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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA
SITUAÇÕES DE CONFLITO NO AMBIENTE ESCOLAR:
UM OLHAR A PARTIR DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
SÃO PAULO 2017
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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA
SITUAÇÕES DE CONFLITO NO AMBIENTE ESCOLAR:
UM OLHAR A PARTIR DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto-
Sensu em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu, como
parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre.
Linha de pesquisa: Educação Física, Escola e Sociedade.
Orientadora: Profa. Dra. Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva.
SÃO PAULO 2017
iii
iv
Dedico esse projeto aos meus pais e familiares que sempre estiveram
ao meu lado em todos os momentos da minha vida.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me dar sabedoria nos momentos em que eu mais
precisei nessa jornada acadêmica.
À minha orientadora Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva por toda
atenção, ensinamentos e paciência nesses anos.
À professora Elaine Prodócimo e à professora Elisabete dos Santos Freire por
me ajudarem a entender que o mundo acadêmico é desafiador, porém encantador.
Aos amigos (as) Roseli Amaral, Deborah Palma, Paulo Amaral, Aline Santos e
a todos os professores pela parceria nessa etapa de aprendizado que foi
extremamente importante para meu crescimento pessoal e profissional.
Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda
minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas.
vi
A mente que se abre a uma nova ideia,
jamais voltará ao seu tamanho original.
Albert Einstein
vii
RESUMO
Conflitos estão presentes em todas as relações humanas e, portanto, também
ocorrem no contexto escolar. Eles surgem de ideias ou opiniões divergentes ou
modos diferentes de interpretar algum fato e podem auxiliar os alunos a perceberem
que deles surgem oportunidades para o amadurecimento e crescimento pessoal e
social, se conduzidos de maneira eficaz. É importante os professores realizarem
intervenções e estímulos às discussões sobre o tema com o objetivo de desenvolver
a cidadania, uma vez que o conflito também é uma oportunidade de ruptura do que
está constituído para que se construa algo novo. O objetivo da pesquisa foi
compreender a percepção docente sobre a relação existente entre situações de
conflito e intervenções pedagógicas em aulas de Educação Física. Trata-se de uma
pesquisa descritiva, qualitativa, que utilizou entrevistas semiestruturadas, diário de
aula, e promoveu reflexão conjunta entre professores e pesquisadora voltada para
problemas relacionais entre alunos. Participaram da pesquisa três professores de
Educação Física, do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, da rede particular de
ensino da cidade de São Bernardo do Campo. Para análise dos dados, foi realizada
análise de conteúdo de acordo com Saldaña (2011), tendo como referência duas
categorias pré-definidas: a) situações de conflito; b) ações implementadas. Os
conflitos foram classificados segundo tipologia proposta por Moore (1998). A
pesquisa revelou a preocupação dos professores de Educação Física em solucionar
os conflitos de maneira pacífica e imparcial, utilizando o diálogo como principal
estratégia, o que exigiu dos educadores o exercício da escuta. Os resultados
indicaram que docentes anteriormente críticos em relação à convivência com os
conflitos, hoje exercitam com maior reflexão o papel de facilitadores. Os estudos
apontaram que a mediação é o caminho para a resolução dos conflitos e o mediador
tem um papel fundamental nesse processo. Existe um consenso entre os
professores de que eles não foram preparados para lidar com tais situações e que
não existe uma metodologia educacional que possa ser praticada.
Palavras-chave: Educação Física, escola, conflito, mediação, formação continuada.
viii
ABSTRACT
Conflicts are present in all human relationships and therefore also occur in the school
context. They arise from differing views or opinions or different ways of interpreting a
fact and can help students realize that opportunities for maturation and personal and
social growth arise if they are conducted effectively. It is important for teachers to
make interventions and stimulate discussions on the subject with the aim of
developing citizenship, since conflict is also an opportunity to break up what is
constituted in order to build something new. The objective of the research was to
understand the teacher perception about the relationship between conflict situations
and pedagogical interventions in Physical Education classes. It is a descriptive,
qualitative research that used semi-structured interviews, class diary, and promoted
joint reflection between teachers and researcher focused on relational problems
among students. Three Physical Education teachers participated in the research.
They are from Elementary School II and High School, from the private teaching
network of the city of São Bernardo do Campo. For analysis of the data, the content
analysis was used Saldaña (2011), having as reference two pre-defined categories:
a) conflict situations; b) actions implemented. The conflicts were classified according
to the typology proposed by Moore (1998). The research revealed the concern of
Physical Education teachers to resolve conflicts in a peaceful and impartial manner,
using dialogue as the main strategy, which required the teachers to exercise
listening. The results indicated that previously critical teachers in relation to living with
conflicts, today exercise with greater reflection the role of facilitators. The studies
pointed out that mediation is the way to resolve conflicts and the mediator plays a
fundamental role in this process. There is a consensus among teachers that they
have not been prepared to deal with such situations and that there is no educational
methodology that can be practiced.
Keywords: Physical education, school, conflict, mediation, continuing education.
ix
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Classificação dos conflitos e suas causas...............................................24
Quadro 2. Cronograma dos encontros......................................................................52
Quadro 3. Análise do participante 1 .........................................................................66
Quadro 4. Análise do participante 2..........................................................................73
Quadro 5. Análise do participante 3..........................................................................79
Quadro 6. Matriz Nomotética situações de conflitos e ações de enfrentamento.....80
Quadro 7. Matriz Nomotética com conteúdos dos diários de aula............................92
Quadro 8. Matriz Nomotética sobre percepção dos conflitos..................................104
Quadro 9. Matriz Nomotética:uso dos conflitos como estratégia de ensino ..........105
x
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEP
FMCS
IBGE
Comitê de Ética em Pesquisa
Federal Mediation and Conciliation Service
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
OMS
PENSE
Organização Mundial da Saúde
Pesquisa Nacional de Saúde do Estudante
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
xi
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE 1 - Termo de Autorização da Escola.....................................................122
APÊNDICE 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.)................123
APÊNDICE 3 – Entrevista Piloto..............................................................................125
APÊNDICE 4 – Questões Diário de aula..................................................................126
APÊNDICE 5 – Transcrições das entrevistas do estudo piloto................................127
APÊNDICE 6 – Detalhamento do estudo piloto.......................................................146
xii
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1 - Parecer CEP - Comitê de Ética em Pesquisa ...................................151
xiii
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................. vii
ABSTRACT............................................................................................................. viii
LISTA DE QUADROS ............................................................................................... ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................... x
LISTA DE APÊNDICES ............................................................................................ xi
LISTA DE ANEXOS ................................................................................................. xii
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15
2. OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................... 21
2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 21
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 21
3. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 22
3.1 Conflitos e suas definições ..................................................................................... 22
3.2 Tipologia dos conflitos ........................................................................................... 24
3.3 Conflitos e violência no ambiente escolar .............................................................. 26
3.4 Mediação de conflito ............................................................................................. 32
3.5 Formação de professores em relação a conflitos .................................................... 38
3.6 Competência ......................................................................................................... 42
4. MÉTODO DA PESQUISA .................................................................................... 45
4.1 Caracterização da pesquisa .................................................................................... 45
4.1.1 Pré Configuração da realidade ............................................................................ 45
4.1.2 Configuração da realidade .................................................................................. 47
4.1.3 Local e amostra da pesquisa ............................................................................... 47
4.1.4 Relatos dos encontros ........................................................................................ 52
4.1.5 Reconfiguração da realidade ............................................................................... 53
5. Resultados .......................................................................................................... 56
5.1 Transcrição das entrevistas a respeito dos efeitos da pesquisa sobre a percepção
docente sobre a maneira como lidar com conflitos ..................................................... 56
5.1.1 Transcrição da Entrevista com o Professor 1 ........................................................ 56
5.1.2 Transcrição da entrevista com o Professor 2 ........................................................ 69
xiv
5.1.3 Transcrição da entrevista com o Professor 3 ........................................................ 78
5.2 Matriz Nomotética ................................................................................................ 80
6 REFLEXÃO SOBRE OS ACHADOS DA PESQUISA EM DIÁLOGO COM A
LITERATURA .......................................................................................................... 82
6.1 Análise dos diários de aula .................................................................................... 92
6.2 Transcrições das entrevistas relativas à percepção dos professores sobre conflitos . 98
6.3 Transcrição das entrevistas sobre competência .................................................... 107
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 113
8 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 116
APÊNDICES .......................................................................................................... 122
ANEXO .................................................................................................................. 151
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1. INTRODUÇÃO
O propósito de retratar conflitos nas aulas de Educação Física surgiu a partir
de inquietações de minha própria prática ao observar crianças e adolescentes
entrarem em divergência por várias razões. As situações conflituosas entre docentes
e discentes também me intrigavam. Ao tentar mediar situações de conflito, em
alguns casos, era surpreendente a indiferença dos alunos em tentar se reconciliar ou
desculpar-se com os colegas. Isso sempre me causou desconforto, já que, muitas
vezes, não compreendia o foco propulsor de tanta discussão que, no meu
entendimento, ocorria por motivos irrelevantes. Desta forma, percebi a necessidade
de investigar as manifestações de conflitos em aulas de Educação Física e a
maneira como o profissional da área lida com elas e procura evitar possíveis
desdobramentos como, por exemplo, a violência.
Seguindo nessa perspectiva, outros pontos que me chamaram a atenção ao
longo da minha jornada de 18 anos como educadora, dizem respeito à área da
Educação Física e à formação dos professores. Percebo que muitas situações de
conflito, que ocorrem em aulas de Educação Física são derivadas da forma como o
professor conduz a aula. Desta forma, a identificação e a intervenção realizada, são
os pontos fortes nos casos de mediação e resolução de conflitos. Em outras
ocasiões, observei que determinados conflitos são originados fora da aula e acabam
manifestando-se dentro dela. Nessas situações, me faço as seguintes perguntas:
Será que o professor sente-se capaz de identificar e intervir em diferentes situações
relacionais? Será que professor sente-se competente para lidar com situações de
conflito em suas aulas?
Nesse processo reflexivo, acredito que estudar a intervenção do profissional
de Educação Física em situações de conflito durante as aulas e sua percepção de
competência para este fim, possibilitará compreender um pouco mais acerca deste
tema atual e de grande importância nas escolas e na sociedade. Este estudo me
motiva porque, além de trabalhar em escola, com crianças e adolescentes, há em
mim essa vontade de entendê-los já que considero o esporte e a práticas corporais
em geral fenômenos que mexem com emoções, sentimentos e valores, elementos
imprescindíveis de consideração em todo e qualquer processo educativo.
16
O conflito nos tempos atuais pode ser visto como evidente e inevitável. No
entanto, compreendê-lo, e saber lidar com ele, é fundamental para o sucesso
pessoal e profissional (BERG, 2012).
Os docentes têm um grande papel a desempenhar no caminho escolar de
seus alunos e concordo com Correia e Ferraz (2010) quando relatam que o processo
de formação docente é algo que está em constante transformação e que é essencial
reconhecer a escola como um espaço privilegiado nessa formação profissional. E
nesse sentido, é importante considerar que a formação docente deve ser um
processo em constante transformação, por conta do conhecimento que o professor
detém no ambiente escolar.
A escola, pela tradição que lhe é atribuída, é tida como uma das instituições
em que há maior proximidade com a realidade dos adolescentes. É um local onde se
concentram muitas falas e opiniões, não podendo ser vista apenas como um núcleo
de ensino e aprendizagem e sim como um espaço onde há mediação entre as
partes envolvidas no conflito (MOREIRA, 2015).
A instituição educacional exerce um papel importante na vida dos jovens,
tendo em vista que vai além da responsabilidade de ser detentora da transmissão de
conteúdos. A escola é reconhecida como um ambiente de convivência, socialização,
integração, novas experiências, possibilitando que o indivíduo se desenvolva em sua
plenitude e contribuindo, de alguma forma, para o ambiente histórico-social
(MOURA, 2013).
Não obstante, é preciso reconhecer que entre os fatores que influenciam a
escola, houve uma reconfiguração familiar na mesma velocidade em que a
modernidade invadiu o mundo. O sentido de ordenamento foi alterado, redefinindo e
ampliando a função da escola, que passou a assumir um papel mais destacado,
além da transmissão do conhecimento. Diante desta complexidade social, a escola
convive, dialoga e contribui cada vez mais com a formação de crianças,
adolescentes e jovens. Além de promover e interferir no processo de convivência
entre grupos heterogêneos contribui para o aprendizado entre as diferenças
existentes (ALVES, 2009).
A escola, também passou por transformações ao longo do tempo. Pressupõe-
se que toda instituição educacional tenha um projeto político pedagógico coerente
internamente, claro e bem organizado. Este projeto é uma importante ferramenta
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que orienta o trabalho em equipe e que colabora para a convergência dos objetivos
da atuação pedagógica e para a autonomia da escola. Surge a partir de ideias sobre
educação e tem como foco principal as relações humanas e os interesses coletivos
(VENANCIO; DARIDO, 2012).
As alterações ocorridas no processo de ensino-aprendizagem e em sua
estrutura didática surgiram em decorrência da Lei de Diretrizes e Bases - LDB nº
9394/96 (BRASIL, 1996), o que permitiu às escolas maior autonomia institucional e
consequente ampliação do foco no desenvolvimento do indivíduo (VENANCIO;
DARIDO, 2012).
No que diz respeito à Educação Física, a mesma Lei, em seu Artigo 26,
Parágrafo 3º, reconheceu-a como componente curricular, posteriormente
determinando-a como obrigatória na Educação Básica, facultando-lhe apenas no
período noturno de ensino (BRASIL, 1996).
Venâncio e Darido (2012) ressaltam que esta é uma área que participa de
discussões sobre formação do indivíduo, enfoque constante no projeto político-
pedagógico e, na qualidade de membro da comunidade escolar, o professor desta
disciplina assume responsabilidades e compromissos que deve cumprir como forma
de desempenhar seu papel dentro desse processo.
Souto et al (2010) destacam que o currículo, unificado ao projeto político
pedagógico da escola, retoma valores significativos e essenciais para a educação
dos estudantes, promovendo e contribuindo na formação integral deste cidadão.
A Educação Física além de desenvolver qualidades físico-motoras nos
estudantes, necessita promover relações com seus valores, as suas atitudes e
interações com os pares, sejam eles companheiros de equipe, adversários, colegas
de turma ou de escola, como mostram os estudos de (MELIN; PEREIRA, 2015).
As experiências vividas entre os alunos e as trocas que ocorrem no dia a dia
escolar contribuem para desenvolver aspectos emocionais, de conduta e de
construção de identidades (MARQUES, 2012).
Para Freire, Silva e Miranda (2011), as aulas de Educação Física podem
contribuir de diversas formas para que o aluno vivencie sua motricidade livre,
intencionalmente e com inventividade, quando o foco é o movimento corporal. Este
processo é facilitado, quando existe o entendimento sobre si mesmo, sobre as
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relações humanas, bem como o ambiente e a cultura na qual o aluno está situado.
Considerar as características locais e a relação entre as pessoas devem ser uma
das prioridades.
Na atmosfera da escola, é possível observar que, em alguns momentos, seja
por brincadeira, por divergências de ideias, por uma palavra proferida de forma
indelicada ou até mesmo por um esbarrão, os alunos entram em conflito, discutem
entre si, envolvem o grupo e se não houver um acordo, acabam mostrando-se
violentos. Esse tipo de situação precisa e deve ser mediada para que exista solução
pacífica e para que não haja reincidência da violência.
Contudo, não basta à escola preocupar-se apenas com as relações de ensino
e de aprendizagem, com foco na permanência em sala de aula de alunos e
professores. As unidades escolares precisam se preparar para enfrentar contextos
adversos, pois são inúmeras as dificuldades para implementar práticas e posturas
adequadas ao enfrentamento das situações de indisciplina e de conflitos, o que pode
comprometer as chances de aprendizagem de crianças e jovens (MARTINS,
MACHADO, FURLANETO, 2016).
Do ponto de vista de Abramovay (2008) fatores internos e externos
influenciam na formação do indivíduo. Docentes e discentes atribuem valores
distintos e reagem diferentemente a determinado fato, o que gera conflito na
convivência, afetando a situação, dificultando o convívio e contribuindo para o
surgimento de conflitos na área escolar quando não tratados de maneira adequada
por meio do diálogo.
No entanto, é importante destacar que desacordos ocorrem em todas as
dimensões e em diversos contextos. O ambiente escolar é um local em que as
diferenças entre as pessoas, sejam de ordem familiar, cultural, étnica, religiosa,
manifestam-se abertamente, tornando-se naturalmente, um espaço de conflitos,
divergências, mas não necessariamente de violência.
É essa diversidade que torna a escola uma atmosfera surpreendente e
encantadora. Por mais que haja uma organização, regras e hierarquias, muitas
vezes acontecem situações que intrigam docentes. Em minha jornada na área
escolar, tive vivência pelos dois lados. Fui estudante no Ensino Fundamental e
Médio, atleta da escola e do alto rendimento. Como discente, meu perfil sempre foi
apaziguador, mas por várias vezes presenciei situações conflituosas em aula, nos
19
treinos escolares e no alto rendimento. Já durante o meu curso de graduação em
Educação Física, iniciei com apenas 18 anos o estágio de observação em um
colégio particular e sempre quis ser professora e, nesta carreira que escolhi, já
vivenciei muitas situações de conflitos, que se resolveram de forma satisfatória ou
não.
A instituição escolar sofre influências de vários setores sociais e não pode
ficar inativa ou enclausurar-se às situações de conflitos. A ela cabe o desafio de não
desprezar conflitos internos e mesmo externos à ela abrindo-se para a comunidade
no sentido de ensinar a lidar com diferenças presentes na sociedade, com a
responsabilidade social de contribuir para a resolução de problemas coletivos
(ABRAMOVAY, 2008).
Desta forma, é essencial considerar em qual contexto sociocultural a escola
efetivamente está inserida e detectar quais são as diferenças existentes, para que
se reflita, dentro da instituição, o que tem de ser construído além dos limites e muros
da escola, como garantia das condições para a diversidade sociocultural.
Pensar que a escola é um ambiente em que se resguarde todos os alunos
das divergências humanas e da sociedade seria inexequível, tendo em vista que,
dentro dela, elas acontecem, ainda que discretamente, sob formas variadas. É dessa
mesma instituição que surgem situações que contribuem para o desenvolvimento
dos conflitos (CHIZZOTTI; PONCE, 2016; CHRISPINO, 2007).
Todavia, nota-se que os conflitos também são originários de diferentes
posicionamentos entre professores e alunos ao se colocarem e agirem de maneiras
distintas diante de uma mesma situação. Nesse caso, quanto maior for a pluralidade
discente e docente, maior será a chance de resultar em conflitos. Faz-se necessário,
por parte dos professores, compreender qual é essa geração com a qual está
lidando. É um exercício diário e requer muita reflexão.
Estas manifestações de divergência sutis ou não, que despontam, em sua
maioria, em gestos e falas indesejáveis, corroem as relações dentro da comunidade
escolar, quando, na verdade, deveriam ser vistas como uma oportunidade para a
reversão do processo. O momento em que se identifica e se tem consciência sobre
elas, deveria ser o momento adequado para a reflexão e oposição conscienciosa
sobre todo e qualquer tipo de consequência (CHIZZOTTI; PONCE, 2016).
20
É fundamental destacar como é a identificação, compreensão, interpretação e
intervenção pedagógica de professores de Educação Física sobre os conflitos
existentes em aula. Uma vez compreendida esta percepção, é preciso investigar
quais recursos são utilizados para realizar algum tipo de mediação.
Espera-se que o resultado desta empreitada auxilie na busca de respostas
sobre o nível de conhecimento e preparo docente para lidar com tais situações e se
o repertório estratégico existente para a mediação é suficiente, produzindo o
resultado esperado pelo profissional.
Essa pesquisa tem como finalidade contribuir com a área de Educação Física
e com a sociedade, por meio das reflexões geradas durante as discussões com os
profissionais entrevistados. Espera-se que este trabalho contribua com aqueles que,
em sua jornada educativa, enfrentam situações similares no seu dia a dia na escola
e trazer elementos que possam aprimorar a competência do professor em lidar com
situações de conflitos e utilizá-los como momentos privilegiados para educar as
pessoas no que se refere aos seus relacionamentos interpessoais.
21
2. OBJETIVOS DA PESQUISA
2.1 OBJETIVO GERAL
Compreender a percepção docente sobre a relação existente entre situações
de conflito e intervenções pedagógicas em aulas de Educação Física.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar o que professores de Educação Física escolar pensam a respeito
de conflito;
Identificar se professores de Educação Física estabelecem relação entre a
presença de conflitos durante as aulas e possíveis oportunidades para educar
para o estabelecimento de relacionamentos interpessoais pautados na
compreensão do ponto-de-vista do outro;
Descrever possíveis mudanças na percepção de competência dos docentes
para lidar com situações de conflito em aulas de Educação Física durante um
processo de formação continuada.
22
3. REVISÃO DE LITERATURA
Na sequência da pesquisa, serão abordados temas relacionados aos conflitos
nas aulas de Educação Física, bem como a mediação dos mesmos na tentativa de
entender como esses conteúdos são tratados na escola e na sociedade.
Para introduzir o tema da pesquisa, serão conceituados alguns termos que
compõem os estudos sobre conflitos.
3.1 Conflitos e suas definições
Desde que a história da humanidade é contada, são encontradas diversas
evidências sobre conflitos em relações humanas e em todas as sociedades. Elas
manifestam-se de todas as formas: no seio familiar, entre amigos, nos grupos
étnicos, no ambiente de trabalho, empresas, no poder público e entre nações
(MOORE, 1998).
Ao se falar em conflito, encontramos definições de diferentes autores que são
interessantes para melhor entendimento de suas causas e consequências, bem
como os malefícios e benefícios produzidos pelos mesmos, que serão abordados ao
longo deste estudo.
A palavra conflito vem do latim conflictus, oriundo do verbo conflictare. O
conceito baseia-se em um choque entre duas coisas ou entre pessoas; ou grupos
opostos que lutam entre si. É um embate entre duas forças contrárias. Na realidade,
é um estado antagônico de pontos de vista, pessoas ou interesses e não passa,
basicamente, da existência de opiniões e de situações divergentes ou incompatíveis
(BERG, 2012).
Assim, pode-se dizer que o conflito é caracterizado como todo entendimento
discordante na observação e interpretação sobre algum fato ou acontecimento. Ele
tem sua origem nas diferenças de conceitos, desejos e anseios que são defendidos
de maneiras distintas. Deste modo, todas as pessoas que vivem em sociedade se
deparam com este tipo de situação, seja na infância, na adolescência e na
maturidade, não existindo noção de erro e acerto, mas de posições que são
defendidas frente a outros pontos de vista (CHRISPINO, 2007).
23
Por outro lado, Moore (1998) reforça que, por ser o conflito um fenômeno
constante nas relações humanas, seu desfecho pode resultar em mudanças bem-
sucedidas e produtivas ou, podem levar ao insucesso e acarretar situações que
deterioram os relacionamentos interpessoais.
Morais e Otta (2008) discorrem sobre a ideia de que os desacordos surgem
da convivência em grupo. Seu surgimento configura-se na neutralidade, porém de
acordo com o seu prosseguimento, ele pode assumir um caráter construtivo ou
destrutivo, dependendo da forma como lidamos com eles (CECCON et al., 2009).
Para Melman (2009), não há como fugir dos conflitos, já que a
heterogeneidade existe entre pessoas, grupos e organizações. Para estes
envolvidos, sua presença é fundamental, principalmente no que diz respeito ao
refinamento das relações sociais, tornando o mundo mais fortalecido em diversos
valores, como a justiça e a igualdade.
Os conflitos estão presentes no cotidiano das pessoas e independente de
serem mais comuns ou complexos, eles nos colocam em processo reflexivo e
contribuem para o processo de aprendizagem individual. Daí a importância de
entendê-los em sua essência, para melhor manejá-los de maneira que não atinjam
estágios drásticos que levem a manifestações de violência que, certamente, não
podem ser toleradas e devem ser interrompidas.
Tendo em vista sua existência e manifestações no dia a dia, sabe-se que
violência é diferente de conflito e que este deve ser administrado, ao passo que a
violência deve ser imediatamente extinguida e jamais contemporizada (CECCON et
al., 2009).
Muito embora a divergência de posicionamento não implique,
necessariamente, em um desfecho negativo, esta oposição pode e deve ser positiva,
já que, por meio da violência há a definição e acordo de pontos de vista que servem
para facilitar o entendimento entre os envolvidos. Neste processo, se conseguem
informações sobre o outro no que diz respeito a seus valores, forma de ver o mundo
e desejos pessoais. São pequenas disputas acerca de diversos interesses e, para
que sejam resolvidas, as pessoas necessitam criar mecanismos para sua solução
(MORAIS; OTTA, 2008).
24
Corroborando com esta ideia, Chrispino (2007) refere que nem todo conflito
deve ser entendido como algo maléfico, visto que apresentam benefícios que nem
sempre são percebidos pelas partes. O autor enumera vantagens como a
possibilidade de se colocar no lugar do outro, analisar o mundo sob diferentes
perspectivas, conduzir a uma autoanálise e reflexão, aumentar a percepção de que
diferenças não são verdadeiras ameaças, mas produto de uma determinada
situação. Ainda destaca que este embate auxilia na regulação das ações sociais,
seleciona melhores práticas de cooperação, contribui para que o indivíduo perceba
que, dele, surge a chance para o amadurecimento e crescimento pessoais e sociais.
3.2 Tipologia dos conflitos
No sentido de facilitar o entendimento sobre conflito e suas causas, uma
forma de estabelecer relação é a classificação, pois classificar é uma forma de
atribuir significado. Na classificação de Moore (1998) o autor estabelece uma
categorização dos conflitos em: estruturais, de valor, de relacionamento, de
interesse e quanto aos dados.
Segundo o autor, os conflitos apresentam múltiplas causas e diferentes
manifestações, conforme pode ser observado no Quadro 1.
Quadro 1. Classificação dos conflitos e suas causas.
Fonte: Adaptado de Moore (1998, p. 62).
25
De acordo com o sociólogo Berg (2012), que ministra cursos nas áreas de
administração do tempo, negociação, administração de conflitos, entre outros, em
uma organização, os conflitos podem surgir pela incompatibilidade de opiniões,
métodos, objetivos, interesses. É fundamental compreendê-los para resolvê-los da
melhor maneira possível. Assim sendo, na visão do autor, há três tipos de conflitos,
sendo eles: pessoais, interpessoais e organizacionais.
O conflito pessoal ou interior é uma inquietação, uma desarmonia emocional
do indivíduo. O conflito pessoal está relacionado com a forma como alguém lida
consigo mesmo, são inquietações do indivíduo. Está atrelado a princípios e valores
individuais que, quando se chocam com situações que os confrontam, podem levar a
determinados estados de estresse e atrito.
O conflito interpessoal é aquele que ocorre entre indivíduos, quando duas ou
mais pessoas encaram a situação de maneira e pontos de vista diferentes.
O conflito organizacional não é fundamentado em sistema de princípios e
valores pessoais, mas resulta das dinâmicas organizacionais em constante
mudança, muitas delas externas à empresa.
San Martín (2003) apud Almeida (2012) relata três diferentes tipos de conflitos
levantados por Torrego (2001) os conflitos originários de ruídos no processo de
comunicação e, por consequência, que afetam as relações são denominados como
relação/comunicação. Este processo pode ter início com troca de investidas verbais,
insultos, mal-entendidos, rumores e, quando do desgaste entre as partes, pode levar
inclusive, a situações mais críticas.
Outra tipologia é a que se relaciona com interesses e necessidades. A origem
das desavenças se manifesta nos interesses divergentes no que diz respeito a
algum tipo de prática ou ainda a questões de ordem material, temporal ou espacial.
Por fim, há ainda aqueles que se originam por conta de escolhas,
posicionamento ou opiniões pessoais, quando cada um defende seu ponto de vista,
denominados como preferências, valores e crenças.
26
3.3 Conflitos e violência no ambiente escolar
Na década de 60, verificou-se uma mudança significativa no processo de
democratização do ambiente escolar brasileiro. Se por um lado a população de
baixa renda passou a ter acesso facilitado ao ensino e supostamente foi favorecida
sua educação, por outro, esta mesma população submeteu-se a condições precárias
para a execução desta empreitada, dadas as condições inconsistentes e deficitárias
para aprendizagem, investimentos, salários e trabalho dos professores. Tal cenário
comprometeu este processo, impactando sobremaneira no resultado qualitativo
educacional.
Ao se assumir o propósito de oferecer educação e atender à população de
baixa renda, não há como se desvincular dos aspectos sociais. Para tanto, é
fundamental um repensar pedagógico que tenha como ponto de partida o universo
da criança que vive neste tipo de realidade (LIBÂNEO, 1986).
Pressupõe-se que, uma escola cuja voz esteja direcionada à democratização,
dedique um esforço maior para o entendimento das diferenças e promova
consequente incentivo à igualdade de direitos e preceitos democratas. A
popularização do acesso à escola, nesse contexto, leva consigo a grande tarefa de
encontrar um caminho para que a educação “de grandes tradições intelectuais,
práticas e morais, possa cultivar valores como a igualdade, a tolerância, a não
violência, a solidariedade e enfim, modos de vida que tenham na democracia política
e social o maior de seus compromissos”. (CARVALHO, 2004).
Chrispino (2007) aponta que a massificação da educação, de um lado,
garantiu o acesso dos alunos à escola e de outro, expôs essa mesma escola a um
contingente de alunos cujo perfil não estava preparada para absorver.
Nesse sentido, é possível analisar que manifestações de conflitos surgem da
incompatibilidade de ideias, divergência de opiniões, da convivência em grupo, da
heterogeneidade entre pessoas, grupos, organizações, no seio familiar, em
empresas e também no meio acadêmico.
A partir da classificação de Zampa (2005), adaptada por Chrispino (2007),
foram levantados os tipos de conflitos que ocorrem com maior frequência no
ambiente escolar. Há relatos existentes entre docentes, entre alunos e docentes,
entre alunos, e entre pais, alunos e gestores:
27
Divergências entre docentes são oriundas da falta de comunicação;
interesses pessoais; questões de poder; incompatibilidades prévias; valores
diferentes; busca de posição de destaque, conceito anual entre docentes; não
indicação para cargos de ascensão hierárquica; divergência em posições políticas
ou ideológicas, entre outros.
Nessa mesma linha, os desacordos entre alunos e docentes ocorrem muitas
vezes por dificuldade do estudante entender o que os professores explicam; notas
arbitrárias; divergência sobre critério de avaliação; avaliação inadequada (na visão
do aluno); discriminação; falta de material didático; não serem ouvidos (tanto alunos
quanto docentes); desinteresse pela matéria, entre outros.
Os relatos conflituosos entre alunos surgem por mal-entendidos; brigas;
rivalidade entre grupos; discriminação; bullying; uso de espaços e bens; namoro;
assédio sexual; perda ou dano de bens escolares; eleições; viagens e festas.
Há conflitos entre pais, docentes e gestores que se manifestam por agressões
ocorridas entre alunos e entre os professores; perda de material de trabalho;
associação de pais e amigos; serviços de cantina escolar ou similar; falta ao trabalho
pelos professores; falta de assistência pedagógica pelos professores; critérios de
avaliação, aprovação e reprovação; uso de uniforme escolar; não atendimento a
requisitos “burocráticos” e gestão administrativa. Portanto, esta diversidade de
pontos de vista, quando não trabalhada, é o cerne da questão, tornando-se a causa
principal de violência na escola.
A pesquisa de Vinha e Tognetta (2009) revelou que, na visão tradicional,
estes tipos de embates são vistos como negativos e danosos à convivência entre os
alunos. Essa percepção aponta para duas direções: a primeira consiste em evitá-los,
colocando muitas regras, controlando as condutas por meio de vigilância dos alunos,
dentre outros. A segunda direção, ainda muito empregada pelas instituições, é a
resolução rápida dos conflitos, transferindo os problemas para a família ou
especialistas.
A escola está treinada para impedir ou reduzir ao máximo as divergências
existentes, uma vez que estas são traduzidas como maléficas, um desajuste social
(CHRISPINO, 2007). Nesse sentido, Ceccon e colaboradores (2009) reforçam que a
inabilidade da instituição em identificar rapidamente os fatores provocadores do
28
desequilíbrio no ambiente escolar é apontada como uma das principais causas de
conflitos na escola.
Tendo em vista a tensão existente entre o sistema escolar e as expectativas
dos estudantes, são diversos os fatores que contribuem para que aconteçam
situações e manifestações de violência no cotidiano escolar. A existência de regras é
fundamental para o bom convívio, e essa questão efetivamente se destaca como
motivo gerador de conflitos, já que as mesmas são pouco compreendidas, uma vez
que não se dialoga com as partes e se desconhece como se dão as relações sociais
na escola entre os pares. Na maioria das vezes, as regras são coercitivas e
impositivas, à medida que não são discutidas por todos e, em muitos casos, são
infringidas constantemente em função da ausência de diálogo entre os envolvidos
(ABRAMOVAY, 2008).
Por outro lado, se as incompatibilidades existentes forem bem administradas
e resolvidas, convertem-se em aprendizado, ao passo que situações mal geridas
podem trazer resultados não satisfatórios como, por exemplo, a violência física e
psicológica (CECCON et al., 2009).
Há desdobramentos que ocorrem quando os conflitos não são resolvidos de
maneira positiva. Por conta da heterogeneidade entre as pessoas, Neto (2005)
ressalta que encontram-se situações de agressões morais, físicas e psicológicas no
ambiente escolar e que isso tem sido uma preocupação para a sociedade atual.
Observam-se frequentemente situações de agressões por jovens neste local, de tal
forma que saber lidar com a violência tem se tornado um desafio no processo de
ensino.
É importante esclarecer que conflito e violência não são a mesma coisa, ainda
que possam ser interligados.
Olweus (1993) define violência como um comportamento em que o causador
usa seu próprio corpo ou um objeto externo para causar uma lesão relativamente
grave a outro indivíduo.
Para Marriel et al. (2013) a violência é resultado da recorrente prática de
preconceitos e discriminação, além da crise de autoridade, caracterizada pela
ineficiência profissional ao lidar com essa situação, além de fazer uso de
29
procedimentos pré-formatados, idealizados de formas diferentes conforme a
orientação dos gestores ou do próprio-projeto pedagógico.
Nos últimos tempos tem-se cada vez mais estudado a violência e suas
manifestações por conta do aumento de casos e principalmente pelos danos que
ocasiona aos envolvidos. A violência é um problema social e de saúde pública, que
atinge a todos sem distinção de idade, raça, país, classe social, e que se converte
em uma das formas mais usuais de resolver conflitos interpessoais. Quando se
referem à escola, os autores asseguram que a violência no contexto escolar passa
pelos mesmos episódios físicos e emocionais que ocorrem na vida cotidiana,
corroborando com o envolvimento em agressões físicas e verbais (RODRIGUEZ
BADA e NUNES GARCIA, 2015).
Os atos de violência vêm aumentando cada vez mais nas sociedades e
manifestando-se significativamente nas escolas, entre crianças e adolescentes, o
que tem causado grande preocupação de professores, pais e estudiosos
(PRODÓCIMO, 2009).
Muitos estudos estão voltados para o cenário da violência escolar. Na
Pesquisa Nacional sobre Saúde do Escolar (PENSE), realizada em 2009, pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da
Saúde, que envolveu 60.973 estudantes nas capitais brasileiras, constatou-se que
5,5% dos alunos faltaram nas aulas por conta da sensação de insegurança e 12,9%
relataram envolvimento em brigas com agressões físicas nos 30 dias anteriores à
pesquisa (KAPPEL, 2014).
Nota-se que a violência vai além de uma atitude de brutalidade de natureza
física ou psíquica ocasionando no individuo recebedor sensação de pânico, abuso
ou medo. Este tipo de intimidação, que ocasiona comportamentos de desprezo,
insurgências físicas, sociais e psicológicas, revela-se por símbolos, preconceitos,
caricaturas ou qualquer outro tipo de representação (SALLES et al., 2008).
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) em relatório sobre violência e
saúde, declarou que a violência é um dos principais problemas mundiais de saúde
pública, definindo-a como sendo o uso intencional da força física ou do poder, real
ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma
comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte,
30
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação, como aponta (KRUG,
2002).
Relatos como esses são importantes, uma vez que nos mostram cenários que
retratam situações que ocorrem a todo o momento na nossa sociedade. Em certo
momento de minha vida, como aluna, sofri violência na escola e também não tive
vontade de comparecer às aulas por medo e sensação de insegurança, já que
naquele ambiente não havia nada e nem ninguém que pudesse interferir e cessar
tais manifestações. Aos poucos fui me envolvendo nas atividades esportivas da
escola e só quando entrei para o time oficial, como se estivesse sendo testada, fui
aceita pelo grupo e aos poucos as agressões terminaram. No início, sofri violência
em função de ser nova na escola e não ser muito aceita pelos grupos, sem qualquer
motivação e que até hoje me faz repensar o papel da escola enquanto ambiente
acolhedor. Nesse ponto, as aulas de Educação Física e o esporte, de certa forma,
me blindaram daquele contexto amedrontador.
Tognetta e Vinha (2008) acreditam que quando ocorre um conflito entre
crianças, é preciso que elas compreendam seus sentimentos e transforme-os em
atos verbalizados, para que a outra criança o entenda e perceba, conjuntamente,
suas limitações, para tomar consciência do que podem e não podem fazer. A
autoestima, segundo as autoras é um processo evolutivo, já que à medida que
expõem seus sentimentos podem estabelecer uma relação de confiança, sem
severas punições, mas com o reconhecimento das necessárias sanções pelos atos
cometidos.
Na visão das autoras, este longo exercício é uma oportunidade para olhar
para si mesmo, exercitando um processo de autoconhecimento, ao compreender
suas emoções e sentimentos.
A escola é um local cuja diversidade é intensa. Assim, situações de bullying
surgem por conta desta heterogeneidade, em especial, nas diferenças entre
gêneros. Isso ocorre por conta de sermos fruto de uma educação cujo poder está
com os homens em relação às mulheres. Apesar deste cenário, é a própria escola o
local oportuno para trabalhar e discutir esses valores, contribuindo para uma
sociedade mais justa (PRODÓCIMO, 2009).
Na visão de Olweus (1993), bullying caracteriza-se como uma forma de
abuso, com atitude violenta e desejo efetivamente nocivo, que ocorre dentro da
31
escola, mas também fora dela. Como resultado, há um visível desequilíbrio de força
entre os envolvidos.
Situações de bullying, por exemplo, quando propositadas, levam o estudante
à angústia e tristeza por constatar nelas uma relação desigual de poder. A pessoa
que pratica o bullying necessita de autoafirmação e a pessoa que é vítima se
submete à agressão de alguém com poder e, normalmente, não sabe se defender
das agressões (VIANNA, SOUZA, REIS, 2015).
Ao discorrerem sobre bullying, Braga e Lisboa (2010) afirmam que este é um
processo em que crianças ou adolescentes são expostos repetidamente a um
conjunto de ações violentas, direta ou indiretamente, sem motivação aparente,
todavia de forma intencional, protagonizados por um ou mais agressores. Desse
modo, a criança ou o adolescente, ao se sentirem ameaçados ou frustrados pela
invasão ou assalto à sua autonomia, podem ter despertada sua agressividade. A
agressividade, assim como o conflito, é uma qualidade neutra que, se bem
direcionada pela escola ou outras instituições, pode tomar caminhos que enveredem
pela área esportiva, artística, cultural e social, garantindo resultados de superação e
conquista.
Nesse sentido, se nada for feito, esta força interna pode ser direcionada à
agressão, e se revelar sob a forma de autoflagelo, violência contra terceiros ou à
própria escola. Esta ação pode acontecer de forma direta, por meio de atos de
vandalismo e até de roubos, ou pode ocorrer de forma indireta, como por exemplo,
sabotagens e falta de comprometimento (CECCON et al., 2009).
É importante reforçar que as instituições de ensino têm que estar atentas às
mudanças que acontecem na sociedade, de tal forma que suas práticas não sejam
reguladas na centralização e no poder, o que leva ao aumento da violência. Há a
necessidade de se pensar em ações de enfrentamento contra essas manifestações
no ambiente escolar com atividades voltadas para o trabalho conjunto entre pais,
filhos e comunidade, incentivando o diálogo e abordagens sobre atitudes e
comportamentos que estimulem condutas não violentas na escola, porque o sucesso
dessas ações garantiria a redução de comportamentos hostis (BISPO; LIMA, 2014;
KAPPEL, 2014).
Esquierro (2011) aponta a importância das escolas desenvolverem ações ou
programas antibullying e que os profissionais envolvidos estejam atentos a essas
32
manifestações. Além disso, é imprescindível a criação de um elo entre a escola e a
família, com ações pautadas na educação para e pela afetividade, exercitando o
respeito entre os membros da família e da escola, sendo o diálogo a base das
relações humanas. Para conter manifestações de violência são necessárias
intervenções envolvendo a participação das famílias, da comunidade e das escolas.
A violência no ambiente escolar prejudica os alunos no desenvolvimento
cognitivo, social e emocional. Faz-se necessária a promoção de práticas envolvendo
regras saudáveis de convivência, reguladas nos direitos e deveres individuais e
coletivos, incentivando os estudantes a respeitarem as diferenças existentes e
exercitarem a tolerância. (ESQUIERRO, 2011).
3.4 Mediação de conflito
De acordo com Moore (1998), o processo de mediação tem marcas antigas e
históricas em quase todas as culturas do mundo. No campo religioso, nas
civilizações islâmicas, este papel cabia aos idosos que se incumbiam de realizar a
discussão e proposição de alternativas para resolução. Entre os cristãos, líderes
religiosos assumiam o papel na resolução de problemas citadinos ou religiosos. A
Bíblia aponta Jesus Cristo como o mediador entre humanos e o poder divino. Os
mais antigos registros dessa natureza encontram-se entre os hindus e budistas. No
budismo, há registros da atuação de Buda como mediador nas comunidades.
Os hindus utilizavam um sistema de justiça chamado panchayat, formado por
um grupo de cinco membros que faziam a intervenção, bem como a arbitragem nos
conflitos existentes. Em diversas culturas asiáticas, por sua vez, a mediação tem
sido utilizada, por meio da religião, como solução para o consenso social, busca do
equilíbrio e bem-estar entre as pessoas (MOORE, 1998).
Os Estados Unidos foram pioneiros ao criar o Federal Mediation and
Conciliation Service (FMCS) que tinha o papel de solucionar divergências entre
empregados e empregadores, no propósito de evitar greves no setor industrial.
O FMCS é uma agência independente do governo dos Estados Unidos, fundada em
1947, que fornece serviços de mediação para a indústria, comunidade e agências
governamentais em todo o mundo. Uma de suas tarefas mais comuns é ajudar a
mediar conflitos trabalhistas em todo o país. A sede está localizada
em Washington e entre seus funcionários incluem mediadores certificados.
33
Moore (1998) aponta que as mediações não se restringem às questões
religiosas, trabalhistas ou comerciais. Podem tratar de questões ambientais,
culturais, étnicas, governamentais, familiares e também relacionadas à educação.
Ao abordar esta questão, é essencial entender que esse procedimento necessita da
interferência de uma terceira pessoa, imparcial, no processo de negociação.
O processo de mediação tem por objetivo dar luz às diferenças existentes
entre duas partes que não conseguem alcançar a solução por elas mesmas. Cabe
ao mediador ajudar as partes envolvidas a encontrarem, de comum acordo e
espontaneamente, uma resolução reciprocamente aceitável com o tema que está em
disputa. Este terceiro participante se envolve no processo e contribui para que a
mediação resulte em um diálogo ou negociação, levanta opções e pondera as
possibilidades para um acordo aceitável (CHRISPINO, 2007; MOORE, 1998)
Como resultado, muitas vezes há a possibilidade de indução a uma nova
ordem, impactando nas relações sociais, nas atitudes, responsabilidades ou rápida
resolução de problemas semelhantes (CHRISPINO, 2007).
Por tratar de questões específicas, a mediação pode ser paradoxal, já que, se
por um lado, existe a possibilidade de fortalecer relacionamentos de confiança e
respeito entre os envolvidos, por outro, pode terminar uma relação interpessoal a fim
de que se reduzam os impactos provenientes de custos e danos psicológicos. Nesse
caso, o papel do mediador é garantir que as partes mantenham uma comunicação
mínima necessária com objetivo de recuperar o desgaste do que Ortega e Del Rey
(2002) nomearam de vínculo. Isso se dá pela proteção de novas investidas sobre
este vínculo quase rompido pelas ações provocadas por comunicação e emoções.
Contudo, o processo de mediação pode proporcionar uma reorientação das
relações sociais, novas maneiras de colaboração, de confiança e de solidariedade,
formas mais maduras, espontâneas e livres de resolver as diferenças pessoais e
coletivas. Ela conduz a atitudes de tolerância, responsabilidade e iniciativa
individual, o que contribui para uma nova ordem social (MOORE, 1998).
Tal intervenção tem a finalidade de promover situações de conciliação de
interesses entre as partes envolvidas, por meio da cooperação e da comunicação,
ao contrário de algumas formas de resolução baseadas na punição (ALMEIDA,
2012).
34
Moore (1988) apresenta a negociação como forma de mediação, uma vez que
ela é uma forma de resolução conjunta do problema ou do conflito. O mediador
amplifica a barganha, possibilita um novo formato para a geração de novas variáveis
que sejam mais eficazes para o entendimento entre os envolvidos. Assim, aplicando
a proposta do autor, um bom exemplo seria uma aula de Educação Física em que há
ensaios para apresentação na festa da escola. Há estudantes que não querem
participar e outros que até participam, porém insatisfeitos. Nesse contexto, o
professor pode negociar e decidir junto com eles, ouvir as partes, questionar, sugerir
e buscar acordos entre os envolvidos.
No processo conciliatório, os envolvidos colocam as questões em disputa com
o objetivo de desenvolver opções, considerar alternativas e chegar a um acordo que
seja aceitável entre as partes, todavia, nem sempre o encerramento ocorre com
sentimentos de paz e laços de afeto. Decerto que isso seria o desejável, porém,
caso culmine no acatamento do acordo e aceite da responsabilidade de cada parte
como forma da eliminação da situação que gerou a crise, com o menor impacto, seja
ele psicológico, social ou moral, já terá sido um desfecho satisfatório (CHRISPINO,
2007).
O aprendizado da exposição madura das ideias por meio da assertividade e
da comunicação eficaz; onde o currículo considera as oportunidades para
discutir soluções alternativas para os diversos exemplos de conflito no
campo das ideias, de ideologias, do poder, da posse, das diferenças de
toda ordem; onde as regras e aquilo que é exigido do aluno nunca estão no
campo do subjetivo ou do entendimento tácito: estão explícitos, falados e
discutidos. Em síntese, devemos ser explícitos naquilo que esperamos dos
estudantes e naquilo que nos propomos a fazer (CHRISPINO, 2007, p. 23).
No âmbito educacional, seja ele escolar ou universitário, a mediação se faz
presente em toda a comunidade, entendendo-se que este processo pode ocorrer
entre alunos, alunos e professores, entre os próprios professores, ou ainda entre o
corpo administrativo e docente (MOORE, 1998).
Neste caso, entendendo a escola como uma organização pública,
independentemente da rede de ensino a qual pertença, que, igualmente a qualquer
outra entidade, se submete a leis, a preceitos sociais na proteção dos direitos
estudantis, resta aos professores e à área administrativa gerir o processo de
35
intervenção educacional, do qual este tipo de intermediação faz parte (ORTEGA;
DEL REY, 2002).
As organizações educacionais que reconhecem os conflitos como valorosos e
estabelecem a mediação como importante alternativa para se chegar a um
consenso, têm em seu DNA a abertura para o diálogo. O incentivo ao entendimento
das diferenças promove a maturidade na discussão, nas escolhas das possibilidades
que conduzam à solução de conflitos de qualquer natureza.
As escolas que optam por esta trilha e estabelecem o desejo de tranquilidade
no ambiente educacional têm de interceder em três momentos específicos, a saber:
“de equilíbrio, quando se previne a ruptura; de ruptura do equilíbrio; e de
restauração do equilíbrio. Estratégias e instrumentos apropriados a cada um
desses momentos devem ser utilizados”. (CECCON et al., 2009, p. 22).
O dia a dia de alunos na escola e suas relações interpessoais são
importantes para o seu crescimento e desenvolvimento, uma vez que são momentos
de troca de experiências e vivências fundamentais.
Ao observarmos as crianças na hora do lanche, na entrada e saída, nas aulas
de Educação Física, Artes, na sala de aula, entre outros locais, percebemos que é
comum acontecerem conflitos entre elas, por razões variadas. No mesmo compasso,
observa-se também que a resolução advém de diversas maneiras, que se
manifestam através do choro, chamando o professor, encarando o oponente, ou até
mesmo demostrando-se tristes e silenciosas.
Em diferentes países, dependendo do modelo escolar, são desenvolvidos
programas voltados para conciliação e inclusive participam diretamente na escola
pessoas com funções específicas, muitas vezes dirigidas à busca de estratégias de
formação e intervenção em relação aos conflitos, sendo algumas das experiências
mais alargadas e populares as de mediação escolar. Por exemplo, em Portugal, os
mediadores socioeducativos têm sido convidados a intervir principalmente nos
contextos escolares dos diferentes níveis de ensino, estendendo-se para a
Educação e Formação de adultos. O mediador tem um papel importante na
prevenção do insucesso e do abandono escolar, na reconciliação dos jovens e
adultos com a escola e no processo ensino-aprendizagem (SILVA, 2011).
36
Desta forma, Ceccon et al.(2009) afirmam que dialogar é uma das formas de
transformar conflitos em aprendizagem e mudança e este processo de intervenção
da direção, docentes, funcionários, estudantes e suas famílias é fundamental, já que
aprendem a explorar e liberar o potencial criativo dos conflitos e a impedir que, uma
vez mal compreendidos e mal dirigidos, possam se apresentar sob a forma de
estagnação ou violência.
Simbolicamente, Vezzulla (2004) compara o trabalho do mediador ao de um
fruticultor que, para poder obter as melhores frutas, não se preocupa com elas, e
sim, com árvores e plantas que as produzem. Do mesmo modo, o mediador,
preocupa-se com os envolvidos e suas necessidades subjetivas e objetivas que, ao
serem atendidas, levam os próprios envolvidos a terem condições de produzir os
próprios acordos, a encontrarem as melhores alternativas que atendam às
necessidades demonstradas em seus conflitos e, assim, produzir seus frutos.
Deste modo, o processo de gestão de conflitos e a prevenção das
consequências advindas daqueles mal solucionados demandam um trabalho
conjunto no aprendizado e construção nos diálogos. É preciso estabelecer conexões
positivas na diversidade existente dentro da escola, seja entre estudantes,
professores, colaboradores e familiares, e/ou fora da escola nas divergências com o
poder público, universidades, entre outros (CECCON et al., 2009).
Em contrapartida, Estevão (2008) destaca que o conflito é necessário às
relações entre as pessoas, uma vez que as situações de conflito são vistas de forma
positiva e imprescindível para o desenvolvimento da comunidade escolar, porém
esse desenvolvimento está atrelado à maneira como os conflitos são encarados,
direcionados e resolvidos entre os envolvidos.
A tarefa do mediador é identificá-las a partir de um mapa do conflito que
detalhe suas causas e, a partir daí definir como lidar com eles.
Ao retratar os conflitos e suas causas, Moore (1998) apresenta um esquema
de intervenções sugeridas para cada tipo de situação, a saber:
Possíveis intervenções relacionadas aos Valores:
Evitar definir o problema em termos de valor;
Permitir que as partes concordem ou discordem;
Criar esferas de influência em que domina um conjunto de valores;
Buscar atingir um objetivo superior compartilhado por todas as partes.
37
Possíveis intervenções no Relacionamento:
Controlar a expressão das emoções por meio de procedimentos, regras
básicas, encontros privados, etc;
Promover a expressão das emoções, legitimando os sentimentos e
promovendo um processamento deste;
Esclarecer as percepções e construir percepções positivas;
Melhorar a qualidade e a quantidade da comunicação;
Bloquear o comportamento negativo-repetitivo mudando a estrutura;
Estimular atitudes positivas de resolução de problemas.
Possíveis intervenções nos Dados:
Conseguir acordo sobre que dados são importantes;
Concordar sobre o processo para reunir dados;
Desenvolver critérios comuns para avaliar os dados;
Usar especialistas como terceira parte para conseguir uma opinião
externa ou romper impasses.
Possíveis intervenções nos Interesses:
Concentrar-se nos interesses e não nas opiniões;
Buscar critérios objetivos;
Desenvolver soluções integradoras que lidem com as necessidades de
todas as partes;
Buscar maneiras de expandir opções ou recursos;
Desenvolver intercâmbios para satisfazer os interesses de forças
diferentes.
Possíveis intervenções Estruturais:
Definir claramente e mudar os papéis;
Substituir padrões de comportamento destrutivos;
Realocar a posse ou o controle dos recursos;
Estabelecer um processo de tomada de decisão justo e mutuamente
aceitável;
Modificar o processo de barganha de uma negociação baseada nas
posições para um ajuste fundamentado no interesse;
38
Mudar os meios de influência utilizados pelas partes (menos coerção,
mais persuasão);
Mudar o relacionamento físico e ambiental das partes (proximidade e
distância);
Modificar as pressões externas sobre as partes;
Mudar as pressões de tempo (mais ou menos tempo).
Administrar conflitos é, portanto, buscar chegar a um acordo final que seja
satisfatório para as partes envolvidas, em que os dois lados sejam ouvidos e
respeitados. Consiste na utilização das estratégias mais adequadas para se lidar
com a especificidade de cada situação (BERG, 2012).
A administração de situações conflituosas no ambiente escolar é facilitada
pela forma como ocorre a mediação que se dá por intermédio de uma proposta
integradora. Com isso, apesar da dificuldade de resolução de todos os casos ao
longo do ano, quando trabalhada efetivamente por toda a instituição, o principal
resultado é a prevenção e a consequente diminuição dos casos até então existentes
(ALMEIDA, 2012).
Os professores de Educação Física têm mais facilidade em tratar certos
assuntos, uma vez que os alunos gostam destas aulas, há um contexto específico
propiciado por esta disciplina que aflora sentimentos intensos e por vezes ambíguos
no aluno em relação a si próprio e em relação aos que o rodeiam. Em sua essência,
esta é provavelmente a melhor contribuição para a desejada formação integral do
aluno como futuro cidadão produtivo, bem-sucedido e feliz, numa sociedade
contemporânea, exigente e em constante transformação (MELIM; PEREIRA, 2015).
3.5 Formação de professores em relação a conflitos
Ao longo destes anos, como educadora, um ponto que sempre me chamou
atenção foi a formação de professores. Entendo que, tanto a formação inicial quanto
a formação continuada fazem parte da vida profissional e estes processos
influenciam o modo de lecionar de cada educador. A formação do professor deve ser
vista como um processo permanente, integrado ao seu dia-a-dia e de forma
consciente.
39
É interessante ressaltar o ponto destacado por Nunes (2001) ao reforçar que
o professor se engaja em um processo de auto formação, a partir do momento que
confronta os saberes adquiridos nos estudos com a prática experimentada. Esta
construção de conhecimento ocorre pela observação e reflexão de sua própria
prática. Tal convergência, embasada na política de desenvolvimento pessoal e
profissional, tem se constituído em um novo modelo na formação docente.
A formação continuada do professor é uma escolha, cujo propósito reflete
diretamente em uma maior preparação. Ao assumir tal empreitada em sua vida, por
meio do conhecimento adquirido e autonomia no aprendizado, reconhece a
possibilidade de assumir um pensamento mais reflexivo e criativo sobre seu papel e
projetos em que está envolvido. Esta valorização da carreira concede-lhe um papel
importante como contribuinte educativo. A oportunidade de novas práticas,
experiências e inovações, associadas à ciência, podem surgir como novos e
potenciais modelos pedagógicos (NÓVOA, 1992).
Desta forma, Nóvoa (1992) aborda que não existe uma mudança dentro da
escola se não ocorrer a transformação do professor e vice versa. Sua intervenção,
bem articulada com a escola e projetos, além de conectada com todos os
envolvidos, são de grande importância. Nesse sentido, a formação deste profissional
é um dos pilares para a mudança. Porém, é preciso reconhecer que este processo
não se inicia antes e sim, durante e que se tornam práticas de formação focadas na
escola, em conjunto, no empenho de se buscarem novos caminhos.
A pesquisa realizada por Foster e colaboradores (2011) no sul do Brasil, com
cinco professores, teve como propósito discutir a percepção dos mesmos em relação
às ações realizadas na escola e qual era o impacto na formação continuada. Em
discussão conjunta, os envolvidos na pesquisa reconheceram que a formação
continuada e a vivência de cada um foram facilitadoras em trabalhos coletivos, na
troca de experiência, suporte nas dificuldades e na inovação de projetos
integradores. Afirmaram ainda que os conhecimentos adquiridos, associados aos
interesses dos estudantes, deram maior dinâmica a todo processo, gerando maior
sensação de pertencimento o que, por sua vez, atribuiu valorização à formação
continuada.
40
Nota-se que este é um indicador de mudança nas práticas educativas da
escola e que precisam ser refletidas a partir de duas perspectivas enfatiza (NÓVOA,
1992):
As escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores e
estes não podem mudar sem uma transformação das instituições em que
trabalham. O desenvolvimento profissional dos professores tem que estar
articulado com as escolas e os seus projetos. (NÓVOA, 1992, p. 17).
A formação não se faz antes da mudança, faz-se durante, produz-se nesse
esforço de inovação e de procura dos melhores percursos para a
transformação da escola. É esta perspectiva ecológica de mudança
interativa dos profissionais e dos contextos que dá um novo sentido às
práticas de formação de professores centradas nas escolas. (NÓVOA, 1992,
p. 17).
Ainda que a inovação não esteja somente nas mãos dos professores, sem
mudar o contexto em que eles atuam não haverá esforço que sustente tentativas de
inovação (NÓVOA, 1992).
Por outro lado, Silva (2009) faz uma abordagem interessante, quando relata
que, no processo de formação inicial, são raros os cursos que oferecem disciplinas
que tratem da formação do ser humano especificamente em suas relações com
valores, como o desenvolvimento da solidariedade, regras morais e éticas. E que,
formandos, em sua maioria, mostram-se despreparados, desprovidos de leitura e
teoria que possam construir um alicerce relacionado à atuação profissional, usando
como referência o bom senso para agir em determinadas circunstâncias, não
apresentando conhecimento de qual atitude tomar e, com isso, repetem práticas sem
reflexão sobre as mesmas.
Os estudos de Vinha e Tognetta (2009) abordam que, ao se depararem com
momentos frequentes de indisciplina, conflitos, violência, os educadores afirmaram
que se sentiam impotentes e inseguros e admitiam não conhecerem outras formas
de intervenção que não fossem as de reprimir, punir, censurar, ameaçar, excluir ou
mesmo ignorar. Os mesmos relataram que muitas brigas eram resolvidas de forma
cada vez mais violenta pelos alunos, e evidenciando angústia, diziam-se
despreparados para realizar intervenções construtivas. Desta forma, agiam de
maneira intuitiva e improvisada, baseando suas intervenções no senso comum.
Ainda que momentânea a intervenção, não há garantia de total resolução, uma vez
41
que os alunos, ao não brigarem dentro da escola, muitas vezes resolvem seus
conflitos fora dela; ou, ainda, utilizam os meios de comunicação eletrônica para
ofender, vingar-se ou intimidar os colegas.
Na escola, especialmente nas aulas de Educação Física, observam-se
aspectos em que a concretização das relações conflitantes acontece com mais
facilidade, uma vez que há o espaço físico em que os alunos se sentem mais livres e
há maior deslocamento de todos. Muitas vezes, os alunos entram em desacordo por
questões relacionadas às regras do jogo, à exposição do corpo e das habilidades
motoras perante a sala, atividades em grupo que dependem dos colegas para atingir
tal objetivo, jogos que favorecem a competição, alunos que não entendem os limites
do outro, há conflitos verbais, de aceitação, de possuir ou não algum material. Essas
ações acaba gerando atritos verbais, corporais, ameaças, rejeição e distanciamento
(SILVA, 2009).
Silva (2009) ressalta que a Educação Física, por suas características
específicas e pelos conteúdos que veicula, possui um elemento socializador muito
forte entre os jovens, assumindo assim um papel fundamental no combate aos
problemas relacionados à violência, indisciplina que tanto preocupam as escolas
atualmente.
Nesse sentido, Berg (2012) afirma que dificilmente alguém será bem-sucedido
em uma organização se não souber lidar com conflitos, concluindo que, ou
administramos os conflitos, ou os conflitos nos administram.
Desta forma, ao olhar para a formação docente observa-se que esta é
contínua e que, enquanto o professor estiver exercendo sua profissão, novos
conhecimentos a todo o momento vão se construindo, se renovando e se
transformando, mediante práticas sociais. O docente se apropria de saberes e
culturas e os transmite e/ou os produz junto aos alunos, professores, direção da
escola (RAMOS, 2010).
42
3.6 Competência
O dicionário Aurélio, de Língua Portuguesa (p. 541, 2010) em sua definição
de competência destaca que é a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver
certo assunto, fazer determinada coisa, capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade.
Le Boterf (2003) retrata que competência é uma disposição para agir de modo
pertinente em relação a uma situação específica. Para haver competência, é preciso
que esteja em jogo um repertório de recursos.
A competência profissional não reside nos recursos (conhecimentos,
capacidades, etc.) a mobilizar, mas na própria mobilização desses recursos.
Ela é da ordem do "saber mobilizar". Para que haja competência, é preciso
que haja colocação em jogo de um repertório de recursos (conhecimentos,
capacidades cognitivas, capacidades relacionais, etc.) (LE BOTERF, 2003,
p. 50).
Nesse sentido, Perrenoud (2001) aponta competência como o conjunto dos
recursos que mobilizamos para agir diante de situações que vem acompanhada de
uma série de outros fatores (opiniões, crenças, hábitos, aptidões, saberes,
sentimentos, atitudes). Nesse contexto, é fundamental saber administrar recursos
cognitivos e afetivos das mais variadas maneiras.
Em seus estudos Perrenoud e Thurler (2009) compreendem competência:
Aptidão para enfrentar uma família de situações análogas, mobilizando de
uma forma correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos recursos
cognitivos: saberes, capacidades, micro competências, informações valores,
atitudes, esquema de percepção, de avaliação e de raciocínio
(PERRENOUD; THURLER, 2009, p. 19).
Perrenoud (2001) denomina competência como a capacidade do indivíduo de
mobilizar o todo ou parte de seus recursos cognitivos e afetivos para enfrentar uma
família de situações complexas.
Neste raciocínio, os autores reconhecem que situações conflituosas, exigem
competência, que por sua vez, se mostram muito mais complexas do que são.
Envolvem igualmente recursos já mencionados, mas destacam que os mesmos são
construídos ao longo da prática docente.
Fleury e Fleury (2001) apontam semelhança nesse sentido quando afirmam
que competência é um conceito utilizado para designar uma pessoa qualificada para
realizar alguma coisa.
43
Nos últimos anos, o tema competência vem sendo discutido nos âmbitos
empresariais e acadêmicos, associado a diferentes instâncias de compreensão. Em
uma organização ou empresa, uma pessoa que tenha qualificação para fazer algo é
caracterizada como competente, porém, com maior aprofundamento. Este termo é
remetido a uma conduta de alguém que sabe o que faz e se reconhece e/ou é
reconhecida por isso. Como consequência, movimenta, integra e repassa
“conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à
organização e valor social ao indivíduo” (FLEURY; FLEURY, 2001).
Para os autores, ao abordar aspectos relevantes e de magnitude, o indivíduo
acumula para si o valor social e à organização agrega o econômico. Há o claro
entendimento de que quando há o desenvolvimento de competências para a
empresa, concomitantemente, há o crescimento pessoal.
Assim, a soma de conhecimentos, habilidades e atitudes caracterizam-se
como competência. Ela está fortemente vinculada à performance, acreditando-se
que o melhor resultado emana, acima de tudo, da personalidade e da inteligência da
pessoa. Apesar de seu desenvolvimento estar ligado ao indivíduo, sua importância
muito se situa nas organizações (FLEURY; FLEURY, 2001):
“O trabalho não é mais o conjunto de tarefas associadas descritivamente ao
cargo, mas se torna o prolongamento direto da competência que o indivíduo
mobiliza em face de uma situação profissional cada vez mais mutável e
complexa. Esta complexidade de situações torna o imprevisto cada vez
mais cotidiano e rotineiro”. (p. 186).
Depresbiteris (2016) aponta que no domínio educacional, a competência
implica na mobilização de um conjunto de recursos cognitivos, afetivos e
psicomotores que a constituem. A autora contextualiza essa passagem
exemplificando uma situação docente indagando se um docente que seja profundo
conhecedor de sua área, mas que não mobiliza esse saber para estimular a
aprendizagem e a autonomia dos educandos, poderá ser considerado como
competente.
Ao falar de competência profissional deve-se ter duplo olhar para o cargo a
ser exercido e para a pessoa que vai exercê-lo. No caso da profissão, há uma
definição dos requisitos minimamente necessários para que, de forma responsável,
execute as tarefas que lhe são exigidas no referido cargo. No que tange ao
44
indivíduo, diz respeito à condição mínima necessária para assumir compromissos e
realizá-los corretamente a fim de se chegar a um objetivo pretendido. Fato é que ter
competência requer conhecimento e habilidades sobre uma questão específica e,
sem elas, haverá maior dificuldade ou tempo para a consecução. A definição de
competência auxilia também no processo avaliativo da realização da tarefa que, com
os resultados positivos, promove tanto os resultados da empresa como da própria
pessoa (LÜCK, 2009).
Desta forma, desenvolver a competência profissional é de suma importância
para profissionais que atuam em educação, como condição de aprimoramento de
sua identidade profissional baseada em promoção de resultados cada vez mais
eficazes e a capacidade de responder efetivamente aos novos desafios
educacionais (LÜCK, 2009).
45
4. MÉTODO DA PESQUISA
4.1 Caracterização da pesquisa
Do ponto de vista metodológico, este estudo se caracteriza como uma
pesquisa, qualitativa de caráter descritivo, do tipo participante com proposta de
intervenção.
Para Lüdke e André (1986), na pesquisa qualitativa o pesquisador tem
contato direto com o propósito de seu estudo, descrevendo dados de forma
descritiva. O tratamento a este tipo de investigação concede mais foco ao processo,
do que ao produto. É escopo do pesquisador, atribuir maior verossimilhança ao
ponto de vista dos participantes.
Turato (2005) afirma que o pesquisador tem interesse na investigação do
sentido, na essência das coisas. Tal tipo de pesquisa propicia aumento da
percepção em compreender o significado das situações vivenciadas. Como
consequência, possibilita obter maior detalhamento de dados com interpretações de
resultados expressivos. São pesquisas realizadas no ambiente dos pesquisados,
facilitando a compreensão de fenômenos e significados que as pessoas apresentam.
O alvo dos pesquisadores é o valor significativo que tal fenômeno traz para os que
vivenciam.
No processo de pesquisa é importante considerar que procurou-se relatar as
informações coletadas com riqueza de detalhamento de situações, acontecimentos,
transcrições. O pesquisador deve atentar para que os fatos sejam investigados de
maneira estruturada, já que um fato simples pode ser essencial para a melhor
compreensão do problema que está sendo estudado (LUDKE; ANDRÉ, 1986).
Esta pesquisa foi realizada em três etapas sugeridas por Jaramillo Echeverri
(2005): Pré-configuração, Configuração e Reconfiguração da realidade.
4.1.1 Pré Configuração da realidade
Este é o momento em que ocorre uma aproximação com a realidade a ser
pesquisada, a fim de esclarecer uma pergunta ou questão de pesquisa sobre o que
pretende compreender.
46
Passamos, agora, a descrever os procedimentos adotados durante a primeira
etapa da pesquisa que compreendeu o estudo piloto realizado em uma escola e a
pesquisa que subsidia essa dissertação, realizado em outra escola.
Esta pesquisa foi precedida por um estudo piloto com a finalidade de
aprimorar as habilidades de pesquisa da pesquisadora e para que houvesse sua
familiarização com a temática da pesquisa em contexto real de ensino.
O estudo piloto foi realizado na cidade de São Paulo, local diferente da escola
relatada na pesquisa. Foi aplicada uma entrevista semiestruturada aos professores
que ministravam aulas de Educação Física para alunos do Ensino Fundamental II e
Ensino Médio. Os resultados da entrevista foram importantes, pois proporcionaram a
oportunidade de ouvir um pouco sobre o que os professores encontram de conflitos
em suas aulas e de que forma enfrentam essas situações com seus alunos.
Ao concluir o estudo piloto, foi possível perceber a importância deste
processo como pesquisadora. Houve maior aproximação com os professores e com
o tema pesquisado de forma mais segura, compreendendo um pouco mais a
respeito do cenário de conflito em aulas de Educação Física e como os professores
estão enfrentando essas situações nas escolas com seus alunos. As respostas
obtidas no estudo piloto contribuíram para ampliar a busca na literatura com temas
relacionados aos conflitos, e compreender como o professor pensa e o que ele sabe
sobre conflitos e a partir dos resultados deste estudo, foi elaborado uma etapa mais
estruturada daquilo que se pretendia pesquisar.
Para que não se quebre a fluência de leitura deste relatório final de pesquisa,
o detalhamento do estudo piloto consta no Apêndice 6.
Após concluir a fase do estudo piloto, iniciou-se a pesquisa de campo com os
três professores e a pesquisa que subsidia essa dissertação foi desenvolvida em um
colégio da rede particular, localizado na cidade de São Bernardo do Campo.
No primeiro encontro com os participantes envolvidos no estudo, foi
apresentado o projeto, esclarecidos os objetivos, os benefícios da participação dos
docentes no processo de formação continuada e a contribuição de todos para a área
de Educação Física e para a sociedade. O procedimento para a coleta de dados no
Colégio foi caracterizado pelos primeiros contatos com a direção, seguido da
caracterização da escola e dos professores.
47
O responsável pela direção do Colégio onde foi realizada a pesquisa assinou
o Termo de Autorização da Escola (Apêndice 1), em que foram detalhadas todas as
informações pertinentes à pesquisa envolvendo a instituição de ensino.
Para a viabilização da pesquisa com seres humanos é necessário atender às
exigências éticas e científicas fundamentais. Para isso, os participantes assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que se encontra em anexo.
(Apêndice 2).
4.1.2 Configuração da realidade
A partir da ideia concebida, houve a necessidade de se elaborar uma etapa
mais estruturada daquilo que se pretendia pesquisar, na qual o pesquisador realiza a
coleta de dados, a intervenção proposta e a análise das informações coletadas.
As informações foram coletadas por meio da realização de duas entrevistas
semiestruturadas com cada professor envolvido no projeto e de vários encontros de
discussão individualizados, da observação de aulas para compreender o contexto
pesquisado e as falas do professor. Nessa etapa também foi utilizado o diário
reflexivo como instrumento para estimular o diálogo entre pesquisador e pesquisado.
No estudo de campo na escola pesquisada foram aplicadas duas entrevistas
com cada professor. A primeira entrevista teve como propósito diagnosticar o
conhecimento teórico dos professores sobre situações de conflito em aulas de
Educação Física, identificar situações que ocasionam conflitos entre os alunos, bem
como as ações de enfrentamento realizadas por eles.
4.1.3 Local e amostra da pesquisa
Este estudo foi desenvolvido em um colégio da rede particular, localizado na
cidade de São Bernardo do Campo. O Colégio foi fundado por uma família, na
década de 60, inicialmente com turmas do Ensino Fundamental I e cursos técnicos.
Em 2011 o colégio passou a ser administrado por investidores da Educação que até
hoje o mantém.
Atualmente, o colégio tem 1.324 alunos, do Ensino Fundamental I, II e Ensino
Médio/Técnico e 153 funcionários e professores. O Sistema de ensino adotado
oferece como ferramenta uma plataforma pedagógica com objetivo de incentivar o
aluno a ser mais em todos os sentidos.
48
O Colégio tem tradição em cursos profissionalizantes em que os alunos do
Ensino Médio optam pelo ensino regular ou técnico. Neste momento, há oferta de
cursos de Informática, Administração e Eletrônica. Os cursos profissionalizantes no
formato oferecido permitem ao estudante ter uma carga horária acadêmica e de
disciplinas técnicas, propiciando a eles o ingresso nas Universidades e, ao mesmo
tempo, no mercado de trabalho com uma formação técnica como diferencial.
O Colégio possui duas unidades. Na unidade I, estão alocadas as turmas do
Ensino Fundamental II e Ensino Médio e na unidade II, denominada ABC,
encontram-se as turmas de Ensino Fundamental I.
Com relação à inclusão, o Colégio recebe alunos portadores de necessidades
especiais. Em particular para alunos surdos, há o acompanhamento individual de um
intérprete de maneira que nenhum conteúdo deixe de ser retratado aos alunos.
O Colégio baseia-se em uma concepção sócio interacionista, que concebe a
aprendizagem como fenômeno que se realiza na interação com o outro. O processo
de desenvolvimento cognitivo está centrado na possibilidade de o sujeito ser,
constantemente, colocado em situações-problema que provocam a construção do
conhecimento, a partir de seus conhecimentos prévios, já consolidados.
Na região do ABC, o Colégio é visto pela comunidade de duas formas, a
primeira é de que oferece um bom ensino em um valor acessível aos pais e a
segunda por ter curso técnico que prepara os jovens para o mercado de trabalho.
Participaram desta pesquisa todos os professores de Educação Física do
Colégio, sendo um do sexo masculino e dois do sexo feminino, com idades entre 39
anos, 41 anos e 53 anos. Os três professores possuem vínculo empregatício com a
escola e ministram aulas de Educação Física para alunos do Ensino Fundamental I,
II e Ensino Médio.
Todos manifestaram sua permissão, assinando o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 2).
Em relação à formação inicial dos participantes, os três professores possuem
licenciatura plena em Educação Física, sendo dois deles graduados na mesma
faculdade privada na década de 80 e 90, e um deles em outra faculdade privada, em
2005. Os professores serão identificados como P1, P2 e P3, desta forma protegendo
suas identidades e respeitando a ética na pesquisa.
49
P1: 41 anos de idade, título de Licenciatura Plena em Educação Física desde
1996, 11 anos de experiência profissional em colégio particular, ministrou aulas em
academias e escolas públicas. Na formação continuada tem especialização em
psicopedagogia.
P2: 53 anos de idade, título de Licenciatura Plena em Educação Física desde
1986, 28 anos de experiência profissional em diferentes escolas, sendo particular e
prefeitura, atuou na coordenação na área de Educação Física e Esportes em clube e
Colégio. Na formação continuada é especialista em Didática do Ensino Superior.
P3: 39 anos de idade, título de Licenciatura Plena em Educação Física desde
2005, 13 anos de experiência profissional em escola particular, com alunos do
Ensino Fundamental II e Ensino Médio, ministra aulas em academia e também é
personal trainner. Na formação continuada participou de grupos de estudos em
Educação Física e atualmente é Presidente de uma associação esportiva.
No processo de pesquisa é importante considerar que buscou-se relatar as
informações coletadas com riqueza de detalhamento das transcrições, situações e
acontecimentos.
A primeira entrevista semiestruturada foi composta por quatro questões
abertas, as mesmas utilizadas no estudo piloto. As questões norteadoras da análise
foram relacionadas à percepção do professor sobre conflitos e sua maneira de lidar
com os mesmos.
No processo de coleta de dados foram realizados:
Estudo piloto – com objetivo de aproximação com o tema
Entrevistas semiestruturadas
Encontros individuais para discussão
Diário de aula
A entrevista aplicada aos participantes foi composta por quatro questões
abertas, as mesmas utilizadas no estudo piloto.
Roteiro das entrevistas:
1) Cite as séries em que você encontra situações de conflito nas aulas de
Educação Física.
2) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula de Educação Física
como professor(a) na escola.
50
3) Quando acontece algum tipo de conflito, o que fez na ocasião?
4) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas seguintes ou na
turma?
A questão 1 teve como objetivo saber qual a idade mais frequente em que
aparecem os conflitos, somente a título de informação.
As questões 2, 3 e 4 tiveram como objetivo identificar situações que
ocasionam conflitos entre os alunos, bem como as ações de enfrentamento
realizadas pelos docentes em aulas de Educação Física.
As respostas obtidas nas entrevistas foram gravadas em áudio, transcritas,
lidas e seu conteúdo foi analisado e codificado segundo Saldaña (2011). O autor
afirma que codificar é organizar os elementos de uma maneira sistemática, para que
algo se torne parte de um sistema ou classificação, é um método que permite
organizar informações agrupando certos itens que possuem algo em comum em
categorias ou “famílias”. Após essa etapa, foram grifadas as expressões
evidenciadas pelos professores e analisadas segundo Moore (1998).
Posteriormente, foi entregue a cada docente um diário para registrarem
semanalmente acontecimentos relacionados aos conflitos em suas aulas, que teve
como objetivo levantar informações sobre o tema e provocar a reflexão dos
professores.
Os diários de aula, assim denominados por Zabalza (2004) são documentos
com riqueza de informação, em que os professores relatam suas impressões sobre
as aulas com narrativas dos acontecimentos. Esse processo é fundamental para
promover o exercício da reflexão sobre a própria prática e as circunstâncias em que
ocorrem. É um instrumento que contribui para o desenvolvimento pessoal e
profissional, sendo um excelente recurso para a formação continuada dos
profissionais da educação.
O diário de aula foi proposto e muito bem aceito pelos professores
participantes da pesquisa, de maneira que ao escrever, o professor exercita sua
reflexão e apropriação dos seus documentos. Os docentes foram orientados a
relatar situações de conflitos encontradas em suas aulas de Educação Física e
ações de enfrentamento realizadas, possibilitando um processo de reflexão.
51
As perguntas que nortearam os diários foram baseadas na percepção dos
professores sobre situações de conflitos em suas aulas e medidas de resolução dos
mesmos, o que gerou temas norteadores de alguns encontros, assim, trazendo mais
elementos para as discussões.
Foram realizadas 11 reuniões individuais com os professores para discussões
dos temas da pesquisa, dos resultados das entrevistas e dos diários. Ao final do 4º
encontro, foram enviados por e-mail dois textos envolvendo temas como violência,
agressividade, disciplina no contexto da Educação Física.
O 11º encontro ocorreu com objetivo de discutir os resultados com os
professores e avaliação do que a pesquisa produziu para eles, para os alunos e para
a escola. Há relatos de professores que após os encontros e discussões sobre
conflitos passaram a olhar e a refletir sobre as desavenças encontradas em suas
aulas de maneira mais reflexiva.
As perguntas feitas aos professores que nortearam os relatos no diário de
aula foram as seguintes:
Roteiro dos diários de aula:
1. Como foram as situações que enfrentei na semana passada, relacionadas a
conflitos nas aulas de Educação Física?
2. Como lidei com tais situações? (descrever o que fez na ocasião).
3. Como me saí lidando com tais situações (auto-avaliação e percepção de
competência).
Foi elaborado, juntamente com os professores, um cronograma de encontros,
individualizados, com duração de cerca de 30 a 40 minutos cada sessão, durante 6
meses, dentro da própria escola. A proposta desses encontros foi baseada em
relatos dos professores sobre conflitos em suas aulas e a forma como conduziram o
acontecido.
52
Quadro 2 – Cronograma das reuniões
Reunião 1 - Apresentação do projeto, coleta dos termos de autorização e TCLE.
Reunião 2 – Caracterização da escola e dos professores
Reunião 3 – Aplicação das entrevistas com os professores
Reunião 4 – Explicação do uso do diário de aula para relatar as situações de conflitos enfrentadas
nas aulas de Educação Física
Reunião 5 – Discussões sobre os relatos de conflitos nos diários e envio de artigos para leitura
Reunião 6 – Selecionar junto com os professores os relatos de conflitos nos diários de aula.
Reunião 7 – Propostas de estratégias de mediação que auxiliem os professores de acordo com
relatos de conflitos nos diários
Reunião 8 - Entrevista com os professores sobre questões relacionadas às competências
Reunião 9 – Discussões sobre os relatos de conflitos nos diários de bordo e situações enfrentadas
em aulas
Reunião 10 – Apresentar sugestões aos professores sobre estratégias para mediação de conflitos em
suas aulas
Reunião 11 – Discussão dos resultados com os professores e avaliação do que a pesquisa produziu
para eles, para os alunos.
4.1.4 Relatos dos encontros
1ª encontro – Nesse dia foi apresentado o projeto para a Diretora da escola,
bem como para os professores e foi entregue o Termo de autorização da escola e o
Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
2ª encontro – Nesta reunião ocorreu a caracterização da escola e dos
professores. No caso da escola as perguntas foram feitas diretamente para a
Diretora e sobre a caracterização dos professores, os mesmos responderam
questões para identificação em relação à sua formação acadêmica.
3ª encontro – Nesse dia foi aplicada a primeira entrevista individualmente,
com duração de 30 minutos. Os professores foram estimulados a responder
questões sobre situações de conflitos em suas aulas e como enfrentaram as
mesmas.
4ª encontro – Neste encontro foi entregue a cada docente um diário para
registrarem semanalmente acontecimentos relacionados aos conflitos em suas
53
aulas. Os docentes foram orientados a relatar situações de conflitos encontradas em
suas aulas de Educação Física e ações de enfrentamento realizadas, possibilitando
o início de um processo de reflexão por parte dos professores que foi estimulado
durante os encontros.
5º encontro – O encontro deste dia possibilitou a discussão sobre os relatos
feitos nos diários. Os professores sentiram necessidade de leitura e foi enviado por
e-mail a cada um deles um artigo relacionado ao tema. Os artigos enviados aos
professores foram: Disciplina em aulas de Educação Física (Silva, 2000) e Conflitos
na escola: modos de transformar (Ceccon, et al, 2009).
6º encontro – Nesse dia, cada professor selecionou os relatos feitos nos seus
diários de aula e foram discutidas as ações de enfrentamento realizadas pelos
mesmos.
7º encontro – Foram propostas a cada professor algumas estratégias para
auxiliá-los de acordo com os relados abordados nos diários. Foram propostas
estratégias de mediação de conflito como o diálogo, a escuta ativa, negociação e por
parte dos professores o exercício da reflexão diante de situações adversas.
8º encontro – Nessa etapa foi realizada a segunda entrevista com cada
professor sobre questões relacionadas à competência.
9º encontro – Nesse encontro foram retomados os outros relatos descritos no
diário de aula e foram discutidas as situações de conflitos enfrentadas e as ações
que cada professor teve no momento.
10º encontro – Nesse dia foram propostas novas estratégias para mediação
de conflitos nas aulas. Cada professor relatou o que fez como forma de lidar com os
conflitos em suas aulas.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da
Universidade São Judas Tadeu (USJT), protocolo CAAE 58359916.5.0000.0089.
4.1.5 Reconfiguração da realidade
Na etapa da Reconfiguração da realidade, os dados da pesquisa foram
validados com os participantes e os mesmos avaliaram quais mudanças ocorreram
em consequência da pesquisa. Esse momento permitiu que os docentes realizassem
54
alterações e/ou complementassem os resultados e análises feitas, material cuja
discussão pode contribuir para uma ampliação do entendimento dos educadores
sobre mudanças em suas percepções de competência para lidar com situações de
conflito em aulas de Educação Física.
No 8º encontro, foi aplicada a segunda entrevista, objetivando reforçar a
percepção inicial dos professores sobre conflitos. Foi perguntado aos professores se
ao longo desse processo de discussão e reflexão, eles perceberam alguma
mudança na sua competência para lidar com situações de conflitos.
No 11º encontro foram realizadas discussão dos resultados com os
professores e avaliação do que a pesquisa produziu para eles e para os alunos. Os
relatos de cada professor foi muito importante para o processo da pesquisa.
As respostas obtidas nas entrevistas foram gravadas em áudio, transcritas,
lidas e seu conteúdo foi analisado e codificado segundo Saldaña (2011). O autor
afirma que codificar é organizar os elementos de uma maneira sistemática, para que
algo se torne parte de um sistema ou classificação, é um método que permite
organizar informações agrupando certos itens que possuem algo em comum em
categorias ou “famílias”. Após essa etapa, foram grifadas as expressões
evidenciadas pelos professores e analisadas segundo Moore (1998).
O processo analítico aplicado na pesquisa seguiu os seguintes passos:
1º) Coleta de dados – momento em que se obtém informações a respeito de
um determinado tema. A coleta de dados iniciou com a aplicação de entrevista
semiestruturada aos participantes. O processo ocorreu com os três professores e a
entrevista foi gravada em áudio.
2º) Transcrição – após a etapa de gravação em áudio, as entrevistas foram
reproduzidas e transcritas. Utilizou-se codificação in vivo, que é um indicador
baseado na linguagem real utilizada pelo participante, ou seja, são relatos extraídos
diretamente dos registros dos dados.
3º) Identificação de unidades de significado – nessa etapa Saldaña (2011)
propõe uma etapa de pré- codificação, na qual o pesquisador faz uma leitura inicial
dos dados e elabora reflexões iniciais sobre o material coletado, denominadas
memos ou memórias. Nessa fase, as informações relevantes foram sublinhadas e
assinaladas palavras e/ou frases mais evidenciadas pelos entrevistados. Portanto, a
55
elaboração de memórias (memos) analíticas contribui para a elaboração de
questionamentos e o levantamento de causas e efeitos, análises pessoais e teóricas
acerca do que foi destacado durante a leitura inicial. Os memorandos são
oportunidades para refletir e escrever sobre o fenômeno.
4º) Codificação das unidades de significado - a codificação é um método de
descoberta dos significados dos dados. Estes códigos funcionam como uma forma
de padronização, classificação e, posteriormente, reorganização de cada dado de
forma a propiciar uma análise mais aprofundada. Diferentes tipos de códigos existem
para diferentes tipos de gêneros e abordagens.
5º) Elaboração de categorias de análise - Foram construídas categorias para
agrupar pontos semelhantes nos relatos. O autor estabelece diversas possibilidades
para interpretação e, neste estudo, foi utilizada a codificação descritiva de maneira
manual.
Para tanto, foram definidas, previamente, duas categorias de análise, sendo
denominadas categoria 1, que está relacionada à identificação de situações de
conflitos, e categoria 2, relacionada à intervenção do professor realizada nas
situações identificadas:
Categoria 1 - Identificação de situações de conflito.
Categoria 2 – Intervenções realizadas nas situações identificadas.
6º) Análise nomotética - a etapa final resulta, assim, da organização que o
autor propõe e que permite organizar e apresentar as matrizes nomotéticas com os
temas decorrentes das análises. Com base nas respostas obtidas, foi elaborada uma
matriz nomotética que sintetizou as respostas analisadas individualmente e
apontaram os tópicos mais citados pelos professores. Os resultados foram gerados
a partir das análises das respostas obtidas nas entrevistas e nortearam o diálogo
com demais estudos voltados para o tema.
Consideramos que a discussão deste material pode contribuir para uma
ampliação do entendimento dos educadores sobre mudanças em suas percepções
de competência para lidar com situações de conflito em aulas de Educação Física.
56
5. RESULTADOS
Habituar-se no mundo social é experimentar e refletir sobre ele,
constantemente. Entretanto, para compreendê-lo profundamente sob a perspectiva
de um pesquisador, há a necessidade de um processo de coleta de provas
suficientes para documentar os padrões, categorias e significados que os seres
humanos atribuem a determinados contextos (SALDAÑA, 2011).
A primeira entrevista semiestruturada foi composta por quatro questões
abertas, as mesmas utilizadas no estudo piloto. As questões norteadoras da análise
foram relacionadas à percepção do professor sobre conflitos e sua maneira de lidar
com os mesmos
5.1 Transcrição das entrevistas a respeito dos efeitos da pesquisa sobre a
percepção docente sobre a maneira como lidar com conflitos
5.1.1 Transcrição da Entrevista com o Professor 1
Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de
conflito nas aulas de Ed. Física.
Professor 1: Depende, assim, tem ano que tem conflito em determinada série
e em outros anos, outras. O ano passado mesmo, a gente tinha bastante conflito
com o sexto ano, entendeu? Que hoje é o sétimo. É então isso muda de ano para
ano. Tem ano que foi a oitava série que tinha muito conflito. Então, acho que
depende da turminha.
Conflitos mais encontrados são no Fundamental II, no Médio já não encontra
assim tanto conflito porque parece que estão mais enturmados, já tem os grupinhos
deles, então, estão divididos em grupos e aí eles não se misturam com os outros
grupos e então acabam não tendo tanto conflito assim. Cada um fica na sua,
entendeu? Cada um fica dentro do seu grupo. Eu não vejo assim muito conflito. Em
um ou outro é claro. Fulano não gosta de ciclano. Sabe aquilo que faz parte de todo
grupo não só na escola. No grupo de trabalho, qualquer lugar que você esteja e às
vezes acaba rolando essas não afinidades, mas eu vejo mais assim tipo no sexto,
sétimo, oitavo, que acaba tendo mais conflito, em minha opinião.
57
Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula
de Educação Física como professor na escola.
Professor 1: Eu já tive situação assim de aluno que do sexto ano e tal e que
não conseguia se relacionar com outro1, outros colegas tal e ai tinha, além de ter
esse problema de relacionamento1, não se relaciona, não aceitava ser questionado1.
Assim se ele recebesse um não ou alguma coisa assim, ficava extremamente
agressivo1. E aí a gente depois a gente foi estudando o caso dele e foi vendo que
vinha da própria família, entendeu? Essa agressividade. E aí chegou a uma situação
em que eu tive de intervir que ele estava querendo brigar com outros colegas e aí
ele não aceitou a minha posição2 e aí foi até... 6o ano... Um garotinho pequeninho
querendo me enfrentar, entendeu. E aí foi uma situação assim meio difícil porque
você tem que, você vê que a criança ela está totalmente descontrolada1 e aí você vê
que não pode inflamar mais aquilo, porque dependendo da forma que você fala ela
entende com mais agressão ainda. Eu não sei como dentro de casa é lidado isso.
De repente o pai e a mãe são agressivos com ele, e tal e aí acaba se manifestando
na escola. E aí se você age do mesmo jeito que o pai e a mãe, a criança acaba
ficando mais descontrolada ainda, entendeu? 2 Então eu senti que na hora que eu
intervi, porque lá, porque ele estava querendo brigar, ele estava querendo sair na
pancada com o outro aluno, aí ele pegou e virou o cotovelo1, eu tive que dar uma
amenizada, porque ele estava querendo até enfrentar mesmo, entendeu. E aí assim,
a gente tem que saber identificar cada um e aí com isso você saber lidar com esse
tipo de criança. Por isso que você nunca fala alto, entendeu? Então, acho que
assim, para você conseguir controlar alguém que é agressivo não adianta você ser
agressivo também. Você tem que tentar acalmar a pessoa ali, primeiro falando com
um tom mais baixo, mais calmo, para tentar fazer com que essa criança se acalme2,
entendeu? Mas ao mesmo tempo você tem que ser firme, porque se ela não sentir
que você não está sendo firme.
Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz
ou já fez na ocasião?
Professor 1: Ai o que acontece? Aí depois que essa criança. Esse é um dos
casos que eu me lembro... aí eu aproveitei uma outra oportunidade em que ele já
tinha se acalmado e aí eu tentei falar com ele, não como professor entendeu, como
um amigo entendeu? De igual para igual. E aí eu coloquei a situação que aqui
58
dentro sabe a gente tem normas, têm regras, eu tenho que respeitar, ele tem que
respeitar e assim que a gente consegue conviver com as pessoas. E aí eu perguntei
para ele se ele viu que ele realmente tinha errado. Ele admitiu e aí a conversa assim
fluiu de um jeito que ele acabou até pedindo desculpas2. E hoje, hoje ele está
grande, adolescente... Encontro com ele por aí, tal, dá um abraço e tal e eu consegui
reverter aquela situação pela própria postura que eu acho que eu tive naquele
momento que ele me viu como, aliás muitas vezes eles olham o professor como se
fosse o inimigo, não aquele que quer ajudar entendeu? Então eles sempre olham
“ah ele não entende nada porque não está na minha pele”, entendeu? Ele é
professor, vê sempre como se fosse um adversário em que ele está disputando.
Então a partir do momento em que você fala a mesma linguagem e tal, de igualdade,
e aí aquilo que eu falei... Acaba rolando uma identificação2 né... Não que você vai
querer ser, ter uma postura de criança, tem que rolar uma identificação, olhar para
você e ele se ver, entendeu? Então dependendo do jeito que você fala ou às vezes
até a forma que você se gesticula tal, porque também não é só a fala, mas a forma
que se gesticula ele acaba se identificando e aí acaba entendendo, porque caso
contrário você não tem, não consegue ter uma conexão2.
É, então tem que rolar uma conexão, você tem que conseguir, sabe, se
conectar com essa criança.
É. Isso. Ele começou a ver que realmente tinha errado. Que a postura que ele
teve comigo, estaria me desrespeitando, entendeu? Porque na hora que ele estava
nervoso e tal, eu perguntei por que ele estava falando alto comigo, porque ele
estava gritando comigo se eu não estava gritando com ele, entendeu? Aí ele gritava
mais ainda1 e aí foi a hora, eu fui tentando acalmar ele, tal. E aí ele viu finalmente
que tinha errado. E aí ele pediu desculpas para mim. E falou e aí eu falei vamos
esquecer isso e daqui por diante, vamos tentar modificar essa postura 2.
Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas
seguintes ou na turma?
Professor 1: As aulas seguintes foram tranquilas, pelo menos na minha
frente. Na minha aula, pelo menos, não rolou mais. Porque eu falei que, dentro da
minha aula, não admitiria nenhum tipo de agressão2, mesmo que se ele tivesse
certo. Que tudo que acontecesse ali, ele tinha que chegar e falar comigo. Ele não
tinha que tentar ele resolver, porque eu era o responsável2. E aí se acontece alguma
59
coisa, quem tem que assumir sou eu. Eu respondo por eles e aí foi onde ele pegou e
acabou entendendo o meu lado, sabe que ele poderia me prejudicar. Aí eu perguntei
para ele se a intenção dele é me prejudicar. Você quer me prejudicar? Aí ele falou
que não. Disse que a sua atitude poderia me prejudicar. E aí foi a onde eu consegui
colocar ele também... Tentar se colocar no lugar do aluno e fizer com que seu aluno
também se coloque também no lugar do professor, para que ele tenha uma visão
diferente2. Às vezes eu pego até e faço uma brincadeira com o pessoal. Eu pego e
escolho um e coloco-o, como se ele fosse o professor para dar aula, aí eles...
Primeiro que eles já conseguem sentir a dificuldade que eles não conseguem
organizar o pessoal, porque um sai para lá, outro sai para cá, aí eles pegam e
acabam desistindo e olham para mim e falam “ah não dá professor” e isso acaba
sendo legal porque daí eles começam a ver quais são as dificuldades que a gente
tem.
Está valorizando. Isso é o que a gente costuma tentar fazer, mas aí em forma
de brincadeira, porque, eles aprendem mesmo, só na forma lúdica. Se eles veem
alguma coisa muito imposta, eles criam alguma resistência. Então, muitas vezes, a
gente tem um objetivo a ser atingido e aí você tem que saber e ir pelas beiradas,
levando de forma de brincadeira, porque tudo para eles é em forma de brincadeira.
Se deixar, sabe, é só brincadeira, eles não fazem mais nada. Então, a gente tenta,
sabe mostrar para eles que tem a hora de brincar, tem momento que eles têm que
ter responsabilidade, sabe, tem momento que eles têm que respeitar a regra, que as
coisas funcionam desse jeito. E aí eu pego e acabo dando alguns exemplos. Falo do
futuro, de quando eu estava na faculdade, como era, tal. Coisas que aconteciam.
Para fazer com que ele imagine lá na frente, possa encontrar, entendeu? Que ele
consiga projetar lá na frente, forçar um pouco a mente dele.
Pesquisador: Minha pesquisa é uma pesquisa participante, pretendo
verificar situações de conflito que são na minha percepção e de repente na tua
não é. E a gente fazer uma troca e ver o que você percebeu naquela aula, e a
gente conversar sobre isso. E aí, a ideia é a gente poder trazer estratégias, se
você quiser que você possa utilizar ou não. Então de repente, em determinada
situação em que foi identificado o conflito, a literatura diz que você pode
coloca-los em círculo e ouvir os lados, então eu trago para você algumas
alternativas e digo, você pode tem essas ferramentas aqui e você diz se quer
60
utilizar ou não. Então é participante, meu foco é você, como é sua percepção
sobre conflito, como é que você lida com conflito, e se estas estratégias que
eu estou trazendo para você foram úteis ou não. Você quis usar ou não. Isso é
uma coisa muito... Como é uma pesquisa que eu atuo junto com vocês, eu
participo com vocês, então a gente vai conversar muito sobre isso, né? Então
tudo que vocês falarem eu vou relatar e vou confrontar com a literatura e vou
falar: olha, realmente muitas escolas estão tendo este tipo de atitude, os
alunos estão tendo este tipo de atitude, então de que forma a gente pode
ajudar esses jovens de hoje? Então a mediação é uma forma...
Professor 1: Eu vejo que a gente procura ensinar eles a jogar bola, nas aulas
de Educação Física, jogar vôlei, hand...mas a gente não ensina como lidar com as
suas emoções. Eles não sabem como lidar. Então, você vê, que às vezes, ele está
nervoso por algum motivo e ele nem entende porque está nervoso. Então aí o que a
gente tem que tentar fazer é que eles tenham essa reflexão2. Por que é que eles
ficam nervosos? Ah porque eu perdi o jogo, porque fulano de tal roubou. Mas e aí?
Isso aqui é só uma brincadeira, isso aqui não está valendo nada. E mesmo que
estivesse valendo, você não pode agir desse jeito porque não é assim que você vai
conseguir resolver, entendeu?. Então, o que falta um pouco é a gente trabalhar mais
essa questão, entendeu? Então, às vezes a gente fica preso a um planejamento,
que nem está funcionando, entendeu? Então ficar só pego nessa parte de fazer o
aluno fazer exercício, fazer o aluno sabe, mas e aí, a cabeça dele, quem vai
trabalhar a cabeça dele? Será que na Educação Física não pode estar se
trabalhando também essa questão? Porque ele vai saber, ele tem que saber lidar
em grupo, a trabalhar em grupo, a lidar com. às vezes a gente tem situação de um
aluno que “é” só os melhores no time dele. Você coloca um que não seja tão
habilidoso e ele não quer, entendeu? Mas e aí? Se você estivesse no lugar dele?
Você gostaria que o pessoal te tirasse, não colocasse porque você é ruim? São
essas coisas que a gente tem que trabalhar.
Pesquisador: Na faculdade você teve algum tipo de preparação?
Professor 1: Não.
Pesquisador: Então, você lida do seu jeito?
Assim, a gente não tem uma preparação quando sai da faculdade. Só que daí
na hora que você chega, na prática, você vê que é totalmente diferente da realidade.
61
Totalmente diferente, então, se você vem com alguns projetos, se pode fazer aquilo,
não sei o que, hora que você olha que você vai aplicar o negócio... Opa, não é bem
assim, não é tão fácil assim, porque você começa a encontrar um monte de
dificuldades. As barreiras, as dificuldades, e aí essa questão mesmo de ficar lidando
com pessoas, cada um tem um perfil. Você tem que entender o perfil dessa criança,
saber como lidar com ela. Então, muitas vezes a gente pega um aluno novo, é um
bom aluno, a gente tem assim uma ideia só do perfil daquele aluno. Se ele tem
laudo, se ele não tem se tem algum tipo de problema, se não tem, entendeu? E
saber se temos preparação de como lidar com esse aluno. Ah, então se ele tiver um
ataque de estrelismo no meio da aula e ele começar a querer arrebentar tudo o que
eu faço com ele? E aí? Seguro ele? E aí ele pode querer começar a arrebentar tudo,
e aí como lidar com essa situação? Então têm algumas situações que a gente
identifica, porque de repente é uma atividade simples e você vê que o aluno já se
descontrola com uma coisinha besta, entendeu? E você já fica esperto com que
você já sabe que se por causa disso ele já se estressou, se fosse um campeonato,
uma final de campeonato, alguma coisa, ele iria explodir de raiva. Então você vai
começando a dar mais atenção para ele. Então, a gente fica assim, pelo menos na
minha forma de trabalhar, dou mais atenção aos problemáticos do que aqueles que
a gente vê que não tem tantos problemas, tantas dificuldades. Então, aqueles que
são problemáticos, são aqueles que a gente fica em cima. 1 Só que assim, a
quantidade de alunos é grande, né? Então, às vezes, se a gente tem um caso
especial, você não tem como dar uma atenção especial. Ficar em cima, bater um
papo, trocar uma ideia, chamar de canto, e “aí, você viu o que você fez?”, “e aí, por
que você acha que fez aquilo?” , “ e aí, como que a gente pode fazer para melhorar
isso?2” Então, você não tem esse tempo.
Pesquisador: Então, o seu perfil é mais de chegar e conversar e resolver
o problema?
Professor 1: Eu acredito assim. As coisas se resolvem dessa forma. Então,
muitas vezes, assim, quando acabam me conhecendo e aí depois acaba tendo um
choque porque eu não resolvo as coisas dessa forma, entendeu? Não gosto de falar
alto com o aluno, não gosto de gritar, então muitas vezes, se eu entro em uma sala,
está aquela zona, aquela bagunça, todo mundo falando alto, não sei que, então, ao
invés de eu pegar e gritar para o pessoal, ou pegar um apito e começar a apitar igual
62
a um louco, eu paro e fico como se fosse uma estátua, parado, sem piscar e olhando
para eles. Daqui a pouco eles começam a perceber. E aí, eles vão parando2,
entendeu? E vai parando, parando, porque o problema deles, principalmente a
Educação Física, eles não querem perder um minuto. E na hora que percebem que
eu estou ali, vamos dizer assim, parado, o tempo está passando. Eles estão
perdendo aula. E aí eu deixo claro. Enquanto não houver silencio, eu não consigo
fazer chamada, eu não consigo organizar o pessoal, eu não consigo falar qual vai
ser a atividade. Então a gente não sai da sala. Eles param na hora. Então tem
algumas coisas que a gente... Ou às vezes, eu pego e faço uma brincadeira com
eles e falo, olha, Vaca Amarela cagou na panela, quem falar primeiro. E aí eles
param na hora. Na hora. “É” estratégias que você primeiro tenta aplicar e ver se
funciona e se não funciona você vem com outra. Se funciona... e aí você começa a
identificar que algumas funcionam com determinados grupos e outras não
funcionam. Então para cada grupo funciona uma estratégia. A forma entendeu?
Então é assim: quanto mais eu conheço meu aluno, mais fácil fica. Dá para criar
estratégia para aquele aluno. Agora, se eu não consigo ter um contato mais próximo
com ele... Eu não sei o que ele pensa, o que ele acha, o que ele gosta, aí fica difícil
conseguir entrar na mente dele, entendeu? Conseguir fazer com que ele tenha essa
identificação, com que ele fique conectado, entendeu? Eu falo sempre da gente
estar conectado, é porque a gente tem que estar na mesma sintonia, para você se
entender com qualquer um. Se você não estiver na mesma sintonia a gente vai ficar
conversando e aí você vai sair daqui, um papo e vai falar “pô, não entendi nada que
aquele cara falou”. E a gente não faz a conexão. É a palavra certa. No marketing a
gente usa a palavra raport, palavra francesa essa. Mas aí se você não conseguir
criar esse relacionamento, com o aluno ou com a pessoa que você confiou o
negócio. Você tem que criar um relacionamento. Primeiro que ninguém vai dar a
atenção com uma pessoa que você não conhece. Para isso, você tem que criar um
relacionamento primeiro, para depois ela começar a te escutar, entendeu? E é isso
que a gente tenta fazer, mas deixando bem claro, que eu sou professor e eles são
alunos, que às vezes também eles não podem confundir isso, entendeu? Por que às
vezes eles podem confundir isso, entendeu? Porque às vezes eu vejo um aluno e
chega para mim e “não, professor, porque nesse final de semana a gente vai jogar
um futebol lá no Rudge Ramos, vamos aí junto com a gente, não sei o que e tal” Aí
eu falo para eles “Para com isso, eu sou casado, pô. Vocês acham que eu ficar com
63
vocês andando para cima e para baixo?” E eles dizem: ”Nada a ver, nada ver, não
sei o que”. Aí eu pego na brincadeira, no jeitão, mas para eles perceberem que eu
sou professor. Não que eu não possa. De repente, eu posso, mas para ficar claro,
para que não haja confusão.
Como já conheço as turmas em que estou, então, vamos dizer assim, eles já
estão meio vacinados. Então, para acontecer alguma coisa, a gente vai ter que
tentar inflamar. Colocar em alguma situação que aí, sim, vai acontecer algum
conflito. Porque como eu já sei, eu não os coloco em situação, entendeu? E aí,
dificilmente vai haver algum conflito. Porque eu já conheço um, conheço aquilo, que
aquele eu não posso colocar naquele time, não posso colocar um contra o outro,
porque no final, sabe.
Pesquisador: Então, é a sua percepção e sua atitude com relação a esse
grupo?
Professor 1: Isso, com esses grupos, mas dependendo da situação, se for
para dar uma inflamada, para ver o que vai acontecer aí isso eu também sei fazer.
Pesquisador: Siga sua rotina.
Professor 1: Eu vejo que eles são muito dependentes da tecnologia,
principalmente do celular e é assim, eles não conseguem se ver sem o celular.
Então, esse excesso de informação que eles acabam recebendo pelo celular, que
acaba complicando mais ainda, sabe, essa identificação que eles não conseguem
ter ainda1.
Pesquisador: É a questão da idade?
Professor 1: É a questão da idade. Então é muita informação vindo de todos
os lados e sabe, eles acabam não conseguindo canalizar o excesso de informação1,
entendeu?
Professor fala em aula com o aluno: “Pega aí, deixa o celular aqui. Vou
devolver só no final da aula”
Professor 1: Eles ficam direto com o celular1.
Pesquisador: O tempo inteiro.
64
O tempo inteiro. Parece que faz parte do corpo deles, entendeu? E aí o que
acontece? Qualquer informação ali que eles recebem, eles já, na hora, eles já
repassam a informação. Então como que eles vão conseguir ter concentração? 1
Pesquisador: Aqui não é proibido celular na aula?
Professor 1: É proibido. É proibido, só que a batalha nossa é ficar toda hora
ficar tirando celular, tira o celular, põe na mesa. Isso gera conflito, porque daí eles
olham para o professor e pensa, o professor é chato, o professor é isso, é aquilo,
entendeu? Eu só estou com o meu celular. Não estou fazendo nada. Só estou com o
meu celular1. E aí o que acontece? Tudo que acontece na aula, eles filmam, eles
gravam, tem essa questão também. Observou alguma coisa que eles acham que
não é normal para eles. Eles pegam o celular e já disparam a informação. E aí
aquela imagem que foi ou filmada ou tirou a foto, ela pode ter várias legendas,
entendeu? Do jeito que eles quiserem, do jeito que eles veem a situação, entendeu?
Da forma que eles interpretam. E aí aquilo passou, o negócio pega fogo rápido. Eu
às vezes, eu dou uma aula, vamos supor assim, 7h00, eu pego uma turma. O
pessoal da segunda aula, quando eu vou dar minha segunda aula, antes de eu
chegar na sala, eles já sabem o que eu vou dar na aula, porque o pessoal já passou
a informações para eles.
Então eles passam essa informação rápida e aí esse negócio pega fogo.
Porque daí já chega a segunda sala e os caras já estão sabendo o eu vou dar e tal.
e aí se eu modificar alguma coisa...”ô, espera aí, mas se na primeira aula você deu
desse jeito por que que para a gente você vai modificar ?1 E aí o negócio vai
passando para os outros. “ Ah, o que o professor fez hoje? “Ele fez isso, aquilo...” A
comunicação deles é muito rápida, muito rápida. Só que assim por ela ser assim
muito rápida, na maioria das vezes, ela vai distorcida. Por que quando que você vai
conseguir pegar uma informação rápida e vai passar detalhadamente certa, em curto
tempo? Você vai... não tem como...é igual àquela brincadeira do telefone sem fio. E
aí, imagina. O que acontece é uma distorção que eles acabam tendo. E aí o negócio
vai tomando uma proporção... E aí o que acontece, você deu bronca em um aluno,
se você chamou a atenção de um aluno, se algum aluno aprontou alguma coisa,
você foi firme com esse aluno...eles passam também e aí o complicado é isso. A
forma que eles passam essas informações, porque isso acaba criando um conflito.
Essa informação errada acaba criando um grande conflito. Um negocinho que é
65
pequeno, ele puf...porque eles são dramáticos, extremamente dramáticos. Um
negocinho simples, eles transformam em algo uahh. E aí, como a gente, como eles
ficam vendo muito esses lances de manifestação, não é justo, ah não sei o que, eles
se acham no direito de se manifestar, entendeu? Não sabem nem direito quais são
os direitos deles e deveres. Porque para se manifestar você tem que saber os
direitos e deveres. Não é só saber os direitos, tem que saber os deveres também.
Eles querem ser reconhecidos, eles se acham. “Vamos juntar todo mundo aqui,
vamos à diretora, vamos à diretoria, vamos reclamar com a diretora”. Aí juntam meia
dúzia... Esses dias, eu dando aula aqui, isso fez com o pessoal do médio, aí no
fundo tem uma menina de cabelo enrolado e aí ela “Não, porque eu já falei para
limpar lá, para limpar lá, tirar o cocô de pombo e até agora não tiraram. Professor dá
licença. Eu vou lá tirar foto e vou levar lá para a diretora, tudo bem?” Aí eu falei: você
faz o que você acha que é certo. Aí ela foi lá levou a foto, desceu e foi reclamar com
a diretora que o cocô de pombo estava lá. E aí outro que está junto.” Ah também vou
junto também” e aí a fotinho já joga, já manda, sabe e o negócio começa a ferver.
Pesquisador: E o esporte em si, a Educação Física você não desenvolve,
fica com a cabeça em outra coisa...
Professor 1: Então a gente tem que saber lidar com essa situação, porque
você acaba chegando, no final do expediente, para ir embora aí você chega à
orientação e aí “ vem cá, vem cá. Mas o que aconteceu. Aí você pensa...mas que
história é essa?” É uma história totalmente deturpada, aí você não sabe nem como
começou. Aí vai ligando... ah...ah...nossa, mas o negócio chegou aqui desse jeito? E
aí assim, o que eu vejo ainda. Em vez da gente tentar corrigir isso, a o pessoal ainda
passa a mão na cabeça... e aí piora mais ainda, porque daí ele se sente poderoso.
Eles decidem qual professor eles querem tirar, qual professor que eles querem
provocar e eles acham que podem tudo isso. Quem bate de frente... Eles juntam
todo mundo... Eu “já escutei fala de aluno mesmo.” “O professor tal não sei que é
muito chato, vamos agitar para tirar ele” E aí junta uma turminha e começa uma
manifestação contra o professor, entendeu? Então tem que ser assim. Fazem-se as
coisas que eles querem você é legal. Se não faz, você é chato. É assim que acaba
vendo o professor.
66
Quadro 3 – Análise da entrevista do participante 1
Cite situações de conflito que você
enfrentou na aula de Educação Física
como professora na escola
Quando acontece algum tipo de conflito o
que você faz ou já fez na ocasião?
1
1
Eu já tive situação assim do aluno do
sexto ano que não conseguia se
relacionar com outros. Problema de
relacionamento.
2
2
E aí chegou a uma situação em que eu tive de
intervir que ele estava querendo brigar com
outros colegas.
1
1
Aluno não aceitava ser questionado.
Assim se ele recebesse um não ou
alguma coisa assim, ficava
extremamente agressivo.
2
2
Para você conseguir controlar alguém que é
agressivo não adianta você ser agressivo
também. Você tem que tentar acalmar a
pessoa, primeiro falando com um tom mais
baixo, mais calmo, para tentar fazer com que
essa criança se acalme.
1
1
Um garotinho pequeninho querendo me
enfrentar, entendeu. E aí foi uma
situação assim meio difícil porque você
tem que, você vê que a criança ela está
totalmente descontrolada.
2
2
Você vê que não pode inflamar mais aquilo,
porque dependendo da forma que você fala ela
entende com mais agressão ainda. Eu não sei
como dentro de casa é lidado isso. De repente
o pai e a mãe são agressivos com ele, e tal e
aí acaba se manifestando na escola. E aí se
você age do mesmo jeito que o pai e a mãe, a
criança acaba ficando mais descontrolada.
1
1
Ele estava querendo brigar, ele estava
querendo sair na pancada com o outro
aluno, aí ele pegou e virou o cotovelo.
2
2
Dar uma amenizada, tem que saber identificar
cada um e aí com isso você saber lidar com
esse tipo de criança. Por isso que você nunca
fala alto, entendeu? Eu coloquei a situação que
aqui dentro sabe a gente tem normas, têm
regras, eu tenho que respeitar, ele tem que
respeitar e assim que a gente consegue
conviver com as pessoas. E aí eu perguntei
para ele se ele viu que ele realmente tinha
errado. Ele admitiu e aí a conversa assim fluiu
de um jeito que ele acabou até pedindo
desculpas.
A partir do momento em que você fala a
mesma linguagem e tal, de igualdade, e aí
aquilo que eu falei... Acaba rolando uma
identificação.
67
Você vê, que às vezes, ele está nervoso por
algum motivo e ele nem entende porque está
nervoso. Então aí o que a gente tem que tentar
fazer é que eles tenham essa reflexão.
Dependendo do jeito que você fala ou às vezes
até a forma que você se gesticula tal, porque
também não é só a fala, mas a forma que se
gesticula. Tem que rolar uma conexão, se
conectar com essa criança.
1
1
A hora que ele estava nervoso e tal, eu
perguntei por que ele estava falando alto
comigo, por que ele estava gritando
comigo se eu não estava gritando com
ele, entendeu? Aí ele gritava mais ainda.
2
2
Eu fui tentando acalmar ele, tal. E aí ele viu
finalmente que tinha errado. E aí ele pediu
desculpas para mim.
Eu perguntei para ele se a intenção dele era
me prejudicar. Você quer me prejudicar? Aí ele
falou que não. Disse que a sua atitude poderia
me prejudicar. E aí foi a onde eu consegui
colocar ele tb... Tentar se colocar no lugar do
aluno e fizer com que seu aluno também se
coloque também no lugar do professor, para
que ele tenha uma visão diferente.Tudo que
acontecesse ali, ele tinha que chegar e falar
comigo. Ele não tinha que tentar ele resolver,
porque eu era o responsável. Tem que ser
firme, porque se ele não sentir que você não
está sendo firme.
1
1
Aqueles alunos que são problemáticos
são aqueles que a gente fica em cima.
2
2
Então, às vezes, se a gente tem um caso
especial, você não tem como dar uma atenção
especial. Ficar em cima, bater um papo, trocar
uma ideia, chamar de canto, e “aí, você viu o
que você fez?”, “e aí, por que você acha que
fez aquilo?” E aí, como que a gente pode fazer
para melhorar isso?
1
1
Sem menções 2
2
Não gosto de falar alto com o aluno, não gosto
de gritar, então muitas vezes, se eu entro em
uma sala, está aquela zona, aquela bagunça,
todo mundo falando alto, não sei que, então,
ao invés de eu pegar e gritar para o pessoal,
ou pegar um apito e começar a apitar igual a
um louco, eu paro e fico como se fosse uma
68
estátua, parado, sem piscar e olhando para
eles. Daqui a pouco eles começam a perceber.
E aí, eles vão parando.
1
1
Eles são muito dependentes da
tecnologia, principalmente do celular e é
assim, eles não conseguem se ver sem o
celular. Então, esse excesso de
informação que eles acabam recebendo
pelo celular, que acaba complicando
mais ainda, sabe, essa identificação que
eles não conseguem ter ainda.
É a questão da idade. Então é muita
informação vindo de todos os lados e
sabe, eles acabam não conseguindo
canalizar o excesso de informação. O
tempo inteiro. Parece que faz parte do
corpo deles, entendeu? E aí o que
acontece? Qualquer informação ali que
eles recebem, eles já, na hora, eles já
repassam a informação. Então como que
eles vão conseguir ter concentração. Se
eu modificar alguma coisa. mas se na
primeira aula você deu desse jeito por
que que para a gente você vai modificar
?
2
2
É proibido celular na aula, só que nossa
batalha é ficar toda hora ficar tirando celular,
tira o celular, põe na mesa. Isso gera conflito,
porque daí eles olham para o professor e
pensam que professor é chato, o professor é
isso, é aquilo, entendeu? Eu só estou com o
meu celular. Não estou fazendo nada.
Perfil Individual– Professor 1
(1,2) O professor relatou situações de bullying e de relacionamento entre os
alunos que acabam gerando conflitos nas aulas. Nesse caso, o professor utiliza o
diálogo com os alunos.
(1,2) O professor abordou que há alunos que não aceitam ser questionados e
contrariados que ficam violentos e que conduz a situação sempre conversando e
tentando acalmar o aluno.
(1,2) Situações de enfrentamento do professor por parte do aluno. O
professor procura não inflamar mais ainda, e tenta reverter a situação conversando.
69
(1,2) Alunos que brigam na aula de Educação Física e o professor promove a
reflexão entre eles através do diálogo.
Síntese: perfil do professor – Professor demonstra calma em situações de
conflitos em suas aulas e busca resoluções através do diálogo e da reflexão. Nos
casos mais graves, promove diálogo entre as partes e encaminha para a
Coordenação. O professor tem visão de conflito como violência.
5.1.2 Transcrição da entrevista com o Professor 2
Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de
conflito nas aulas de Ed. Física.
Professor 2: Específico nesse projeto do Carnaval, do resgate das culturas
brasileiras, com relação ao Carnaval1, é o cunho religioso. É os evangélicos, até os
judeus, a gente tem uma criança judia e eles dizem que não comemoram esse tipo
de festa e que assim, os filhos não vão participar, não vão mesmo. É decretado isso.
Então eles ficam ligando para a orientação e direção, dizendo que eu deveria dar
aula de Educação Física, jogar bola, em vez de ficar pulando Carnaval1. Eles não
têm essa percepção da cultura do Brasil, desse resgate que a gente está fazendo.
Como a gente trata com isso? Eu converso bastante com aluno, a respeito disso.
Pontuo para ele que sou evangélica há 30 anos, batizada há 25 anos, mas que isso
faz parte da cultura de meu país e que eu não posso virar as costas para isso. Num
país onde eu vivo eu tenho que saber de minhas origens, de onde veio, ainda mais
de um país tão miscigenado como é o nosso. E tento argumentar isso com os pais
também, em conjunto com a orientação, mas na maioria assim, alguns participam,
outros pedem para os filhos ficarem sentados2. É tranquilo. Como é movimento e
vale nota para a Educação Física, eu passo um trabalhinho escrito aos que não
participaram para não ter desnível de nota, né, diferença de avaliação. E assim a
gente leva numa boa mesmo. Primeiro que a escola não é uma escola professa.
Então a gente não pode tirar ou colocar determinadas comemorações. A gente tenta
resgatar cultura mesmo2. Tanto que a gente tirou o bailinho de Carnaval. A gente
desenvolveu um projeto onde eles tinham que fazer uma pesquisa e aí eles sabem
de onde veio a Escola de Samba, porque ficou samba enredo, os tipos de samba,
70
até chegar na escola de samba em si que são os três nonos. E no caso do oitavo
ano, é o Maracatu.
Pesquisador: Como é que você trabalha? Qual que é o tema?
Professor 2: Resgate da cultura popular na festa de Carnaval.
Pesquisador: Eles vão ter o conhecimento....
Professor 2: Já tiveram.
Pesquisador: Na parte teórica e vão participar.
Professor 2: Os professores das outras disciplinas já abordaram, porque é
um projeto multidisciplinar. Então o professor de história, ele abordou o aspecto
histórico, a professora de língua portuguesa pediu um trabalho escrito, onde eles
redigiam o que eles pesquisavam, a professora de artes trabalhou máscaras com
eles e eu estou trabalhando com eles o ritmo, o movimento, a expressão corporal.
Pesquisador: E você notou algum outro tipo de conflito?
Professor 2: Não. Desse projeto, especificamente o único conflito e que
acaba gerando um desdobramento muito grande é a religião mesmo1.
O maior conflito que a gente tem mesmo é a questão do celular e o boné. A
gente até entende que é uma questão de identidade do menino, né. É uma maneira
de ele se colocar na sociedade em que ele vive. Para as meninas no caso é o
celular e o cabelo solto. Mas na questão da Educação Física o boné atrapalha muito,
fora que já teve acidente na minha aula. A parte debaixo do botãozinho do boné é de
metal. A bola bateu e furou a cabeça do menino. Ele teve que tomar dois pontos1.
Então, eu peço para que eles tirem e deixam na arquibancada2. No nosso espaço,
eu divido o pátio a parte de fora da quadra com outros intervalos. Como é que eu
vou assegurar que o boné do menino não será furtado daqui. Eu não tenho esse
controle, porque eu tenho 35 crianças dentro da quadra e é lá que está a minha
atenção. A mesma coisa é o celular. As meninas colocam na cintura e elas correm e
o celular cai, vem a outra pisa em cima, quebra a tela. Então eles não conseguem se
separar disso.1 Eu peço para deixar na mochila, peço para a inspetora trancar a
porta. Ela fica no corredor, ninguém entra, lá é o lugar mais seguro dentro da
mochila deles e eles não deixam2. Então esse é um conflito muito grande e preciso
de uma sugestão para ver como é que eu consigo tratar isso.
71
Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula
de Educação Física como professor na escola.
Professor 2: As séries que eu encontro mais situações de conflito assim, é
mesmo os oitavos, os oitavos nem tanto, é mais nonos anos e primeiro, onde no
caso dos nonos anos, a questão do celular e do boné mesmo. E do primeiro ano, é a
questão do uniforme, porque a escola não pede uniforme para atividade física. Eles
vêm de calça jeans e aí eu permito que eles façam aula de calça jeans, mas eu tiro
0,25 de uma nota que a gente chama de atitudinal e aí eles, eles ficam bravos
porque eles acham que a calça jeans pode fazer e o que eu argumento com eles é
mais assim, é só skate que a gente pratica em questão de esporte, de atividade
física.1 É o skate que a gente pratica com jeans, mas a gente não tem pista, nem
skate aqui. A gente não usa essa atividade física. Então eu peço para maior conforto
para eles que eles venham com uma calça adequada, pode vir com legging, eu evito
alcinha para as meninas não terem exposição de seio, serem assediadas em
brincadeiras bestas com os meninos, tal. Então eu sempre converso com eles a
respeito, no início das aulas, lá no começo do ano e vou retomando aula a aula com
eles 2. Mas eu acho que o maior conflito no ensino médio é realmente a calça jeans.
Que eles vêm que faz parte do uniforme da escola. Alguns até trazem shorts,
bermuda e uma legging, para colocar, mas outros, não. Então acaba ficando difícil. E
as meninas acabam vindo de sapato crocs ou rasteirinha. Eu não permito que faça
aula, porque eu tenho medo que alguém pise nos pés delas e machuque1. Mas isso
acaba sendo uma desculpa para as meninas que não gostam de atividade física. No
dia da minha aula, elas vêm com rasteirinha, crocs, para que eu deixe fora1. E aí a
minha, a solução que eu arranjei foi eu coloco corda, eu dou alongamento para elas,
uma aula à parte, assim no colchonete e elas ficam lá, alongando fazendo algum
tipo de exercício que podem fazer sem o tênis, mas na quadra em si, a atividade
coletiva, o jogo coletivo eu não posso trabalhar porque eu tenho medo do acidente2.
Pesquisador: E relacionado a esporte, sem ser a questão da calça jeans
dentro da aula, eles jogando, times?
Professor 2: É... a única coisa também, nas minhas aulas eu não permito
camisa de time, porque eu já tive que separar briga de meninos do terceiro ano
médio, porque um estava com a camisa do São Paulo e o outra estava do São Paulo
também, mas torcidas uniformizadas diferentes. Um era do, ah eu nem o nome das
72
torcidas do São Paulo, mas as duas eram do São Paulo, e um ficou ofendendo o
outro e eu tive que separar a briga por causa de camisa1. Assim, então quer vir,
venha de camisa estrangeira, de time estrangeiro ou do Brasil, porque aí, tudo bem..
De time de futebol daqui do Brasil, eu não deixo nem fazer aula, eu mando para a
orientação com alguma atividade teórica e eles ficam pesquisando no celular e
respondendo algum questionário e tal. Eu não deixo, porque assim, eu tomei
porrada mesmo, literalmente para separar a briga dos dois2.. foi punk. Briguinha
assim de Palmeiras e Corinthians a gente até separa, mas os dois são paulinos,
brigando de se engalfinhar mesmo. Aí eu fiz um acordo com eles e assim, nos dias
da minha aula mesmo, eles não vêm. Ontem jogou, né, Palmeiras e Corinthians, o
Palmeiras perdeu e tal, ne por baixo da camiseta eles vem. Eles respeitam mesmo,
porque a gente conversou e tal e foi um acordo. Foi um conflito grande, mas foi um
acordo que a gente teve e eles respeitam mesmo2.
Durante a aula, é isso. Ou até briga entre eles1. Chamo os dois, converso com
os dois e dependendo da série, mando dá mãozinhas. E a gente conversa ali na
questão de briga na sala. É um acordo que a gente tem também2. Eu não gosto que
fique ofendendo um ao outro1. Sabe, “você é pato para caramba, você não sei o que.
Você é muito burro”. Para e por que eu não gosto disso. Não é para isso que a gente
está aqui. Não aceito e aí a gente conversa nesse sentido também nesse tipo de
conflito.
O, professora, o chocolate deles era maior do que o meu...e não sei o que, né
mas assim, eu tento levar na brincadeira e no final da aula eu chamo a criança e
converso, olha não gostei do jeito que você falou, dá a impressão de que eu fui
comprado por um chocolate um exemplo. Eu não gostei. Me ofendeu, né?. Eu sei
que você é um menino, uma criança dessas atitudes, foi no calor do jogo, tal, mas
não faz mais, pensa, raciocina. Eu sempre tento levar o mais na esportiva possível.
Porque adolescente você bateu de frente, você perde ele. Então eu sempre vou, eu
tento contornar o máximo possível...sempre na brincadeira...mas sempre tem esse
tipo de conflito, sempre tem nas aulas de Educação Física2.
Pesquisador: E violência você percebe também? Do conflito que depois
vem uma agressão?
Professor 2: Geralmente acontece agressão nos corredores, porque eles
sabem que eu não vou deixar acontecer na aula1. Então quando tem conflito, eu
73
dispenso a sala, fico com os dois que estavam conflitando. E aí eu peço para um
inspetor leva-los até a sala de aula. Por que já aconteceu. ” Ah foi na sala da
professora” Eu pergunto “mas foi na quadra? ”” Não, foi no corredor. A gente estava
indo para outra aula” então sabe, no banheiro, fora do ambiente sempre acontece.
Mas isso é mais no médio. É mais no Ensino médio. Os pequenos, a gente
consegue controlar do que os maiores.
Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz
ou já fez na ocasião?
Professor 2: Isso. Eu tento ao máximo mediar a situação ali. Resolver ali. O
mínimo possível eu mando para a direção e orientação. Porque até eu descer
e explicar tudo o que aconteceu e dizer qual tinha razão é mais fácil eu ficar lá
em cima ou na quadra e resolver ali e tentar de uma maneira bem amistosa,
bem...assim sabe... e tentar, neutra. Se não conseguir mesmo, aí eu desço
com os dois. Se vão entrar em vias de fato, eu desço com eles.2
Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas
seguintes ou na turma?
Professor 2: Dependendo da idade, se for até o nono ano, eu mando um
bilhete para os pais, para eles estarem cientes de que o filho brigou e qual a atitude
que a gente tomou2. Porque é muito comum a criança chegar em casa e contar do
jeito que ela quer. E os pais ligarem aqui doidos de raiva. Eu tento deixar o mais
claro possível a situação para os dois pais, tanto para o bateu e o que apanhou, no
caso e a atitude foi essa, a gente não gosta, a escola não admite esse tipo de
atitude, converse com seu filho2. Na aula seguinte, gente o que vocês acharam e tal
e a gente retoma essa situação, sem expor a criança, mas dizer que aquilo não é
legal e porque não é legal e se colocar no lugar do outro. Fazer as crianças entrar
nesse exercício de empatia, porque quem fala é sempre legal e quem escuta é que
leva, que fica com aquele sentimento. A gente tenta ao máximo...eu tento ao máximo
apaziguar aquilo e colocar os dois...na próxima aula, eu tomo o cuidado de colocar
os dois na mesma equipe para que eles não criem rivalidade. Evitar a revanche. Eu
coloco os dois no mesmo jogo, no mesmo time na hora do jogo para evitar o embate
entre eles. 2
74
Pesquisador: Tem alguma coisa que você lembre e gostaria de falar?
Professor 2: No momento, não. Porque assim eles gostam muito, a maioria
gosta da aula Educação Física. Eu consigo até barganhar com os outros
professores. Olha, se a sala toda não deixar bem limpinha a sala e tal, a professora
vai dar aula teórica em vez de levar para a quadra. E aí, os professores usam até
esse fato de eles gostarem muito de Educação Física para conseguir alguma coisa
em sala de aula.
Quadro 4 – Análise da entrevista do participante 2
Cite situações de conflito que você
enfrentou na aula de Educação Física
como professora na escola
Quando acontece algum tipo de conflito o
que você faz ou já fez na ocasião?
1
1
O projeto do Carnaval, do resgate das
culturas brasileiras, conflito de cunho
religioso. Os evangélicos, até os judeus,
a gente tem uma criança judia e eles
dizem que não comemoram esse tipo de
festa e que assim, os filhos não vão
participar, não vão mesmo. É decretado
isso. Então eles ficam ligando para a
orientação e direção, dizendo que eu
deveria dar aula de Educação Física,
jogar bola, em vez de ficar pulando
Carnaval.
2
2
Eu converso bastante com aluno, a respeito
disso. Pontuo para ele que sou evangélica há
30 anos, batizada há 25 anos, mas que isso
faz parte da cultura de meu país e que eu não
posso virar as costas para isso. Num país onde
eu vivo eu tenho que saber de minhas origens,
de onde veio ainda mais de um país tão
miscigenado como é o nosso. E tento
argumentar isso com os pais também, em
conjunto com a orientação, mas na maioria
assim, alguns participam, outros pedem para
os filhos ficarem sentados.
1
1
Desse projeto, especificamente o único
conflito e que acaba gerando um
desdobramento muito grande é a religião
mesmo.
2
2
Como é movimento e vale nota para a
Educação Física, eu passo um trabalhinho
escrito aos que não participaram para não ter
desnível de nota, né, diferença de avaliação. E
assim a gente leva numa boa mesmo. Primeiro
que a escola não é uma escola professa. Então
a gente não pode tirar ou colocar determinadas
comemorações. A gente tenta resgatar cultura
mesmo.
1
1
O maior conflito que a gente tem mesmo
é a questão do celular e o boné. A gente
até entende que é uma questão de
identidade do menino, né. É uma
maneira de ele se colocar na sociedade
2
2
Eu peço para deixar na mochila, peço para a
inspetora trancar a porta. Ela fica no corredor,
ninguém entra, lá é o lugar mais seguro dentro
da mochila deles e eles não deixam.
Eu peço para que eles tirem e deixam na
75
em que ele vive. Para as meninas no
caso é o celular e o cabelo solto. Mas na
questão da Educação Física o boné
atrapalha muito, fora que já teve acidente
na minha aula. A parte debaixo do
botãozinho do boné é de metal. A bola
bateu e furou a cabeça do menino. Ele
teve que tomar dois pontos.
arquibancada.
1
1
Como é que eu vou assegurar que o
boné do menino não será furtado daqui.
Eu não tenho esse controle, porque eu
tenho 35 crianças dentro da quadra e é
lá que está a minha atenção. A mesma
coisa é o celular. As meninas colocam na
cintura e elas correm e o celular cai, vem
a outra pisa em cima, quebra a tela.
Então eles não conseguem se separar
disso.
2
2
Então eu sempre converso com eles a
respeito, no início das aulas, lá no começo do
ano e vou retomando aula a aula com eles.
1
1
A questão do uniforme, por que a escola
não pede uniforme para atividade física.
2
2
Eles vêm de calça jeans e aí eu permito que
eles façam aula de calça jeans, mas eu tiro
0,25 de uma nota que a gente chama de
atitudinal e aí eles, eles ficam bravos porque
eles acham que a calça jeans pode fazer e o
que eu argumento com eles é mais assim, é só
skate que a gente prática em questão de
esporte, de atividade física.
1
1
Uma desculpa para as meninas que não
gostam de atividade física, no dia da
minha aula, elas vêm com rasteirinha,
crocs, para que eu deixe fora.
2
2
A solução que eu arranjei foi eu coloco corda,
eu dou alongamento para elas, uma aula à
parte, assim no colchonete e elas ficam lá,
alongando fazendo algum tipo de exercício que
podem fazer sem o tênis, mas na quadra em si,
a atividade coletiva, o jogo coletivo eu não
posso trabalhar porque eu tenho medo do
acidente.
2
1
Nas minhas aulas eu não permito camisa
de time, porque eu já tive que separar
briga de meninos do terceiro ano médio,
porque um estava com a camisa do São
2
2
Eu fiz um acordo com eles e assim, nos dias
da minha aula mesmo, eles não vêm. Ontem
jogou Palmeiras e Corinthians, o Palmeiras
perdeu e tal, por baixo da camiseta eles vem.
76
Paulo e o outro estava do São Paulo
também, mas torcidas uniformizadas
diferentes. Um era do, ah eu nem lembro
o nome das torcidas do São Paulo, mas
as duas eram do São Paulo, e um ficou
ofendendo o outro e eu tive que separar
a briga por causa de camisa.
Eles respeitam mesmo, porque a gente
conversou e tal e foi um acordo. Foi um conflito
grande, mas foi um acordo que a gente teve e
eles respeitam mesmo.
1
1
Briga entre eles, ofendendo um ao outro.
2
2
Chamo os dois, converso com os dois e
dependendo da série, mando dá mãozinhas. E
a gente conversa ali na questão de briga na
sala. É um acordo que a gente tem também.
Eu tento ao máximo mediar a situação ali.
Resolver ali. O mínimo possível eu mando para
a direção e orientação. Porque até eu descer e
explicar tudo o que aconteceu e dizer qual
tinha razão é mais fácil eu ficar lá em cima ou
na quadra e resolver ali e tentar de uma
maneira bem amistosa, bem...assim sabe... e
tentar, neutra. Se não conseguir mesmo, aí eu
desço com os dois. Se vão entrar em vias de
fato, eu desço com eles.
1
1
Geralmente acontece agressão nos
corredores, porque eles sabem que eu
não vou deixar acontecer na aula.
2
2
Dependendo da idade, se for até o nono ano,
eu mando um bilhete para os pais, para eles
estarem cientes de que o filho brigou e qual a
atitude que a gente tomou.
Eu tento deixar o mais claro possível a
situação para os dois pais, tanto para o bateu e
o que apanhou, no caso e a atitude foi essa, a
gente não gosta, a escola não admite esse tipo
de atitude, converse com seu filho.
Eu tento ao máximo apaziguar aquilo na
próxima aula, eu tomo o cuidado de colocar os
dois na mesma equipe para que eles não criem
rivalidade. Evitar a revanche. Eu coloco os dois
no mesmo jogo, no mesmo time na hora do
jogo para evitar o embate entre eles.
77
Perfil Individual– Professor 2
(1,2) O professor relatou situações de conflito de cunho religioso em que os
pais não deixam os filhos participar de determinadas comemorações. O professor
por sua vez, conversa com os alunos e pais abordando o resgate da cultura, porém
quando não obtém sucesso, cria formas alternativas solicitando trabalho escrito,
para não ter prejuízo nas notas.
(1,2) O professor encontra situações de conflito relacionadas ao uso do boné,
celular e cabelo solto. Os alunos que não guardam o celular passam a aula toda
preocupados se vai sumir ou cair no chão. Eles não conseguem se separar dele,
relatou o professor. A alternativa que o professor procurou utilizar foi de pedir para
guardarem na sala ou na mochila antes de irem para a aula, ou deixarem na
arquibancada, mas corre o risco de roubarem. Então, toda a atenção é voltada para
o aparelho e o boné.
(1,2) O professor relatou que o fato da escola não exigir uniforme atrapalha
suas aulas práticas. O professor permite que eles façam aula de calça jeans, mas
retira 0,25 da nota atitudinal e isso gera conflito entre eles.
(1,2) O professor relatou que o uso de calçado crocs e rasteirinha por parte
das meninas é uma forma delas não fazerem aula de Educação Física porque não
gostam ou não querem fazer. A solução do professor foi oferecer a essas alunas a
possibilidade de fazerem outras atividades sem calçado, como alongamento.
(1,2) O professor relatou que não permite camisa de times nas aulas em
função de brigas e ofensas entre os alunos na aula. O professor precisou interferir
separando os dois alunos. Desta forma, o professor fez um acordo com todos os
alunos, não permitindo o uso de camisas de times em suas aulas, mediando a
situação conversando com os alunos.
(1,2) Há relatos de agressões entre alunos nos corredores da escola quando
trocam de aula. O professor conversa com os envolvidos, mediando a situação e
promovendo a reconciliação entre eles. Entretanto, leva o caso para coordenação,
escreve comunicado aos pais e procura não deixar os envolvidos em times
separados evitando assim possíveis confrontos.
Síntese: perfil do professor – O professor demonstra calma e paciência em
lidar com as situações de conflitos em suas aulas. Procura ouvir os alunos, e através
78
do diálogo, promove a mediação contornando os problemas encontrados. Em casos
mais graves aplica as sanções necessárias e encaminha para a Coordenação. O
professor não trata o conflito como violência.
5.1.3 Transcrição da entrevista com o Professor 3
Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de
conflito nas aulas de Ed. Física.
Professor 3: O 3º CA e 3º A do Médio são as duas salas mais difíceis que eu
tenho, na questão de participação em quadra. 1
Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula
de Educação Física como professor na escola.
Professor 3: A situação assim como professora é muito ruim quando o aluno
fica sentado, com aquela falta de interesse.1 Então você fica se questionando, meu
Deus, será que é a aula que não tá legal, será que é o conteúdo que o aluno não
gosta. É um conflito mesmo que estou enfrentando esse ano é a questão da
participação de alguns alunos, pela falta de vontade mesmo, de interesse. Aí você
percebe que 10% da turma não participa, então é a minoria2. Agora assim de conflito
assim não tenho não. Mas entre eles sim, isso tem. Esse 3º CA, por exemplo, eles
têm conflitos entre grupos, rivalidades, um grupo não gosta do outro, evitam de ficar
perto, não querem jogar quando a gente propõe uma atividade, tem que ser colocar
esse grupo com outro grupo porque eles não se entendem. 1
Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz
ou já fez na ocasião?
Professor 3: Então o que eu faço, eu procuro conversar adequadamente com
cada grupo, vejo qual é a posição de cada grupo, pra tentar mudar essa visão que
um tem do outro. Então eu vou tentando resolver essas questões dentro de sala de
aula, mas se fugir do meu controle, eu perceber que não tem nada a ver com a aula
ai eu encaminho para a Coordenação. 2
79
Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas
seguintes ou na turma?
Professor 3: Essa sala tem mesmo muito conflito, então o que eu combinei
com eles. Eu procuro falar pra eles não deixarem influenciar na parte prática deles
em aula. Eu até consigo, eles fazem, eles disfarçam vamos dizer assim2. Eu sei por
que já dei aula pra eles e já sei que já a coisa já é antiga.
Quadro 5 – Análise da entrevista do participante 3
Cite situações de conflito que você
enfrentou na aula de Educação Física
como professora na escola
Quando acontece algum tipo de conflito o
que você faz ou já fez na ocasião?
1
1
Na questão de participação em quadra.
A situação assim como professora é
muito ruim quando o aluno fica sentado
com aquela falta de interesse.
2
2
Então você fica se questionando, meu Deus,
será que é a aula que não tá legal, será que é
o conteúdo que o aluno não gosta. É um
conflito mesmo que estou enfrentando esse
ano é a questão da participação de alguns
alunos, pela falta de vontade mesmo, de
interesse. Aí você percebe que 10% da turma
não participa.
2
1
Entre eles sim, isso tem. Esse 3º CA, por
exemplo, eles têm conflitos entre grupos,
rivalidades, um grupo não gosta do
outro, evitam ficar perto, não querem
jogar quando a gente propõe uma
atividade, tem que ser colocar esse
grupo com outro grupo porque eles não
se entendem.
2
2
O que eu faço, eu procuro conversar
adequadamente com cada grupo, vejo qual é a
posição de cada grupo, para tentar mudar essa
visão que um tem do outro. Então eu vou
tentando resolver essas questões dentro de
sala de aula, mas se fugir do meu controle, eu
perceber que não tem nada a ver com a aula ai
eu encaminho para a Coordenação.
Essa sala tem mesmo muito conflito, então o
que eu combinei com eles. Eu procuro falar pra
eles não deixarem influenciar na parte prática
deles em aula. Eu até consigo, eles fazem,
eles disfarçam vamos dizer assim.
Perfil Individual– Professor 3
(1,2) O professor relatou que a falta de participação e interesse por parte da
sala em participar das aulas de Educação Física causam conflitos. O professor
relatou que essa situação tem feito ele se questionar sobre os conteúdos, sua
própria prática e a desmotivação desses alunos nas aulas.
80
(1,2) Foram relatadas situações de conflitos e rivalidades entre os grupos da
sala. Há relatos de que os alunos não gostam de determinados colegas, evitando-
os. Nos jogos só participam se estiverem nos times dos colegas preferidos. O
professor procura mediar a situação conversando com os alunos diretamente sobre
esses assuntos, tentando mudar essa visão e fez um combinado para que eles não
deixem esses conflitos interferirem na parte prática das aulas.
Síntese: perfil do professor – O professor demostra-se tranquilo na
condução das aulas. Mostra-se reflexivo em relação à falta de interesse dos alunos
em participar de suas aulas. Conhecendo o grupo, procura resolver os conflitos
através do diálogo, tentando resolver as questões dentro da sala, entretanto, ao não
obter êxito, encaminha para a Coordenação.
Com base nas respostas obtidas, foi elaborada uma matriz nomotética que
sintetizou as respostas analisadas individualmente e apontaram os tópicos mais
citados pelos professores 1,2,3.
Uma vez feita a análise das respostas, elas foram organizadas em uma matriz
que deve ser lida da seguinte maneira: categoria 1 - relacionada a situações de
conflitos encontradas pelos professores em suas aulas e categoria 2 - ações de
enfrentamento realizadas pelos professores diante de situações de conflito em aulas
de Educação Física.
5.2 Matriz Nomotética
Quadro 6 - Matriz Nomotética sobre situações de conflitos e ações de
enfrentamento
↓ Categorias/Professores →
P1 P2 P3
1 – Situações do conflito
Conflitos de relacionamento x x
Influência da tecnologia (celular) x x
Violência dos alunos na quadra ou no corredor x x
Falta de uso de uniformes x
Conflito de cunho religioso x
Pouca participação dos alunos nas aulas x
81
2 – Ações de enfrentamento
Intervenção no local e encaminhamento dos casos graves para a
Coordenação Pedagógica
x x x
Intervenção estimulando o diálogo entre as partes x x x
Uso da postura tranquila e calma x x x
Separar brigas entre os alunos x x
Pedir para guardar o celular ou retira-lo do aluno x x
Promover reflexão entre os alunos x x
Propor alternativas para quem não veste uniforme x
Atribuir trabalho e conversa com pais e alunos sobre religião x
A discussão da matriz será apresentada a seguir no formato de uma reflexão
tendo como base a literatura pesquisada.
82
6 REFLEXÃO SOBRE OS ACHADOS DA PESQUISA EM DIÁLOGO COM A LITERATURA
O ambiente escolar não pode ser considerado um local isento de
manifestações de conflitos sociais, como uma redoma que protege todos os alunos.
Muito pelo contrário, a escola é onde eles se manifestam, às vezes, discretamente e
silenciosos, outra vezes, grosseiros e cruéis, que se dão por manifestações física e
verbais indesejáveis, que desgastam o convívio na escola. Estes por sua vez, devem
ser combatidos (CHIZZOTTI; PONCE, 2016).
Os resultados das entrevistas com os professores mostraram que há conflitos
presentes no ambiente escolar tanto na relação professor-aluno, como aluno com
aluno. Todo conflito advém de uma ideia diferente ou em desacordo sobre algo ou
pontos de vista e o que torna um conflito positivo ou negativo é a forma como é
administrado, de maneira imparcial, e com olhar para as duas partes.
Ao falarmos em conflitos, percebe-se que suas manifestações surgem do
convívio em grupo, crenças, etnias, da heterogeneidade entre pessoas, grupos,
organizações, no ambiente familiar, em empresas, em relações interpessoais e no
meio acadêmico. Quando duas pessoas têm um olhar diferente sobre determinado
assunto ou posição e cada uma defende seu ponto de vista e, se não bem resolutos,
pode gerar violência.
Para facilitar o entendimento, Moore (1998) classificou as diferentes
manifestações do conflito em categorias: estruturais, de valores, de relacionamento,
de interesses e quanto aos dados.
Ao analisarmos as respostas dos professores na matriz nomotética,
observamos que brigas entre os alunos provocam conflitos, a influência da
tecnologia e falta de uso de uniformes, são classificadas por Moore (1998) como
conflitos de valor e de relacionamento, que são aqueles causados por sentimentos
intensos, percepções falsas ou estereótipos, comunicação escassa ou inapropriada,
condutas negativas e que se repetem.
Outros resultados destacados pelos professores como conflito de cunho
religioso e pouca participação nas aulas, são classificadas como conflitos de valores,
83
que são causados pela utilização de diferentes critérios para avaliar ideias ou
comportamentos, relacionados ao modo de vida, crenças religiosas e ideologia.
Encontram-se conflitos relacionados a sentimentos intensos, percepções,
condutas negativas e que se repetem, que são denominados como conflitos de
relacionamento (MOORE, 1998).
Os relatos dos professores evidenciam situações de conflito de
relacionamento:
”Eu já tive situação assim do aluno do sexto ano que não conseguia se relacionar com os outros” (P1).
“Um aluno ofendendo o outro. Brigas entre eles” (P2).
“Um grupo não gosta do outro, evitam ficar perto porque eles não se entendem” (P3).
Por outro lado, Berg (2012) categoriza esse tipo de situação como conflito
interpessoal que é aquele que ocorre entre indivíduos, quando duas ou mais
pessoas encaram a situação de maneira e pontos de vista diferentes.
Em todos os casos é importante salientar que questões como estas são mais
comuns do que imaginamos, especialmente dentro da escola, local em que a
diversidade predomina.
Em grupos heterogêneos é possível notar que as diferenças existentes geram
problemas de relacionamento. As motivações pelas quais emanam essas
divergências são diversas, como mal-entendidos; brigas; rivalidade entre grupos;
discriminação; bullying; uso de espaços e bens; namoro; assédio sexual; perda ou
dano de bens escolares; eleições (de variadas espécies); viagens e festas, entre
outros (CHRISPINO, 2007).
Em relato do professor 2, uma dessas desavenças entre alunos foi devido a
rivalidade entre grupos, se manifesta no uso de camisas de times de futebol
diferentes. Nesse caso, o professor precisou intervir para que não houvesse
desdobramentos na discussão. Ainda assim, o professor precisou separar a briga
entre eles.
”Não permito camisa de time porque eu tive que separar a briga de meninos
do terceiro ano do Ensino Médio. Eu fiz um acordo com eles e nos dias da
minha aula eles não vêm. Eles respeitam mesmo, porque a gente conversou
e foi um acordo. Foi um conflito grande, mas foi um acordo que a gente teve
e eles respeitam mesmo” (P2).
84
Por outro lado, a imposição de regras, no caso do P2, coloca o aluno à parte
das situações da qual as mesmas determinam. Assim, passam a acatá-las seja por
imposição ou pela presença da autoridade que criou as normas. Contudo, tal
comportamento pode se mostrar superficial ou submisso, apenas enquanto houver o
medo pela punição ou quando se espera algum tipo de benefício (VINHA;
TOGNETTA, 2006).
Muitos conflitos surgem em decorrência de vários fatores. Pode-se observar
essa questão no relato do professor 2, quando este cita que houve reclamação por
parte dos pais e dos alunos em relação à comemoração do carnaval na escola.
Nesse caso, na classificação feita por Moore (1998) sobre os tipos de conflitos,
encontramos os conflitos de valor, que são aqueles causados pela utilização de
diferentes critérios para avaliar ideias ou comportamentos, relacionados ao modo de
vida, crenças religiosas e ideologia.
Nos relatos dos professores 1 e 2 surgiram respostas interessantes voltadas
para a área tecnológica e o uso do boné.
Os dois professores relataram que muitos alunos são dependentes da
tecnologia, principalmente do celular.
De acordo com a matriz nomotética, nos casos de mediação e resolução dos
conflitos em aula de Educação Física, observa-se a preocupação dos professores
em resolver conflitos de forma pacífica. As ações de enfrentamento realizadas foram
sempre no sentido de intervenção estimulando o diálogo entre as partes, que
parafraseando Ceccon et al., (2009) dialogar é transformar conflitos em
aprendizagem e mudança e, este processo de intervenção da direção, docentes,
funcionários, estudantes e suas famílias é fundamental, já que aprendem a explorar
e liberar o potencial criativo dos conflitos e a impedir que, uma vez mal
compreendidos e mal dirigidos, possam se apresentar sob a forma de estagnação ou
violência.
Outras situações de enfrentamento destacadas pelos professores em suas
aulas foram baseadas na intervenção e/ou encaminhamento para Coordenação dos
casos mais graves, promover a reflexão e proporcionar atividades alternativas.
Cada docente apresenta uma forma para tratar essas ocorrências. O
professor 1, tem uma maneira pacífica de lidar com conflitos em suas aulas,
demonstrando preocupação em ouvir os dois lados e interferir quando necessário.
85
Nas situações relatadas, o professor 1 age com tranquilidade, buscando sempre, por
meio do diálogo, resoluções positivas para ambas as partes, de maneira a não
inflamar ainda mais a situação, procurando sempre acalmar o ânimo dos alunos,
falando em tom mais baixo e buscando entender a origem da raiva,
descontentamento de alguns adolescentes, que, em alguns casos, acabam gerando
situações de violência.
Através do diálogo, o professor 1 procura amenizar e identificar os conflitos,
evidenciando que as regras fazem parte do convívio social e que servem para
manter a ordem dentro da escola, para que a convivência entre todos seja
harmoniosa.
Desta forma, o professor 1 acredita que, por meio da abertura deste canal de
comunicação com o aluno, seja possível criar uma conexão aluno-professor, o que
contribuiria para resoluções dos casos ocorridos nas aulas.
Marques (2011) quando relata conflitos na escola portuguesa aborda que este
é um espaço relacional, multicultural e multirracial que se caracteriza pela elevada
diversidade de valores, desejos, opiniões, o que pode potencializar a existência de
conflitos. No entanto, é necessário entender estes conflitos como um acontecimento
com prováveis consequências positivas para a escola e para todos aqueles que nela
convivem. Nesses casos, é imprescindível utilizar formas de resolução que sejam
baseadas no diálogo, na participação de todos, na cooperação e na negociação.
Puya (2008) relata que no processo de mediação há objetivos importantes,
destacando-se em especial a ajuda para a resolução de conflitos; a criação de um
clima favorável para o diálogo e convivência; promoção do respeito entre as partes e
o uso da escuta ativa. As partes são assistidas por uma terceira pessoa, neutra, que
buscará orientar e coordenar as partes, a promover a comunicação na solução mais
apropriada e satisfatória para todos os envolvidos.
É possível encontrar nos relatos dos três professores que não há tolerância
para esse tipo de atitude e há sempre intervenção, diálogo e encaminhamento para
a Coordenação em casos de agressão e violência dentro da escola. Esses relatos
são evidenciados quando o professor 1 encontra esse tipo de situação em suas
aulas:
”Ele estava querendo brigar, ele estava querendo sair na pancada com
outro aluno, aí ele pegou e virou o cotovelo na direção do aluno e eu gritei
com ele”. E após o ocorrido, eu procurei dar uma amenizada, coloquei a
86
situação que aqui dentro tem regras, eu tenho que respeitar e ele também e
assim a gente consegue conviver com as pessoas. Eu perguntei para ele se
ele viu que realmente tinha errado. Ele admitiu e aí a conversa fluiu de um
jeito que ele acabou pedindo desculpas.” (P1)
Há desdobramentos que ocorrem quando os conflitos não são resolvidos de
maneira positiva.
Neto (2005) ressalta que se encontram situações de agressões morais, físicas
e psicológicas no ambiente escolar e que isso tem sido uma preocupação para a
sociedade atual. Observam-se frequentemente situações de agressões por jovens
neste local, de tal forma que entender e saber lidar com a agressividade tem se
tornado um desafio no processo de ensino.
O relato do professor 1 demonstra essa passagem de forma clara.
”O aluno não aceitava ser questionado. De tal forma que, se ele recebesse
um não ou alguma coisa assim, ficava extremamente agressivo. Um
garotinho pequenininho querendo me enfrentar. E aí foi uma situação assim
meio difícil porque você vê que a criança está totalmente descontrolada. A
hora que ele estava nervoso, eu perguntei por que ele estava falando alto
comigo, por que ele estava gritando comigo se eu não estava gritando com
ele. Aí ele gritava mais ainda. Para tentar acalmar alguém que é agressivo,
não adianta você ser agressivo também. Você tem que acalmar a pessoa.”
(P1).
Em pesquisa realizada por Silva (2009), com dez professores de Educação
Física da rede pública, 50% afirmaram ser o conflito parte natural nas relações
humanas, entretanto, os outros 50% não afirmaram ser o conflito algo natural,
relatando que o conflito é ruim e atrapalha o desenvolvimento das aulas.
Nas descrições das aulas do professor 3, há conflitos e rivalidades existentes
entre os grupos. Há relatos de que os alunos não gostam de determinados colegas
da sala, evitando-os, e que isso atrapalha o desenvolvimento da aula.
”Entre eles sim, isso tem. O 3º C eles tem conflitos entre grupos, rivalidades,
um grupo não gosta do outro, evitam ficar perto, não querem jogar quando a
gente propõe uma atividade, tem que colocar esse grupo com outro grupo
porque eles não se entendem.” (P3)
Em sua maioria, os cursos de formação não há disciplinas específicas que
tratem da formação do ser humano em relação a seus valores, como cooperação,
solidariedade, teorização a respeito da assimilação cognitiva e afetiva sobre regras
87
morais e éticas. O autor relata que professores não sabem qual atitude tomar,
repetindo práticas sem reflexão sobre as mesmas para tratar conflitos, ou agem ao
inverso, ignorando os conflitos e cumprindo o objetivo das aulas (SILVA, 2009).
Podemos observar a afirmação de Silva (2009) na fala do Professor 1 quando
abordado sobre o tema.
“Assim, a gente não tem uma preparação quando sai da faculdade, daí na
hora que você chega, na prática, você vê que é totalmente diferente da
realidade. Não é tão fácil assim, porque você começa a encontrar um monte
de dificuldades. As barreiras, as dificuldades, e aí essa questão mesmo de
ficar lidando com pessoas, cada um tem um perfil. Você tem que entender o
perfil dessa criança, saber como lidar com ela. Então, muitas vezes a gente
pega um aluno novo, é um bom aluno, a gente tem assim uma ideia só do
perfil daquele aluno. Se ele tem laudo, se ele não tem se tem algum tipo de
problema, se não tem, entendeu? E saber se temos preparação de como
lidar com esse aluno. Ah, então se ele tiver um ataque de estrelismo no
meio da aula e ele começou a querer arrebentar tudo o que eu faço com
ele? E aí? Seguro ele? E aí ele pode querer começar a arrebentar tudo, e aí
como lidar com essa situação? Então, a gente fica assim, pelo menos na
minha forma de trabalhar, dou mais atenção aos problemáticos do que
aqueles que a gente vê que não tem tantos problemas, tantas dificuldades.
Então, aqueles que são problemáticos, são aqueles que a gente fica em
cima.” (P1)
Essas manifestações são mencionadas por Licciardi et al., (2012) quando
afirmam que desavenças estarão presentes nas relações familiares, escolares e
sociais e que o ambiente favorece o desenvolvimento moral e a autonomia do aluno.
E nesse espaço de convivência que o professor combina regras com os alunos de
acordo com as necessidades que surgem.
O professor 3 utiliza estratégias para tentar resolver os conflitos que enfrenta
em suas aulas:
”Eu procuro conversar adequadamente com cada grupo. Vejo qual é a
posição de cada para tentar mudar essa visão de que um tem do outro.
Então, eu vou tentando resolver essas questões dentro da sala de aula,
mas se fugir do meu controle e eu perceber que não tem nada a ver com a
aula aí eu encaminho para a Coordenação. Em sala tem mesmo muito
conflito, então eu combinei com eles, eu procuro falar para eles não
deixarem influenciar na parte prática em aula. Até consigo, eles fazem, eles
disfarçam, vamos dizer assim.” (P3)
88
O professor procura mediar a situação conversando diretamente com os
alunos e abordando o tema em suas aulas. Licciardi et al., (2012) destacam a
importância de se apresentar aos alunos atividades diversificadas e em pequenos
grupos para resolverem seus conflitos interpessoais, estabelecendo relações de
respeito mútuo buscando, com seus pares, soluções para suas desavenças.
Nessa mesma sala, relata o professor 3, que a turma não tem muito interesse
em participar da aula, o que demonstra inquietações e questionamentos sobre sua
própria prática nas respostas do professor.
”Então você fica se questionando. Meu Deus, será que a aula não está
legal, será que é o conteúdo que o aluno não gosta. É um conflito que eu
estou enfrentando esse ano, falta de vontade mesmo, falta de interesse dos
alunos. Aí você percebe que 10% da turma não participam.” (P3).
Perrenoud e Thurler (2009) apontam justamente essa necessidade do
desenvolvimento de práticas reflexivas por parte do professor, que contribuirá da
mesma forma, com a ampliação de competência dos alunos. Desta forma, assumirá
“a responsabilidade ética de ser agente de transformação e mudanças e um
multiplicador de ideias, propiciando ao outro, possibilidades de desenvolvimento e
qualidade de ensino”.
Essas abordagens são de extrema importância, porque mostram conflito
interno e positivo, de modo que o professor 3 apresenta preocupação com as ações
e os interesses dos seus alunos nas aulas de Educação Física. Desta forma,
estimula o seu processo reflexivo, sugerindo até possíveis mudanças em suas
próprias práticas.
Nos relatos dos professores 1 e 2 surgiram respostas interessantes voltadas
para a área tecnológica e o uso do boné.
Os dois professores relataram que muitos alunos são dependentes da
tecnologia, principalmente do celular. Destacaram que, em parte, entendem que o
celular faz parte da vida dos alunos e que o boné é uma questão de identidade do
garoto na sociedade. Entretanto, a preocupação por parte dos professores é a
maneira excessiva em que o uso do celular vem ocorrendo dentro e fora das aulas.
Os professores descreveram que, como medidas de prevenção, pedem para os
alunos guardarem o celular ou precisam retira-lo do aluno para que os mesmos
89
participem da aula, mesmo o objeto sendo proibido nas aulas. Fato é que proibir,
não é conscientizar.
”O maior conflito que a gente tem mesmo é a questão do celular e do boné.
No caso do boné ele atrapalha muito. Já teve acidente na minha aula. A
parte debaixo do boné tem um botãozinho de metal e a bola bateu e furou a
cabeça do menino. Ele teve que tomar dois pontos. A mesma coisa é o
celular. Eu peço para deixar na mochila, com portas da sala trancada, com
inspetor no corredor, mas eles não deixam. Então eles não conseguem se
separar disso.” (P1).
“É proibido celular na aula, mas eles não conseguem se ver sem o celular.
O tempo inteiro, parece que o celular faz parte do corpo deles. Qualquer
informação que eles recebem, ali naquela hora, eles já repassam. Então
como vão conseguir concentração. É muita informação vindo de todos os
lados e eles acabam não conseguindo canalizar o excesso de
informação.”(P2).
É importante salientar a relevância dessas abordagens, porque evidenciam a
dificuldade docente em lidar com o comportamento de uma geração extremamente
tecnológica. Há uma preocupação com a adaptação a essa realidade, a fim de que
sejam criadas estratégias para o enfrentamento dos problemas que têm surgido, de
maneira que a compreensão dos recursos tecnológicos e desse comportamento
possa ser aproveitado nas próprias aulas.
Corroborando com Bento e Cavalcante (2013), o uso das tecnologias da
informação aumenta os desafios do ambiente escolar e os professores necessitam
se adequar à realidade das mídias móveis. O educador precisa ter consciência de
que a escolha de tecnologias educacionais deve estar vinculada à ideia de
conhecimento que se idealiza. O aparelho celular e as demais mídias possuem
aplicativos que podem ser utilizados em sala de aula como recurso pedagógico e
com riqueza de conteúdos.
Em pesquisa realizada por Bento e Cavalcante (2013) com professores do
Ensino Médio em uma escola pública do Vale do Paraíba do Sul, questionou-se o
uso do celular em sala de aula. Dos entrevistados, 71% não permitiam o uso dos
aparelhos por razões diversas como a legislação (Decreto nº 52.625, de 15 de
janeiro de 2008), a falta de atenção durante a aula, o não entendimento didático do
recurso e o risco que o aparelho causa aos professores no controle da sala foram
algumas das razões apontadas. Outros 14% dos docentes fazem uso desse tipo de
90
tecnologia para registros fotográficos, traduções de materiais, uso de músicas e
vídeo para serem aproveitados em aulas.
Nesta mesma pesquisa, os docentes foram questionados sobre o uso do
celular como um recurso pedagógico. Houve um entendimento majoritário de sua
importância, sendo necessário planejamento diante da necessidade do uso da
internet. Reforçam, todavia, sobre a importância do uso consciente para melhor
aproveitamento nas aulas. Neste mesmo questionamento, 14% os professores
descartavam o uso deste recurso, justificando que a tecnologia poderia centralizar-
se em laboratórios de informática e lousas digitais. (BENTO; CAVALCANTE, 2013).
Desta forma, acredita-se que, se o celular for trabalhado como ferramenta
didática complementar nas aulas, muitos problemas relacionados aos conflitos
seriam, pelo menos, minimizados. É importante a aproximação entre professor-aluno
utilizando esses recursos em prol de todos os envolvidos, inclusive do próprio
sistema educacional.
Nessa escola, muitos pais e responsáveis são de outra religião e não
aceitaram que seus filhos participassem das comemorações promovidas pela
escola, voltadas para o carnaval.
O professor 2 por sua vez, argumenta com os alunos e com os pais que o
projeto é um resgate da cultura brasileira, porém não obtém sucesso e como é um
movimento que atribui nota, o professor utiliza uma maneira de mediar a situação,
utilizando outros recursos como trabalho escrito para que o aluno não seja
prejudicado em suas notas. Observa-se que as estratégias utilizadas pelo professor
2 não resolveram o problema, mas minimizaram e evitaram possíveis
desdobramentos oriundos dos conflitos de religião.
”São conflitos de cunho religioso. Os pais ficam ligando na orientação
dizendo que eu deveria dar aula de Educação Física, jogar bola, ao invés de
ficar pulando carnaval. Dizem que não comemoram esse tipo de festa e os
filhos não vão participar mesmo. É decretado isso. ” (P2).
Por outro lado, o professor 2 relatou que conversa tanto com os alunos
quanto com os pais sobre essas questões de religião, já que especificamente esse
projeto gera um desdobramento muito grande.
“Eu converso bastante com o aluno a respeito disso. Pontuo para ele que
sou evangélica há 30 anos, batizada há 25 anos, mas que isso faz parte da
91
cultura de meu país e que eu não posso virar as costas para isso. Num país
onde eu vivo eu tenho que saber de minhas origens, de onde veio ainda
mais de um país tão miscigenado como é o nosso. E tento argumentar isso
com os pais também, em conjunto com a orientação, mas na maioria,
alguns participam, outros pedem para os filhos ficarem sentados.” (P2).
A matriz nomotética permitiu identificar os conflitos que foram abordados com
maior ênfase pelos professores entrevistados, bem como as ações de enfrentamento
realizadas pelos mesmos.
O ponto relacionado às brigas entre os alunos, os conflitos de relacionamento
e a influência da tecnologia apareceram como as situações de conflitos mais
encontradas nas aulas de Educação Física. Foram relatadas outras divergências
enfrentadas pelos docentes, como por exemplo, a manifestação da agressividade
entre os alunos, agressão no corredor a caminho da aula de Educação Física, falta
de uniforme para não participar da aula, conflitos de cunho religioso e pouca
participação dos alunos nas aulas.
As ações de enfrentamento destas situações mais citadas pelos professores
foram intervenção no local e encaminhamento dos casos graves para a
Coordenação da escola. Os professores 1,2,3 relataram que em casos de
agressões, brigas e discussões, fizeram intervenção sempre utilizando diálogo entre
as partes e adotaram postura tranquila para minimizar ou resolver os conflitos
existentes. Em casos de brigas ou agressões o professor separa as brigas, conversa
com os alunos, promove a reflexão entre eles.
O uso do uniforme não é obrigatório, para as aulas de Educação Física, e o
professor propõe atividades alternativas para quem não o veste. Em caso de conflito
de cunho religioso, para que não haja maiores problemas o professor atribui trabalho
valendo nota aos alunos que não participaram das comemorações e procura
conversar com pais abordando o tema, porém sem sucesso.
Os professores relataram que em determinadas situações, utilizaram
ferramentas pessoais que compreendiam serem as mais eficazes para a resolução e
mediação dos conflitos. Desta forma, apresentaram certa particularidade na
resolução de conflitos em suas aulas, que de acordo com Vinha e Tognetta (2009),
ao se depararem com momentos frequentes de indisciplina, conflitos, violência, entre
outros, os educadores afirmaram que se sentiam impotentes e inseguros e admitiam
92
não conhecerem outras formas de intervenção que não fossem as de reprimir, punir,
censurar, ameaçar, excluir ou mesmo ignorar.
Parafraseando Possato e colaboradores (2016), atualmente uma das formas
mais utilizadas para o combate à violência é a mediação, através de um trabalho de
educação para resolução de conflitos. Para isso, são empregados como meios o
diálogo entre as partes e um mediador habilitado para interagir e interceder de forma
pacífica, promovendo a aproximação com imparcialidade, na tentativa de um acordo
que possibilite o fim do conflito.
6.1 Análise dos diários de aula
Nessa etapa da pesquisa pretendeu-se observar se o professor se sente
competente para resolver os conflitos encontrados em suas aulas.
Desta forma, foi entregue a cada professor um diário para que registrassem
episódios de conflitos e ações realizadas em suas aulas.
A análise dos diários dos três professores demostrou que todos enfrentaram
situações de conflitos. Após a coleta dos dados, foi elaborada uma matriz nomotética
dos resultados obtidos.
Quadro 7 - Matriz Nomotética com conteúdos dos diários de aula
↓ Categorias/Professores → P1 P2 P3
Conflito de relacionamento x x x
Indisciplina x x
Violência x x
Desinteresse em participar das atividades x
Nos relatos individuais, há situações que apresentaram semelhanças entre si
como violência e indisciplina. Nos casos em que o professor se deparou com essas
ocorrências houve o processo de diálogo e da escuta. Em quase todos os casos, os
professores encaminharam os alunos ou pediram ajuda da orientação educacional
ou Direção da escola.
Nos relatos apresentados pelos professores, foi realizada uma classificação
dos temas que apareceram com mais frequência nas aulas. Temas como violência,
93
conflito de relacionamento e indisciplina foram relatados pelos professores, que por
sua vez, utilizaram como estratégia para mediação o diálogo e a escuta ativa para
minimizar ou eliminar o conflito. Nos casos em que o professor não conseguiu
resolver, a intervenção da orientação educacional e da direção foi solicitada.
De acordo com os relatos dos três professores, o tema violência nas aulas de
Educação Física, esteve presente nos diários e observou-se a preocupação dos
professores diante desses casos. De acordo com Debarbieux e Blaya (2002), “a
violência é universal e sempre existiu”. Os autores demostram preocupação em
relação às escolas, já que a violência tem aumentado significativamente, nas últimas
décadas, em especial nos ciclos iniciais.
Os autores abordam que crianças cada vez menores apresentam mau
comportamento, sobretudo violência física. No entanto, outros comportamentos são
evidenciados como a violência verbal, o uso de linguagem chula, um “jogo” chamado
“matage” que envolve agressão grupal a uma determinada pessoa, que ocorre no
espaço do parque de recreio, extorsão, além da introdução das drogas, que vem
fragilizando as escolas.
Pode-se observar nos relatos dos professores 1 e 3 os apontamentos de
DEBARBIEUX; BLAYA (2002) relacionados a violência na escola e indisciplina.
“Essa sala tem vários problemas de indisciplina, não respeitam os
professores, não se comportam em sala de aula, falam bastante”.
(P1).
“Tenho três alunos que não se respeitam e colocam apelidos
inadequados (gordinho, macaco, mendigo). Uma situação chata. Para
eles “brincadeira”, mas de muito mau gosto”. (P3).
Com o aumento precoce da violência nas escolas, encontram-se
comportamentos antissociais, hostilidade, incivilidades, indelicadezas, o que e
intoxica o ambiente educacional, desgastando as relações interpessoais.
(DEBARBIEUX; BLAYA, 2002).
Os relatos dos professores 1 e 3 retratam as afirmações dos autores:
“O aluno aproveitou que a aluna estava correndo e o mesmo, de
forma sádica, puxou a corda da rede de vôlei bem no momento que a
aluna estava passando, tal brincadeira machucou o braço e o rosto
da aluna”. (P1)
94
“Observo que as brincadeiras têm como objetivo a maldade. Após ter
interrompido o jogo, depois de várias faltas, chamei atenção dos
mesmos onde afirmei que tal comportamento poderia ter
consequências graves”. (P1)
“Todo mundo começou a falar que ele tinha sido queimado, ficaram
repetindo isso pra ele. Então isso criou uma irritação nele e ele logo
em seguida já reagiu com violência. Começou a ameaçar a chorar e
partiu pra cima de uma menina, tentando dar um murro nela. Só que
daí ele só ameaçou o murro e aí ele pegou começou a chorar,
sentou, mostrando desequilíbrio, eu via que ele já estava
desequilibrado emocionalmente”. (P1)
“Essa sala tem muita rivalidade entre os grupos”. (P3)
Debarbieux e Blaya (2002) referem que há comportamentos que desgastam
as relações entre aluno e professor e é possível observar que tal fato se comprova
na afirmação dos autores quando os professores 1 e 2 retratam em seus diários de
aula situações enfrentadas:
“Cheguei à conclusão que por motivos pessoais elas não chegavam a
um acordo. Foram discussões, alteração nas vozes e muito stress”
(P1).
“Por várias vezes, pedi que não chutasse a bola e não fui atendida”.
“Chamei o garoto e conversei sobre a tecnologia da bola, o valor dela,
sua utilidade. Ele voltou para o jogo, mas chutou a bola novamente,
olhou para mim e disse (rindo)” “foi mal”. (P2)
“Essa garotinha, na última aula, disse-me que não faria as atividades
físicas por não gostar e não querer fazer mesmo”. Disse que não
seria obrigada e que sua mãe lhe orientou a “só fazer a aula prática
se sentisse vontade”. (P2)
Para lidar com esses tipos de situações, os professores utilizaram estratégias
que entenderam serem eficazes naquele momento como: mediação através do
diálogo, da escuta ativa, discussões, coerção e reflexão:
“Observo que as brincadeiras têm como objetivo a maldade. Após ter
interrompido o jogo, depois de várias faltas, chamei atenção dos
mesmos onde afirmei que tal comportamento poderia ter
consequências graves e que se continuassem assim não iriamos
mais para a quadra. Foi passado o ocorrido à orientação da escola e
a mesma concordou em deixar os alunos na sala de aula até
melhorarem o comportamento”. (P1)
95
“Foram discussões, alteração nas vozes e muito stress. Foi chamada
a orientação da escola onde a mesma deixou claro que se não
chegassem a um acordo, iria ser cancelada a apresentação de dança
delas”. (P1)
“Para descobrirmos onde estava o boné, precisei ameaçar a sala toda
com suspensão. Então, outra criança denunciou o 2º que escondeu e
ambos foram advertidos”. (P2)
“Foi então que após três aulas discutindo e apresentando sugestões,
sem acordos, decidimos cancelar a participação de todo o 1º ano do
Ensino Médio. Pedimos que todas fossem para suas salas e acabou
tudo”. (P2)
“Precisei ameaçá-los de tirar a prova se não parassem com essas
atitudes, pedi para respeitar uns aos outros e com a ameaça resolveu
a situação do dia”. (P3)
De acordo com Debarbieux e Blaya (2002), utilizar uma disciplina mais
severa, excluindo o aluno da aula ou da atividade, tem-se tornado ineficaz e menos
adequada. Nesses casos, a prevenção compreende utilizar medidas buscando
diminuir o impacto dos incidentes e de manifestações de novos casos, ou seja, o que
tem se percebido é que a intervenção antecipada surte resultados positivos.
Parafraseando Vinha e Tognetta (2006) cabe verificar se, desde as simples
manifestações às mais complexas formas de conflito, não têm sua origem em uma
conduta educativa, cuja base se mostra presa diante de ações muito opressivas ou
condescendentes, interferindo diretamente na rotina escolar. Na maioria das vezes,
não existe a necessidade de se criar uma nova regra para se resolver o problema,
mas sim, de se provocar uma ampla reflexão de forma prudente e neutra, que gere
uma nova conduta e tomada de decisão por parte do professor. As autoras afirmam
que, caso não seja feito esse processo de mudança, estará tratando a consequência
e não a causa que originou o conflito ou a desordem.
Corroborando com esta ideia, Ortega e Del Rey (2002) relatam que um dos
fatores que permitem que as relações sociais se fortaleçam é a maneira como os
conflitos são interpretados ao longo da vida. Desta forma, dentro da escola, o
avanço da violência escolar deve ser contido por meio de estratégias que promovam
a convivência entre os jovens, atuando preventivamente e por consequência,
reduzindo as possibilidades de violência juvenil. Levando-se em consideração as
96
intervenções promovidas pela educação formal, esta proposta busca o equilíbrio das
relações como modelo para os relacionamentos interpessoais.
Nos diários de aula, há também relatos dos professores que se referem à
indisciplina vivida na escola, em especial nas aulas de Educação Física:
“Essa sala tem vários problemas de indisciplina, não respeitam os
professores, não se comportam em sala de aula”. (P1)
“Levei o ocorrido para a orientação educacional da escola, pois esta
sala está com muitos problemas de indisciplina. O aluno foi advertido
e o dono do boné se comprometeu em não descer mais para as aulas
práticas com o boné”. (P2)
“Um aluno levou o celular para a aula de Educação Física. Desde o
início do ano, repito sempre para deixarem o telefone dentro da
mochila, lá na sala de aula, pois não me responsabilizarei por
qualquer dano ao mesmo”. (P2)
“Mas esse aluno levou escondido, deixando-o na arquibancada. Não
sei como, mas a tela do celular apareceu trincada e o menino veio
falar comigo. Enumerei as razões pela qual eu não iria me envolver
nesse assunto. Ele havia desobedecido a regra “não levar celular
para a quadra”. (P2)
A disciplina na escola parte da premissa de que foi elaborada para aceitação
de quem as criou bem como a quem se submeterá. Muito embora sejam passíveis
quanto ao seu cumprimento, pressupõe-se que cada integrante do ambiente
educacional as cumpra. O grande contraponto reside no fato que nem sempre tais
convenções foram democraticamente refletidas e construídas por todos os partícipes
(ORTEGA; DEL REY, 2002).
Quando um sistema traz consigo regras prontas, sem mesmo ter surgido uma
situação de conflito, existem duas situações distintas, já que se por um lado há
professores que as utilizam para o estabelecimento da ordem, por outro, os alunos,
por não terem participado do processo de elaboração das mesmas, não veem
sentido, não as identificam e não se apropriam delas, não assumindo para si os
compromissos pré-estabelecidos (ORTEGA; DEL REY, 2002).
Além dos pontos acima evidenciados, nos últimos anos, os autores reforçam
que há estudos que têm identificado outros fatores que podem promover a violência
nas escolas como questões familiares, baixo padrão educacional, situação social,
97
dificuldades emocionais. Há ainda relatos decorrentes de ambientes estruturais
pouco hospitaleiros, questões ambientais desfavoráveis, disciplina rígida, bebida e o
próprio fracasso acadêmico, dentre outros (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002).
No processo de análise dos diários de aula encontram-se relatos do professor
3 quando o mesmo se refere ao processo reflexivo, que de acordo com Schön
(1992), a prática reflexiva eficaz, não pode ser analisada separadamente, deve
permear pelo contexto escolar, mas integrando a voz do aluno que deve também ser
ouvida.
O autor afirma que, para um resultado efetivo, a sugestão é que esta prática
seja uma ação conjunta entre direção e docentes e que transite na formação inicial,
nos espaços de supervisão e na educação contínua.
Esse relato pode ser observado na fala do professor 3 quando o mesmo
reflete sobre sua própria prática, desenvolvendo um processo de autoanálise, auto
avaliação e de possíveis mudanças, o que Schön (1992) chamou de reflexão-ação.
“Esta é uma sala com pouco interesse em novos desafios. Os três
grupos que apresentaram hoje deixaram a desejar, pois não houve
interesse em apresentar uma dança típica, não estavam preparados
para explicar a parte teórica, os colegas não prestaram a atenção.
Abaixei a nota dos grupos e repensei nos próximos trabalhos se terão
apresentações ou só parte escrita, individual ou grupos”. (P3)
“Como professora, participo junto com os alunos, esclarecendo as
dúvidas e incentivando na atividade para que todos realizem”. (P3)
“Quando vejo esses atritos entre os alunos, eu chamo o grupo ou a
pessoa individualmente e tento conversar e expor outra maneira de
convivência”. (P3)
A reflexão é um processo que ocorre antes e depois da ação e em parte,
durante a ação. Esses conceitos de reflexão na ação e sobre a ação referem-se ao
aprender uns com os outros e sobre o desenvolvimento da profissão. Expondo e
examinando suas teorias práticas, para si e para os colegas, o processor tem mais
chances de perceber suas falhas e limitações (ZEICHNER, 1993).
98
6.2 Transcrições das entrevistas relativas à percepção dos professores sobre
conflitos
Entrevista com professor (1)
Entrevistador: O que é conflito para você?
Professor (1) Acredito que quando você acaba não conseguindo se
relacionar com pessoas do nosso grupo e você tenta impor aquilo de uma forma
mais agressiva eu acabo considerando isso como conflito. Sabe quando você não
aceita a opinião do outro, você não consegue conviver com a diferença e de alguma
forma você acaba excluindo essa pessoa. Então tudo isso eu acabo considerando
como conflito, porque acaba influenciando no convívio e na produção deles também.
Eles ficam mais preocupados com as coisas fúteis vamos dizer assim, coisa que não
tem significado nenhum, do que fazer coisas que dariam algum resultado para eles.
Por exemplo, quando você vai explicar alguma coisa para eles que no ponto de vista
deles acaba sendo complexo, eles acabam descartando. Então a atividade tem que
ser simples, a explicação bem simples, tudo tem que ser bem simples para eles,
porque se tiver um grauzinho de dificuldade, esquece...já perde o interesse. E aí se
você insiste, acaba criando conflito, porque daí eles acabam querendo ganhar as
coisa no grito. Aí começam a passar para o outro... ah esse professor é isso, esse
professor é aquilo e um vai passando para o outro e aí vai espalhando e a hora que
você vê todo mundo está falando a mesma coisa. Se tem um professor que
concorda com tudo aquilo que eles fazem, tudo bem esse professor é legal. Mas o
dia que você não concordar... ah esse professor não presta. E aí eles se juntam para
poder reivindicar os direitos deles.
Entrevistador: Você já pensou em usar conflitos como estratégia de ensino?
Professor (1) Eu procuro assim dar alguns tipos de exemplos de fora. Então
eu pego situações que acontecem na aula e comparo com o que acontece fora e
mostro para eles e tento fazer com que eles reflitam sobre o que aconteceu. Porque
se você der exemplo deles mesmo eles não vão conseguir refletir. Então eu uso
estratégias de fora para trazer algo para eles refletirem ou alguma que está
acontecendo na atualidade ou em redes sociais porque como eles estão muito
conectados a esse tipo de rede. Sempre contando uma historinha, fazendo refletir e
depois a gente tenta jogar uma projeção para o futuro. Então eu falo assim...
99
Imagina daqui uns anos se continuar assim. E sobre o conflito esses dias eu falei
assim... Você tem que tentar se relacionar com os outros, mesmo você não
gostando do colega, porque amanhã ou depois você vai trabalhar você vai precisar
se relacionar com outras pessoas, e aí como vai ser? Então quando tem um grupo
que não gosta, por exemplo, da aula de voleibol, reclamam eu falo... Imagina só se
você tivesse trabalhando numa empresa e seu chefe te passasse uma tarefa pra
você fazer, então você vai chegar para ele e falar que você não vai fazer porque
você não gosta? Eu falo para eles que nem tudo na vida a gente faz porque a gente
gosta. No caso do voleibol, faz parte do planejamento da aula e você tem que
participar senão você fica sem nota. Então a questão não é se você gosta ou não é
que você precisa participar para ter a frequência na aula como se fosse outra
disciplina qualquer e você precisa tirar nota. Então a gente tenta fazer isso aí com
eles, para ver se eles entendem, mas eles criam uma grande resistência.
Professor (1) Eu falo muito com eles sobre a convivência. Então a gente fala
muito para eles que eles têm que valorizar as amizades, espírito de solidariedade,
um ajudar o outro, então tem uma atividades que a gente propõe que são os jogos
cooperativos então a gente tenta fazer com que eles entendam isso dos valores.
Mas ao mesmo tempo em que a gente tenta passar coisas para eles sobre esses
temas, a maioria do tempo eles passam aprendendo coisas opostas, de como ser
egoísta, que cada um tem que ser espertão, meio que cada um por si sabe... então
eles acham que nunca eles vão precisar de alguém. Eu vejo isso principalmente na
Educação Física pelo próprio comportamento dele na quadra e aí a gente consegue
dar uma identificada. A gente vê aquele aluno que é muito fominha, não passa a
bola, ele pega a bola e só ele quer jogar. Então você vê que ele na vida real vai agir
desse jeito, ele vai ser aquele tipo egoísta. Ele vai chamar tudo pra ele, achar que
ele resolve tudo sozinho. Então a gente vê que alguns comportamentos que
acontecem aqui eles se refletem lá fora. Por exemplo, até dificuldade de aceitar
algumas coisas, tipo você tem aquele aluno que você tenta mostrar pra ele que ele
tá errado e ele não aceita e no próprio jogo ele faz isso também. Então a gente vê
que cada dia mais esse tipo de comportamento tem aumentado é como se fosse
colocasse uma fruta boa dentro de uma caixa de frutas ruins e essas frutas ruins vão
começar a contaminar essa fruta boa. Então eu acho que também ficar fazendo
muita propagando dessa coisa negativa ela aumenta cada vez mais essa situação.
100
Então se a gente fizesse o contrário, ao invés de ficar pregando a violência, o
menino fez isso, fez aquilo, começar a inverter a situação e valorizar o bom.
Então aquele aluno que a gente viu no início que era um aluno bom , começar
a investir mais nele, fazer propaganda desse aluno bom, porque eles vivem por
imitação, então quando eles entram em um ambiente que é ruim eles acabam
imitando os outros também. Eu tenho aluno aqui que quando entrou nem abria a
boca e hoje está malandrão aqui. Ele está copiando os outros, copiando os modelos
negativos. Se a gente for ver mesmo até na mídia, o que vendo mesmo é modelo
negativo, notícia ruim e se você for ver as pessoas até gostam de ficar vendo
aqueles programas onde só passam violência. Então parece que é algo vicioso,
sabe. E aí quanto mais a gente faz propaganda disso, mais aumenta. Então a gente
tem que valoriza aquele aluno que tem algum talento e não fica só falando daquele
aluno que só faz coisas ruins e sim valorizar as ações positivas.
Entrevistador: Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre
diferenças, valores, convivência, etc?
Professor (1) Eu vejo assim que eles têm dificuldade de aceitar as
diferenças. Então tem aqueles alunos que vão formando seus grupinhos para sentir
mais seguros. Aqueles que acabam sendo excluídos em um grupo acabam
formando outros grupos para serem aceitos e quando não encontram um grupo para
inserir eles ficam sozinhos e até acabam sofrendo bullying dos colegas. Eu acho que
a questão do bullying vai muito da pessoa aceitar. Se ela não se impuser ela tá
perdida. Porque o objetivo é atingir, eles fazem alguma coisa para agredir alguém
então eles querem que essa pessoa se sinta mal, mas a partir do momento que a
pessoa não liga acaba perdendo a graça. Eu tenho uma aluna da tarde que ela não
aceita o bullying e ela vai pra cima, não aceita não... Aí dá uma diminuída, mas não
acaba... Eu procuro sempre chegar de canto, conversar, usar o diálogo... para o
aluno refletir... Sempre buscando puxar pela reflexão, mas tem aqueles que não
aceitam aí você tem que ser mais duro, mas nem sempre precisa gritar, você pode
fala mais duro sem se exaltar. Eu falo próximo dele, olhando nos olhos deles,
pergunto para ele porque ele está sendo agressivo se eu não estou sendo agressivo
com ele. Ele tem que sentir aquela sua energia. Você já usou de várias estratégias e
mesmo assim ele não escuta aí você tem que chegar mais firme.
101
Análise individual (1)
O que é conflito para você?
Não saber se relacionar com as pessoas
Não aceitar a opinião do outro
Não conseguir conviver com a diferença
Você já pensou em usar os conflitos como estratégia de ensino?
Usar tipos de exemplos de fora com situações que acontecem na aula e
comparo com o que acontece fora e mostro para eles e tento fazer com que eles
reflitam sobre o que aconteceu.
Sempre contando uma historinha, fazendo refletir e depois a gente tenta jogar
uma projeção para o futuro.
A gente fala muito para eles que eles têm que valorizar as amizades, espírito
de solidariedade, um ajudar o outro, então tem uma atividade que a gente propõe
que são os jogos cooperativos então a gente tenta fazer com que eles entendam
isso dos valores.
A gente vê que alguns comportamentos que acontecem aqui eles se refletem
lá fora.
Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre diferenças,
valores, convivência, etc?
Eu vejo assim que eles têm dificuldade de aceitar as diferenças. Então tem
aqueles alunos que vão formando seus grupinhos para sentir mais seguros.
Eu procuro sempre chegar de canto, conversar, usar o diálogo... para o aluno
refletir... Sempre buscando puxar pela reflexão, mas tem aqueles que não aceitam aí
você tem que ser mais duro, mas nem sempre precisa gritar, você pode fala mais
duro sem se exaltar.
102
Entrevista com professor (2)
Entrevistador: O que é conflito para você?
Professor (2) Conflito para mim é quando tem uma divergência de opiniões.
Aí, uma pessoa quer de um jeito, a outra quer de outro e as partes não cedem ou
uma parte acaba cedendo e aí se resolve o conflito ou se arrasta. Conflito para mim
é isso, é uma divergência de opiniões, onde precisa haver diálogo e uma das partes
ceder ou ceder para ficar quieto então, ou ceder argumentando sobre a sua opinião.
Pra mim é isso.
Entrevistador: Você já pensou em usar conflitos como estratégia de ensino?
Professor (2) O conflito como estratégia de aula eu nunca pensei seriamente
nisso.
Entrevistador: Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre
diferenças, valores, convivência, etc?
Professor (2) Eu já usei o conflito para ensinar sobre diferenças, valores,
convivências e tal, principalmente aqueles meninos que se acham os bons em tudo
e tal. E aí, eles desprezam as meninas que não tem tanta habilidade para aquela
modalidade. Então, eu meio que combino com as meninas e elas fecham um
“cartelzinho” e fazem com eles a mesma coisa que eles fazem com elas. Ah eu não
quero você, você joga muito mal, e aí eles se sentem mal e eles vem reclamar para
mim. E aí eu pego o gancho, eu pego a deixa e falo: olha, mas não é isso que vocês
fazem com elas no futsal, por exemplo? Agora na hora do vôlei elas têm mais
habilidade, então você não pode desprezar uma pessoa, você tem que trazer, você
tem que agregar. Aí eu trabalho empatia, resiliência, respeito, pergunto para ele
como é que ele se sente do outro lado do desprezo? Porque enquanto você está
desprezando Ok e quando você é desprezado? Então eu discuto bastante isso e
nesse sentido os resultados foram bem positivos, até hoje assim eu não tive
resultado negativo quando eu mantenho essa prática. Mas assim, não como
estratégia de aula e sim para trabalhar valores, convivência.
Entrevistador: Você já fez isso? O que achou?
Professor (2) E achei bem válido.
103
Análise individual (2)
O que é conflito para você?
É quando tem uma divergência de opiniões
Você já pensou em usar os conflitos como estratégia de ensino?
Nunca pensei seriamente nisso.
Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre diferenças,
valores, convivência, etc?
Eu já usei o conflito para ensinar sobre diferenças, valores, convivências e tal,
principalmente aqueles meninos que se acham os bons em tudo e tal. E aí, eles
desprezam as meninas que não tem tanta habilidade para aquela modalidade.
Então, eu meio que combino com as meninas e elas fecham um “cartelzinho” e
fazem com eles a mesma coisa que eles fazem com elas.
Entrevista com professor (3)
Entrevistador: O que é conflito para você?
Professor (3) São situações vividas em sala de alunos que necessitam
chamar atenção de alguma forma, mas percebo que sempre negativamente,
“causando” na aula com amigos e professores. As salas que apresentavam conflitos,
com a retirada de alguns alunos melhoraram bastante.
Entrevistador: Você já pensou em usar conflitos como estratégia de ensino?
Professor (3) Na verdade no Ensino Médio não.
Entrevistador: Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre
diferenças, valores, convivência, etc?
Professor (3) Eu trabalho com os pequenos do Fundamental I, aproveitando
o Líder de mim, que trabalha com os valores, liderança da criança. Eu trabalho os
hábitos com as crianças, então aqui a gente tem uma programação, ser proativo, ter
o seu objetivo em mente. Então em cada bimestre é trabalhado um hábito. Eu já fiz o
proativo com as crianças, que eles entendem com é a pró-atividade, qual objetivo
deles, orientando para que começarem a fazer mais importante primeiro, que no
caso seriam as obrigações, as lições, essas coisas. Então eu trabalho dessa forma
com eles. Às vezes em forma de cartazes, ou algumas atitudes em aula, eu já falo
104
sobre o Líder em mim e dos conflitos que acontecem aqui. No caso do ser proativo
eles trouxeram fotos de como eles são proativos em casa, aí eu expliquei aqui como
eles podem ser proativos dentro da escola, principalmente aqui na quadra. Então foi
bem bacana. Mas é interessante repensar em trabalhar com esses valores com os
maiores também.
Análise individual (3)
O que é conflito para você?
São situações vividas em sala de alunos que necessitam chamar atenção de
alguma forma, mas percebo que sempre negativamente, “causando” na aula com
amigos e professores.
Você já pensou em usar os conflitos como estratégia de ensino?
Na verdade no Ensino Médio não.
Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre diferenças,
valores, convivência, etc?
Eu trabalho com os pequenos do Fundamental I, aproveitando um programa
chamado “Líder de mim”, que trabalha com os valores, liderança da criança. Eu
trabalho os hábitos com as crianças, então aqui a gente tem uma programação, ser
proativo, ter o seu objetivo em mente.
Às vezes em forma de cartazes, ou algumas atitudes em aula, eu já falo sobre
o Líder em mim e dos conflitos que acontecem aqui. Mas é interessante repensar em
trabalhar com esses valores com os maiores também.
Após a coleta dos dados, foram elaboradas duas matrizes com os resultados
obtidos.
Quadro 8 - Matriz Nomotética sobre percepção dos conflitos
↓ Categorias/Professores → P1 P2 P3
1 - O que é Conflito
Não saber se relacionar com pessoas x
Não aceitar a opinião do outro x
Não conseguir conviver com a diferença x
Divergência de opiniões x
Chamar a atenção de forma negativa x
105
Quadro 9 - Matriz Nomotética de como foi usado o conflito como estratégia de
ensino
↓ Categorias/Professores → P1 P2 P3
2 - Como o conflito foi usado como estratégia de ensino?
Comparação de histórias dentro e fora da aula. x
Valorizar as amizades, espírito de solidariedade. x
Usou o conflito para ensinar sobre diferenças, valores,
convivências.
x
Trabalhou no Fundamental I valores e liderança x
Discussão, cartazes, atitudes, reflexão de conflitos nas aulas. x
Nem todos os relatos feitos pelos professores estavam relacionados ao
conflito. Os professores demostraram dificuldades em diferenciar conflito e violência.
A leitura da matriz permite observar que os três professores usaram situações de
conflitos como estratégia de ensino, entretanto eles não tinham conhecimento de
que o estavam utilizando para ensinar, ou seja, parece que as situações ocorreram
ao acaso.
P1 relatou que utiliza uma comparação de histórias dentro e fora da aula
como forma de aproximação com a realidade dos alunos ou situações que
acontecem nas aulas. O professor relata que sempre procura valorizar as amizades,
espírito de solidariedade com os alunos, estimulando práticas positivas em suas
aulas.
P2 cita que, em um primeiro momento, não tinha pensado nessa
possibilidade, mas que em algumas situações enfrentadas nas aulas, usou o conflito
para ensinar sobre diferenças, valores, convivências.
P3 relatou que usa os conflitos como estratégia de ensino, porém apenas com
as turmas do Ensino Fundamental I, inclusive utilizou um programa de computador
nas aulas, cartazes que estimularam atitudes e reflexão de conflitos nas aulas. O
professor aponta que ainda não havia pensado em utilizar os conflitos como
estratégia de ensino nas turmas do Ensino Médio e apontou a importância de refletir
sobre essa prática e aplicá-la em suas aulas.
106
Freire, Silva, Miranda (2011) indicam que a dimensão atitudinal existente nos
planos de Educação Física nem sempre está contemplada expressamente nos
planos de ensino. Há o questionamento do quanto os conteúdos relacionados aos
valores, atitudes e normas, relacionadas a questões atitudinais, estão efetivamente
expostas nos planos de ensino dos professores. Contudo, reforçam que estes
mesmos conteúdos são construídos pelos alunos em todas as atividades escolares,
tanto nas obrigatórias quanto nas atividades extraclasses.
Para Strada Raab e Santos Dias (2015), deve-se considerar que os alunos
carregam valores e princípios previamente enraizados e que passarão por
constantes transformações ao longo de suas vidas e isso ocorrerá inclusive no
espaço escolar, sendo a mediação de conflitos, um elo entre a escola e a
comunidade no sentido de formar cidadãos independentes, que tenham condições
de refletir sobre a diversidade de valores e participação da construção do bem
comum.
Teixeira e colaboradores (2017) ressaltam que os conflitos não podem ser
encarados somente como algo negativo e, desta forma, cabe aos professores e
gestores educacionais auxiliarem os alunos a descobrirem neles uma oportunidade
para compreender e melhorar as relações interpessoais.
Os autores ressaltam que no processo de mediação de conflitos é
imprescindível instaurar a cultura do diálogo, entre os envolvidos. No ambiente
escolar, os docentes poderão realizar reuniões, assembleias para discutir situações
ocorridas, problemas entre os alunos ou simplesmente para expor situações ou
dúvidas relativas às relações interpessoais e em conjuntos poderão ser definidas,
regras de conduta e comportamentos.
Nesse sentido, é importante que a escola ofereça um espaço em que o aluno
não obedeça simplesmente às regras originárias de uma experiência não vivenciada,
de ordem exterior. É preciso que os discentes vivenciem diferentes situações e que
a partir delas e com elas, possam edificar valores como respeito, senso de justiça,
cooperação, além da resolução de problemas (VINHA e TOGNETTA, 2006).
107
6.3 Transcrição das entrevistas sobre competência
A entrevista sobre competência foi realizada após o término das intervenções,
na fase de reconfiguração da realidade.
Entrevistador: Ao longo desse processo de discussão e reflexão, você
percebeu alguma mudança na sua competência para lidar com situações de
conflitos?
Professor (1) O que mudou em mim nessa convivência com os conflitos foi
que hoje eu também estou mais tolerante e sempre me coloco no lugar do outro.
Entender o porquê dos conflitos fica mais fácil quando nos colocamos no lugar do
outro.
Vejo que o controle emocional é o caminho. Ensinamos regras de futsal de
vôlei ou qualquer outro esporte, mas não ensinamos como eles podem controlar
seus sentimentos e emoções. O mundo está cada vez mais acelerado e com isso as
pessoas também estão perdendo controle com suas emoções
Antes eu tinha um ponto de vista muito crítico sobre o que é certo ou errado
sem me colocar no lugar do outro e sem entender que esses alunos ao ter conflitos
eles não conseguem entender o porquê das suas ações. Uma pessoa agressiva é
insegura e vítima de um sistema agressivo. Eles são reflexos de suas experiências.
Hoje eu entendo o que acontece.
Antes eu olhava o conflito como algo de responsabilidade exclusiva da própria
pessoa que gera os conflitos. Hoje eu vejo que existe todo um sistema responsável
por todos esses conflitos. Ex: Família, experiências antigas, ambiente.
Aqui na escola, todos os conflitos de gravidade média e alta devem ser
encaminhados à orientação, essa é uma determinação da coordenação. Os conflitos
de medianos e graves merecem mais atenção e eu como professor acredito que
conseguiria resolver caso tivesse mais tempo para resolver.
A maioria dos conflitos que existem hoje nas escolas dificilmente serão
resolvidos pela falta de preparo dos profissionais envolvidos para solucionar. É como
dar murro em ponta de faca. Não existe uma proposta eficiente e prática. Todo o
sistema educacional está ficando cada vez mais doente por não existir uma
metodologia eficiente. Dá a entender que tudo isso é feito de propósito. Eu com a
108
minha experiência e conhecimento muita coisa mudou. Hoje eu tento me colocar no
lugar do outro, tenho um olhar diferenciado, buscando a origem desse conflito, um
conflito não existe só naquele momento ele inicia muito antes. Vejo que em muitos
casos a família é a origem. Tudo inicia dentro da família. Esse é o primeiro ambiente
a influenciar essa falta de preparo emocional. O aluno chega na escola sem base
emocional e sem essa base as coisas só tendem a piorar. A escola não tem
recursos para reverter isso porque a escola também está adoecendo. Uma triste
realidade onde quem tem uma boa proposta é ignorado. Como te disse tudo isso
parece ser um plano muito bem elaborado para que a escola seja um sistema falido.
Existe uma teoria sobre contágio social. Alguns pesquisadores americanos
pesquisaram por 35 anos um grande grupo de pessoas. Notaram que a influência
das pessoas sobre as outras são muito grandes. A forma de falar o jeito de se
expressar, os gostos e valores são características influenciadas pelo grupo que
vivemos. Se um bom aluno é exposto a um grupo ruim, as chances dele se tornar
como o grupo é muito grande. Acredito que tudo tem uma solução, mas precisa ter
mais empenho das pessoas interessadas.
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Entrevistador: Ao longo desse processo de discussão e reflexão, você
percebeu alguma mudança na sua competência para lidar com situações de
conflitos?
Professor (2): Nos momentos de conflito passei a refletir mais sobre as
partes envolvidas... Nos momentos de tensão pratiquei a empatia para dirigir a
situação, sempre procurando ouvir os envolvidos de forma neutra.
Antes eu via o conflito como algo superficial, sem aprofundar nas causas que
haviam levado os envolvidos aos conflitos. E tentava solucionar de maneira
superficial também. Só para que a aula seguisse seu fluxo. Não que fosse proposital,
mas não via o conflito como um momento para firmar relacionamentos.
Hoje vejo que após uma situação de conflito, ainda que tenha punição para os
envolvidos, mas que seja bem conversado, bem resolvido, isso não afasta o aluno
do professor.
Antes de iniciar esse processo de você falar as coisas, fazer colocações eu
comecei a perceber que tenho muitos vícios. Depois que você me alertou a respeito
109
disso, eu comecei a prestar atenção nos meus atos. Então as coisas que eu fazia
que para mim era normal e de vez em quando até dava conflito, mas era uma coisa
minha eu comecei a pensar, a rever, repensar as coisas. Ainda mais que eu tenho
quase 30 anos de profissão, então a gente tem alguns vícios. Essa sua colocação
sobre conflito me fez pensar nisso. Então eu começo a ver que eu fazia coisas que
para mim era normal e aí eu paro e penso... Peraí, se eu fizer dessa maneira eu vou
obter o mesmo resultado e vou evitar a fadiga, o embate. Eu comecei a rever as
minhas atitudes, as minhas ações efetivas e percebi que ficou muito mais calmo
para mim e o resultado está sendo o mesmo. Outra coisa, é quando há conflito eu
aprendi a usar essas situações para tratar algumas outras questões na turma. Não
que eu exponha o aluno, mas eu coloco a situação perguntando e aí pessoal? O que
vocês acham? Eu pego a situação de conflito e falo: Houve uma situação no 1º ano
e eu chego no 2º ano e falo assim: gente aconteceu isso numa sala, o que vocês
acham? Entendeu? Então os alunos falam assim: Nossa professora aconteceu isso
com você? Ah professora acho que você deveria ter mandado ele embora. Nossa
não quero ser professora. Então, eles vão me dando a visão deles da situação,
entendeu. A situação que aconteceu naquela sala eu não discuto naquela sala, eu
levo para outra sala para que eu veja o que eles me dão de retorno sobre aquela
situação e isso está me enriquecendo muito, sabe esse tipo de estratégia, não sei se
posso chamar isso de estratégia, mas foi uma forma que eu encontrei e tem evitado
muito conflito.
Após passar por tudo esse processo, hoje dificilmente eu mando pra
coordenação e até desafogou aqui embaixo na coordenação. Só mando mesmo
quando o aluno é reincidente e aí não tem jeito, tem que chamar o pai para
conversar, casos gravíssimos tb. Por exemplo, um aluno do 9º ano abaixou a calça
do colega. Então nesse caso não tem jeito, tem que levar para a direção mesmo. E
aí eu levei esse ocorrido para a turma. E fizemos as discussões, trabalhando os
valores com eles a partir dessas situações. Mas embate, rusgas entre os alunos isso
quando acontece eu chamo os envolvidos, converso com eles, mediando e
resolvendo ali mesmo a situação e foi de uma forma bem produtiva. Eu estou bem
diferente agora, a partir dessas reflexões sinto que fez muito bem para mim. Até os
alunos que convivem mais próximo a mim, estão percebendo isso. Eles estão
sentindo que eu estou mais ponderada com eles e até dizem: Nossa professora,
110
você está mais calma esse ano, mais zen. Eu tenho juntado o que você me trouxe,
aplicado nas aulas e sinceramente isso me ajudou a trabalhar os meus vícios.
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Entrevistador: Ao longo desse processo de discussão e reflexão, você
percebeu alguma mudança na sua competência para lidar com situações de
conflitos?
Professor (3): Eu não tive muitos embates ou violência e os poucos que
tiveram resolvi da melhor maneira. Na minha dança junina alguns alunos queriam
dançar funk, nada contra esse ritmo, mas nada a ver com festa junina, por fim a
dança foi da minha maneira. Ao longo das aulas, fazemos muitos combinados e dão
muito certo e consigo trabalhar com eles numa boa.
Quando iniciei dando aula no Ensino Médio, mudei algumas estratégias de
trabalho. Percebi que a linha de trabalho são os jogos. Então cada bimestre
trabalhamos um esporte e dentro desse esporte uma vez no bimestre ficamos em
sala e discutimos regras e assuntos atuais do mesmo e eles adoram, todos fazem
em folha para entregar e terem nota. Todas estão comigo, desde o 1 bimestre. As
outras aulas trabalham a modalidade e a última do mês eles jogam o futebol
esperado. Não tive mais problemas com eles.
Com o tempo nós amadurecemos e com isso superamos os conflitos. No meu
caso era a questão de fazer o gosto dos alunos e animá-los para a aula, pois tem
turma que não tem vontade de fazer. Isso, eu não vejo como caso de levar para a
coordenação, resolvi com eles mesmos, onde cada aula escolhemos a melhor
atividade. Os casos mais graves, como desacato, violência esses tem que ser
levados para a coordenação. Depois das intervenções me sinto mais segura nas
aulas, pois nossos combinados deram certo.
As entrevistas foram analisadas a partir da síntese dos professores e os
resultados apresentados basearam-se na literatura sobre o tema.
Síntese dos professores
Professor (1) relata que antes era muito crítico em relação à convivência com
os conflitos. Olhava o conflito como algo de responsabilidade exclusiva da própria
pessoa que gerava a discórdia. Hoje, ele percebe que existe todo um sistema
responsável por todos esses conflitos. Ex: Família, experiências antigas, ambiente.
111
Nesse sentido, demostra-se mais tolerante e procura colocar-se no lugar do outro. O
professor sinaliza a importância do controle emocional e a falta de controle dos
alunos sobre as emoções.
Professor (2) relata que antes tratava o conflito de maneira superficial e que
não havia preocupação em investigar as causas. O professor retrata que não via o
conflito como um caminho para firmar relacionamento e por essa razão deixava a
aula seguir normalmente. Hoje, nos momentos de conflito passou a refletir mais
sobre as partes envolvidas e inclusive refletindo sobre sua própria prática, revendo
atitudes e ações, percebendo resultados positivos nessas situações. Desta forma,
em momentos de tensão utilizou a empatia para dirigir a situação de forma neutra
usando o conflito para tratar outras questões com a turma, exercitando a escuta e
utilizando o feedback do alunos para reflexão coletiva. Esse processo de reflexão-
ação do professor trouxe benefícios para ele próprio, para os alunos e para a escola.
Professor (3) relata que ao longo das aulas faz combinados com os alunos e
que isso tem resultados positivos na relação entre eles. Com isso o professor retrata
que teve poucos conflitos em suas aulas. No início o professor abordou que
repensou e mudou algumas estratégias de trabalho, percebendo a necessidade de
usar discussão dos jogos nas aulas para que todos participassem e com isso não
apresentaram problemas nas aulas.
Os professores 1,2,3 corroboram com os estudos de Chrispino, (2007) e
Moore (1998) que relatam que processo de intervenção tem a finalidade de
promover soluções pacíficas, buscando amenizar, ou até mesmo eliminar os
conflitos entre as partes, de modo que os envolvidos exponham seu ponto de vista e
entrem em acordo. O mediador, por sua vez, tem o papel de auxiliar as partes
envolvidas a encontrarem, de comum acordo e espontaneamente, uma resolução
reciprocamente aceitável. Em casos de conflitos, utilizar a mediação entre as partes
tem efeitos positivos sobre essas situações.
O professor 3 relata em seu diário que reflete sobre sua própria prática em
situações de conflitos em suas aulas, de maneira que os alunos possam discutir em
grupos ações, por exemplo, voltadas para a execução dos jogos. Os estudos de
Foster et al. (2011) mostram que o trabalho escolar desenvolvido em uma
perspectiva interativa, considerando tanto os saberes e as necessidades dos
professores quanto às perspectivas e interesses dos alunos como ponto de partida,
112
provoca maior envolvimento de todos nas dinâmicas da escola, que passa a
fortalecer o sentimento de pertença nos sujeitos envolvidos.
Os relatos dos professores 1 e 2 ao tratarem da percepção de conflitos em
suas aulas, relataram suas vivências de que antes eram críticos e hoje reflexivos,
Essas manifestações encontram evidenciadas nos estudos de Foster et al. (2011)
quando afirmam o quanto o professor se forma na escola e, ao mesmo tempo, o
quanto o professor forma a escola, quando demostram-se mais tolerantes,
colocando-se no lugar dos alunos e exercitando a mediação entre as partes.
Este é um processo que requer do professor o desenvolvimento de inúmeras
capacidades que são desenvolvidas ao longo de sua prática docente. Nos relatos
dos três professores, percebeu-se o que Perrenoud e Thurler (2009) ressaltaram
sobre a importância de desenvolver os aspectos cognitivos, somando-se a eles,
percepção, avaliação, esquemas de pensamento e raciocínio, envolvendo valores e
atitudes. Neste ponto, os autores reconhecem que situações conflituosas, exigem
competência, que por sua vez, se mostra muito mais complexas do que são.
113
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os conflitos estão presentes em todos os ambientes. Sua origem está na
diversidade de pontos de vista, da pluralidade de interesses, necessidades e
expectativas. Manifestam-se por incompatibilidade de ideias, da heterogeneidade
presente nas organizações, no ambiente familiar, em empresas e no meio
educacional. Ocorre entre duas ou mais partes, cujos interesses, valores e
pensamentos apresentam posições diferentes e opostas evoluindo para uma
resolução do caso ou não.
O ambiente educacional é um local em que se reúnem muitos grupos, cada
um com suas características, o que possibilita o contato e a convivência com a
diversidade. Assim sendo, é importante que a instituição educacional esteja atenta e
preparada para enfrentar contextos adversos que ocorrem em todas as dimensões.
Desta forma, é imprescindível que a escola promova ações de enfrentamento junto
aos pais, alunos e comunidade para combater manifestações que podem chegar a
ser hostis e violentas. A promoção de encontros, diálogos, atitudes e
comportamentos que estimulem condutas tolerantes, colaborativas, não violentas e
não discriminatórias trazem benefícios à comunidade e ao ambiente escolar.
A pesquisa revelou a preocupação dos professores de Educação Física em
solucionar os conflitos de maneira pacífica e imparcial, utilizando o diálogo como
principal estratégia, o que exigiu dos educadores o exercício da escuta. Os
resultados indicaram que docentes anteriormente críticos em relação à convivência
com os conflitos em suas aulas, hoje, e como um dos efeitos provocados pelos
diálogos e intervenções dialógicas realizadas durante a pesquisa, exercitam com
maior reflexão o papel de facilitadores. Os estudos apontaram que a mediação é o
caminho para a resolução dos conflitos e o mediador tem um papel fundamental
nesse processo.
Portanto, ao analisarmos a percepção dos docentes sobre as situações de
conflito em aulas de Educação Física, observou-se que a partir desse processo de
discussão, reflexão e intervenção, os professores demostraram mudanças na forma
de lidar com as mesmas. Docentes que antes enxergavam desavenças como algo
superficial, entendiam estes episódios como um problema exclusivo entre os
envolvidos, docentes que anteriormente apresentavam vícios de conduta em relação
114
a atitudes de enfrentamento, hoje se mostram mais tolerantes, reflexivos e
conscientes sobre suas ações, inclusive com propostas de mudança em sua forma
de lidar com as desavenças entre os alunos. Tais condutas alteraram sua própria
prática, com o uso de novas estratégias, como a empatia, a reflexão e a negociação
em momentos de tensão e desacordos.
Porém, nos relatos dos professores, a maioria dos conflitos que existe
atualmente nas escolas torna-se de difícil resolução pela falta de preparo dos
profissionais envolvidos. Existe um consenso entre os professores de que eles não
foram preparados para lidar com tais situações e que não existe uma metodologia
educacional que possa ser praticada nesses casos.
Por fim, surge o questionamento se o problema não residiria em um sistema
educacional doente, resultado imprevisto e indesejado de uma democratização do
ensino implementada sem que se olhasse para todos os aspectos envolvidos como
a mudança ambiental e a formação continuada dos professores, do mau uso da
tecnologia e da característica das gerações do século XXI. A escola efetivamente
sabe lidar com esta nova realidade?
A pesquisa demonstrou que o processo reflexivo pelo qual todos os docentes
passaram apresentou resultados positivos, indicando amadurecimento e segurança
para enfrentar situações adversas em suas práticas diárias, facilitando o trabalho da
coordenação pedagógica. Apontou inclusive que houve reflexão por parte destes
profissionais sobre a própria escola.
Muito embora os resultados apresentados tenham significância, recomenda-
se novos estudos na área, a fim de que possam ser criadas alternativas
colaborativas de maior alcance. Faz-se necessário estudo mais aprofundado sobre o
ambiente escolar em que os alunos estão envolvidos e inclusive o papel da família
nesse processo, uma vez que muitos conflitos advêm de fora das aulas de Educação
Física.
Os resultados encontrados apontaram que estudos nessa área, apresentam
importantes contribuições para viabilizar discussões mais ampliadas sobre
percepção de competência, estratégia de ensino para lidar com conflito no ambiente
escolar e de maneira que se tenha um olhar para o desenvolvimento da convivência
pacífica entre as pessoas, por uma educação pela paz.
115
Desta forma, são recomendados mais estudos envolvendo um maior número
de professores de Educação Física e em diferentes regiões brasileiras, para melhor
compreender e detectar as competências profissionais ao lidar com conflitos em
suas aulas e, por consequência, promover a melhoria da formação continuada e da
intervenção profissional junto à comunidade escolar.
116
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122
APÊNDICES
APÊNDICE 1 - Termo de Autorização da Escola
Eu, _________________________, diretora do _____________________, autorizo
a realização da pesquisa de mestrado com o tema: Situações de conflito no
ambiente escolar: um olhar a partir da Educação Física, a ser realizada pela
mestranda Andreia Camila de Oliveira, aluna da Universidade São Judas Tadeu.
Durante o período, ela estará autorizada a observar as aulas, realizar entrevistas e
reuniões com professores de Educação Física do Colégio.
Atenciosamente,
------------------------------------------------
Diretora
123
APÊNDICE 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.)
Eu,____________________________________________________________,
portador(a) do RG nº _______________________, abaixo assinado, dou meu
consentimento livre e esclarecido para participar como voluntária(o) do estudo sobre
situações de conflito no ambiente escolar: um olhar a partir da Educação
Física, sob responsabilidade da Profa. Dra. Sheila Aparecida Pereira dos Santos
Silva e discente Andréia Camila de Oliveira, do curso de Mestrado da Universidade
São Judas Tadeu.
Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:
1) O objetivo desta pesquisa é descrever mudanças na percepção de
competência dos docentes para lidar com situações de conflito em aulas de
Educação Física.
2) Durante a pesquisa, serão utilizados como instrumentos para coleta de dados:
a) Entrevista semiestruturada com os professores/as de Educação Física do
Ensino Fundamental II e Ensino Médio.
b) Questionário
c) Diário de campo do professor
d) Reuniões individuais
3) Na continuidade da pesquisa, serão utilizadas estratégias em que relatarei
situações de conflito ocorridas durante minhas aulas de forma tranquila e sem
comparações com os demais professores ou outros envolvidos.
4) Participarei de 10 reuniões com os demais professores de Educação Física
da escola, conduzidas pelo responsável pela pesquisa. Estas reuniões serão
gravadas em áudio, transcritas e seu conteúdo analisado visando obter as
respostas buscadas pela pesquisa.
5) A presente pesquisa apresenta riscos mínimos para mim, pois se trata apenas
da aplicação de questionário e participação em reuniões. Os desconfortos que
porventura surgirem, serão minimizados pelo esclarecimento prévio dos
objetivos pesquisa, como também da possibilidade de deixar de participar da
mesma, se assim eu desejar.
124
6) Todos os procedimentos serão acompanhados por profissional habilitado,
com registro profissional junto ao Conselho Regional de Educação Física.
7) Todos os meus dados serão mantidos no mais absoluto sigilo. As avaliações
ao longo do programa serão utilizadas exclusivamente para as finalidades
previstas no projeto de pesquisa, inclusive a publicação dos resultados em
revistas científicas. Terei acesso aos resultados desta pesquisa assim que
estiverem disponíveis.
8) Estas informações permanecerão em posse do pesquisador durante cinco
anos e eliminadas passado esse período.
9) Não haverá remuneração pela participação na pesquisa, como também não
haverá despesas extras pela participação no estudo, pois a coleta de
informações será realizada em situação agendada na escola onde trabalho,
conforme acordado entre o pesquisador e eu.
10) Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas
Tadeu para que toda e qualquer dúvida seja dirimida em relação à pesquisa,
através do telefone (11) 2799-1944. Poderei também entrar em contato com o
pesquisador através do telefone (11) 94511-8686, camilahand@hotmail.com
11) Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma
permanecerá em meu poder e a outra com o pesquisador responsável.
Finalmente, tendo eu compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado
sobre a minha participação no mencionado estudo e estando consciente dos
meus direitos, das minhas responsabilidades, dos riscos e dos benefícios que a
minha participação implicam, concordo em dele participar e para isso eu DOU O
MEU CONSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA SIDO
FORÇADO(A) OU OBRIGADO(A).
São Paulo, __________de _________________ de________.
_____________________________________________
Assinatura do(a) participante
125
APÊNDICE 3 – Entrevista Piloto
A entrevista piloto é composta por quatro questões relacionadas às situações
de conflitos encontradas nas aulas de Educação Física e ações de enfrentamento
aplicadas pelos professores.
1) Cite as séries em que você encontra situações de conflito nas aulas de
Educação Física.
2) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula de Educação Física
como professora na escola.
3) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz ou já fez na ocasião?
4) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas seguintes ou na turma?
126
APÊNDICE 4 – Questões do Diário de aula
NOME: Nº
IDADE: DATA:
Diário de aula composto por três questões em que os professores relataram
as situações encontradas em suas aulas e ações de enfrentamento, promovendo o
processo reflexivo e a auto avaliação.
1) Como foram as situações que enfrentei na semana passada,
relacionadas a conflitos nas aulas de Educação Física?
2) Como lidei com tais situações (descrever o que fez).
3) Como eu me saí lidando com tais situações? (auto avaliação)
127
APÊNDICE 5 – Transcrições das entrevistas Piloto
Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 1
Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de
conflito nas aulas de Ed. Física.
Professor 1:
O 6º ano, poucos, mas temos alguns. 7º ano é uma série que a gente não tem
tido muitos problemas, 8º ano tá bem legal também a gente vai muito bem, não tem
maiores problema, 9º ano a gente acaba tendo problemas um pouco maiores de
bullying1 principalmente, de relacionamento1 e este ano especificamente eu tive
alguns problemas com o 1º ano do Ensino Médio, que normalmente eu não tinha,
mas esse ano eu acabei tendo numa turma masculina.
Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula
de Educação Física como professor na escola.
Professor 1:
Nós temos aí várias situações né. Vamos ter bastante tempo pra falar aqui
agora. Por exemplo, desse negócio que eu falei pra você agora do Ensino Médio. Tá
acontecendo especificamente na hora do jogo, ou qualquer esporte que seja
basquetebol, handebol, futsal. São dois alunos que tem tido lá um dos alunos um
deles tem uma condição técnica muito superior e o outro uma condição física, uma
agressividade, melhor dizendo superior a esse primeiro que eu citei. E aí acaba
tendo esse embate1. O cara que tecnicamente é melhor, entre aspas humilha o
menino na hora de qualquer jogo1 que seja no futsal, basquetebol, handebol,
voleibol. E o outro que é mais agressivo procura bater nele na hora da situação de
jogo. O primeiro é cognitivamente é um pouco mais rápido no falar e no fazer as
coisas, alia isso àquela habilidade técnica que ele tem. Como funciona isso, ele faz
alguma coisa e fala outra em cima daquela habilidade que ele fez o outro rapaz não
tem muito como lidar com essa situação e parte para a agressividade1 e perde aí
mais a razão no conflito. Então é isso que tá acontecendo com o Ensino Médio. No
ensino fundamental, a situação é outra. O que eu sinto são as coisas acontecem, os
problemas acontecem fora da aula de Educação Física1 e aí na aula de Educação
Física é difícil você pescar o que acontece aí às vezes a situação de você não
escolher a pessoa no time, de você não passar a bola pra determinada jogadora, de
128
você reclamar quando aquela menina faz um erro, o mesmo erro que outra fez e que
ninguém reclama quando outra menina fez a pessoa vai lá e reclama1. Mas no
ensino Médio a maior parte das vezes são situações que acontecem fora da aula de
Educação Física e aí acabam se mostrando com essas atitudes que eu falei.
Dificilmente acontece um problema dentro da aula de Educação Física provocado
por uma habilidade técnica, ou uma falta de coordenação motora que se manifeste
na aula e aí comece a gerar um problema. Tem sido problemas sociais1 que
acontecem no dia a dia do Colégio e se manifestam também nas aulas de Educação
Física.
Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz
ou já fez na ocasião?
Professor 1:
Sempre, sempre, 100% das vezes eu faço uma intervenção2 direta quando eu
percebo que a coisa ocorreu. Vou ser bem sincero pra você. Nunca houve uma
situação de conflito que eu tenha percebido, ela pode acontecer a gente não
percebe, depois você é chamado atenção por um ambiente externo aí, que foi
levado na orientação. Olha De Simone, na sua aula aconteceu isso, isso, isso, eu
posso retomar e falar com os dois. Mas quando a situação de conflito acontece na
aula e eu percebo 100% das vezes eu fiz a intervenção. Aí há uma diferença,
algumas vezes eu fiz a intervenção só com o causador do conflito e outras vezes eu
fiz a intervenção com os dois e também tem outra diferença, ou a gente faz a
intervenção perante todo mundo, às vezes a gente retira os dois do grupo, para não
expor ainda mais aquele que está sendo prejudicado ou não depende um pouco da
situação qual que é2. Mas a minha atitude sempre é de intervir pontualmente quando
acontece o conflito.
Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas
seguintes ou na turma?
Professor 1:
Eu procuro ser bem atento a esse tipo de situação. Primeiro eu identifico o
problema, identifiquei o problema, pela experiência que eu tenho, é claro que isso aí
não aconteceu desde quando eu comecei a dar aula nesse andamento que eu vou
te falar agora. Mas hoje em dia eu vejo o problema acontecer, identifico qual que
129
seria a minha melhor atitude pontual naquela situação2 falo com os dois e a partir de
então aí eu passo a fazer uma observação. Especificamente no nosso colégio aqui
você vai entrevistar outras pessoas, eu não sei qual é a realidade de outros colégios,
mas, no nosso colégio a gente tem contato com os alunos em outras situações sem
ser na aula de Educação Física. Eu falo isso fisicamente, a escola permite que você
encontre-os no corredor, numa outra sala, tendo aula em num outro espaço, na aula
de Educação Física, então como é que funciona isso na minha cabeça. Teve o
problema, teve o conflito, eu tive a minha atuação pontual naquele momento da aula
de Educação Física e presto atenção. Acabado aquilo eu fico prestando atenção em
outras situações no colégio que eu sei que eu vou encontrar aquele grupo ou
desejada pessoa e assim por diante. E a partir daí, na aula seguinte, aí sem nenhum
problema eu chamo os dois, tá tudo resolvido? Não houve desdobramento dessa
situação? Como é que tá isso aí pra você e pra como é que tá isso pra outra
pessoa? Enfim, e aí eu vou lidando com essa situação no dia a dia. A gente tem um
departamento de orientação educacional no colégio e que algumas vezes se você vê
que a situação sai da sua mão e você não vai conseguir resolver, a gente passa pra
orientação educacional resolver. Aliás, a conduta do colégio seria sempre que há o
conflito você passar isso pra orientação educacional do colégio para eles
resolverem. Eu não penso assim pra ser bem sincero pra você. Eu primeiro tento
resolver o problema com as minhas ferramentas dentro da sala de aula2. A escola
tem capacitado muito professores com muitas técnicas, formas de agir, forma de
pensar sobre essa situação de lidar com conflitos. Formas de linguagem que você
tem que usar situações de respeito, de justiça e assim por diante. Realmente, a
linguagem eu, escuta ativa, coisas que você pode utilizar no momento ali tenso, pra
desarmar um dos lados e assim por diante. Então baseado nisso eu procuro não
passar o caso pra frente. Eu procuro sempre pegar e resolver o negócio na hora e a
partir de então é uma constância, eu falo espero algumas aulas pra às vezes não
ficar uma situação marcante né. Às vezes acontece o detalhe de você, com uma
intervenção pontual às vezes você pode exacerbar um problema que não seria tão
grande se você ficasse quieto. Então uma situação que o garoto A deixou
constrangido o garoto B às vezes passa despercebida se você não falar nada. Você
pode chegar na hora ali e fazer uma intervenção e aquele garoto B acaba ficando
em evidência, né e aí o problema que poderia ser pequeno você potencializa. Você
vai ter que saber lidar com essa situação, mas “puts”, falar que eu nunca tive
130
problemas é difícil, mas sempre as intervenções que eu tive normalmente acabaram
se desenvolvendo pra um lado bom da coisa, depois a gente conversa. E outra coisa
que eu acho que muito interessante fazer, e isso eu faço muito e com o passar do
tempo eu fui sabendo lidar com essa situação. Eu chamo as duas pessoas
envolvidas e converso abertamente com o que tá acontecendo2. Eu evito falar garoto
A vem aqui, falo com o garoto A. Aí chamo o garoto B e falo: garoto B, o garoto A tá
falando assim, assim, assado e assim por diante, não. Aconteceu a coisa eu faço a
intervenção, acabou. Depois chamo os dois, que tá acontecendo, você fala na minha
frente, você fala na minha frente, a gente tenta resolver a situação, ponto. Acabou
aqui, acabou aqui. Numa outra aula, aí eu chamo só o garoto A, garoto tá tudo
certo? Não, professor tá tudo resolvido. Aí chamo o garoto B, separadamente, garoto
B, tá tudo resolvido? Tudo resolvido professor. E com a minha experiência eu vou
sentindo se esse tá tudo resolvido é uma realidade ou não ou se eles falarem né só
pra...
Se eu sinto que o negócio tá resolvido eu não passo pra orientação, não
passo pra orientação. Teve uma menina que eu tentei resolver um problema desse
tipo de situação de bullying na sala de aula, e tudo mais, eu não posso falar pra você
se deu certo ou deu errado2, mas o que eu posso falar é que a menina nunca mais
falou comigo. Eu acho que a pessoa acabou não tendo mais problemas de
relacionamento dentro da turma, mas foi uma aluna que eu perdi completamente o
contato que eu tinha o canal que eu tinha. A pessoa nunca mais falou comigo, vai
sair esse ano no 3º ano do Ensino Médio, joga handebol feminino, mas nunca mais
falou comigo.
Quadro 10 – Análise do participante 1 do estudo piloto
Cite situações de conflito que você
enfrentou na aula de Educação Física
como professora na escola
Quando acontece algum tipo de conflito o
que você faz ou já fez na ocasião?
1
1
Bullying 1
2
100% das vezes eu faço uma intervenção
direta quando eu percebo que a coisa ocorreu
1
1
Conflitos de relacionamento (Não há menções)
1
1
Embate entre alunos 2
2
Identifico qual que seria a minha melhor atitude
pontual naquela situação, falo com os dois e a
partir de então aí eu passo a fazer uma
131
observação.
1
1
O cara que tecnicamente é melhor, entre
aspas humilha o menino na hora de
qualquer jogo.
2
2
Eu primeiro tento resolver o problema com as
minhas ferramentas dentro da sala de aula
1
1
Agressividade 2
2
Ou a gente faz a intervenção perante todo
mundo, às vezes a gente retira os dois do
grupo, para não expor ainda mais aquele que
está sendo prejudicado ou não depende um
pouco da situação qual que é
1
1
Os problemas acontecem fora da aula de
Educação Física e problemas sociais
2
2
Eu chamo as duas pessoas envolvidas e
converso abertamente com o que tá
acontecendo
1
1
Você não escolher a pessoa no time, de
você não passar a bola pra determinada
jogadora, de você reclamar quando
aquela menina faz um erro, o mesmo
erro que outra fez e que ninguém
reclama quando outra menina fez a
pessoa vai lá e reclama.
2
2
(Não há menções)
Perfil individual do Professor 1
(1,2) O professor relatou que em suas aulas situações como bullying e de
relacionamento entre os alunos acabam gerando conflitos nas aulas. Nesse caso, o
professor faz intervenção direta.
(1,2) O professor abordou que há embate entre os alunos por questões de
habilidade técnica. O professor relatou que tenta resolver o problema com suas
ferramentas, conversando com os alunos envolvidos.
(1,2) Questões de agressividade foram relatadas pelo professor e que há
intervenção por parte dele com os envolvidos.
(1,2) Situações de conflitos nas aulas de Educação Física são geradas por
problemas externos que acontecem fora da aula e que se manifestam na aula. O
professor conversa abertamente sobre o que está acontecendo na aula.
132
Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 2
Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de
conflito nas aulas de Ed. Física.
Professor 2:
Nas turmas dos maiores, pra mim todos os maiores a partir do Fund. II eu
encontro bastante dificuldade.
Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula
de Educação Física como professor na escola.
Professor 2:
Uma situação específica eu creio que foi quando dois alunos estavam
brigando1 e eu tive que entrar no meio da briga e separar os dois2. Olha, tem
discussões mais tranquilas se é que a gente pode dizer dessa maneira, mas conflito
mesmo foi deles estarem se pegando um ao outro1. Mas discussão1 realmente
sempre tem.
Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz
ou já fez na ocasião?
Professor 2:
Dependendo do nível da discussão eu resolvo em par e dependendo da
situação eu desço para a coordenação ou direção2.
Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas
seguintes ou na turma?
Professor 2:
Olha, pelo menos nas aulas de Educação Física eles agem normalmente, no
dia seguinte como se nada tivesse acontecido, inclusive com os que estão ali
fazendo parte da briga. Eles parecem melhores amigos como se nada tivesse
acontecido. Agora, quando aconteceu em modalidade específica que foi a ginástica,
aí a gente passou por um conflito teve um pós que foi traumático. Mas foi com uma
garota específica e aí a gente teve todo um trabalho com os pais de conversar com
eles pra resolver a situação. Algumas vezes eu creio que acontece fora, já vem de
aulas antigas, que aconteceram antes da Educação Física e eles acabam por
resolverem ali na hora1, ou outra situação é quando acontece realmente ali e no
133
calor da emoção de um jogo, de alguma coisa alguns são mais competitivos que os
outros e acaba gerando conflito ali a hora1.
Quadro 11 – Análise do participante 2 do estudo piloto
Cite situações de conflito que você
enfrentou na aula de Educação Física
como professora na escola
Quando acontece algum tipo de conflito o
que você faz ou já fez na ocasião?
1
1
Dois alunos estavam brigando
2
Eu tive que entrar no meio da briga e separar
os dois
1
1
Discussão 2
2
Dependendo do nível da discussão eu resolvo
em par e dependendo da situação eu desço
para a coordenação ou direção
1
1
Conflito mesmo foi de eles estarem se
pegando um ao outro
(Não há menções)
1
1
Algumas vezes eu creio que acontece
fora, já vem de aulas antigas, que
aconteceram antes da Educação Física e
eles acabam por resolverem ali na hora.
(Não há menções)
1
1
Alguns são mais competitivos que os
outros e acaba gerando conflito
(Não há menções)
Perfil individual do Professor 2
(1,2) O professor relatou que em suas aulas ocorreram brigas entre os alunos.
O professor precisou entrar no meio da briga para separar os dois alunos envolvidos.
(1,2) Relatos de discussão nas aulas de Educação Física foram abordados
pelo professor que, dependendo do nível da discussão resolve em par ou encaminha
para a coordenação ou direção.
(1,2) O professor destaca que um fator que contribui para situações de
conflitos nas aulas de Educação Física advém de aulas antigas e que acabam se
resolvendo nas aulas seguintes, pois muitos alunos são competitivos demais e isso
gera conflito entre eles.
134
Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 3
Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de
conflito nas aulas de Ed. Física.
Professor 3:
Por incrível que pareça nesse momento, nesses últimos cinco, seis anos, o 6º
ano é o mais conflitante, por incrível que pareça. Já foi a melhor série para se dar
aula e hoje é o mais conflitante.
De uma maneira geral, eles já vêm pra aula dispostos a falar pra você que
você tá errado, né. Então o que era antigamente que a gente tinha aquele respeito
máximo, professor, professor, as perguntas elas são dirigidas pra você assim: ô, fala
isso, ô você. Ah mas tá errado, não é justo. Isso é o que você mais escuta, não é
justo, isso aí não é justo, tá roubando1. Eles sempre estão te desafiando1. Por
exemplo: a gente tá trabalhando com um novo aspecto da Educação Física com o 6º
ano. Então a gente parou com aquele negócio, só bola, bola, bola, bola, então assim
jogos pré-desportivos, coordenativos, misturando, dando vivências pra eles como,
por exemplo, atletismo, ginástica artística. E a cobrança no começo do ano é
absurda. Não mas porque, e a bola?1 E sempre a gente tá explicando da mesma
maneira. Para se fazer uma chamada tem vezes que a gente leva de cinco a sete
minutos, pra que a gente consiga falar sem que eles estejam falando juntos1.
Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula
de Educação Física como professor na escola.
Professor 3:
É foi há uns três, não, um pouco, mais uns cinco, seis. Esse menino se não tá
saindo esse ano, saiu ano passado. Ele estava no 6º ano, e aquela classe era uma
classe que não tinha condição. A gente levava 15 minutos pra fazer a chamada, a
gente falando, falando1. Eu dava aula com a Claudia, Claudia Regina, e a Claudinha
tentando, tentando, tentando. E nós falando, por favor, moçada, por favor, moçada,
vamos escutar a professora, fazer chamada, estão perdendo tempo de aula e tal2.
Até o momento em que, eu concordo que errei, mas já não dava mais e eu falei Ju,
cala a boca. Ele levantou, ficou em pé em frente a todos os colegas e disse: Vocês
viram, ele mandou eu calar a boca. Então pra você ver o nível de conflito que era.1
Aí eu tive que terminar a aula, chamar o menino, pedir desculpas, porque do jeito
135
que eu agi com ele, e ele saiu da aula como se ele fosse o correto2. E hoje ele tá no
3º Colegial. Eu não deveria ter falado do jeito que eu falei, mas já tinham se
esgotados todos os pedidos possíveis e imagináveis2, baixinho, por favor, gente. E
ele saiu como herói.
Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz
ou já fez na ocasião?
Professor 3:
Em determinado momento na sala existe muita disputa, em quem é melhor
quem não é melhor, entre eles1, mas eu não sinto assim maldade um com o outro. É
uma disputa saudável, às vezes de nota, às vezes de ser mais habilidoso ou alguma
coisa do tipo, mas assim, maldade entre eles eu não sinto não. E é assim, quanto
mais vai passando o tempo, quanto mais você vai se policiando, você vai
conseguindo de certa forma, entrar no mundo deles. Porque é um mundo totalmente
diferenciado de quando eu comecei a trabalhar. Totalmente diferente e você
conseguindo entrar no mundo deles, aí fica mais fácil, aí eles começam a te ver de
outra forma. Sempre interfiro porque antigamente a gente colocava pra fora, uma
atitude mais drástica e hoje não, você para conversa, senta lá que daqui a pouco
nós vamos conversar. E aí você hoje questiona os dois de uma maneira
diferenciada2. Você acha que tá legal o que você fez? Quando a coisa passa um
pouquinho mais do limite eu sempre uso de uma forma assim, você vai ter que ficar
com ele o ano inteiro na mesma sala, não tem possibilidade de você mudar, então
será que não daria pra você o respeitar e ele te respeitar, então isso funciona muito
bem então você consegue tirar o conflito. Briga de agressão a gente manda pra
diretoria, quando já esgotou toda mediação2. Daí você para, separa, direitinho e
explica que a escola é uma coisa que a escola não admite é a agressão física. E aí,
você conversa com eles e tal e muito dificilmente você recua. Eu por exemplo,
sempre levo o caso pra diretoria porque a gente considera um caso grave, a menos
que o menino diz eu errei, vou pedir desculpa pra ele, to errado, to errado,
desculpa2. Aconteceu com o 9º ano, dois amigos inseparáveis desde o 6º ano, de
repente numa queimada, um queima o outro de uma forma diferente e saíram pra se
pegar1. Eu tive que segurar 2 e aí os dois choraram e tal.
136
Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas
seguintes ou na turma?
Professor 3:
Eles resolveram ali na hora, agora eles estão terminando o ano, tranquilo,
sossegado. Os dois falaram, nós erramos terrivelmente e eu falei, perfeito, isso é
uma grande coisa de vocês, já assumiram que erraram, só a escola tem uma linha
de conduta e eu vou seguir a linha da escola, vocês contam o que aconteceu e aí é
problema da diretoria, mas pra mim vocês já me deixaram satisfeitos, porque vocês
resolveram o conflito imediatamente após ele ter acontecido, mas não pode
acontecer. Não, não professor, isso não vai acontecer mais. A escola está dando
vários cursos, inclusive um curso muito longo que a gente tá terminando agora,
estamos nas últimas aulas de um ano inteirinho onde a gente está aprendendo
coisas sobre bullying, sobre como intervir e como conversar com o aluno, mediação.
E a gente tá tendo e eu já to até usando dessas formulas que eles chamam de roda
de diálogo. Então acontece um conflito, a gente senta todo mundo numa roda,
círculo, todo mundo um olhando para o outro e aí só fala quem pede licença, levanta
a mão pra falar2. Então é uma ordem terrível, a gente ensina um a escutar o outro e
tem funcionado muito bem. Essas ferramentas nós levamos para a Educação Física
e temos conseguido grandes coisas, grandes resultados, inclusive a mudança de
você ter com a turma, fica um pouquinho melhor e eles se vêm de outra forma.
Quadro 12 – Análise do participante 3 do estudo piloto
Cite situações de conflito que você
enfrentou na aula de Educação Física
como professora na escola
Quando acontece algum tipo de conflito o
que você faz ou já fez na ocasião?
1
1
Eles já vêm pra aula dispostos a falar pra
você que você tá errado, né. Então o que
era antigamente que a gente tinha
aquele respeito máximo, professor,
professor, as perguntas elas são
dirigidas pra você assim: ô, fala isso, ô
você. Ah mas tá errado, não é justo. Isso
é o que você mais escuta, não é justo,
isso aí não é justo, tá roubando.
2
2
Sempre interfiro porque antigamente a gente
colocava pra fora, uma atitude mais drástica e
hoje não, você para conversa, senta lá que
daqui a pouco nós vamos conversar. E aí você
hoje questiona os dois de uma maneira
diferenciada.
1Eles sempre estão te desafiando 2Sempre interfiro porque antigamente a gente
colocava pra fora, uma atitude mais drástica e
137
1 2 hoje não, você para conversa, senta lá que
daqui a pouco nós vamos conversar. E aí você
hoje questiona os dois de uma maneira
diferenciada
1
1
Para se fazer uma chamada tem vezes
que a gente leva de cinco a sete
minutos, pra que a gente consiga falar
sem que eles estejam falando juntos
2
2
E nós falando, por favor, moçada, por favor,
moçada, vamos escutar a professora, fazer
chamada, vocês estão perdendo tempo de aula
e tal.
1
1
Aquela classe era uma classe que não
tinha condição. A gente levava 15
minutos pra fazer a chamada, a gente
falando, falando.
2 (Não há menções)
1
1
Até o momento em que, eu concordo que
errei, mas já não dava mais e eu falei Ju,
cala a boca. Ele levantou, ficou em pé
em frente a todos os colegas e disse:
Vocês viram, ele me mandou calar a
boca. Então pra você ver o nível de
conflito que era.
2
2
Eu tive que terminar a aula, chamar o menino,
pedir desculpas, porque do jeito que eu agi
com ele, e ele saiu da aula como se ele fosse o
correto. Eu não deveria ter falado do jeito que
eu falei, mas já tinham se esgotados todos os
pedidos possíveis e imagináveis, baixinho, por
favor, gente. E ele saiu como herói.
1
1
Na sala existe muita disputa, em quem é
melhor quem não é melhor, entre eles
De repente numa queimada, um queima
o outro de uma forma diferente e saíram
pra se pegar.
2
2
Eu tive que segurar. Caso de agressão sempre
leva para a diretoria porque a gente considera
um caso grave, a menos que o menino diz eu
errei, vou pedir desculpa pra ele, estou errado,
estou errado, desculpa.
(Não há menções) 2
2
Eu já estou até usando dessas fórmulas que
eles chamam de roda de diálogo. Então
acontece um conflito, a gente senta todo
mundo numa roda, círculo, todo mundo um
olhando para o outro e aí só fala quem pede
licença, levanta a mão para falar.
Perfil individual do Professor 3
(1,2) O professor relatou sobre a forma como os alunos falam com eles, que
não há mais aquele respeito de antigamente. Os alunos utilizam palavras e expõe os
professores a situações constrangedoras como, por exemplo, dizer que o mesmo
está roubando um jogo quando está apitando. Nesses casos, o professor relatou que
antigamente havia uma conduta mais drástica como colocar o aluno para fora da
138
aula, mas que hoje, tem outra postura como pedir para o aluno aguardar para
conversar após o jogo.
(1,2) Há relato do professor com relação à postura dos alunos quando cita
que eles estão sempre desafiando eles, em que não se consegue fazer a chamada
da sala pela falta de respeito por parte dos alunos. O professor pediu silencia por 15
minutos e a sala não colaborava, até que o professor perdeu a paciência e gritou
com um aluno. Este por sua vez, falou para a sala que o professor estava gritando
com ele e o professor, reconheceu que errou e pediu desculpas ao aluno. O
professor reconheceu que não deveria ter agido daquela forma, apesar de
esgotados todos os pedidos de silêncio com aquela turma.
(1,2) Situações de competitividade foram relatadas pelo professor, pois é uma
sala em que há muito disputa entre eles, de quem é melhor que o outro. Nessa
situação o professor precisou segurar um aluno que queria agredir o colega por ter
sido queimado em um jogo. O professor relatou que casos de agressão são
considerados muito graves na escola e que o aluno é encaminhado para a direção
da escola. Quando acontece algum tipo de conflito na aula, o professor utiliza de
ferramentas como roda de diálogo que para falar o aluno precisa levantar a mão e
esperar sua vez.
Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 4
Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de
conflito nas aulas de Ed. Física.
Professor 4:
As séries que eu mais encontro são 7º, 8º e 9º ano.
Geral, depende muito das séries, mas assim nos 9os anos os conflitos
acontecem mais com as meninas e 7º e 8º ano, mais com os meninos.
Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula
de Educação Física como professor na escola.
Professor 4:
Ah sim, já tive. Conflito acontece em todas as aulas. Ah tem vários tipos de
conflitos né, ah de não querer jogar com determinada pessoa1, “poxa” deles
139
quererem se mostrar demais perante o grupo, e acabam tendo conflito por isso.
Nossa tem inúmeros.
Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz
ou já fez na ocasião?
Professor 4:
Olha, normalmente eu costumo agir na hora que acontece qualquer tipo de
conflito, seja ele de qualquer natureza2. Eu costumo agir na hora. Eu acho que a
maioria das vezes não acontece durante a aula. Eles já vêm de experiência anterior,
ou na escola ou fora da escola1. E levam isso, porque nessas idades que eu citei a
gente trabalha muito esporte e o esporte é muito visceral, você põe pra fora ali
naquele momento tudo o que você ta sentindo. Poxa se você não ta bem, ta com
raiva que é um sentimento que você tem você explode no jogo. Então acho que
muitas vezes é só, como eu falei a Educação Física é um negócio muito visceral, por
isso que a gente descobre muitas coisas na Educação Física porque o esporte
praticado eu acho que muitas coisas vem de fora e é legal que você acaba
descobrindo nessas intervenções tudo que as crianças tem, do que tá sentindo. A
gente costuma na Educação Física levar muita coisa, muita informação pra
orientação do colégio e a orientação entrando em contato com as famílias
justamente por causa disso. Ele se mostra demais quando está praticando esporte.
Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas
seguintes ou na turma?
Professor 4:
Depende muito do conflito, mas normalmente tem sim. Quando você é
coerente, assim no que você faz e você age imediatamente ali, aconteceu a situação
você pega as partes envolvidas no conflito e você resolve de forma direta, sendo
justo, com as partes normalmente tem uma resolução muito bacana2. Quando é um
conflito, por exemplo, entre duas pessoas, enfim, você resolve ali fácil, ou um grupo
pequeno é fácil de você resolver, mas quando o conflito é num grupo muito grande,
a sala como um todo, tem algumas questões enfim né. Aí às vezes você precisa de
mais de uma intervenção e às vezes busca até uma intervenção às vezes até da
orientação educacional2 como no caso daqui. A gente tem, aliás, já tem há alguns
anos aqui no colégio, se não me engano uns sete, oito anos, a gente tem vivencias
140
periódicas, assim de cursos aqui dentro, enfim e muitas vezes consegue usar. O que
a gente sente dificuldade assim de fazer intervenção a gente tem uma equipe de
auxilio que é a orientação educacional.
Quadro 13 – Análise do participante 4 do estudo piloto
Cite situações de conflito que você
enfrentou na aula de Educação Física
como professora na escola
Quando acontece algum tipo de conflito o
que você faz ou já fez na ocasião?
1
1
Não querer jogar com determinada
pessoa
2
2
Normalmente eu costumo agir na hora que
acontece qualquer tipo de conflito, seja ele de
qualquer natureza.
1
1
A maioria das vezes não acontece
durante a aula. Eles já vêm de
experiência anterior, ou na escola ou fora
da escola.
2
2
Quando você é coerente, assim no que você
faz e você age imediatamente ali, aconteceu a
situação você pega as partes envolvidas no
conflito e você resolve de forma direta, sendo
justo, com as partes normalmente tem uma
resolução muito bacana
Não há menções 2
2
Quando o conflito é num grupo muito grande, a
sala como um todo, tem algumas questões
enfim né. Aí às vezes você precisa de mais de
uma intervenção e às vezes busca até uma
intervenção às vezes até da orientação
educacional.
Perfil individual do Professor 4
(1,2) O professor relatou que nas aulas de Educação Física os conflitos
surgem quando um aluno não quer jogar com determinada pessoa, gerando um
conflito de relacionamento. O professor descreveu que costuma agir no momento em
que acontece algum tipo de conflito, sendo ele de qualquer natureza.
(1,2) O professor relatou e sua entrevista que muitos conflitos advêm de fora
da aula. Essas situações que não ocorrem durante a aula de Educação Física se
manifestam na aula por experiências anteriores na escola ou fora dela. O professor
retratou que age imediatamente, conversando com as partes envolvidas no conflito,
resolvendo de forma direta, sendo justo com as partes e que normalmente tem uma
resolução satisfatória para ambos.
141
(2) Outro relado diz respeito a grupos maiores, no caso da sala como um todo
precisa de mais de uma intervenção e às vezes o professor busca uma intervenção
da orientação educacional da escola.
Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 5
Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de
conflito nas aulas de Ed. Física.
Professor 5:
Bom eu só trabalho com 8º e 9º ano. Eu acho que os conflitos maiores
acontecem com o 8º ano porque eles ainda são muito competitivos, individualistas
às vezes, e tal, então eu acho que são mais concentradas as situações de conflito.
No 9º. Ano já consegue entender um pouco mais a importância do grupo, a
importância de não ter que ganhar a qualquer custo. Então eu acho que o 8º ano é
um pouco mais complicado.
Quando eu falo conflito eu to falando mais de briga, de coisas de briga
mesmo, rusgas entre eles.
Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula
de Educação Física como professor na escola.
Professor 5:
Eu acho que grande parte dos conflitos, Camila, é culpa entre aspas do
próprio professor de Educação Física que não apita direito os jogos, eu acho que
isso pode causar conflito. Este ano eu tive um conflito com dois alunos numa aula,
onde um era de uma equipe e o outro era de outra e eles estavam achando que eu
estava roubando pra uma equipe porque um era mais próximo a mim1, queridinho,
alguma coisa desse tipo.
Situações de conflito em aula a gente tem muitos conflitos no rali esportivo
que é aquela competição que a gente faz no final do ano aqui na escola. E tive
conflito no seguinte sentido, dos alunos acharem, afirmarem que os professores
estão roubando no jogo, que não apitam direito1, e isso causa um conflito não sei se
é isso que você tá estudando, mas causa um conflito entre professor e aluno. Então
quando você propõe uma competição como a gente propõe aqui no Bandeirantes,
142
que é uma competição valendo medalha, que vença o melhor, você precisa estar
preparado para dar um ambiente saudável para que essa competição seja de fato
honesta e justa. Se você é um professor que não tá prestando atenção no que ta
acontecendo, se você é um professor que tá conversando durante a aula aí fica
complicado.
Toda vez que é desrespeitoso com alguém isso causa conflito na aula. Eu já
vi acontecer, assim: vocês dois são bons vão pra lá, e vocês são mais ou menos,
vão pra lá, vocês dois são ruins vão pra lá e já começa ali o conflito1. O jeito com
que o professor organiza a aula, a divisão dos times, você precisa tomar muito
cuidado porque a gente causa conflito sem nem ao menos perceber. Você não pode
jamais deixar um aluno se sentir desrespeitado, você sabe disso, diminuído, isso
tudo causa conflito na aula de Educação Física.
Às vezes os conflitos nas aulas de Educação Física eles são causados pelo
papel do professor, pela forma com que o professor encara as aulas, divide os
times1, sabe. Então acho que o papel do professor, é bacana de você estudar,
porque eu acho que grande parte dos conflitos é causada pelo jeito que a gente lida
com as coisas na aula. Eu acho que tem professor que incentiva o conflito, quando
apita um jogo de maneira equivocada, errada, deixa os meninos fazerem o que
quiserem.
O conflito ele acontece, acho que na hora ele é estressante para ambas as
partes, eu to aqui com um conflito com você por algum motivo x é estressante nesse
momento, mas se a gente tem a mediação de alguém, com aquilo que nos
aconteceu ajuda a gente a crescer com esse conflito.
Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz
ou já fez na ocasião?
Professor 5:
Foi complicado, mas a maneira que a gente encontrou pra gente conversar
sobre isso foi fazer uma roda de conversa no final da aula. Então a gente sentou as
duas equipes, a gente conversou a respeito e cada um falou o que achava, eu
também me coloquei e disse que pra mim pouco importava quem ganhava ou não,
que meu papel era apitar e eu achei que eu não tinha cometido nenhum equivoco e
que não tava privilegiando nenhum aluno. Mas a maneira foi conversar que é algo
143
que a gente tem usado muito aqui na escola que é essas rodas de conversa, tentar
mediar os conflitos2 através dessas conversas mesmo.
Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas
seguintes ou na turma?
Professor 5:
Olha, por que é assim essas rodas de conversas nas aulas de CPG aqui no
Colégio e uma coisa nova que começou no ano passado e aos poucos a gente ta
tentando introduzir nas mediações de conflito. Houve conflito, a gente para para
conversar com os alunos. Como eu dou aula de CPG também, eu estou tentando
levar isso nas minhas aulas de Educação Física. Neste caso específico, eu não
retomei com os alunos. A gente conversou, ficou esclarecido e na aula seguinte,
outra aula com conteúdo diferente, eu não retomei com estes alunos específicos o
que aconteceu. Em CPG a gente sempre retoma na próxima roda o que a gente
discutiu na roda anterior. Eu acho que é fundamental o professor ter algumas
técnicas de como lidar e mediar conflito. Não é fácil mediar conflito então tem
algumas técnicas que a gente estudou, fez um curso em CPG, na verdade estamos
fazendo o curso, é uma coisa que não para nunca é você fazer formação e tal. Eu
vou falar por mim, não sei meus colegas, mas a formação que eu tive em CPG me
ajudou muito a lidar com conflitos nas aulas de Educação Física. Então você precisa
sempre ouvir as duas partes, fazer o que a gente chama de escuta ativa2, o aluno
conta uma história pra você e você repete para o menino ouvir e se é de fato aquilo,
se eu de fato entendi aquilo que ele quis dizer, se foi isso, isso, isso. Você se sentiu
dessa forma, sempre entendendo os dois lados, faze com que cada lado se ouça,
mas são técnicas que são aprendidas. Eu sei que tenho colegas que resolvem
conflitos de outra forma, enfim. Mas eu ter passado por toda a formação pra mim fez
toda diferença.
Quadro 14 – Análise do participante 5 do estudo piloto
Cite situações de conflito que você
enfrentou na aula de Educação Física
como professora na escola
Quando acontece algum tipo de conflito o
que você faz ou já fez na ocasião?
1
1
Eles estavam achando que eu estava
roubando pra uma equipe porque um era
mais próximo a mim
2
A maneira que a gente encontrou pra gente
conversar sobre isso foi fazer uma roda de
conversa no final da aula. Então a gente
144
2
2
sentou as duas equipes, a gente conversou a
respeito e cada um falou o que achava, eu
também me coloquei e disse que pra mim
pouco importava quem ganhava ou não, que
meu papel era apitar e eu achei que eu não
tinha cometido nenhum equivoco e que não
estava privilegiando nenhum aluno. Mas a
maneira foi conversar que é algo que a gente
tem usado muito aqui na escola que é essas
rodas de conversa, tentar mediar os conflitos.
1
1
Os conflitos nas aulas de Educação
Física eles são causados pelo papel do
professor, pela forma com que o
professor encara as aulas, divide os
times.
2
2
Você precisa sempre ouvir as duas partes,
fazer o que a gente chama de escuta ativa.
Perfil individual do Professor 5
(1,2) O professor relatou que em um determinado jogo em que era árbitro, os
alunos estavam achando que ele estava roubando o jogo por ter alunos mais
próximos a ele no outro time. O professor utilizou a roda de conversa com os alunos
e explicar que nada daquilo procedia e que não havia motivo algum para privilegiar
um grupo.
(1,2) Um relato muito significativo foi exposto pelo professor quando diz que
muitos conflitos nas aulas são causados pelo papel do professor, pela forma que
mesmo conduz e encara suas aulas. O professor relata que é importante ouvir as
duas partes e utilizar estratégia da escuta ativa.
Agrupamentos das categorias do estudo piloto
As respostas dos entrevistados possibilitou identificar as unidades de
significado nos discursos dos professores, trabalho que deu suporte à confecção dos
agrupamentos relacionados ao fenômeno estudado com o objetivo retratar situações
de conflitos enfrentadas nas aulas de Educação Física e o que o professor fez na
ocasião (ações de enfrentamento).
145
Quadro 15 - Matriz – Análise do estudo piloto
↓ Categorias/Professores → P1 P2 P3 P4 P5 Total
Situações de conflitos
Conflito de relacionamento X X X 5
Influência de conflitos externos X X X 3
Excesso de competitividade X X 2
Falta de respeito dos alunos com os
professores
X X 2
Agressividade X 1
Exclusão dos menos habilidosos X 1
Discussão entre os alunos X 1
Incompetência do professor X 1
Ações de enfrentamento
Conversa com os envolvidos X X X X X 5
Encaminhar para coordenação X X X 3
Separar brigas entre alunos X X 2
Roda de diálogo como mediação X X 2
146
APÊNDICE 6 – Detalhamento do Estudo Piloto
A pesquisa iniciou com um estudo piloto que teve caráter diagnóstico
avaliativo, o que possibilitou a aproximação com o tema. A primeira etapa da
pesquisa iniciou com a aplicação da entrevista piloto com professores que
ministravam aulas de Educação Física para alunos do Ensino Fundamental II e
Ensino Médio, que constou em solicitar-lhes respostas a questões relacionadas às
situações de conflito encontradas em suas aulas e as ações de enfrentamento.
Um breve histórico dos participantes do estudo piloto será relatado,
identificando-os como participante 1,2,3,4,5 desta forma protegendo a identidade
dos professores e respeitando a ética na pesquisa.
Quadro 16: Identificação dos professores do estudo piloto
Características/Participantes P1 P2 P3 P4 P5
SEXO Masculino X
X X
Feminino
X
X
IDADE
30 a 35 anos
X
36 a 40 anos
41 a 45 anos
X X
46 a 50 anos
51 a 55 anos X
Acima de 55 anos
X
REGIME DE CONTRATAÇÃO
Efetivo X X X X X
Contratado
TEMPO DE EXPERIÊNCIA
10 a 15 anos
X
16 a 20 anos
X
17 a 25 anos
X
26 a 30 anos X
Mais de 31 anos X
Os participantes desta pesquisa foram cinco professores de Educação Física,
sendo 3 do sexo masculino e 2 do sexo feminino. A média de idade deste grupo foi
de 46,8 anos com desvio padrão de 10,03 anos. Com relação ao vínculo
empregatício, todos eram efetivos no cargo. Três docentes têm experiência com
Educação Física escolar de 10 a 20 anos. Um professor têm 30 anos de experiência
na escola e, por fim, apenas um professor têm 41 anos de experiência na docência.
147
Em relação à formação inicial dos docentes que participaram do estudo piloto,
todos os professores têm licenciatura plena em Educação Física, sendo que 2 deles
se formaram na mesma faculdade púbica de São Paulo e três professores se
formaram em faculdade particular em São Paulo.
Quadro 17: Formação dos professores
Características/Participantes P1 P2 P3 P4 P5
FORMAÇÃO INICIAL
Licenciatura Plena X X X X X
Licenciatura/Bacharelado
FORMAÇÃO CONTINUADA
Pós-Graduação lato sensu X X
X X
Pós-Graduação stricto sensu Não tem
X
No que se refere à formação continuada, o Professor 1 tem especialização
em treinamento de modalidade esportiva. O Professor 2 tem especialização em
Gestão em Educação e Psicopedagogia. O Professor 3 não tem cursos. O professor
4 tem especialização em Educação Física Especial. O Professor 5 tem
especialização em Educação Física Escolar e outros cursos voltados para o esporte.
As entrevistas piloto ocorreram no colégio e cada professor respondeu
questões relacionadas a situações de conflitos encontradas nas aulas de Educação
Física e ações de enfrentamento ao responderem as seguintes perguntas:
1. Cite as séries em que você encontra situações de conflito nas aulas de
Educação Física.
2. Cite situações de conflito que você enfrentou na aula de Educação Física
como professor (a) na escola.
3. Quando acontece algum tipo de conflito, o que você faz ou fez na
ocasião?
4. Houve consequências ou desdobramentos nas aulas seguintes?
Os professores que participaram da entrevista piloto contribuíram
significativamente para a evolução da pesquisa. Ao abordar temas como conflito nas
aulas de Educação Física e suas ações de enfrentamento, foi possível detectar que
independentemente da escola e do nível social dos alunos, os conflitos se
148
manifestam de diversas formas e cada professor utiliza uma estratégia diferente para
mediar e isso me mostrou que muitos professores utilizam o diálogo como forma de
mediação e que em casos mais graves encaminham para a coordenação/direção.
O modo de abordar os professores na entrevista ocorreu de maneira formal,
ao passo que, na etapa seguinte da pesquisa, em outro colégio, demonstrei mais
segurança, promovi mais diálogos e intervenções. As respostas obtidas na etapa
piloto contribuíram para ampliar meus conhecimentos sobre o tema e tratar do
assunto de forma mais clara e objetiva.
Para a análise do estudo piloto, as respostas obtidas nas entrevistas foram
transcritas, grifadas e organizadas em duas categorias: 1 e 2.
Categoria 1) situações de conflito ocorridas nas aulas de Educação Física.
Categoria 2) intervenções do professor em situações de conflito.
As respostas foram analisadas individualmente e apontaram os itens mais
citados por cada professor.
A seguir, elaboramos uma lista das principais situações de conflitos
encontradas e as ações de enfrentamento realizadas pelos professores, resultado
do estudo piloto:
Brigas entre os alunos: conflitos externos e excesso de competitividade nas
aulas de Educação Física acabam gerando brigas entre os alunos.
Influência de conflitos externos: muitas situações de conflitos que ocorrem
fora da aula de Educação Física acabam se manifestando dentro dela,
favorecendo os conflitos de relacionamento.
Conflitos de relacionamento: grupos de alunos que não querem jogar com
determinadas pessoas por não serem tão habilidosas, ou por não gostarem
da pessoa, ou por terem tido problemas com ela fora da aula. Na hora do
jogo, acabam manifestando indiferença ou exclusão.
Excesso de competitividade: há embate entre os alunos e aqueles que são
tecnicamente melhores no esporte, acabam menosprezando os outros alunos
que não são tão habilidosos.
Exclusão dos menos habilidosos: alunos que jogam melhor acabam
149
excluindo ou menosprezando dos alunos não tão habilidosos, na hora da
escolha do time ou mesmo na hora do jogo.
Discussão entre os alunos: discussão entre os alunos por diversas
questões sejam elas referentes a situações ocorridas dentro da aula, ou
aquelas que ocorrem fora da aula e que são manifestadas na aula de
Educação Física.
Incompetência do professor: muitos conflitos que ocorrem nas aulas são
causados pela atuação do professor, pela forma como ele divide os times,
encara as aulas e incentiva o conflito quando apita um jogo de maneira
equivocada, errada, deixando os alunos fazerem o que quiserem nas aulas,
deixando a classe sem liderança.
Além de situações de conflitos relatadas pelos professores, foram citadas
situações de bullying quando um aluno quer se mostrar melhor do que o outro e
acaba menosprezando e ridicularizando o aluno não tão habilidoso. Há relatos de
que problemas sociais que acontecem no dia a dia do colégio se manifestam
também nas aulas de Educação Física.
Com relação às ações de enfrentamento dos conflitos nas aulas de Educação
Física, os itens mencionados com mais frequência pelos professores foram:
Conversar com os envolvidos: todos os relatos demonstram que a ação de
enfrentamento do conflito mais utilizada pelos professores é conversar com os
envolvidos de maneira clara e objetiva.
Encaminhar para coordenação: os professores relataram que, após uma
intervenção direta, caso não haja conciliação ou ocorra um fato mais grave,
os alunos são encaminhados para a coordenação da escola.
Separar brigas entre alunos: os professores interferem separando os alunos
para evitar a violência entre eles.
Roda de diálogo para mediar o conflito: os professores foram orientados
pela coordenação da escola a utilizarem a roda de diálogo para mediar
situações de conflitos em suas aulas. Todos os alunos sentam em uma roda e
é discutido em grupo o que ocorreu.
Ao concluir o estudo piloto, percebi a importância deste processo enquanto
150
pesquisadora. Foi possível me aproximar dos professores e do tema pesquisado de
forma mais segura, compreendendo um pouco mais a respeito do cenário de conflito
em aulas de Educação Física e como os professores estão enfrentando essas
situações nas escolas com seus alunos.
151
ANEXO
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA - CEP
152
153