Post on 11-Jun-2018
Introdução
Na Europa, o final do século XIX foi marcado por várias declarações de insatisfação em relação ao ECLETISMO e suas citações
historicistas, criticadas por sua deterioração de causas tanto técnicas como culturais.
Foi na INGLATERRA que surgiu uma forte reação contra a prática eclética, mesmo ainda
calcada em referências ao passado e na tentativa de reviver modos de vida e tradições
antigas, mas que discutia as questões de coerência estética e unidade estilística.
Ao mesmo tempo, correntes artísticas apontavam o caminho
para o MODERNISMO, inserindo os artistas em um novo debate
como reação à arte realista, especialmente a partir de 1870.
Passando a ter um profundo interesse científico, principalmente devido às teorias e aos progressos
científicos decorrentes da INDUSTRIALIZAÇÃO, estes
artistas deram os primeiros passos para a arte moderna.
Les Demoiselles Cahen d’Anvers ou Rose et Bleue (1881) Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)
De temática alegórica e espiritual, o SIMBOLISMO foi uma corrente literária e artística
iniciada por Charles Baudelaire (1821-67), que reagia contra os realistas e
buscava expressar sentimentos pessoais e ocultos.
Influenciados pelo misticismo e filosofias orientais, os artistas
simbolistas passaram a explorar temas e imagens irreais,
baseados em sonhos, fobias, fantasias e erotismo.
Charles Baudelaire (1821-67)
Mulher sentada com Joelho levantado (1914)
Egon Schiele(1890-1918)
O Grito (1893) Edvard Munch (1863-1944)
Retrato de Adele Bloch Bauer (1907)
Gustav Klimt (1862-1918) O Beijo (1908)
Por sua vez, o IMPRESSIONISMO foi original por ter elaborado, com base na observação da luz solar, uma TEORIA DE CORES, na qual
cada artista procurava explorar a incidência dos raios solares na paisagem e na figura humana.
Desenvolvida no decorrer de 08 (oito) exposições, ocorridas entre
1874 e 1910, a arte impressionista negava a linha e
defendia uma concepção dinâmica do universo.
Café au lait (1881) Camille Pissarro (1830-1903)
Edgar Degas (1834-1917) La danseuse sur scène ou L’étoile (1878)
Le déjeuner sur l'herbe (1863) Édouard Manet (1832-83)
Le Bar aux Folies-Bergère
(1881-82)
Cathédrale de Rouen (1892/94)
Claude Monet (1840-1926)
Femme a l'ombrelle tournée vers la gauche
(1886)
La yole ou La Seine à Asnières (1879) Pierre Auguste Renoir (1841-1919)
Gabrielle avec une rose (1914)
Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901)
Au Molin Rouge (1895)
La toilette (1889)
Port St. Tropez (1899)
Paul Signac (1863-1935) Port de Marseille (1904)
Embora com maior caráter científico, essas pinturas tinham um interesse eminentemente VISUAL, voltado apenas ao
aspecto exterior, sem preocupações políticas ou sociais.
A oitava exposição impressionista apresentou um novo princípio: a dissociação das tonalidades ou
mistura ótica de matizes. O divisionismo ou pontilhismo
baseava-se na decomposição de tons graças a pequenas
pinceladas arredondadas.
Georges Seurat (1859-91)
Um dimanche
après-midi à l’Île de la
Grande Jatte (1884)
Une baignade à Asnières (1884) Les poseuses (1887/88)
A passagem para o século XX foi uma época de paz e
prosperidade europeia, devido à expansão do comércio
internacional e o aumento da confiança no PROGRESSO
das classes dominantes.
Considerado um segundo estágio da Rev. Industrial, esse período, que foi de cerca
de 1890 até o início da Primeira Guerra Mundial
(1914/18), ficou conhecido
como BELLE ÉPOQUE.
Lâmpada Elétrica (1879) Thomas A. Edison (1847-1931)
A MODERNIDADE anunciava-se por invenções que mudaram a vida cotidiana, entre as quais: telefone (1876),
lâmpada elétrica (1879), motor a explosão (1885), gramofone (1887), elevador (1887), ferrovia elétrica (1890),
rádio (1894), cinematógrafo (1895) e avião (1903).
Elisha Graves Otis (1811-61) Plataforma Ascessora (1853)
Benz 1888
Arts & Crafts
O Movimento das Artes e Ofícios (1880/90) foi ação de um grupo de artesãos
britânicos, que visava a renovação do artesanato em menosprezo às artes industriais e como
reação ao eclético Estilo Vitoriano.
Em Londres, foram fundadas 05 (cinco) sociedades que, através de seus trabalhos
em cerâmica, madeira e metais, apontavam a necessidade de se buscar originalidade,
sensibilidade e simplicidade nas artes aplicadas.
Seus fundamentos estavam nas ideias do esteta, escritor e poeta
inglês John Ruskin (1819-1900), que buscava soluções
para a “degenerescência” da arte de seu tempo, denunciando seu
materialismo exacerbado.
Atacando a MÁQUINA, para ele, a principal vilã da era industrial, difundia o retorno ao artesanato, propondo a reforma do sistema
socioeconômico a partir da renovação das artes aplicadas.
John Ruskin (1853/54)
Tecido de parede vitoriano
Considerado o maior discípulo de Ruskin, o
arquiteto, ilustrador e ativista social William Morris
(1834-96) procurou aplicar na prática os ideais de seu mestre, defendendo uma
“arte do povo para o povo” e organizando grupos para a revivificação do trabalho artesanal em Londres.
Brother Rabbit (1882)
Morris Armchair (1880)
Através de sua firma, fundada em 1861 na George Edmund St., Morris passou a criar para interiores e a vida cotidiana (papéis de parede, tecidos, tapeçarias, vitrais, móveis e ilustrações de livros), com grande unidade estilística e
defendendo que o belo é o útil, mesmo ornamentado.
Ilustração (1860)
Com a renovação das artes aplicadas (arquitetura e
decoração), o Arts & Crafts acabou influenciando a
concepção da casa britânica a partir de meados do século XIX.
Aos poucos, isto modificou toda a arquitetura residencial da
Europa, principalmente devido aos conceitos modernos de
PRIVACIDADE e CONFORTO nos ambientes familiares.
Philip Webb (1831-1915) Red House
(1859/60, Kent GB)
A CASA INGLESA passou
a ser reconhecida pelo seu sentido prático, além da
liberdade espacial, bem-estar e segurança, o que influenciou a arquitetura doméstica europeia.
Ao invés de se preocupar com as aparências cortesãs, os
ingleses valorizavam o uso sábio dos materiais, a composição
articulada, a continuidade dos ambientes e a maios intimidade e funcionalidade dos espaços.
British House (1887, Londres GB) M.H. Baillie Scott (1865-1945)
Contraposta à metrópole – o espaço público e reduto da civilização –, a HABITAÇÃO UNIFAMILIAR na Inglaterra
passou a representar o domínio do individual e
privado; o lugar do subjetivo e primado da cultura:
MY HOME IS MY KINGDOM, MY COUNTRY
AND MY SOUL.
Diferentemente das casas de bases palladianas (ville
italianas, châteux franceses, etc.), que partiam de um modelo unitário e abstrato (visão idealista), as CASAS INGLESAS eram formadas a partir da agregação de espaços definidos em si mesmos e organizados livremente no interior (visão pragmática).
Andrea Palladio (1508-80) Villa Capra – La Rotunda (1566, Vicenza - Itália)
Châteu de Vaux-le-Vicomte (1658/61, Maincy - França) Nicolas Fouquet (1615-80)
Grims Dyke House (1870/72, Harrow Weald, Londres GB)
Richard N. Shaw (1831-1912)
Despensas (pantries)
Salas (rooms)
Cozinha (Kitchen)
Hall social
Biblioteca (library)
Estes passaram a ser os elementos característicos da CASA INGLESA do final do século XIX:
Distinção entre acesso principal (hall social) e de serviços;
Espaços interconectados e articulados em plantas de diferentes níveis e pés-direitos;
Pé-direito baixo nas áreas sociais de modo a tornar mais cômoda a subida para a área íntima;
Acentralidade compositiva e inexistência de corredores, evitando a hierarquia espacial;
Elevado grau de acabamento e instalações ligadas estritamente ao modo de vida doméstica.
Newplace House (1897, Surrey GB)
Charles F. A. Voysey (1857-1941)
Edwin Lutyens (1869-1944) Goddards House
(1899/1910, Surrey GB)
Além de Morris, os maiores grandes expoentes do ARTS & CRAFTS foram: Phillip Webb (1831-
1915), Richard N. Shaw (1831-1912), Arthur H. Mackmurdo (1851-1942), Ernest Gimson (1864-1920), Charles F. A. Voysey (1857-1941), Edwin Lutyens (1869-1944) e sir Ambrose Heal (1872-1959); além dos pintores e ilustradores Walter Crane (1845-1915) e Charles R.
Ashbee (1863-1942).
Charles R. Ashbee (1863-1942) Bookcase & crafts (1888)
Buscando criar uma produção prática e honesta,
esses artífices ingleses demonstraram a importância da unidade e funcionalidade
na criação artística.
Isto prenunciava o design industrial e serviu de bases
para o MODERNISMO arquitetônico no início do
século XX.
Century Guild Chair (1883) Arthur H. Mackmurdo
(1851-1942)
Ernest Gimson (1864-1920) Inglewood House
(1892, Leicester GB)
Swans, rush and Irises (1877)
Walter Crane (1845-1915)
Entretanto, com a experiência, os participantes do ARTS & CRAFTS chegaram à conclusão de que era quase impossível que a produção artística artesanal fosse barata, pois somente
seria viável obter preços mais baixos às custas da desvalorização da vida e do trabalho humano.
C. F. A. Voysey (1857-1941) Estampas de padronagem (1880’s)
C. R. Ashbee (1863-1942)
Chairs & Armchairs
Bookcases (1905) Ernest Gimson
(1864-1920)
De qualquer forma, sua ação inovadora teve um papel fundamental para a história da Arquitetura Moderna por:
Defender da originalidade a todo custo, abandonando as preferências ecléticas e voltando-se para a funcionalidade;
Enfatizar o trabalho simples e dedicado junto à natureza própria dos materiais, buscando a unidade estética; e
Desenvolver criativas padronagens estilizadas, límpidas e geométricas, prenunciando a estandadização.
William Morris (1834-96) Vitral da Red House (1859/60)
Oak Linen Chest (1920) Sir Ambrose Heal (1872-1959)
Art Nouveau
Com muitas raízes e precursores, denomina-se ART NOUVEAU (“Arte Nova”) o conjunto de movimentos artísticos europeus, iniciados por volta de 1890, que visavam a renovação das artes aplicadas (arquitetura e decoração).
Todos se caracterizavam por uma grande experiência recíproca de personalidades
singulares, as quais tinham em comum única e basicamente a novidade em estilos pessoais.
O ART NOUVEAU manifestou-se principalmente
na decoração e mobiliário, embora tenha influenciado todas as esferas da arte,
inclusive moda e adereços.
Foi basicamente uma criação original, que tinha por
finalidade principal negar a herança artística do
passado e criar algo unitário e completamente novo.
Gustave Serrurier-Bovy (1858-1910) Buffet e Coiffeuse
(c.1899)
Interior Eugène Vallin (1856-1922)
Era um estilo que expressava o tom festivo de uma moda, criado de improviso e transitório, muito mais próximo do
século XIX que o XX, devido às suas raízes histórias e
ideológicas.
Alguns consideram-no já nascido “morto”, por estar preso à ORNAMENTAÇÃO
e ao individualismo, mas outros destacam sua
importância na ruptura de velhos conceitos.
Alfons M. Mucha (1860-1939) Les Quatre Saisons (1900)
Hôtel Ciamberlani (1897, Bruxelas, Bélgica) Paul Hankar (1859-1901)
O elemento mais marcante do ART NOUVEAU foi a linha ondulada e assimétrica, terminada em um
movimento cheio de energia como o da ponta de um chicote; e que era elegante e graciosa (Inglaterra e
Escócia) ou mais dinâmica e animada (França e Bélgica).
Essa linha decorativa tinha fundo simbólico, onde se
selecionavam ELEMENTOS NATURAIS (rebento viçoso, broto vegetal, botão floral,
ovóides e contornos femininos) para expressar
a alegria de viver e o nascimento de uma nova era.
O Art Nouveau tentava coincilar a pressão asfixiante
do materialismo e do desenvolvimento tecnológico
com uma atitude artística baseada nos pressupostos do
SIMBOLISMO.
Por isso, houve o rápido desaparecimento do estilo,
que já a partir de 1910 tornou-se raro: não sabia
como relacionar a MÁQUINA com as exigências da arte.
De Dion-Bouton Vis-à-vis (1901)
O berço do Art Nouveau foi a BÉLGICA, que, independente
da Espanha desde 1830, transformou-se em um centro de indústrias de luxo e pólo de atração comercial a partir de 1865, durante o reinado de
Leopoldo II (1835-1909).
O novo estilo eclodiu com os trabalhos de Paul Hankar
(18590-1901), Victor Horta (1861-1947) e Henry van de Velde (1863-1957), além de
vários outros expoentes.
Leopoldo II (1835-1909)
Apesar do pioneirismo de Horta, foi Henry van de Velde (1863-57) quem teorizou o novo estilo,
inspirando-se na natureza ao definir a LINHA como o elemento estruturador da
arquitetura
Para ele, a linha seria o caminho natural das forças de cujo confronto nasceriam as
formas: nascia assim o ORNAMENTO ESTRUTURAL,
de cunho subjetivo.
Nostiz Armchair (1904/05)
Armchairs (1896)
Segundo Van de Velde, a LINHA sugere a ação de uma força que se expressa através da tensão e da elasticidade:
um drama que deve ser imprimido na matéria. Assim, todos os objetos utilitários deveriam ser ondulados e decorados
linearmente, criando uma empatia estética com o corpo.
Die linie ist eine kraft.
Van de Velde (1902)
Aplicava-se assim a TEORIA DE EINFÜHLUNG (empatia
estética), que defendia a afinidade subjetiva entre
sujeito e objeto: o homem projeta-se sentimentalmente nas coisas e o inverso criaria
o gozo estético.
Tal teoria de bases alemães e românticas acreditava que
deve haver uma correspondência entre a
realidade física e psíquica: a forma segue a natureza.
Villa Esche (c.1900, Chemnitz, Alemanha) H. Van de Velde )
Leitura Complementar APOSTILA – Capítulos 02 e 03.
ADAMS, S. The Arts & Crafts Movement. London: Quintet Publishing Limited, 1996.
BENEVOLO, L. História da arquitetura moderna. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.
CHAMPIGNEULLE, B. A arte nova. Lisboa: Verbo, 1984.
PEVSNER, N. Origens da arquitetura moderna e do design. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
_____. Os pioneiros do desenho moderno. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
SEMBACH, K. J. Arte nova: a utopia da reconciliação. Köln: Benedikt Taschen, 2007.