Post on 13-Dec-2018
ÁREA TEMÁTICA: Cidades, Campos e Territórios
COVILHÃ E CIDADES ALPINAS: O CONTRIBUTO DA PAISAGEM PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA
MATOS, Maria João
Doutoramento em Arquitectura,
CIAUD-FA-UTL / LABART-DARQ-ULHT
marjmatos@gmail.com
VAZ, Domingos
Doutoramento em Sociologia,
UBI / CESNOVA
dmvaz@sapo.pt
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Palavras-chave: Imagem de marca; Cidades de Montanha; Morfologia Urbana; Paisagem; Sustentabilidade
Keywords: Brand Image; Mountain Cities; Urban Morphology; Landscape; Sustainability.
PAP0665
Resumo
A cidade da Covilhã destaca-se como caso de estudo de particular interesse no actual contexto de
competitividade entre cidades. Detém um perfil singular de cidade de montanha associada a uma
tradição industrial, sendo que os efeitos da industrialização se revelam numa paisagem urbana
particular e em fortes marcas identitárias.
Na época contemporânea, a função universitária torna-se o principal activo, moldando um perfil
urbano tendencialmente mais cosmopolita. Dos pontos de vista urbanístico, arquitectónico e
paisagístico, muitas das transformações associadas à Universidade foram significativas. Também a
implementação do programa Polis veio reconfigurar a imagem da cidade.
A reaproximação da cidade relativamente ao espaço natural como elemento simbólico e identitário
tem potencial para singularizar a cidade. Poderia ser acolhida por uma cultura de planeamento que
recuperasse o carácter singular da cidade em simbiose com a montanha, e bem assim, a noção cultural
e simbólica do valor da paisagem, gerando uma nova ideia de cidade, seguindo a linha de algumas
transformações já operadas. A reconversão urbanística consideraria uma identificação com a
montanha, assumindo diferentes frentes (simbólicas, ambientais, paisagísticas e económicas), em
analogia com a lógica já adoptada por outras cidades de montanha alpinas.
Com base nestas premissas, poderia então elaborar-se um projecto de cidade assente na tolerância e na
participação, enquadrado pelos valores da sustentabilidade.
Abstract
The city of Covilhã appears as a case study of particular interest in the current context of
competitiveness among cities. It holds a singular profile of mountain city together with a strong
industrial tradition, whose effects are visible in an unique urban landscape and in the particular
identity aspects.
In contemporary time, the university function becomes the most significant, shaping the urban profile,
which becomes more cosmopolitan. From the urban, architectural and landscape point of views, many
of the transformations associated to the University were considerable.
The approach of the city to the natural space as a symbolic and identity element has the potential to
single out the city. A culture of urban planning, recovering the singular character of the city in
symbiosis with the mountain, as well as the notion of the cultural and symbolic value of landscape,
generating a new idea of city, following the logic of some previews transformations. Urban
regeneration would involve the identification with the mountain, taking different approaches
(symbolic, environmental, landscape and economic) establishing an analogy with the logic already
adopted by other mountain cities in the Alps.
Based on these premises, a project for the city, founded on tolerance and civic participation, could be
elaborated taking into considering the values of sustainability.
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1. Introdução
No contexto europeu das últimas décadas - o de uma sociedade pós-industrial - as cidades tendem
progressiva e rapidamente para um modelo de configuração territorial sem limites claros e sem uma
morfologia específica que as diferencie entre si (Ascher, 1995; Augé, 1992). No entanto, a estruturação do
território urbano, associável à ideia de cidade herdada do passado (como área densamente construída, com a
sua morfologia própria, os seus monumentos e limites precisos) ainda constitui uma referência essencial para
a identificação dos homens com o lugar. Por sua vez, os laços identitários e sociais estabelecidos entre os
lugares da cidade e os que a habitam promovem a participação cívica tendente à qualificação dos espaços
públicos, aspecto indispensável à qualidade de vida urbana e ao desenvolvimento sustentável. Passa por aqui
a preservação das memórias da cidade, através da valorização do património construído caracterizador da sua
identidade e da sua imagem de marca, projectada para o exterior. Imagem esta que se revela central face à
incontornável competitividade entre cidades no contexto global.
Perante este cenário, a cidade da Covilhã destaca-se como caso de estudo de particular interesse. No quadro
das cidades portuguesas intermédias, detém um perfil singular de cidade de montanha, com uma significativa
tradição industrial. Na morfologia e na paisagem urbana, os efeitos da industrialização, que perdurou até aos
anos oitenta do século XX, ainda se fazem sentir muito expressivamente, constituindo, junto com outros
vestígios, um palimpsesto urbano único que marca a identidade da Covilhã. Hoje esta cidade encontra-se
espacial, económica e socialmente estruturada em grande medida em função da Universidade da Beira
Interior (UBI). Às marcas construídas e sociais, acrescenta-se a importância do suporte territorial onde a
cidade existe: a montanha. Inevitavelmente, enquanto objecto, é uma presença constante na paisagem urbana
e vai exercer uma marca indelével na morfologia urbana, reforçando o carácter singular do sítio e
influenciando fortemente as interacções entre o meio urbano e o meio natural.
Estamos conscientes que a problemática relativa à morfologia urbana pode ser abordada segundo diferentes
perspectivas como postula Lévy (2005, p. 25): “la réalité urbaine a des formes diverses et des sens
multiples”, na senda de Ledrut (1984). No presente texto decidimos privilegiar a dimensão paisagística.
Neste quadro, as cidades de montanha1 alpinas surgem como referência no sentido em que, na generalidade
dos casos e de forma pioneira no contexto das montanhas europeias, a importância do meio montanhesco,
englobando a paisagem, estabelece uma plataforma fundamental para a qualidade de vida, para a
identificação dos habitantes com o lugar, para a elaboração de uma imagem de marca e ainda como base de
um desenvolvimento urbano sustentável.
Embora se registem diferenças óbvias em relação ao contexto serrano da Covilhã – a dimensão, a localização
em relação ao espaço europeu, a economia, as sociedades, as culturas – emergem várias situações
comparáveis entre si nas duas áreas geográficas, podendo o estudo dos casos alpinos inspirar boas práticas
para intervir no espaço urbano da Covilhã e contribuir para formular uma ideia de cidade em harmonia com
o seu território.
2.Morfologia urbana e sustentabilidade
A emergência de um novo tipo de configuração urbana, de difícil apreensão para os que a estudam e sobre
ela intervêm, leva Ferrão (2003) a sugerir a adopção de uma visão holística, composta de três vectores
complementares como ferramentas essenciais para entender a cidade de hoje e nela intervir. O primeiro
aspecto a ter em conta seria o sítio que a cidade ocupa, o segundo constaria das diferentes redes que a cidade
comporta e, finalmente importaria considerar o espírito cosmopolita intrínseco à urbanidade. Ferrão defende
ainda, a par com a democracia e a abertura, o valor da “paisagem global”, a face visível da cidade, abarcando
todos os três vectores e revelando o estado de “saúde” do organismo complexo que ela é.
Assim sendo, ao sítio, ou à “cidade morfológica” (Ferrão, 2003), associamos a paisagem urbana, como
concretização dos elementos constituintes do sítio (topografia, morfologia urbana, arquitectura, pontos
notáveis, seres humanos, animais, vegetação, luz, cor), apreendida pelos sentidos e chave mestra para o
decifrar da identidade de cada cidade. Na verdade, na Europa, a importância da paisagem associada à
identidade urbana - bem como a noções como a qualidade de vida e a sustentabilidade -, tem ganho
protagonismo à medida que se tornam difusos os limites urbanos e que as cidades se tornam cada vez mais
parecidas entre si. A adopção da Convenção Europeia da Paisagem (Conseil de l’Europe, 2000), que abrange
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as paisagens urbanas, surge como indicador da valorização crescente da paisagem num sentido lato e como
veículo de construção de uma identidade europeia. Mais concretamente, no âmbito da organização dos
espaços urbanos, destacamos o trabalho de Sampieri (2008), que demonstra a tendência para o uso crescente
da paisagem como instrumento operativo de intervenção urbana.
Nas cidades em zonas montanhosas a topografia constitui um elemento essencial na configuração do seu
espaço, condicionando a evolução da morfologia urbana. Também a constante visibilidade da montanha,
muitas vezes propositadamente enquadrada na paisagem urbana através de intervenções específicas, vai
marcar a imagem destes aglomerados. Outro aspecto tem sido enfatizado, reforçando a relação da cidade
com o meio natural: as vistas de pontos altos da montanha em direcção à cidade, vistas estas que,
frequentemente, no caso das cidades alpinas, são promovidas por meio de instrumentos de planeamento da
paisagem e de ligações físicas entre a cidade e a montanha. O caso de Merano, cidade situada actualmente
nos Alpes italianos, de perfil turístico-termal desde o século XVI, constitui um caso paradigmático de uma
fusão morfológica e paisagística entre a cidade e o meio natural envolvente, planeada ao longo de séculos.
Ainda relativamente à organização espacial das cidades, no contexto alpino, tem vindo a ser defendida a
constituição de sistemas urbanos regionais polinucleares, bem como a densificação das áreas urbanizadas,
funcionalmente diversificadas, evitando-se assim a dispersão urbana descontrolada. A província austríaca do
Vorarlberg é exemplar neste domínio (Matos, 2011).
O caso paradigmático e pioneiro das cidades alpinas destaca-se igualmente no campo do segundo vector
referido por Ferrão (2003): as redes. Nos Alpes, tanto as redes físicas – de mobilidade e comunicação - como
as redes sociais constituem bases sólidas para o desenvolvimento sustentável e reforço de uma identidade
comum, assente em modos de vida urbanos mas onde a democracia, a participação cívica e a entreajuda
desempenham ainda hoje um papel fundamental. A identidade comum, ainda em fase de construção mesmo
no âmbito do território alpino, tem sido objecto de tentativas de clarificação, como nos demonstram os
estudos de Fourny (2000, 2004). Para fundamentar essa construção no contexto português, sendo que não
foram ainda estabelecidas as bases para um desenvolvimento sustentável das cidades enquadrada no seu
território de montanha, poderemos recorrer aos estudos e experiências realizados em contexto alpino.
Por último, relativamente ao cosmopolitismo - entendido como uma inteligência colectiva aberta ao exterior
e imbuída de urbanidade - mais uma vez poderemos procurar inspiração nas cidades alpinas, onde a
consciência de uma identidade ligada à montanha se conjuga com a procura de uma afirmação, em diferentes
campos na constelação das cidades globais. Este fenómeno é notório em diversas cidades de montanha de
uma certa dimensão, sobretudo na Suíça (como por exemplo em Bellinzona e Coira), onde o cosmopolitismo
coexiste com fortes tradições das culturas locais. Este espírito cosmopolita poderá desenvolver-se
fundamentado em processos tão variados como a troca de experiências e saberes ao nível internacional
através de redes, a realização de intervenções de requalificação urbana apelativas ou o investimento em
investigação e em instituições ligadas ao conhecimento.
Seguindo a lógica acima descrita, uma nova visão de cidade - ou o caminho para a cidade da paisagem
global, democrática e aberta -, poderá passar, em grande medida por uma nova forma de valorização da
paisagem urbana, baseada em valores como a ecologia, a identidade e a urbanidade. Como deverá então esta
abordagem induzir uma nova visão de cidade no caso da Covilhã?
3.Composição social heterogénea com novas exigências
Afastada das grandes rotas de urbanização e circulação do país, a Covilhã foi-se constituindo ao longo de
três séculos como “enclave da industrialização” em pleno território de montanha. Um dos aspectos matriciais
da cidade foi a cadência secular com que, desde finais de 1600, o Estado central marcou a feição socio-
económica da Covilhã. Os grandes equipamentos estruturantes têm-se sucedido em ciclos de cem anos,
recaindo sempre no final de cada século, o último dos quais foi a Universidade da Beira Interior, criada em
1986 (sobre o instituto politécnico da década anterior), respondendo à derrocada dos lanifícios e contribuindo
para a conversão da economia local ao sector terciário. Os outros foram a fábrica-escola, promovida pelo
Conde da Ericeira em 1676, que abriu caminho à criação de um centro manufactureiro à escala nacional; a
Real Fábrica de Panos, instituída pelo Marquês de Pombal em 1764, que aprofundou a especialização
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económica da cidade; a Escola Industrial Campos Melo, que começou a funcionar em 1884, direccionando-
se para apetrechar profissionalmente uma nova era da indústria têxtil (Vaz, 2004; Carvalheiro, 2008).
Até às últimas décadas do século XX, a cidade preencheu um tecido muito denso e povoado, no espaço
exíguo de uma saliência de montanha, suspensa entre dois vales profundos onde grande parte das unidades
fabris se concentrou, junto às ribeiras. A presença fabril e a sua interposição com a malha habitacional
atingiu tal densidade que a Covilhã foi classificada como “cidade-fábrica”, traço claramente urbano em
contraste com a industrialização difusa que deu forma a muitas zonas do país.2
A composição social da população é um aspecto essencial, e talvez o mais elucidativo, das dinâmicas e
limitações da matriz urbana histórica covilhanense. O que sucedeu, porém, foi que este processo acabou por
resultar numa população com perfil socioprofissional altamente homogéneo, dada a predominância
esmagadora e prolongada do operariado industrial, cujo contraponto era a minoria de proprietários fabris.
Este perfil histórico da cidade, que se manteve até à década de 1980, não só significou uma estrutura social
dicotómica como também profundamente cavada, instituindo um mundo de ricos e pobres. Um aspecto
importante para uma sociologia do urbano parece residir nos efeitos duradouros da uma estrutura de classes
secular dicotómica. Este tipo de representação é produto da longa ausência de classes médias e é, sobretudo,
um sinal de baixa pluralidade socioprofissional e de pouca complexidade cultural, contrariamente ao que é
apanágio do urbano como mosaico social heterogéneo (Grafmeyer, 1995).
A gradual heterogeneização socioprofissional é um processo que se desenvolve só a partir da década de
1980, sob a influência de vários factores: a expansão do sector de serviços, a qualificação escolar de
segmentos crescentes da população e a maior integração da Covilhã num sistema urbano de circulação de
pessoas e bens. Em vinte anos, a estrutura de classes alterou-se substancialmente no sentido de uma maior
segmentação, do crescimento das classes médias e da diversificação de grupos socio-profissionais. Não
dispondo ainda dos dados mais recentes3, a comparação dos resultados dos censos populacionais de 1981 e
de 2001 permite já constatar a passagem de uma matriz classista altamente “proletarizada” para uma
estrutura social mais diversificada, assim como o crescimento do sector de serviços, configurando um
cenário em que se desfez a dicotomia classista, assim como a hegemonia cultural ligada à indústria têxtil que
vigorava absolutamente na cidade (Carvalheiro, 2008).
Em termos demográficos e de acordo com os dados preliminares do último censo, o núcleo urbano da
Covilhã, manteve relativamente estável o número de residentes, num quadro de decréscimo populacional de
5% no concelho. Além disso, haverá a considerar cerca de seis mil estudantes universitários, cuja grande
maioria não figurará como residente por ser oriunda de outras regiões, mas que constitui um segmento
populacional expressivo no quotidiano da cidade, a que haverá que juntar um corpo docente de meio milhar.
Não será desprezível o impacto social que essa partilha de experiências entre pessoas de outras origens
geográficas e culturais tem no cenário de uma pequena cidade.
No centro destas mutações estão os efeitos sociais e urbanos resultantes da crescente afirmação da
Universidade, em cuja génese se procura aliar uma redefinição e adaptação das estratégias económicas e, a
nível identitário, a sua assunção como activo privilegiado de reforço do poder simbólico, social e político da
própria cidade. É uma capacidade com uma enorme potencialidade para transformar o modelo urbano,
concomitantemente com políticas inovadoras adequadas e direccionadas para a recriação de um ambiente
urbano atractivo e de qualidade, cuja concepção não deve apagar a herança histórica e cultural da Covilhã.
Neste sentido apontam pesquisas por nós concretizadas relativas às representações urbanas que reflectem
aspectos tradicionais enquadrados num imaginário desenvolvimentista (Vaz, 2004). Umas organizadas em
torno de elementos históricos registados pela memória colectiva, outras caracterizadas pelo seu carácter
pragmático ligadas às instituições locais, sobressaindo a UBI cujo papel é singularizado pelo seu contributo
para a auto-imagem da cidade e para a sua projecção externa.
A universidade é hoje associada à palavra «desenvolvimento», o que desde logo esclarece a importância da
academia para o futuro da urbe no quadro de uma progressiva osmose universidade-cidade. A academia
surge vincadamente como alavanca da própria cidade no âmbito de um imaginário cultural e científico. As
referências retidas remetem para a assunção da UBI como pólo de irradiação de dinâmicas variadas, tanto
económicas como sociais ou culturais como fonte de renascimento em direcção à cidade universitária. No
âmbito concreto da actuação sobre o espaço urbano, a UBI tem servido de exemplo através das instalações
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construídas, optando por uma arquitectura integrada na paisagem urbana, incentivando assim a valorização
do património arquitectónico e urbanístico existente. Paralelamente, o curso de Arquitectura poderá gerar
sinergias positivas que reforcem aspectos importantes tais como uma consciência cívica perante a
arquitectura e a paisagem, o desenvolvimento de investigação na área da arquitectura das regiões
montanhosas e até, eventualmente, o desenvolvimento de uma identidade arquitectónica contemporânea e
simultaneamente atenta à história, às tradições construtivas, às memórias e à paisagem local. Isto sem
esquecer o contributo mais importante: a formação de arquitectos responsáveis e conscientes destes
valores(Matos, 2011). Fica a ideia de a cidade estar indelevelmente associada ao destino da UBI.
4. O valor da paisagem urbana para uma nova visão de cidade
Muitas das intervenções que têm vindo a realizar-se recentemente no núcleo urbano da Covilhã são
genéricas, conduzindo a uma notória banalização do espaço urbano e da paisagem, desconectados do meio
envolvente: a montanha. Em relação aos novos espaços, justifica-se que o desenho urbano seja realizado em
concordância com o lugar, retirando partido das suas características morfológicas, para com elas estabelecer,
de uma forma clara, os princípios estruturantes fundamentais dos espaços urbanos (CECVS, 1994).
A este propósito, no caso das cidades alpinas, de uma forma geral, a relação entre montanha e cidade
estabelece-se segundo dois vectores. O primeiro será o da identidade urbana de montanha, baseada em
aspectos simbólicos e socioculturais. Neste contexto, Fourny (2004) admite que, apesar de não se identi-
ficarem traços montanhescos evidentes em todas as cidades alpinas, existe uma identidade urbana e alpina
contemporânea comum em construção. Apresenta-se como uma nova relação da cidade com a montanha,
assente em valores presentes na civilização ocidental actual.Estabelece a fundação de uma identidade alpina
transversal às cidades deste território, conotadascom a imagem de “cidade-natureza” ou “cidade-território”,
em que o desenvolvimento sustentável desempenha um papel fundamental, sendo que a importância do meio
alpino, em todas as suas dimensões (identitárias, culturais, paisagísticas, ambientais e económicas), imprime
a sua marca no lugar urbano de montanha, associando-o à noção de qualidade de vida. Para atingir este
patamar, impõe-se o dinamismo no campo das parcerias entre instituições universitárias e estatais/regionais,
bem como na participação cívica dos habitantes, trabalhando em conjunto para a construção de uma
identidade urbana ligada ao território. Chambéry, nos Alpes franceses, surge como um caso notório do
empenho das políticas locais neste sentido, através de dinâmicas visando a integração da cidade no seu
território envolvente e, simultaneamente nas redes de cidades de montanha ao nível internacional.
O segundo vector consta da concepção arquitectónica de expressão contemporânea como instrumento de
ligação entre os espaços urbanos e o meio naturalizado de montanha. Nas cidades alpinas grandes ou
intermédias, a produção arquitectónica de obras notáveis, marcadas por uma forte relação com o lugar e com
a paisagem de montanha, tanto resulta de intervenções realizadas por arquitectos do star system, externos ao
perímetro alpino (Jean Nouvel em Lucerna, Zaha Hadid em Innsbruck, Mario Botta em Chambéry), como de
autores locais, alguns também com projecção internacional (Aurelio Galfetti em Bellinzona, Peter Zumthor
em Coira) (Matos, 2011). Em qualquer dos casos, estas intervenções recentes reflectem as transformações
económicas, sociais e culturais profundas das cidades pós-industriais situadas num meio natural sensível. A
sua leitura poderá por isso indicar um caminho para compreender e reinventar novas formas de abordar a
paisagem urbana contemporânea e apontar para uma nova sensibilidade paisagística em relação ao meio.
Este entrosamento cidade–paisagem é também evidente nas propostas pioneiras dos arquitectos Costa Cabral
para a UBI e Teotónio Pereira para o Polis. Ambos os projectos, exemplares, foram realizados nas últimas
décadas na Covilhã, propondo novas vias para a reinvenção da cidade, centrando-se numa leitura de
autenticidade do património construído e paisagístico e, simultaneamente, integrando funções e linguagens
arquitectónicas em sintonia com as exigências funcionais da actualidade e com os paradigmas da cidade pós-
industrial. Paralelamente, o Plano de Pormenor da Zona Intra-Muralhas do Centro Histórico da Covilhã,
concebido pelo Gabinete Técnico Local da Câmara Municipal da Covilhã (2007), vai desempenhar um papel
essencial na protecção do património construído.
As obras de Bartolomeu Costa Cabral para UBI constituem um contributo para a reconstrução da paisagem
global da cidade segundo estes parâmetros, ou seja, no respeito e na reinvenção do seu genius loci. Desde a
criação, em 1973, do Instituto Politécnico da Covilhã este arquitecto continuou a projectar as sucessivas
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extensões do que se tornou a UBI, entrando pelo século XXI (Cabral et al., 2005). As suas intervenções vão-
se destacar pela qualidade formal e pelo cuidado na valorização das preexistências e da paisagem
covilhanense, usando a arquitectura de expressão contemporânea como harmonizadora de espaços
urbanizados com espaços naturalizados de montanha, reforçando a imagem de uma cidade em sintonia com
seu meio. Revela-se aqui o sentido humanista do arquitecto, conjugado com uma sensibilidade atenta ao
espírito do lugar.
O Polis Covilhã (iniciado em 2000), projecto conceptual de transformação da cidade idealizado por Nuno
Teotónio Pereira, rege-se pelos mesmos princípios (Pereira et al., 2006). Assume-se como uma proposta para
uma cidade sustentável, apontando para um modelo ecológico como estruturador da cidade pós-industrial:
centra-se na reconversão paisagística das antigas áreas industriais ao longo das ribeiras e na mobilidade
pedonal como aspecto essencial da cidade dos fluxos. Assim, o projecto de cidade implícito no Polis de
Teotónio Pereira inclui um “Plano de Mobilidade Pedonal” (Pereira, 2004), onde as ligações pedonais entre
vários pontos do espaço urbanizado e o centro da cidade são uma prioridade, constituindo uma rede
estruturante que contraria uma topografia difícil e o excessivo congestionamento automóvel numa malha
urbana tortuosa. Esta ideia de cidade “aplanada” seria concretizada essencialmente com o auxílio de
elevadores e de pontes transpondo os vales fundos. A solução proposta, poética na sua essência, vai muito
para além da resolução prática de uma questão funcional, como nos lembra João Afonso:
“As pontes propostas são ao mesmo tempo uma solução pragmática e um símbolo; atravessando os vales,
significam essa capacidade de superar dificuldades e distâncias” (Afonso, 2006, p. 11)
Finalmente, em 2007, o Plano de Pormenor da Zona Intra-Muralhas vem tentar combater a degradação
acelerada da zona histórica, abandonada devido aos difíceis acessos, à desactivação das indústrias e à
desadequação das tipologias habitacionais, mas também como consequência de conotação que teria esta
zona, associada às condições de vida difíceis do passado industrial da cidade. Tomando o balanço
dinamizador do Polis, o município assumiu este passo essencial para a reconversão do centro histórico. Para
além de obras de reabilitação dos espaços públicos e de edifícios (algumas já realizadas), propunha-se a
reconversão funcional, nomeadamente com a criação do Museu da Cidade na antiga localização do castelo
(não concretizada) (Matos, 2011). Embora não considerando, na sua essência, a relação com a paisagem
envolvente como mais-valia a explorar, este plano constitui um instrumento fundamental para a valorização
do património e para a consciencialização da existência de uma identidade covilhanense rica de memórias e
história.
Os três exemplos de boas práticas acima expostas revelam uma leitura sensível do genius loci da cidade e,
simultaneamente, um cuidado ao intervir neste lugar com uma visão integrada do actual contexto urbano
pós-industrial. Postura a adoptar e a aprofundar em futuras intervenções, e no quadro de uma estratégia
global de reconstrução de uma imagem para a cidade de montanha, através da arquitectura e do desenho dos
espaços urbanos, que poderá incluir intervenções mínimas (por exemplo, a manutenção de ruínas industriais
integradas em espaços verdes ou a valorização da zona do castelo através da eliminação de construções
existentes).
5.Estratégias dos actores institucionais
À Universidade e à autarquia cabem papéis decisivos como actores em condições de galvanizar dinâmicas
urbanas e territoriais em torno da construção de um projecto colectivo para a cidade. Na dinamização da base
económica, e sobretudo, na estimulação de condições objectivas para a recriação de identidades sociais e
urbanísticas criativas e sustentáveis. Justificando-se, por parte da autarquia, uma postura esclarecida, forte e
voluntarista que, através das estratégias apropriadas, demonstre que a cidade não se limita a responder ao
mercado, mas age, orienta e decide, enquadrando na lógica do interesse público os interesses dos vários
actores e as intervenções no espaço.
Mas a Covilhã, como muitas outras cidades portuguesas, no período posterior à integração europeia, investiu,
primeiro, nas chamadas infra-estruturas básicas, nos equipamentos, e depois, ainda nas infra-estruturas, mas
agora para a sociedade em rede. Deverá merecer reflexão o facto do discurso autárquico continuar centrado
nas obras; que tenhamos rede, mas pouca sociedade a trabalhar em rede (seja virtualmente ou face a face);
que, em suma, cidades onde até existem plataformas de conhecimento – como universidades – não consigam
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transformar o investimento feito nessas áreas em factores de competitividade, em algo que as distinga das
demais e as torne atractivas num mercado cuja fronteira não é sequer a que separa concelhos vizinhos,
porque essa, como na economia, deixou de existir. E, neste cenário, o que devem as cidades atrair?
“Talentos”. Ou seja, pessoas que, nas mais diversas áreas, sejam criativas, abertas à inovação e que tenham
ideias capazes, de enriquecer, económica e socialmente, o espaço onde vivem (Florida etal., 2004).
O olhar sobre a cidade, enquanto sistema, leva a uma visão integrada das suas diversas componentes, o que
compreende quer elementos tangíveis (as infra-estruturas), quer elementos intangíveis (a criatividade das
pessoas e das organizações). Uns e outros são condições necessárias que importa organizar e estimular para
se obter a inovação e a competitividade. Esta depende da capacidade de atrair e fixar empresas com quotas
de mercado crescentes ou estáveis. E do ponto de vista da inovação é preciso considerar a capacidade de
atrair e fixar talentos, como condição para a formação e a criação de actividades intensivas em
conhecimento. O genius loci constitui a “atmosfera” que gera a atractividade dos lugares, devendo ser
estimulada uma organização do espaço propiciadora da criação de redes sociais e de conhecimento. Um
clima atractivo de talentos, não se mede apenas pelos indicadores tradicionais (por exemplo, níveis de
escolaridade), mas por um “open and experimental environment: in the academic climate, in the urban
culture and in shape and use of the city fabric” (Modder & Saris, 2005). Contrariamente aos modelos
tradicionais, agora preconiza-se que a criatividade também não dispensa aspectos como a atracção de activos
da “classe criativa” para gerar inovação e estimular o desenvolvimento, e assim se consigam ultrapassar os
constrangimentos, nomeadamente ao nível do crescimento económico e da competitividade.
A “tolerância” é uma outra dimensão indissociável a valorizar. Quanto mais aberta e tolerante for uma
cidade, mais fácil será atrair talento. A existência de um ambiente “tolerante” afecta a possibilidade de
regiões e cidades mobilizarem a sua própria capacidade de criatividade e competirem em termos de talento
criativo. A capacidade de atrair “talento” de uma cidade advém da sua diversidade cultural, afabilidade do
local, “tolerância” para as pessoas não convencionais, entre outros factores.
As políticas territoriais têm um papel importante a desempenhar, tal como preservar a herança cultural e a
valorização ambiental. Actualmente, são reconhecidas as ligações e relação entre capital criativo, qualidade
de vida e competitividade, e este reconhecimento teve como resultado considerar as “indústrias criativas” um
factor económico sério que deve ser ponderado na questão da viabilidade das cidades. Uma cidade que aspire
a ser “criativa” deverá propiciar a todos os cidadãos a possibilidade de desenvolver as suas capacidades
criativas, sendo para isso necessário desenvolver ambientes de trabalho e lazer afáveis e promover a utilidade
dos bens culturais. O sucesso das cidades vai depender no futuro da sua capacidade para atrair a “nova classe
criativa”, possuidora de elevada mobilidade. As universidades e outras instituições de ensino e culturais são
o suporte da criatividade.
Neste sentido, as instituições deveriam usar os fundos disponíveis no quadro comunitário de apoio menos em
obras físicas e mais em iniciativas imateriais, que fomentem qualidade de vida e uma identidade própria. Ao
mesmo tempo, criando estímulos à fixação de pessoas interessantes, entre os quais incluímos, por exemplo,
programas orientados para o apoio a estudantes estrangeiros de prolongamento da estadia por um ou dois
anos. As cidades são o terreno fértil para a aplicação das políticas e mecanismos para a criatividade, e as
“indústrias criativas” contribuem decisivamente para a sua regeneração económica e social, e para a
reconstrução das identidades locais.
6.Reflexão final
A evocação de um desenvolvimento urbano sustentável tem as suas raízes na utilização massiva do
automóvel provocada pela hypermobilidade individual motorizada. Esta realidade é colocada em causa após
um meio século de transformações consideráveis das cidades, em que fenómenos de segregação espacial e de
fragmentação lhe estão associados. Estes fenómenos socio-territoriais estão na origem de uma renovação do
interesse dos investigadores urbanos pelo estudo das formas urbanas, que estava acantonado até então
essencialmente à abordagem histórica. A emergência do desenvolvimento sustentável e a afirmação das
preocupações ambientais têm ganho terreno e têm conferido a este tipo de trabalho uma dimensão também
prospectiva.
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De uma forma geral, a problemática da morfologia urbana representa um desafio grande para o
desenvolvimento sustentável. Isto porque este quadro reflexivo permite pensar a maneira como a sociedade
organiza e se apropria do espaço, territorializando as práticas sociais. Nesta perspectiva, uma questão emerge
de imediato: Qual a melhor morfologia urbana para a cidade sustentável?
Uma resposta cabal a um tal questionamento implicaria fazermos aqui um trabalho do «estado da arte» sobre
a maneira como a questão morfológica é utilizada, tanto na sua dimensão teórica para responder aos desafios
do desenvolvimento sustentável, como na dimensão prática, interrogando a maneira como os modelos
teóricos podem ser operacionalizados. Assim como a referência a experiências já realizadas nesta
perspectiva. Obviamente não se tratará de produzir um modelo utópico, mas antes de saber como a cidade de
hoje, com as suas heranças e potencialidades, pode ser transformada segundo um tal horizonte.
Optou-se por uma reflexão em que o processo de transformação da cidade foi analisado interrogando as
concepções de intervenção com incidência na paisagem urbana. Neste quadro, a paisagem assume-se hoje
como campo de acção privilegiado para intervir na cidade, sobretudo em territórios onde o meio natural
representa uma referência estético-simbólica e um recurso económico importante. A paisagem emerge como
a face mais visível do genius loci e da imagem de marca da cidade. Mas também como plataforma de
concertação interdisciplinar e de participação dos diferentes actores, aspectos essenciais na abordagem à
gestão e desenho do espaço urbano, centrada num desenvolvimento sustentável.
Assim, a reflexão sobre as implicações dos diferentes actores territoriais dentro do processo de coordenação,
de construção de representações sobre o futuro da cidade e do seu território ambiental, tem aqui toda a
importância. À escala da cidade, reflectimos sobre uma possibilidade de acção, relevando os desafios a
considerar, e delineando um cenário possível para a cidade sustentável de amanhã. Um trabalho de natureza
assumidamente prospectiva que interroga muito particularmente a coordenação de actores, através de acções
de planeamento territorial e a pertinência de uma nova forma de governância urbana.
Pretendemos demonstrar que as estratégias de ordenamento territorial, a programação e os modos de
realização devem estar reflectidos entre si, e que as inter-relações, as integrações entre problemáticas urbanas
devem combinar-se entre si, mas também em relação com as escalas temporais e espaciais, tendo em vista
dar uma nova dimensão transversal ao planeamento espacial. Será através deste tipo de utensílio de
planificação e de ordenamento do espaço, dentro de uma visão sistémica dos desafios urbanos e territoriais à
escala da cidade, que uma morfologia sustentável pode ser proposta.
Queremos ir mais longe do que a política urbanística tradicional tem feito. Esta tem visado essencialmente a
regulação física da expansão urbana no quadro de uma preocupação da administração pública que intervém
pela regulação (de planos, regulamentos, normas, licenciamento e fiscalização), pela execução das infra-
estruturas, equipamentos e habitação social, mas frequentemente na ausência de uma política activa de
orientação e estímulo da transformação urbana sustentável.
A crise associada à desindustrialização, a estagnação ou declínio demográfico de muitas cidades ou dos seus
núcleos centrais, a competição para captar investimentos e visitantes, a perda da atractividade dos centros
tradicionais, e a importância do crescimento periférico, alterações nos estilos de vida e nas procuras dos
consumidores vão justificar uma nova centralidade atribuída às políticas urbanas. Assim, a par de uma
melhor reorientação na utilização dos recursos existentes, através da reutilização, reestruturação e
revalorização dos espaços, exige-se uma acção activa na atracção económica devido ao aumento da
competitividade entre territórios. Esta é uma dimensão de política de tipo pró-activo e de promoção,
incluindo os factores de competitividade, as condições naturais, mas também condições criadas pela cidade
ao longo do tempo e que lhe são intrínsecas, da cultura ao património.
A partir destas premissas faz sentido a adopção de uma estratégia de marketing territorial para promover a
cidade nas diversas escalas, sendo valorizadas as diferenças, a demonstração daquilo que cada lugar oferece
como especifico. Certamente que o sucesso desta política requer a concertação estratégica entre os actores
que fazem a cidade, na forma de associação e parceria entre instituições e empresas, mas não há dúvida que
muitos casos de sucesso foram mais além procurando o consenso alargado dos cidadãos, incluindo nos
objectivos de política maior coesão social.
A localização geográfica, o ambiente cénico de encosta da Serra da Estrela e a morfologia do seu tecido
urbano consolidado são características que fazem da Covilhã uma cidade diferente de todas as outras,
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devendo aproveitar e preservar as suas panorâmicas e, bem assim, a proximidade à montanha, como factor
impulsionador de uma morfologia do edificado que proporcione uma alta qualidade do ambiente urbano,
capaz de estimular as actividades polarizadoras do conhecimento e de atractividade externa.
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Notas
1A procura de uma definição de “cidade de montanha” tem vindo a ser objecto de interesse de autores como Fourny (2000, 2004) ou Coppola (2000).
É consensual que deverá encontrar-se em território montanhoso e que a montanha deverá ser visível desde a cidade. Importante também seráa
identificaçãoda urbe e dos seus habitantes com a montanha, segundo diversos parâmetros, identificação esta usadafrequentemente como imagem de
marca da cidade e, por vezes, como base para um desenvolvimento sustentável (Matos, 2011).
2 A designação de cidade-fábrica surge ainda no século XIX (Quintella, 1899: 120). Na viragem de século, o número de unidades fabris rondava a
centena (Assunção, 2006). Em 1950, existiam 200 fábricas de lanifícios com um mais de 30 trabalhadores, além das pequenas unidades e do trabalho
doméstico ( Silva, 1996: 121). A interpenetração deste tecido fabril com uma malha urbana de 20 mil habitantes justificou, pois, a designação de
cidade-fábrica até à segunda metade do século XX.
3 Os dados do recenseamento de 2011 apenas são disponibilizados no 4º trimestre de 2012.