foram
primordialmenteenraizadasnasexperiênciasvivenciadasporinúmerasgeraçõesanteri-
O estudo da percepção aplica-se a todos os campos da arquitectura, sendoquenestecasoespecificoin-teressa para o estudo da arquitec-turaurbana.Maisafrente,volta-sea referir a percepção como exper-incia humana no espaço, no âm-bito da arquitectura doméstica, aqual tem subjacente e semelhantes princípios de percepção.
25 Pallasmaa, Juhani;Architec-ture and the Senses; p.5926Holl,Steven;Cuestiones de Percepción. Fenomenología de la Arquitectura; p.1127Lynch, Site Planing; p15728idem; idem: p.15729 Cullen, Gordon; Paisagem Urbana; p.1130 Pallasmaa, Juhani;Architec-ture and the Senses; p.62
34
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ores. Para o efeito, Pallasmaa recorre à denominação de Bacherlard: ‘images that bring
out the primitiveness in us’ ou ‘primal images’30.
Areacçãocorporaléinseparáveldaexperiênciaarquitectónica.Noactodepro-
jectar o arquitecto é detentor de todas as ferramentas que construirão uma nova reali-
dadefísica,queporsuavezcondicionaráreacçõestantofísicascomopsicológicasdosin-
divíduos,comoinfluenciarádeterminantementeasrelaçõesentreohomemeomundo.
Quantomaisricaeintensaforaexperiênciaespacialmaisseestimulameseaproximam
oshomemdomundoqueosrodeia.Pontydefendeocorpoeo ‘mundo’comoúnica
substancia,intimamenteligados,ondeocorpoadquireumaconsciênciaconstante.
Com Beauty,apresentadopelaprimeiravezem1993,OlafurEliassonreplicaum
arco-írisusandoosmeiostécnicosmaiseconómicosexistentes-umamangueira,água
eluz.Sóatravésdasleisdarefracçãoeaposiçãocorrectadoobservadoréquesetorna
possívelavisibilidadetotaldaobraedasuanatureza.Eliassonreconhecequeestefoio
momentodasuacarreiraondetomouconsciênciadopapelfundamentalqueoobserva-
dordesempenhaparaqueoseutrabalhosejacompleto:“if the light doesn’t go into our
eys, there’s no rainbow”31 dizoartista.(vergurp.09)
Paranãofugiraoescopodapresentetese,nãoseiráaprofundarmaisatemática
das teoriasdapercepção, sabendo-sedeantemãoqueexistemváriasopiniõesdiver-
gentes.Noentanto,considerou-seabsolutamentenecessárioregistaraimportânciados
sentidoseda culturana leitura (a fazer)da cidade.Assim sendo,estas componentes
apresentadas sobre comportamento humano oferecem ferramentas importantes para o
desenhodoespaço.Aocompreenderestascondiçõesbásicas,procura-seacapacidade
deinfluenciarodesenhodoespaçopúblicoecriarumconjuntodemomentosestimulan-
teseaprazíveisparaaosseushabitantes,caminhantes,vizinhos,turistasetodososque
nela percepcionem.
30 Pallasmaa, Juhani;Architec-ture and the Senses; p.6231May,Susan;Olafur Eliasson: the weather project;p.21
35
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gp.09.a)Beauty;OlafurEliasson;2007
gp.09.b)Beauty;OlafurEliasson;1993
36
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gp.10.a)Oeléctricoeoamolador
gp.10.b)Aslavadeiras(cenasdeLisbon Story;1994)
37
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5.3 Ambiente Urbano
Atéaquitentou-sedesconstruiroqueéaambiênciaurbanaatravésdetemas
da percepção e da construtividade das formas urbanas.Ora, falar de atmosferas (ou
ambientesurbanosconstruídos)mostra-seumtemasensível,poisasubjectividadeeo
carácterpoucocientificodestassãocomoarmadilhasquefacilmentedistraemdomotivo
peloqualseprincípiouareflexão.
Noentanto,pareceimportanterealçaraprespectivadeZumthor.Paraoautorde
Atmosfera(s),estasurgecomoumacategoriadaestética,enquantoumdiálogocontínuo
comabeleza32.Considera-seaestética,aintençãoestética,comoalgoinerenteàhu-
manidade, que se encontra em todos os aspectos do dia a dia nas diferentes escolhas,
tais como, que roupa usar, que carros comprar, como decorar a casa, demonstrando que
aemoçãoeoprazerestéticosãoinerentesaoquotidiano.Sendoestaumanecessidade
que se educa e desenvolve 33. Uma atmosfera é conseguida no momento em que o es-
paçoenvolventenoscomove/afecta–a‘beleza’–sendoesteomomentodequalidade
arquitectónicamáxima.
Estasqualidadescapazesdeafectaraspessoaspossuememsivaloresabsolu-
tos da arquitectura que não dependem de qualquer teoria ou moda, são intemporais.
“(...) Qualquer pessoa que visite o panteão de Roma, a Villa Rotonda em Vicenza ou a
Capela de Ronchamp, certamente não precisará de nenhum guia turístico que lhe expli-
que porque deve ficar maravilhado porque, provavelmente, já estará, de facto maravil-
hado”34.
Os valores absolutos são as coisas concretas, os objectos e a forma como se
relacionamentre si,mas tambémaexperiênciahumanaque representam (conforme
abordadonospontosanteriores).Asatmosferasdependemigualmentedevida,deuma
magiaquehabitaoespaço,permitindo-lhesimplesmenteser.Nestarelaçãointrínseca
doespaçocomavida,podeencontrar-seumaespéciedebeleza invisível,muitomais
subjectiva, de índole psicológica emuito ancorada nas vivências individuais de cada
um35.Apercepçãodeumaatmosferaécondicionadaporfactoresdificilmentemanipu-
láveis,masquepertencemàvidaprópriadascidades,dasquaisascomunidadesguar-
dammemóriascolectivas.WimWendersconcretizaestanoçãodaatmosferadacidade
deLisboadeumaformaextraordináriamenterealnofilme“TheLisbonStory”.Salienta-
-seomodocomoorealizadorcaptaasatmosferaseomodocomomostraaoespectador
aimportânciadosomdacidadenaconstruçãodessaambiência.36
32Zumthor,Peter;Atmosferas33 Lamas, R.G.; Morfologia Urbana e Desenho da Cidade; p5634 Miguel,Marcelino; A Beleza Invisivel das Coisas; p.1535 Idem;36 Lisbon Story; filme deWimWenders,1994
38
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Estasqualidadesexistenteseintemporaisformamumaatmosfera,palcodein-
contáveisexperiênciashumanasque,porsuavez,serepercutemnaidentidadedosseus
habitanteseestabelecemocarácterdolugar.Re-habitarosnúcleostradicionaisdasci-
dadessignificareinventarovínculodacidadecomosseushabitantes,incorporandotodo
oconhecimentoacumuladoaolongodegeraçõesdeuso,carregadosdesignificadosede
formas(coisas)cujaimagemsetornareconhecívelequeporissoseachambelas.
Fig.11. Estruturaurbanaearquitecturaanónima
39
Arquitectura Anónima | cidadeConstruir no Construído
06. Construir no Construído
Noâmbitodaabordademao conceitoda “arquitecturaanónima”,o conceito
deconstruirnoconstruídosurgecomoumactocríticodourbanismoedaarquitectura.
Construirnoconstruídosurgeentãocomoumactoqueoferececontinuidadeàsestru-
turas da cidade, capacitando-as como lugares para viver. Construir no contruído implica
umolharcrítico,quereinventeaarquitecturaanónimadosbairrosedasconstruções
populareslisboetasequepassaporcompreenderasualinguagemprópriaeretirardesse
conhecimentoomáximopartidoarquitectónico.
Definindoovocabulárioeagramáticaprópriadaarquitecturaanónimanaci-
dade,passaaserpossívelumaacçãosobreela.Umaacçãoqueutilizaamesmalingua-
gemfavoreceumcontínuodiálogoentreostempos,vinculandoamemóriaeidentidade
do lugaredosseushabitantes.Sendoque“construirnoconstruídoequivaleadefinir
umaformanumlugarquejátemforma”37, então se se escreve com palavras da mesma
língua, fala-se na mesma linguagem e assim é possível construir sobre a cidade man-
tendoumaunidadeecontinuidadeurbana.Ciente,porémque,juntocomopassardo
tempo, a língua evolui e também os modos como se fala. Portanto, esta acção sobre
as estruturas anónimas, palco outrora das intensas vivências diárias dos cidadãos da
cidade,reflectesobreaevoluçãodosmodosdevivercontemporâneosecomoasintaxe
que evolui juntamente com os meios tecnológicos de expressão.
“Através das diversidades das épocas e das civilizações é pois possível
verificar uma constância de motivos que assegura uma relativa unidade
na expressão urbana” MarcelPoete38
Acidadecomoumlugarparaviver,deveráapoiar-senadisciplinadaarquitec-
tura urbana e reinventar as estruturas urbanas da arquitectura anónima, reabilitando-as
nasuafunçãomaisprimitivadelugaresdehabitar.37 Garcia, F.; Consturir en lo Con-struido38 Rossi, Aldo; Arquitectura da Cidade; pp. 54 e 55
40
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
41
Construir no Construído
ArQuitECturA AnÓniMA | casa
Fig.12. Lisboa-Composição
42
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Viu-seocálice,eagoraconcen-tremo-nos nas faces.
Fig. 13. Figura e Fundo
43
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
A arquitectura anónima das múltiplas construções compreende em si a noção
benjaminiana39de“percepçãodistraída”e“distracçãoatenta”.Estanoçãoremetepara
opapelanónimodecadaconstruçãoeparaariquezaqueadvémdasrelaçõesestabele-
cidasentreasváriasconstruçõesqueseencontranaleituradotodoconstruído.Destes
ambientesconstruídosehabitadospelosmaisdistintosindivíduosfazparteumprocesso
efémerodeconsumoefruição‘distraído’.Anoçãodepercepçãodistraídasurgirácomo
umapistadoconstruirnoconstruído,queprevêasingularidadeprópriadecadacon-
struçãonacontinuidadelógicadasuacompreensãocomoumtodo.
Para re-habitar as estruturas urbanas dos bairros populares de Lisboa interessa
compreender os modos de habitar, tanto do passado como do futuro e perceber onde se
instalaofossoqueossegrega.Emsíntese,estessãobairrosdecaráctereminentemente
habitacional que acompanharam o crescimento da cidade até ao princípio da industrial-
ização,momentoemquedeixaramderesponderàsnecessidadesexigidaspelacidade
epelamaioriadosseushabitantes.Noâmbitodaarquitecturaanónimasurgeagorao
pretextoparaadiscussãodeumacasadacontemporaneidade-a‘casaaconstruir’sobre
a‘casaconstruída’.
Nabasedaestruturaurbanada ‘arquitecturaanónima’encontra-seacasa.A
‘casa’doconstruirsobreoconstruidoéaquientendidacomooconfrontoentreassuas
duasdimensões.Nadimensãodeíndolesubjectivadelugardohabitar/ser,daprocura
dafelicidade,doninhoprotectorenadimensãoobjectivadasfunçõesquedevedesem-
penhar.Ésobreestaúltimadimensãoquesedebruçaopresentecapítulo.
ARQUITECTURAANÓNIMA| casa
39 Walter Benjamin, Atenção distraída e (ou) distracção atenta.
44
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Fig. 14. Casa na Rua do Século, Lisboa.
45
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
07.AnálisesdaCasaurbana
“the heart of vernacular design is about form, not style. Style is
time’s fool. Form is times sudent” Brand 40
A compreensão da evolução espacial da casa urbana é também a compreensão
dosmodosdeviverehábitossociaisdecadaépoca.Nessesentido,apresenta-seuma
breveevoluçãodacasaurbanaatravésdaanálisedasváriasformaseespacialidadesque
a casa tomou enquanto expressão dos valores culturais e sociais ao longo do tempo.41
Apresenta-seassimumaanálisegenéricadaevoluçãodacasaurbana(A),com-
preendendooperíodoquevaidesdeaIdadeMédiaatéaosdiasdehoje,tendoporbase
umestudoapresentadopeloprofessorNunoArenga42.Paraumaanálisedaevoluçãoda
casadentrodoslimitesdaarquitecturaanónima(B),toma-seoexemplodoBairroAlto,
eanalisa-seaevoluçãodacasa,combasenoestudoapresentadoporHélderCarita43,
compreendendo-onosmesmostemposqueaanáliseanterior.
Emtomdeconclusãodasanálisesrealizadas,confrontam-seasrealidadesactuais
da‘casateorizada’earepresentaçãodessamesmacasanaestruturadacasapopular,
compreendendoofossoqueassepara.Omodocomoasexigênciasqueforamgradual-
mente adicionadas ao espaço da casa foi conformado, encontrou uma grande limitação
na estrutura da casa popular.
40 Brand; How Buildings Learn;41 idem; idem;42Arenga,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: o interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear; capítulo 4 pp. 77 a 114.43 Cratita,H.; Bairro Alto, tipo-logias e modos arquitectónicos
46
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
A-Análisegenéricadaevoluçãodacasaurbana
A.1 - Casa medieval
AcasamedievalbalizadaentreosperiodosdaIdadeMédiaeosecXVII.Nesta
época as casas são habitadas por mais do que um grupo de pessoas, entre a família
doproprietáriodacasa,empregadoseouquaisquerlocatários,todosco-habitavamno
mesmoespaço.Asnoçõesdeprivacidade,intimidadeepudornãosefizeramsentirna
expressãoespacialdacasaedestemodoavidaquotidianadentrodahabitaçãodesenro-
la-se sob o olhar de todos.
Nesteperíodo,acasaurbanaécaracterizadaporcompartimentospolivalentes,
semafectaçãofuncionalespecífica,sendoousoinstituídopelomobiliáriomovéldiari-
amente.Numúnicoespaçodedimensõesgenerosas,acasaécapazdealbergarasactivi-
dadesfundamentaisdomésticaseporvezesservetambémdeoficinaoulojacomercial.
Nummesmoespaço,comaalteraçãodadisposiçãodomobiliáriopode-secozinhar,tra-
balhar,dormirourecebervisitas(comoilustradonaafig.15b)).
Aindanacasamedieval,masnumatipologiamaiscomplexa,verifica-sequeos
compartimentossemantêmindividualmentepolivalentesmasquesedesenvolveuma
estratificaçãodeusos,organizadosverticalmente.Nopisotérreo,quandoaresidência
édeumartesãooucomerciante,encontra-seaoficinaouloja;numespaçocontíguoa
salacomlareira,queserviaparacozinhar.Nosrestantespisossuperioressegue-seuma
sucessãodequartosesalasdeusosmúltiplos.Aestratificaçãodasdiferentesactividades
domésticasemdiferentespisosobrigaaoatravessamentodacasaportodososseusco-
habitantes,numacontinuidadedecompartimentoscomunicantes,nãosendonotadaa
existênciadeespaçosespecializadosnacirculaçãodacasa(figura15.a)).
Estaformadeorganizaroespaçodomésticotemumaevoluçãolentaepouco
significativasendopraticadaatéaoséculoXIXnacasaurbanapopular.
47
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
15.a)Plantasdecasasmedievaisparisienses
15.b)Ilustraçãodoespaçomultifuncionaldointeriordeumahabitaçãonoséc.XVI
48
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Fig.17. EvoluçãodaCasaMedieval
49
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
A.2-Casaburguesa
Contrariamente à arquitectura popular das classes mais desfavorecidas, a ar-
quitectura doméstica das elites sociais (aristocracia e burguesia) foi sendo cada vez
mais teorizadae sistematizadaemtornodenovosvaloresdeumanovadisciplinado
pensamentoarquitectónico–daDistribuição–que surgenofinal do séculoXVII44. A
‘distribuição’enquantodisciplinaconvocaosarquitectosàinvestigaçãoeteorizaçãoda
arquitectura da vida privada, como um novo e importante tema de projecto. O pen-
samentodiversificadodediversosautores,médicosearquitectos,constróiumquadro
teóricodaarquitecturadomésticaeuropeia,doséculoXIX(fundadonaescoladepen-
samentoFrancesa).
Osvaloresdestaclasseemcrescimentotêmpormodeloosvaloresaristocráti-
cos.Gradualmente,emambasasclasses,osmodosdeestarsãocodificadoseritualiza-
dos(NorbertElias),sendoacasaumaexpressãodessastransformações.Surgeoprincí-
piodequecadacompartimentodacasatemagoraumusoespecífico,comprometido
sobretudocomaspectosdeconvivênciasocial.(verfig.16.)
Nas primeiras transformações espaciais em relação às tipologias mediavais
surge o corredor, duplicando a circulação no interior da casa, dando origem à progres-
sivaespecializaçãodoscompartimentos.Aevoluçãodosvaloressociaisdaépocalevam
àseparaçãoeisolamentodoscompartimentosemproldaposiçãodoshabitantes,famí-
lia,visitasouempregados.Osistemadeespaçoscomunicantescontinuaaserutilizado,
em paralelo com os corredores, usando-se como acesso mais cerimonial. Surge também
aquioagrupamentodaáreashúmidasdacasa,comoresultadodeumconstrangimento
material,técnicoeeconómicodestaépoca.(verfig17.)
44 Arenga,N.;p81.
Fig. 16. Casa Burguesa - Distribuição
50
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A.3 - Transformações do século XIX:
DuranteoséculoXIX,asprincipaisalteraçõesfazem-sesentirnacasapopular,
aindapróximadaorganizaçãomedieval.Aarquitecturadacasaurbanapopularquepou-
co evoluiu desde a sua génese medieval vai neste período sofrer grandes transforma-
çõescomodesenvolvimentodacidadeindustrial.Astransformaçõesintroduzidaspela
crescenteindustrializaçãotrouxeramumadegradaçãoextremaàscondiçõesdevidadas
classesoperárias,suscitandoinvestigaçõesepropostasnocampodaHigiene(edamoral
cristã)edaSalubridade.Consolida-setambémnesteséculoaconcepçãodafamílianu-
clear,baseadanoamorerepresentadanosfilhos,assumindoestagrandeexpressãona
configuraçãoespacialdacasaurbanaburguesae,consequentemente,nacasaoperária.
MoniqueEleb-Vidalapontaparaosprincípiosdequeasorganizaçõesespaciais
especificas, correspondendoa conceitospolíticos, sociais eespecíficos, têma capaci-
dadedecondicionaraspráticasdosindivíduos,educando-osecontrolando-os.Acrença
nestesprincípiostornar-se-ádeterminantenaconcepçãodaArquitecturamoderna.
Amesmaautoradefendeumaperdadesentidodaorganizaçãoespacialdacasa
popular. Ou seja, a autora reconhece que se a casa burguesa se constrói sobre os mode-
losdacasaaristocrática–o‘hôtelaristocrático’,ondesereconheceumacomunhãode
valoressociais,jánacasaoperáriaverifica-seapenasumaimpressãodacasaburguesa,
comreduçõesesimplificaçõesdossignificados.Dandoassimorigemàimposiçãodeum
modelo que é adaptado e desvirtuado.
Nouniversodacasaurbana,a‘higiene’equipaacasaoperáriacomnovosdis-
positivosespaciais,dotando-adestesequipamentosdehigiene,queprogressivamente
sãotransformadosemespaçosprivados.A‘salubridade’procuraumaadequadailumina-
çãoeventilaçãonaturaldacasaedoscompartimentos,assimcomoaadequadalotação
de habitantes.
Dasdiversasteoriaseutopiasformalizadasnesteperíododefinem-seduastipo-
logiasprincipaisparaacasaoperáriaurbana:habitaçõescolectivasevivendasunifamil-
iares.Genericamente,aorganizaçãoespacialdacasaoperáriasurgecomoasimplifica-
çãodacasaburguesaesignificativamentemaispequena.
A evolução da concepção da família nuclear promove, na casa burguesa, espaços
deintimidadefamiliaremdetrimentodosderepresentaçãosocial,ondeaoptimização
doespaçoestádeacordocomumaabordagemcientíficadosespaçosdomésticos,ex-
pressando-senumasalagenerosaondesereúnemosmembrosdafamíliaduranteodia
51
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
e a noite são distribuidos por quartos separados.
Gp.18. a)eb)Plantasdaevoluçãodacasaurbanadoséc.XIX
Casaoperária Casaderaizburguesa
52
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A.4 - A casa moderna
NasprimeirasdécadasdoséculoXX,aarquitecturaeruditaassumedefinitiva-
mentearesponsabilidadedetodaaarquitecturadoméstica,sejaqualforoestratosocial
aquesedestina.Oseuprogramapretenderesolveraevoluçãodacidadedofuturoe
conceptualizaranovacasamoderna.
A arquitectura moderna rompe com os fundamentos arquitectónicos do século
anterior, no entanto, e de um modo abrangente, o pensamento moderno tem os seus
fundamentosancoradosnoprogressocientíficoenosproblemasfundamentaisdoséculo
XIX.Aevoluçãocientíficainspiraraumaabordagemcientíficaetecnocrata(deorientação
positiva)àgeneralidadedosproblemasquesecolocavam.Estemodelodepensamento
serádominantena1ªmetadedoséculoXXedeterminaráprofundamenteomodode
pensaracasamoderna.Acasamodernaéobjectoderacionalidade,deoptimizaçãodo
seu funcionamento, da sua construção, do custo e da salubridade.
Osvaloresdacasamodernapretendem-seuniversaisenãovêemestratosso-
ciais,nemdiferençasculturais.Destemodo,estaabordagemcientíficapositivadefine
umquadrodereferênciasmínimas,máximasedeideiasfechadas,nosentidodeexcluir
outraspossibilidadesdesolução.Estenovoparadigmacomprometeu-sedeterminant-
ementecomaabordagemcientificadaprodutividadeedaeficáciadosprocessosprodu-
tivos,queteveasuamaiorexpressãonoqueveioaserdesignadoporTaylorismo.Aapli-
cação dos princípios de Taylor na arquitectura corresponde sobretudo aos estudos para a
melhoriadotrabalhodomésticoeconsequentelibertaçãodamulherpararealizaçãode
outrastarefasepara,emúltimaanalise,aemancipaçãodoestatutodomésticoesocial
damulher.(fig.19.d))
A casa moderna, é conceptualizada, em primeiro lugar, enquanto habitação
colectivaemmassa.Ahabitaçãocolectivaoperáriadoséculopassadoéagoratranspor-
tada para a classe média.
Retidoseaprofundadoscientificamenteosprincípioshigienistasdaarquitectura
domésticadoséculoXIX,surgemnoséculoXXnovoscritériosnoâmbitodofunciona-
mentoeorganizaçãodacasa.Adistribuiçãoeasexpressõesdeantiquadosvaloresso-
ciaissãosubstituídosporestudosderacionalizaçãoeoptimizaçãodastarefasdomésti-
cas,dassuperfíciesmínimasnecessáriasparacadatarefadoméstica,nosequipamentos
necessários,dasuaergonomia,daszonasfuncionaiscorrespondentesedospercursos
necessáriosparaarespectivacirculação(fig.19b)ec)).Asexperiênciassoviéticasdeop-
53
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
timizaçãodofuncionamentoedomovimentodascozinhassãoumexemplodoespírito
daépoca.(fig.19e))
Cita-seaquiArenga(2009),apropósitodotextoentusiastadeLeCorbusi-
erem“VersuneArchitecture”:
“se por um lado os progressos da ciência determinam princípios de apli-
cação universal, ao nível da higiene, da optimização funcional, da eficiência
organizativa e produtiva, as circunstâncias sociais e produtivas parecem
reclamar a concepção de casas em série, a construção de casas em série e
a vida doméstica em casas produzidas em série. Este é o ‘Esprit Noveau’,
proclamado por Le Corbusier e seguramente subescrito peles seus pares
nos primeiros CIAM.” 45
45 Arenga,Nuno;2009
gp.19.a)Evoluçãourbana-umdos20paineisteóricosdaVilleRadieuse, Le corbusier
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19.b)Distribuiçãooptimizada-púplico/privado
19.c)Habitarmínimo
55
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
19.d)Estudosdeoptimizaçãodacozinha
19.e)Experiênciassoviéticas 19.f)Optimizaçãodosquartos
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B.Análisedaevoluçãodacasada“arquitecturaanónima”
“uma das maiores qualidades do bairro alto resulta duma
complexa sobreposição de intervenções arquitectónicas que se pro-
cessam durante quatro séculos sem estabelecerem rupturas nem
desarticulando a unidade da estrutura urbana primitiva.” 46
Apartirdeuma leitura feitaàs tranformaçõesdaVilaNovadeAndradedepoisdeD.
Manuel(quederamorigemaoactualBairroAlto)procurar-se-ácompreenderqualacor-
relaçãoentreaevoluçãodosparametrosda “casagenérica”eaevoluçãoda casada
“arquitecturaanónima”.
46 Cratita,H.; p 57
Fig.23 MalhaUrbanadoBairroAlto
57
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
B.1 - Casa medieval
Usualmente,asparcelasdacidademedievaltêmporbaseaunidade‘chão’,uma
medidaagráriadaidademédia,designandoumrectângulocom60palmosdecompri-
mentopor30delargura(aproximadamente13,50mx6,75m)quedeterminouaproxi-
madamenteasdimensõesdacasa.Apresençadaidademédiafaz-sesentir,ainda,no
parcelamentodobairro,comorigemnosec.XVI.
Osprimeirosexemplosdeconstruçãomedieval jánãosãovisiveismascarac-
terizavam-sepor construçõesdeduplaestrutura.Nonível térreo,encontrava-seuma
estrutura de paredes portantes em alvenaria mista, enquanto que no piso superior a
construção se baseavanuma estrutura de madeira (nasce aqui a base da concepção da
estruturadegaiolapombalina).Acaracterísticamaisevidenteanivelformalseráafor-
maçãodafachadadecachorradas(travamentodaestrutura)eosavançossobrearua
dos pisos superiores.
Estestiposconstrutivosdesapareramcomasreformulaçõesdelimpezaesegu-
rança do bairro, encontrando-se o unico representante em Alfama, na R. dos Cegos.
Aorganizaçãointeriortípicadacasamedievalécompostaporcompartimentos
polivalentes.
B.2-SéculosXVIeXVII
EnquantoobraaprovadapeloReiD.Manuel,aVilaNovadeAndradeencerraem
siummarcodofinaldospadrõesconstrutivosmedievaiseapassagemparaoedifíciode
alvernariacomfachadaplana.Apresentam-seoraasduastipologiasmaisimportantes
quetestemunhamastransformaçõesdoshábitosvivênciaisdapopulaçãolisboetas.
Aprimeiratipologiaasurgirseráacasacomumandarsobrado,deplantaten-
dencialmentequadrada(exemplosdispersosaindaseencontramvisiveisnobairro)(fig.
20 a)). Esta tipologia evolui para a segunda, numprogressivo aumento de andares e
extensão sobreoquintal (fig. 20b)). Caracterizando-seentãoporumplantadebase
rectangularquedáorigemaumloteestreitoecomprido,próximodomedieval.Estas
construçõesdeestruturasimpleschegamaatingiros3e4andares,amparando-semu-
tuamente,peloqueédifícilaintervençãoestruturalnumsóedifício,poispodeprovocar
odesabamentodosseusadjacentes.Emqualquerumadastipologias,ofenestramento
58
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
20.b)alçadoseplantasdatipologia2
20.a)alçadoeplantadatipologia1
dafachadadecorredaestruturainterna,repercutindo-senumafachadadedesenhoas-
simétrico.Estaestruturaurbanaperduraaolongosdosseguintesséculosatéaoséculo
XXI.
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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
B.3 - Transformações pombalinas
Operíodopombalinomarcapelaprimeiravezoaparecimentodeummodelode
referênciaeruditoparaoedifíciourbanoderendimento.Amétricapombalinadefinida
porEugéniodosSantoseCardosMardeleraincompatívelcomamalhaurbanadobairro,
oqueobrigouaqueodesenhodesteperíodoseacomodasseàáreadolotedisponível,
adoptando a tipologia existente, e trabalhando principalmente na sistematização das
fachadas(casoacaso). Introduz-seafachadasimétrica(acentuandooprimeiroandar
comjanelasdesacada)eaestruturadegaiola,acaixadeescadaseaclarabóia(permit-
indoailuminaçãodointerior),aumentandoassimosedifíciosatécincopisos.Emalguns
casosrealiza-seaexpropriaçãodeterrenosparaarealizaçãodegrandesconstruções,
comoporexemploR.doLoreto,R.daMisericórdiaeR.doSéculo.
21.a)regularizaçãododesenhodefachada
60
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B.4 - Séc. XIX - Tardo-pombalino
Compreende-seesteperíodoentreotardo-pombalinoeromântico,comoum
períododegravesdificuldadespolítico-económicasesociais.Assistiu-seemPortugala
um atraso tecnológico, por contraponto ao desenvolvimento industrial europeu. Realça-
se a protelação dos modelos pombalinos e da estrutura de gaiola, os quais passam a ser
oshábitosconstrutivospopulares.
Oedifíciopombalinosofreligeirasalteraçõesintroduzidaspelasnovasestéticas
dosec.XIX.Destacando-seodesenhodosgradeamentos(D.Maria);aperdadosentido
estéticoemétricadosmodelospombalinos; a diminuiçãoda alturade cada andar e
diminuiçãodaespessuradaparedeeassiste-seaoaumentoprogressivodascomparti-
mentações do interior da casa.
ÉaindaemmeadosdoséculoXIXquesedivulgaohábitodoazulejamentode
fachadas.Estefenómenointroduziráumnovoritmocromáticoaosconjuntosurbanos,
sinaldeumaevoluçãomaisdecorativadoqueestrutural.
fig.22.interioresmaiscomplexos
61
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
Emmododeconclusãodasanálisesapresentadas,inicia-seumadiscussãoque
confronta a evolução dos modos de habitar com a arquitectura anónima:
Dacasaurbanamedievaldestaca-seobaixoníveldeespecialização funcional
doscompartimentos,ondeésobretudoomobiliárioquetransmiteedefineosusosea
relaçãodirectaentreessesmesmoscompartimentoscontíguos.Ouseja,aausênciade
distinçãodeespaçosdecirculaçãoeoutrosdepermanência,expressa-senumamaior
apropriaçãodoespaçofísicodacasa,porsilimitado.
Da casa burguesa compreende-se o olhar da arquitectura erudita que é teori-
zadaepromovidapelaDistribuição,sendoestaumanovadisciplinadopensamentoar-
quitectónicoeaprincipalresponsávelpelastransformaçõesapresentadasnoséculoXIX.
Adistribuiçãoporusosefunçõesoriginaumacasatri-partida(social,privado,serviços)
e uma crescente imposição na organização espacial das áreas de público/privado e
serviços.
Doparadigmadacasamodernaconstrói-seaorganizaçãodascasasqueainda
habitamoshoje,baseadasnaracionalizaçãosectorizadadofuncionamentodacasa,na
optimizaçãodos seus equipamentos edas suasdimensões combaseemcritérios de
eficiênciafuncional,optimizaçãoprodutivaeeconomiaconstrutiva.
Conclui-seque,genericamente,paracadaépocada ‘casaurbana’seencontra
umaestruturaurbanaprópriaaquepertence, assistindo-seassimao crescimentoda
cidadeatétransbordardosseuslimites.Encontram-seasraízesdacasamedievaledos
paláciosburguesesnasestruturasdosbairrospopulareslisboetas,domesmomodoque
as transformações provenientes do séc. XIX se manifestam essencialmente na cidade das
AvenidasNovasounaarquitecturadacasamodernaqueconstituiobairrodosOlivais.
Nestesentido,arealidadedacasadaarquitecturaanónimaincidenarealidade
dosbairropopulares,comooexemploapresentadodoBairroAlto,estequeespecifi-
camente se desenvolve em torno de uma estrutura urbana de quarteirão mas de es-
cala medieval. A sobreposição de tempos e valores de diferentes épocas na arquitectura
populardáorigemaopalimpsestodaespacialidadedacasaquechegaaodiasdehoje.
Estascasas,quenasuamaioria,mantêmaindaaunidadedeparcelamentome-
dieval, uma métrica de fachada herdada das renovações pombalinas, imposição que
as transformações do séc. XIX trouxeram, dotando as casas com novas condições de
higieneesalubridadeemparalelocomascrescentescompartimentaçõesesectorização
62
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
forçadaemespaçoútilmínimo.Oprocessodecrescimentodeu-seemaltura,atéondea
estruturadeparedesportantesegaiolapermitísse.(3a4pisos,emalgumcasos5).
A casa da arquitectura anónima que se procura manifesta-se como uma acção
sobreestacasadecarizpopular,queseencontrahojelongedosparametrosdeconforto
e necessidade requisitados à casa e profundamente limitada pela estrutura urbana que
a comporta. Reviver neste bairro leva a um repensar da casa que existe num repensar do
que pode ainda vir a ser.
Repensar a casa urbanada arquitectura anónima implica propôr novas espa-
cialidades,questionandoasnoçõesadquiridasaolongodosséculosanteriores,nomea-
damenteaorganizaçãoespacialbaseadaemzonasseparadasdepúblicoeprivado.Esta
sectorizaçãoespacialquenãoésentidanacasamedievaloriginal,masquesesobrepôsa
elacomopassardotempo,fazconsiderarqueexistenacasaoriginalumaespacialidade
maispragmáticaeeficazàsnecessidadesdeuso,emconstantemudança.
Oestudoseguenabuscadasnecessidadescontemporâneasdesatisfaçãoecon-
forto da casa e procura uma estratégia para a casa da arquitectura anónima.
63
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
08. Considerações sobre a reabilitação das estruturas da arquitectura anónima
AscidadesantigascomoLisboa,paraocaso,tomampapelnestadiscussãoen-
quantoconjuntosurbanosjáconstruídos.Aolongodesteséculonotou-seoabandono
dosnúcleosantigos,sendoquenasúltimasdécadassetemdiscutidoonovoparadigma
específicoàs cidades ‘comhistória’.Oque fazercomopatrimónioconstruídodasci-
dades em abandono? O caminho tem passado por buscas no campo das disciplínas do
urbanismo,daarquitecturaetambémdaspolíticasdeincentivo47.
O estado da economia nacional não se permite a luxos, nem a desperdicios. Por
issocoloca-seaquestãodesesaberoquefazercomtodootecidourbanoconstruído
mas abandonado.
Acidadedehojejánãoéacidadequefoiontemenãoserátambémacidade
doamanhã.Acidadeexistenteéamaterializaçãodahistóriadahumanidadeeporisso
deve ser preservada, no entanto, a sua transformação é um dado pressuposto da con-
tinuaevoluçãodoHomem–umcontinuadocicloemespiral. Paraa “nãomorte”da
cidade não a podemos congelar no passado, mas antes manter vivo o seu valor. Dar
semprepossibilidadeaocontínuodahistóriamantendoumacoesãoidentitáriacoma
memória e solucionar as necessidades da vida contemporânea. A evolução não tem um
fimagoraeasacçõesdopresentefazempartedomesmocaminhojápercorrido.Parao
âmbitodacasaurbana,acredita-senuma‘reabilitação’doedificadocompressupostos
assentesnaadaptabilidadedasjáexistentesestruturasdacidade.
Podeadmitir-seemconsciênciaqueacidadetemiguallegitimidadedeexistên-
ciadeumpassadocomonapossibilidadedeconstruirumfuturo,nãosequestionando
alegitimidadedeconstruirdenovo,sobreconstruçõesexistentes,masantesquaisos
critérioscomquesedeterminasesereconstrói/reabilitaoedificioexistenteousese
substituiparaconstruirdenovo.Eporquenãoprocurarsoluçõesqueseenquadremna
realidadeactual,envolvendomenorescustosmonetárioseenergéticos,abrindoassim
um vasto campo para a arquitectura?47 ver proposta da CML para oPDMde2011
64
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
A adaptabilidade surge neste contexto como uma condição preponderante para
ocontínuohabitardascidadesconstruídas.Alémdequeaadaptaçãorepresentauma
acção do homem sobre as construções ao longo dos tempos.
A arquitectura como um objecto de consumo, ao serviço dos homens e da socie-
dade, perdura no tempo e que se vai sempre adaptando aos novos usos e necessidades a
siexigidas.Aoapontarocomportamentodascasas,Brandverificaquetodososedifícios
maloubemsãoadaptadosemanipuladospelosseusutilizadoresaoserviçodassuas
necessidades.Todaaideiadearquitecturaéemsiapermanência48.
48 Brand;p2
65
Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
09.Acasadaarquiteturaanónima
“first we shape our buildings, then they shape us, then we shape
them again – ad infinitum. Function reforms forms, perpetually.” 49
A história da evolução do habitar revelou-se como a história dos modelos sociais
decadaépocaqueseexpressaramnaorganizaçãoespacialdacasa.Nosentidodaex-
pressãodeChurchillháagoraqueconsiderarnovosfactoressócio-culturaisquecontêm
problemasrelacionadoscomaevoluçãodaglobalização,datecnologiaemeiosdecomu-
nicaçãocriandoumexcessodeinformaçãoedeestímulosdomundoexterior,bemcomo
uma nova mobilidade social e heterogeneidade populacional, nos seus modos de vida e
nos seus valores sociais.
Acasacontemporâneaquesepropõerenunciará,àpartida,aomodelosector-
izadodaorganizaçãodacasaurbanamoderna.Apremissa ‘formasegueafunção’de
Sullivan que levou os arquitectos do século XX a acreditar que podiam antecipar os usos
(a função)decadacompartimento,constítuiumapré-determinaçãofuncional,pré-di-
mensionamentonaorganizaçãodoespaço,‘hiper’racionalizaçãodohabitarquelevoua
uma‘ditaduradoespaço’quenãodeixoumargemparaacriatividadeeapropriaçãodo
espaço por parte dos seus ocupantes, agora profundamente heterogéneos.
Nãoseencontranasociedadecontemporâneaapenasafamílianuclear,sobre
oqualaarquitecturateorizouepropôsaorganizaçãodavidaprivada,encontrando-se
afinalecadavezmaismodosdevida50.
9.1.Sociedadesemmudança
Um dos fenómenos de mudança a considerar são as transformações antropológi-
cas. Reconhece-se hoje uma variedade de estruturas familiares assim como uma cres-
cente diversidade de culturas e etnias, provenientes dos fenómenos de migração. Sobre
a estrutura familiar, os dados apontam para que nas cidades europeias, apenas 40% das
49 WinstonCurchillem1924nacerimónia de prémios da Archi-tecturalAssociation;Brand; p 350 Brand; p 5
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casassejamhabitadaspelaconsiderada família tradicional, “nuclear”,aumentandoas
chamadas novas famílias monoparentais ou reagrupadas, e aumentando também desta-
cadamenteaspessoasquevivemsozinhasnasgrandescidades.Segundooartigoestu-
dado, acrescenta-se que além das transformações das estruturas familiares, mesmo nas
famíliasconvencionaishádiferençasnaconformaçãodaestruturadacasaaolongodo
tempo,porexemplo,seasfamíliassãoformadasporfilhosaindacriançasouporado-
lescentes (indicando que as necessidades de espaço de um adolescente distam das ne-
cessidadesdeumacriançapequena).Amobilidadesocialsurgecomonúmerodeetapas
diferentes que um indivíduo passa ao longo da sua vida e as casas que habita são um
reflexodoquecadamomentorepresentaemdesejoserestrições.
O que leva a crer que à casa não são exigidos sempre os mesmos requisitos e
queorepensardatipologiaemtornodeumquadrodedísparesrequisitosencaminha
oestudodacasaenquantoumprogramadevárioscenáriosdeapropriação51 onde a
adaptabilidadeeflexibilidadesãotemasprincipais.
Com a evolução dos meios de comunicação e de informação, a casa desenvolve-
-se crescentemente como um lugar de trabalho, quer seja por exemplo o teletrabalho,
asprofissõesquesedesenrolamempartenoambientedomésticobemcomoasdiver-
sasetapasdoestudo,desdeoensinobásicoatéàuniversidade.Constata-seassimuma
necessidadedeespaçosnacasaondesedesenrolemestasactividades,deestudoou
profissionais.
De forma geral, as disparidades culturais e étnicas existentes nas metrópoles
reflectemumanecessidadedepropostasresidenciaisversáteiseadaptáveis.
Sendodifícilanteciparquaisosindivíduosqueirãohabitaracasa,estadevere-
flectirummododevidaigualitário,compreendendodeterminadoscritérios,taiscomo:
anecessidadedoshabitantesdesuperfíciessemelhantes,paraquenãoseestabeleçam
relaçõesdeprivilégioentreumhabitanteeacasa;situaracozinhaeolugardetrabalho
compartilhadocomocentrodacasa,fomentandoespaçosespecíficosdearrumoselim-
pezas;promoverumaproximidadedeformasdeacesso/apropriação.
51 Traduzidodo inglês ‘scenariobuffered’,Brand;
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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
Os factoresmencionadosanteriormenteretratamobjectivamenteasnecessi-
dadedacasa.Realça-se,agora,queacasanãovisasóadefiniçãodefunçõesconcretas
quedevedesempenhar,acasacompreendetambémumadimensãosubjectiva,quevisa
a satisfaçãodo indivíduoqueahabita.Atravésdemecanismosconscientesou incon-
scientes desperta no habitante a necessidade de felicidade e conforto. A casa contém
outra dimensão antropológica que remete para a ideia de abrigo, o ninho protector que
acolhe o habitante e protege das intempéries, dos perigos. Remete também como o mo-
mentodepausaedescansonummundodocaótico,ondeacasasurgecomoolugarda
ordemedeencontrodo‘eu’.52
51 Curtareferênciaaosmodelosdesatisfaçãoresidencial,defini-dos por autores da sociologia e arquitectura como MariluciMenezes,M. João Freitas, J. B.Pedro,BatistaCoelho.52 Bachelard;PoéticadoEspaço;1989
24.c) Lisboa,1999;Ilfochrome
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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
9.2.Pistas
Nostextosdacasacollage53osautoresXavierMonteysePereFuertesapontam
para a cabana, a pequena casa de férias como um “juguete que redescubre la experien-
cia del habitar”ecriticamacasaurbanacorrente,comoumsubprodutobanalizadoe
provavelmentemaisobsoletodoqueútil.Nestesentido,propõemumarevisãodacasa
urbanacomoumreflexodacasadeférias,eassim,parafraseando‘talvez vivêssemos ha-
bitualmente numa casa que gostamos, mais prática, mais aconchegante, mais cómoda e
que recupera a condição de jogo’.Assim,osautoresapresentamumconjuntoreferências
e pistas para o estudo da casa urbana, que seguem.
O‘Raumplan’deAdolfLoosmanifestadonacasaKhuner(1930)caracteriza-se
enquanto a construçãodeumvazio, em tornodoqual, Loos constrói bidimensional-
menteoutrosespaçosabertosparaovaziocentral,caracterizando-oscomopequenos
nichos. De modo diferente, Christopher Alexander sugere uma casa formada por ‘thick
walls’sobreasquaisoshabitantespoderiamirescavandodandooutradimensãoaoes-
paço da casa.
Uma das apreciações apresentadas e que maior impacto causou no estudo de
Fuertes,surgecomaseguintequestão:“oquefazeraosobjectosacumuladosaolongo
davida?”Estasurgecomoumaquestãopertinentenocontextodacasaactual,origi-
nandooconceitodearmazenamentoracional.Conceberespaçosatravésdeelementos
esistemasdestinadosaoarmazenamentoracional,permiteesvaziaroscompartimentos
da casa para o uso livre de cada habitante. Deste modo, os autores concebem a casa
comoumconjuntodeelementosdearmazenamentoeespaçoshabitáveis.
Atítulodeexemplo,osautoresanunciamacasaprópriadeJeanProuvé,Nancy,
1954.Nestaoarquitectorecorreauma“banda”de27metrosdearmazenamentode
diferentes usos, para conformar o limite norte da casa. O uso destes elementos leva facil-
menteàsuaconcepçãocomopartedeumsistemaestandardizadoquepermitepensá-
loscomouma‘parede-armário’,umaunidadeindissociável.
53 Fuertes, P.; Casa Collage
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Construir no Construído
Noâmbitodainfluênciadeprojectosnomododepensaracasaurbana,osautoresrefer-
emapropostadeAbalosyHerrerosparaoconcurso“HabitatgeeCiutat”,emBarcelona.
Oespaçodomésticoficadestemodovazioparaserutilizado.Umvazioquesepõeem
evidênciaaosugeriremqueascasassecolonizam,maisdoqueseocupam,nosentido
tradicionaldotermo,nãoatravésdecompartimentosquedelimitamoespaço,massim
unidades técnicas nómadas.
Retira-se,porfim,apropostados‘carromatos’,ondeacasaéconstituídacom
elementos fundamentais, definidos comonúcleosdearmazenamentoque libertamo
espaço, o ‘studio mobile’,umnúcleodetrabalhoautónomoea ‘charriotte à coucher’, o
núcleoparadormir,estesúltimoscomodoisespaçosmínimosondesedesenrolamac-
tividadesdaesferaíntima,privadaequepermitemcolonizarqualquerespaçodiáfano.
fig28.CasaKhunder,AdolfLoos
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10.1Referências
Noseguimentodasconclusõessobreacasadaarquitecturaanónimanacontem-
poraneidade,mencionam-seosmodelosdeflexibilidadedasHabitaçoesdeFokuoka,de
StevenHoll(1989-91)easpropostasdemoveisretrácteisdeAllanWexler(1991).
AsHabitaçõesdeFukuoka(1989-91)tornaram-seumemblemadacasatrans-
formável.Trata-sedaadaptaçãodoconceito japonês“fusuma”detransformabilidade
nahabitaçãocolectivacontemporânea.Osseus interioressãodefinidoscomtabiques
deslizantesquepermitemtantosepararcomouniroespaçoecriarespaçospolivalentes.
Numatipologiaépossiveltranformaroespaçodacasadodiaparaanoite,expandindoa
saladediaefechandoquartospelanoite.Outratipologiareflecteadaptabilidadeàtrans-
formação da família ao longo dos anos, podendo quartos ser adicionados ou subtraídos
ao espaço da casa 54.
“Nexus Housing (...) I did not want to design one, two and three
bedroom apartments; I wanted to generate a hinged space, a flex-
ible space able to change from one organization to another, o that
all 30 apartments could be different. ...” 55
54 GA architect55 S. Holl entrevista croquis
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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
Gp.29 HabitaçõesFofuoka;1989-91;S.Holl
29.a)Plantasdointerior
29.b)Imagemdointerior1
29.c)Imagemdointerior2
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ACasaContentor(CrateHouse;1991)dodesignerindustrialAllanWexler,revela-sede
carizmaisexperimentalenoentantomuitorepresentativadostemasdacasadaArqui-
tecturaAnónimaqueabordaosnúcleosfuncionaisseparadosdaestruturaemprolde
umespaçovazio.
“I divided the house into its parts. A bedroom, bathroom, kitchen
and living room each has a function that is isolated and studied.
Each is contained in it own crate on wheels. When a room such as
the the kitchen is needed, that crate is rolled through one of the
door openings...” 56
Wexlerconceptualizaacasanasactividadesbásicadedormir,comer,‘higiene’e
descansar.Estasactividadesãoreduzidasaartefactosrepresentativosdasnecessidades
edesejosdofinaldoséc.XX.Oquedefineacozinhaouoquedefineumquarto,quaisos
objectos que explicitam uma função, são questões abordades neste objecto criado por
Wexler.
56 AllanWexler;p42
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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
Gp.30 CasaContentor;1991;A.Wexler
30.a)“Contentor”
30.b)Organizaçãosegundoumnúcleocentral1
30.c)Organizaçãosegundoumnúcleocentral2
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30.d)Alçadodocontentorcozinha
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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
30.d)Alçadodocontentorcozinha 30.e)Alçadodocontentorsala
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Arquitectura Anónima | casa Construir no Construído
10. A casa sob a casa
As mudanças tipológicas da casa são uma consequência das transformações
sociaise tecnológicasoutorgandoumamaiorflexibilidadedoespaço interior, semhi-
erarquiasecompoucoscompartimentosfixos.Propondoumamaiordiversidadedeca-
sas possíveis, onde se pode viver e trabalhar, onde pode viver uma pessoa só ou uma
família, monoparental, tradicional, idosos ou diversas pessoas sem qualquer relação de
parentesco.Procura-seumacasacapazdeevoluirjuntamentecomosseushabitantes,
numespaçomultifuncionalemutável,quealterneentreacompartimentaçãodeespa-
çosindividuaiseopen-space’s.Paraumamaiorlibertaçãodoespaçoutildacasa,será
talvezagoraummomentoparacolocarempráticaasexperiênciassoviéticasedarcon-
tinuidadeasestudosdeoptimizaçãorealizadosentreosanos20e70doséculoXX.
Acasadaarquitecturaanónimaassentanaorigemdaestruturadecarizmedi-
evalqueseconfiguravaemespacialidadespolivalentes.Otempoquetrouxeconsigoas
questõesdahigienizaçãoesalubridade,asexperiênciasdaoptimizaçãoeeficáciadas
funções,impôsdirectrizesfrutodosvaloresburgueses,ondeacasaécondicionadapor
umasectorizaçãofuncional,dedivisãopúblico/privadoministradospela ‘distribuição’.
Reflectirsobreaconfiguraçãodacasadaarquitecturaanónimanacontemporaneidade
implicanecessariamentereflectirsobreosmodelosdeorganizaçãonocontextoactual
deummododevivermaispragmáticoemenos‘circunstancial’.
Nessesentido,nopanoramageraldostemasanteriormenteapresentados,con-
sideram-se para a casa da arquitectura anónima contemporânea, os seguintes príncip-
ios:
A-“casaconcha”:
Aideiadecasa‘concha’enquantoolugar,ninhoprotectordomundoexterior,
enquantoaespacialidadedointeriorseja‘mutável’consoanteasnecessidadesapresen-
tadas de individuo para individuo.
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B - Flexibilidade:
Acasadeveprovidenciarqualidadeeflexibilidade,vontadedeexperimentação,
adequação.Focando-senumaflexibilidadeoperativa,queseparaaestruturaexistente
dos novos componentes internos da intervenção.
C-NúcleosFuncionaisPrimários:
Para a adaptabilidade das estruturas novas e pré-existentes considera-se a li-
bertação do espaço interior da casa. Gerando maior liberdade de apropriação do
espçaopelohabitanteequesemanifestaatravésdaconstruçãodeumespaçovazioface
àposiçãoestratégicadenúcleosfuncionaisprimários.
D-NúcleosFuncionaisSecundários:
A possibilidadede várias opções deorganização, os elementos de armazena-
mentosesecundários,sugeremapersonalizaçãoeindividualizaçãodoespaçodacasa.
E-ExperiênciaMulti-sensorial:
-Umestudodoespaçoenquanto‘experiência’humana,retomaparaasnoções
abordadasnocapítulo I sobreoHomem,asexperiênciassensoriaiseapercepçãodo
espaço.
Destemodolançam-seaspistasparaodesenvolvimentodoprojectode“arqui-
tecturaanónima”naenvolventepróximadonovoMuseuNacionaldosCoches.
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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
Arquitectura Anónima | rua da Junqueira
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Fig.31 Re-inventarvínculos(fotografiaCharlesRayEames)
81
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
Para fechar o entendimento da arquitectura anónima, apresenta-se o que deu
origemàanáliseanteriormenteapresentadaapretextodaconstruçãodonovoMuseu
dos Coches.
Anovafiguraemconstrução–omuseu–revelaarealidadecruadaestruturaur-
banadefundo-aenvolvente-profundamentedescaracterizadaeenvelhecida.Revela-
-se uma envolvente anónima de que pouco ou nada se sabe, mas onde se reconhecem
padrões urbanos semelhantes aos padrões das estruturas da arquitectura anónima estu-
dados neste documento.
Oobjectivodesteestudo visa suportar a elaboraçãodeumprojectoonde se
propõe a consolidação da estrutura urbana envolvente para a sua leitura como um todo
comoum“fundo”.Apremissadeconstruircomomáximodojáconstruídoreflecteas-
simofundamentoparaoarranquedoprojecto.Estapropostaassume-seenquantouma
intervençãocirúrgicanarealidadeclaradolugar,retirandoomáximopartidodaestru-
turapré-existente,re-caracterizando-a,ecriandonovosvínlculoscomoshabitantesda
cidade.
Retoma-se o conceito benjaminiano de ‘atenção distraída ou distração atenta’
paravíncularapropostaqueprocura‘reactivar’pedaçosdacidadeantiga,projectando-
a na contemporaneidade. Com base na noção de percepção distraída, as intervenções
propõem-se integradas, discretas, algumas quase invisíveis ao olhar desatento, mas ex-
pressivasequereflectemtodoumgestorelacional.
ARQUITECTURAANÓNIMA | Rua da junqueira
57 Appleyard,1979p16
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Gp. 32.a)Maquete(MMBB)
Gp. 32.b)Fotomontagemcomenvolvente
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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
11.ANovafigura-MuseudosCoches
OMuseudosCochesque,desde1905,sesituanoedifíciodoantigoPicadeiro
Real,seráembrevetransferidoparaumnovoedifícioprojectadopeloarquitectoPaulo
MendesdaRocha.EstenovoprojectofaráfrentecomaAvenidadaÍndiaeaPraçaAfonso
deAlbuquerqueeaRuadaJunqueira,ocupandoolugardasAntigasOficinasdoInstituto
PortuguêsdeArqueologiaedoInstitutoPortuguêsdeMuseologia.Formalmente,onovo
museuéconstituídopordoisvolumeseumagrandepraça:
a) Umvolumeprincipal,quealbergaráacolecçãodecocheseoutroedificioanexo
comfunçõesadministrativas.Ovolumeprincipalmanifesta-seabstractamentecomoum
grandeparalelepípedo,suspensonoar.Noseuníveltérreoencontra-seaentradaparao
museu,aoficinapararestaurodoscocheseumaesplanadadefaceparaapraçaAfonso
de Albuquerque.
ANorte,fazendofrentecomaRuadaJunqueira,situa-seoanexo,quecontémos
járeferidosserviçosadministrativos,bemcomorestauranteeumauditório.Existiutam-
bém uma proposta um terceiro volume, o qual seria um silo automóvel, com capacidade
para400lugares,dooutroladodasavenidas,oqualnãodeveráserconstruíoemvirtude
dadeliberaçãodaCML.
Oprojectoapresenta-secomoumanotávelobradeengenharia.Asuaconstrução
combinaosvolumes,atravésdegrandestreliçasmetálicas,revestidaspeloexteriorcom
osistemade‘aquapanel’,decorbranca,assentesemfundaçõesdebetãoarmado.
Apósaleituradamemóriadescritivadoarquitecto(emanexo),definem-sedois
conceitosfundamentaisparaadefiniçãodoprojecto:
ApassagemaéreaquedácontinuidadeàCalçadadaAjudaatéaoRioTejoeo
conjuntodeedificaçõespreservadas,“ao longo da Rua da Junqueira confrontando aos
fundos com a área do Museu, antiga Rua Cais da Alfândega Velha , com grande encanto
para o lugar”
Apósumavisitaàobra(verrelatórioemanexo),compreende-sequeaimplanta-
çãodoMuseudosCochesassenta,sobretudo,numabasecadastral,sendoqueolimite
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dazonadeintervençãoédefinidopeladimensãoeconfiguraçãodolotemaisdoquepor
umalógicaglobaldeenquadramentodoedifíciopropostanaquele lugar.Surgindoas-
simoproblemadecomorelacionaroMuseudosCochescomasuaenvolventepróxima
(maisdoquecomalógicaurbanadaBelémMonumental).
O futuroMuseu dos Coches ocupa uma posição estratégica no que respeita
a resolvera integraçãodaCordoariaNacionalnoâmbito turísticodeBelém, jáqueo
mais longoemaisantigoexemplardearquitectura industrialpoucose relacionacom
adinâmica turísticadessazona.Nessesentido,oMuseudosCochesvemdar inicioà
monumentalizaçãodoladoorientaldaCalçadadaAjuda.(fig.32c))
Relativamenteaoenquadramentodonovoedifíciose,porumlado,arelaçãodo
comaAvenidadaÍndiaePraçadeBeléméclaraeinequívoca,assimcomoarelaçãopo-
tenciada para envolver a Cordoaria, por outro, a relação que se estabelece com a Rua da
Junqueiraémanifestamenteincompatívelcomoestatutodoedifícioecomoqueseria
desejávelemtermosdearticulaçãoecontinuidadeurbanas.(fig.32d))
Gp. 32.c)RelaçãomacrocomasdinâmicasdeBelém
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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
Esteproblemapodeserdecomposto:
a) Narelaçãoentreasescalas–omuseucontrastabrutalmentecomasconstruções
envolventes,fazendo-aspareceraindamenores,comoqueminiaturasdecasas;
b) Najustaposiçãovisualdasconstruções–aclaraapercepçãodafigura-fundo
deixadeoserquandoofundonãoseconstituicomoumaestruturadeclaroentendi-
mento.
Surge,assim,anecessidadedegarantirecriarrelações(deescala,deuso,de
imagem)quefuncionemparabenefíciomútuotantodoMuseudosCoches(a“figura”),
comodasuaenvolvente(o“fundo”),repensandoaformacomootecidourbanonazona
daRuadaJunqueiraeonovoMuseudosCochessevalorizammutuamente.Nessesen-
tido,aanálisequeseguefaráumasíntesedocontextoactualdaRuadaJunqueira,fo-
cando a envolvente imediata do futuro museu.
Gp. 32.d)Relaçãodirectacomaenvolvente
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ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
12.Ofundo-RuadaJunqueirapoente
Nestepontofaz-seumacontextualizaçãodaevoluçãodosítiodaJunqueirase-
gundoumabrevesíntesehistóricabemcomodoqueestánaorigemdasduasmorfo-
logiasurbanasqueconstituemosítiodaJunqueira.Deseguida,atravésdeummodelo
deanáliseempírico,observa-seoconjuntourbanoondeseconjecturamhipótesesde
transformação e adaptação do troço da rua.
12.1BrevesíntesehistóricadosítiodaJunqueira
ApesardositiodaJunqueiraremontaraopaleolíticosuperioreneolítico,saltar-
se-áumlargoperíododetempoeinícia-seadescriçãonaLisboaquinhentista,ondea
cidade que se estendia ao longo do rio para ocidente era repleta de quintas de veraneio
comos seuspomares, longos areais e onde seprojectava já a construçãodo grande
mosteiro(1501)edaTorredeBelém.
EmmeadosdoséculoXVII,paraseprotegeracidadedosataquesmarítimos,
construiu-seaolongodoareal(deLisboaàEriceira)umalinhadefortificaçãoabaluar-
tada,correspondendoosítiodaJunqueiraadoisdosvinteeoitofortes,fortesdeS.João
edeS.PedrodaJunqueira.
NoséculoXVII,afamíliaSaldanhavíncula--seaolugar,constituindo-seassimo
MorgadiodosSaldanha.AgranderesponsabilidadedaconstruçãodositiodaJunqueira
deve-se a esta família e ao outras famílias nobres que ali se instalaram durante os séculos
XVIIIeXIX.
DuranteosséculosXVIIIeXIX,aJunqueiraécenáriodediversasmutações,desta-
cando-seumacrescenteconstruçãodepalácios,aplantaçãodeumaalamedapública,
quefaziaopasseiointermédioentreascasas,tantodeveraneiocomoresidenciaiseo
areal das praias - “uma grande avenida, arborizada ao longo do Tejo”,dizMardel-eo
rompimentodaCalçadadaAjuda,comomeiodeligaçãodosterrenosreaisàJunqueirae
ao Rio.
“Enquanto as frentes palacianas de expressão urbana e erudita estruturavam a
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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
via pública principal, um conjunto de ruelas e travessas, com um casario simples, rasga-
va-se perpendicularmente à praia da Junqueira, tradicionalmente ligadas às actividades
piscatórias e ao movimento fluvial.” C. Mardel
AestreitaligaçãodestesítioaorioTejopersistiuatéaoiníciodaindustrialização
dazonaocidentaldacidade.ComfocoentreAlcântaraeBelém,oprimeiromomentoé
marcadopelaconstruçãodaCordoariaRégia,nosítiodoFortedeSãoJoãodaJunqueira,
em1771/78,oqueimpulsionouumaprogressivatransformaçãodecarizindustrialsóin-
terrompidapeloEstadoNovo,noâmbitodaExposiçãodoMundoPortuguês,em1940.
Atéao séculoXX, a grande transformaçãoda frente ribeiradá-se coma con-
strução do porto de Lisboa e a promoção do aterro que a distanciou umas centenas de
metrosdaantigamargemdorio,oquesucedeujánosfinaisdoséculoXIX.Possibilitou-
-se, assim,a construçãodaAvenidaMarginal,projectodoEng.DuartePacheco,bem
comoalinhaférreaocidental,estaúltimajánoiníciodeséculo.
ComaExposiçãodoMundoPortuguês, em1940,o cariz industrial começaa
retrocederemproldeumaprogressivaconsagraçãoculturaldazonadeBelém.
Asuatoponímiareferencia-seaoséculoXIV,ondesecrêqueexistiaummaciço
dejuncos,potenciadopelaexistênciadeterrenoshúmidos,frutodaságuasquesefixa-
vamjuntodafozdorioseco,ondehojesesituaochafariz.ComaconstruçãodaCordo-
aria Régia, esse terreno é aterrado, eliminando-se o juncal.
Emmododeconclusão,adiversidadearquitectónicahojeexistenteéoreflexo
dasváriasfunçõeseusosquesesobrepuseram:agrícola,religiosa,piscatória,balnear,
residencialnobre,indústrial,residencialoperáriaemilitar.ARuadaJunqueiraconforma
umeixolineardeligaçãoentreBelémeocentrodeLisboa,compostaporpaláciosepor
modestas habitações.
Fig. 33 A marginal da
CidadedeLisboa,1960
89
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
12.2DescriçãoMorfológicadaR.daJunqueira
AR.da Junqueiraéumaestruturaurbana linear,aqualocupaumaextensão
limitada a nascente pela Travessa do Conde da Ponte, a poente pela Calçada da Ajuda,
aNortepeloBairrodaAjudaeSantoAmaroeaSulpelazonamarginalaorio.Aruaas-
sume-se enquanto eixo estruturante da malha urbana, congregando uma grande diversi-
dadedeelementosformais.Estaécompostaporfrentesderuaprincipais,atravessadas
por ruelas perpendiculares ao eixo e ao rio.
Comaproximadamente2000metrosdecomprimentoeumalarguraquevaria
entreos10e30metros,aRuadaJunqueiradivide-seemduaszonas,asquaiscorrespon-
demaáreasdecrescimentodistintas,asaber(fig.34):
a) ‘Monumentalpalaciana’
CompreendidaentreaRua1ºdeMaioeo LargodoMarquêsdaAngeja,en-
contra-senestazonaumaarquitecturadecarizmonumentaleerudito.Aquihistorica-
menteconsolidaram-seospalácioseasquintasdeveraneio,tipicamenteestruturados
em grandes lotes, o que potenciou a formação de quarteirões de grandes dimensões. Os
espaçosverdesqueaquiseencontramsãojardinsdospalácios,reguladospeladimensão
delotespalacianos.Encontram-se,ainda,tipologiasdecasaunifamiliar,opaláciooua
quinta,edifíciosreligiososeinstitucionais.Realça-seaimplantaçãodaCordoariaRégia,a
qualintroduzumarupturanacontinuidadedoeixodaJunqueira.
b) ‘Urbanamodesta’
AzonasituadaentreolargodoMarquêsdeAngejaeaCalçadadaAjudatem
umcarizmaismodestodoqueaanterior.ARuadaJunqueiraapresentaaquiumafaceta
maisurbana,sendoconformadaporhabitaçõesdecaráctercolectivo,construídasprin-
cipalmentenosséculosXVIIIeXIX,enquantoestruturasdeapoioàproduçãoindustrial
episcatória.Contrastandocomosgrandesquarteirõesdefinidosnazonamonumental
daJunqueira,aquiencontra-seumloteamentodeparcelamenores.Osespaçosverdes
sãodedimensões reduzidas,manifestando-sesobrea formade logradouros,quintais
ereminiscênciasdeespaçosvazios.Astipologiasidentificadassãoacasaunifamiliar,a
habitaçãocolectiva,osarmazénsindustriaisemilitares,bemcomoumgrandenúmero
debarracões.Nestazonadestaca-seoquarteirãodefinidopela ruadoEmbaixador,o
qual, pela sua singularidade e homogeneidade, contrasta com o lado oposto da Rua da
Junqueira,esteper si heterogéneo e aparentemente degradado e obsoleto e em parte
devoluto.
90
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Por ironia ou não, a envolvente imediata do futuro museu dos coches, foco e gé-
nesedestetrabalho,apresenta-senocontextoemúltimomencionado,ouseja,otroço
finaldaruadaJunqueira,maisempobrecidoenuncadevidamenteconformado.Ocon-
juntourbanoqueseiráanalisardeseguida,apresentamodelos-tipodeconstruçõesmais
oumenoshumildes,abandonadasoutransformadaspelotempo,podendoafirmar-se
comoumconjuntourbanodescaracterizado,apresentandoalgunsvestígiosdoqueterá
sidoumdia.Aprópriatoponímiareflecteestaideia,v.g.RuadoCaisdaAlfandegaVelha,
Rua das Casas de Trabalho ou ainda Rua das Galeotas.
11.3Análisecríticadoestadodosedifícios
Nomomentoemqueselançouapremissadeprojectovínculou-sefortemente
a intervençãoaoconjuntourbanoexistente.Paraumrigorosoconhecimentodaárea
emestudoelaborou-seumaanálisedoconjuntourbanodaenvolventepróximadonovo
edifício,assentenummétododeregistofotográfico.
Ométodoenunciadoorganiza-seporgruposdeaproximaçãoaoedifícado,abor-
dando os seguintes temas:
-grupoA,frentedaR.daJunqueira;
-grupoB,confrontocomonovoedifíciodoMuseudosCoches;
- grupo C, espaços residuais e frentes de rua;
-grupoD,tipologias;
-grupoE,interiores;
- grupo F, materialidades e pormenores.
LargodoMarquêsdeAngeja
R.daJunqeira
‘Monumentalpalaciana’
‘Urbanamodesta’
fig.34Esquemamorfológicodosítio
91
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
Gp. 35
Análise fotografica da en-
volvente
A.a) R.da Junqueira,àdireitaoquarteirãodefinidopelaR.Embaixadoreàesquerda, o conjunto urbano em estudo.
A.b)FrentedaR.daJunqueiradoconjuntoemestudo.(vistaparcial)
A-FrentedaruadaJunqueira
92
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
B.a)ConfrontodevolumetriasgeraiscomoedifícioanexodoMC.
B.b)EstadoderuinaconfrontaanovaobradoMC.
B-ConfrontocomonovoedificiodoMuseudosCoches
93
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
B.c)VistadonovoMCporentreaenvolvente.
B.d)Confrontodemorfo-tipologiasexistentes.
94
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
C.a)TérmitodaRuadoCaisdaAlfandegaVelha,juntoàTravessahomónima.
C.b) EstadoactualdafrentederuadaRuadocaisdaAlfandegaVelha.
C-EspaçosesiduaisefrentesderuaAruaqueirácontornaredaracessodaR.daJunqueiraàparçadonovoedifícioéaR.doCaisdaAlfandegaVelha(R.CAV).EstaconformadaentreaTravessadoCaisdaAlfandegaVelha (Tv.CAV) e a Travessa da Pimenteira (Tv.P), surge comouma sucessãode espaçosresiduais.
95
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
C.c) DaTravessadoCaisdaAlfandegaVelha,afuturaaruaenvolventeterácontinuidadenestesentido.
C.d) Término da R.CAV, junto à Tv.P.
96
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
C.e)Umarealidadedetardoz.
C.f) ÚnicoedifícioexistentecomfrenteparaaRuadoCaisdaAlfandega.
97
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
D.a)nº307A,Armazémmilitar(vistaparcial)
D.b) nº307A,Fachadadomesmoarmazém(vistaparcial).
D - Tipologias
Apresentaçãodosedifíciosetipologias,vistosdaR.daJunqueira.
98
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
D.c)nº341,Tipologiadehabitaçãooperária,séc.XIX
D.d)nº329,Tipologiadehabitaçãooperária,séc.XIX.(devoluto)
99
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
D.e)nº317,Edifíciodahabitaçãocolectiva,de3trêsandares.
D.f)nº323,CentrodedocumentaçãoeInformaçãodoIAP.
100
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
E.a)nº317,Vistaparasuldointeriordo3ºandar.
E.b)nº317,Interiordacave,revelaaestruturadevigasembarrotesdema-deira.
E-Interiores
101
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
F.a)Pavimentoempedradebasalto.
F.b)Vegetação(amendoeira)
F-Materialidadesepormenores
102
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
F.c)Algunsedifíciosapresentamrevestiventoazulejular.Própriodoembeleza-mentodoromântismoportuguês.
F.d) Pormenor de uma fachada. Com paredes portantes de alvernaria mista.
103
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
F.e)CantariasemLioz
F.f) Janelasegradesdesacada.
104
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Combasenaanáliseefectuadaextraem-seasseguintesconclusões:
a)Estadodeconservaçãodoconjuntoedifícadoemfunçãodasestruturasindi-
viduais,osedifíciosestudadosapresentamumaestruturarudimentardeparedespor-
tantesemalvenariamistaevigasdemadeira.Nosedificiosquefoipossívelverointerior,
constatou-seque,regrageral,muitasmadeirasestavamnofimdoceuciclodevidae
provocamcedênciasemtodaaestrutura.
b)Oreconhecimentodosusosactuaispermiteumamaioraproximaçãoaolugar.
Destaca-seumadiversidadeprogramática.
Ruína
Degradação extrema
Degradação parcial
Bom estado
Barracões ou acrescentos sem qualidadepreservável
36. a) Estado de conserva-
ção
Habitaçãocolectiva
Habitaçãounifamiliar
Equipamento
Uso misto
Oficinas
Devoluto
36. b) Levantamento de
usos
105
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
c)DolevantamentodafrentederuadaR.daJunqueiraconstata-seumagrande
irregularidadequemarcaoconjunto,conferindo-lheumadesarticulaçãoenquantoum
todourbano,emboraestacaracterísticatambémconfiraàruaumritmoprópriopreva-
lecente.Esquemasdefachadapertencemfundamentalmenteamodelostardo-pombal-
inos, quando esta métrica se torna um modelo de construção popular.
Paradeterminaracçõesdeintervençãoemcadaedifíciotornou-sepreponder-
anteumreconhecimentodeaspectosqualitativosearquitectónicos.
d)Relativamenteaosrevestimentosdefachadamateriaisecores,destacam-se
quatroedifícioscujorevestimentoéfeitocomazulejo,própriodaintroduçãodoroman-
tismonaarquitecturaemPortugal,cujacoresnãofogemàbasedostradicionaisbrancos,
ocres e rosas.
Reboco pintado
Revestimentoazuleijar
36.d)revestimentos
36.c)Cérceas
106
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
e)Aáreadepesquisa,apresentaumconjuntodepormenoresarquitectónicos
de destaque, como elementos de mansarda, sacadas, cantarias, portadas de madeira,
elementos em ferro forjado, estes revelam a expressividade do lugar.
f)Paraconcluiraanalise,odiagramarepresentaapropostadeintervençãono
edificado,resultadodeumaapreciaçãoempíricadoestadodeconservaçãodoedificado
existenteetendoemcontaas‘qualidades’maisoumenosrelevantesdosmesmos,de-
terminandoumalinhadeacçãoparacadaedifício.
Janelasdemansardaousacada
Elementosemferroforjado
Platibanda
Portadas de madeira
Cantarias
36. e) Pormenores dedestaque
Demolir
Restaurar
Reconstruir / reabilitar
Nãointervir
36.f)propostadeacção
107
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
13. Descrição da proposta
Para dar resposta aos problemas anteriormente enunciados, da relação de escala
urbanaqueonovomuseuintroduz,coma‘Belémmonumental’edestacadamentecom
arelaçãoespecíficaqueestabelececomasuaenvolventepróxima,apropostacentra-se
notecidourbanoenvolvente,pretendendoreinventá-lonasuahistóriaemorfologiae
restituir-lhequalidadesvivenciais.
Focandoapropostaapartirdaescaladaarquitecturaurbana(descritaapartir
de12.2),elabora-seemparaleloumapropostaquepretenderesolveroenquadramento
daescalaurbanadeBelém(descrita12.1).
13.1. Plano urbano
O plano urbano é uma proposta elaborada juntamente com o aluno Gilberto
Pedrosa.Aproximidadedasintervençõeseumasemelhanteconceptualizaçãodaprob-
lematicaurbana,fezcomqueasduaspropostasseintegrassemnumúnicoplano.
Assimsendo,olocaldaintervençãoédefinidoaNortepelaRuadaJunqueira,
aSulpelaAvenidadaÍndia,aNascenteligaàCordoariaNacional,pelaR.daGaleotase
aPoentecircunscreveonovoedifíciodoMuseudosCoches,frenteàPraçaAfonsode
Albuquerque.(fig.37a))
Reconhecida a posição estratégica do novo museu dos coches enquanto uma
pontedeligaçãoàCordoariaNacional,propõe-sepelopresenteresolverauniãodosdois
pontos(MCeCordoaria)atravésdeumparque,quedácontinuidadeàfrenteribeirinha
destazonadacidadedeLisboa.(fig.37b))
37.a)lugar
108
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Ajunqueiracomoseucarácterlineardefinido,nasuagénese,pelamargemdo
rioestáhojeprofundamentealteradacomossucessivosaterroseafastamentosdeste,
conferindocertaperdadesentidodosítio,quesemanifestaemespaçosresiduaissoltos.
Emfacedoexposto,repropõe-seumsítiodaJunqueiraqueexpresseessestemposem
queoriolhetocavaeosjuncosrompiam,numreinventardasuamargem,resignificando
assimosespaçosperdidos.DosaltosmurosdomiradourodopalácioMarquêsdeAngeja
àsinclinadastravessasdaRuadoPimenteira,daRuadoCaisdaAlfandegaVelhaouda
RuadasGaleotas(porondeseembarcava)lançam-seaspistasparaapropostaurbana.
Nestesentido,apropostapretende(conceptualmente)‘reinventar’alinhana-
turaldamargemdo rioTejo segundoaspreexistênciasdo lugar (murodomiradouro
MarquêsdeAngeja)esegundoalinhare-interpretadapeloarquitectoPauloMendesda
Rocha(murodoMuseudosCoches)
Ummuroquedividedoisníveisdáacontinuidadeurbananaligaçãoàcotabaixa,
comespaçosnaturais‘verdes’eumacontinuidadedepatamaresemiradourosàcotada
RuadaJunqueira.Estadivisãoporníveisoriginaduasqualidadesdeespaçodistintas:
37.b)objectivo
37.c)conceito
37.f)proposta
37.e)cortedeconceito
109
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
a) -Umpercursonaturalizado-nosentidodedarcontinuidadeàfrenteribeirinha
verdejante, propõe-se na cota inferior o percurso num tom de parque urbano, atraindo
tanto os turistas de Belém como os habitantes do bairro. O desenho do percurso preo-
cupa-se com a criação de um ambiente de isolamento natural, protegido da velocidade,
poluiçãoambientalesonoradaAv.Marginal,pautadoporumjogodevistasparaoexte-
rior.
b) -Omuroeasucessãodepatamares-apropriando-sedospatamaresdeixados
peloníveldaruada Junqueira,consagram-sedo ‘outro’ ladodomuromiradourosde
contemplaçãodoriooudepermanênciasdistintas.Estepontodedelicadaimportância
revelaasuturadapropostacomtodaaenvolventeurbanaexistente.Acontinuidadedo
muro é pontualmente rasgada por níveis que se encontram e por acessos que estrate-
gicamentepontuammomentosdetransiçãodecotas,parafácil,seguraelivrecircula-
çãohumana.Omuropropostovemdarcontinuidadeaorecentementeconstruídopelas
obrasdoMuseudosCoches.
Apropostadepercursodeligaçãoépontuadapor‘folies’(referênciaaoprojecto
doparquedeLaVillette,deTschumi,Paris)quedãovidaeanimamolocal,taiscomo,
diferentesobjectosarquitectónicosmultifuncionais,quiosquesdealimentação,deleit-
ura,parquesinfantis,postosdeinformação,bares(quepotenciemumavidanocturnae
umaconvivênciajovem),sanitáriospúblicos,entreoutros.
Osmateriaisescolhidossãoreflexodoconceito inicialqueexplicitaamargem
natural,distinguindoaterraondeseconstruiuacidade,doarealqueoriobanhava,e
distinguindo-seaszonasmaisdensasdemaciços,dejuncosevegetaçãoautóctone.
Tenta-se resolver a questão do estacionamento do museu e do parqueamento
indevidodazona,propondoemcontrapartidaaoúltimoprojectoapresentadoparao
museu, um estacionamento subterrâneo para visitantes do museu e para moradores.
37.g)diagramadedeníveis
110
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
13.2.Propostadearquitecturaanónima
“(...) a imagem urbana é aqui entendida como um dos aspectos que contribui para
o processo de construção da identidade das cidades e núcleos históricos, estando
intimamente relacionado com o ambiente social e cultural de tais contextos. (...)”
Aproblemáticadestaescalafundamenta-senarelaçãoqueestabelecemanova
praçadomuseuearuatardoz(queaconforma).ARuadoCaisdaAlfandegaVelhaga-
nhaumnovoestatuto,comanovapraça.Nãoémaisumarualogradourodashumildes
habitaçõesquearodeiam,comosetornaránumcanalabsorventedanovadinâmicaque
provém(especula-se)donovoedifíciodomuseu.Estaruaconformaapraçadeumdos
mais importantesmuseusnacionais.Nesse sentido, a recuperaçãourbananecessária
a este pequeno conjunto urbano mostra-se estratégica na criação de novas dinâmicas
urbanas.
Problema:EstadoactualdaRuadoCaisdaAlfandegaVelhaeasuanovacondição.
Oobjectivodestaintervençãoémanterocarácterurbanodarua,escala,usos,
tipologias,qualificando-a.Istoé,muni-ladenovasferramentasebensconstruídos,ca-
pazesdeabarcarnovasfunções,qualificandoosacrescentosebarracõesdasconstruções
que permanecem, portanto, resolvendo os problemas analisados no capítulo 11.
A primeira acção de projecto reporta às construções preexistentes. Após a
definiçãodoscritériosquetêmemcontapadrõesurbanos,elementosarquitectónicos
demaior interesse, valor físico e económico, estado de degradação e obsolescência,
pode-se,então,definir,paracadasituação,otipodeintervençãonoedificadoedetermi-
narvaziosparanovasconstruções(aconformaçãoequalificaçãodarua).
lugar
Gp. 38Arquitectura AnónimaArq. Urbana
38.a)lugar
rua como arquitectura urbana
111
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
Ao longo de todo o processo de conformação da rua, pretendeu-se estabelecer
umacoerênciaformalnoconjuntourbanopreexistente.Procurou-se,desdecedo,uma
harmonia entre as formas urbanas existentes e criadas, estabelecendo-se o seu papel de
arquitecturaanónima,umfundoparaofuturoMuseudosCoches.
Para a nova rua recorre-se aos conhecimentos adquiridos sobre a forma ur-
bana, devidamente explanados no primeiro capítulo deste documento. Uma linha de
águaescreveocaminhodanovarua.Pormeiodepontuações,quepodemserárvores,
bebedourosousimplespoçosdeágua,alinhatraçadaentreapraçadonovoMuseudos
CocheseaR.daJunqueiraligaalargos,miradouros,pracetas,dandoqualidadesdistintas
a cada espaço da envolvente urbana.
?
~~
~~
~~
pontuação praceta miradouro caminhodepeões deflexão estreitamento largo pontuação
38. b) alteração do edificadopropostas
proposta
38.c)Axonometriadeconceitos
112
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Assim,ehipoteticamente,umindivíduonarraasuaprogressãonumpercurso
com inicio na praça do novo museu, revelando uma sucessão rica de espaços e modos
de o construir:
− Ao subir a rampa que me afasta da praça do museu dos coches, procuro um
café. No topo da rua entro numa loja (I), encontro ‘souvenirs’ para lembrança, agora fal-
ta encontrar um café, então tomo a direcção da rua adjacente ao muro que me permite
ver de onde vim (II). À minha frente e ainda na sombra do museu o caminho estreita-se
anunciando um clarão. Contornando o muro abrando o passo, posso ir-me embora e
virar para a Junqueira ou deter-me a contemplar o rio que é visível pela primeira vez (III).
Porque não continuar ali? Não corro para lugar nenhum e ainda procuro um lugar para
tomar um café. Continuo o caminho ao lado do muro, e lá está, encontro-o dentro de
uma ruína um quiosque, contorno a ruína para aceder ao quiosque, onde um pequeno
largo me acolhe e continuando a desfrutar da presença do Tejo me deixo ficar (IV) ...
(I) (II)
(III)
(IV)
percurso da nova rua
38. d) Ilustração esquema danarrativa
113
ArquitecturaAnónima|R.JunqueiraConstruir no Construído
(I) (II)
(III)
(IV)
Setodaaideiadearquitecturaéapermanência(exceptopressupostosespecífi-
cosquedeterminamocontrário)eseaarquitecturapermanecenoespaçomuitoalém
davidadeumhomem,talcomorefereBrand,avidadeumedifíciovaimuitoalémda
sua função inicial.Apropostadearquitecturaanónimaaquiapresentada formaliza-se
atravésdessadimensãotemporal,ondeaestruturafísicapermanece,masosseususos
vão sendo outros com sucessivas transformações.
Assim, na dimensão da arquitectura urbana, define-se também como uma
questãoprogramática.SegundoosensinamentosdeBrand,adistribuiçãodosprogramas
daarquitecturaéfeitaatravésdeumplaneamentodecenários.Oprincípioorientadoré
sempreomesmo,projectaredifícioscapazesdeseadaptaremadiferentessituações.
As intervençõesa realizarabordamgruposdecenárioshabitacionais, laborais
excepcionalmente,queseorganizamdeformaaresponderomaispossívelaosseuspro-
gramaspropostos.Estesorganizam-sesegundomorfo-tipologiasexistentesepropostas,
do seguinte modo:
1Casa -casauni;casaduo;hab.colectiva;casaeloja;loja;estúdio...
2Armazém -galeriascomerciais,complexosdeescritórios,lojas...
3Excepção -usosdiversos.
Assenteentãoopressupostofundamentaldequea‘casa’albergarámaisdoque
uma função ao longo da sua vida, e que cada construção se encontra num grupo morfo-
tipológicoquecontemplaasuatransformabilidade,elaborou-seumprogramaquepos-
sibilitadesenvolverapropostanumabaseoperativafixadetrabalhosegundo‘clientes’
imaginários.Esteprogramaespeculaqueodesenvolvimentodolugarsejainfluenciadao
pelonovoMuseudosCoches,pelaproximidadeauniversidadeseinstitutos,confrontan-
do o crescente envelhecimento populacional e sustentado pelo fenómeno de mobilidade
social jovem.
definindo o programa da arquitectura anónima
114
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Paraprojectarascasasdaarquitecturaanónimadefinem-seprincípiosglobais
que orientarão o desenvolvimento de cada projecto per si.
Oprincípioda‘casaconcha’define-seatravésdaestruturaenvolventequeen-
quadraoespaçointeriordoedifício,queporsuavezsecompreendedentrodoslimites
doloteurbano.Oenquadramentodoespaçodefineassimum‘espaçogenérico’dotado
decertograudeadaptabilidadeepolivalência.Este‘espaçogenérico’podeadquiriros
maisvariadossentidosdeuso,consoanteaintrodução,noespaço,demotores/objectos
‘chave’que,peranteasuacolocaçãodeummodo,maisoumenosambíguo,permitem
umapolivalênciamaior,dotandooespaçocomumaflexibilidadetantoactivacomopas-
siva.
Umfactorquesetomouemconsideraçãoéocrescimento/expansãodosedifí-
cios. Quer seja ocupando os quintais com anexos que, frequentemente, correspondem à
adiçãodeinstalaçõessanitáriasoudesimplescompartimentos,quersejaempequenas
esucessivasconstruçõesdeampliaçãovertical,o factoéqueestasconstruçõesestão
constantementesujeitasaacçõesdeintervençãoporpartedosseushabitantes.Nesse
sentido,propõe-semodelosdeanexosqualificadosequeregularizamafachadatardoz,
oferecendo uma leitura do conjunto urbano mais animada.
Assimsendo,admite-seporúltimoqueaconstantemutabilidadedeusosene-
cessidadesrequeridasàs‘casas’impõe-seaoprincipioda‘casa concha > espaço genérico
> motor chave’ criando um ciclo que permite uma constante transformação do espaço. A
introdução de diferentes motores permite a indução a mais e diferentes usos do mesmo
espaço,domesmoedifício.
39.Ciclodacasa
115
Construir no Construído
Noprocessodeprojecto,existiuummomentochaverelativamenteàintrodução
dosmotores.Apósaanálisedasmorfotipologiaseadefiniçãodepossíveisprogramas
sintetizou-seaintervençãoemdoistiposdistintosdemotores,istoé,paraosarmazéns
eparaashabitações(moradiaseprédios)doismotoreseramnecessários.
Para o armazém, que se manifesta essencialmente por grandes naves, era
necessárioumaestrutura soltaquesubdividisseoespaçoe incorporasse todaa rede
infraestrutural,comoelectricidade,águas,entreoutras.Propõe-se,assim,umaestrutura
metálica de juntas secas, que compartimenta e concedehabitabilidade ao espaço.O
fundamental para esta intervenção é a possibilidade destas estruturas poderem ser rapi-
damente/facilmentemontadasedesmontadas,possibilitandoassimqueosarmazéns
abandonados que se encontram espalhados por toda a cidade se transformem facil-
menteesurjamcomoespaçosimpulsionadoresdeactividadescriativas,económicasou
culturais.Estanoçãoestáassentenoprincípiodos‘clusterscriativos’.
Para as habitações - moradias e prédios de dimensões pequenas - o motor a in-
serirteráqueresolverascirculaçõesnointeriordoespaçodomésticoeconterasfunções
fundamentaisàvidadoméstica(espaçodeconfecçãodealimentos,instalaçõessanitar-
ias,condutaseespaçosdearrumos).Oesquemaqueseguemostraomotor‘k’,asfun-
ções que alberga e as relações que se estabelecem.
Desta ideia de motor que resolve o espaço da casa, sistematizaram-se três
posiçõesnoespaçogenérico.Sendocertoque,aaplicabilidadedecadaumédefinida
pela dimenção do espaço existente. Assim, e como o esquema que segue mostra, para as
moradiascomáreasmínimasummotorlongitudinalofereceomáximodeáreaútilaos
compartimentos,reduzindodesperdíciodeáreasemcirculação.Omotoremcolunaao
!!"#
"!$#
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100 50 25
1 1/2 1/4
k
I
I
II
I
III
II
VI
! 3 ! 3 ! 1
RELAÇÃO ENTRE 3 TIPOLOGIAS DE CASA E O MOTOR 'K'
MOTOR 'K'
" fogo - espaço de confecção de alimentos
# água - espaço de higiene
$ energia - infra-estrutura eléctrica
! ar - caixa de escadas (quando necessárias em moradias)
% objectos - espaços de arrumos
MOTOR NA DEFINIÇÃO DO ESPAÇO
CASA URBANA DA ARQUITECTURA ANÓNIMA
40. Intervenção
41.Motor
116
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
centro resolve o espaço da moradia de modo semelhante ao anterior, embora este pela
sua localizaçãocentralpossibilitaasub-divisãodoespaçogenéricoemdoiscomparti-
mentos.Porúltimo,eespecificamenteparaoscasosdosapartamentostradicionais,um
motor central resolve, também, a circulação no interior da habitação, oferecendo mais
umavezomáximopartidodeáreaútilaoscompartimentos.Estesporsuavezpodemser
apenasumgrande‘openspace’,sub-divididoaté4compartimentos.
Nocasodasmoradiasoestudodomotorfoi-setornandocadavezmaisinteres-
sante,nãosóporsetrabalharcomáreasmínimasdohabitar,comoporsetrataremde
moradias com uma estrutura que indica um modo de habitar diferente do convencional
dacasaurbana.AsmoradiasdaparteintervencionadanaRuadaJunqueiraapresentam-
se como um reinventar da estrutura medieval.
Para estas casas urbanas retoma-se a organização da casa urbanamedieval,
atravésdeumapremissadecompartimentospolivalentesnumaestratificaçãodeusos
vertical.Nopisotérreodefine-seumespaçocomumquecomunicacomospisossuperi-
oresecomopisoinferior.Estescaracterizam-secomoumasucessãodecompartimentos
comunicantes de usos indiferenciados, que tanto podem ser quartos de dormir, como
salas ou escritórios.
Emmododesintese,os interiores sãoconstituídoscombasenapremissado
‘vaziodebaixocontrole’, correspondendoaunidadesdeespaçoautónomasepoliva-
lentes,ondea introduçãodenúcleosdefuncionamentoprimárioconfereahabitabili-
dadeaoespaço.Estesnúcleosconstituemunidadesdeáreamínimaparaaconfecção
dealimentos,higieneecirculaçãovertical.Paraadefiniçãodecompartimentos,quando
!"#$%&'()*!#!)*!)+!
!"#$%&',&-.-
!"#$%&'#!""&$/
REVIVER A ESTRUTURA MEDIEVAL
Para a casa urbana proposta, retoma-se a organização espacial da casa urbana medieval. Numa premissa de
compartimentos polivalentes, propõe-se uma estratificação de usos vertical. No piso térreo define-se então, um espaço
comum que comunica com um ou os pisos superiores e com o piso inferior. Estes são uma sucessão de quartos/
espaços comunicantes de usos indiferenciados, que podem ser quartos de dormir, salas ou escritórios.
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I
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RELAÇÃO ENTRE 3 TIPOLOGIAS DE CASA E O MOTOR 'K'
MOTOR 'K'
" fogo - espaço de confecção de alimentos
# água - espaço de higiene
$ energia - infra-estrutura eléctrica
! ar - caixa de escadas (quando necessárias em moradias)
% objectos - espaços de arrumos
MOTOR NA DEFINIÇÃO DO ESPAÇO
CASA URBANA DA ARQUITECTURA ANÓNIMA
42.Motoredefiniçãodeespaço
43. Reinventar da estrutura me-dieval
117
Construir no Construído
necessária,recorre-seelementossecundários,osquaissãonúcleosmóveisdearrumo,
que possibilitam a transformação e adaptabilidade do espaço.
Entrecasasearmazénsdesenvolveram-se:
Casatipo1- Intervençãodereabilitaçãonastipologiasdehabitaçãooperária
pré-existentesnaRuadaJunqueira.Define-seumacasadedoisandares,comreaproveit-
amento da semi-cave e quintal, onde se desenvolve um piso independente com entrada
própriaparaaRuadoCaisdaAlfândegaVelha.Noprocessodereabilitaçãosãomantidas
ereforçadascomumaforradebetãoasfachadasviradasparaaRuadaJunqueiraeas
paredes lateraisàexepçãodaparededa fachadaSul,estadeestruturaportante terá
umdesenhodefachadanovoemdiálogocomasmoradiasvizinhas.Asmoradiasdesen-
volvem-seemtornodomotorqueporvezesseestendeparaoexterior,configurandoo
espaçodecozinha.(vernafig.40-A)
Casatipo1A-Combasenatipologiaapresentadanopontoanterior,estastrês
moradias projectam-se sob a mesma premissa da casa medieval, um nivel inferior inde-
pendentequecorresponderiaàoficina,aoniveldaRuadaJunqueiraolugardeconvívio
enosrestantesniveissuperioresoscompartimentosdedormir.Estasmoradiascriadas
apartirdoespaçodolotedefinidoecomprofundidadedeaproximadamentedoister-
E.LojaeRestaurante A-Moradias(existentes) A-Moradias(novas) B - Apartamentos C-Residênciadeestudantes F- Quiosque, dentro da ruína D - Complexo de empresas startup e coworking
44.Definiçãodoprograma
118
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
ços do total, constroem-se sobre uma estrutura de paredes portantes que oferece total
liberdade ao jogo do motor. O motor varia de piso para piso, oscilando em coluna entre a
posiçãolateralecentral.Resolvendopelasualocalizaçãoacirculaçãoeacompartimen-
taçãodacasa.(vernafig.40-A)
Casatipo2 -Refere-seà intervençãonumedifíciopré-existentedehabitação
colectiva,propondo-setrêsapartamentos.Cadaapartamentoorganiza-sesegundoum
grandenúcleofuncional,centraleatravessável.Emtornodestedesenvolve-setodoo
espaçodacasa,quepodeserumespaçoúnicoousubdivididoemcompartimentospo-
livalentes.(vernafig.40-B)
Emambosostiposdecasaprocurou-sedestacarmaterialmenteaspartescon-
stituintesdoconceito,jáparaa‘concha’enalteceram-seasestruturasdeparedespor-
tantes. No caso das construções existentes mantiveram-se as paredes de alvernaria
mista, no caso das novas moradias optou-se por paredes portantes de betão armado.
Quantoao‘motor’,estefoipensadocomosedeumobjectosoltosetratasse,optando-
seporumaestuturademadeira.OalçadoqueconfrontaaPraçadonovoMuseudos
Coches foi redesenhado, procurando inserir elementos da arquitectura popular, como
por exemplo as janelas de sacada, mansardas e os proclamados anexos no quintal, até
mesmoorevestimentoazulejar(AzulejoLastracoreslisasdaViúvaLamego).Emrelação
àcor,procura-seatravésdestaumaunidadeurbanaatravésdodesenhoedosarquétipos
utilizados,peloqueacorempregueemcadacasamanifestaasuaindividualidade,pro-
curando mostrar um pouco do que é a complexidade deste tecido urbano. Para as casas
maispequenaséatribuidaumacormaisintensa(tonsdevermelhos),paraasmaiores
coresmaissuaves(tonsdeverdeeazul).
45.Intervençãotiponacasa
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Construir no Construído
Armazémtipo1-Amorfo-tipologiadoedifícioconfereantesdemaisumacon-
tinuidadeformalaoedifícioaqueseencosta.Propõe-separaesteespaçoumaresidên-
ciadeestudantes,organizadaemsectoresdenúcleosprimários,secundáriosequartos.
(vernafig.40-C)
Armazémtipo 2 - Propõe-se a “invasão” da estrutura existente por um com-
plexodeempresasstartupeco-working.Comoasuanaturezaindica,estasempresasde
carácterefémerosãoexemplosdemodosdehabitardeestruturassub-aproveitadasda
cidade.Propõe-se,então,umasub-estruturadesmontávelqueorganizaesub-divideo
espaço(vernafig.40-D)
Armazémtipo3-esteconfiguraotopopoentedaintervenção,projectandoum
restauranteeumaloja.(vernafig.40-E)
Emtodasasintervençõesassentesnatipologiadearmazém,explorou-seuma
maiorexpressividadeplástica.Apartirdecadaumadestasintervençõestirou-separti-
do da sua maior liberdade formal de modo a resolver questões do desenho urbano.
Destemodo,aescolhadecriarumarmazém‘C’emvezdeoutratipologia,defende-se
porvirsuportaredarsentidourbanoaoarmazém‘D’ jáexistenteno lugar.Estessão
construçõesdebetãorebocadodebranco,comcoberturadezinco,eoseu interioré
definidoatravésdeumasub-estruturadeaçotubularlacadodebranco,ospavimentose
paredesdivisóriascriadasporessaestruturamóvelsãoderevestimentodepranchasde
madeira ou mesmo OSB.
Quiosque-ExcepçãoquevisapontuaropercursodanovaRuadoCaisdaAlfan-
degaVelha.Aintervençãonaruínaquepermanecenapropostaproporcionaumambi-
entedemaiorintímidade,umquiosqueparausufrutodavizinhança.(vernafig.40-F)
Abuscade‘uma’casadaarquitecturaanónima,mostrou-sesobaformademo-
radiasdíspares,prédiospequenosegrandes,armazéns,garagens.Enfim,todasasoutras
pequenasconstruçõesqueconstítuemacidadealémdasgrandesconstruçõesinstitu-
cionais.Oprojectofoi-setornandocadavezmaiscomplexoàmedidaquenovoscasos
surgiam,tornandooobjectivodemanterumaunidadeurbananumabatalhadifícilde
travar. Cada caso é um caso e a unidade que se procura não se encontra imediatamente
nas formas arquitectónicas, mas num trabalho posterior através dos modos de intervir e
nodetalhe,tantodosacabamentosexteriorescomonadefiniçãodosinteriores.
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Construir no Construído
14. Conclusão
Otermo‘arquitecturaanónima’surgenoiníciodesteestudocomoumtemapor
desvendar.SobreestetínhamosapenasalgumaspistaslançadasporSizasobreasmúlti-
plas construções anónimas de Lisboa, como que formando uma imagem de cidade que
se podia procurar, mas pouco mais.
Os primeiros passos foramaram-se numa incessante busca de exemplos na ci-
dadequecomprovassemaexistênciadessaestruturaenunciada.Foinasestruturasur-
banasmaisantigasdacidadequeencontrámosoconfrontodasmúltiplascontruções
comosconventos,igrejasepálacios,específicasdeumtempodeconstruçãoedeuma
topografia própria. Estas estruturas, que se revelam nos bairros populares cujo cariz
maioritariamentehabitacional(doméstico),estãohojeenvelhecidaseoseuabandono,
ondetodaavidapopularacontecia,agravacrescentementearealidadedacidade.Neste
momento, havíamos circunscrito os limites da arquirtectura anónima.
Apósestaprimeiraabordagemàarquitecturaanónimadá-seinícioaduaslinhas
de estudo, uma que se debruça sobre as questões urbanas da rua e outra que procura
soluçõesparaahabitabilidadedascasasqueaconstítuem.Depoisdeumbreveestudo
da evolução da espacialidade da casa e das necessidades actuais requeridas à casa com-
preendeu-sequeseformouum‘gap’entreasestruturasantigasdacidadeeasmodernas
necessidadesdohabitar.Nofossoqueseformou,entreasantigasestruturaseasactuais
necessidadesdohabitar,nasceumaáreadeinteressearquitectónico.Comoresolvere
reintegrar estes bairros na vida da cidade?
Para dar resposta a esta questão, para repropor estas estruturas urbanas como
lugares de excelência da habitação, procuraram-se novosmodelos de habitabilidade
quefossemeficazesepragmáticosdentrodos limites impostos,apoiando-setambém
nadisciplinadaarquitecturaurbana,queprocuraresolverasquestõesdavivênciada
rua,daacessibilidade,dasuapercepçãoedoseusignificado,focando-senaresolução
dequestõespontuais,decoerênciaecontinuidadeurbana.Comoumadisciplinadocon-
struirnoconstruído,aproblemáticaenglobadesdeodesenhodaruaaointeriordoedi-
ficado.
Conclusão
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Aarquitecturaanónimanasce,então,nestetrabalho,comoumtermoespecífico
da estrutura urbana dos bairros populares que se desenvolveram nas colinas de Lisboa -
a arquitectura anónima na cidade-e,revela-se,também,comoummodocríticodeagir
sobre a cidade na sua contemporaneidade - a rua e a casa da arquitectura anónima.
Esteéumtrabalhoquesevínculaàdiscusãodacidadeexistenteeaotemado
construirnoconstruido.Nãoseencontramrespostas,masantesmaisdúvidas.Nãose
encontra uma solução, mas antes um vasto leque de soluções. À medida que o estudo
avançava, mais vasto e complexo se mostrava. A arquitectura anónima não se esgota,
nãoéumtemasó,éumtemadacidadee,comoela,inesgotável.Conclui-oestetrabalho
compoucascertezasemuitasdúvidas,masesperoquecontribuaparaadiscusãodos
temas da cidade existente e de como nela agir.
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Construir no Construído
Bibliografia
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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
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Construir no Construído Bibliografia
15.Bibliografia
15.1Bibliografiageral
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SIZA,Álvaro;A Reconstrução Do Chiado – Lisboa:LivrariaFigueirinhas,Lisboa:2000 SIZA,Álvaro;Imaginar a Evidência: Edições70,Lisboa:1998
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ZUMTHOR,Peter;Atmospheres,Birkhauser:PublishersforArchitecture,Basileia:2006.
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Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
15.3BibliografiaEspecífica-ArquitecturaAnónima|casa
ARENGA,Nuno;O Saguão na Habitação Urbana: O interior da casa em torno de um vazio vertical nuclear;
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IHRU-HTTP://WWW.PORTALDAHABITACAO.PT/PT/IHRU/
SIPA-HTTP://WWW.MONUMENTOS.PT/SITE/APP_PAGESUSER/DEFAULT.ASPX
HTTP://WWW.MONUMENTOS.PT/SITE/APP_PAGESUSER/SIPASEARCH.ASPX?ID=0C69A68C-2A18-4788-9300-11FF2619A4D2
abarrigadeumarquitecto.blogspot.com/2009/03/novo-museu-nacional-dos-coches.html-27.02.2011
www.oasrs.org/coneudo/agenda/noticias-detalhe.aps?noticia=1408-27.02.2011
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Construir no Construído
14 584 palavras
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Construir no Construído
ANEXOS
MemóriadescritivadoMC
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APRESENTAÇÃOSUMÁRIADOPROJETONOVOMUSEUNACIONALDOSCOCHESLISBOA-BELÉM
UmprojetoparaasnovasinstalaçõesdoMuseudosCocheslevanta,primordialmenteparaaarquitetura,duasquestõesbásicas.DoladodaMuseologia,umcritériobásicoparaaexposiçãodonotávelpatrimônio;doladodoUrbanismo,aimplantaçãonorecintomonumental,amparadanoprojetogovernamental“BelémRedescoberta”.
NaMuseologia,oprojetoadotaumcritériocentradonaidéiadapreservaçãodefinitiva,parasempre,dotesouro guardado e a um só tempo visitado. Considerada a visita sob todas as formas possíveis de des-dobramentos quanto à memória histórica, enquanto construção intelectual no tempo. Arte e técnica em constanteandamento.ExposiçõeseOficinas,cenárioscambiáveis.Someimagensvirtuaisassociadasaosartefatos originais.
NoUrbanismo,umadisposiçãoespacialempenhadanaintegridadedorecinto,principalmentenocamin-hardapopulaçãoturísticajápresenteecertamenteampliadacomanovavitalidadequesurge.
Édesenotaraqui,doiseventos:apassagemaéreadepedestrespresumida,naseqüênciadaCalçadadaAjudaatéosjardinsjuntoaoTejo,noancoradouro(transpondoAv.Índia,Av.Brasília,ferrocarril)eocon-juntodeedificaçõespreservadas(BelémRedescoberta),aolongodaR.JunqueiraconfrontandoaosfundoscomaáreadoMuseu,antigaR.CaisdaAlfândegaVelha,comgrandeencantoparao
lugar.Estimulaainiciativadopequenocomerciolocaleparticular.SãoestasasraízesdoProjetoqueagora,junto aos desenhos e imagens de modelo estamos apresentando.
Nãosetratadesubestimaroprogramaestabelecidocomtodassuasfunçõeseáreasdeterminadas,bemcomooshorizontesdaverbadestinadaparaoempreendimento.Estessãodados,digamos,inquestion-áveis. Comosevê,aconstruçãoestápropostademododual,pavilhãoprincipal,navesuspensaparaasex-posições e um anexo com recepção, administração, restaurante, auditório e amparando estrategicamente a tomada,emrampas,paraapassagempublicadepedestresatéoTejo.Estapeculiardisposiçãoespacialcriaumpórticocomaligaçãoaéreaentreosdoisedifíciosdeentradaparaapequenapraçainterna,umlargo,paraondesevoltam,(umanovafrente)asconstruçõespreservadasnaR.Junqueiraagoraabertasparaorecintonaforma,eventualmente,depequenoscafés,livrarias...noqueeraaR.CaisAlfândegaVelha,interessante recomposição da mesma coisa. Seria de se notar, as cotas destes espaços e sua interlocução nadinâmicadospassantes,pordentroeporforadoqueé,natotalidade,oMuseuenquantoumlugarpúblico.Rigorosamenteprotegidoeimprevisivelmenteaberto. Adotou-se, além das escadas de segurança exigidas por lei, todo o acesso feito através de elevadores espe-ciais,hidráulicos,queasseguramcontroledacapacidadedosespaçosexpositivos.FoidadaênfaseespecialàpartedesegurançaeàdoconfortoeapoioaosfuncionáriosdoMuseu.Paraascrianças,ficareservadaáreaespecialnaesplanadatérreadoMuseucomumjardimnafachadalesteejuntoaopavilhãodeacessodosvisitantesàsexposições.NafaceopostavoltadaparaapraçaAfonsoAlbuquerque,namesmaesplanadapúblicatérrea,ficaumagrandecantinacomcaráterpopular,abertaecommesastambémnascalçadas.
Gostaríamos ainda que fosse notada a ligação aérea entre o recinto das exposições e a administração. ComumavistaparaoTejo.Muitoútilparaosserviçosemgeral,paraapolíticadesegurança.Easamplasvisuais,doRestauranteelevado,paraoladodoAtlântico,dosJerônimos,daAdministraçãovoltadaparaoEstuário,paraolargointerno,osjardinsdoMuseu.
Aconstruçãoficadefinidapeloafloramentodasfundaçõesemconcretoarmado,comrelativaconcentra-çãodecargascomorecomendamascondiçõesdosolo,ondeseapóiamastreliçasmetálicasrevestidas,configurandoasgrandesparedesdoMuseu.
Paraosestacionamentosexcluímosasoluçãosubterrânea,devidoàságuasdesubsolo,drenagemda
MemóriadescritivadoMC
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esplanadaemovimentaçãodeterrascomparcoaproveitamentofinaleprejuízodatranqüilidadedorecinto. Sugerimos o estacionamento elevado proposto junto às barcas, com capacidade para 400 veículos epequenaocupaçãonoterritório.Quepoderiaaindaserrepetidooportunamenteenquantoprotótiponoprojeto Belém Redescoberta.
O exame dos desenhos e modelo podem esclarecer melhor estas breves notas.
SãoPaulo,28demaiode2008
PauloMendesdaRocha
Relatório da visita à obra com Ricardo Bak Gordon (23 de Março, 2011)
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A visita à obra das futuras instalações do Museu Nacional dos Coches, decorreu
na manhã do dia 23 de Março, 2011. No âmbito do trabalho final do MIARQ da
FAUTL, os alunos do prof. Nuno Mateus visitaram a obra acompanhados com o
arquitecto representante da obra em Portugual, Ricardo Bak Gordon(RBG).
Os trabalhos finais do MIARQ intervirão no terreno onde a actual obra se en-
contra, por isso, a visita constitui uma aprendizagem in loco contribuindo com
um contacto real da acção transformativa do terreno.
A presente análise é feita através da descrição do complexo feita pelo arqui-
tecto e assenta num método de registo fotográfico.
As citações apresentadas surgiram no decorrer de uma conversa informal en-
tre o arquitecto e os estudantes.
O registo aborda a obra em grupos temáticos:
g.1 compreensão da volumetria;
g.2 acesso ao edifício;
g.3 relações de interior/exterior;
g.4 apontamentos de estrutura e materialidades;
g.5 o muro - e a relação com a envolvente;
g.6 panoramica quebrada das volumetrias gerais
Relatório da visita à obra com Ricardo Bak Gordon (23 de Março, 2011)
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g.1.a Relação volumétrica entre os dois corpos.Vista do interior do complexo.
g.1.b Volumes e distinção da materialidade. Vista do exterior.
RBG (...) duas construções fundamentais, o pavilhão de exposições e um edifícios
anexo. Ambos em diálogo intímo sobre um térreo infinito que comunica com
toda a periferia, das maneiras mais variadas. Ora aberto sobre a Praça Afonso
de Albuquerque, ou delicadamente cosido ao casario da Rua da Junqueira.(...)
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g.2.a Acessos do casario e vista para o acesso à praça. Vista de Nascente.
g.2.b Acesso em rampa, vista de Poente.
O acesso ao museu é feito directamente pela Praça Afonso de Albuquerque e
por rasgos pontuais no muro que contorna o casario existente e que dá acesso
à R. da Junqueira.
Relatório da visita à obra com Ricardo Bak Gordon (23 de Março, 2011)
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O edifício estabelece relações distintas com a envolvente que se encontra em
diferentes níveis. Apresentam-se as relações que o edifício estabelece num ol-
har centrífugo.
g.3.a Vista do anexo para Norte/Poente.
g.3.b Vista do anexo para a R. Junqueira Norte/Nascente.
Relatório da visita à obra com Ricardo Bak Gordon (23 de Março, 2011)
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g.3.c Vista para Praça Afonso de Albuquerque, a Poente (assim que levantado o estaleiro).
g.3.d Vista para Sul, com en-quadramento da Central Tejo.
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RBG. (...) um diálogo muito íntimo e muito original. Construtivamnte são con-
struções de matérias
diferentes um em estrutura metálica e outro em estrutura de betão (...)
g.4.a Pormenor de estrutura
g.4.b Treliças metálicas assentes em fundações de betão.
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A obra constitui-se com duas materialidades distintas. Estrutura metélica para
o pavilhão de exposições e estrutura de betão armado para o edificio anexo.
g.4.c Aspecto da materialidade do edifício anexo.
g.4.d Textura do muro que con-torna a praça do museu. Betção com acabamento jacteado.
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RBG. (...) a envolvente pré-existente é um dado do conceito, mostra-se intencio-
nalmente a realidade das casas, das cuecas a secar e essas coisas assim (...) os
vários acessos actuam como poros (...)
g.5.a Confronto com a frente de rua da R. da Junqueira.
g.5.b Volume que articula a R. da Junqueira e com o novo per-curso. Rua do Cais da Alfandega Velha.
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g.5.c Aspecto geral da envol-vente.
g.5.d Aproximação.
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RBG. (...) espera-se que com o tempo o novo edifício in-fluencie a mutação do lugar (...)
g.6.a Vista Nascente
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g.6.b Vista Sul
g.6.c Vista Poente
Processo de projecto
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Processo de projecto
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Repensar a envolvente do novo do Museu dos Coches
Processo de projecto
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Programa e estratégia global
Processo de projecto
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