Post on 28-Apr-2018
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 1
APLICAÇÃO DO MODELO HIDROLÓGICO SWAT (Soil and Water
Assessment Tool) PARA A SIMULAÇÃO DA PERDA DE SOLO E DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA EM UMA BACIA HIDROGRÁFICA NÃO
INSTRUMENTADA
Éverton Blainski1; Luis Hamilton Pospissil Garbossa2& SimoneMalutta3
RESUMO --- A preocupação com a sustentabilidade ambiental tem impulsionado pesquisas visando a conservação do solo e água em sistemas agrícolas. A modelagem hidrológica é uma tecnologia capaz de simular diferentes cenários de uso e ocupação do solo e seus efeitos sobre a dinâmica de bacias hidrográficas. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi utilizar o modelo hidrológico SWAT (Soil and Water Assessment Tool) na bacia hidrográfica do Lajeado dos Fragosos, Santa Catarina, Brasil para avaliar a distribuição da produção de sedimentos e vazão para diferentes cenários agrícolas. Os cenários estudados foram: Uso atual, reflorestamento, introdução de culturas anuais em sistema de plantio convencional e introdução de culturas anuais em sistema de plantio direto. Os resultados demonstraram que tanto a vazão como a perda de solo foram alteradas pelo tipo de uso e ocupação do solo. O cenário II (reflorestamento) apresentou as menores perdas de solo por erosão hídrica. A implantação de culturas anuais em substituição das pastagens (cenários II e III) pode ocasionar aumento significativo na erosão do solo em função das características edáficas e topográficas da área estudada. ABSTRACT --- Environmental sustainability is pushing the advancement of research on soil and water conservation in agriculture systems. Hydrological modeling is a tool able to forecast different soil use scenarios and their effects on catchment soil and water dynamics. The main objective of this paper was to use the hydrological model SWAT (Soil and Water Assessment Tool) at Lajeado dos Fragosos watershed, Santa Catarina, Brazil. We evaluated sediment production and flows under different agriculture scenarios: I. actual use; II. reforestation; III. annual crop introduction in conventional soil preparation; and IV. annual crop introduction under no-tillage systems. The results obtained indicated that both soil flow and losses were affected by the different scenarios considered in this study. Scenario II (reforestation) showed the smallest soil losses due to hydrologic erosion. Annual crop introduction (scenarios III and IV) can significantly increase soil erosion considering the edaphic and topographic characteristics of the Lajeado dos Fragosos watershed.
Palavras-chave: Perda de solo, modelagem hidrológica, disponibilidade hídrica. 1 Dr. Eng. Agrônomo, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Rod. Admar Gonzaga, 1347, 88034-901, Florianóplis, Santa Catarina. E-mail: evertonblainski@epagri.sc.gov.br 2 Dr. Eng. Civil, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Rod. Admar Gonzaga, 1347, 88034-901, Florianóplis, Santa Catarina. E-mail: luisgarbossa@epagri.sc.gov.br 3 Eng. Sanitarista e Ambiental, mestranda na Universidade Federal de Santa Catarina, Bairro Trindade, 88040-970, Florianópolis, Santa Catarina. Email: simonemalutta@gmail.com
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 2
INTRODUÇÃO
Dentre os principais problemas ambientais, a degradação dos recursos naturais,
principalmente do solo e da água, vem crescendo de forma acentuada, alcançando níveis
preocupantes (Bertoni e Lombardi Neto, 1990).
Uma das principais causas de degradação dos solos agrícolas e assoreamento dos cursos
d’água é a erosão. A erosão hídrica, principal tipo de erosão em regiões tropicais, é um processo
complexo e se manifesta de maneira variável com dependência das condições climáticas, tipo de
solo, topografia uso e ocupação e práticas conservacionistas adotadas.
Com a substituição das paisagens naturais por usos agrícolas, dá-se inicio ou aceleram-se
diversos processos que culminam na degradação do solo. Os prejuízos oriundos do cultivo do solo
podem ser quantificados por meio da compactação e da perda de solo por erosão (Mc-Cormack,
1984). O processo de recuperação requer tanto tempo que o solo pode ser considerado como não
renovável, justificando a preservação deste recurso.
Além das perdas de solo oriundas do processo erosivo, o transporte e deposição dos
sedimentos afetam diretamente a qualidade das águas superficiais e subterrâneas. O assoreamento
dos cursos d’água traz grandes danos ao ambiente e tem impulsionado inúmeras pesquisas voltadas
ao desenvolvimento de modelos matemáticos capazes de prever o aporte de sedimentos na rede
hidrográfica (Chaves, 1991).
Pesquisas envolvendo essa problemática utilizam as bacias hidrográficas como formas de
representações mais apropriadas, pois envolvem um conjunto de áreas drenadas por um rio principal
e seus afluentes (Guerra, 1980) assim como toda a dinâmica do sistema solo, água, planta e
atmosfera. Dessa forma, monitorar, quantificar e simular os impactos causados pela ação antrópica
sobre o regime hídrico em bacias hidrográficas constitui uma estratégia importante para o
gerenciamento e preservação dos recursos naturais.
Ainda para o gerenciamento dos recursos naturais, a utilização de modelos matemáticos
auxilia na determinação dos impactos da ocupação antrópica sobre a quantidade e qualidade da água
e dessa forma possibilita o estudo de diferentes cenários (Bouraoui et al., 1997), muitos deles ainda
não explorados em experimentos reais (Grigg, 1996).
Os modelos matemáticos podem ser utilizados na avaliação de sistemas de manejo do solo
empregados em atividades agrícolas, servindo como ferramentas de gestão ambiental. A utilização
de modelos de previsão hidrológica possibilita a estimativa da erosão do solo e consequentemente
auxilia no planejamento das atividades agrícolas, tais como: tipo de cultura a ser implantada,
técnicas de manejo do solo empregadas e utilização de agroquímicos (fertilizantes, inseticidas e
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 3
herbicidas). Com base nesta tecnologia, torna-se possível estimar os impactos ambientais causados
pela ação antrópica, antes mesmo que estes ocorram.
Diversos modelos hidrológicos podem ser utilizados para essa finalidade. Um desses modelos
é o SWAT (Soil and Water Assessment Tool), um modelo dinâmico e distribuído capaz de predizer
o efeito de diferentes usos do solo (cenários) sobre a qualidade e quantidade de água, produção de
sedimentos e cargas de poluentes em bacias hidrográficas não instrumentadas, conforme descrito
por Srinivasan e Arnold (1994).
Diante disso, o objetivo deste trabalho foi utilizar o modelo hidrológico SWAT na bacia
hidrográfica do Lajeado dos Fragosos, Santa Catarina, Brasil para avaliar a distribuição temporal e
espacial da produção de sedimentos e vazão para diferentes cenários agrícolas de uso e ocupação do
solo.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na bacia hidrográfica do Lajeado dos Fragosos, localizada no
município de Concórdia, região oeste do estado de Santa Catarina, Brasil, entre as coordenadas
UTM (Universal Transversa de Mercator) 380.570 e 398.000, 6.984.000 e 6.990.000 m N (Fuso 22
S, meridiano central 51°W), com área aproximada de 5.865 ha (Figura 1).
Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do Lajeado dos Fragosos
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 4
O clima da região oeste de Santa Catarina foi classificado, segundo Köppen, como temperado
úmido com verão quente (Cfa), com temperatura média anual de 18,0°C, mínima média de 13,5°C e
máxima média de 26,5°C. A precipitação total anual da região varia entre 1700 a 1900 mm
(Pandolfo et al., 2002).
Para a utilização do modelo hidrológico SWAT foram utilizados dados de entrada
correlacionados com características físicas da área de estudo. Esses dados representam o uso e
ocupação, parâmetros físico-hídricos de solo, clima e topografia da bacia hidrográfica.
Os principais componentes do SWAT incluem hidrologia, clima, sedimentos, temperatura do
solo, crescimento de plantas, nutrientes, agroquímicos e manejo do solo (Arnold et al., 1998). O
componente hidrológico do modelo inclui sub-rotinas para determinação do escoamento superficial,
percolação, fluxo lateral subsuperficial, fluxo de retorno do aquífero raso e evapotranspiração,
conforme Machado e Vettorazzi (2003).
Os dados de caracterização de solos foram inseridos diretamente no banco de dados do
modelo. Os parâmetros físico-hídricos cadastrados foram: número de camadas de solo,
profundidade das camadas, profundidade máxima de enraizamento no perfil de solo, porosidade
total, densidade do solo, capacidade de água disponível, conteúdo de carbono orgânico,
condutividade hidráulica saturada, conteúdo de argila, silte, areia e cascalho e fator de
erodibilidade.
As características de relevo foram expressas pelo modelo digital de elevação (MDE), gerado
a partir do modelo digital da Shuttle Radar Topographic Mission – SRTM, 2000.
As informações referentes ao uso do solo foram obtidas a partir de imagem do satélite de alta
definição. As principais classes de uso foram pastagem plantada, florestas, pastagem nativa,
agricultura e uso residencial/industrial (Tabela 1).
O mapeamento de solos foi realizado com base em perfis representativos da área estudada.
Estes perfis foram descritos, amostrados para análises químicas e físicas e classificados conforme o
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006). As classes predominantes foram:
Cambissolo Háplico, Nitossolo Vermelho, Neossolo Litólico e solos urbanos/associações. A
representatividade de cada classe de solo é mostrada na Tabela 1.
Tabela 1 - Uso da terra e classes de solos na bacia hidrográfica do Rio Araranguá
Cobertura Área
Solo Área
(ha) (%) (ha) (%) Pastagem plantada 3.445 59 Cambissolo Háplico (CX) 4.269 73 Floresta 1302 22 Nitossolo Vermelho (NV) 964 16 Pastagem nativa 620 11 Neossolo Litólico (RL) 555 9 Agricultura 415 7 Urbanos/Outros (Urb) 78 2 Residencial/Industrial 84 1 TOTAL 5.866 100 5.866 100
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 5
A distribuição espacial da cobertura vegetal, mapeamento de solos e relevo é apresentada na
Figuras 2.
Figura 2 - Distribuição espacial do uso e ocupação; classes de solo e topografia na bacia
hidrográfica do Lajeado dos Fragosos
Para completar os dados de entrada do SWAT, foram implementadas as variáveis que
descrevem o clima da região: Temperatura (°C), Precipitação (mm), Umidade relativa (%), Vento
(m.s-1) e Radiação solar (MJ.m-2). Essas informações foram obtidas a partir de estações
climatológicas situadas na bacia hidrográfica e proximidades administradas pela Empresa de
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) e pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
Com base nos dados de entrada, o SWAT foi utilizado para simulação de vazão (mm.ano-1) e
a perda de solo (Mg.ha-1.ano-1). Os dados de vazão simulados pelo SWAT foram comparados com
dados medidos e utilizados para a calibração do modelo.
Após a calibração do SWAT, foram feitas simulações de cenários agrícolas de uso e ocupação
do solo para diferentes tipos de cultura e manejo com o objetivo de avaliar possíveis efeitos das
práticas agrícolas sobre a perda de solo e produção de água na bacia hidrográfica estudada.
As alterações dos coeficientes para cada cenário foram feitas com base em dados de literatura
e informações constantes na base de dados do modelo hidrológico. Por se tratar de uma bacia
hidrográfica não instrumentada, os dados de perda de solo simulados não foram comparados com
dados medidos, entretanto, a aplicação do modelo possibilitou a estimativa das alterações na
dinâmica da bacia hidrográfica antes que estas ocorram em função das alterações antrópicas,
auxiliando no gerenciamento dos recursos naturais.
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 6
Foram simulados quatro cenários de uso, manejo e ocupação do solo. Essas simulações foram
sistematizadas por meio da interação entre o modelo hidrológico e o Sistema de Informações
Geográficas (SIG) realizada por meio da interface do SWAT denominada ArcSWAT (v. 1.0.6,
desenvolvido pelo Blackland Research Center Texas Agricultural Experiment Station e USDA
Agricultural Research Service) e do software ArcMap® (desenvolvidos pela Environmental
Systems Research Institute - ESRI, Redlands, California, EUA). Essa interface possibilitou a
alteração do Plano de Informação (PI) de uso e ocupação do solo (Figura 3) permitindo a
comparação das variáveis estudadas para cada cenário proposto.
Os quatro cenários de uso, manejo e ocupação dos solos estudados correspondem às
principais atividades agrícolas da região e estão em conformidade com a aptidão das terras, sendo:
CENÁRIO I – Uso atual: caracterizado pela presença de pastagens degradadas em áreas com
declividade elevada, com baixa rentabilidade e baixa taxa de infiltração oriunda da compactação do
solo ocasionada pelo pisoteio animal, entretanto, com algumas áreas ocupadas por vegetação nativa
composta por espécies florestais típicas da região (floresta estacional semidecidual);
CENÁRIO II – Reflorestamento com vegetação nativa (floresta estacional semidecidual) em
substituição as pastagem e áreas agrícolas: por se tratar de um ecossistema frágil, com predomínio
de áreas com elevada declividade e solos pouco profundos, optou-se por avaliar esse cenário para
quantificar as perdas de solo e vazão sem os efeitos da ação antrópica (testemunha);
CENÁRIO III – Culturas anuais em substituição à pastagem e campos utilizando sistema de
preparo convencional - SPC (aração + gradagem), com exceção das áreas com declividade
acentuada e/ou presença de pedregosidade;
CENÁRIO IV – Implantação de culturas anuais em substituição à pastagem e campos utilizando
preparo conservacionista caracterizado pela ausência de revolvimento do solo e manutenção dos
resíduos vegetais na superfície do solo (plantio direto - SPD) com exceção das áreas com
declividade acentuada e/ou presença de pedregosidade.
Conforme descrito anteriormente, na figura 5 estão espacializadas as áreas em que os PI’s
serão alterados, denominados de “Cenários” e “Agricultura”, as demais áreas compostas por
florestas e solos urbanos/industriais serão mantidas em todos os cenários estudados.
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 7
Figura 3 - Distribuição espacial do uso e ocupação do solo nos quatro cenários estudados. SPC – Sistema de plantio convencional e SPD – Sistema de plantio direto
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a calibração do modelo hidrológico, o coeficiente de Nash e Sutcliffe (NASH) atingiu
0,73 para a variável vazão, para o intervalo de tempo mensal. O valor de NASH pode variar desde o
negativo infinito até um, sendo este último o indicativo de que o modelo está com um ajuste
perfeito. Entretanto, segundo Krysanova et al. (1998), para um bom ajuste do modelo são aceitos
valores de NASH superiores de 0,7. Portanto, o modelo apresentou-se como um estimador melhor
do que a média dos dados medidos.
Os resultados apresentados na Tabela 2 demonstraram que as alterações no uso e ocupação do
solo ocasionaram diferenças significativas na perda de solo por erosão hídrica. O cenário II,
caracterizado pelo reflorestamento com vegetação nativa, apresentou os menores valores de perda
de solo para o período simulado (2005 a 2009).
O cenário I (uso atual) apresentou perdas de solo médias entre 3,3 e 7,7 Mg.ha-1.ano-1 para o
mesmo período (Tabela 2). De maneira geral, neste cenário, as perdas de solo podem ser
consideradas aceitáveis, visto que para os solos de maior ocorrência na região, são toleráveis
valores entre 7,4 e 10,5 Mg.ha-1.ano-1 (Bertol e Almeida, 2000). Para os cenários III e IV as perdas
de solo aumentaram significativamente (Tabela 2). Esse aumento pode ser associado à elevada
declividade da área estudada e ao revolvimento do solo (cenário III) e/ou substituição do sistema
radicular das gramíneas por culturas com sistema radicular menos abundantes, a exemplo de
culturas anuais como o milho, trigo e soja, comuns na região. Além disso, a substituição das
Uso atual Reflorestamento
Agricultura – SPC Agricultura – SPD
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 8
paisagens naturais por sistemas agrícolas expõe a superficie do solo ao impacto direto das gotas de
chuva, principalmente na fase inicial de desenvolvimento das culturas e/ou na fase de maturação
fisiológica. Essa exposição contribui para a desagregação do solo e consequentemente favorece a
perda de solo por erosão hídrica.
Tabela 2 – Distribuição temporal de precipitação e perda de solo para a bacia hidrográfica do Lajeado dos Fragosos – SC, no período 2005/2009 para os quatro cenários estudados. I: uso atual;
II: reflorestamento; III: culturas anuais (SPC); IV: culturas anuais (SPD)
A N O
PRECIPITAÇÃO
CENÁRIO
I II
III IV PERDA DE SOLO
mm.ano-1 Mg.ha-1.ano-1 Mg.ha-1.ano-1 Mg.ha-1.ano-1 Mg.ha-1.ano-1 2005 1.874 7,62b
3,18a
87,62d
74,58c
2006 1.285 3,31b
0,94a
27,75c
21,12c 2007 1.971 7,73b
2,69a
74,01d
61,80c
2008 1.605 4,97b
1,55a
42,79c
36,14c 2009 1.860 3,86b
1,37a
36,48c
31,76c
Letras diferentes na mesma linha representam diferença estatística (α = 0,05) entre os cenários em cada ano.
Na Figura 4 são mostradas as perdas de solo estimadas para cada cenário em diferentes
subdivisões da bacia hidrográfica (sub-bacias). Essas sub-bacias foram definidas por meio do
modelo hidrológico com base na topografia, tipo de uso e ocupação e mapeamento de solos.
Observa-se que a pior condição (maior perda de solo anual – Mg.ha-1.ano-1) foi constatada no
cenário III (agricultura – culturas anuais – SPC), com perdas de solo que podem, em alguns locais
superar 500 Mg.ha-1.ano-1. No cenário II, com reflorestamento, as perdas de solo máximas ficam
abaixo de 50 Mg.ha-1.ano-1, mesmo nas áreas mais vulneráveis. Dessa forma, pode-se constatar a
severa degradação do ambiente que a implantação de culturas anuais em sistema de preparo do solo
convencional pode causar nesta bacia hidrográfica, resultado da exposição e revolvimento do solo,
associado à topografia local acidentada e aos solos com pequena profundidade. Dessa forma, é
possível classificar essas áreas como inaptas à implantação de culturas anuais em sistema de
preparo do solo convencional.
Entretanto a construção de terraços e a adoção de medidas conservacionistas podem viabilizar
a implantação de culturas anuais nas áreas menos acidentadas. Para a simulação com culturas anuais
implantadas no sistema de plantio direto – SPD (Figura 4), observou uma redução significativa na
perda de solo em comparação com o SPC, corroborando esta hipótese.
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 9
Figura 4 – Distribuição espacial da perda de solo simulada considerando os diferentes cenários estudados. SPC – Sistema de plantio convencional e SPD – Sistema de plantio direto
Os resultados apresentados na tabela 3 demonstram a simulação de perda de solo para as
classes de solo de maior ocorrência na área de estudo. Para o cenário II as perdas de solo
mantiveram-se abaixo dos limites propostos como aceitáveis para as respectivas classes de solo,
conforme metodologia proposta por Galindo e Margolis (1989) e aplicada por Bertol e Almeida
(2000) para os solos de SC. Para os cenários III e IV, as perdas de solo ocasionadas pela introdução
de culturas anuais mostraram-se significativamente maiores que no cenário II, para as classes de
solo Nitossolo Vermelho (NV), Cambissolo Háplico (CX) e Neossolo Litólico (RL). A presença
desses solos em locais com topografia acidentada associada à pedregosidade e a pequena
profundidade constatada nos CX e RL e a textura dos NV tornam esses solos altamente susceptíveis
a erosão hídrica (Testa et al., 1992).
Tabela 3 – Perda de solo (Mg.ha-1.ano-1) média (2005 a 2009) na bacia hidrográfica do Lajeado dos Fragosos – SC. Tolerância de perda de solo definida conforme metodologia proposta por Galindo e
Margolis (1989) e aplicada por Bertol e Almeida (2000) para os solos de SC
Solo Tolerância
Mg.ha-1.ano-1
Perda de solo – Mg.ha-1.ano-1
CENÁRIO I II III IV
NV 10,5 6,3b 0,2a 12,1c 11,6c CX 7,4 40,1b 0,4a 64,7c 59,6c RL 1,7 48,7b 0,1a 61,4b 58,9b
Letras diferentes na mesma linha representam diferença estatística (α = 0,05) entre os cenários para uma mesma classe de solo.
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 10
No estudo de disponibilidade hídrica, observou-se que a vazão média anual (mm.ano-1)
apresentou variação entre os cenários simulados (Tabela 4). De maneira geral, os cenários I e II
apresentaram maiores vazões médias anuais do que os cenários III e IV. Somente no ano de 2006
que o cenário II não apresentou diferença significativa com relação aos cenários III e IV (Tabela 4),
provavelmente associado ao menor volume precipitado que contribuiu para a redução das diferenças
entre os tratamentos simulados. De maneira geral, as diferenças entre os cenários podem ser
atribuídas às diferentes taxas de evapotranspiração das culturas estudadas e às alterações no
escoamento superficial e infiltração de água no solo em função do tipo de sistema radicular, manejo
e taxa de cobertura do solo.
Tabela 4 – Distribuição temporal de precipitação e vazão para a bacia hidrográfica do Lajeado dos
Fragosos – SC, no período 2005/2009 para os quatro cenários estudados. I: uso atual; II: reflorestamento; III: culturas anuais (SPC); IV: culturas anuais (SPD)
A N O
PRECIPITAÇÃO
CENÁRIO
I II
III IV VAZÃO
mm.ano-1 mm.ano-1 mm.ano-1 mm.ano-1 mm.ano-1 2005 1.874 1.059a
997a
906b
907b
2006 1.285 414a
342ab
301b
307b 2007 1.971 1.193a
1.059b
919c
925c
2008 1.605 904a
778b
686c
683c 2009 1.860 952a
870b
815c
832bc
Letras diferentes na mesma linha representam diferença estatística (α = 0,05) entre os cenários em cada ano. CONCLUSÕES
Por meio da utilização do modelo SWAT constatou-se que tanto a vazão como a perda de solo
foram alteradas pelo tipo de uso e ocupação do solo. O cenário II (reflorestamento) apresentou as
menores perdas de solo por erosão hídrica.
A implantação de culturas anuais em substituição das pastagens pode ocasionar aumento
significativo na erosão do solo em função das características edáficas e topográficas da área
estudada, ocasionando perdas acima do limite máximo tolerável.
AGRADECIMENTOS
À FINEP pelo apoio financeiro através do projeto MCT/FINEP/Ação transversal – Previsão
de Clima e Tempo 04/2008 – Projeto Climasul. Ao Centro de Treinamento de Concórdia – Epagri
pelo apoio no desenvolvimento do projeto.
X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. (1990). Conservação do solo. Ícone, São Paulo, Brasil,
355 p.
CHAVES, H.M.L. (1991). “Análise global de sensibilidade dos parâmetros da Equação Universal
de Perda de Solo Modificada (MUSLE)”. Revista Brasileira de Ciência do Solo 15, pp. 345 – 350.
MC-CORMACK, D.E. (1984). “Perspectives – Soil erosion, conservation and the RCA”. In: ASA.
Land use planning techniques and polices. Madison, 1, pp. 77 – 87.
GUERRA, A.T. (1980). Dicionário Geológico-Geomorfológico, Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, Rio Janeiro, Brasil, 446 p.
BOURAOUI, F.; VACHAUD, G.; HAVERKAMP, R.; NORMAND, B. (1997). “A distributed
physical approach for surface-subsurface water transport modeling in agricultural watersheds”.
Journal of Hidrology 203, pp. 79 – 92.
GRIGG, N.S. Water resources management: principles, regulations, and cases. McGraw-Hill Book
– New York, 1996, 540 p.
SRINIVASAN, R.; ARNOLD, J.G. (1994) “Integration of a basin-scale water quality model with
GIS”, Water Resouces Research 30, pp. 453 – 462.
PANDOLFO, C.; BRAGA, H.J.; SILVA JÚNIOR, V.P.; MASSIGNAN, A.M.; PEREIRA, E.S.;
THOMÉ, V.M.R. (2002) Atlas climatológico digital do Estado de Santa Catarina. Epagri,
Florianópolis. CD-Rom.
ARNOLD, J.G.; SRINIVASAN, R.; MUTTIAH, R.S.; WILLIAMS, J.R. (1998) “Large area
hydrologic modeling and assessment part I. model development”. American Water Research
Association 34, pp. 73 – 89.
MACHADO, R.E.; VETTORAZZI, C.A. (2003). “Simulação da produção de sedimentos para a
microbacia hidrográfica do ribeirão dos Marins (SP)”. Revista Brasileira de Ciência do Solo 27,
pp.735 – 741.
EMBRAPA – Centro Nacional de Pesquisas de Solos (2006). Sistema Brasileiro de Classificação
de Solos. Embrapa Solos Rio de Janeiro 2.ed. 306 p.
BERTOL, I.; ALMEIDA, J.A. (2000). “Tolerância de perda de solo por erosão para os principais
solos do Estado de Santa Caratina”. Revista Brasileira de Ciência do Solo 24, pp. 657 – 668.
TESTA, V; SANTO, M.; do ESPÍRITO, F.R.C. (1992). Principais solos do Oeste Catarinense:
aspectos gerais para identificação no campo e suas principais limitações ao uso agrícola.
EPAGRI. Florianópolis, Boletim Técnico, 60 p.
GALINDO, I.C.; MARGOLIS, E. (1989). “Tolerância de perdas de solo por erosão para solos do
Estado de Pernambuco”. Revista Brasileira de Ciência do Solo 13, pp. 95 – 100.