Post on 25-Jul-2016
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Ciência, tec-
nologia e feminismo-
socialista ao final do sécu-
lo XX,de Donna Haraway,
propôe um avanço ao
ideal feminista baseado na
concepção inicial de Ci-
borgue, que é de um corpo
potencializado para além
dos limites humanos, atra-
vés da tecnologia, intrise-
camente ligado a cultura
ciberpunk.
Baseado nos estudos de
Donna Haraway, surge o
Manifesto Ciberfeminista
em 1991, a origem do
termo é do grupo VNS
Matrix, da cidade de Ade-
laide, Austrália. Haraway
entendia que o feminismo
deveria fazer uso dos mei-
os tecnológicos tanto para
propagar sua ideologia e
assim realizar ativismos
organizados em redes,
como para dar visibilidade
às suas pautas políticas de
mobilização social, sendo
também um novo patamar
do pensamento crítico de
Haraway ás vertentes
feministas que negavam
a tecnologia em afirma-
ção a naturalidade da
mulher.
6 anos depois acontece
na Alemanha a primeira
internacional ciberfemi-
nista em Kassel, Alema-
nha, e ficou compreendi-
do que a representação
da mulher nos meios
tecnológicos necessitava
de mudanças. Assim
como depois se entendeu
que mudanças na própria
atuação da ideologia
feminista devia ser revis-
ta frente, além das novas
tecnologias de comunica-
ção e seu acesso em rede,
à corrente de estudos do
pós-humano.
O pós-humano, é o surgi-
mento da ideia da união
entre o corpo e a máqui-
na, físico e virtual que
permeou a literatura dos
anos 80, em especial os
subgêneros que surgiram
a partir da ficção ciêntifi-
ca clássica, ciberpunk,
termo surgido do conto
homônimo de Bruce
Bethke sobre um grupo
de jovens hacker, ga-
nhou verdadeira assimi-
lação cultural com o
livro Neuromancer de
Willian Gibson, de onde
surgiu além da expres-
são “ciberespaço” uma
amplitude do sentido
original de ciberpunk, a
ciborgficação, simula-
ção digital pela matrix e
os maleficios e benefí-
cios da tecnologia cada
vez mais convertida no
ser humano como liber-
tação ou submissão.
Volume 1, edição 1
O manifesto ciborgue
Com a popularização do ciberpunk...
conceitos ciêntificos foram
sendo desenvolvidos nas áreas
da biologia, informática e a
cibernética, convergidos uns
com os outros, a partir de uma
sociedade líquida na qual nada
é sólido e fixo assim como
afirma Santaella e Bauman,
perderam sua naturalidade.
Nesse sentido de transgração
dos locais oficiais socialmente
criados em colapso, a ideia
feminista se empossa desse
ideal no sentido do próprio
corpo, fortalescendo o
ativismo nas redes, na
cultura usando de alicerce
o ideal ciberpunk de luta
contra um sistema opressor
monopólio empresarial/
patriarcado nas artes em
geral, especialmente mani-
festações artísticas corporáis.
Para Haraway existe uma
crise no ideal de naturalidade
do corpo, o conceito de
ciborgue reforçou o discurso
feminista para além de sua
própria natureza física en-
quanto sujeito transformador.
Nas palavras de Haraway
“prefiro ser uma ciborgue a
uma deusa”
26/01/16
P o r : B r u n a L i m a , D a n i e l e R i b e i r o , F r a n c i s c o S a n t o s ,
L e o n a r d o S a r a i v a e R a m o n T e l e s .
Feminismo e Cibercultura
O manifesto ciborgue 1
O ciborgue de Haraway 2
Os Ciberfeminismo—VNS Matrix 2
Os Ciberfeminismo—The Old Boys 3
NESTA EDIÇÃO:
Donna Haraway
convida os movimentos
feministas a repensar
suas estratégias políti-
cas para criação de uma
nova narrativa do femi-
nino como discurso polí-
tico e estético, assim
modificando o conceito
de Ciborgue que, de
início, seria um híbrido
entre criatura orgânica
e máquina, mas que
Haraway logo alterou,
dizendo que o ideal se-
ria caracterizá-lo como
“uma criatura de reali-
dade social e também
uma criatura de ficção”.
O ciborgue é como
um“eu-pessoal” mas
também coletivo. Esse é
o eu que as feministas
devem ao ciborgue. “O
esforço é por uma nova
narrativa, a construção
de “novos mitos”, atra-
vés do estabelecimento
de redes de afinidade
tendo como suporte
para tal o uso de redes
tecnológicas.” É visto
que, no momento em
que as novas tecnologi-
as cibernéticas de poder
começam a tomar posi-
ção e a penetrar nos
corpos das pessoas,
novos tipos de subjetivi-
dades e novos tipos de
organismo foram gera-
dos. Em suma, um ci-
borgue é um organismo
cibernético e uma cria-
tura de realidade
social, que tam-
bém é ficção. Os
movimentos inter-
nacionais das mu-
lheres têm cons-
truído aquilo que
se pode chamar de
“experiência das
mulheres”, essa
experiência é tanto
ficcional quanto
política, o que nos
leva a crer que o
ciborgue trata de
ficção e também
de experiência vivi-
da.
O coletivo VNS Matrix (Venus Matrix), foram as pioneiras do ciberfeminismo, composto
por Josephine Starrs, Julianne Pierce, Francesca da Rimini e Virginia Barratt. Na época do surgi-
mento, elas foram responsáveis por uma série de intervenções feministas voltado para as garo-
tas. Como o Cyberfeminist Manifesto for the 21st century (1991), que foi o primeiro manifesto
ciberfeminista e pelo Bitch Mutant Manifesto (1996), ambos faziam uma forte apologia a fusão
do corpo feminino com as tecnologias. O primeiro declara “o clitóris é uma linha direta para a
matriz”, e o segundo afirma “que a identidade explode em múltiplos morfismos e que infiltra
pela raiz. Dessa maneira, seguindo a questão do corpo, aparece a questão das identidades.
VNS Matrix, usavam estratégias como a ironia e a inversão cultural de estereótipos para
levantar algumas das questões sobre mulher e tecnologia. “All New Gen” (1993) era um desses
trabalhos e que partia do ponto de desestruturação de ideologias machistas sobre a tecnologia.
Esses trabalhos da VNS matrix, são de difícil visualização, existem muitas referencias em
artigos pela rede, mas, com o fim do grupo em 1997, esses registros sobre suas ações se con-
centram mais em artigos acadêmicos. Como por exemplo esses dois trabalhos citados, que já
não se encontram mais na internet.
PÁGIN A 2
O Ciborgue de Haraway
OS CIBERFEMINISMOS - VNS MATRIX
“O esforço é por uma
nova narrativa, a
construção de “novos
mitos”, através do
estabelecimento de
redes de afinidade tendo
como suporte para tal o
uso de redes
tecnológicas.”
Cyberfeminist Manifest for the 21st century—VNS MATRIX (1991)
FEMIN ISMO E C IB ER C UL TUR A
VO L UME 1, ED IÇ ÃO 1
Em 1997, aconteceu em Kassel, Alemanha, a 1ª Internacional Ciberfeminista. Primeira aliança reconhecida. Neste evento surge a Old Boys Network como uma aliança que une, através da Internet,
grupos de ciberativistas, artistas e teóricos, que se definem e atuam como ciberfeministas.
A proposta do grupo era de desarticulação e ironia. Os discursos e a forma de apresentação do
“coletivo temporário” pregavam a permanência pela indefinição do termo Ciberfeminismo. Mesmo que as participantes chamassem a si mesmas de ciberfeministas, esse posicionamento indicava uma ambivalência
profunda na relação das mulheres com a teoria e prática do feminismo, e sua relevância para as condi-ções atuais de imersão das mulheres na tecnologia. O próprio nome do grupo é também um ponto icônico
em sua proposta, Old Boys Network, satiriza de maneira irônica as irmandades masculinas, tradicionais em
universidades europeias e norte-americanas.
A despeito da intenção do grupo de deixar indefinido o termo ciberfeminismo, para assim manter livres as atuações e alinhamentos teóricos do grupo, a Old Boys Network se define como uma coalizão
dedicada ao ciberfeminismo. A preocupação da OBN era a de construir espaços nos quais ciberfeministas
pudessem pesquisar experimentar, comunicar e agir.
Apesar de terem trabalhado sem uma definição para o termo, a OBN escreveu o manifesto 100 Anti-theses (1997), onde o grupo elabora 100 teses definindo o que o ciberfeminismo é pelo que ele não
é. Ao negar uma definição, aqui alguns exemplos:
O ciberfeminismo não é definição;
O ciberfeminismo não é tradição; O ciberfeminismo não é maternalista…
PÁGIN A 3
Os Ciberfeminismoss - The Old Boys Network
“ciborgue é a
criatura em um
mundo de pós-
gênero”
Em suma, o VNS Matrix aparece como uma primeira vertente, aplicando vários conceitos
extraídos do Manifesto Ciborgue de Haraway. A utopia ciberfeminista no trabalho das VNS Matrix
é plantada através de um ideário de descorporificação e pelo fim de dualismos. Tudo poderia ser
codificado, inclusive os corpos e os sexos.