Post on 09-Jan-2017
ANÁLISE ERGONÔMICA DA
OPERAÇÃO DE INJETORA ROTATIVA
EM UMA FÁBRICA DE CALÇADOS EM
JUAZEIRO DO NORTE - CE
Valeria dos Santos Turbano (URCA )
valeriaturbano@gmail.com
TEREZA VALERIA PEREIRA LIMA (URCA )
tereza-pereira@hotmail.com.br
Maria Jessica Guedes Duarte (URCA )
jessica.mjgd@gmail.com
Jose Goncalves de Araujo Filho (URCA )
prof_araujo@baydejbc.com.br
O efeito das mudanças no setor produtivo mostra-se cada vez mais
preocupante porque as condições de trabalho impostas impactam
diretamente na saúde dos trabalhadores. Esse estudo foi realizado com
o objetivo de avaliar a exposição aos riscoos ergonômicos de um
operador de injetora rotativa de uma fabrica de calçados do Cariri.
Visto que a função do operador o leva a executar movimentos
repetitivos ao longo de sua jornada de trabalho com maquinário
inadequado, em posições que ao longo do tempo podem ser
prejudiciais a sua saúde e com níveis de ruído, iluminação e
temperatura acima do permitido. A abordagem metodológica utilizada
foi o método indutivo, descritivo, contemplando investigação
bibliográfica e pesquisa de campo, visando mostrar se existe a
possibilidade de se produzir resultados benéficos para as empresas e
para os empregados, visto que o trabalho é feito em ciclos curtos, com
muita repetitividade, em pé e condições ambientais fora do padrão
buscamos propor uma conciliação entre as interações humanas e os
elementos do sistema de produção a fim de aperfeiçoar o bem-estar
humano e o desempenho global do sistema. Assim, é necessário fazer
ajustes para que o operador se sinta mais confortável e assim possa
realizar seus serviços melhor, podendo até aumentar a produtividade
da empresa.
Palavras-chave: Ergonomia, Produtividade, Conforto, Injetora.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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1. Introdução
Na indústria calçadista é comum para enfrentar a concorrência e aumentar à lucratividade as
fábricas investirem cada vez mais na modernização de seu parque de máquinas (capital
constante) o que acarreta uma redução cada vez maior do número relativo de trabalhadores
empregados (capital variável). Na região do cariri cearense até o início da crise econômica
brasileira em 2013, o segmento de calçados sintéticos experimentou uma série de anos de
crescimento com a incorporação de tecnologias aplicadas à automação dos processos de
fabricação de componentes tais como solado (parte inferior) e cabedal (parte superior)
fabricados principalmente a base de SBR (borracha de butadieno estireno), PVC (policloreto
de vinila) e EVA (etileno e acetato de vinila) ou uma mistura (blenda) destes. Segundo o
BNDES:
A indústria de transformados plásticos é caracterizada como de média-baixa
intensidade tecnológica, e a tecnologia está basicamente incorporada nos
bens de capital empregados. Os processos de produção dos transformados
plásticos estão incorporados nas máquinas (extrusoras, injetoras, sopradoras,
etc.), que, junto com equipamentos (alimentadoras, moinhos, unidades de
refrigeração etc.), periféricos (robôs, sistemas de controle operacionais, etc.)
e moldes, são fundamentais na fabricação dos artefatos plásticos.
Parte substancial deste desenvolvimento ocorreu no campo de moldagem por injeção. De fato,
foi só a partir da criação de elastômeros e com a possibilidade dos mesmos serem aplicados a
indústria calçadista ainda na década de 1980 que se fomentou a construção de máquinas para
conformação, vulcanização e injeção desses compostos. A utilização de polímeros como
matéria prima, tornou se uma das mais importantes resinas termoplásticas da atualidade (LEIVA;
RODRIGUES, 2010).
A introdução das injetoras rotativas nas fábricas de chinelos do Cariri cearense trouxe
impactos relevantes na escala de produção já que o maquinário tem a capacidade de repetir
um mesmo ciclo diversas vezes. Conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias de
Calçados (Abicalçados) mesmo com o momento econômico, o Ceará continua sendo o maior
exportador de calçados, em volume, do Brasil, apesar da queda neste ano. Porém, sabemos
que para o trabalhador esse elevado grau de repetitividade das operações, fruto de uma
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produção acelerada, significa desconforto e constrangimentos capazes de causar doenças
psicofisiológica.
De fato, os seres humanos possuem reconhecidamente limites físicos e psíquicos e esforços
além dos limites dos trabalhadores tem se mostrado um fator associado ao crescimento do
número de casos de distúrbios osteomusculares.
É nesse contexto que o presente trabalho desenvolve uma análise ergonômica no posto de
trabalho de um operador de injetora rotativa de uma empresa de componentes de calçados em
Juazeiro do Norte – Ceará.
2. Referencial Teórico
Nas últimas décadas é possível observar profundas transformações no mundo do trabalho nos
países capitalistas. Este quadro tem sido analisado criticamente por importantes autores, cujas
obras trazem reflexões, sobre o capitalismo e o mundo do trabalho, fundamentais para
compreensão sobre a organização do trabalho na atualidade.
É inegável a contradição existente entre aumentar a produtividade e preservar os limites do
esforço humano. Para Vasopollo (2005):
A nova determinação da organização capitalista do trabalho se configura
num processo que se caracteriza cada vez mais pela explosão, pela
precariedade, pela flexibilidade, pela desregulamentação, pela super-
exploração, sob formas sem precedentes para os assalariados em atividade. É
o mal-estar do trabalho, junto ao medo de perder o emprego, de não ter uma
vida social, é mais de empregá-la ao e pelo trabalho, com a angústia ligada
ao conhecimento de uma evolução tecnológica que não resolve as
necessidades sociais.
Para se pensar o sentido dessa contradição, basta considerar um simples raciocínio: enquanto
os assalariados visam melhorias na remuneração e condições de trabalho, os patrões visam
aumento do lucro e expansão de seus negócios. Considerando ainda que essa exigência por
maior produtividade por parte do capital tem levado os empresários a colocar em risco a saúde
e segurança dos operários, muitas vezes, com efeitos negativos evidentes. Ou faltaria clareza
sobre a verdadeira face do capitalismo contemporâneo e os seus reflexos sobre a situação do
trabalho e da saúde de quem precisa labutar para conseguir sobreviver?
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Para Antunes (2006, 2013, 2014) “O mundo produtivo, no capitalismo, destrói o corpo
produtivo”, ao fazer a relação entre a exploração por cada vez mais produção e menos direitos
nas empresas, com o crescente número de trabalhadores acidentados, lesionados e mortos no
exercício de suas atividades. O interior das empresas, o chamado “chão de fábrica”, segundo o
professor Antunes, é dominado totalmente pelo autoritarismo. “Ao trabalhador, só resta
obedecer e adoecer”, afirmou Antunes, exemplificando um dos principais pontos causadores
de doenças entre a classe trabalhadora.
Já em artigo publicado na RBSO com os resultados de uma pesquisa sobre acidentes de
trabalho e humilhação na indústria calçadista do Ceará revela que:
A organização do trabalho nessas fábricas é marcadamente taylorista-
fordista. Assim, a produção de um modelo de calçado pode ser fragmentada
em até 150-200 operações de conteúdo simples e pobre, sendo cada uma
delas executada repetidamente por um mesmo trabalhador, ao longo de toda
a jornada. A esteira possibilita um ganho de velocidade pela movimentação
mecânica dos produtos numa linha de produção, além de facilitar o controle
do ritmo de trabalho pela empresa. (RIGOTTO, 2010, p. 217-228).
O estudo de Rigotto baseia-se em entrevistas realizadas no decorrer de 2007, com 20
trabalhadores de três fábricas de calçados localizadas no Ceará.
Entre os entrevistados, são numerosos os relatos de conflitos e de situações
de constrangimento envolvendo trabalhadores e suas chefias. Os motivos são
vários, mas o centro do problema parece ser a insistente busca do
cumprimento das metas de produção estabelecidas pelas empresas.
Nas fábricas, essas metas de produtividade são definidas pela gerência, e
cabe aos supervisores da produção cobrar dos trabalhadores sob seu
comando que elas sejam cumpridas. Assim, o que ocorre é uma verdadeira
“cascata de pressões”. A gerência cobra dos supervisores, que cobram de
seus auxiliares, que, por sua vez, cobram dos trabalhadores da produção, a
quem são impostos o tempo de execução das tarefas, o ritmo dos gestos e,
também, a dinâmica das necessidades fisiológicas. Assim, há um tempo
extenso para o trabalho intenso e um tempo exíguo para aprender uma nova
tarefa ou para realizar outra já conhecida ou, ainda, para as pausas destinadas
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à alimentação, à ingestão de água, ao uso de sanitários e ao descanso durante
a jornada.
Ora, se a pesquisa revela que na indústria calçadista cearense “a mudança do „chicote‟ para a
„conversa‟ é apenas um subterfúgio para se obter maior controle sobre os trabalhadores e que
“em grande parte das vezes, o que parece prevalecer ainda é o „chicote‟”, como tais questões
seriam mediadas pela ergonomia?
A Pesquisa Nacional de Saúde 2013, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), aponta que 2,4% dos entrevistados referiram diagnóstico médico de LER/Dort.
Considerando o universo de 146,3 milhões de pessoas com mais de 18 anos representado pela
pesquisa, estima-se que cerca de 3,5 milhões de pessoas têm ou já tiveram essa doença
diagnosticada. Para Fundacentro (2014) “as LER/DORT decorrem da intensificação do
trabalho e representam um desgaste do sistema musculoesquelético de trabalhadores, cujas
atividades de trabalho exigem a execução de movimentos repetitivos, associados muitas vezes
a esforços físicos e manutenção de determinada postura por tempo prolongado”.
Na realidade, são as condições do posto de trabalho que determinam, em grande medida, esse
tipo de adoecimento que motivou a revisão da NR 17 em 1990. Conforme Grandjean (1998) a
ergonomia é definida como a ciência da configuração de trabalho adaptada ao homem,
destacando que ela vai além de simples melhorias significa mudar a organização do trabalho,
aliviando a pressão por metas de produção que levam a intensificação do trabalho e que
acarretam sobrecarga muscular.
Para Guérin et al (2001), a ação ergonômica é mais que aplicar métodos, realizar medidas,
fazer observações, e conduzir entrevistas com os trabalhadores, devendo sobretudo explorar
possibilidades de transformações do trabalho. A tarefa não é o trabalho, mas o que é prescrito
pela empresa ao operador. Essa prescrição é imposta ao operador. O operador desenvolve sua
atividade em tempo real em função desse quadro: a atividade de trabalho é uma estratégia de
adaptação à situação real de trabalho, objeto da prescrição. A distância entre o prescrito e o
real é a manifestação concreta da contradição sempre presente no ato do trabalho, entre “o que
é pedido” e “o que a coisa pede”.
Visto trata-se de interesses opostos entre classes sociais antagônicas, ou seja, um conflito
inerente entre capital e trabalho é que surgiu o questionamento quanto a real possibilidade de
conceber um posto de trabalho mais confortável ao trabalhador e ao mesmo tempo capaz de se
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obter ganhos de produtividade.
3. Método
À medida que foi definido a empresa e o posto a ser analisado, iniciou-se uma pesquisa
bibliográfica para obtenção de um embasamento teórico que ajudasse no desenvolvimento da
análise realizada por meio da internet, livros especializados, artigos, NRs e NBRs.
Para auxiliar essa análise, adotou-se como base a NR-17, que estabelece os “parâmetros que
permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho
eficiente”. Foram aplicados questionários com o operador e o supervisor do setor de injeção,
registros fotográficos e vídeos da operação, além de medição de temperatura, ruído e
iluminação.
O trabalho está estruturado em itens na sequência expressa na NR-17, que são: Levantamento,
transporte e descarga individual de materiais (esforços do operador em relação a
deslocamento de pesos); Mobiliário dos postos de trabalho (se o maquinário se adequa ao
operador, se a atividade pode ser realizada em pé ou sentada); Equipamentos dos portos de
trabalho (se os equipamentos utilizados se adequam às características psicofisiológicas do
trabalhador); Condições ambientais de trabalho (observação dos níveis de ruído, índice de
temperatura, velocidade do ar, umidade relativa do ar e níveis de iluminação); E a
organização do trabalho (que analisa os ciclos de produção, o ritmo de trabalho, modo de
operação, entre outros).
4. Resultados e Discursões
A análise foi realizada em uma Indústria de comércio de artefatos de borracha e plástico, que
fica localizada na cidade de Juazeiro do Norte – CE. A empresa produz artigos de borracha
em geral, incluindo calçados e componentes para calçados em EVA e PVC. A empresa não
dispõe de enfermaria e nem de plano de saúde. Possui refeitório no local, mas é optativo
almoçar em casa. A empresa disponibiliza fardamento.
O PVC (polímero termoplástico) é posto no funil alimentador da injetora que passa pelo
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cilindro aquecido da máquina, neste há uma rosca sem fim com profundidade de canal
decrescente da parte traseira para a dianteira. No cilindro, o material é aquecido cerca de 150
a 180ºC, após é injetado na matriz, passando pelo bico injetor, auxiliado por uma pressão de
injeção adequada que deverá atuar até o enchimento total do molde; o material é resfriado por
ventilação ou água.
Concluído esse ciclo, a rosca sem fim retorna carregando uma nova carga de material. O
operador retira as peças que são separadas do canal de injeção e retira as rebarbas. Enquanto a
bancada gira até chegar ao operador o próximo molde, todos os outros moldes estão sendo
resfriados. Nesse processo ocorre uma sobra de PVC que podem ser reutilizados. A injetora
(Figura 1) onde foi realizada a análise possui 15 estações, a marca é King Steel, e a altura da
bancada é de 1,25 m.
Figura 1 – Injetora rotativa da marca King Steel, 18 estações.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
4.1. Análise da Tarefa
A tarefa do operador de injetora consiste em retirar os solados das matrizes e colocá-los em
caixotes localizado ao lado da injetora e atrás do operador. Depois ele tira as rebarbas com
auxílio de uma chave de fenda, e as depositam em saco de nylon. No abastecimento da
injetora foi observado que é o próprio operador que faz esse serviço. O processo pode ser
visto na sequência de imagens logo a seguir.
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Figura 2 – Operador realizando o processo.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
O operador usa luva de algodão em apenas uma das mãos, não usava outro EPI afirmando que
os equipamentos de proteção disponibilizados eram desconfortáveis. Suas vestimentas não
estavam apropriadas.
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Figura 3 – Detalhe da vestimenta do operador.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
A biomecânica ocupacional é a parte da ergonomia que trata da análise postural e suas
consequências. Na realidade, o trabalhador adota durante sua jornada de trabalho centenas de
diferentes tipos de posturas, podendo em um mesmo processo operadores realizarem posturas
diferentes para um mesmo tipo de trabalho ou processo.
As ações de colocar e retirar o molde da máquina solicitam ambos os membros superiores
com adução estática de ombro, flexão estática de cotovelo, antebraço em neutro passando para
prono, extensão dinâmica de punho, com alteração do grau, flexão estática dos metacarpos,
falanges médias e distais. Oposição de polegar e extensão de sua falange distal para apreender
a ferramenta utilizada.
O trabalho é trata-se da execução de ciclos similares de trabalho que ocorrem mais de uma
vez durante a realização de uma tarefa, com duração inferior a 30 segundos. Mas, apesar de
curto é heterogêneo, ou seja, possui componentes variáveis dependendo da presença de
fatores externos.
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Figura 4 - Posturas do operador.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
Nota-se a exigência de responsabilidade e atenção o que conduz a um aumento da contração
muscular estática, que pode contribuir para a sobrecarga muscular global.
As tarefas são realizadas sob pressão temporal em um contexto onde o erro não é permitido.
A pressão temporal e o medo de errar podem aumentar a atividade muscular.
Em atenção ao cumprimento da NR-17, serão abordados os aspectos relacionados ao
levantamento, transporte e descarga individual de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos,
às condições ambientais do posto de trabalho, a área de trabalho, e a própria organização do
trabalho.
4.2. Levantamento, transporte e descarga de materiais
A NR- 17 define o transporte manual de cargas como “todo transporte no qual o peso da carga
é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a
deposição da carga”. O item 17.2.7 estabelece que “o trabalho de levantamento de material
feito com equipamento mecânico de ação manual deverá ser executado de forma que o
esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não
comprometa a sua saúde ou a sua segurança”. A matriz pode medir entre 10 a 20 kg, é
necessário aplicar certo esforço para manuseá-la, principalmente para abri-la, como mostra a
figura.
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Figura 5 – Esforço do operador ao abrir a matriz.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
Como é o operador quem abastece a injetora, ele pega o peso e ainda o levanta até a altura da
cabeça, despejando a resina do PVC na máquina para ser aquecido.
Figura 6 – Operador alimentando a injetora.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
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Figura 7 – Operador subindo para a plataforma.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
4.3. Mobiliário
Segundo o item 17.3.2 da NR-17 “Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em
pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador
condições de boa postura, visualização e operação”. A bancada é ergonomicamente
inadequada, pois não possui regulagem de altura e mede 1,25 cm de altura e 10 cm da matriz.
Figura 8 – Postura do operador ao retirar solado.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
É necessário que o operador trabalhe em uma pequena plataforma de 51cm de altura, 50cm de
largura e 3m de comprimento restringindo o espaço de trabalho e aumentando riscos de
acidentes.
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A falta de regulagem da bancada pode causar posturas inadequadas, nesse caso é o
trabalhador que se adequa a máquina e não o inverso. Além disso, o operador realiza o
trabalho em pé. Segundo o item 17.3.5 da NR-17 “para as atividades em que os trabalhos
devam ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que
possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas”. Das quais a empresa não
disponibiliza.
4.4. Equipamentos
Na NR-17, item 17.4.1 afirma que “Todos os equipamentos que compõem um posto de
trabalho devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à
natureza do trabalho a ser executado”. O único equipamento utilizado pelo operador é uma
chave de fenda, utilizada como auxilio da retirada dos solados do molde e das rebarbas.
Figura 9 – Chave de fenda usada pelo operador.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
4.5. Condições Ambientais
Item 17.5.1 da NR-17 sobre as condições ambientais: “As condições ambientais de trabalho
devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do
trabalho a ser executado”. Os colaboradores estão expostos a diversos riscos, decorrentes do
contato com ferramentas, máquinas de grande porte, ruídos, exposição ao calor, entre outros.
O piso não possui demarcação de faixas de delimitação dessas áreas. A sinalização de
segurança é inexistente, embora a empresa afirme fazer palestras para conscientização do
trabalhador a respeito de sua segurança.
No local possui iluminação natural e artificial. O galpão tem aproximadamente um pé direito
de 5m, a ventilação é feita por combogós, ventiladores e um exaustor no local quee não estava
em funcionamento.
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Figura 10 – Posto de trabalho de operador de injetora rotativa.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
A medição dos níveis de iluminamento do posto de trabalho está abaixo do previsto como
conforto lumínico na NBR 5413 da ABNT. Os níveis de ruídos medidos mostraram que os
valores estão acima do limite de 85 dB(A) recomendado pela NR 15 para jornadas de 8 horas
por dia. A temperatura do local medida registrou 34°C indicando uma possível sobrecarga
térmica. Outro perigo observado foi à existência de fumos de PVC derivado da queima.
4.6. Organização Do Trabalho
Segundo o item 17.6 da NR-17 “A organização do trabalho deve ser adequada às
características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
Para efeito desta NR, ela deve levar em consideração, no mínimo as normas de produção, o
modo operatório, a exigência de tempo, a determinação do conteúdo de tempo, o ritmo de
trabalho e o conteúdo da tarefa”.
O operador trabalha 8 h diárias e faz hora extra quando necessário. A atividade não dispõe de
revezamento. O operador somente pode se ausentar quando houver alguém disponível para
substituí-lo. Tem um bebedouro no local, mas como fica longe do operador ele usa uma
garrafa de água próxima a injetora.
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Figura 15 – Garrafa de água usada pelo operador.
Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.
A injetora gira a cada 26 s, o operador demora aproximadamente 14 s para completar a tarefa,
os 12 s restantes o operador fica ocioso esperando a próxima matriz. A atividade é
considerada repetitiva, já que está abaixo de 30 s. O operador leva 0,43 min para processar
cada par, sabendo que numa jornada de 8 h tem 480 minutos, podemos concluir que em um
dia de trabalho o operador produz 1116 pares de solados, ou seja, ele realiza 1116 ciclos por
dia. E tem um tempo efetivo de trabalho de 4,33 h, dentro da norma, já que não pode
ultrapassar as 5 h. A cada ciclo, o operador realiza seis micros movimentos com a mão direita
e sete com a mão esquerda. No final de um dia, ele realizou 6696 micros movimentos com a
mão direita e 7812 movimentos com a mão esquerda para realizar atividades básicas da
injeção.
A atividade pode se tornar monótona, já que possui pouco tempo de duração do ciclo da
operação, curtos períodos de aprendizado e pequena possibilidade de movimentos corporais.
Além disso, ambientes quentes e com certo isolamento social são outras condições que
contribuem para o surgimento da monotonia.
5. Considerações Finais
O trabalho teve como objetivo estabelecer recomendações ergonômicas a partir da aplicação
da Análise Ergonômica do Trabalho – AET evidenciando os pontos a serem corrigidos pela
empresa na célula de produção, a fim de adequar o trabalho real às aptidões e limitações do
ser humano. Isso significa sugerir intervenções e reorientações das operações, adequação dos
procedimentos e maquinaria e implementação de equipamentos de proteção coletiva de forma
a eliminar ou reduzir a concentração ou intensidade do agente e, consequentemente, a
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exposição do trabalhador.
Analisando as atividades desenvolvidas na injetora evidencia-se uma falta de relação entre o
trabalho prescrito e a atividade desenvolvida. Durante a realização da tarefa, o operador adota
diversas posturas que estão em desarmonia com as prescrições ergonômicas do trabalho e com
as limitações do ser humano. Sobre as exigências de movimentos realizados por vários
segmentos corpóreos e forças que agem sobre estas partes do corpo durante atividades
normais diárias da operação, a melhor solução seria a flexibilidade no posto de trabalho,
alternativa esta, de custo elevado.
Após a realização do estudo, algumas recomendações ergonômicas ficaram evidentes, para a
adequação ergonômica do posto em questão.
Em relação aos problemas encontrados no item, levantamento, transporte e descargas de
materiais, uma possível solução seria o revezamento entre funcionários que exercem funções
com esforços musculares distintos, assim, seria possível o descanso da região muscular que se
encontra em esforço constante durante a tarefa, evitando ou diminuindo as chances de
ocorrências de LER/DORT que podem surgir devido à repetitividade da operação.
Na questão do mobiliário, como o trabalho exige que o operador o realize em pé, a postura
dele em relação à altura da bancada se mostra incompatível, o que leva o trabalhador a se
posicionar de forma prejudicial. Uma solução seria a adequação da altura. Mas se torna
impossível, pois a injetora não possui bancada regulável, dificultando à adaptação da máquina
as limitações do trabalhador.
Como a atividade é realizada em pé, para diminuir o esforço físico durante a jornada de
trabalho, a possível solução são bancos, que proporcionaria um momento de descanso. Porém,
esse só seria possível se a empresa se disponibiliza intervalos para descanso, o que não é
viável, pois impacta diretamente na produtividade da empresa.
Sobre as condições ambientais, podemos primeiramente pensar em soluções como a utilização
de EPIs, dos quais não são utilizados.
A utilização de uma tela na parte inferior e superior da injetora no caso do trabalhador
escorregar não correr o risco de se ferir gravemente.
Em relação a redução da sensação térmica, uma possibilidade seria adoção de cores claras no
fardamento, como também o uso de mais ventiladores e outras formas de ventilação como a
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instalação de mais combogós e lanternim. O exaustor também seria uma solução. Isso
proporcionaria uma melhora razoável na condição de trabalho do operador.
Algumas das soluções sugeridas nos mostra o contraste da realidade com o que a ergonomia
propõe, pois, todas as soluções influenciam de forma direta ou indireta na produtividade da
empresa, sendo que as melhores soluções são de custo elevado, se tornando inviável, pois o
aumento da produtividade está diretamente ligado com as condições de trabalho, essas que
impactam na saúde do trabalhador. Essas melhorias resultam em custos dos quais não serão
revertidos em lucros, ficando fora dos projetos das empresas.
REFERÊNCIAS
A LER é uma doença crônica e invisível, alerta Fundacentro. Disponível em: <
http://www.fundacentro.gov.br/noticias/detalhe-da-noticia/2014/2/a-ler-e-uma-doenca-cronica-e-invisivel-alerta-
fundacentro> Acesso em: 05/10/2015.
ANTUNES, Ricardo (Org.). Riqueza e miséria do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2006. v. I, II e III.
BRASIL, Associação Brasileira de ergonomia. O que é ergonomia: a disciplina ergonomia. Disponível em:
http://www.abergo.org.br/internas.php?pg=o_que_e_ ergonomia. Acesso em 24/10/2015.
BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. NR-17 - Ergonomia. Disponível em: http://www.mte.gov.br/.
Acesso em 11/10/2015.
FERREIRA, Leda Leal. Sobre a Análise Ergonômica do Trabalho ou AET. Rev. bras. Saúde ocupacional. São
Paulo, 2015.
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