Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 119-120

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Escreve umas três linhas finais alternativas (a partir de «novo.») à conclusão de Saramago (cerca de 40 palavras).

Não optes por finais estapafúrdios fora do restante registo, embora possas criar um desfecho igualmente mágico.

2.1

Há duas vozes que se destacam no excerto referido: a de Blimunda e a de um interlocutor (ou interlocutora). Blimunda fala para alguém que encontra na sua busca incansável de Baltasar: «Já aqui estive, já aqui passei»; «Não se lembra de mim, chamavam-me Voadora»; «Então cá vou, até um dia»; «Se o encontrar». A pessoa a quem Blimunda se dirige ainda se recorda do seu drama, chega a interrogá-la mas não tem uma resposta positiva para lhe dar: «Ah, bem me lembro, então achou o homem que procurava»; «Não, não apareceu, nem nunca ouvi falar dele por estes arredores».

2.2

As falas contidas neste excerto têm as funções de introduzir o registo oral (de efeito polifónico), conferindo vivacidade e dramatismo à narrativa, e de evidenciar os sentimentos e emoções que a personagem desperta naqueles com quem fala (sobretudo, a compaixão suscitada pela busca incansável de Blimunda).

3.

Os principais traços caracterizadores de Blimunda são os seguintes: a persistência, a determinação («Nove anos procurou Blimunda»; «Milhares de léguas andou Blimunda»; «Em dois anos, foi das praias e das arribas do oceano à fronteira, depois recomeçou a procurar por outros lugares, por outros caminhos»); a resistência, o estoicismo («Milhares de léguas andou Blimunda, quase sempre descalça. A sola dos seus pés tornou-se espessa, fendida como uma cortiça»);

a atenção e a capacidade de observação («Já aqui estive, já aqui passei, e dava com rostos que reconhecia»); o profundo amor e fidelidade a Baltasar («Vem»; «se à terra pertencia e a Blimunda»; bem como as citações que abonaram a persistência e a resistência).

Escreve umas três linhas finais alternativas (a partir de «novo.») à conclusão de Saramago (cerca de 40 palavras).

Não optes por finais estapafúrdios fora do restante registo, embora possas criar um desfecho igualmente mágico.

O desfecho é precedido de elipse ou resumo significativo, dando-se uma

viagem e, posteriormente, o regresso ao ponto de partida.

Blimunda procurou Baltasar durante nove anos, que nos são dados em poucas páginas, andou por todo o país (e «alguma vez atravessou a raia de Espanha») mas em Lisboa é que reencontrará o companheiro.

Salvatore viveu em Roma durante décadas, que são elididas no filme, passa os limites da Península Itálica (Giancaldo é na Sicília) mas é ao regressar a Roma que redescobrirá os filmes que eram a sua companhia.

Antes da conclusão — quase uma catarse —, há um reconhecimento de

personagens (embora não exatamente uma anagnórise).

Blimunda reconhece Baltasar, que, com a barba enegrecida, «prodígio cosmético da fuligem», parece mais jovem (entre os supliciados está o dramaturgo António José da Silva, aka «O Judeu»).

Salvatore depara-se com o antigo patrão, mais velho, e vemos o louco da praça, também já diferente mas com as mesmas manias.

Há disforia mas também a noção de que se conservou uma memória de quem ou

do que se amava — entre o que se guarda e o objeto da paixão há relação

metonímica.

Por um lado, Baltasar morre; por outro, Blimunda consegue resgatar uma sua parte, a sua vontade.

A infância de Totó morreu com o enterro de Alfredo e a destruição do cinema, mas Salvatore resgata parte desse passado, os fotogramas dos beijos censurados.

O espaço, ou o contexto, em que se iniciara a paixão repete-se, num

momento que podemos conotar com uma destruição redentora.

De novo, um auto de fé, em Lisboa.

O cinema, implodido, em Giancaldo.

 

O final é uma epifania — uma revelação —, já que se descobre o que antes ficara

escondido.

Pela primeira vez, Blimunda, premonitoriamente em jejum, vê o «interior» de Baltasar.

Salvatore vê agora as imagens que antes tinham sido cortadas e que, quando muito, vira às escondidas nas sessões de visionamento para censura pelo padre.

A narrativa não fica em aberto mas também não é uma típica narrativa

fechada.

Algumas das linhas de ação ficaram concluídas (passarola, construção do convento, talvez a própria paixão), mas não sabemos o destino de todas as personagens (que será agora de Blimunda?).

A linha de ação da paixão pelo cinema e a da memória da infância ficaram concluídas, mas haverá alguma indefinição ainda no que se refere à paixão Salvatore-Elena.

TPC — Prepara leitura em voz alta das estâncias nas pp. 166-167 e 168-169.