Post on 07-Jun-2015
Artigo Original Pós graduação Lato-Sensu em Musculação e Treinamento da Força – Universidade Gama Filho
ANÁLISE DO MÚSCULO RETO ABDOMINAL
MUSCLE ANALYSES RECTUS ABDOMINUS
Davi Fernando de Camargo Gustavo Schmarczek Beier
Kátia Araújo Bezerra Maria Carolina da Nóbrega Godinho
Sérgio Trindade Araújo
Brasília – DF
______________________ Davi Fernando de Camargo AOS 04 BLOCO “B” APTº 621 CEP: 70.660-041 BASÍLIA – D.F. E-mail: kbezerra@hotmail.com RESUMO
Os músculos abdominais vem a muito tempo sendo estudado devido a polêmica gerada entre a melhor forma de execução dos exercícios. A presente pesquisa pretende ilustrar as principais funções do músculo reto abdominal dentro de uma visão anatômica, fisiológica, motora, biomecânica e eletromiográfica, através de revisões bibliográficas, dentre as quais o maior enfoque se deu de artigos de eletromiografia. O confronto entre os trabalhos selecionados foi necessário para obtenção de uma visão mais crítica com relação aos exercícios abdominais mais comumente utilizados atualmente, e assim determinarmos a maneira mais eficiente para execução desses exercícios. PALAVRAS CHAVES: Músculo Reto Abdominal; Exercícios abdominais; Eletromiografia.
Abstract
Recently, there has been a great deal of research regarding the best type of abdominal exercises. The present study intends to ilustrate the main functions of the rectus abdominus and review the current literature regarding this muscle. We analyse anatomical, fisiological, motor, biomechanical, and electromyographic studies of the rectus abdominus. The main focus of our work pertained to the articles regarding electromyography. By comparing different papers, and different types of study of the rectus abdominus, we were able to obtain a more critical vision of the most common abdominal exercises used today, which can enable us to better prescribe exercises for a given individual. KEY WORDS: Abdominal Muscle; Eletromigraphy
INTRODUÇÃO
O corpo humano tem sido objeto
de descrição e interpretação desde
os tempos primordiais (NOVAES,
2001). Baseado nisso, é que o
estudo do grupo de músculos
abdominais é relevante, visto que a
quantidade de praticantes de
atividade física no mundo inteiro vem
crescendo ano a ano e a busca da
estética é cada vez mais divulgada
na mídia, incutindo nos mesmos,
padrões globais de beleza e da
forma física. Trabalhar de maneira
eficiente os músculos abdominais é
assunto cada vez mais discutido e
que vem produzindo diversos
materiais científicos por parte dos
pesquisadores a fim de determinar,
seja através da biomecânica, da
análise de imagens ou de sinais
eletromiográficos, maneiras mais
eficientes e que proporcionem
efeitos estéticos, profiláticos ou
corretivos mais satisfatórios.
Este artigo tem por objetivo colher
e confrontar análises de diversos
autores a fim de elaborar um
conhecimento mais atual e
esclarecer dúvidas sobre os
diferentes exercícios, orientando de
forma mais científica a prescrição
dos mesmos.
No estudo proposto, faremos uma
análise anatômica, fisiológica,
motora, eletromiográfica e
biomecânica do músculo reto
abdominal, buscando obter melhores
informações para a prescrição
adequada dos exercícios
abdominais.
ANÁLISE ANATÔMICA
O músculo reto abdominal é um
músculo longo e plano formado por
duas bandas musculares que se
estendem por todo comprimento da
face ventral do abdome. É separado
lado a lado da linha mediana pela
linha Alba. Está contido em uma
bainha aponevrótica formada pelas
aponevroses de terminação dos
músculos largos da parede
abdominal (GRAY, 1995;
KAPANDJI, 1990). Na parte superior
suas fibras são mais largas, porém
mais finas. É originado por dois
tendões. Na crista da pube é
originado por um tendão mais
volumoso, e pela sínfise púbica por
um tendão que se entrelaça com
seus correspondentes do lado
oposto. Sua inserção é feita por três
porções de tamanhos desiguais nas
cartilagens costais da quinta, sexta e
sétima costela e processo xifóide do
externo. Suas fibras encontram-se
na direção vertical e são divididas
horizontalmente por intersecções
aponevróticas, sendo: duas
intersecções acima do umbigo, uma
ao nível do umbigo e uma abaixo
(KENDALL, 1990; GRAY, 1995;
BASMAJIAN,1985; SMITH, 1997),
ANÁLISE MOTORA
O músculo reto abdominal é um
poderoso flexor do tronco – coluna
vertebral - que tem por ação unir o
apêndice xifóide à sínfise púbica,
tornando tensa a parede abdominal
anterior, e auxiliando a compressão
do conteúdo abdominal.
(GRAY,1995; KAPANDJI 1990).
Pela ação do reto abdominal, ao
fixar a pelve o tórax se moverá no
sentido da pelve, e ao fixar o tórax a
pelve se moverá no sentido do tórax
(KENDALL, 1990). A comparação
entre esses movimentos nos faz
refletir sobre as diferenças
existentes entre a parte superior e
inferior do reto abdominal e ainda as
diferenças entre os graus de força
por eles adquiridos. O papel mais
importante na correção da
hiperlordose lombar vem da ação do
reto abdominal, por ser um dos
principais músculos a atuar no
movimento de retroversão do quadril
(KAPANDJI, 1990).
ANÁLISE FISIOLÓGICA
Os músculos abdominais são de
extrema importância para a função
de expansão e compressão da
cavidade abdominal e das vísceras
ocas (BASMAJIAN, 1985), além de
auxiliarem na respiração puxando o
externo para baixo e aumentando a
pressão intra-abdominal facilitando a
liberação do ar de dentro do sistema
respiratório para a atmosfera,
reduzindo o tamanho da cavidade
torácica (MCARDLE et al., 1998;
WILMORE & COSTIL, 2001, SMITH,
1997). Esse aumento da pressão
intra-abdominal possui ainda uma
importante função de auxílio do
retorno venoso, comprimindo os
vasos sanguíneos, através de uma
ação de ordenha (WILMORE &
COSTIL, 2001). Sua ação contribui
também na micção, no parto, na
defecação e no vômito
(GRAY,1995). A musculatura
abdominal tem valor significante
para proteção das vísceras
abdominais contra golpes externos
(BASMAJIAN, 1985), e seu
fortalecimento é a melhor garantia
contra uma hérnia abdominal
causada por um aumento muito
grande da pressão intra-abdominal
resultante do levantamento de altas
cargas (ZATSIORSKY, 1999).
ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA
Em uma pesquisa
eletromiográfica feita por BANKOFF
e FURLANI (1986), onde foram
analisadas quatro formas de
exercícios abdominais, sendo estes
divididos entre fase excêntrica e
concêntrica. O melhor trabalho
muscular encontrado para o músculo
reto abdominal ocorreu durante o
exercício - deitado em decúbito
dorsal com os joelhos fletidos a 45°,
pés fixos no solo, mãos entrelaçadas
na nuca, realizando o movimento de
subir o tronco em linha reta até a
posição sentada – SIT UP - (figura –
1). Os PAM mais intensos ocorreram
entre 45° a 60° de flexão. Porém,
BEIM et al (1997), ao comparar o
exercício SIT UP com o exercício
CURL UP - deitado em decúbito
dorsal, com os joelhos fletidos, e pés
fixos no solo, mãos entrelaçadas na
nuca, realizando o movimento de
subir o tronco enrolando até que as
escapulas sejam elevadas do solo –
(figura – 2) – encontrou maior
potencial de ação muscular (PAM)
para este último. Esta comparação
foi feita com uma metodologia onde
se utilizava uma isometria de 3s.
Resultado semelhante para o
exercício “enrolando” foi verificado
também por SARTI et al (1996), em
um estudo baseado nas “teorias” de
exercícios para o reto abdominal
com ênfase no supra ou infra-
abdominal. Neste estudo foram
realizados quatro exercícios: dois
para o supra–abdominal (SA): SIT
UP e CURL UP, e dois para o infra-
abdominal (IA): PELVIC TILT -
elevar as pernas estendidas partindo
de uma posição de decúbito dorsal
(figura –3), e POSTERIOR PELVIC
TILT - em decúbito dorsal com as
pernas encolhidas realizar o
movimento de elevação do quadril
(figura –4). A análise dos resultados
demonstrou que houve diferença
entre o trabalho SA e IA, onde os
melhores exercícios para ativação
destes músculos, respectivamente,
foram o CURL UP e o POSTERIOR
PELVIC TILT.
Através de uma análise
biomecânica, VAZ et al (1991),
afirma que o movimento de sentar-
se a partir da posição decúbito
dorsal não pode ser realizado sem
que os flexores do quadril entrem em
atividade. O estudo utilizou ainda,
uma análise eletromiográfica, onde
se verificou os PAM dos músculos
abdominais SA e IA e o músculo reto
femoral. Sua análise foi feita com
base em doze exercícios
abdominais, sendo observado que
em apenas um (deitado em decúbito
dorsal enrolando o tronco, e com as
pernas apoiadas sobre um banco)
não ocorreu participação significativa
do músculo reto femoral. Foi
observado também que nos
exercícios onde os pés são mantidos
presos em um aparelho ou
segurados por um auxiliar também
ocorre grande participação desse
músculo.
BANKOFF e FURLANI (1985),
demonstraram que durante o
exercício SIT UP, nos últimos 40° de
execução do exercício, não houve
participação significativa dos
músculos abdominais. Logo, leva a
crer que os músculos flexores do
quadril ficariam ativos no restante do
movimento de flexão (HAMIL, 1999).
Em um estudo mais recente,
RIBEIRO et al (2002), para os
exercícios analisados em seu estudo
(CURL UP – flexão parcial, SIT UP –
flexão completa, POSTERIOR
PELVIC TIT – flexão inversa), não
foram encontradas diferenças
significativas do sinal
eletromiográfico entre os músculos
abdominais investigados, (SA, IA,
OBLIQUO EXTERNO) enquanto que
para o músculo reto femoral
concluiu-se que o exercício de maior
intensidade do sinal eletromiográfico
foi o SIT UP. Foi verificado também
que durante o exercício
POSTERIOR PÉLVIC TILT ao
contrário de SARTI et al (1996) o
sinal eletromiográfico do SA foi o de
maior valor. Neste mesmo estudo as
ações musculares foram analisadas
segundo o parâmetro da fadiga
muscular, onde o músculo SA foi o
que atingiu a fadiga mais
rapidamente durante o CURL UP.
Para exercícios realizados em
prancha abdominal, GUIMARÃES et
al (1984) constatou em seus estudos
uma maior atuação do reto femoral,
esta citação pode ser confirmada
analisando os resultados obtidos por
VAZ et al (1991). Estes dois estudos
parecem concordar que o exercício
canivete é o que gera um maior PAM
tanto para SA como para o IA.
ANÁLISE BIOMECÂNICA
CURL UP – no início do
movimento o braço de resistência
(BR) é maior (distância entre o
centro de gravidade da parte
superior do tronco (CGT) e o eixo de
rotação do movimento). Para que se
inicie o movimento de enrrolar o
tronco é necessário que os músculos
abdominais entrem em ação –
principalmente o reto abdominal. A
medida que é iniciado o movimento
o braço de resistência diminui,
devido a aproximação do CGT ao
eixo de rotação do movimento. Em
contrapartida, a medida que a coluna
perde contato com o solo a
sobrecarga no abdome aumenta. Os
componente translatórios são de
compressão articular da coluna,
durante toda a amplitude do
movimento (CAMPOS, 2000).
SIT UP – no início do movimento
o BR é maior, e diminue a medida
em que o tronco é elevado. Para que
o tronco seja erguido até a posição
sentado é necessário que haja uma
flexão do quadril - eixo de rotação do
movimento – (VAZ et al, 1991;
CAMPOS, 2000; HAMIL, 1999).
Segundo KENDAL (1990) quando os
músculos abdominais são fracos, ou
mais fracos que os flexores do
quadril, ao iniciarmos o movimento
de sentar a partir de uma posição
em decúbito dorsal o íliopsoas atua
no sentido de realizar uma
anterversão do quadril
hiperlordotizando a região lombar. O
músculo abdominal atua no
movimento de estabilização do
tronco durante o movimento de
subida, que é realizado por uma
ação conjunta do iliopsoas e do reto
femoral. Segundo ZATSIORSKY
(1999) e HAMIL (1999) esta
anterversão do quadril aumenta a
pressão intradiscal nas vértebras
lombares, e pode causar
comprometimento das facetas e do
arco posterior.
CONCLUSÃO
De acordo com a análise motora,
o Músculo Reto Abdominal tem ação
de unir o processo xifóide a sínfise
púbica. Logo, podemos definir como
exercícios abdominais todos aqueles
que realizam este movimento.
Levando-se em conta essa definição
e os conceitos biomecânicos
abordados, seria correto afirmar que
o exercício SIT UP não poderia se
encaixar em uma classe de
exercícios abdominais, uma vez que
neste movimento o eixo de rotação
parte da articulação do quadril,
fazendo assim sua flexão e não a
flexão da coluna vertebral. Porém
em alguns estudos apresentados
(BANKOFF e FURLANI, 1985 e
1986; VAZ et al, 1991; BEIM et al,
1997; RIBEIRO et al, 2002;
observou-se que durante o exercício
SIT UP houve estimulação do
músculo reto abdominal, mesmo que
esta não fosse a de maior valor entre
os exercícios estudados. Essa
diferença entre as análises poderiam
ser mais bem estudadas, através de
uma padronização geral dos
exercícios dos diversos artigos
abordados.
A ativação do músculo SA no
exercício CURL UP foi unânime
entre todos os artigos encontrados, o
que nos leva a admitir que este é o
melhor exercício para se trabalhar
esta região do abdome. Já para o IA
os estudos são bastante
divergentes, necessitando assim de
mais estudos que comprovem o seu
melhor desempenho.
Com base nos resultados
apresentados com relação à fadiga
RIBEIRO et al (2002), onde o SA
obteve maior fadiga em relação ao
IA em todos os exercícios, é
importante ressaltar que o fator
fadiga pode sofrer alterações tanto
do nível de treinamento do avaliado
(BOMPA, 2000), como também, das
adaptações aos exercícios
utilizados, devido a co-ativação dos
músculos antagonistas
(BRENTANO, 2001). Cabe também,
para novos estudos, ater-se às
diferenças anatômicas do músculo
reto abdominal, principalmente no
que diz respeito a sua espessura:
mais delgado na inserção (SA) e
mais volumoso na origem (IA),
(GRAY, 1995), e ainda ao grau de
flexão do tronco do avaliado, na
tentativa de analisar o tipo de
contração da musculatura atuante:
isométrica ou isotônica, e as
limitações causadas pela
musculatura antagonista.
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