Post on 08-Nov-2018
ANAIS DA
31 de agosto, 01 e 02 de setembro
FABICO - UFRGS
2015
III Jornada de Pesquisas sobre Tecnologias Comunicacionais Contemporâneas
Anais da III Jornada de Pesquisas
sobre Tecnologias Comunicacionais Contemporâneas
31 de agosto, 01 e 02 de setembro de 2015
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação
Porto Alegre, 2015
Organização dos Anais: Suely Fragoso, Fátima Régis e Luiza Santos
Editoração e Layout: Luiza Santos
Capa: Mariana Amaro
Revisão: Autores
_______________________________________________________________
Os autores retêm todos os direitos e responsabilidades sobre o material aqui
publicado, garantindo à III Jornada de Pesquisas sobre Tecnologias
Comunicacionais Contemporâneas o direito à sua publicação na web.
_______________________________________________________________
CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO
BIBLIOTECA _______________________________________________________________ J828a Jornada de Pesquisas sobre TecnologiasComunicacionais Contemporâneas
(3. : 2015 : Porto Alegre, RS) [Anais...]/ Suely Fragoso, Fátima Régis (Coordenadoras). –Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, 2015.
145p.
1. Comunicação - Eventos. 2. Tecnologia de Informação e Comunicação I. Fragoso, Suely. (Coord.). II. Régis, Fátima. (Coord.) III. Titulo.
CDU: 007.5 _______________________________________________________________
ISBN 978-85-66106-73-2
Comissão Coordenadora Suely Fragoso
Fátima Regis
Comitê Científico Suely Fragoso
Fátima Regis
Gabriela Zago
Rebeca Recuero Rebs
Raquel Timponi
Comissão Organizadora Alessandra Maia
André Conti
Breno Maciel
Dennis Messa da Silva
Letícia Perani
Luiza Santos
Mariana Amaro
Mayara Caetano
Raquel Timponi
Rebeca Recuero Rebs
_______________________________________________________________
As Jornadas de Pesquisas sobre Tecnologias Comunicacionais
Contemporâneas são uma iniciativa do Laboratório de Artefatos Digitais (LAD)
da UFRGS e do Laboratório de Pesquisa em Tecnologias de Comunicação,
Cultura e Subjetividade (LETS) da UERJ.
_______________________________________________________________
Promoção:
Apoio:
Sumário
Apresentação.....................................................................................................12
A circulação jornalística em tempos de mobilidade e conectividade:
características, rupturas, continuidades e potencialidades das notícias em
smartphones e smartwatches............................................................................15 Maíra de Cássia Evangelista de Sousa
A construção de um repositório para o grupo de pesquisa...............................17 Ada Cristina Machado, Clarissa Schwartze e Isabel Padilha Guimarães
A construção social do gênero feminino na publicidade....................................19 Paula Rickes Viegas
A cultura das indiretas e a violência simbólica manifestada no
Facebook...........................................................................................................21 Letícia Ribeiro Schinestsck
A interação entre usuários de segunda tela e telenovela A Regra do Jogo, a
partir da análise de conteúdo.............................................................................23 Denise Castilhos de Araújo e Poliana Lopes
A produção científica sobre fãs no Brasil: primeiras abordagens e
questionamentos................................................................................................25 Giovana Santana Carlos
A representação do jornalismo na ficção – a função social, os valores e o ethos
profissional.........................................................................................................27 Gabriela Gruszynski Sanseverino
A semiose e a experiência da escuta na interface com os Digital Audio
Workstations......................................................................................................29 Rodrigo Fonseca e Rodrigues
A utilização da análise de discurso francesa como possibilidade de abordagem
metodológica para a análise de discurso mediado por
computador........................................................................................................30 Taiane de Oliveira Volcan
A visualização de rastros da memória em rede a partir do
GoogleGlass......................................................................................................32 Gabrielli Tiburi Soares Pires
Adaptações institucionais a um ambiente configurado na circulação midiática:
crise de imagem do Grêmio a partir do caso de racismo envolvendo o goleiro
Aranha...............................................................................................................34 Cíntia Miguel Kaefer
Ambiguidades fundamentais no fenômeno da circulação informal de cinema na
internet...............................................................................................................36 Angela Maria Meili
Análise da participação feminina no jogo Dota 2 no Brasil: impasses e
possibilidades metodológicas............................................................................39 Gabriela Birnfeld Kurtz
Análise de dados em pesquisa-formação na cibercultura.................................41 Edméa Oliveira dos Santos, Mayra Ribeiro, Rachel Colacique, Rosemary dos Santos,
Tánia Lucía Maddalena e Tatiana Rossini
Aplicativos autóctones em franquias jornalísticas: a possível transformação de
rotinas produtivas na convergência com meios
digitais................................................................................................................44 Vivian Belochio
Aplicativos site specific: desafios metodológicos na pesquisa de mídias
locativas.............................................................................................................46 Tiago Ricciardi Correa Lopes
Apropriação cultural dos fãs brasileiros de K-POP através das práticas de
shippagem no Facebook....................................................................................49 Larissa Barbieri Tassinari
Argumentação política no Facebook: as estratégias dos candidatos para a
construção de imagem.......................................................................................50 Felipe Bonow Soares
As inferências do queer nas linguagens que emergem em veículos jornalísticos
de cultura pop....................................................................................................52 Christian Gonzatti
As materialidades do retrato fotográfico e suas sensações, a partir do olhar do
retratado.............................................................................................................54 Alexandre Davi Borges
Banda independente como manifestação cultural no contexto da cibercultura –
o caso da Apanhador Só...................................................................................57 Belisa Zoehler Giorgis
Cidadania comunicativa cinematográfica aflorada e expressa através da
recepção de sessões de cinema.......................................................................59 Maytê Ramos Pires
Comunicação e mobilidade urbana: propostas de conteúdo informativo e
jornalístico para dispositivos móveis em Buenos Aires, Argentina....................61 Lucas Durr Missau
Comunicação mediada pelo computador, redes sociais, internet, discurso,
linguagem, preconceito linguístico.....................................................................63 Natalia Giusti Radtke
Consumo como performance no streaming de games da plataforma
Twitch.................................................................................................................65 Samyr Paz
Consumo midiático de dispositivos móveis que se configuram como segunda
tela entre jovens dos Estados do Pará e do Rio Grande do
Sul......................................................................................................................68 Fernanda Chocron Miranda
Dilemas da pesquisa etnográfica e do debate teórico sobre inclusão digital:
desafios e possibilidades...................................................................................71 Sandra Rúbia da Silva
Educomunicação e Mídias Digitais: Apropriações da Internet por Jovens de
Classe Popular e Aprendizagens na Perspectiva da Cidadania
Comunicativa.....................................................................................................73 Lívia Freo Saggin
Em busca do leitor de uma narrativa em dois suportes: um estudo de caso do
blog e do livro Depois dos Quinze.....................................................................75 Marilia de Araujo Barcellos e Maura da Costa e Silva
Estudo de Recepção da campanha “Amor seja como for”................................78 Sendy Carneiro Mordhost
Ética e democracia de acesso na pesquisa e historiografia do Cinema
Brasileiro............................................................................................................80 Juliano Rodrigues Pimentel
Fernandão: a complexidade na morte do ídolo e o surgimento do
Mito....................................................................................................................82 Bruna Provenzano
Game Design para Dispositivos Móveis............................................................84 André Pase e Rodrigo Portes Valente
Interfaces da Memória Social: o estatuto da memória social na era das redes
computacionais, um estudo de caso do Acervo Digital Bar Ocidente no
Facebook...........................................................................................................86 Priscila Chagas Oliveira
Imagens Abismadas: o filme do vídeo...............................................................88 Jamer Guterres Mello e Julia Alexandra Zortéa Soares
Impasses e dificuldades da aplicação do Método
Fotoetnotextográfico..........................................................................................90 Carlos Leonardo Coelho Recuero
Impasses no estudo dos movimentos sociocomunicativos de ativistas
engajados na luta contra o câncer de mama.....................................................93 Thais Costa Cardoso Soares
Jornalismo e Teoria Ator-Rede: possibilidades e limites do princípio da simetria
a partir da verificação digital..............................................................................96 Moreno Cruz Osório
Juventude conectada: uma etnografia dos usos e apropriações de telefones
celulares como mediador tecnoafetivo..............................................................98 Rômulo Tondo
Kindle Unlimited: mudanças no consumo de livros, a partir da convergência
midiática, no mercado editorial........................................................................100 Gabrielle Baratto Adolfo
Let’s talk about indie partie’s audience: a interação do público de festas indie
em Porto Alegre nos eventos no Facebook.....................................................102 Paola Sartori
Livro digital interativo: a criação de uma narrativa digital na era dos
jogos................................................................................................................104 Bruna Maria Teixeira, Lorian Moreira de Toledo e Thaís Cristina Martino Sehn
Mapeando ecossistemas digitais de entretenimento e a cena jailbreak no Brasil:
desafios metodológicos...................................................................................106 Rosana Vieira de Souza
Mediação e agência não-humana em um coletivo de comunicação e jornalismo
brasileiro..........................................................................................................108 Leonardo Feltrin Foletto
Memórias digitais: além do armazenamento...................................................112 Daniel Bassan Petry
Midiatização do ativismo e jornalismo digital...................................................114 Maria Clara Aquino Bittencourt
Nas ruas e nas redes: uma etnografia com a Mídia Ninja...............................118 Nathália Schneider
O Design e seus artefatos: proposta de estudo sobre o imaginário
gráfico..............................................................................................................121 Karina Pereira Weber
O espaço da MPB do Rio Grande do Sul na mídia.........................................123 João Vicente Ribas
O jornalismo como instituição social no século XXI: como delimitar o objeto de
pesquisa...........................................................................................................124 Taís Seibt
O professor da Educação Básica e sua relação com as tecnologias
educacionais como elemento fortalecedor da prática pedagógica..................126 Jorge Alberto Rodriguez e Rose Alves de Moura
Prêmios, pra que te quero? Reflexões e problematizações sobre o processo de
seleção, agarre e utilização de peças publicitárias na amplitude do ambiente
web..................................................................................................................128 Alessandro Souza
Problemas teórico-metodológicos: uma investigação sobre a Cachorro Grande
e o rock gaúcho...............................................................................................130 Caroline Govari Nunes
Ritmanálise como proposta metodológica.......................................................132 Thaís Amorim Aragão
#selfie: você está certo disso?.........................................................................134 Cristiane Weber
Tamanho é documento? Desafios na construção de um corpus de pesquisa
adequado à complexidade e processualidade do objeto.................................136 Danielle Miranda e Nisia M. do Rosário
The book is still on the table………………………..……………………………..138 Pedro Pazitto Galhardi e Thais Cristina Martino Sehn
Usos sociais do Facebook por migrantes brasileiros na Suécia......................140 Laura Roratto Foletto
Violência Simbólica: trajetos para compreensão de discursos políticos
legitimados nos Sites de Redes Sociais..........................................................142 Ana Karen Hernandorena Viegas
“Zelando o ouro produzido no passado”: escavando construtos de memória
através do site Propagandas Históricas..........................................................144 Roberta Fleck Saibro Krause
12
Apresentação
Os textos que compõem este livro resultam da terceira edição das
Jornadas de Pesquisas em Tecnologias Comunicacionais Contemporâneas
(JP-tccs), realizada entre os dias 31 de agosto e 02 de setembro de 2015, na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Neste
ano, a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) e o Programa de
Pós-Graduação em Comunicação e Informação (PPGCom) comemoraram,
respectivamente, 45 e 20 anos de existência, o que viabilizou a integração do
evento às festividades. A esse motivo, que já seria suficiente para destacar
essa terceira edição do evento, aliaram-se outros, que tornaram a III JP-tccs
memorável para todos os que puderam participar. O mais evidente talvez seja
a escala do evento: participaram mais de 80 pesquisadores de diversas áreas
de conhecimento e diferentes regiões do país, cujos trabalhos foram
apresentados e debatidos em sessões temáticas. A palestra de abertura foi
realizada pelo Dr. Charles Melvin Ess, do Department of Media and
Communicationsda University of Oslo. O encerramento do evento foi marcado
por um painel com cinco renomados pesquisadores brasileiros: Eduardo
Pellanda (PUC/RS), Sandra Montardo (FEEVALE), Gustavo Fischer
(UNISINOS), Raquel Recuero (UCPEL) e, coordenando os trabalhos, Dr Alex
Primo (UFRGS).
As JP-tccs são um desdobramento da parceria entre o Laboratório de
Artefatos Digitais LAD/UFRGS e o Laboratório de Pesquisa em Comunicação,
Entretenimento e Cognição CiberCog/UERJ que, desde 2012, desenvolvem
diversas atividades de intercâmbio e cooperação em pesquisa. Dentre essas,
destacam-se as duas primeiras jornadas realizadas em 2012 na UFRGS e em
2014 na UERJ. A proposta das Jornadas reflete o espírito da colaboração entre
os dois grupos e nasceu da constatação da falta de oportunidades para debater
não apenas ideias e experiências, mas também problemas nos percursos das
investigações. Assim, as JP-tccs visam promover a recuperação do que há de
mais nobre e mais compensador no trabalho científico, que é a construção
coletiva por meio do compartilhamento e invenção de práticas, sucessos e,
claro, insucessos nos processos de pesquisa. Com essa finalidade, as JP-tccs
propõem a apresentação e debate não de artigos prontos, ou de resultados de
13
pesquisas, mas de dúvidas e problemas enfrentados em investigações
realizadas ou, preferencialmente, em andamento. Ao trazer para a discussão
essas dificuldades, os autores estabelecem um fórum para mútuos
questionamentos, sugestões, insights, objeções, etc. Essa é, sem dúvida, uma
forma muito produtiva e gratificante do fazer científico.
Os diversos aspectos da proposta pouco usual da III JP-tccs refletem
nos trabalhos que o leitor encontra nesta publicação. A chamada foi aberta a
pesquisadores em diferentes estágios de formação, congregando pesquisas de
Iniciação Científica e Trabalhos de Conclusão de Curso de estudantes de
graduação, projetos de mestrandos e doutorandos e pesquisas de
investigadores com doutorado completo, alguns deles com extensa trajetória
acadêmica. Os textos diferem do que é habitual nos anais de eventos tanto
pela natureza aberta que resulta da explicitação das dúvidas, quanto no
formato, cujas variações refletem as três possibilidades disponibilizadas para
os autores: a submissão de um resumo expandido, o preenchimento de
campos específicos, ou ambos.
Nenhuma forma de publicação seria capaz de fazer jus aos debates
intensos, às colaborações e às parcerias que surgiram durante o encontro. Por
outro lado, a disponibilização das propostas em formato de e-book, com acesso
gratuito, amplia o alcance do espírito das JP-tccs no espaço e no tempo. Os
leitores têm em mãos um raro conjunto de relatos de pesquisa abertos, cujos
autores explicitam suas dúvidas e dificuldades de forma corajosa e generosa. A
expectativa é que esses textos desencadeiem novas interações: nesse sentido,
sugere-se que os contatos com os autores sejam feitos através da Plataforma
Lattes.
Finalmente, é preciso registrar agradecimentos às instituições e
indivíduos sem os quais a realização da III JP-tccs não teria sido possível. Os
apoios financeiros e logísticos do CNPq, da UFRGS, da UERJ e do PPGCom e
da Fabico/UFRGS viabilizaram a presença do palestrante e dos painelistas e a
infraestrutura necessária para as sessões de debates. As equipes do CiberCog
e do LAD foram incansáveis desde os meses que precederam o evento e
continuam atuando nos desdobramentos posteriores, entre os quais a
elaboração desta publicação. Graduandos do Curso de Relações Públicas da
Fabico e pós-graduandos do PPGCom/UFRGS disponibilizaram seu tempo e
14
energia para enfrentar as eventualidades e os imprevistos da última semana. A
Comissão Coordenadora agradece a eles e a todos os participantes, que
fizeram do evento um sucesso.
Suely Fragoso e Fátima Regis
15
A circulação jornalística em tempos de mobilidade e conectividade: características, rupturas, continuidades e potencialidades das notícias em
smartphones e smartwatches
Maíra Sousa
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo A circulação jornalística em tempos de mobilidade e conectividade é o tema desta
pesquisa. Ele surge em um contexto de multiplicação dos espaços de distribuição de
conteúdo jornalístico, de crescente inclusão do público consumidor no ecossistema
midiático e de debate sobre o papel e as reconfigurações das organizações
jornalísticas na atual sociedade global, cada vez mais móvel e conectada. Essas
transformações têm sido impulsionadas, sobretudo, pela conexão sem fio por banda
larga em escala global e pela miniaturização de mídias móveis a preços mais
populares que possibilitam a circulação de informações de forma ubíqua. O objeto de
pesquisa é a circulação de conteúdos jornalísticos em telas digitais móveis, com foco
em smartphones e smartwatches. O objetivo é compreender a circulação jornalística
nesses dispositivos, analisando características, rupturas, continuidades e
potencialidades dos conteúdos noticiosos distribuídos nesses espaços. O estudo é
norteado pela seguinte questão: quais as especificidades, as rupturas, as
continuidades e as potencialidades da circulação jornalística em tempos de mobilidade
e conectividade? Os procedimentos metodológicos da pesquisa serão realizados a
partir da combinação de técnicas qualitativas e quantitativas: revisão de literatura
(durante toda a elaboração da tese 2014-2017), observação não sistemática (durante
o ano de 2015), coleta de dados (durante o ano de 2016), descrição e análise (durante
o ano de 2017). Inicialmente, estão sendo observados os aplicativos dos jornais The
New York Times, The Guardian e O Estado de S. Paulo. Os conceitos norteadores do
estudo são circulação jornalística (JENKINS; FORD; GREEN, 2014; MACHADO, 2008;
PARK, 2008, RODRIGO ALSINA, 2009, SHELLER, 2015; ZAGO, 2011), mobilidade
(IGARZA, 2009; LEMOS, 2009), conectividade (IGARZA, 2009; TURKLE, 2011; VAN
DIJCK, 2013) e jornalismo móvel digital (AGUADO; CASTELLET, 2013, BARBOSA;
SILVA; NOGUEIRA; ALMEIDA, 2013; PELLANDA, 2009; SILVA, 2013; WESTLUND,
2013). É um desafio estudar produtos noticiosos para os smartwatches, pois ao
mesmo tempo em que há uma infinidade de possibilidades de investigação, existem
também impasses relativos ao fato desses dispositivos ainda não serem bastante
16
difundidos, e consequentemente, não se ter certeza de que, de fato, ocorrerá a
popularização dos smartwatches. Por ser uma tecnologia cara (se comparada aos
smartphones, por exemplo), que ainda não está popularizada e que está há pouco
tempo no mercado, existe também a dificuldade de encontrar conteúdos jornalísticos
para os relógios inteligentes. O cenário é tão recente que no Brasil não há ainda a
produção de notícias para esses dispositivos. Assim, por se tratar de produtos
noticiosos ainda em fase de experimentação pelas organizações jornalísticas, o
principal impasse da pesquisa está nas formas de coletar e analisar o material
empírico em wearables como os smartwatches.
17
A construção de um repositório para o grupo de pesquisa
Ada Cristina Machado
Clarissa Schwartze
Isabel Padilha Guimarães
Universidade Federal de Santa Maria
Resumo A presente proposta busca refletir sobre as atividades de investigação do Grupo de
Pesquisa Comunicação, Identidades e Fronteiras da Universidade Federal de Santa
Maria, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Comunicação e registrado no
CNPq desde 2001. O grupo está ocupado em estruturar um repositório composto por
um banco de notícias, ademais de artigos publicados nos temas de suas pesquisas a
partir do software NVivo 10. A preocupação decorre de que as atividades da
Comunicação Midiática estão dominadas pela iniciativa privada. Isso equivale a dizer
que a veiculação está absolutamente controlada por empresas que, de uma maneira
geral, dificultam sobremaneira o acesso aos arquivos, quando os mantêm
praticamente inacessíveis. A memória sonora e audiovisual das mídias brasileiras
padece de notório esquecimento e desleixo no que se refere a sua guarda. Uma
exceção é a mídia impressa, que algumas vezes pode ser recuperada nos acervos de
bibliotecas e até o presente é disponibilizada pelas empresas. Evidencia-se, assim, a
relevância da estruturação de bancos de dados para futuras pesquisas. A elaboração
de um repositório que comporte bancos de dados referentes ao material investigado
pelo grupo de pesquisa faculta compreender os materiais como documentos, registro e
memória, identificando o papel que as novas tecnologias podem desempenhar.
Observando o repositório organizado a partir da perspectiva dos objetos empíricos
analisados, relativos ao arquivamento digital de revistas semanais de informação,
programas de TV aberta e fechada e o panorama da circulação de informações por
intermédio do blog Observatório do Noticiário de Fronteiras, percebe-se a acumulação
de um material considerável que exige procedimentos metódicos para sua
sistematização. A preocupação alcança também a publicização dos processos e
resultados de pesquisa. A divulgação científica é outra preocupação do grupo de
pesquisa. Os bolsistas atuam na manutenção de um blog, de um observatório de
notícias, páginas nas redes sociais e organização de eventos. Considerando o seu
caráter dinâmico, com a inserção de novos integrantes e voluntários a cada ano e
semestre letivo, temos como um dos principais desafios a manutenção e o
18
aprimoramento de um ambiente propício para a produção, troca e divulgação de
conhecimentos.
19
A construção social do gênero feminino na publicidade
Paula Rickes Viegas
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Resumo A publicidade é uma das ferramentas do marketing composta de diagnósticos e
estratégias, que buscam objetivos comerciais através da comunicação persuasiva.
Suas funções básicas são informar sobre um determinado produto ou serviço e
persuadir seu público a consumi-lo, através da comunicação entre o emissor
(anunciante) e o receptor (público-alvo). Paralelamente a finalidade comercial explícita
e o objetivo de venda, a publicidade também possui espaço na manutenção das
relações de poder e na estrutura social. Para Gastaldo, além de produtos, “vende-se
também estereótipos, ideologia, preconceitos, forja-se um discurso que colabora na
construção de uma versão hegemônica da realidade” (GASTALDO, 2013, p. 25). O
discurso das marcas pode ser pensado a partir de teorias discursivas que trabalham a
questão dos efeitos de sentido produzidos pelas marcas com determinados objetivos.
Charaudeau (2009) separa o discurso propagandista em três instâncias: o político –
que visa uma persuasão entre o racional e o emocional –, o promocional – que
representa um contrato de benefício social– e o publicitário, foco principal deste
trabalho. No duplo esquema narrativo/argumentativo de Charaudeau (2010), o emissor
tem o objetivo de seduzir o receptor através de uma estratégia de incitação. Neste
esquema, o EU (emissor) deve incitar o TU (receptor) a: Você tem uma falta > Você
procura suprir essa falta > Este é o seu objeto ideal que você não pode não querer =
Eis o meio de conseguir isso (meu produto). Esta incitação é de “fazer-crer”, pois
busca incitar o TU a sentir falta do objeto e buscá-lo. O objeto ideal é a juventude e a
beleza, em um propaganda de creme antirrugas, por exemplo, e não o produto em si.
O produto apenas o “meio” para se alcançar este objeto ideal. No discurso publicitário
em sites de rede social como o Facebook, por exemplo, este TU, ou seja, a instância
de recepção, pode interagir com a mensagem publicada pela marca através de
curtidas, comentários e compartilhamentos. O impasse deste trabalho encontra-se
aqui. Ao utilizar a análise de discurso de Charaudeau a partir de seu esquema
narrativo/argumentativo em publicações de marcas no Facebook, qual deve ser a
discussão feita sobre as interações recebidas? Deve-se considerá-las como situação
de comunicação ou esquecê-las, visto que se deve focar basicamente na instância de
produção deste discurso?
20
Objeto de pesquisa Publicações em fanpages de marcas brasileiras que constroem socialmente a mulher
através de estereótipos de gênero.
Problema Como a mulher é construída em publicações no Facebook de marcas brasileiras?
Filiação teórica Charaudeau, Bourdieu, Recuero, Kellner, Gastaldo Quais são os limites de se analisar
a presença da instância de recepção na análise de discurso de Charaudeau? Em
análises de discurso clássicas, na observação da comunicação mediada pelo
computador, as interações feitas em sites de redes sociais devem ser descartadas? É
possível utilizar os comentários feitos em publicações no Facebook para se entender a
situação de comunicação?
21
A cultura das indiretas e a violência simbólica manifestada no Facebook
Leticia Ribeiro Schinestsck
Universidade Católica de Pelotas
Resumo Minha proposta de dissertação é trabalhar com a violência simbólica (Bourdieu, 1930)
manifestada através das indiretas no Facebook. Este é um conceito relativamente
novo e tenho desenvolvido um capítulo ancorado em Ducrot (1987) e na teoria dos
Pressupostos e Subentendidos, sendo cada um referente a um conjunto de
conhecimentos diferentes: o pressuposto, neste caso, já estaria contido na frase,
pertencente ao componente linguístico e o subentendido, por sua vez, é dependente
do contexto em que se realiza o ato de fala. Este é o componente retórico, que é a
maneira pela qual o componente lingúístico é decifrado e absorvido pelo subentendido
(o componente retórico). (Ex: Pedro parou de fumar. A partir desta afirmação se
pressupõe que Pedro fumava antes e, se for dita em um contexto em que o ouvinte
também é fumante, pode ser entendida como uma “indireta”, uma cutucada para que o
mesmo pare também.) Por isso o subentendido depende do contexto, o que é
interessante de ser observado na internet, uma vez que o contexto precisa ser
negociado.
Objeto de pesquisa Memes retirados de determinadas páginas do Facebook que estejam de acordo com a
ideia do trabalho.
Problema Como entender a cultura das indiretas na internet a partir dos pressupostos e
subentendidos de Ducrot (1987) e identificar rastros de violência simbólica nos
discursos reproduzidos nas conversações nessas postagens de indiretas? O que está
dito e o que não está dito, mas mesmo assim continua sendo afirmado nesses
memes?
Filiação teórica Ducrot (1987), Goffman (1973), Bourdieu (1930), Recuero (2009; 2012).
22
Impasses atuais Como estudar as indiretas no Facebook através do conceito de pressupostos e
subentendidos de Ducrot (1987)? Como levar este conceito que foi pensado antes
mesmo da existência da internet para o contexto do Facebook? Como posso adequar
essa teoria e aplicá-la de forma coerente e pertinente para obter um resultado
relevante na minha pesquisa?
23
A interação entre usuários de segunda tela e telenovela A Regra do Jogo, a partir da Análise de Conteúdo
Denise Castilhos de Araújo
Poliana Lopes
Universidade Feevale
Resumo
Esta pesquisa tem como principal objetivo analisar a dinâmica de interação entre as
pessoas adeptas da segunda tela e o produto midiático telenovela A Regra do Jogo,
produzida e transmitida pela Rede Globo. Optou-se por este produto por ser ele o de
maior relevância, tanto comercial (a inserção paga mais cara da televisão brasileira)
quanto de audiência, salvo exceções, pois as telenovelas da Globo das 21h ainda são
as que reúnem maior público no Brasil, de acordo com o Mídia Dados 2014. Objetiva-
se, também, compreender os fatores que motivam os usuários a se engajarem no
movimento de segunda tela enquanto assistem telenovela e analisar, a partir da
telenovela A Regra do Jogo, o comportamento destes usuários e sua interrelação. A
análise será realizada a partir das postagens dos telespectadores no Twitter,
considerando-se para tanto a Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2009). Este
estudo é relevante na medida em que estuda um fato contemporâneo, e o acesso à
internet se populariza no País, assim como o hábito de consumir vários produtos
midiáticos simultaneamente, integrando esses consumos em diferentes plataformas.
Atualmente, 53% da população brasileira acessa regularmente a internet, que é a
primeira fonte utilizada na busca por informações por 47% da população. Entre os
jovens de 15 a 32 anos, 90% da população acessa a internet regularmente, 93%
navegam em sites de redes sociais e 43% consideram a internet sua principal fonte de
entretenimento, segundo dados do Ibope, 2014. O crescimento da internet e o
surgimento de novas plataformas transformam a forma de consumir conteúdo e
incentivando o fenômeno conhecido como “segunda tela” – hábito dos telespectadores
de navegarem na internet em tablets, smartphones ou notebooks, enquanto assistem
televisão. Uma das principais ferramentas de segunda tela é o Twitter, e entre os
usuários brasileiros, 97% afirmam assistir tv diariamente dividindo a atenção da mídia
tradicional com a nova mídia. Entre eles, 76% afirmam buscar outras perspectivas
sobre o programa que está passando e 50% buscam produtos para comprar e
informações sobre a programação (TWITTER, 2014). No momento, o grande impasse
da pesquisa é a definição de uma metodologia para a análise do corpus da pesquisa,
24
devido ao provável grande volume de citações do produto midiático no Twitter, visto
que a telenovela pode ter até 190 capítulos (inicia em 31 de agosto de 2015 e tem o
final previsto para março de 2016).
25
A produção científica sobre fãs no Brasil: primeiras abordagens e questionamentos
Giovana Santana Carlos
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo Nosso projeto de pesquisa de tese para o doutorado pretende se debruçar, sob um
viés epistemológico, na produção científica sobre fãs na área de Comunicação no
Brasil. O objeto de pesquisa será construído durante o processo, inicialmente, através
de dados como, quais os temas e abordagens teórico-metodológicas mais recorrentes,
assim como através de entrevistas com os pesquisadores sobre seus trabalhos para
entender os contextos e condições das pesquisas sobre fãs realizadas no país. Num
primeiro momento, a Teoria Fundamentada (FRAGOSO, RECUERO, AMARAL, 2011)
está norteando essa busca e algumas questões já nos ajudam a refletir sobre
possíveis problemas e objetos de pesquisas.Estudos sobre fãs são recentes no país.
As pesquisas mais antigas que encontramos até o momento datam de 2002, sendo 28
dissertações e 2 teses nos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
brasileiros, além de 51 artigos no congresso nacional da Intercom e 5 artigos no
encontro da Compós, dos últimos 14 e 15 anos, respectivamente. Em comparação
com o cenário internacional (BIELBY, HARRINGTON, 2007), no qual encontramos
pesquisas desde a década de 1980, é interessante observar que no Brasil, essas
pesquisas começam já num contexto midiático em que a internet, novas mídias e a
convergência estão reformulando a produção, distribuição e consumo comunicacional.
Apesar de a presença do fã já ser notada desde o século XX (JENKINS, 1992),
parece-nos que é neste momento atual que ela se destaca. Pensando sobre os
modelos comunicacionais, em que retomamos desde o receptor, o leitor, audiência, o
consumidor, e etc., que diferenças e particularidades podemos perceber no fã e qual a
importância disso? Num contexto em que a participação e o engajamento do público
se tornam facilmente acessíveis devido às mídias digitais e internet, como diferenciar o
fã de um público não-fã? Como o pesquisador consegue diferenciar esses
comportamentos?Nessa mesma linha de raciocínio, ao realizar um mapeamento inicial
das dissertações, teses e artigos sobre fãs, uma outra questão ficou visível: estudos
sobre fãs muitas vezes se relacionam a estudos de subculturas, culturas jovens, tribos
urbanas, cenas musicais e afins. Cada uma dessas tem sua particularidade, porém por
vezes se intercruzam, possuem um ponto de encontro, mas não são sinônimos. Como
recorte de pesquisa, fomos atrás apenas de estudos que apresentavam no título ou
26
palavras-chave os seguintes: “fã”, “fãs”, “fandom”; e de práticas específicas como: “fan
fiction”, “fan film”, “fanzine”, “fan art”, “fansub” e “scanlation”. Mas nos indagamos
sobre trabalhos que abordam de alguma forma fã, mas não o explicitam, ou ainda, que
deixam em dúvida se são sinônimos ou não. Por exemplo, com nossa experiência ao
pesquisar sobre a cultura pop japonesa, percebemos que a palavra otaku pode ou não
ser entendida como fã de cultura pop japonesa: sua etimologia está mais relacionada
com a ideia de “nerd” e existe toda uma trajetória histórica e geográfica de significação
variantes (CARLOS, 2011). Ou seja, depende do pesquisador entender se “otaku” é ou
não “fã”. Até o momento, nosso mapeamento não tem incluído pesquisas com esses
possíveis sinônimos, mas a problemática que se levanta é: a falta de alguma
referência a “fã” se deve por falta de conhecimento dos estudos específicos de fãs, ou
é algo escolhido de forma consciente? Caso a primeira hipótese seja verdadeira,
devemos ou não passar a incluí-las no nosso mapeamento? E, ao efetivar isso, que
impacto poderemos ter ao refletir sobre a produção científica sobre fãs realizada no
Brasil?
Filiação teórica BIELBY, Denise D. HARRINGTON, C. Lee. Global fandom/global studies. In:
HARRINGTON, C. Lee; GRAY, Jonathan; SANDVOSS, Cornel (Orgs.). Fandom:
identities and communities in a mediated world. New York: New York University Press,
2007, p. 179-197.
CARLOS, Giovana S. O(s) fã(s) da cultura pop japonesa e a prática de scanlation no
Brasil. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Linguagens) – Universidade Tuiuti
do Paraná, Curitiba, 2011.
FRAGOSO, Suely; RECUERO, Sandra; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa para
a internet.Porto Alegre: Sulina, 2011.
JENKINS, Henry. Textual Poachers – television fans and participatory culture. New
York: Routledge, 1992.
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A representação do jornalismo na ficção – a função social, os valores e o ethos profissional
Gabriela Grusynski Sanseverino
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Objeto de pesquisa A narrativa ficcional transmídia de Harry Potter: os sete livros, os oito filmes e o site
Pottermore.
Problema Que representações sobre o jornalismo e sobre o jornalista são construídas pelo
universo ficcional transmídia da série Harry Potter, considerando os livros, os filmes e
o site Pottermore, tendo em vista os valores, o ethos profissional e a função social da
profissão?
Filiação teórica Propõe-se uma reflexão que problematiza a história transmídia a partir de Jenkins
(2009), como uma narrativa desenvolvida em múltiplas plataformas, que permite ao
público diferentes entradas para o enredo. Para propósitos deste trabalho, pensa-se o
jornalismo como uma ação social, isto é, dotado de um significado subjetivo dado por
quem o executa, significado este que irá orientá-lo tendo em vista a ação de outros
agentes, como por exemplo seus leitores (WEBER apud QUINTANEIRO, 2009).
Nesse sentido, pode-se pensar profissão a partir de sua finalidade (ação conforme os
fins) – captar, selecionar e difundir informações de atualidade – e de seus valores
(ação conforme os valores) – o dever de verdade, a independência, a exatidão e a
noção da profissão como um serviço público. Ele é praticado por profissionais que
dominam uma linguagem específica no cumprimento desta atividade. Além disso, têm
tradições, preocupações e formas particulares de fazer as coisas. São, por isso,
dotados de um ethos próprio (TRAQUINA, 2008). Para os jornalistas, o ethos
profissional é uma maneira de ser jornalista e estar no jornalismo, isto é, constitui uma
crençacompartilhada que serve de guia de comportamento. Propõe-se, assim, uma
reflexão que problematiza a história transmídia como uma forma de interpretação da
realidade, capaz de promover um espaço de estudo sobre o jornalismo – uma
instituição sociedade contemporânea, parte do cotidiano partilhado por todos.
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Impasses atuais De que maneira pensar como diferentes plataformas – livros, filmes e site –
representam a mesma instituição, o jornalismo, e constroem uma imagem da profissão
que se complementa nas diferentes mídias, a medida que cada plataforma parece
exigir uma ferramenta de análise diferente? Enquanto conseguimos estabelecer o que
deve ser observado em cada plataforma da história de Harry Potter, considerando as
particularidades de cada mídia, não conseguimos encontrar uma forma de verificar a
representação do jornalismo que sirva para as três plataformas.
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A semiose e a experiência da escuta na interface com os Digital Audio Workstations
Rodrigo Fonseca e Rodrigues
Universidade Fundação Mineira de Educação e Cultura
Resumo Esta pesquisa aborda problemas do design de interfaces digitais no processo de
concepção e da experiência com os Digital Audio Workstations. Inicialmente se pauta
nas leituras de J. Preece, Y. Rogers, H. Sharp e C. S. Souza para problematizar os
conceitos de “semiose” e de “metacomunicação” na interação virtual. O principal
impasse detectado em nossa investigação e que nos leva a questionar a concepção
da “experiência triádica” de C. S. Peirce concerne aos modos de aproximação
epistemológica entre a Semiótica e o pensamento filosófico contemporâneo, em
particular, de H. Bergson e G. Deleuze. A experiência, para estes autores, mais do que
um conjunto de aptidões mnemônicas, perceptivas e de abstrações com a linguagem,
envolve também um processo heterogêneo de virtualidades do tempo (sensações,
afetos, devires e reminiscências) que ultrapassam o fenômeno e o signo. Indagamos:
como os estudos que apreendem a realidade para aquém da semiose poderiam
contribuir para se repensar a experiência da escuta com os DAW’s? E por quais outros
meios o design de interfaces poderia suscitar singularidades para a invenção de
sonoridades?
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A utilização da Análise de Discurso Francesa – AD – como possibilidade de abordagem metodológica para a Análise de Discurso Mediado por Computador –
CMDA
Taiane de Oliveira Volcan
Universidade Católica de Pelotas
Resumo A análise de discurso mediado por computador – CMDA é uma abordagem
metodológica, proposta pela pesquisadora americana, Susan Hering (2004), que utiliza
métodos da linguística para desenvolver conceitos para a análise da comunicação
mediada por computador, propondo padrões cientificamente rigorosos para a análise
dos discursos produzidos neste meio. O estudo do discurso mediado por computador
se apresenta como uma tentativa de compreender as transformações da língua, em
função da influência do meio digital. A sua abordagem considera a análise de quatro
domínios da linguagem: Estrutura, Significado, Interação e Comportamento Social
(HERING, 2004). No entanto, a análise de Significado na CMDA tem sido
desenvolvida com uma forte referência da análise crítica do discurso, produzindo,
como efeito, um apagamento de outros métodos da linguística aplicada, que poderiam
enriquecer profundamente seus estudos. Considerando a análise de discurso francesa
– AD, de Michel Pêcheux, uma importante abordagem de análise de sentidos,
especialmente no âmbito do discurso político, este trabalho busca construir um debate
em torno da utilização da AD como possibilidade de método para a Análise de
Discurso Mediado por Computador. Compreendemos e respeitamos os limites e
especificidades das diferentes abordagens teóricas, mas consideramos que, em um
contexto com tanto a se avaliar e explorar , como o digital, é indispensável uma cerca
abertura para o debate em torno das possibilidades de pesquisa. Consideramos,
também, o fato da AD ser uma abordagem tradicional e estabelecida dentro de
parâmetros bastante consolidados, mas salientamos que existem estudos sobre as
possibilidades de abertura desta em função de novas condições de produção dos
discursos, como a utilização da AD como método de análise de imagens (QUEVEDO,
2012). Desta forma, o presente trabalho pretende iniciar um debate, que deverá ser
bastante longo, mas que apresenta como possibilidade a união de abordagens, o que
poderá resultar em um importante acréscimo tanto para a Análise de Discurso
Mediado por Computador, como para a Análise de Discurso Francesa.
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Objeto de pesquisa Discurso Mediado por Computador
Problema Iniciar o debate sobre a utilização da Análise de Discurso Francesa – AD – como
possibilidade de abordagem metodológica para a Análise de Discurso Mediada por
Computador – CMDA.
Filiação teórica Susan Herring (2004, 2011); Eni Orlandi (2007, 2008, 2012); Michel Pêcheux (1969).
Impasses atuais É possível utilizar a Análise de Discurso Francesa como método para a análise de
sentidos na Análise de Discurso Mediado por Computador? Quais os limites e
possibilidades de diálogo entre as duas teorias?
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A visualização de rastros da memória em rede a partir do Google Glass
Gabrielli Tiburi Soares Pires
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Resumo A memória em rede potencializa uma obsessão que sempre tivemos de guardar tudo
não esquecer de nada (HUYSSEN, 2000). Ao longo do tempo, armazenamos estes
rastros de memória em superfícies aparentemente seguras, como monumentos e
livros. Porém, com a digitalização dos rastros de memória, tanto a capacidade de
armazenamento quanto as formas de acesso destes foram ampliadas. A medida que
as tecnologias da comunicação se miniaturizam e passam a fazer parte do nosso
corpo, através de computadores vestíveis, podemos armazenar nossa memória mais
próxima a nós e torná-la mais acessível. Essas transformações na memória social a
partir do desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação e informação nos
levam ao seguinte problema de pesquisa: quais formas de ressignificação da memória
social através de imagens capturadas por wearables? Assim, o objetivo geral deste
trabalho é problematizar a externalização da memória através dos wearables, como
um primeiro olhar sobre o tema, analisando as transformações na produção e no
acesso aos rastros de memória capturados através da tecnologia vestível. Para tanto,
os principais autores para conceituação da memória social, coletiva e em rede são
Halbwachs (1990), Le Goff (1994) e Ricoeur (2010), Izquierdo (2008), Garde-Hansen
(2008), Hyussen (2000) e para a tecnologia wearable Mann (2014), Donati (2005),
McLuhan (1964), Haraway (2000). O Google Glass foi escolhido como objeto de
análise, por se tratar de um wearable com uma câmera integrada na altura dos olhos.
Esta câmera sempre conectada propicia outra visão do mundo. Suas formas de
fotografar (por clique no sensor, comando de voz ou piscar de olhos) a uma primeira
visão, facilitam a captura e o armazenamento, propiciando transformações na
produção e consumo das imagens e portanto, na memória. Por tratar-se de um
dispositivo pouco utilizado, a solução encontrada para a pesquisa empírica foi utilizar
as fotografias compartilhadas de forma pública no Instagram utilizando o método
“Cultural Analytics”, uma análise massiva de dados culturais como fotografias, vídeos
e ilustrações (MANOVICH, 2009), que conta com a extração de características das
imagens e visualização destas através de análise computacional. A primeira
dificuldade encontrada foi a necessidade de validação humana dos dados, após a
coleta das imagens para garantir que todas cumpram os critérios necessários. Por
exemplo, o primeiro filtro de coleta das imagens é feito por uma hashtag colocada
33
automaticamente quando a publicação no Instagram é feita pelo Google Glass.
Entretanto, nem todas as imagens que contém esta etiqueta foram capturadas pelo
dispositivo. Somente com a verificação humana é possível excluir imagens que,
embora apresentem essa hashtag, foram produzidas por outras câmeras. O segundo
entrave que encontramos é a dificuldade na extração de dados que consigam atingir
os objetivos de pesquisa. Pois, os softwares gratuitos disponibilizados por outros
pesquisadores que utilizam o mesmo método abrangem apenas a tabulação de
propriedades da imagem como diferenças de matiz, brilho e contraste. Sendo assim,
embora o método mostre-se bem adequado a proposta, não encontramos ferramentas
totalmente apropriadas para realizá-lo. No momento, buscamos outros sistemas que
possam auxiliar na extração e tabulação destes dados para análise e conclusão da
pesquisa.
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Adaptações Institucionais a um Ambiente Configurado na Circulação Midiática: crise de imagem do Grêmio a partir do caso de racismo envolvendo o goleiro
Aranha
Cintia Miguel Kaefer
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo O trabalho em desenvolvimento está inserido na linha de pesquisa Midiatização e
Processos Sociais do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos. A pesquisa analisa os processos de circulação midiática
presentes no caso de racismo envolvendo o Goleiro Aranha e o Grêmio, a partir da
partida de futebol realizada em agosto de 2014 pela Copa do Brasil. Trata-se da
análise de uma crise institucional instaurada a partir de um impasse da cultura, no
caso, o racismo. A pergunta central da pesquisa busca entender como o Grêmio,
enquanto instituição, se adapta a uma nova ambiência (constituída nos processos de
circulação), interagindo com a crise simbólica protagonizada pelo goleiro do Santos e
a torcedora gremista. Os problemas atuais da pesquisa ainda envolvem o
entendimento histórico de quanto o racismo é parte da constituição do Grêmio e do
Internacional. Além disso, o trabalho quer entender porque o Grêmio foi punido com a
expulsão da Copa do Brasil devido a ação de seus torcedores enquanto outros times
de futebol brasileiros não sofreram punição alguma em casos semelhantes de
discriminação racial. O caso em estudo gerou uma série de dilemas e tensões
percebidos a partir da apropriação de imagens das instituições midiáticas, instituições
não midiáticas e atores em redes digitais (Ferreira, 2005), além de convocações de
outros campos sociais. O esquema para entendimento da midiatização pensado por
Eliseo Verón (1997) também é central nesta análise. Até a etapa atual da pesquisa,
vários indícios e inferências são perceptíveis na análise do acontecimento. Com isso,
aparecem também algumas dúvidas no processo de investigação: é necessário dar
voz ao objeto de análise, no caso, o clube de futebol, já que possuímos tantas outras
anunciações do clube por meio dos veículos de comunicação? Outra questão, desta
vez do campo da ética, também tensiona a pesquisa em curso: a torcedora que sofreu
grande exposição na mídia pode ser citada no trabalho de dissertação sem uma
autorização prévia? Seu nome e imagem estão presentes no universo da circulação
midiática, mas isso nos dá o direito de vê-las como pessoas públicas? Estes e outros
questionamentos fazem parte da etapa atual do trabalho e suas respostas nortearão
os próximos passos (finais) de desenvolvimentos da pesquisa. Metodologicamente, o
35
trabalho está organizado a partir da análise de materiais empíricos para constituição
do campo de observação e construção de inferências preliminares. A organização do
estudo se dá através da constituição de um caso como referência, utilizando os
argumentos abdutivo, dedutivo e indutivo para análise do acontecimento.
36
Ambiguidades Fundamentais no Fenômeno da Circulação Informal de Cinema na Internet
Angela Meili
Universidade Estadual do Paraná
Resumo Apresentamos questões originadas da minha tese de doutorado “Cinema na Internet:
Espaços Informais de Circulação, Pirataria e Cinefilia” (Famecos, PUCRS, 2015). Ao
analisarmos a circulação informal de cinema em redes BitTorrent, notamos que o
fenômeno apresenta desafios originados pela coexistência de dualidades
aparantemente excludentes. As complexidades do fenômeno demonstram uma série
modificações fundamentais no sistema de distribuição de cinema e recepção dos bens
culturais, onde a pirataria é um agente fundamental, que desestabiliza procedimentos,
imaginários, regulações, relações e mercados.
Tema Redes privadas de BitTorrent compõem uma dimensão importante da circulação dos
bens culturais em redes digitais; atingem um grau elevado de especialização e
organização, além de posicionarem-se estrategicamente em relação ao mercado de
bens culturais. Grupos de Torrent Privados (GTPs) produzem plataformas
sistematicamente organizadas e ideologicamente orientadas, que produzem domínios
discursivos que articulam ambiguidades, como formalidade e informalidade, acesso e
privilégio, legalidade e ilegalidade, grátis e pago, altruísmo e oportunismo, cuja
articulação ocorre nas interações, nos enunciados proferidos pelos usuários e
administradores e, também, na própria estruturação técnica das plataformas. As
regras internas de organização de um GTP estabelecem a sistematicidade da
plataforma e o posicionamento dos grupos em relação ao mercado, aos gostos e ao
direito. Nesse caso, as ferramentas tecnológicas articulam-se, desenvolvem-se e
adaptam-se a partir de múltiplos agenciamentos, apropriações pessoais e coletivas.
Objeto de pesquisa A circulação informal de bens culturais através de GTPs pode atingir graus variados de
especialização (tipo de mídia ou formato, gênero de conteúdo, nacionalidade/língua,
estilos de organização, grupos culturais, etc.). Na tese, identificamos e analisamos
plataformas a que dominamos Grupos de Torrent Cinéfilos (GTC), que são uma
categoria de especialização, entre outras, dos GTPs. Em GTCs, notamos um padrão
37
de organização e posicionamento cultural que prioriza um tipo específico de
cinematografia, o cinema de autor, não Hollywoodiana e de menor visibilidade; ainda
que compartilhem esses traços comuns, os GTCs podem ter um foco maior em
gêneros cinemáticos ainda mais específicos. Grupos/plataformas dessa natureza
promovem, cada um ao seu modo, uma interpretação (e produção) da cultura cinéfila,
contribuindo para o desenvolvimento de um tipo de cinefilia pós-massiva, a
cibercinefilia.
Problema Em decorrência do desenvolvimento da tese, propomos a necessidade de
investigação do seguinte problema:como pensar a circulação de bens culturais nas
redes digitais, levando em consideração o fato de que as seguintes ambiguidades não
são mutuamente excludentes e que a comutação, ou seja, o arranjo e recombinação
entre elas pode se dar de qualquer maneira em cada âmbito específico do fenômeno?
São elas, a) formalidade e informalidade: transitoriedade polos, inicialmente
fundamentais para categorizar a própria “circulação informal”; espaços informais
resultam da formalização das interações, de modo que suas regras internas
estabelecem uma estrutura participativa que institucionaliza o próprio espaço informal;
redes formais/oficiais de distribuição cultural diluem-se no espaço virtual a tal ponto
que, progressivamente, interconectam-se com os âmbitos da informalidade; b) acesso
e privilégio: articulação entre a ideologia de disseminação da informação e o
desenvolvimento de ambientes exclusivos e controlados, que selecionam
rigorosamente o material e o público; c) legalidade e ilegalidade: a noção de
criminalidade pode ser interpretada pordiscursos e práticas que relativizam e
contextualizam o seu entendimento, dando espaço para uma crítica ao reducionismo
criminalista; e) altruísmo e oportunismo: redes informais funcionam sob uma
perspectiva de colaboração e compartilhamento, mas, ao mesmo tempo, a
participação nessas redes tem uma lógica oportunista.
Filiação teórica Não se pode falar, nesse caso, em uma filiação teórica, mas em uma perspectiva de
estudo das que leva em consideração i) os estudos da recepção e suas considerações
críticas acerca da passividade do espectador, em que o caráter interpretativo dos atos
de leitura sugere a possibilidade de escolha, seleção e opinião sobre os conteúdos
recebidos da mídia de massa; ii) os estudos da cibercultura, que apontam para a
viabilização técnica de emissão por parte do receptor e emergência da cultura
colaborativa; iii) a crítica cultural que apresenta a Indústria da Cultura como elemento
38
atuante na formação da identidade moderna; iv) a evidência de uma cultura pós-
massiva, que não rompe diretamente com o capitalismo monopolista, mas radicaliza e
torna mais complexa a sua lógica. Optamos pelo desafio de encontrar um caminho
que não deixe de considerar essas interpretações, pelo fato de que o pirata é um
receptor (leitor interpretante) dos conteúdos da indústria cinematográfica, sofrendo um
impacto grande dos mecanismos tradicionais de distribuição, mas que atua, também,
como emissor na esfera digital. Ainda, procuramos desenvolver uma reflexão que leve
em conta as transformações do contexto tecnológico, onde a tecnologia, sendo um
nível abstrato de conhecimento, é composta por elementos, níveis também abstratos,
de possíveis relações e automatismos entre forças, materiais, componentes e
mecanismos lógicos, que unidos funcionalmente, em determinado momento e cadeia
relacional, compõem individuações técnicas.
Impasses atuais A complexidade gerada na análise da circulação informal dos bens culturais em redes
digitais trouxe à tona a instabilidade de categorias de pensamento que pareciam
definir essencialmente a sua natureza. Por exemplo, a dualidade legal e ilegal não
pode mais ser tomada sob uma perspectiva essencialista, no sentido de que
passamos por uma desconstrução dos direitos autorais e da própria noção de autoria.
Há um descompasso entre a lei e o desenvolvimento da tecnologia, por isso o discurso
criminalista, preso a leis do início do século passado, tem dificuldade em dar conta da
complexidade da circulação informal e suas implicações econômicas e culturais, mais
especificamente, o seu impactona distribuição do produto cinematográfico. O direito do
autor é desafiado, pois o critério de valoração dado ao conhecimento e o seu registro
nem sempre é estável e depende de uma série de apropriações culturais. Ainda, a
dualidade entre formal e informal revela a desestabilização do mercado de distribuição
e sugere modelos criativos de exploração da informação e produção de mercados
culturais. Nota-se que a indústria midiática passa por uma adaptação, quando os
antigos modos de exploração perdem força diante do desenvolvimento rápido de uma
cultura digital colaborativa e pirata. Ocorre, atualmente, a transição entre modos de
exploração econômica dos bens culturais, que se adaptam aos novos tipos de suporte
e lógicas comunicacionais e onde a pirataria ou a informalidade têm impacto direto e
significativo.
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Análise da participação feminina no jogo Dota 2 no Brasil: impasses e possibilidades metodológicas
Gabriela Birnfeld Kurtz
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Resumo O objetivo do presente projeto é analisar a participação feminina no jogo para
computador Defense of the Ancients 2 (Dota 2) no Brasil, bem como a percepção dos
jogadores do gênero masculino em relação à presença das mulheres nas partidas.
Trata-se de um projeto em construção para o ingresso no doutorado em Comunicação
Social. Um artigo já foi produzido acerca do tema, contudo, a análise foi realizada de
forma exploratória, por meio da leitura de discussões em fóruns sobre o assunto. Para
o projeto, busca-se investigar com maior profundidade o tema. Para isso, pensa-se ser
necessário realizar um estudo “in loco”, ou seja, durante as partidas do jogo. Dota 2
consiste em partidas entre duas equipes de cinco jogadores que disputam para
destruir a base inimiga, por meio da escolha de heróis pré-definido. Dentro de cada
partida há duas formas de interação entre os jogadores do mesmo time: via chat
escrito e por voz. Já entre os jogadores de times adversários, há apenas a opção de
chat escrito. Por meio da observação da própria pesquisadora, as partidas de Dota 2
podem ser hostis para as mulheres, principalmente quando o diálogo se dá por voz,
ocorrendo casos de ofensas ligadas ao gênero e assédio. A principal base teórica
reside nas teorias de interação mediada por computador (PRIMO, 2011), pelo fato de
os diálogos se darem por meio de ferramentas pré-definidas. Será utilizado o conceito
da interação mútua, que exige a participação ativa de que interage, em um processo
que tem impacto recursivo sobre a relação com outros interagentes. Já para a análise
dos diálogos em si, será empregada a metodologia de Recuero (2012): a análise de
conversação em rede. Ainda que os diálogos existentes na partida não
necessariamente ocorram em um site de rede social, é importante observar que,
durante a partida de Dota 2 ocorre uma interação social entre jogadores que podem ou
não ser amigos, por exemplo. Contudo, os principais impasses residem não na forma
com a qual os diálogos serão analisados, mas como serão obtidos, já que se deseja
observar partidas de Dota 2 com mulheres jogando nos times e as situações que são
desencadeadas a partir disso. Dentre muitas técnicas de pesquisa existentes para tal
investigação, há sempre pontos positivos e pontos onde a coleta de dados pode ser
comprometida. Acredita-se que a netnografia (ou etnografia), por exemplo, seria muito
demorada, pois as chances de a pesquisadora entrar em uma partida onde existam
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jogadoras meninas no time são ínfimas. Assim, pensa-se na possibilidade de adaptar
essa netnografia/etnografia. As situações das partidas teriam de ser “montadas” por
meio do recrutamento de jogadoras e documentação em vídeo da ação, sem que se
revele o foco da pesquisa, incentivando-as a agir normalmente. Entretanto, de que
forma se pode garantir que dessa forma haveria menos intervenção por parte da
pesquisadora? Quantas partidas teriam de ser necessárias para se chegar a uma
amostragem significativa e ideal? Estes são alguns dos impasses que este
planejamento gerou até o momento.
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Análise de dados em pesquisa-formação na cibercultura
Edméia Santos
Mayra Ribeiro
Rachel Colacique
Rosemary dos Santos
Tánia Lucía Maddalena
Tatiana Rossini
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo O projeto de pesquisa “Análise de dados em pesquisa-formação na cibercultura”,
pretende investigar teorias, práticas e dispositivos que potencializem a produção,
análise e interpretação de dados produzidos em contextos de pesquisa-formação
mediados por tecnologias digitais em rede. Nos últimos 10 anos, atualizamos o
método da pesquisa-formação em contextos da cibercultura, especificamente em
práticas de educação online mediados por ambientes virtuais e redes sociais na
interface cidade/ciberespaço. Neste contexto desenvolvemos dispositivos de pesquisa,
junto ao GPDOC – grupo de pesquisa docência e cibercultura (PROPED/UERJ), onde
procuramos criar ambiências de pesquisa e formação, produzindo dados com
professores e pesquisadores praticantes em diversas redes educativas. Os dados
produzidos em coautoria se materializam em narrativas e imagens digitais. Sendo
assim, procuraremos com este projeto, compreender melhor como dialogar com estes
dados e rastros, produzindo sentidos que não só estruturem a comunicação,
circulação e divulgação científica, mas também e sobretudo, possa se constituir como
mais um espaço multirreferencial de pesquisa e formação. Para tanto, organizamos a
pesquisa em dois eixos fundantes. No eixo 1, nosso objetivo é produzir um quadro
teórico específico para a interpretação de dados em contextos digitais. Lançaremos
mão da abordagem multirreferencial, bricolando inspirações da hermenêutica crítica
com teorias pós-estruturalistas. No eixo 2, nosso objetivo é mapear e utilizar softwares
para produção e interpretação de dados em contextos digitais. Pretendemos com este
estudo, contribuir no desenvolvimento e campo das pesquisas qualitativas em
educação, atualizar o método da pesquisa-formação na cibercultura com foco na
interpretação de dados, contribuir com a formação dos praticantes culturais envolvidos
no projeto.
42
Objeto de pesquisa Pesquisa-formação na cibercultura. Os dados produzidos em coautoria se
materializam em narrativas e imagens digitais. Sendo assim, procuraremos com este
projeto, compreender melhor como dialogar com estes dados e rastros, produzindo
sentidos que não só estruturem a comunicação, circulação e divulgação científica, mas
também e sobretudo, possa se constituir como mais um espaço multirreferencial de
pesquisa e formação. A metodologia da pesquisa-formação na cibercultura é de nossa
autoria e vem sendo atualizada pelo GPDOC. Neste projeto, abordamos a metodologia
da pesquisa-formação na cibercultura a partir da nossa itinerância de pesquisa e
docência, mais especificamente com a educação e docência online, concebidas por
nós como fenômenos da cibercultura que se materializam em interface com as
práticas formativas presenciais e online mediadas por tecnologias digitais em rede.
Concebe o processo de ensinar e pesquisar a partir do compartilhamento de
narrativas, imagens, sentidos e dilemas de docentes e pesquisadores pela mediação
das interfaces digitais concebidas como dispositivos de pesquisa-formação. As
interfaces digitais incorporam os aspectos comunicacionais e pedagógicos, bem como
a emergência de um grupo-sujeito que aprende enquanto ensina e pesquisa e
pesquisa e ensina enquanto aprende. A pesquisa-formação é um método consolidado
de pesquisa, mas reconhecemos que nossa autoria encontra-se exatamente na
atualização de sua prática no contexto de docência na cibercultura. Nesse sentido,
para nós a pesquisa-formação na cibercultura parte de alguns pontos bastante caros:
• A cibercultura é a cultura contemporânea que revoluciona a comunicação, a
produção e circulação em rede de informações e conhecimentos na interface cidade–
ciberespaço. Logo, novos arranjos espaçotemporais emergem e com eles novas
práticas educativas. Sendo a cibercultura o contexto atual, não podemos pesquisar
sem a efetiva imersão em suas práticas.
• Pesquisar na cibercultura é atuar como praticante cultural produzindo dados em rede.
Os sujeitos não são meros informantes, são praticantes culturais que produzem
culturas, saberes e conhecimentos no contexto da pesquisa. Fazer pesquisa na
cibercultura não é, para nós, apenas utilizar softwares para “coletar e organizar
dados”.
• Não há pesquisa-formação desarticulada do contexto da docência. Nosso
investimento é pesquisar em sintonia com o exercício docente e no ensino que investe
na cibercultura como campo de pesquisa. Sendo assim, a educação online é contexto,
campo de pesquisa e dispositivo formativo.
• Educação online não é uma mera evolução das práticas massivas de EAD. Logo,
não separamos os contextos educativos das cidades e seus equipamentos culturais
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(escolas, universidades, movimentos sociais, museus, organizações, eventos
científicos, demais redes educativas), ainda mais em tempos de mobilidade ubíqua.
(Santos, 2005, 2014).
Os pontos acima elencados não são verdades absolutas e nem pretendem se
constituir como tal. Mas são fundamentos advindos de nossa experiência concreta de
pesquisa que vem se atualizando nos últimos anos, em diversos projetos do GPDOC –
Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura do PROPED/UERJ – Programa de Pós-
Graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. (Ver currículo Lattes).
Problema Como dialogar com os dados e rastros (narrativas e imagens) deixados pelos
praticantes no contexto da pesquisa-formação na cibercultura? Como formar e se
formar na prática da interpretação de dados na cibercultura?
Filiação teórica Metodologia de pesquisa: abordagem multirreferencial (Ardoino, Barbier, Macedo,
Coulon), teoria da complexidade (Morin), epistemologias das práticas (Nóvoa, Freire,
Josso) e estudos da cibercultura (Santaella, Lemos, Santos, Silva). O objeto de estudo
não pode ser visto como um alvo a ser atingido. É necessário perceber o objeto como
um ente vivo, que se auto-organiza pela complexidade dos processos instituídos e
instituintes em que seres humanos e objetos técnicos se implicam, se transformam e
se afetam, produzindo assim modos de ser, de pensar e de viver que vêm desafiando
os processos formativos legitimados por uma forma cartesiana, racionalista de
conhecer. Procuraremos estudar a formação e a prática docente mediadas pela
educação online não como objetos dados, mas como objetos dando-se, vivos, onde os
sentidos dos sujeitos cognoscentes – pesquisadores e demais sujeitos da pesquisa –
foram mapeados de forma hipertextual a partir de suas ações e experiências
concretas, vivenciadas no cotidiano de nossas interações no ambiente virtual de
aprendizagem, construído e gestado por nós.
Impasses atuais Que dados produzimos e interpretamos? A emergência das noções subsunçoras.
Produzir teoria e práticas de análises de dados que permitam aos pesquisadores
compreenderem a compreensão dos praticantes da pesquisa (sujeitos) para além das
clássicas abordagens de análise de dados.
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Aplicativos autóctones em franquias jornalísticas: a possível transformação de rotinas produtivas na convergência com meios digitais
Vivian Belochio
Universidade Federal do Pampa
Resumo O projeto de pesquisa tem como foco a identificação de franquias jornalísticas
(MIELNICZUK; SOUZA, 2009; ZAGO, BELOCHIO, 2014) brasileiras que seguem as
lógicas da convergência com meios digitais (BLOCHIO, 2012), realizando estratégias
em mídias móveis por meio dos aplicativos autóctones (BARBOSA, 2012; BARBOSA
et al, 2013). Estes são criados e desenvolvidos exclusivamente para as plataformas
móveis, sendo compostos por conteúdos específicos, diferentes das demais
publicações mantidas por determinadas franquias. Parte-se do entendimento de que
os sistemas de distribuição multiplataforma que envolvem tal experiência podem
interferir nos processos de produção das notícias dentro das redações, modificando-
os. Além disso, podem alterar a forma como os próprios jornalistas interpretam a
proposta editorial das suas publicações, tendo seu imaginário dominante sobre o meio
e sobre a própria prática transformados. A pesquisa envolve estudos sobre a cultura
da convergência, a convergência jornalística, a distribuição multiplataforma em redes
digitais e o jornalismo em mídias móveis. A ideia é fazer sua associação com teorias
sobre os processos produtivos clássicos no jornalismo, a fim de identificar e descrever
possíveis alterações dos mesmos nesse cenário. Os procedimentos metodológicos
propostos são a observação qualitativa indireta de publicações brasileiras
pertencentes a franquias de jornais impressos, a observação direta e a realização de
entrevistas semiestruturadas nas redações daqueles que são casos representativos,
mantendo aplicativos autóctones.
Objeto de pesquisa Estratégias em tablets realizadas por meio dos aplicativos autóctones por equipes de
franquias jornalísticas brasileiras que seguem as lógicas da convergência com meios
digitais e que têm como meio matriz o jornal impresso. Em outras palavras, a ideia é
investigar as características das publicações e dos processos produtivos de franquias
jornalísticas que disponibilizam conteúdos na Web e em mídias móveis,
especificamente os tablets. Serão identificados e observados os aplicativos que são
mantidos em tablets com conteúdos exclusivos, produzidos especialmente para a
exposição através dos referidos espaços, sem a cópia de informações das suas
45
publicações mais antigas. Igualmente, os processos de produção de notícias para os
mesmos serão observados, bem como serão averiguadas as impressões dos
jornalistas envolvidos nesse tipo de produção sobre as suas rotinas.
Problemas e Impasses atuais Entende-se que as adaptações das franquias jornalísticas às demandas dos
aplicativos autóctones podem afetar desde a estruturação dos produtos mantidos
pelas organizações até os seus sistemas de apuração, composição e circulação das
notícias, entre outros. Isso tendo em vista a ideia de que, nesses contextos, “já não se
tem uma oposição entre meios antigos/tradicionais e os new media” (BARBOSA, 2013,
p.34). Tal aspecto marca a complexificação das rotinas produtivas e a possibilidade de
modificação das mesmas. Acredita-se que as referidas movimentações podem
influenciar as formas de pensar o fazer jornalístico nas redações. Isso porque novos e
diferentes espaços para a produção e a publicação de conteúdos jornalísticos
passaram a integrar as estratégias de meios que, antes, direcionavam suas produções
para plataformas de mídia já naturalizadas. Borram-se as fronteiras entre as
especificidades da produção noticiosa nas rotinas produtivas dos jornalistas que atuam
em franquias? À medida que os profissionais precisam pensar de maneira
diversificada a produção cotidiana das notícias, não podendo mais trabalhar apenas
para suportes familiares, necessitam alargar os seus limites de atuação. Ampliam-se
as referências convencionais sobre as formas de apuração e de produção para
determinados meios jornalísticos. Um jornal impresso que passa a ser multiplataforma
se transforma em um outro tipo de veículo? Compreende-se que a modificação dos
processos de produção das equipes de franquias que trabalham com aplicativos
autóctones pode alterar a forma como os próprios jornalistas interpretam a proposta
editorial das suas publicações, tendo seu imaginário dominante(MACHADO, 2006)
sobre o meio e sobre a própria prática transformados. Sendo assim, considera-se tal
questão relevante para a presente pesquisa. Acredita-se que ela pode ser inserida no
projeto de pesquisa, o que poderia alterar os procedimentos metodológicos a serem
aplicados.
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Aplicativos site specific: desafios metodológicos na pesquisa de mídias locativas
Tiago Ricciardi Correa Lopes
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo O relato trata das dificuldades de pesquisa relativas ao processo de realização de
minha tese de doutoramento – intitulada “Aura e vestígios do audiovisual em
experiências estéticas com mídias locativas: performances algorítmicas do corpo no
espaço urbano”, a tese foi defendida em 2014 no Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e contou com a
orientação da professora Suzana Kilpp.
Tema A pesquisa tratou dos novos regimes de visualidade que comparecem no campo dos
formatos audiovisuais que empregam tecnologias móveis de telecomunicação e
geolocalização em seus processos formais e estéticos.
Objeto de pesquisa Foram analisadas propostas de experimentação com mídias móveis em projetos
artísticos, turísticos, publicitários, dentre outros, os quais atualizam o cinema e outras
formas audiovisuais em experiências nas quais o ambiente de recepção e a
performance corporal do espectador ganham centralidade.
Problema Num contexto em que a imagem técnica dialoga diretamente com o espaço em que o
espectador encontra-se situado, como tal qualidade do dispositivo audiovisual afeta a
própria experiência de recepção da imagem? E como, por outro lado, afeta a
percepção do próprio ambiente (espacial) em que a experiência toma forma?
Filiação teórica Em seus vários quadros de recuperação teórica a pesquisa baseou-se, de modo geral,
nos seguintes autores: Para uma reflexão sobre os impactos da técnica sobre a
cultura, a inspiração veio dos textos de autores como Walter Benjamin, Marshall
McLuhan e Lev Manovich. Acerca das dimensões estéticas estabelecidas nas
performances entre o corpo e o aparato técnico, os principais autores foram Hans
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Gumbrecht, Didi-Huberman e Mark Hansen. Outros autores respaldaram o referencial
sobre a produção artística histórica e contemporânea, dentre os quais destacam-se
André Lemos, Arlindo Machado, Phillipe Dubois, Gisele Beiguelman, Priscila Arantes,
Christine Mello, Michael Rush e André Parente.
Impasses atuais Nos projetos analisados durante a pesquisa nem sempre nos deparamos com uma
configuração da imagem tal como estamos habituados a encontrar nas mídias
audiovisuais “tradicionais” (como no cinema e na televisão) e, por conta disso, uma
das principais dificuldades da pesquisa foi justamente encontrar uma maneira de
viabilizar a análise dos materiais, seja em termos de como abordá-los teoricamente,
seja em termos de como observá-los empiricamente. Do ponto de vista de uma
abordagem teórica, as dificuldades apareceram, antes de tudo, porque os fenômenos
em questão não se deixam circunscrever a nenhum domínio em específico, estando
posicionados em zonas difusas de interseção entre diversos campos midiáticos e
artísticos. Assim, o problema de partida para um estudo aprofundado dos objetos
tornou-se constantemente recorrente: onde situá-lo primeiramente? No campo de
estudos do cinema, da imagem eletrônica, da web, das artes do espaço (arquitetura,
escultura, instalação, performance)? A questão se tornava então como desenvolver
um método de investigação que não privilegiasse por demais uma das áreas a ponto
de obscurecer as relações com as demais. Além do problema de lidar com os objetos
em nível teórico-epistemológico, ao longo da pesquisa surgiu ainda um outro
problema, de nível ainda mais elementar, que era como proceder em relação ao
tratamento formal dos observáveis, visto que os casos investigados se mostraram, de
certa maneira, “incapturáveis”, principalmente quando comparados a outros objetos
comunicacionais, tais como filmes, músicas, programas de TV etc., que, para fins de
investigação, permitem que sejam deslocados de seus contextos de origem,
principalmente através de cópias em outras matrizes de registro que não aquelas que
os originaram. No contexto da minha pesquisa, a intangibilidade e a efemeridade são
características inerentes aos objetos: seja porque são produzidos para acontecerem
uma única vez ou durante um período de tempo, como nos casos de projetos de
intervenção realizados durante festivais, mostras e eventos; seja em decorrência de
fatores contingenciais, referentes a questões de registro e armazenamento que muitas
vezes fogem ao controle do pesquisador, como, por exemplo, a obsolescência a que
os materiais se submetem toda vez que mudam os hardwares, sistemas operacionais,
plugins etc. É claro que tais problemas são também problemas que outros
pesquisadores acabam tendo que se deparar em diferentes contextos. Por exemplo, o
48
problema da efemeridade dos materiais constitui também uma dificuldade para
aqueles que estudam fenômenos como a arte urbana ou a performance artística. Já as
questões de registro e armazenamento dos materiais é um obstáculo comum àqueles
que estudam a web – no caso destes últimos é comum conviverem com o receio, para
não dizer medo, que se origina dos riscos de que seus objetos de observação sejam
radicalmente alterados por terceiros ou que simplesmente “desapareçam” da noite
para o dia, quase sempre por iniciativa dos próprios detentores do material, falhas no
sistema de hospedagem do site ou até mesmo por causa de eventuais invasões de
hackers. No caso da minha pesquisa, na maioria das vezes eu até conseguia ter
acesso ao software do projeto (por exemplo, uma determinada aplicação de telefone
celular), no entanto, o lugar, isto é, o território físico e geográfico em que a experiência
de uso do software efetivamente deveria acontecer, estava situado a milhares de
quilômetros de onde eu estava. Como então estudar em profundidade um fenômeno
cujos objetivos empíricos não podiam ser experimentados em suas condições ideais?
Em resumo, foram estas as principais dificuldades metodológicas que tive de enfrentar
durante a realização da pesquisa de Doutorado, as quais foram importantes para que
eu e minha orientadora conseguíssemos inventar caminhos (e também alguns
desvios) para superá-las.
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Apropriação Cultural dos fãs brasileiros de K-POP através das práticas de shippagem no Facebook
Larissa Barbieri Tassinari
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo Esse trabalho tem como objetivo analisar a forma como os fãs brasileiros de K-POP –
o pop coreano – se apropriam da cultura que origina a música que consomem, da
Coreia do Sul. Para isso foi utilizado como embasamento o estudo sobre fãs, assim
como aquele sobre Celebridades. Foi também contextualizada a história da música
popular coreana desde o período pós-guerra. Para chegar às conclusões necessárias,
durante esse trabalho foram analisadas páginas e grupos de fãs no Facebook e, a
partir do comportamento dos fãs nesses espaços, percebido a forma como eles
reagem à ideia do ship – o casal no qual fãs esperam e torcem para que haja um
relacionamento real. Entre fãs de K-POP há um investimento intenso, incentivado pela
indústria musical e do entretenimento, para que essa prática, de shippagem, exista.
Sendo assim, foi decidido estudar a apropriação cultural do fandom brasileiro de K-
POP a partir, justamente, das práticas de shippagem em relação àquelas coreanas.
Durante o decorrer do estudo, onde foi aplicada como metodologia principal a Teoria
Fundamentada (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011), surgiram uma diversidade
de impasses que geraram questionamentos em relação à pesquisa; por ser um tema
novo e pouco estudado no Brasil havia uma quantidade relativamente grande de
ângulos que poderiam direcionar esse trabalho. A grande dificuldade foi escolher o
caminho ideal para guiar a pesquisa, onde tiveram de ser levados em contas fatores
como o tempo disponível para análise e coleta de dados. A novidade do tema, por
mais que apresente em si um fator positivo, também expôs a realidade de ter que usar
como embasamento apenas autores estrangeiros. Foram uma série de decisões
importantes tomadas para que essa pesquisa chegasse aos seus resultados finais,
com considerações de que há de fato uma aculturação e hibridização cultural por parte
desse fandom ao realizarem essas práticas de shippagem, principalmente a partir do
modo como os fãs apropriam-se da “forma de shippar” cunhada pelos fãs coreanos.
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Argumentação política no Facebook: as estratégias dos candidatos para a construção de imagem
Felipe Bonow Soares
Universidade Católica de Pelotas
Resumo Esta pesquisa tem como tema a comunicação política nos sites de redes sociais
(SRS), em específico o Facebook. O que se pretende é analisar como se comportam
os candidatos neste espaço e quais as estratégias adotadas para a construção de si
em rede. Para isto, alguns conceitos importantes já estão sendo trabalhados. Sobre
SRS e conversação em rede, os elementos centrais são: capital social, entendido
como um valor (recurso) que possui primeiro nível (individual) e segundo nível
(coletivo); a discussão sobre linguagem na Internet, que é vista pela maioria dos
autores como uma escrita com características marcantes da fala, ainda que, pensa-se
no âmbito deste estudo, pode variar de acordo com o contexto e o tipo de relação
entre os interlocutores, de modo que pode ter características da fala ou da escrita não
só em função da ferramenta, mas, principalmente, pela apropriação dada pelos atores;
a construção da identidade, que é realizada em rede por meio de atos performáticos e
em função de um outro; e a audiência invisível, que possui relação direta com o ponto
anterior, vista como a relação sem copresença física entre interlocutores, de modo que
o outro é apenas imaginado, assim também modificando as ideias sobre adequação
da mensagem. Sobre estes temas os principais autores já trabalhados são: Raquel
Recuero, Nan Lin, José Gaston Hilgert e Susan Barnes. A questão da política e da
argumentação também é essencial para o estudo, por isso são trabalhados os
seguintes conceitos: a imagem da Retórica Mediatizada de António Fidalgo
(reinvenção da retórica aristotélica com foco nos meios), para o autor, o ethos, antes
construído na mensagem e a cada prestação, se transforma em imagem e o orador se
constrói quase como um produto publicitário; os argumentos de ligação de Chaïm
Perelman, também derivados da retórica aristotélica, que servem para observar o tipo
de argumentação desenvolvida por cada orador; e as relações entre a política e a
Internet, utilizando Santos e Rodrigues e também Espírito Santo e Figueiras. Percebe-
se, como um primeiro problema, a necessidade de um aprofundamento em tópicos
relacionados com a esfera pública e as disputas de poder entre as linhas de
pensamento dos candidatos. O segundo problema está no corpus de análise. A ideia
inicial seria observar as publicações no Facebook dos candidatos à prefeitura de
Pelotas (RS) em 2016, sendo os dados coletados no período pré-eleitoral (março a
51
maio) e no período eleitoral (agosto a outubro), para analisar as possíveis mudanças
de comportamento. O problema principal, porém, está na metodologia. É possível
selecionar publicações e realizar uma descrição a partir dos conceitos anteriormente
citados, mas pretende-se ir além disso. Como, então, realizar um método não apenas
descritivo? Que metodologia parece mais apropriada para isso? Como definir e
selecionar a amostra do corpus para o estudo? Quais outros autores e conceitos
podem ser interessantes para um aprofundamento maior no tema da pesquisa? Se for
relevante, que tipo de análise de redes pode ser realizada em apoio à análise das
publicações? Enfim, quais os passos seguintes?
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As inferências do queer nas linguagens que emergem em veículos jornalísticos de cultura pop
Christian Gonzatti
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo O projeto de pesquisa propõe a análise de produções jornalísticas específicas do
universo pop, tendo como foco o estudo das linguagens que emergem nestes meios e
que conversam com a teoria queer (1)(BUTLER, 2012; PRECIADO, 2014), para
entender até em que ponto as especificidades percebidas podem apontar
transformações em níveis culturais e sociais. As articulações entre
ciberacontecimentos (2) (HENN, 2014), identidades, gêneros e sexualidades (HALL,
2000; LOURO, 2013), convergência e espalhamento (JENKINS, 2008; JENKINS et al.,
2013) e hipermídia (SANTAELLA, 2009) trazem apontamentos importantes para
entender as características destas processualidades em que expressões como
“destruidora”, “bixa”, “dona do meu cú” são, algumas vezes, incorporadas nas matérias
e nos títulos de chamada em sites de redes sociais, ganhando sentidos diferentes,
concordando, assim, com a desconstrução sinalizada por teóricos queer e com o
estudo de memes (DAWKINS, 2007; HENN, 2014) vistos, aqui, como um fenômeno
que vai além da alta replicação e que funciona como propulsor de todos processos
culturais. O projeto traz visa o estudo de processos midiáticos que se desdobram,
considerando a cibersociabilidade (LEMOS, 2007), em produtos jornalísticos que
conversam com o universo digital e com questões sociais e culturais que ganham
ressignificações no universo da cultura digital. Foi escolhido como objeto de análise,
por ser um dos veículos de cultura pop com maior visibilidade no Brasil, o Papel Pop.
Questiona-se, então, qual metodologia poderia identificar a inferência de uma possível
linguagem que foge da normatividade e que sinaliza movimentos de desconstrução,
ganhando reverberação através da cultura pop, na relação entre conteúdo das
matérias e comentários nas redes sociais do objeto? Para o estudo, as matérias e os
comentários serão percebidos através de uma perspectiva semiótica (PEIRCE, 2002),
sendo a semiosfera (LOTMAN, 1996) um universo de signos e as semioses as ações
destes signos que desenvolvem sentidos específicos. Assim, todo signo é,
consequentemente, linguagem (HENN, 2014). (1) A teoria queer, entre outras
abrangências, busca a desconstrução dos binarismos e das imposições de gêneros e
sexualidades. Assim como o termo queer teve a sua carga pejorativa desconstruída,
os termos apresentados também passaram por um processo de reestruturação de
53
sentido. (2) Os ciberacontecimentos são acontecimentos tramados em sites de redes
sociais.
Objeto de pesquisa Papel Pop.
Problema Qual a implicação do queer nas linguagens que emergem na semiosfera inaugurada
pelo Papel Pop, veículo jornalístico de cultura pop? E como as especificidades
percebidas sinalizam transformações em níveis culturais e sociais?
Filiação teórica Teoria queer, gêneros, sexualidade, identidades: Beatriz Preciado, Judith Butler,
Guacira Lopes Louro, Michael Foucault, Stuart Hall. Linguagem, semiosfera,
ciberacontecimentos: Lucia Santaella, Iuri Lotman, Ronaldo Henn. Cultura Pop:
Adriana Amaral, Simone Pereira de Sá. Redes sociais, convergência, espalhamento:
Raquel Recuero, Jenkins, Sam Ford e John Green.
Impasses atuais Definição de uma metodologia que consiga atender às necessidades do problema.
Novas perspectivas e apontamentos teóricos. Verificação do problema.
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As materialidades do retrato fotográfico e suas sensações, a partir do olhar do retratado
Alexandre Davi Borges
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo O retrato fotográfico representa, há muito tempo, o indicativo de representação dos
sujeitos fotografados. Esta seria a principal façanha do retrato: espelhar (perceba-se
desde já a proximidade com a natureza especular) o sujeito posto à frente da câmera
para o registro, presumidamente, perene do indivíduo. Mas o retrato o fotográfico faz
bem mais. Contribui para a afirmação moderna do individuo, na medida em que
participa da configuração de sua identidade como identidade social. Todo retrato é
simultaneamente um ator social e um ato de sociabilidade: nos diversos momentos de
sua história obedece a determinadas normas de representação que regem as
modalidades de figuração do modelo, a ostentação que ele faz de si mesmo e as
múltiplas percepções simbólicas suscitadas no intercâmbio social. O modelo oferece à
objetiva não apenas seu corpo, mas igualmente sua maneira de conceber o espaço
material e social, inserindo-se em uma rede de relações complexas, das quais o
retrato é um dos emblemas mais significativos (FABRIS, pg. 38-39). Entendido como
parte da construção social dos sujeitos, a ação fotográfica busca centralizar o
enquadramento daquele que é fotografado, muitas vezes, sobre seu rosto. Sintoma da
familiaridade que o rosto nos convoca, justamente por estarmos, no convívio social,
normalmente olhando para rostos, a obtenção fotográfica contempla prioritariamente a
face do sujeito. Assim o é desde a pintura. A concentração sobre a face é reveladora
pois, como contextualiza Fabris em relação ao trabalho de Felix Nadar, no início do
século: “Atento observador do ser humano, imbuído das ideias fisionômicas que
circulavam no seu tempo, Nadar concentra no rosto a expressão do caráter do
indivíduo” (FABRIS, pg. 24). Contudo, o rosto fotografado sempre nos devolve um
olhar. Do olhar atento que o fotógrafo lançou sobre o retratado, ao olhar de um
observador do próprio retrato (impresso ou em telas luminosas) sempre encontramos,
nos sujeitos fotografados, um olhar que em maior ou menor grau revela-nos (ou
lembra) a existência do espaço contíguo aos limites das bordas. Pode ser através de
um olhar oblíquo à câmera ou de um olhar direto contra a câmera. Ao olhar oblíquo,
aquele que o sujeito olha para o lado da câmera (e não diretamente a ela) já percebe-
se um sinal da existência, e importância, do espaço contextualizado da obtenção. Mais
impetuoso e significativo para este estudo, aquele olhar que mira a própria câmera
55
parece fazer com que o espaço capturado seja “devolvido” e cooptado, ampliando o
espectro da circunstância – toda a espacialidade do ato. O espaço projetado sobre o
retratado parece voltar como inércia e pretensamente nos coloca (como fotógrafo ou
observador) no mesmo lugar e instante que o fotografado, promovendo certa sincronia
espaço-temporal, mesmo que o retratado esteja, inclusive, morto. Entendendo a
materialidade como “todos os fenômenos e condições que contribuem para a
produção de sentido, sem serem, eles mesmos, sentido” (GUMBRECHT, p. 28), a
percepção destas materialidades na obtenção e exposição fotográfica revela a
complexificação do entendimento espacial que, a partir do retrato fotográfico, busca
superar o conceito de análise centrado no produto fotográfico (o próprio retrato), mas
também busca suplantar os conceitos centrados no entendimento da produção (o
fotógrafo e sua cultura, seus saberes, etc..). Entender como se dão as circunstâncias
de obtenção e observação que envolvem a presença dos sujeitos, os cenários, o
equipamento, devem ser consideradas como estratégias para ampliar o saber sobre a
prática fotográfica. O questionamento central deste problema é que, a partir do conflito
instaurado nas fotografias identitárias, através das quais afirmo quem sou – ou
imagino que sou – pode-se considerar que todos os retratos passariam a ser
considerados como autoretratos pois, mesmo que não tenham sido tirados por si
próprio, serão sempre produto de escolha de determinada representação intencional.
Parte-se da idéia trazida por Gumbrecht, das materialidades da comunicação, quando
afirma que seu “fascínio fundamental surgiu da questão de saber como os diferentes
meios – as diferentes materialidades – de comunicação afetariam o sentido que
transportavam” (GUMBRECHT, pg. 32). Sob esta ótica, os perfis dos sujeitos – e
nossos – na web, também como forma (auto)representativa, podem ser considerados
como autoretratos, pois projetariam aquele que achamos que somos (ou gostaríamos
de ser) mas ancorado pela possibilidade dinâmica de uma multiplicidade de facetas,
apropriadas ao tempo e ao espaço. Em outros termos: se antes o retrato, por força das
circustâncias, era físico e (quase) único, atualmente podemos considerar que as
identidades seriam mutantes e adaptadas ao tempo em que se encontra exposta.
Frente aos diferentes modos de expor a identidade nas redes sociais, amparadas pela
própria possibilidade dos meios, a dúvida estaria centrada sobre: quais perfis seriam
representativos para uma abordagem que exemplifique a materialidade? Seriam mais
adequadas as imagens dos perfis do Facebook ou do Instagram, por exemplo? Qual
escolha ajudaria a identificar como o olhar se envolve neste processo? Que nível de
aproximação (física) do retrato seria pertinente analisar para relacionar o olhar para a
câmera e o que se vê no retrato como elementos de cenário? Em outras palavras, a
principal angústia que trava o processo atualmente seria: como definir um corpus que
56
seja representativo frente à força conceitual que nos joga simultaneamente para
dentro e para fora da imagem dos retratados?
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Banda independente como manifestação cultural no contexto da cibercultura – o caso da Apanhador Só
Belisa Zoehler Giorgis
Universidade Feevale
Resumo O tema do trabalho é a trajetória e as diferentes articulações da banda independente
Apanhador Só, de Porto Alegre, cujo desenvolvimento é imbricado com o contexto da
cibercultura, em que vem se articulando a reconfiguração da indústria fonográfica a
partir da modificação dos meios de produção, comunicação e distribuição, por conta
da popularização da Internet. Esse ambiente propiciou o surgimento e consolidação de
artistas e bandas independentes. A Apanhador Só trata-se de um caso emblemático
nesse contexto, pois vem realizando a utilização de uma série de estratégias
comunicacionais para formação de público, a viabilização financeira de projetos por
meio de crowdfunding e o uso de diferentes formas de distribuição de seu trabalho,
como download, streaming, vinil e fita cassette, para além do CD. A banda já lançou
três álbuns e um compacto, e conta hoje com uma forte base de fãs, que esgotam os
ingressos de seus shows rapidamente. No ambiente atual, com a oportunização de
que trabalhos de bandas e artistas independentes sejam viabilizados a partir da
reconfiguração da indústria fonográfica, faz-se necessário um olhar à forma como isso
se articula, pois, mesmo com as facilidades propiciadas pela tecnologia, há bandas e
artistas que não conseguem fazer seu trabalho acontecer com a utilização das
ferramentas disponíveis. Diante disso, coloca-se o problema de pesquisa: como,
tratando-se de uma manifestação cultural, se articula no contexto da cibercultura a
trajetória da banda independente Apanhador Só? Para este estudo se pretende utilizar
como metodologia a pesquisa documental e bibliográfica, de caráter quantitativo e
qualitativo, e exploratória, com utilização de método etnográfico por meio de
observação participante e entrevistas. O embasamento teórico trará as seguintes
concepções: de cultura e identidade, relacionadas ao contexto contemporâneo da pós-
modernidade (Clifford Geertz, Roy Wagner e Stuart Hall); questões de sociabilidade
(Michel Maffesoli e Georg Simmel); etnografia (Clifford Geertz e James Clifford); a
busca da ruptura da dicotomia entre o real e o virtual neste processo (Suely Fragoso,
Raquel Recuero e Adriana Amaral, Christine Hine e Erick Felinto); o aprofundamento
do contexto tecnológico a partir da cibercultura (André Lemos e Pierre Lévy),
convergência, conexão e transmídia (Henry Jenkins), remediação (Richard Grusin e
Jay David Bolter), retromania (Simon Reynolds), as relações entre música e tecnologia
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na cultura (Timothy Taylor), arqueologia da mídia (Siegfried Zielinski), ecologia da
mídia (Michael Goddard), estética do videoclipe (Thiago Soares) e materialidades e
experiência estética (Hans Ulrich Gumbrecht); do contexto musical de Porto Alegre
(Luiz Antonio Gloger Maroneze, Arthur de Faria, Mauro Borba, Leo Felipe, Charles Di
Pinto e Gustavo Borba); e questões relacionadas a mercado fonográfico e cenas
musicais (Matheus Berger Kuschick, Micael Herschmann, Ticiano Paludo, Will Straw,
Jeder Janotti Jr., Simone Pereira de Sá e Beatriz Polivanov). No momento, os
impasses metodológicos estão centrados no questionamento de por onde exatamente
iniciar a trajetória metodológica e quais os passos mais adequados a seguir. A autora
vem coletando os mais diversos materiais e informações sobre a banda, seja em seu
site, em seus perfis em redes sociais, e vem adquirindo os álbuns e frequentado os
shows que acontecem em Porto Alegre. Busca-se, neste momento, desenvolver um
olhar sobre isso que propicie pensar caminhos e articular uma crítica que possibilite a
realização de uma descrição e posterior análise. No entanto, cabe uma discussão dos
mais adequados caminhos, de forma a otimizar o uso das informações e o
aproveitamento das oportunidades.
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Cidadania comunicativa cinematográfica aflorada e expressa através da recepção de sessões de cinema
Maytê Ramos Pires
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Objeto de pesquisa Meu objeto de estudo é a Sessão Aurora, uma sessão de cinema promovida desde
2013 pelos editores do Zinematógrafo – fanzine de crítica de cinema produzido em
Porto Alegre – que tem como diferencial o fato de ser gratuita e promover um debate
com mediação dos editores ao final dos filmes. Minha pesquisa busca investigar e
compreender o processo de recepção da oferta fílmica da Sessão Aurora e suas
relações com o desenvolvimento da cidadania comunicativa cinematográfica ao
contextualizar aspectos relativos ao circuito de cinemas alternativos de Porto Alegre,
considerando as relações que se estabelecem com o circuito comercial e com o
contexto cinematográfico nacional, latino-americano e internacional a partir dos usos e
apropriações da oferta da Aurora desde as competências dos sujeitos.
Problema Meu problema está composto por uma questão central e cinco específicas, a saber:
Questão central: Como se dá o processo de recepção da Sessão Aurora pelo seu
público e como se vincula à constituição da cidadania comunicativa cinematográfica?
Questionamentos específicos: – Como os objetivos, a proposta cinematográfica e as
estratégias de configuração dos debates constituem o processo de recepção da
Sessão Aurora? – Quais são os usos e apropriações que o público faz da oferta fílmica
e das atividades de reflexão realizadas pela Sessão Aurora? – Como se constitui a
Sessão Autora, como se realizam os debates, a mediação dos realizadores e a
participação do público? Que negociações, significações e conflitos se expressam nas
sessões? – Como as competências midiáticas, culturais e cinematográficas dos
espectadores se articulam às apropriações por eles realizadas? – Quais são as
possibilidades e limitações que surgem na oferta e nas apropriações da Sessão
Aurora para a promoção de uma cidadania comunicativa cinematográfica?
Filiação teórica Minha fundamentação teórica está ancorada, principalmente, nos conceitos de
cidadania comunicativa cinematográfica (CAMACHO, 2004; CORTINA, 2005; FAXINA,
60
2012; GARCÍA CANCLINI, 2010; MATA, 2006; MONJE, 2009), midiatização
(HJARVARD, 2014; SILVERSTONE, 2002; MALDONADO, 2002, 2011; VERÓN, 2014;
SODRÉ, 2006; MARTÍN-BARBERO, 2002, 2006, 2013), mediações (MALDONADO,
2002,2011; MARTÍN-BARBERO, 2002, 2006, 2013), apropriações midiáticas (HALL,
2009; GARCÍA CANCLINI, 2010; MALDONADO, 2002; MARTÍN-BARBERO, 2002,
2013), cinema (BOURDIEU, 2007; GARCÍA CANCLINI, 2010; GATTI, 2000; LOPES,
2002; MACHADO, 2007; MARTÍN-BARBERO, 2013; MASCARELLO, 2001, 2005) e
recepção (CERTEAU, 1994; GARCÍA CANCLINI, 2010; LOPES, 2002; MARTÍN-
BARBERO, 2002). São autores iniciais, mas que já vejo potencialidades para trabalhar
o que me proponho pesquisar na dissertação.
Impasses atuais Minha pesquisa está intitulada, até o momento, como Cenário de cidadania
comunicativa cinematográfica: a recepção da proposta cinematográfica da Sessão
Aurora, pois penso que o título deva exprimir o cerne da pesquisa. Entretanto, ainda
tenho dúvidas em relação à abordagem e às estratégias metodológicas para o
desenvolvimento da pesquisa de recepção pensando sua vinculação com a cidadania
comunicativa cinematográfica. Penso que a observação das sessões e entrevistas
com os sujeitos que a compõem – público, idealizadores e realizadores – sejam
elementos imprescindíveis para o desenvolvimento da investigação, mas sigo em
dúvida em como realizá-las, que elementos destacar, como abordar os sujeitos
comunicantes que compõem a sessão – me refiro aos espectadores, visto que já estou
em contato idealizadores e realizadores da Aurora, tanto membros do Zinematógrafo
quanto funcionários da Sala P. F. Gastal. Estas dúvidas me acompanham desde a
formulação do projeto e agora se intensificaram ao adentar no segundo semestre do
primeiro ano de Mestrado, percebendo a necessidade de iniciar a pesquisa
exploratória nas sessões antes da qualificação (fase que estou vivenciando
atualmente, mas ainda a nível documental – procurando informações no que o aparato
online oferece, com dificuldades para projetar as observações que, a princípio, penso
serem necessárias nessa fase um conjunto de quatro ou cinco), para após o diálogo
com os professores adentrar na pesquisa sistemática. Deste modo, levo para a
discussão na Jornada dúvidas de caráter metodológico, mas assumindo meu caráter
de iniciante no fazer de pesquisadora me propondo a problematizar também
contribuições que possam surgir em relação a outros aspectos da investigação que
estou desenvolvendo.
61
Comunicação e mobilidade urbana: propostas de conteúdo informativo e jornalístico para dispositivos móveis em Buenos Aires, Argentina
Lucas Durr Missau
Universidad Nacional de La Plata
Resumo A crescente utilização de dispositivos móveis tem impulsionado transformações
paradigmáticas em distintas áreas do conhecimento. Os estudos de comunicação, que
se dedicam a investigar essas mudanças, têm evidenciado o papel central que a área
ocupa diante das práticas sociais contemporâneas. Ainda assim, seguimos com
dificuldades teórico-metodológicas para a apreensão de tais fenômenos. Nesse
contexto, apresentamos inquietudes referentes a um trabalho de investigação que
articula comunicação e mobilidade urbana nesse panorama de desenvolvimento e
implementação de novas tecnologias. O estudo busca investigar os aplicativos de
dispositivos móveis utilizados para a mobilidade urbana em Buenos Aires (Argentina) e
refletir sobre os processos de produção, intercâmbio e consumo simbólico que
ocorrem entre sujeitos, meios e linguagens nesse ambiente tecnológico. A partir dessa
perspectiva, propomos pensar formatos de conteúdo informativo e jornalístico que
possibilitem aos usuários o acesso a informações e contribua para que atuem como
produtores de conteúdo e autores de sua própria experiência de mobilidade. De um
lado, refletimos sobre o jornalismo digital e como o uso das redes sociais e dos
dispositivos móveis impacta nas rotinas de produtores de conteúdo e trazem
consequências para os consumidores em diversos aspectos de suas vidas. De outro, a
partir da mobilidade urbana, analisamos o desenvolvimento de novas ferramentas e
sua contribuição para uma experiência equitativa e democrática por parte dos
usuários. Em “Homo mobilis – la nueva era de la movilidad” (2008), George Amar
sustenta que a comunicação tem um papel importante nesse sentido, pois a utilidade
dos seus produtos se transforma de um modelo baseado em oferecer informações
para o trânsito de pedestres a um modelo que fornece as condições para que os
usuários tenham disponíveis as ferramentas de comunicação que necessitem para
atuar como emissores de mensagens, dados e informações. A análise que fazemos
em nosso trabalho engloba as potencialidades dos produtos midiáticos com uso
destinado à mobilidade urbana, considerando também os aspectos restritivos do
contexto social, cultural, econômico e político. Dessa forma, temos inquietudes em
relação às abordagens conceituais possíveis, bem como à configuração de uma
metodologia adequada. Em linhas gerais, nos encontramos em um momento de
62
dúvida entre analisar as mediações e a midiatização, ou buscar a articulação entre
essas duas perspectivas. Nossa proposta de estudo abarca a apreensão dos
fenômenos mencionados e reflete sobre as particularidades do desenvolvimento
cultural e socioeconômico nos países latino-americanos, onde operam processos
como a desigualdade e a exclusão social. Também, apresentamos dificuldades na
elaboração da metodologia devido ao caráter disperso e fluido do paradigma
contemporâneo de mobilidade urbana, o qual enfoca os sujeitos muito além dos
tradicionais modos de transporte. Tendemos a uma abordagem etnográfica crítica, no
entanto, ainda não definimos os instrumentos e as ferramentas adequadas aos nossos
objetivos.
63
Comunicação Mediada pelo Computador, Redes Sociais, Internet, Discurso, Linguagem, Preconceito Linguístico
Natalia Giusti Radtke
Universidade Católica de Pelotas
Resumo A língua como produto social estabelece relações de poder entre sujeitos. A
concepção de sujeito em questão, é aquela da Análise do Discurso (AD) de Pêcheux,
que se utiliza do marxismo, da psicanálise e da linguística para criar a disciplina em
questão. O sujeito se crê dono de suas escolhas mas, no entanto é interpelado por
ideologia, a qual está sob seu inconsciente e regula toda escolha, forma interpretação
e sentido. Partindo de uma hipótese de que o preconceito linguístico1, pode ser
utilizado como uma forma de silenciamento que parte de uma posição sujeito para
outra, a pesquisa busca através de preceitos da sociolinguística trazer à tona marcas
de socioletos e variações linguísticas regionais e diastráticas além de, através da AD,
expor os discursos que são utilizados como ferramenta de deslegitimação e
silenciamento através preconceito linguístico e do site de rede social Facebook. A
internet nos últimos anos se popularizou de tal maneira que até mesmo as pessoas
consideradas de baixa renda e sem educação formal de qualidade, que antigamente
não teriam condições de ter acesso à rede, estão se conectando à mesma cada vez
mais. Também, neste estudo é levado em consideração as características próprias do
suporte o qual estes usuários estão expostos, e a imediatividade de resposta o que faz
com que cresça o grande número de erros gramaticais de toda ordem nas conversas
informais que acontecem pelas redes, e apesar de ser empírico que a gramática
normativa não rege as regras dos textos na internet é possível enxergar manifestações
de preconceito linguístico em discussões na rede, além de discursos preconceituosos,
mascarados de ‘bom português’ que podem, através da ferramenta, ser facilmente
proliferados e legitimados através de botões como ‘curtir’ e ‘compartilhar’. Em um
primeiro momento se utiliza preceitos básicos da Sociolinguística, que nos apresenta a
língua como um fenômeno natural e social, heterogêneo e plural. Usa-se também,
preceitos do preconceito linguístico no Brasil, através do autor Marcos Bagno e, por
fim, para caracterizar o texto na internet, utiliza-se também como base o artigo
intitulado “A construção do texto “falado” por escrito: a conversação na internet” de
José Gaston Hilgert além do apoio bibliográfico no livro “Redes Sociais da Internet” de
Raquel Recuero. Assim pretende-se caracterizar a língua brasileira utilizada na
internet e redes sociais (mais especificamente no Facebook), mostrar as marcas das
64
diferentes variantes do Português Brasileiro da Internet (PBI) em relação ao Português
Brasileiro Falado (PBF), para que, posteriormente possa ser feita uma análise de
como esse discurso que é silenciador circula na web, além de tentar expor a
subjetividade que a língua e os discursos carregam com ideologias, formações
discursivas e suas posições sujeito segundo a AD.
Objeto de pesquisa Postagens no Facebook em perfis pessoais e de comunidades, memes e comentários.
Problema O preconceito linguístico na internet, suas características e discurso.
Filiação teórica Análise de Discurso. Sociolinguística. Análise de Redes.
Impasses atuais Em ambas filiações teóricas abordadas, tanto a sociolinguística como a AD, a língua é
afetada por fatores externos, entretanto, estes fatores externos são divergentes nas
teorias. A grande questão é: como utilizar as duas disciplinas lado a lado aplicada à
comunicação media pelo computar? Considera-se somente parte de uma teoria e
parte de outra? Mistura-se as duas? Na sociolinguística a exterioridade que influi na
variação linguística possui relação com posições sociais ocupadas pelos agentes
falantes de uma língua (emissor e receptor), ou seja, leva-se em consideração faixa
etária, classe social, profissão, região geográfica. O Brasil sendo um país com um
território geográfico extenso e uma população diversificada, possui uma imensa gama
de variações tendo uma forte heterogeneidade linguística, ou seja, ao revés da AD a
sócio não trabalha com a relação de sentidos, não trabalha com o subjetivo, e sim com
o que está dado, com o fato linguístico. A AD considera a exterioridade de forma
distinta, levando em consideração o materialismo histórico, as formações discursivas
(ideologia) e as relações de sentido e as posições sujeitos, ocupadas pelos emissores
dos discursos. Como utilizar a Sociolinguística ao lado da Análise de Discurso, sendo
que a segunda faz uma crítica a primeira devido ao fato de a primeira não levar em
consideração o materialismo histórico. Além disso, é possível criar uma teoria
discursiva do preconceito linguístico dentro e fora da web?
65
Consumo como performance no streaming de games da plataforma Twitch
Samyr Paz
Universidade Feevale
Resumo A partir do recorrente interesse científico do campo da comunicação nos games, este
trabalho se propõe investigar o Twitch (twitch.com), plataforma que permite transmitir e
assistir partidas de jogos eletrônicos pela Internet. Qualquer pessoa equipada com um
computador ou vídeo game conectado a Internet pode transmitir ao vivo suas sessões
de jogos pela plataforma, enquanto que através de um dispositivo conectado a Internet
qualquer pessoa pode acompanhar as transmissões. Essa prática, configurada como
streaming de games, é de interesse científico, pois o Twitch atrai 1,5 milhões de
streamers (quem transmite sessões de jogos) e 100 milhões de espectadores
mensalmente (dados do Wall Street Journal). O trabalho tem o intuito de debruçar-se
sobre este objeto pelo modo de olhar e fazer perguntas da Teoria Ator-Rede, evitando
a dicotomia humanos e não humanos, observando as associações dos actantes em
rede e verificando a agência e delegação da ação, com especial atenção ao Twitch
como agente (LATOUR, 2012). Neste ponto, salienta-se os impasses de pesquisa do
trabalho, afinal como evitar um olhar viciado na dicotomia humanos e não humanos e
interpretar corretamente as propostas da Teoria Ator-Rede? Como perseguir
corretamente as associações e os rastros deixados pela ação, conforme orienta Latour
(2012)? Problematiza-se a emergência do consumo como performance na relação
entre os actantes humanos e não humanos na plataforma, pois é objetivo do trabalho
aprofundar o conhecimento sobre estes conceitos no âmbito digital. Consumo pode
ser compreendido como a manipulação de bens (materiais ou não) que refletem na
construção de identidade e diferenciação entre grupos (BARBOSA, 2004). No âmbito
digital o consumo viabiliza a prática da socialização online, pelas capacidades do meio
em oferecer acesso a e criação de conteúdos, possibilidades de identificar usuários ou
grupos e podendo ou não envolver alocação de recursos financeiros (MONTARDO,
2013). Desta forma o consumo, que pode ser um simples ato de assistir a um vídeo ou
publicar um comentário, está diretamente ligado as ações humanas e não humanas. É
neste ponto que performance pode ser melhor compreendida, pois segundo
Schechner (2003) o conceito é qualquer tipo de ação estabelecido entre relações e
interações, enquanto alguém mostra-se fazendo algo. Por exemplo, a ação que ocorre
entre quem transmite uma sessão de jogo pelo Twitch e quem assiste é performance.
Schechner (2003) ainda salienta que performance é comportamento restaurado, o
66
indivíduo se portando como aprendeu ou copiando comportamento de outros.
Portanto, consumo como performance pode ser compreendido como maneiras de
atuação que estimulam a socialização e a construção de identidade (BARBOSA, 2004;
SCHECHNER, 2003). Para responder a pergunta do trabalho “de que maneiras o
consumo como performance emerge nas relações entre interagentes humanos e não
humanos na plataforma de streaming de games Twitch?” pretende-se utilizar a
etnografia (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2013). Para isso, serão realizadas
entrevistas e recolhidos dados em um diário de campo de uma comunidade de
streaming de games (ainda não identificada), para posteriormente desenvolver as
análises e redação da dissertação de mestrado.
Objeto de pesquisa Através de etnografia, atentando para a correta aplicação do método em ambientes
digitais, o trabalho pretende investigar a emergência do consumo como performance
na plataforma de streaming de games Twitch (twitch.com). O olhar da pesquisa volta-
se para a circulação e agenciamento da ação, pela perspectiva da Teoria Ator-Rede,
evitando a dicotomia humanos e não humanos. Neste sentido, identifica-se o próprio
Twitch como participante nas relações de consumo e performance.
Problema De que maneiras o consumo como performance emerge nas relações entre
interagentes humanos e não humanos na plataforma de streaming de games Twitch?
Filiação teórica BARBOSA, Lívia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa para
internet. Porto Alegre: Sulina, 2013.
LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria do Ator-Rede.
Salvador e Bauru, EDUFBA e EDUSC, 2012.
MONTARDO, Sandra Portella; ARAÚJO, W. F. Performance e práticas de consumo
online: ciberativismo em sites de redes sociais. Revista FAMECOS (Online), v. 2,
2013. p. 472-494
SCHECHNER, Richard. O que é performance. O Percevejo, v. 12. 2003. P. 1-10
67
Impasses atuais Como evitar um olhar viciado na dicotomia humanos e não humanos e interpretar
corretamente as propostas da Teoria Ator-Rede? Como perseguir corretamente as
associações e os rastros deixados pela ação, conforme orienta Latour (2012)?
68
Consumo midiático de dispositivos móveis que se configuram como segunda tela entre jovens dos Estados do Pará e do Rio Grande do Sul
Fernanda Chocron Miranda
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo Esta proposta, ligada ao projeto de tese em desenvolvimento no PPGCOM-UFRGS,
tem como temática central o consumo midiático relacionado a usos e apropriações de
dispositivos móveis como celulares, smartphones, tablets incorporados como segunda
tela ao hábito de assistir à televisão dos brasileiros. Na literatura nacional e
internacional não há uma definição clara a respeito de segunda tela. Considerando a
bibliografia consultada (CESAR, BULTERMAN e JANSEN, 2006; CESAR e
CHORIANOPOULOS, 2009; RUICKSHANK et al, 2012; VANATTENHOVEN e
GEERTS, 2012; MACHADO FILHO, 2013; MENDES COSTA SEGUNDO e SAIBEL
SANTOS, 2013; GOOGLE, 2013; IAB BRASIL, 2013; GLOBAL ITV, 2014),
encontramos que além das várias nomenclaturas, não há um consenso quanto ao
conceito de second screen. Mendes Costa Segundo e Saibel Santos (2013, p. 1,
tradução nossa) consideram que “second screen é o nome atribuído pela Indústria de
TV, para denotar o uso de um segundo dispositivo para interação com o conteúdo
apresentado na tela da televisão”. Em Vanattenhoven e Geerts (2012), a adoção do
termo segunda tela não se limita a dispositivos sincronizados, mas faz referência de
modo geral ao uso de dispositivos móveis durante a assistência televisiva, ainda que
de forma não relacionada ao conteúdo exibido na tela principal. Para o projeto de tese,
partimos da compreensão de segunda tela como qualquer dispositivo móvel utilizado
durante a assistência televisiva, seja de modo integrado ou não ao conteúdo exibido
na primeira tela. Sabemos que os dispositivos móveis têm sido, no Brasil, vetores de
acesso à Internet para parte considerável da população com a oferta de serviços pelo
setor de telefonia, tal como acesso à Internet 3G (ANATEL, acesso em 10 ago. 2014;
MIRANDA, 2014). E, por conseguinte, estes têm reconfigurado o processo de
implantação da TV digital no Brasil, já que a interatividade e a inclusão digital que
estava planejada para ser introduzida pelo uso do controle remoto da TV digital, nos
parece estar sendo promovida por dispositivos móveis observados como segunda tela
e que permeiam a rotina de assistência televisiva no país e em alguns momentos
tornando a TV apenas o pano de fundo do consumo midiático do usuário em questão.
Diante disso, o objetivo geral do projeto de tese é analisar os processos
comunicacionais tecidos pelos usos e apropriações dos dispositivos móveis pelos
69
jovens brasileiros durante a assistência televisiva. Para isso, pretendemos realizar
uma pesquisa comparativa entre os cenários de consumo que podem ser observados
no Pará e no Rio Grande do Sul, e já inicialmente mapeados pela Rede Brasil
Conectado, coordenada pelas professoras Nilda Jacks e Mariângela Toaldo da
UFRGS e da qual fazemos parte. Acreditamos que apenas a partir de investigações
comparativas como esta seja possível acompanhar tendências futuras de consumo
midiático e, consequentemente, subsidiar a realização de políticas públicas no Brasil,
por exemplo, relacionadas ao uso de tecnologias digitais e inclusão social no país.
Tema Consumo midiático de dispositivos móveis que se configuram como segunda tela entre
jovens dos Estados do Pará e do Rio Grande do Sul.
Objeto de pesquisa Processos comunicacionais delineados pelos usos e apropriações de segunda tela por
jovens do Pará e do Rio Grande do Sul
Problema Quais são e como ocorrem os usos e apropriações de dispositivos móveis que se
configuram como segunda tela de jovens do Pará e do Rio Grande do Sul?
Filiação teórica Estudos de recepção ancorados na perspectiva latino-americana de leitura dos meios
de comunicação, que focam nos processos comunicacionais, entendidos como as
interações que estabelecem conexões entre as pessoas do ponto de vista social e
cultural. Entre as bases adotadas estão estudos de pesquisadores latino-americanos
como Jesús Martín-Barbero e, no Brasil, Maria Immacolata de Lopes, Nilda Jacks ,
entre outros. Vale ressaltar que esta proposta está alinhada aos esforços de pesquisa
em andamento e dos quais fazemos parte. Entre eles está a pesquisa comparativa em
desenvolvimento no âmbito da Rede Brasil Conectado e o projeto de cooperação
internacional GLOBAL ITV, aprovado na 2ª Chamada Brasil-EU nº 13/2012 do CNPq,
que integra o Programa de Cooperação Brasil-União Europeia em parceria com o
Seventh Framework Programm.
Impasses atuais Como estruturar do ponto de vista teórico-metodológico uma pesquisa de recepção
que nos permita identificar e comparar os usos e apropriações de dispositivos móveis
70
como segunda tela nos extremos do Brasil? Quais os caminhos para a realização de
análises comparativas de realidades nacionais que vem sendo estudadas por redes de
pesquisa a fim de promover debates teórico-metodológicos inovadores na área de
Comunicação?
71
Dilemas da pesquisa etnográfica e do debate teórico sobre inclusão digital: desafios e possibilidades
Sandra Rúbia da Silva
Universidade Federal de Santa Maria
Resumo A partir da inovadora provocação proposta, quero apresentar os impasses em relação
ao meu atual tema e objeto de pesquisa – os desafios, limites, possibilidades e
impactos da inclusão digital, tal como se revelam para análise através das práticas de
consumo e das formas de apropriação de dispositivos móveis (em especial telefones
celulares, smartphones e tablets) e dos sites de redes sociais (especialmente o
Facebook) entre os habitantes de periferias urbanas no sul do Brasil. Especificamente
para este projeto – que conta com financiamento do CNPq – o objetivo geral é
investigar o papel das tecnologias de comunicação e informação para o
desenvolvimento e o bem-estar social, em cotejo com os temas da cidadania e do
direito à comunicação, da inclusão social e da participação cidadã. Teoricamente, filio-
me ao campo dos estudos socio-antropológicos do consumo e das culturas digitais,
bem como aos estudos sobre o direito à comunicação. Minha curiosidade investigativa
por tal tema e objeto aguçou-se a partir da constatação de que, embora sejam a cada
dia mais evidentes estatisticamente a crescente adoção das tecnologias de
comunicação e informação nas camadas populares no Brasil, o estudo das dinâmicas
socioculturais implicadas em tal fenômeno, com ênfase na dimensão da cidadania,
tem recebido, até o presente, relativamente pouca atenção por parte dos
pesquisadores em estudos sobre a internet e as culturas digitais. Essa constitui uma
primeira dificuldade, pois há pouca bibliografia com a qual dialogar. Interesso-me pelas
questões relativas aos estudos de internet desde a graduação e mestrado, e em
particular pelo consumo de tecnologias entre grupos populares desde o doutorado
(concluído em 2010 no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da
UFSC) quando realizei uma etnografia sobre práticas de consumo de telefones
celulares entre os habitantes de um bairro popular de Florianópolis. Findo o doutorado,
desenvolvi dois projetos de pesquisa de caráter etnográfico sobre inclusão digital, em
bairros de camadas populares nas cidades de Curitiba e do Rio de Janeiro (na
comunidade do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo), este último para um pós-doc pelo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação da ECO-UFRJ. O problema de
pesquisa que une esses dois projetos ao atual é o seguinte – quais são as práticas
socioculturais e as estratégias de apropriação da internet (especialmente dos sites de
72
redes sociais) e de tecnologias móveis acionadas pelos habitantes das periferias
urbanas de Santa Maria e de Florianópolis e em qual medida tais tecnologias
propiciam formas de inclusão social e participação cidadã? Se aludo aos projetos
anteriores é para chegar ao grande impasse – a aparente saturação dos dados de
pesquisa. Ao analisar os dados e compará-los com pesquisas anteriores, confirmam-
se recorrências tais como a dificuldade em fazer frente aos altos custos dos serviços
de telefonia móvel e internet, o importante papel da internet na educação, o uso
prioritário de redes sociais e telefones celulares para manutenção de redes de
sociabilidade centradas na família e as baixas expectativas em relação ao papel da
internet para geração efetiva de renda. Nesse sentido, parece haver pouco a
acrescentar ao debate em termos de novos achados.
73
Educomunicação e Mídias Digitais: Apropriações da Internet por Jovens de Classe Popular e Aprendizagens na Perspectiva da Cidadania Comunicativa
Livia Freo Saggin
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo A pesquisa desenvolvida no mestrado busca investigar apropriações da internet por
jovens inseridos em ambiente de vulnerabilidade social na perspectiva da cidadania
comunicativa. Para tal, em termos metodológicos, se apoia na realização da proposta
de uma pesquisa participante, a partir da qual esses jovens são instruídos e motivados
a criar e manter um blog no qual contam suas experiências, desafios e transformações
ao longo do tempo, a partir de práticas educomunicativas propostas. Como argumenta
Brandão (2001), a pesquisa participante pode se tornar um instrumento de reforço do
poder popular, munido “com a participação do intelectual (o cientista, o professor, o
estudante, etc.) comprometido de algum modo com a causa popular” (p. 10). A
pesquisa é realizada com jovens de uma comunidade periférica do município de Novo
Hamburgo, os quais já são atendidos por uma entidade de apoio socioeducativo. A
observação, acompanhamento e análise do que é postado e compartilhado nesse
blog, somado à convivência junto ao grupo fazem parte da estratégia metodologia de
trabalho, em movimentos de ida e volta ao campo exploratório associado à construção
teórica. A investigação das mediações socioculturais dos sujeitos participantes da
pesquisa também é constituinte da investigação exploratória para busca de pistas
relacionadas ao fenômeno investigado. Considerando que os sujeitos contemporâneos
possuem uma relação com os meios de comunicação de massa menos cada vez
menos dependente (MALDONADO, 2008); que as possibilidades de comunicação,
tanto do consumo quanto da produção, são alteradas pelos avanços tecnológicos –
especialmente pelo uso da Internet; e que a produção e circulação de bens simbólicos
é potencializada pela tecnologia e seus usos sociais (BRAGA, 2012), se está
estudando um ambiente onde Comunicação e Educação podem potencializar o
desenvolvimento socioeducativo para a formação de sujeitos críticos no seu núcleo
social (MATA 2005). A problematização teórica da pesquisa inclui os conceitos de
midiatização digital (Maldonado, Silverstone, Martín Barbero, Castells),
educomunicação (Freire, Kaplun, Citelli, Baccega, Soares), apropriações (Martín
Barbero, Hall, Ortiz, Certeau), cidadania comunicativa e cultural (Mata, Varela, Cortina,
Boaventura de Souza Santos) e cultura popular/juvenil (Hall, Borelli, Freire Filho,
Ortiz). A hipótese inicial de pesquisa considera o possível aparecimento de sujeitos
74
coletivos e empoderados digitalmente/midiaticamente/comunicacionalmente, que
utilizam a construção/compartilhamento de bens simbólico-sociais para dar voz às
comunidades excluídas. Esse movimento pode revelar uma característica
contemporânea de resistência, que surge de comunidades invisíveis à mídia
hegemônica, mas visíveis nas mídias digitais. Os impasses atuais da pesquisa estão
relacionados à reflexão teórica-metodológica entre os conceitos de pesquisa
intervenção e pesquisa participante, que necessitam de aprofundamento epistêmico
no contexto da pesquisa, e que são fundamentais para a compreensão da ação
educomunicativa dentro dessa comunidade e seus resultados enquanto
aprendizagens, apropriações no ambiente digital e despertar para a cidadania
comunicativa.
75
Em busca do leitor de uma narrativa em dois suportes: um estudo de caso do blog e do livro Depois dos Quinze
Marilia de Araujo Barcellos
Maura da Costa e Silva
Universidade Federal de Santa Maria
Resumo Essa pesquisa tem como tema o leitor e a narrativa em dois distintos suportes, mais
especificamente, um blog e um livro impresso característico da tendência editorial
referente a originais oriundos da web que resultam em publicações impressas. Ao ler
os textos no blog e ao ler os textos no blog, existem convenções diferentes derivadas
dos diversos modos de leitura. Assim, essa pesquisa pretende compreender as
diferentes maneiras de ler − que são conceituadas pelo historiador CHARTIER (1996)
enquanto práticas de leitura − decorrentes da evolução dos suportes, ao longo da
história, que pressupõem diferentes modalidades de apropriação do texto. A
metodologia abarca, além do cabedal teórico, o trabalho empírico realizado por meio
da coleta de informações obtidas por meio de entrevistas com os agentes da cadeia
produtiva do livro: autor, editor e leitor. No âmbito atual, que configura-se enquanto
múltiplas possibilidades de acesso à narrativa, utilizaremos dois suportes midiáticos, a
saber: o digital e o impresso como objetos de estudo. Mais especificamente, no
primeiro caso, o blog Depois dos Quinze, no qual se encontra a obra da escritora
Bruna Vieira e que possui um livro impresso homônimo. Utilizaremos a noção de que
os blogs nos últimos anos sofreram diversas transformações, enquanto em 2005 eram
vistos como “diários íntimos online”, atualmente são utilizados de maneiras diferentes,
possuem um público-alvo diferenciado e modificam suas ferramentas constantemente.
RECUERO (2002, p3) explica o conceito de blog por meio do conteúdo que nele
consta como “microconteúdo, ou seja, pequenas porções de texto colocadas de cada
vez, e atualização frequente, quase sempre, diária”. A autora e blogueira Bruna Vieira,
20 anos, é de Leopoldina, no interior de Minas Gerais. Com 14 anos criou o blog
Depois dos Quinze. Começou a escrever por causa da timidez, do bullying que sofria
na escola e por causa de um amor platônico. Desde que criou o blog em 2008
conseguiu 130 milhões de acessos, conforme a informação disponibilizada pela
autora. E é por meio das crônicas, tanto do blog como do livro, que envolve seus
leitores com suas vivências e desabafos. No entanto, essa pesquisa, que é um
trabalho de conclusão de curso, tem se mostrado dificultosa, principalmente no âmbito
de conseguir que os leitores concedam entrevistas pelo Skype. Então, a partir desse
76
empecilho, a pergunta que se faz presente é “Como motivar os jovens leitores a
responderem as questões, quando cada segundo de suas navegações pela web é
efêmero e voltado para inúmeras atividades? Como conseguir a atenção desses
leitores?”.
Tema O tema desta pesquisa é o leitor e a narrativa em diferentes suportes. O tema delimita-
se a livros impressos originados de blogs e as práticas de leitura e apropriação das
narrativas por parte dos leitores. Trata-se da leitura de um mesmo conteúdo
disponibilizado na internet e no livro impresso.
Objeto de pesquisa Como objeto de pesquisa teremos o blog e o livro Depois dos Quinze, bem como seus
leitores, por considerarmos um paradigma de produção em ambiente digital,
igualmente explorado no suporte impresso.
Problema Como questão-problema temos a seguinte pergunta norteadora: Quais as diferenças
das práticas de leitura e de apropriação do conteúdo impresso (livro tradicional) e do
conteúdo online (blog)? E a partir dela desejamos atingir o objetivo geral de perceber
diferenças na apropriação dos textos publicados na internet e no impresso, a partir de
pesquisas sobre práticas de leitura de usuários do blog e leitores do livro Depois dos
Quinze.
Filiação teórica Para as questões referentes ao livro impresso e as práticas de leitura, nos
basearemos em Chartier (2012),Goldin (2012), Darnton (2010), Petit (2008) e
Genette (2009). Quanto a web e a compreensão do fenômeno dos blogs usaremos o
cabedal teórico de Santaella (2007), Nielsen e Loranger (2007), Primo (2008), Recuero
(2003) e Sibilia (2010). Como base para a metodologia usaremos Duarte e Barros
(2011) para estruturamos entrevistas e com Gastaldo e Braga (2012) utilizaremos o
Skype como meio para realização das entrevistas com os leitores.
Impasses atuais Nossos primeiros impasses foram relacionados à busca por pessoas que tivessem lido
o livro Depois dos Quinze e que acompanhassem o blog, para que pudéssemos
realizar entrevistas presenciais com o intuito de compreender a relação do leitor com
77
seu objeto impresso, bem como investigar o modo que realiza sua leitura em dois
suportes distintos de uma mesma narrativa. No entanto, não encontramos pessoas
“acessíveis” nas regiões em que a pesquisadora poderia ir ao encontro. A partir disso,
tivemos a ideia de fazer essas entrevistas por Skype, mas somente três pessoas se
dispuseram a ajudar. Os convidados a participar das entrevistas alegavam ter
vergonha de aparecer diante da câmera e outros não utilizavam o Skype. Por outro
lado, em busca de compreender o porquê da identificação do leitor com os textos de
Bruna Vieira, entramos no campo de estudo da linguagem e, para aprimorar essa
pauta, decidimos solicitar em um grupo de leitores no Facebook para compartilharem
suas citações favoritas, bem como uma justificativa para tal escolha. Novamente
obtivemos um número baixo de respostas: apenas duas meninas responderam.
Portanto, nossos impasses pertencem a área de motivação dos leitores, isto é, como
fazer com que esses indivíduos se envolvam com as entrevistas? Como conquistar a
atenção de um usuário com milhões de informações a um clique, para que dedique
alguns minutos em uma entrevista pelo Skype ou com comentários pelo Facebook? A
nossa pesquisa continua em andamento, mas a participação de um número maior de
leitores é essencial, para que não ocorra falhas ao analisarmos os materiais e para
que consigamos analisar uma maior diversidade de modos de leitura.
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Estudo de Recepção da Campanha “Amor seja como for”
Sendy Carneiro Mordhost
Universidade Federal do Pampa
Resumo A proposta do trabalho, que se encontra na fase inicial da pesquisa, parte da
perspectiva sociocultural da comunicação, seguindo o viés dos Estudos Culturais para
fazer um estudo de recepção de uma das campanhas do programa Rio Grande Sem
Homofobia, “Amor Seja Como For”. A campanha faz parte do programa que surgiu
devido à preocupação do Governo do Rio Grande do Sul com o crescente número de
casos de violência contra o público LGBT. No Relatório de Violência Homofóbica,
divulgado pela Coordenação de Promoções dos Direitos LGBT, no ano de 2012,
aponta que o Rio Grande do Sul está em 8º lugar no ranking dos estados com mais
denúncias de homofobia do Brasil. Em 2012, no estado foram registradas 202
denúncias referentes a 396 violações e oito homicídios noticiados pelo poder público
relacionados à população LGBT. Houve um aumento de 248% em relação a 2011,
quando foram notificadas 58 denúncias. Assim, partimos da recepção de uma
campanha publicitária voltada para combater a violência causada pela homofobia,
procurando perceber quais leituras e apropriações o público LGBT, pertencentes ao
“Movimento Girassol, amigos na diversidade” de São Borja-RS, que teoricamente
seriam beneficiados por ela, faz das peças publicitárias. Averiguando assim a real
efetivação da campanha publicitária. Dos procedimentos metodológicos e analíticos o
presente projeto será feita uma pesquisa qualitativa, este tipo de pesquisa preocupa-
se com a profundidade de entendimento de um grupo social. Quanto aos objetivos da
pesquisa, será realizada uma pesquisa exploratória qual possibilita maior
conhecimento do problema, envolvendo pesquisa bibliográfica e entrevistas com
pessoas envolvidas com o problema de pesquisa. Quanto aos procedimentos foi feita
pesquisa bibliográfica e documental. Para realizar a pesquisa foram selecionados
cinco sujeitos receptores da campanha “Amor seja como for” e que são atuantes no
“Movimento Girassol, amigos na diversidade”, a partir do problema de pesquisa a
escolha foi feita de acordo com as seguintes questões: Quem conhece mais sobre o
problema? Quem pode legitimar as informações com outro ponto de vista ou de
maneira mais crítica? As técnicas utilizadas durante as entrevistas foram observação e
entrevista semiestruturada. Para a análise de conteúdo, com posse do conteúdo das
entrevistas, realizada a “análise categorial” que, funciona por operações de
desmembramento do texto em categorias. A análise categorial será temática,
79
construindo as categorias conforme os temas que emergem das entrevistas. Alguns
dos impasses encontrados para realizar a pesquisa, são a falta de dados quantitativos
de violência homofóbica, na cidade de São Borja-RS. Isto dá margem para realizar
uma pesquisa qualitativa com um público que foi vitima de violência ou é uma vitima
em potencial. Também a falta de referências teóricas sobre cultura LGBT no interior do
Rio Grande do Sul, mas precisamente no contexto de fronteira oeste. Por se tratar de
uma cidade do interior, que cultiva seus valores tradicionalistas encontramos algumas
dificuldades para encontrar os dados de violência, que geralmente quando registrados,
não são especificados como violência homofóbica.
80
Ética e democracia de acesso na pesquisa e historiografia do Cinema Brasileiro
Juliano Rodrigues Pimentel
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo Pesquiso a história do cinema brasileiro e a possibilidade da construção de um
conceito que dê conta de formulações estéticas e estilísticas ainda não mapeadas.
Lido com teorias da narrativa, filosofia do existencialismo e produção cultural. Após um
semestre no doutorado me dei conta de problemas não previstos e que afetaram
duramente o rumo da pesquisa. Ao buscar por cópias dos filmes que gostaria de
analisar, percebi que sites como Youtube e Vimeo constituem um possível arquivo ou
acervo digital e absolutamente democrático da história do cinema brasileiro. No meu
ponto de partida olhava para filmes estocados em depósitos físicos de difícil acesso.
Hoje, não sei bem como lidar com esta construção de um panorama histórico e digital
do nosso cinema. As buscas pelos filmes trazem inúmeros resultados fragmentados,
desconexos, dispersos por associações diversas, mas que também trazem em si
filmes raros e na sua totalidade. Frente a isso, como podemos valorizar, através do
nosso esforço acadêmico, a popularização do acesso à esses elementos importantes
da nossa própria história cultural? Como legitimar um panorama histórico digital frente
a legitimação austera que a bibliografia impressa impõe? Não apenas impõe, mas
também constrói de maneira diferente? Ao ponto de que em sala de aula informo uma
possibilidade para um aluno, que rapidamente verifica no youtube sua própria versão
de um conjunto de vídeos que compõe o mesmo momento histórico que eu tento
ensinar? Talvez o panorama histórico digital não seja, de fato, menos legítimo. Quiçá
menos organizado, ou menos contextualizado, mas não sei se podemos defende-lo
como menos histórico. A teoria que é feita pelos historiadores do cinema brasileiro não
contempla a realidade dos novos espectadores, nem seus hábitos de consumo da
própria história do cinema brasileiro. A disponibilidade de acesso aos filmes
encontrados fala historicamente sobre dois momentos: 1) sobre a existência e
características de um momento passado; 2) sobre a acessibilidade e resgate histórico
de um momento presente. Outro problema que nasce aí é de ordem ética (embora
esteja também relacionado com o processo de legitimação). As cópias digitais dos
repositórios Youtube e Vimeo não são tributadas, na sua maioria. Como equacionar na
pesquisa o meu próprio ato de pirataria, já que não possuo cópia original de todos os
filmes que analiso? Vejo muitos textos sobre cinema, mas nunca vi alguém dizer que
pirateou os filmes que analisou. É impossível, dentro da realidade brasileira, pensar
81
uma educação estética voltada para o audiovisual sem contemplar a pirataria. Eu
tenho estas dúvidas. Tenho outras também. E tenho um desejo de poder falar sobre
elas sem julgamentos ou constrangimentos que surgem quando os temas afetam
posicionamentos morais das pessoas (sobre a pirataria na academia, e isso que nem
toquei no assunto dos pdfs…). Eu quero poder dizer que as tecnologias digitais
democratizam produção e distribuição do audiovisual, constroem um panorama
histórico democrático, mas, ao fazer tudo isso, também trazem inúmeros problemas
que podem fazer muito bem pra academia se nós tivermos coragem de olhar pra eles
e falar deles com honestidade.
82
Fernandão: a complexidade na morte do ídolo e o surgimento do Mito
Bruna Provenzano
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Resumo Na madrugada de 7 de junho de 2014, a queda de um helicóptero vitimou fatalmente
Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão. A morte prematura e trágica de um ídolo do
futebol gerou comoção entre torcedores, fãs e jornalistas. A cobertura da morte do ex-
atleta ocupou muitas páginas de jornais que dedicaram espaço para tratar da perda
daquele que foi um dos mais importantes jogadores da história do Rio Grande do Sul.
Como projeto de dissertação de mestrado, buscamos desvelar aspectos obtusos
nestas coberturas e entender a conotação destas produções jornalísticas. Para
realizar este estudo, utilizaremos como método o Paradigma da Complexidade, de
Edgar Morin, que propõe a Transdisciplinaridade. Neste conceito, não há barreiras
entre os diferentes teóricos e disciplinas; ao contrário, se propõe, de modo
permanente, o diálogo entre os diferentes saberes. Entendemos este método como
coerente para nos guiar nesta produção visto que o esporte, neste caso o futebol, é
um tema que perpassa distintos aspectos na sociedade contemporânea e, portanto, a
possibilidade de nos nutrirmos de diferentes fontes de conhecimento contribui para a
realização deste estudo. Como Técnica Metodológica, nos guiaremos pela Semiologia,
de Roland Barthes, em sua essência qualitativa, que tem como foco menos o “o quê”,
e mais o “como e o porquê”. Como ciência geral dos signos, a Semiologia pode se
referir não só à linguagem, mas, também a imagens, um dos focos de análise deste
trabalho. Para a definição do corpus, recorremos ao Princípio da Pertinência, que
indica que o pesquisador deve reunir os fenômenos que interessem ao seu ponto de
vista, e escolhemos, como objeto de análise, matérias publicadas pelos jornais Zero
Hora e Correio do Povo. Definimos como Fundamentação Teórica para a realização
da dissertação categorias a priori que nos nortearão neste estudo. São elas Fotografia,
com as subcategorias Studium e Punctum; Fait Divers; Mito e Socioleto. Todas estas
categorias terão como referência as produções de Roland Barthes. Este é nosso ponto
de partida no estudo. Ao mesmo tempo em que o Paradigma da Complexidade nos
instiga a buscar diferentes fontes de conhecimento, é fundamental nos mantermos
centrados nos objetivos da pesquisa. Buscar o equilíbrio entre esta “liberdade” e o foco
do nosso estudo tem sido nosso principal desafio. Quanto mais conhecemos nosso
objeto de estudo, mais percebemos quantos assuntos e esferas fazem parte do seu
universo – a saber: morte, psicanálise, jornalismo esportivo, ídolo, sociedade do
83
espetáculo, ritos, etc. A Transdisciplinaridade, cerne do Paradigma da Complexidade,
nos permite ir além do olhar simplificado, mas nos exige maturidade para assumir
nosso caráter limitado no que diz respeito à produção de conhecimento. Até que ponto
podemos/devemos andar para não sermos simplórios? Em que ponto
podemos/devemos parar sob pena de não chegarmos a lugar algum? O principal
impasse que encontramos neste momento da pesquisa – em que estamos buscando
as delimitações – diz respeito às possibilidades transdiciplinares que o método
escolhido, o Paradigma da Complexidade, nos oferece. Entendemos ser fundamental
para o desenvolvimento da dissertação a busca pelo equilíbrio. Embora o método nos
ofereça a possibilidade de nos nutrirmos de diferentes fontes de conhecimento,
precisamos definir onde beberemos sob pena de não chegarmos a lugar algum. É
fundamental que tenhamos foco em nosso objetivo, mas sem o equívoco de excluir
nosso objeto de seu contexto – já que o entendemos como complexo – e nem de
termos a pretensão de responder tudo o que se refere a ele, sabedores do nosso limite
enquanto pesquisadores.
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Game Design para dispositivos móveis
André Pase
Rodrigo Portes Valente da Silva
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Resumo Com o desenvolvimento dos telefones celulares e tablets, a diversão eletrônica dos
consoles também expandiu suas formas nestes espaços. Mesmo com plataformas
móveis no passado, nestes aparelhos o jogo acompanha o público em diversos
momentos da sua vida. Além disso, seu processo de instalação é todo realizado
digitalmente, guiado por normas das lojas online. Diante disso, esta pesquisa busca
reflete as dificuldades enfrentadas para pesquisar um objeto em constante
aprimoramento nas suas características e nas propriedades do meio utilizado, além da
necessidade constante da atenção do jogador para operar e, por consequência, atingir
a sua rentabilidade. Esta pesquisa tem o objetivo de compreender as características
dos games que podem estar associadas às necessidades da atual economia de
atenção. Como objeto de estudo, foi escolhido um dos principais produtos da empresa
finlandesa Supercell, chamado Clash of Clans. O jogo é um aplicativo gratuito,
disponibilizado nas lojas virtuais da Apple Store e Google Play, para ser usado em
tablets e smartphones. A pesquisa iniciou a partir de dois questionamentos: a) como
jogos digitais gratuitos voltados para o estímulo e retenção da atenção nos tablets e
smartphones podem transformar a indústria do videogame? b) seria possível observar
características da produção de um jogo que denotam valor para a indústria cultural?
Considerando as tecnologias móveis de comunicação, foram identificados os valores
para captar e reter a atenção dos públicos em um contexto de excesso de informação,
mas também de muita dispersão. Nesse ensejo, foram observadas as características
dos games, considerados um dos produtos culturais mais rentáveis na era do
ciberespaço. Assim, para a análise do game Clash of Clans, foi criado um modelo
híbrido de game design, a partir dos autores Jeannie Novak e Jesse Schell,
combinado com as observações de John Beck e Thomas Davenport sobre o
gerenciamento de atenção. Isto decorre do fato dos jogos mobiles contarem muitas
vezes com dinâmicas específicas e ausência de narrativas, fatos que dificultam
análises tradicionais. Esta amálgama foi realizada com o auxílio das ideias de Edgar
Morin e Howard Rheingold para auxiliar na compreensão da comunicação móvel
atualmente. Nos aspectos metodológicos, foram identificadas as amostras do estudo e
as categorias de análise, utilizando como tratamento de dados a descrição do
85
gameplay e das imagens do jogo. Por fim, foram apresentados os resultados obtidos,
que identificaram características convergentes entre os games e o atual contexto da
comunicação, que podem tornar lucrativo o processo de captar e reter a atenção dos
seus públicos. A estratégia utilizada mostrou-se válida ao longo da pesquisa, pois
valorizou os aspectos necessários para a compreensão de um jogo importante para a
compreensão deste cenário.”
Tema Em um contexto contemporâneo que valoriza a economia de Atenção, o estudo do
Game Design de jogos digitais para dispositivos móveis requer análises que
combinam diferentes elementos.
Objeto de pesquisa Clash of Clans, game gratuito para dispositivos móveis.
Problema Como jogos digitais gratuitos voltados para o estímulo e retenção da atenção nos
tablets e smartphones podem denotar valor para a indústria cultural contemporânea?
Filiação teórica Para a compreensão do objeto, e consequente pesquisa, foram utilizados diferentes
autores. Para discutir conceitos sobre produto cultural, foi resgatado o olhar de Edgar
Morin. O olhar sobre os dispositivos móveis contou com as observações de Howard
Rheingold. Para os momentos mais importantes, o olhar sobre o objeto “jogo para
dispositivos móveis”, foram resgatados Larissa Hjorth, Jeannie Novak e Jesse Schell
na construção do aporte teórico sobre game design, seguido por John Beck e Thomas
Davenport sobre a Economia de Atenção.
Impasses atuais Na pesquisa atual foi elaborado um Game Design híbrido para estudar um game
gratuito para dispositivos móveis. Mas, como devem observados os aplicativos para as
plataformas móveis? Quais metodologias podem contribuir para a investigação de um
objeto desenvolvido para uma plataforma que está em constante transformação?
Quais características devem ser mapeadas?
86
Interfaces da Memória Social: o estatuto da memória social na era das redes computacionais, um estudo de caso do Acervo Digital Bar Ocidente no
Priscila Chagas Oliveira
Universidade Federal de Pelotas
João Fernando Igansi Nunes
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Resumo Inserida no programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural,
nível Mestrado, da Universidade Federal de Pelotas, a pesquisa nasceu no contexto
da emergência da linguagem eletrônica. Circunscreve-se na ubiquidade das redes
computacionais e na reconhecida Information and Communications Technology (ICT).
Tal contexto alterou profundamente a sociedade, seja por suas velocidades de
conexão que modificam nossa relação com o tempo e o espaço ou pelas
circunstâncias dos seus atuais modelos de produção, distribuição e acesso da
informação. Neste sentido, o sociólogo Pierre Lévy já sinalizava em sua obra
Tecnologias da Inteligência (1993) que a sociedade se encontra condicionada, mas
não determinada, pelas tecnologias intelectuais. Lévy (1993), Lemos (2007) e
Santaella (2003) falam de uma Cultura Digital ou Cibercultura para evidenciar essas
diferentes formas de interação e de sociabilidade que emergem com o surgimento das
tecnologias intelectuais computacionais: as relações sociais tornam-se cíbridas, os
saberes (inteligências) são distribuídos eletronicamente, e a construção do
conhecimento se dá de forma colaborativa e em rede e, por conseguinte, os processos
memoriais são reconfigurados no ciberespaço. Se antes falávamos de uma
reprodutibilidade técnica e perda da aura (BENJAMIM, 1990), hoje há uma replicação
da matriz pois “graças à digitalização e compressão dos dados, todo e qualquer tipo
de signo pode ser recebido, estocado, tratado e difundido, via computador”
(SANTAELLA, 2003, p. 71), através da mesma linguagem universal. Assim, percebe-
se uma crescente criação e/ou adaptação de diversos museus, bibliotecas e acervos
para o meio digital, transcritos para a linguagem eletrônica. Dessa maneira,
acreditamos que refletir sobre o impacto da Internet como depositária desses dados
(informações) que se constituem, a partir da lógica das redes sociais, como memórias
da humanidade, permite-nos explorar as dinâmicas que surgem nas relações online
entre os sujeitos e as imagens digitais, a partir das tecnologias da inteligência e de
87
suas interfaces culturais (MANOVICH, 1997). É a partir desse contexto que esta
pesquisa busca responder a seguinte questão/reflexão: Qual a condição, e futuro
breve, da memória social na era das redes computacionais a partir do conjunto de
imagens digitais disponibilizadas em mídias sociais? Para chegar ao objetivo geral de
se compreender as características (estrutura, atributos de funcionamento e linguagem)
da mídia social como potência e interface da memória social, utilizar-se-á uma
abordagem qualitativa, propondo como estudo de caso as “postagens” e os
compartilhamentos de imagens digitais na unidade de análise escolhida, a fanpage
do Acervo Digital Bar Ocidente na mídia social Facebook.
Impasses atuais Os principais empasses encontrados dizem respeito aos procedimentos metodológicos
que ainda estão em fase de construção. Até o momento definimos como instrumentos
e técnicas a pesquisa bibliográfica a observação direta não participante e a análise de
conteúdo das narrativas visuais e textuais firmadas na referida fanpage, atentando
para o seu caráter denotativo e conotativo. Outras questões que surgiram referem-se à
possibilidade de categorizar o conjunto de imagens digitais e suas respectivas
narrativas (visuais e textuais) como uma coleção patrimonial, e a própria mídia social
como potência e interface da memória social.
88
Imagens Abismadas: O Filme do Vídeo
Jamer Guterres Mello
Julia Soares
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo O problema de pesquisa que aqui se apresenta será desenvolvido na monografia de
conclusão de graduação na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul no final do segundo semestre do corrente
ano. Provisoriamente sob o título de Imagens Abismadas: o filme do vídeo, o trabalho
se dedicará a estudar os projetos Vídeo nas Aldeias e Inventar com a Diferença –
Cinema e Direitos Humanos, sob as perspectivas teóricas de Jacques Rancière, pelas
noções de regime estético e partilha do sensível, e Félix Guattari, com o conceito de
agenciamentos coletivos de enunciação, a partir do que os autores propõem para
pensar as relações entre estética e política. Compreendendo a partilha do sensível
como uma realização capaz de sensibilizar novos recortes nas formas de ver, de fazer
e de sentir as imagens do mundo – que estão tanto na literatura, quanto nas artes
visuais ou nas formas de vida – e os agenciamentos coletivos de enunciação como a
concretização de novos possíveis – textos, territórios, conceitos, linguagens, escrituras
sensíveis – esta monografia vai problematizar os projetos VNA e ID como processos
precários (BENTES, 2007) e perguntar-se: de que forma esses processos precários
partilham o sensível? Para tanto, consideramos que o ambiente no qual ocorrem
essas experiências de produção audiovisual é tensionado, por um lado, pela
democratização de sua infraestrutura tecnológica – os aparelhos de captação e edição
de som e imagem e as redes que hospedam, exibem e distribuem essas obras, os
projetos de formação em audiovisual que acontecem fora dos ambientes corporativos,
mercadológicos ou estritamente acadêmicos – e, por outro, atravessado por diferentes
ordens: regimes de imagem e processos de subjetividade. Tendo em vista estes
aspectos e singularidades que circundam o objeto empírico, será feita uma discussão
sobre os conceitos de coletivo e de redes de forma transversal às noções de
agenciamento coletivo de enunciação e regime estético e à produção acadêmica
brasileira de Comunicação Social que se defronta com as questões do precariado e do
capitalismo cognitivo, a fim de contribuir com esses debates, dar suporte às
expressões constituição estética e processos precários, explorando este conceito a
partir do cinema como uma experimentação constante e contingente, que interroga o
aspecto profissional e industrial que também é presente neste campo. Atualmente, a
89
pesquisa está em fase de sistematização das leituras até aqui indicadas e de revisão
bibliográfica de trabalhos realizados nos campos da Comunicação e do Cinema sobre
os projetos VNA e ID, tendo encontrado nas ideias de antecampo, performatividade
das imagens e mise-en-abyme da cultura uma interlocução com os marcos teóricos da
monografia, cujas definições também estabelecem relações entre si: são redes,
acontecimentos e reflexões que só surgem em função da existência do filme.
Entretanto, os princípios metodológicos que se desenham nas interseções entre os
conceitos, os textos e as discussões que serão operadas, ainda não apontaram algum
tipo de critério que possa fazer um recorte no objeto empírico e uma delimitação de
corpus, sendo essa a principal questão a ser encarada nos próximos passos deste
estudo.
90
Impasses e dificuldades da Aplicação do Método Fotoetnotextográfico
Carlos Leonardo Coelho Recuero
Universidade Católica de Pelotas
Resumo A construção e o desenvolvimento do método Fotoetnotextográfico exige um empenho
do pesquisador no sentido de estabelecer uma ligação da imagem e do texto de forma
que se tornem “falantes” e não que funcionem como apêndice um do outro durante a
descrição de comunidades. Assim, uma das principais caraterísticas deste
procedimento, é a construção e a atribuição de igual importância tanto à imagem,
quanto ao texto no decorrer de toda a pesquisa. Desse modo, como qualquer outra
metodologia, a Fotoetnotextografia apresenta dificuldades que merecem ser refletidas.
Os principais problemas que surgem são da ordem da construção da pesquisa e do
que se quer contar e mostrar durante o processo de aplicação do método. Buscar a
realização de fotografias que falem sobre o etnográfico, sobre a situação e a cultura
vivenciada, exige uma inserção durante a observação participante que não implica em
apenas participar, mas também em um empenho e uma dedicação maior no sentido
da realização das (boas) fotografias. Isso supõe um domínio da técnica fotográfica e
um prévio conhecimento do que se quer fazer e falar por meio das imagens. Caso
contrário, o momento decisivo pode ser perdido, reservando apenas às palavras a
descrição da situação. Do mesmo modo, ocasiões podem ser perdidas pela posição
do pesquisador que (em certos períodos) “sai da aldeia” para ser “o fotógrafo”, assim
como quando simplesmente participa da comunidade, vivencia e imerge em seus
acontecimentos, podendo perder, assim, boas imagens. Com isso, dificuldades no
executar as técnicas, na clara posição e lugar que deve ser assumido na
Fotoetnotextografia, são realidades constantes enfrentadas pelo pesquisador. Afinal,
como superar estes impasses que surgem na aplicação da Fotoetnotextografia sem
comprometer o bom andamento da metodologia e a descrição fidedigna de
comunidades e suas culturas? Além disso, no processo de descrição na pesquisa, o
fazer da imagem um discurso científico, sem associá-la à função da ilustração ou
mesmo do “anexo” ou “figura”, ainda é uma tarefa complicada e não bem vista pelas
normas e artigos acadêmicos, o que complica a consolidação e aplicação da
metodologia como prática comum nas Ciências Sociais. Para a imagem valer e ter o
peso das palavras no trabalho (assim como estar associada adequadamente a elas),
novamente a técnica fotográfica é solicitada, o que exige de um fotoetnógrafo, um
conhecimento que vai além das tradicionais aplicações da etnografia. Como se sabe,
91
porém, as imagens produzem uma linguagem universal que pode ser interpretadas em
diferentes circunstâncias, produzindo diferentes sentidos aos olhos de quem as
percebe. Portanto, diferente do texto que sinaliza os caminhos (por meio das palavras
escolhidas no discurso) ao qual o leitor deve compreender, a imagem (ainda que
associada a ele) permite um reinterpretar que nem sempre pode estar associado à
visão desenvolvida pelo pesquisador. Assim, diferentes impasses, dúvidas e
incertezas surgem e merecem ser discutidas para um melhor andamento e correta
aplicação desta metodologia de pesquisa que mescla a etnografia e a fotografia.
Objeto de pesquisa O método Fotoetnotextográfico aplicado à comunidades.
Problema Como superar certos impasses que surgem na aplicação da Fotoetnotextografia sem
comprometer o bom andamento da metodologia e a descrição fidedigna de
comunidades e suas culturas?
Filiação teórica FOTOETNOTEXTOGRAFIA: * ACHUTTI, Luiz Eduardo Robson. * COLLIER JR., John.
* DIEGUES, Régis. * GEERTZ, Clifford. * HINE, Lewis. * LÉVY-STRAUSS. *
MALONOWSKI, Bronislaw.* MAUSS, Marcel. FOTOGRAFIA: * AUMONT, Jacques. *
BATESON, Gregory e MEAD, Margaret. * BERGER, John. * FLUSSER, Vilém. *
FREUND, Gisèle. * SONTAG, Susan.
Impasses atuais * Como registrar momentos na Fotoetnotextografia sem ser deslocado da aldeia ou
mesmo afetar o seu andamento natural?
* Como atuar como observador participante e fotógrafo na construção de uma
descrição textual e imagética sem “perder” possíveis elementos fundamentais das
comunidades analisadas?
* Como associar às imagens igual importância ao texto no próprio artigo acadêmico,
ausentando-se das tradicionais normas de “figuras” ou “anexos” que são atribuídos às
imagens na pesquisa científica?
* Como construir uma pesquisa científica onde a imagem e o texto adquirem igual
importância na descrição densa de grupos sociais, como na Fotoetnotextografia?
92
* Como trabalhar na produção de um entendimento do leitor associado à compreensão
que o autor visa passar por meio do uso de imagens, sendo que estas possuem uma
linguagem, por vezes, subjetiva?
93
Impasses no Estudo dos Movimentos Sociocomunicativos de Ativistas Engajados na Luta Contra o Câncer de Mama
Thais Costa Cardoso Soares
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo Na contemporaneidade, a articulação dos movimentos sociais com as mídias se
tornou fundamental para inserir suas demandas na agenda social. Da mesma forma,
comunicação digital se apresenta como espaço propício para a formação de redes e
potencializa as formas de representação e ação para transformação social. A cada dia,
ampliam-se as possibilidades para que os movimentos sociais criem e estruturem seus
próprios espaços comunicacionais digitais, oferecendo novas formas de atuação e
mobilização para seus ativistas. Neste sentido, esta pesquisa se propôs a analisar os
meios de comunicação digital desenvolvidos pela FEMAMA, com foco no processo
comunicacional, a fim de identificar a construção de vínculos entre os sujeitos e as
possibilidades de exercício da cidadania, oportunizada por essas tecnologias. A
FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da
Mama) é uma coalizão organizações não governamentais brasileiras, que busca
reduzir os índices de mortalidade por câncer de mama no Brasil, atuando na
articulação de uma agenda nacional única para influenciar a formulação de políticas
públicas de atenção à saúde da mulher. Através da análise e observação sistemática
do portal da organização na internet, foi possível perceber que estes espaços
comunicacionais tem potencial para suscitar e ampliar o debate acerca do direito à
saúde, possibilitando o exercício da cidadania comunicativa, principalmente entre os
membros da organização, contribuindo para a formação de vínculos identitários entre
ativistas envolvidos com a temática do câncer de mama. No entanto, verificou-se que
os espaços comunicacionais digitais, desenvolvidos pela organização, oferecem
poucos recursos para o diálogo com o público, apresentando pouca interatividade e
participação dos usuários no portal. Da mesma forma, a estética, a linguagem e o
formato do portal tendem a analogizar as lógicas das mídias tradicionais, na tentativa
de acionar os contratos de leitura que o público mantém com essas mídias. Nesse
sentido, o caso da FEMAMA se torna representativo de um paradoxo comunicacional
contemporâneo, no qual as lógicas das mídias hegemônicas tradicionais continuam a
dominar os processos produtivos, mesmo com todas as possibilidades de inovação e
ruptura atualmente disponíveis. Do mesmo modo, percebe-se que na medida em que
esses movimentos sociais se institucionalizam, formando organizações, cresce sua
94
necessidade de fixação no tempo, o que se evidencia na maneira com que se
apresentam no ambiente digital e em suas formas de enunciação. Contudo, a busca
pela permanência, característica das instituições entra em conflito com o imediatismo
e aceleração do tempo, próprios da internet, configurando-se em grandes desafios
comunicacionais para as organizações sociais, como a FEMAMA.
Problema Como os processos comunicacionais digitais estabelecidos entre a FEMAMA e suas
ativistas, engajadas na luta contra o câncer de mama, promovem práticas de
cidadania comunicativa e a construção de vínculos identitários?
Filiação teórica Acerca da noção de cidadania a pesquisa se debruça em autores como Cortina
(2010), Cogo (2010), Peruzzo (2010; 2012), Lacerda (2013; 2014), que entendem que
esse conceito integra exigências por justiça e sentimentos de pertença, não se
limitando, a reivindicações por bens imprescindíveis a sobrevivência, mas se
estendendo a aceitação e a inclusão social, tecnológica e comunicacional. No que diz
respeito ao conceito de identidade, a investigação toma a perspectiva de Hall (1997;
2009), Canclini (1998), Goffman (1992), de que a identificação não é singular e nem
automática, mas híbrida, podendo mudar de acordo com a forma com os sujeitos são
representados ou interpelados, bem como, ser perdida ou ganhada ao longo da vida
de acordo com as interações sociais de cada sujeito. Cabe esclarecer, também, que
as reflexões sobre a internet como espaço comunicacional, consideram não só a
rapidez do desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação digitais, mas
também o modo desigual com que esses recursos são acessados. Da mesma forma,
entende-se que o aumento das possibilidades de participação no debate público não é
determinado exclusivamente pelo desenvolvimento de novas tecnologias, mas pelos
usos sociais que são dados a essas tecnologias. (FRAGOSO; MALDONADO, 2009).
Impasses atuais Entender como as organizações da sociedade civil podem conciliar suas lógicas
institucionais de permanência com as lógicas de aceleração e imediatismo da internet,
no desenvolvimento de processos comunicacionais dialógicos que possibilitem o
exercício da cidadania comunicativa e construção de vínculos identitários. Buscar uma
combinação de procedimentos metodológicos que permitam verificar os usos e
apropriações que esses ativistas fazem dos espaços comunicacionais desenvolvidos
pela organização, já que as formas de enunciação da organização e os discursos dos
95
ativistas não deixaram rastros para a investigação das suas práticas identitárias e
cidadãs. Através das análises realizadas até o momento foi possível perceber que os
espaços comunicacionais digitais, desenvolvidos pela organização, tem potencial para
suscitar e ampliar o debate acerca do direito à saúde, possibilitando o exercício da
cidadania comunicativa. No entanto, verificou-se que estes espaços comunicacionais
oferecem poucos recursos para o diálogo com o público, apresentando poucas
possibilidades de interação e participação. Da mesma forma, as entrevistas em curso,
apontam pouca identificação das ativistas com o portal, bem como, com as
campanhas desenvolvidas pela FEMAMA. Segundo as entrevistadas, o processo de
planejamento e desenvolvimento desses espaços digitais e campanhas não é aberto
para participação e deliberação coletiva. Ao se sentirem excluídas do processo de
tomada de decisão, as ativistas associadas a organização perdem o vínculo e o
interesse nesses espaços comunicacionais. No entanto, continuam atuando
politicamente em rede e se organizando prioritariamente através da internet. Logo, o
impasse atual da pesquisa é identificar as plataformas de interação no ambiente digital
utilizadas por estes grupos para se manterem organizados e atuantes, para além dos
espaços digitais formalmente construídos pela organização.
96
Jornalismo e Teoria Ator-Rede: possibilidades e limites do princípio da simetria a partir da verificação digital
Moreno Cruz Osório
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo Neste momento, meu projeto inicial de tese está sendo reestruturado mas a ideia é
trabalhar com jornalismo digital, em tempo real, em rede e um momento bastante
específico da cobertura online: o breaking news. A complexidade de noticiar um fato
urgente em um ambiente de rede. Embora a pergunta que pretendo responder ainda
esteja em construção, posso afirmar que ela gira em torno da relação do jornalismo
com o conceito ainda a ser definido de breaking news. Ou seja, como o jornalismo,
pensado como sistema, se comporta em uma situação da explosão de uma notícia
urgente, em tempo real e em rede. Pensar nessa relação implica levar em conta a
convivência do jornalismo com outros atores não-jornalísticos (público, fontes, robôs,
sistemas, empresas, outras organizações jornalísticas, governos, figuras públicas, etc)
que influenciam diretamente e decisivamente na construção da realidade neste
momento especialmente efêmero que é o breaking news online. Se eu tivesse que
resumir o que a minha pesquisa tenta responder em uma pergunta, ela seria: o que é
o breaking news online para o jornalismo? Para tentar responder a esta pergunta,
alguns pontos precisam ser desenvolvidos. No momento, enxergo três grandes
tópicos. O primeiro é trabalhar o conceito de breaking news. Isso será feito
principalmente a partir de uma revisão bibliográfica dos trabalhos de jornalismo digital
e em rede publicados nos últimos anos. O segundo é a metodologia. A minha trajetória
até aqui indica que a Teoria Ator-Rede pode ser uma boa alternativa pela sua
capacidade de delinear o social a partir da relação entre os atores. Observar um
breaking news jornalísticos à luz da TAR pode ajudar a enxergar o jornalismo como
algo imaterial, que se dá a partir da relação do sistema jornalismo com os outros
atores que participam e influenciam a construção da realidade em um breaking news.
O terceiro tópico seria a análise de um (ou vários) breaking news (ataques terroristas,
acidentes aéreos, fenômenos naturais). Nesse momento eu tentaria mapear (a partir
da técnica de cartografia) a evolução de um breaking news através do tempo (eu gosto
de usar a metáfora de uma explosão), cujo objetivo seria tentar observar os
pressupostos teóricos desenvolvidos nos dois primeiros tópicos. Assim, respondendo
a pergunta: o que é um breaking news para o jornalismo? Trata-se de um constructo
teórico que vai buscar delinear o breaking news como um momento específico do
97
jornalismo realizado em redes digitais. Os seus contornos ainda não estão nítidos, ou
seja, ele ainda não existe. Mas pretendo desvelá-lo a partir do desenvolvimento de
uma reflexão desse determinado momento de atuação do jornalismo, utilizando, para
isso, as teorias do acontecimento, as práticas jornalísticas em ambiente digital e os
códigos deontológicos do jornalismo, todos sendo ‘confrontados’ por outros sistemas
de significação (não-jornalísticos) que atuam em rede durante tal momento. O que é o
breaking news online para o jornalismo? No momento, estou trabalhando com a Teoria
Ator-Rede, especialmente Latour e os pesquisadores brasileiros da área de
comunicação/jornalismo que vêm interpretando as reflexões do sociólogo francês à luz
da área. Também venho observando autores que têm se dedicado às mudanças
recentes no jornalismo (Daniela Bertocchi, Suzana Barbosa, Luciana Mielniczuk, etc),
seja na estrutura da notícia, seja nas práticas profissionais (muitos artigos publicados
na Journalism Practice), seja sob um viés teórico-epistemológico (Ronaldo Henn,
Gislene Silva, Carlos Franciscato, Eduardo Meditsch, Adelmo Genro Filho, Miquel
Alsina). Em função do meu tema de pesquisa, tenho me aproximado bastante das
teorias do acontecimento, principalmente por meio da coleção Jornalismo e
Acontecimento, mas também a partir de vieses mais basilares, como Louis Queré e
Adriano Rodrigues. São dois, basicamente. Ambos decorrentes do uso (ou não) da
Teoria Ator-Rede como base teórico-metodológica da pesquisa. O primeiro decorre do
posicionamento ontológico da TAR em relação à sociologia. Entendo que adotar os
pressupostos da TAR pressupõe assumir algumas posturas em relação à definição de
social que parecem um desafio grande demais, mesmo para uma tese de doutorado.
Em relação a isso, o impasse maior é a dúvida em relação a um possível
protagonismo de atores não-humanos no fazer jornalístico. Até onde é possível
desenvolver uma reflexão a respeito sem deixar de lado o caráter humanista do
jornalismo – no sentido de ser um agente capaz de promover transformações na
sociedade. Como o jornalismo pode afirmar o humanismo a partir de uma construção
teórica que parece negar o humanismo (segundo diz Latour). O segundo impasse
emerge a partir do momento em que se adota a TAR como pressupostos
metodológicos na pesquisa empírica. Ou seja, como realizar a pesquisa empírica a
partir dos pressupostos da TAR, visto que ela têm demonstrado fragilidades (no
sentido de ser evasiva demais)?
98
Juventude conectada: uma etnografia dos usos e apropriações de telefones celulares como mediador tecnoafetivo
Romulo Tondo
Universidade Federal de Santa Maria
Resumo O estudo em questão tem como objetivo investigar o consumo de smartphones entre
os jovens moradores do Jardim Aurora (os nomes usados essa pesquisa são fictícios
para preservar a identidade dos interlocutores), bairro popular localizado na zona
oeste de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Nesta pesquisa, o consumo é
compreendido através da Cultura Material e da importância que os objetos possuem
na construção do cotidiano de cada sujeito. Dessa forma, optou-se por um estudo de
caráter qualitativo, o estudo etnográfico, para compreender como esses jovens, com
idade entre 15 e 29 anos, utilizam o telefone celular para a manutenção e construção
de suas redes de sociabilidade, tendo como enfoque principal questões relacionadas a
construção das relações afetivas com e através do dispositivo móvel. As atividades de
campo desta investigação iniciaram em março de 2014, com a aproximação com os
jovens da comunidade através de uma atividade de cunho educativo e cultural na
escola Anita Garibaldi, dividida em três momentos: a aplicação de um questionário e a
observação dos níveis de acesso e usos e apropriações das tecnologias pelos
estudantes, a desconstrução da mídia e a construção de um ambiente
educomunicativo e a utilização do telefone celular como recurso pedagógico na
construção do olhar desses jovens sobre as experiências na comunidade, através da
captação de imagens de pessoas, paisagens urbanas e afetividades relacionadas com
a comunidade escolar. Em janeiro de 2015, ocorreu a imersão no campo, com intuito
de compreender melhor a posse e o consumo do telefone celular pelos jovens. Para
tanto, foi utilizada, como método principal, a observação participante, sendo possível,
através da convivência com os jovens e seus familiares, perceber a importância do
dispositivo na vida cotidiana. Neste momento, a pesquisa encontra-se em fase da
coleta de dados etnográficos, as entrevistas, sendo possível, através dos diálogos
informais e formais (utilizando-se a entrevista semiestruturada), perceber a relevância
dos smartphones na manutenção das redes de sociabilidade (re)construídas por esses
jovens através do dispositivo, bem como o tensionamento provocado pelos usos e
apropriações dos telefones celulares nas diferentes idades que abarca esta pesquisa.
Observa-se também que o dispositivo é responsável por mediar grande parte do
cotidiano desses jovens, bem como torna-se um dispositivo técnico-afetivo
99
indispensável para esses jovens na construção de suas conexões online e off-line.
Nesse cenário apresentado, como trabalhar com o grande fluxo de dados etnográficos
obtidos na pesquisa de campo? Como sistematizar esses dados sem perder a
sensibilidade proveniente das relações construídas através do estudo etnográfico?
Tema Consumo de telefones celulares por jovens de comunidade popular.
Objeto de pesquisa Telefones celulares – Smartphones
Problema Entender como o consumo cotidiano do smartphone, através de seus usos e
apropriações, pode ser compreendido na construção e manutenção das redes de
sociabilidade dos jovens moradores do Jardim Aurora.
Filiação teórica Antropologia do Consumo; Cultura Material; Estudo Etnográfico.
Impasses atuais 1) Grande fluxo de dados etnográficos obtidos na atividade de campo (na
comunidade e em sites de rede social e comunicador instantâneo). a. Como pensar a
estruturação e cruzamento de dados sem perder a essência de cada dos dados? b. A
pesquisa de campo ainda está em desenvolvimento. Como trabalhar com a questão
do afastamento do pesquisador do campo? 2) Os dados etnográficos em ambiente
virtual (site de redes sociais e mensagens enviadas através de comunicador) a. Como
trabalhar a quantidade de publicações diante de uma pesquisa qualitativa? Quantas
publicações devem ser analisadas para compor um cenário ideal diante do grande
fluxo de informação pertinente de cada interlocutor. b. Como trabalhar dados
provenientes de comunicadores instantâneos (como mensagens do Whatsapp ou
Messenger do Facebook).
100
Kindle Unlimited: Mudanças no consumo de livros, a partir da convergência midiática, no mercado editorial
Gabrielle Baratto Adolfo
Universidade Federal de Santa Maria
Resumo Este projeto visa apresentar um estudo sobre o Kindle Unilimited, desenvolvido pela
empresa Amazon, serviço que oferece acesso ilimitado a um catálogo de milhares de
ebooks com uma assinatura mensal, de baixo custo comparado a um livro físico.
Assim o projeto visa estudar essa nova modalidade de acesso, pois mescla conceitos
que subordinam a circulação de livros. O objetivo é analisar a recepção do serviço
Kindle Unilimited por parte dos usuários de Kindle Unilimited no Brasil, considerando a
participação em redes sociais. Este estudo justifica-se pela importância da
disseminação da cultura através dos livros online, a partir da concepção que o serviço
de Kindle Unilimited seja um canal mais acessível para consumo de livros. Pesquisa
realizada pela F/Nazca Saatchi & Saatchi (2013) em parceria com o Instituto
Datafolha, mostra que 43 milhões de brasileiros, com mais de 12 anos, navegam pela
internet por meio de dispositivos móveis. Somando o acesso através de tablets e
celulares, o número de brasileiros que se conectam a internet cresceu 22,5% em oito
meses. Assim, podemos entender que mais da metade dos brasileiros já estão
conectados, a internet torna-se, cada vez mais um meio de comunicação de relevância
nos contextos de consumo, tornado também um objeto de importante estudo. Vale
assim destacar a importância da busca pelo novo e o entendimento da recepção
desses novos produtos pela sociedade. A metodologia está baseada na pesquisa
qualitativa do tipo estudo de caso. A coleta de dados será por entrevista semiaberta
online com usuários de Kindle Unilimited que utilizam as redes sociais e aceitarem
participarem da entrevista. O referencial teórico será desenvolvido a partir de autores
como CHARTIER (1999), JENKINS (2008) EPSTEIN (2002) que servirão de base para
esse trabalho ser desenvolvido. Os impasses atuais para desenvolvimento desse
projeto estão presentes no método de pesquisa. Fatores como a abrangência e o
formato de coleta são dúvidas do projeto atual. As redes sociais irão ou não suprir as
necessidades para responder o problema de pesquisa desse projeto? Por que estudar
apenas pessoas que estão presentes em rede social para análise desse projeto? Há
como pesquisar usuários em outro ambiente, fora das redes sociais, como? Perguntas
como essas são impasses que de alguma forma impedem a solução desse trabalho.
101
Com esse estudo espera-se que seja possível entender as mudanças no consumo
livro, a partir da convergência midiática, no mercado editorial brasileiro.
Filiação teórica CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora
UNESP, 1999. ORG. DUARTE, Jorge. BARROS, Antonio. Métodos e técnicas de
pesquisa em comunicação. 2 ed. 5 Reimpr. São Paulo: Atlas, 2011. EPSTEIN, Jason.
O Negócio do Livro: Passado, Presente e Futuro do Mercado Editorial. Rio de Janeiro:
Record, 2002. F/Nazca Saatchi & Saatchi. Disponível em:
http://www.fnazca.com.br/index.php/2013/12/20/fradar-13%C2%AA-edicao/. Acesso
em: 24 de junho de 2015. JENKINS, Henry. A Cultura da Convergência. São Paulo:
Aleph, 2008. YIN, Robert K. Estudo de Caso: Planejamento e métodos. 2.ed. Porto
Alegre: Bookman, 2001.
102
Let’s talk about indie partie’s audience: A interação do público de festas indie em Porto Alegre nos Eventos no Facebook
Paola Sartori
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo Este processo de investigação pretende compreender como se dá a interação do
público de festas do gênero indie rock em plataforma digital, no caso, em específico,
nos Eventos no Facebook em festas realizadas na cidade de Porto Alegre e nas
possibilidades de rearranjamentos que estas interações trazem para o cenário indie
rock porto-alegrense. Num total de onze festas – que foram selecionadas a partir de
um recorte de um mês – e que aconteceram no período entre 07 de fevereiro e 07 de
março de 2015, é possível pensar em alguns pontos a partir de uma primeira análise:
1) em como o cenário se constitui e se reconstitui por meio destas interações; 2) na
legitimidade das interações – visto que tal cenário teve início em um período pré
popularização do Facebook; 3) nas afetividades criadas e/ou fortalecidas entre o
público e os produtores/DJ’s, bem como do público para com o próprio público; 4) em
um provável hibridismo cultural (BURKE, 2003) do cenário atual de festas indie rock
em Porto Alegre com a cena eletrônica, pois encontramos agora um certo “culto as
festas” e “culto aos DJ’s” – que pertenceu inicialmente à cena eletrônica – e que hoje
se faz presente dentro de uma cena indie que nasceu na Inglaterra dos anos 1990
(MARQUES apud AMARAL & KEHL, 2013) que cultuava bandas, shows e festivais
alternativos. A análise destes recortes pretende mostrar em como o cenário pode ser
transformado e rearranjado a partir do digital, aqui, em específico os Eventos no
Facebook de festas indie na capital gaúcha. Pensando também em como tal
plataforma pode ajudar no fortalecimento ou enfraquecimento de um cenário
dependendo da forma de como os produtores e público se apropriam da mesma. No
que diz respeito ao processo metodológico desta investigação foram utilizados
determinados procedimentos até este momento: 1) Pesquisa exploratória na categoria
“Eventos” no Facebook (a fim de definir o recorte do objeto pesquisado); 2) Pesquisa
bibliográfica; 3) Grupo Focal Online com produtores e DJ’s pertencentes ao cenário
supracitado. Com o objetivo de obter maior interação e confronto de ideias a cerca do
objeto, o Grupo Focal Online foi criado no Facebook, porém os integrantes se
recusaram em participar, afirmando que não gostariam de expor seus pensamentos e
informações sobre suas festas para outros produtores a quem enxergam nitidamente
como concorrentes; 4) Questionário online aplicados ao público (pessoas escolhidas
103
pelos critérios de confirmação aos eventos no Facebook e interação nos mesmos).
Entretanto, como tal estudo ainda não foi finalizado, outros métodos de pesquisa não
são descartados para uso futuro.
104
Livro Digital Interativo: a criação de uma narrativa digital na era dos jogos
Bruna Maria Teixeira
Lorian Moreira de Toledo
Thaís Cristina Martino Sehn
Universidade Federal de Pelotas
Resumo Muitos ebooks são apenas uma cópia exata do livro físico, a matriz que dará origem à
cópia impressa, algo que muitas vezes será até mesmo distorcido pela diagramação
primária de e-readers, como o Kobo e o Kindle (que permitem a alteração do tamanho
das letras, da cor e do tipo). Para tentar quebrar essa uniformidade, será explorado os
recursos do meio digital para a criação de algo que pode considerado uma
“subespécie” dos livros, que convive lado-a-lado com os livros analógicos e os ebooks,
os livros digitais interativos e animados. Criação de um livro digital interativo
diferenciado,utilizando-se de elementos de jogos e propondo-se atrair a atenção e
gosto do público jovem e adulto por meio deste. No processo, seria estudado o
mercado de diversas narrativas digitais, tais como a de Visual Novel e ficção interativa,
adaptando o formato e estrutura, assim como incorporando elementos de jogos de
conteúdo episódicos e narração digital para a criação do livro digital interativo. Muitos
ebooks são apenas uma cópia exata do livro físico, a matriz que dará origem à cópia
impressa, algo que muitas vezes será até mesmo distorcido pela diagramação
primária de e-readers, como o Kobo e o Kindle (que permitem a alteração do tamanho
das letras, da cor e do tipo). Para tentar quebrar essa uniformidade, será explorado os
recursos do meio digital para a criação de algo que pode considerado uma
“subespécie” dos livros, que convive lado-a-lado com os livros analógicos e os ebooks,
os livros digitais interativos e animados.
Tema Estudo de narrativas digitais e elementos de jogos de conteúdo episódicos, de
maneira a incorporar estes à criação de um livro digital interativo que atraia a atenção
do público jovem e adulto.
Problema É possível trazer o livro digital interativo e animado que normalmente utilizado para
crianças para outros gêneros, ampliando o público para abranger igualmente jovens e
adultos?
105
Filiação teórica MONTFORT, N. Twisty Little Passages: an approach to interactive fiction. Cambridge,
MA.: MIT Press, 2003. SANTOS, M. d. Hiperficção: Novas propostas para a leitura
literária do novo milênio. Pernambuco, Hipertextus, 2010. HAYLES, N. K. Electronic
Literature: New horizons for the literary. Indiana, University of Notre Dame, 2008.
MURRAY, Janet. Hamlet no Holodeck: O Futuro da Narrativa no Ciberespaço. São
Paulo, Itaú Cultural, UNESP, 2003.
Impasses atuais Este trabalho é o trabalho de conclusão de curso do curso de Design da Ufpel, o qual
inclui uma parte prática. Optamos por desenvolver a prática antes da pesquisa, para a
partir dela buscar a teoria. No momento encontra-se problemas com o
desenvolvimento da parte prática do livro, pois as habilidades do grupo não inclui a
parte de ilustração e programação, portanto pensa-se na possibilidade de contatar um
ilustrador. Também ainda não está definido como será desenvolvida a narrativa e
storyboard, tendo que realizar essa tarefa antecipadamente para que o ilustrador
possa realizar esta parte do trabalho. Outro problema é com a estrutura que o livro
será construído, pois propõe-se mesclar a narrativa digital ramificada com
interatividade e imersão do leitor.
106
Mapeando ecossistemas digitais de entretenimento e a cena jailbreak no Brasil: desafios metodológicos
Rosana Vieira de Souza
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo A presente pesquisa faz parte de um projeto que contempla o cenário de emergência
de ecossistemas digitais de entretenimento, os quais consistem na oferta de solução
integrada entre hardware, software e serviços. Tais configurações estão presentes nos
dispositivos móveis baseados no sistema iOS/Apple (iPod, iPhone, iPad) e serviços
iTunes e iCloud, nos consoles Sony PlayStation/Sony e PlayStation Network (PSN),
bem como no Xbox/Microsoft e serviços Xbox Live, entre outros. Estes ambientes
compartilham uma lógica de operação similar: seu funcionamento é dependente de
uma plataforma de software e de decisões empresariais sobre o hardware, os quais se
integram a um conjunto de outros serviços. O mercado consumidor deverá levar em
consideração, portanto, o modelo de integração operado por uma dada empresa que,
com frequência, está alinhado as suas estratégias de lock-in (aprisionamento) dos
usuários. Por esta razão, há uma crescente complexificação dos processos de
apropriação dos dispositivos computacionais contemporâneos que prometem
segurança e estabilidade em lugar de liberdade para operar tais dispositivos. Diante
desse panorama, estratégias que visam burlar estas mesmas limitações vêm sendo
implementadas por usuários comuns que se utilizam de ferramentas disponibilizadas
pela comunidade hacker para fins diversos. Desde o lançamento da primeira geração
do iPhone, em 2007, são bastante ativas comunidades hackers cujo intuito é oferecer
aos usuários comuns ferramentas que permitem o acesso a áreas específicas dos
dispositivos iOS para modificações não autorizadas pela Apple. A prática é conhecida
como jailbreaking que, em uma tradução livre, significa “livrar-se da prisão”. Em geral,
envolve um conjunto de métodos de hackerismo que habilita a instalação de
aplicativos não permitidos pela Apple em sua App Store, a realização de “mods”
(modificações), ou customização de ícones, ringtones, wallpaper, dock, teclado, bem
como criação de tweaks diversos que visam à personalização dos dispositivos e sua
adequação às necessidades do usuário, entre outros recursos. Nesse sentido,
buscamos identificar em trabalhos anteriores (AMARAL e SOUZA, 2013) de que forma
jailbreakers, em suas práticas de apropriação da plataforma, manifestam resistência
cotidiana, no sentido de De Certeau (1994), aos scripts de uso definidos pela
fabricante. Enquanto aquele estudo buscava compreender, mediante o uso de
107
pesquisa exploratória e entrevistas em profundidade, a prática do jailbreak em
dispositivos iOS, o segundo trabalho visa a um mapeamento mais aprofundado da
prática e, sobretudo, das interações e articulações que se estabelecem no ambiente
digital permeado por fóruns, sites e plataformas de redes sociais frequentados pelos
jailbreakers, os quais são fundamentais no suporte à manutenção de tais práticas. Os
desafios metodológicos que se apresentam se referem, assim, aos limites deste
mapeamento que busca constituir uma “cena” da prática do jailbreak no Brasil, bem
como à possível dificuldade de acesso às dinâmicas que envolvem esta comunidade.
.
108
Mediação e agência não-humana em um coletivo de comunicação e jornalismo brasileiro
Leonardo Feltrin Foletto
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo O papel da tecnologia tem sido discutido nos estudos de comunicação e jornalismo,
mas pouco se tem falado sobre a agência não-humana nas múltiplas mediações que
ocorrem na prática comunicativa, em especial no jornalismo. Este trabalho busca uma
aproximação da comunicação e do jornalismo com os estudos da teoria ator-rede
(TAR) para compreender a rede de mediações na produção comunicativa de um
coletivo de comunicação e jornalismo brasileiro. Para isso, o percurso teórico
apresentado considera o contexto atual como o de uma retomada do pensamento
sobre o papel das materialidades nos processos de comunicação (FELINTO, 2013),
perspectiva que recoloca nos processos sociais os objetos técnicos e amplia a noção
de agência para além da ação intencional humana (LATOUR, 1992, 1994; CALLON,
2008; LEMOS, 2013). É uma noção que vai em oposição a ideia dominante na
comunicação e no jornalismo, de uma mídia como idealmente transparente, o que
pressupõe que a mediação precisaria ser inexistente ou inócua (LEMOS, 2013).
Objeto de pesquisa O objeto empírico escolhido para a pesquisa, que está sendo desenvolvida no âmbito
do PPPGCOM da UFRGS em nível de doutorado, foi a Mídia NINJA, coletivo brasileiro
de comunicação e jornalismo criado em março de 2013, a partir da experiência dos
núcleos de comunicação do Fora do Eixo, rede de coletivos político-culturais
espalhada pelo Brasil. A NINJA teve grande visibilidade durante os protestos de junho
de 2013, no Brasil, em especial pela cobertura ao vivo das manifestações que
ocorreram pelo país, todas elas realizadas por dispositivos digitais móveis. Desde
então, continua a registrar (em texto, foto e vídeo) e a cobrir pautas ligadas à cultura,
movimentos sociais, manifestações de rua, política e juventude.
Problema O papel da tecnologia tem sido discutido nos estudos de comunicação e jornalismo,
mas pouco se tem falado sobre a agência não-humana nas múltiplas mediações que
ocorrem na prática comunicativa, em especial no jornalismo. Este trabalho busca uma
aproximação da comunicação e do jornalismo com os estudos da teoria ator-rede
109
(TAR) para compreender a rede de mediações na produção comunicativa de um
coletivo de comunicação e jornalismo brasileiro, a Mídia NINJA. O problema que move
esta pesquisa é: como se estabelece a rede de mediações entre humanos e objetos
técnicos (não humanos) na ação da Mídia NINJA?
Filiação teórica Este trabalho se filia aos estudos de comunicação, jornalismo e tecnologia a partir do
referencial da Teoria ator-rede (TAR). Originada nos estudos da Sociologia da Ciência
e da Técnica, a TAR surge nos anos 1980, no contexto de alternativas às concepções
estruturalistas e funcionais da ciência. Estas oferecem ora explicações sociais,
baseadas em relações de causa e efeito ocasionadas pelo social isolado do
“fenômeno” a ser analisado, ora essencialistas, centradas no fenômeno a ser
analisado, sem considerar as suas relações sociais, econômicas, culturais, etc. Em
oposição a isso, pesquisadores como Bruno Latour, Michel Callon, Madeleine Akrich e
John Law, entre outros, começaram a defender a ideia de que as inovações científicas
e técnicas não poderiam ser pensadas de forma separada do contexto em que se
inserem e dos atores envolvidos em sua produção. Assim, propõem uma “sociologia
da mobilidade”, que não considera nada do que quer explicar como algo dado (LAW,
1992), e onde a explicação para os fenômenos sociais passa a se dar no fluxo, na
circulação em rede entre os atores envolvidos, sejam eles humanos ou não-humanos.
Segundo André Lemos em “A Comunicação das coisas” (2013), a TAR propõe às
ciências sociais atenção “à dinâmica da formação das associações, aos movimentos
dos agenciamentos, à distribuição da ação entre atores diversos, humanos e não-
humanos, a partir de uma simetria generalizada” (LEMOS, 2013, p.37). Trata-se de
uma perspectiva que questiona o social como algo estável, que possa ser explicado
através de análises fixas que separam os elementos envolvidos: o social como algo
diferente do científico, o local e o contexto de um laboratório das ações ali passadas,
como exemplifica Latour em um de seus primeiros trabalhos – “A vida de laboratório: a
produção dos fatos científicos”. A TAR busca “reagregar o social” ao colocar os
fenômenos como consequência de associações diversas de pesquisadores e objetos
em redes complexas e não propor qualquer definição rígida que possa ser aplicada em
todas as situações (LEMOS, 2013, p.39). Os apontamentos da TAR oferecem um
repertório importante para a reconfiguração do que é um agente na ação comunicativa
e para o entendimento sobre mediação hoje. Particularmente, ao trazer a ideia de que
não se pode compreender o processo de comunicação sem levar em consideração as
materialidades e os objetos não-humanos (CALLON, 2008), a TAR pode nos ajudar
também a entender o papel dos objetos na mediação jornalística, papel que tem sido
110
deixado de lado nos estudos do jornalismo por estes adotarem uma perspectiva
determinista do que o jornalismo deveria ser, e não aquilo que a realidade mostra que
ele é (PRIMO & ZAGO, 2015). O resultado é que estes estudos acabam por ignorar as
múltiplas mediações que tem atravessado a mediação jornalística (ARCE,
ALZAMORA, SALGADO, 2014), especialmente com o advento da internet, e o papel
ativo, como actante, que os objetos não-humanos podem ter na concepção do produto
jornalísticos.
Impasses atuais A pesquisa aqui apresentada está em sua etapa pré-qualificação. A forma escolhida
para estudar a Mídia NINJA foi a observação participante, com recorte etnográfico, por
entender-se ser uma metodologia adequada ao estudo de grupos organizados que
podem ser chamados de comunidade ou sociedade (ANGROSINO, 2009). Além disso,
trata-se de método também bastante utilizado na perspectiva da TAR. A partir daí, em
maio deste 2015 foi realizada uma observação piloto de 6 dias, com o objetivo de
testar a metodologia num período curto de observação, ver a sua viabilidade e
promover os ajustes necessários para o trabalho de campo mais longo, a ser feito
depois da qualificação, inicialmente durante dois meses, em cidades diferentes e com
intervalos de tempo entre elas, no segundo semestre de 2015 e no primeiro de 2016.
No decorrer desta observação teste, procurei acompanhar o fluxo dos processos em
busca das associações criadas pelos actantes, me atentando ao fazer mais do que o
produto feito. No que diz respeito aos objetos técnicos, tentei destacar aqueles
momentos que, como Akrich (1992, p.206) explica, há potenciais de quebra:
negociação e desacordo entre o “dentro” e “fora” dos objetos, momentos em que,
segundo a autora, a descrição dos objetos técnicos é possibilitada. Nem sempre
consegui encontrar estes momentos, e a partir daí surgiram alguns impasses: dada a
quantidade de objetos e o fluxo veloz das ações ocorridas num coletivo como a Mídia
NINJA, como identificar os rastros deixados pelos objetos técnicos nas redes de
mediações? A complexidade do fluxo de comunicação do coletivo, que se diz
jornalístico e também de midiativismo, e a quantidade das redes sociotécnicas
envoltas na ação da Mídia NINJA fez com que, neste primeiro momento, eu tivesse
dificuldade em detectar estas situações diante de outras várias que, na minha lente de
analista, aparentavam se mostrar mais interessantes para outras questões conceituais
envolvidas nesta pesquisa, como por exemplo a identificação de quando a Mídia
NINJA exerceria o jornalismo e quando exerceria o midiativismo. Outras questões a
discutir seriam sobre o tempo e os procedimentos de observação. Qual o tempo
mínimo e os procedimentos necessários para observar e detectar os rastros deixados
111
pelos actantes nas redes de mediação? É necessário mapear os actantes inicialmente
e, então, se debruçar para analisá-los com profundidade depois?
112
Memórias digitais: além do armazenamento
Daniel Bassan Petry
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo Tornou-se comum encontrarmos apresentações, relatos e falas sobre pesquisas em
mídias digitais, especialmente as online, que tratam da expressão “memória digital”
como diretamente relacionado ao arquivamento e armazenamento de informações,
realizando uma aproximação da palavra “memória” com a utilizada para descrever
componentes dos computadores e eletrônicos contemporâneos. O que aconteceria se,
ao invés de entendermos as potências do significado da “memória digital” a partir de
uma relação com aparelhos eletrônicos, de uma forma ou outra distantes de nossa
natureza humana, procurássemos desenvolver uma compreensão a partir da do corpo
humano? Nossa pesquisa tem como intenção explorar a noção da memória digital
como agente distante do mero arquivamento e armazenamento de informações. A
partir de uma perspectiva bergsoniana (Bergson, 1999, 2006), propomos que mídias
digitais, digitalizadas ou novas mídias (Petry, 2015) podem possuir um status de
memória frente à relação do usuário com elas. As mídias, em si, possuem a
capacidade de atuarem como instigadoras de lembranças (atualizações da memória),
neste caso sendo reconhecidas como memórias digitais. Mas estas mídias possuem,
assim como a memória humana, uma característica de constante atualização e até de
semi-onipresença (Chun, 2006). Só há, de fato, presença das mídias quando elas são
atualizadas por seus softwares. Arquivos computacionais são conjuntos de
informações armazenadas em uma mídia física de suporte. O acesso a estes dados, o
“abrir um arquivo digital” é, na realidade, solicitar que um conjunto de instruções
interprete tais informações. Dependendo do aparelho de suporte, software (nas
diversas instâncias) e da integridade do conjunto estas informações podem ser
interpretadas de forma idêntica à esperada ou em erros. Por exemplo: versões mais
recentes de softwares não necessariamente suportam a forma de codificação de
dados das mais antigas. A semi-onipresença é mais evidente quando tratamos de
serviços de nuvem, tal qual Dropbox, Onedrive e Google Drive. Estes serviços
prometem (em seus websites) acesso aos arquivos neles confiados a partir de
“qualquer dispositivo, de qualquer lugar”. Mas são premissas para tais a conexão com
a internet e acesso a uma máquina capaz, além da capacidade ou não de intepretação
dos dados, anteriormente mencionada. Temos, portanto, como parte da proposta de
nossa pesquisa, abandonar o senso comum de que a memória é um mero
113
armazenamento de informações e que, por consequência, a memória digital seria a
vertente eletrônica desta ideia. Se a memória humana é parte do que define, muitas
vezes nos escapando, agindo de forma inconsciente e, em um relance, nos
transportando para momentos já vividos e há muito esquecidos, questionamos onde e
como podemos encontrar resquícios da memória humana das práticas das mídias
digitais, digitalizadas e das novas mídias? Enfrentamos alguns empasses na definição
de nossos empíricos. Que materiais deixam transparecer os métodos do software que
aproximam este agir dos realizados pela memória humana? Onde encontrar resquícios
deles? Atualmente lançamos nossos olhares para serviços on-line como Flickr e
Google Photos, que não só prometem o armazenamento destes materiais, mas
também ações automatizadas sobre eles como identificação de assuntos, curadorias,
criação de narrativas visuais. No exemplo do Google Photos, o serviço cria narrativas
visuais, mas considera somente fatores técnicos: a foto está bem batida? Possui boa
definição? Qual a relação geográfica e cronológica com as outras fotos? Uma
fotografia de grande importância emocional, mas com péssima técnica é esquecida? A
atuação do serviço permite o resgate de materiais capazes de induzirem lembranças?
Outra pergunta que temos ainda por responder gira em torno dos dados criados
automaticamente por estes serviços. As informações geradas a partir da interpretação
dos arquivos pelos algoritmos, neste caso imagens, salvas em seus bancos de dados,
seriam o equivalente à produção de uma memória maquínica? Seriam estas as
verdadeiras memórias digitais?
114
Midiatização do ativismo e jornalismo digital
Maria Clara Aquino Bittencourt
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo A pesquisa propõe o estudo sobre transformações, elementos e continuidades do
jornalismo digital com foco nos processos de produção e circulação de narrativas
construídas no contexto de movimentos em rede por coletivos midiáticos
independentes, sem ignorar a atuação de veículos de massa que publicam conteúdo
online. O fortalecimento desses coletivos vem gerando apropriações técnicas e sociais
de ferramentas de comunicação digital para narrar os acontecimentos nas ruas. Essa
pluralidade é marcada por usos que potencializam a participação e a colaboração na
produção e na circulação de múltiplas vozes e discursos, mas também reproduzem
práticas e modelos baseados na verticalidade e unilateralidade de processos
comunicacionais (AQUINO BITTENCOURT, 2014). Utiliza-se o conceito de
midiatização para pensar o entrelaçamento entre as noções de convergência midiática
(AQUINO BITTENCOURT, 2012) e mídia de espalhamento (JENKINS, FORD E
GREEN, 2013). Apropriações midiáticas por cidadãos, ativistas e movimentos, e pela
própria mídia de massa, ampliam a reflexão sobre a midiatização do ativismo e dos
processos de produção e circulação de narrativas sobre os protestos. Uma das
consequências mais significativas da midiatização, para Braga (2012), é o
atravessamento dos campos sociais específicos que gera situações indeterminadas e
experimentações correlatas. Fausto Neto (2008) relata a disseminação de novos
protocolos técnicos na extensão da organização social, a intensificação de processos
que transformam tecnologias em meios de produção, circulação e recepção de
discursos. A noção de midiatização do autor se baseia ideia de apropriação, que
provoca a intensificação de tecnologias convertidas em meio. Essa conversão é
cadenciada por apropriações sociais, de modo que a midiatização é a atividade que
ultrapassa o domínio dos meios em si, expandindo-se ao longo da organização social,
conferindo-lhe uma nova dinâmica. Questões fundamentais sobre a interferência dos
meios na cultura e na sociedade decorrem da midiatização, explica Hjarvard (2014),
que trabalha o conceito a partir do entendimento de que a influência da mídia acontece
não só sobre as sequências comunicativas entre os atores sociais e as mensagens,
mas também na relação entre os meios e outras esferas sociais. Nesse contexto
midiatizado, o relato dos fatos escapa ao controle da mídia de massa e suscita a
reflexão sobre os processos de produção e circulação de narrativas realizados por
115
diferentes atores. Esse processo reflexivo partirá de um mapeamento dos coletivos e
das ferramentas de comunicação digital que utilizam, para que se possa observar
formatos, características, elementos e dinâmicas nos processos de produção e
circulação das narrativas. Métodos de observação dos processos e de entrevista com
os produtores dos conteúdos serão empregados, além da possibilidade de
questionários com os consumidores dos conteúdos, caso seja necessário para avaliar
o processo de circulação. Análises comparativas com veículos de comunicação de
massa serão realizadas com o objetivo de identificar os impactos das atividades dos
coletivos na narrativa jornalística digital. Serão realizadas também rodadas de
pesquisa documental para contextualizar os acontecimentos escolhidos como casos a
serem analisados para atingir os objetivos da pesquisa.
Objeto de pesquisa Processos de produção e circulação de conteúdos por coletivos midiáticos em
contexto de movimentos em rede.
Problema As questões de pesquisa giram em torno dos impactos da midiatização do ativismo no
jornalismo digital: Quais os principais elementos e características de processos de
produção e circulação de narrativas de coletivos midiáticos? É possível identificar um
padrão de atuação dos coletivos na condução desses processos? Como a atividade
desses coletivos midiáticos pode impactar na reflexão sobre jornalismo digital? Em
que tipo de modelo comunicacional a atividade desses coletivos midiáticos se insere?
Filiação teórica A pesquisa está estruturada em três eixos, fundamentados na ideia de apropriação
(Lemos, 2001).
LEMOS, André. Cyberpunk: apropriação, desvio e despesa na cibercultura. Trabalho
apresentado no GT de Tecnologias Informacionais de Comunicação e Sociedade do X
Compós – Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação.2001.
* Processos de produção e circulação de narrativas jornalísticas digitais:
BARBOSA, S.; FIRMINO, F. ; NOGUEIRA, L. ; ALMEIDA, Y. A atuação jornalística em
plataformas móveis. Estudo sobre produtos autóctones e a mudança no estatuto do
jornalista. Brazilian Journalism Research (Online), v. 9, p. 1-20, 2013.
BRADSHAW, Paul. News Distribution in a new media world. Online Journalism Blogs,
2 jan. 2008. Disponível: http://goo.gl/9DL5xD.
116
JENKINS, Henry. Convergence Culture: Where Old and New Media Collide. NYU:
Press, 2006.
JENKINS, H.; FORD, Sam; GREEN, Joshua.Spreadable media: creating value and
meaning in a networked culture. New York University, 2013.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet, difusão de informação e jornalismo:
elementos para discussão. In: SOSTER, D.A.; SILVA, F.F. (Orgs.). Metamorfoses
jornalísticas 2: a reconfiguração da forma. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2009, p. 37-
55.Disponível: http://goo.gl/XGqHWp
ZAGO, Gabriela. Informações jornalísticas no Twitter: redes sociais e filtros de
informações. In: III Simpósio da ABCiber, São Paulo. Anais… São Paulo, SP, 2009.
ZAGO, Gabriela. Circulação jornalística no Twitter: apontamentos para discussão. VIII
Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Universidade Federal do
Maranhão, São Luís. Nov. 2010.
* Midiatização do ativismo:
ASSIS, G.E. Táticas lúdico-midiáticas no ativismo político contemporâneo. Dissertação
de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos. 2006.
BRAGA, J.L. Circuitos versus campos sociais. In: MATTOS, MA. JANOTI JUNIOR, J.;
JACKS, N. Mediação e Midiatização. Livro Compós 2012. Salvador, Brasília. EDUFBA,
Compós, 2012.
FAUSTO NETO, A. Fragmentos de uma analítica da midiatização. Revista Matrizes, n.
2, abril 2008. Disponível: http://200.144.189.42/ojs/index.php/MATRIZes/article/
view/5236/5260
HJARVARD, S. A midiatização da cultura e da sociedade. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2014.
* Movimentos em rede e coletivos midiáticos:
ANTOUN, H.; MALINI, F. Ontologia da liberdade na rede: as multi-mídias e os dilemas
da narrativa coletiva dos acontecimentos. Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho
Comunicação e Cibercultura, do XIX Encontro da Compós, na PUC-RJ, Rio de janeiro,
RJ, 2010.
MALINI, F.; ANTOUN, H. A internet e a rua: ciberativismo e mobilização nas redes
sociais. Porto Alegre: Editora Sulina, 2013.
CAMMAERTS, B. Lógicas de protesto e a estrutura de oportunidade de mediação.
Matrizes – Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da
Universidade de São Paulo, ano 7, n. 2, p. 13-36, jul./dez. 2013.
CASTELLS, M. Networks of outrage and hope: social movements in the internet age.
Politik. Wiley, 2012.
117
SCHERER-WARREN, I. Das mobilizações às redes de movimentos sociais. In:
Sociedade e Estado. Brasília. V. 21. N. 1. P. 190-130. Jan/abr, 2006. Disponível:
http://goo.gl/XTL5bj
TORET, J. Una mirada tecnopolítica sobre los primeros días del #15M, Tecnopolitica,
Internet y Revoluciones sobre la Centralidad de Redes Digitalez en #15M. Barcelona:
Icaria Editorial, 2012.
TUFTE, T. O renascimento da Comunicação para a transformação social –
Redefinindo a disciplina e a prática depois da ‘Primavera Árabe’. In: Intercom – RBCC.
São Paulo, v.36, n.2, p. 61-90, jul./dez. 2013.”
Impasses atuais O projeto tem início em 2015/2 e as dificuldades iniciais se referem aos procedimentos
metodológicos. Inicialmente a proposta é mapear os coletivos midiáticos que
produzem e colocam em circulação conteúdos relativos aos movimentos sociais
brasileiros que se organizam através das redes para a realização de atos e protestos
de rua. No entanto, há dúvida sobre as técnicas a serem empregadas nesse
mapeamento. Num segundo momento o objetivo é investigar os processos de
produção e circulação dos coletivos, de forma que um conjunto de técnicas deverá ser
empregado para esse momento da investigação. Esse conjunto ainda não foi definido
e precisa ser debatido com relação aos formatos de publicação que serão
investigados, com quem será necessário entrar em contato para descobrir as
motivações de uso de ferramentas de comunicação digital, além de decidir se os
seguidores desses coletivos são inseridos no corpus da pesquisa.
118
Nas ruas e nas redes: uma etnografia com a Mídia Ninja
Nathália Schneider
Universidade Federal de Santa Maria
Resumo O trabalho procura refletir questões sobre as práticas, as inquietações, o estilo de vida
e o modo de organização do grupo ativista e midialivrista NINJA – Narrativas
Independentes, Jornalismo e Ação –, assim como o seu potencial de mobilização e
cobertura em rede, tanto nas redes quanto nas ruas. Apresento um contexto político,
social e cultural favorável de caráter progressista na América Latina para o
desenvolvimento de políticas públicas de comunicação e de cultura com ênfase no
Brasil. No cenário brasileiro, disserto sobre o Governo Lula e a gestão do Ministério da
Cultura por Gilberto Gil com destaque para as Jornadas de Junho. Analiso este
cenário sob a perspectiva de uma sociedade em rede potencializada pela internet,
com a apropriação da mesma pelos movimentos sociais e coletivos culturais na
produção de um ativismo colaborativo de livre circulação, que estoura os limites da
plataforma digital. Este formato de ativismo, que está diretamente ligado à cultura
hacker da internet, é apresentado para contextualizar o midialivrismo ciberativista, que
pauta a democratização da comunicação através de uma disputa de narrativa com a
mídia hegemônica. Por meio da pesquisa de inspiração etnográfica multi situada com
observação de campo, utilizo o meu olhar e lugar privilegiado como militante do grupo
através da técnica de estranhar o familiar para refletir e compreender as relações entre
a militância nas redes e nas ruas e a vida coletiva que os ninjas levam. Do caixa
coletivo ao creative commons, da divisão de tarefas da residência cultural ao modo de
organização na internet, das ruas às redes, busco compreender o ativismo como um
estilo de vida desse grupo e o seu papel do midialivrismo na disputa de narrativa pela
democratização da comunicação.
Tema Ativismo e midialivrismo.
Objeto de pesquisa Organização e estilo de vida do coletivo de mídia independente NINJA.
119
Problema A Mídia NINJA cresceu de forma tão espontânea e rápida durante e após as Jornadas
de Junho que perdeu o controle. Quem são estes NINJAS? O grupo ativista
denominado Mídia NINJA participa, constrói e articula ações e coberturas ao lado dos
movimentos sociais nas redes e nas ruas. Como é a forma organização e o estilo de
vida deste coletivo tão heterogêneo? Seria a vida coletiva um reflexo do ativismo da
Ninja? Por que gerar uma disputa de narrativa em oposição a grande mídia?
Filiação teórica Para pesquisar a Mídia NINJA é necessário compreender primeiramente, que hoje
vivemos numa sociedade em rede (CASTELLS, 1999) mediada pelas tecnologias de
informação e comunicação. A Web 2.0, com um novo fluxo, velocidade e possibilidade
de ser produtor de conteúdo e não apenas receptor ou consumidor, faz emergir novo
usuários emponderados e com voz, que possuem opiniões e geram debates, sem a
necessidade de mediação da grande mídia. Todas essas possibilidades de uma maior
democracia que existe na internet não surgiram apenas da invenção de aparatos
tecnológicos, inúmeros fatores também estiveram envolvidos e foram essenciais para
que os indivíduos e sua relação com a internet viesse a ser o que é hoje. Entres esses
outros fatores, na minha pesquisa, é essencial contextualizar o cenário político
progressista da América Latina na última década. Moraes (2011) apresenta a
importância desses governos nas mudanças das políticas públicas voltadas para a
comunicação, com um objetivo de diminuir o monopólio midiático presente em quase
todos os países do nosso continente. No Brasil, inserido em contexto similar, as
políticas culturais assumidas pelo governo Lula e Dilma, e principalmente as gestões
do Ministério da Cultura do Brasil do Gilberto Gil. Este cenário político é essencial para
conseguir entender o midialivrismo ciberativista (MALINI, 2013) na sociedade e na
internet hoje. O midialivrismo ciberativista tem origem junto com a internet e a Cultura
Hacker (CASTELLS, 2003), carregando estes valores em seu cerne. Desta forma, a
produção desse midialivrismo é realizada através de aparatos tecnológicos e
dispositivos digitais, em um processo coletivo e colaborativo em rede, com grande
fluxo, troca e compartilhamento de conhecimento e experiências. Segundo Malini
(2013) o “principal resultado é a produção de um mundo sem intermediários da cultura,
baseada na produção livre e incessante do comum, sem quaisquer níveis de
hierarquia”. Identifico então o marco teórico da minha pesquisa diante dos conceitos
expostos: a sociedade em rede para compreender o caráter hacker dos grupos
midialivristas ciberativistas, compreendendo o contexto político, social e cultural do
país e a importância da democratização da comunicação para os grupos mídia
120
ativistas. A metodologia que proponho para realizar esta pesquisa é uma inspiração a
etnografia com o meu sujeito de estudo, no caso, a Mídia NINJA. Antes, de pontuar as
técnicas que pretendo usar na minha imersão com os NINJAS, trago para dentro da
minha pesquisa o compreendimento de uma etnografia multi situada (MARCUS,
1995), pois vou utilizar meu olhar privilegiado como ex-integrante no universo da
internet, nas manifestações nas ruas e principalmente, em suas residências coletivas.
Desta forma pretendo utilizar a técnica da observação participante, com diário de
campo para assim registrar e sistematizar as minhas experiências, a qual dialoga com
a praxis militante crítica exposta por Savazioni (2013). Segundo Foote-Whyte (2005)
“assim como seus informantes, o pesquisador é um animal social”, acredito então que
a neutralidade é um mito inalcançável, sendo o meu envolvimento com opinião sobre o
estudado inevitável, mas como pesquisadora também compreendo que a imersão total
no campo não é um objetivo do antropólogo na etnografia. Assim, procuro encontrar
um equilíbrio saudável entre ambos os lados. Diante do apresentado, reforço que a
escolha da metodologia – observação participante com diário de campo – está
diretamente ligada a minha vivência com a militância no grupo, pois ao me deparar
com o meu sujeito de estudo, procurando já o estranhamento, enxerguei que apenas
mergulhando novamente neste meio poderia compreender e refletir sobre as suas
práticas.
Impasses atuais Após a minha inspiração etnográfica com a Ninja, percebi dificuldades entre separar –
e se é necessário separar – a pesquisadora da militante, pois as relações de amizades
e os afetos que já existiam durante a minha militância permanecem e foram
resinificados durante a minha pesquisa. Para os ninjas, eu não sou uma pesquisadora,
eu sou uma ninja. Da mesma forma, reflito sobre a utilização de nomes fictícios para
os integrantes do grupo, pois alguns são considerados figuras públicas no ambiente
dos movimentos sociais e mídia alternativas. Pontuo, que pretendo utilizar o nome real
do grupo em minha pesquisa, porém problematizo se uso o nome real ou fictício dos
integrantes. Outro questão, que surgiu durante a pesquisa de campo, é a negociação
com o sujeito de estudo sobre o que será dito. Certas contradições e problemas
internos se revelados será mal visto pelo grupo. Como estou utilizando o nome do
coletivo, eles podem interferir no que será publicado? Eles tem o direito de escolher o
que será dito sim ou não? Isso seria ético? Ou expor elementos que o coletivo não
queria, seria quebrar a confiança estabelecida no campo?
121
O Design e seus artefatos: proposta de estudo sobre o imaginário gráfico
Karina Pereira Weber
Instituto Federal Sul-Rio-Grandense
Resumo A pesquisa tem como objetivo aproximar os estudos do Imaginário para pensar os
artefatos de design. Os estudos sobre imaginário foram abordados durante minha
pesquisa de mestrado, para pensar o consumo das marcas no contexto
contemporâneo, onde se tem um grande apreço pelas imagens, inclusive, pela
construção de uma imagem de si. No entanto, minha pesquisa não abordou o design
como alvo, algo que gostaria de propor no doutorado, devido minha formação em
Design Gráfico. Minha intenção é trazer uma aproximação entre estes dois campos de
saberes. O design produz artefatos que mediam as comunicações e ajudam a criar e
renovar os espíritos do tempo. Como produtor cultural, seus artefatos influenciam no
imaginário ao mesmo tempo em que sua produção também é influenciada por um
imaginário instituído. Neste sentido, penso que usar o imaginário como modo de ver
essa atividade de design possa ser revelador para pensar os processos de criação e
materialização desses espíritos do tempo, bem como compreender a própria atividade
do design. Sobretudo, amparado ao conceito de tecnologia do imaginário de Juremir
Machado da Silva, o qual compreende o próprio design enquanto tal. Dito isto, a
proposta de pesquisa que apresento é um estudo dos artefatos de design, suas
produções, que estão condicionadas a um contexto sociocultural, tecnológico, a partir
das teorias do imaginário, buscando uma compreensão sobre essa atividade complexa
e cada vez mais crescente. O entrecruzamento dos dois campos de saberes
(imaginário e design) podem ajudar a pensar: O que nós, designers, estamos
produzindo enquanto dado cultural? De que forma nossa atuação impacta no espaço-
tempo em que estamos inseridos? Contribuímos para a formação de um espírito do
tempo? Como isto ocorre? Para pensar isto pelo viés do imaginário, proponho fazer
um estudo da Revista Senhor, a qual circulou de 1959 a 1964, durante cinco anos,
pois, segundo Gilbert Durand, é preciso de um tempo para que se cristalize um
imaginário de uma época. Assim, a revista tendo seu ciclo iniciado e concluído,
podemos observar este artefato de modo completo: desde seu surgimento, até suas
últimas publicações, contextualizando com os acontecimentos sócio históricos da
época, os quais irão complementar a compreensão deste objeto. A Revista Senhor foi
marco na imprensa brasileira. Comumente é citada nas bibliografias do Design
Editorial como referência. Não apenas por sua importância em termos de Design, mas
122
pelo conteúdo que publicava para o período em que circulou. A década de 1960 foi um
período importante para o cenário cultural do país, e as publicações e autores
apresentados pela Senhor com certeza contribuíram para tal cenário. Em 2012 foi
lançada uma coleção da revista pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,
organizada por Ruy Castro, relançando artigos, cartuns, anúncios e demais conteúdos
publicados pela originalmente revista. O grande impasse para a pesquisa é o fato de
os estudos do imaginário não serem muito comuns para pensar o design, o que
dificulta a inserção em uma pós-graduação, encontro de orientador que se aventure
para orientar, porque normalmente contempla ou uma ou outra área. Outro ponto que
talvez possa ser acrescentado, seria analisar outros periódicos da mesma época e,
também, alguns atuais para visualizar como esse imaginário é revisitado ainda hoje
como algo consagrado e, poderíamos dizer, atualmente, elitizado.
123
O espaço da MPB do Rio Grande do Sul na mídia
João Vicente Ribas
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Resumo Como tese de Doutorado em Comunicação na PUCRS, proponho uma pesquisa sobre
a relação dos cancionistas de Música Popular Brasileira (MPB) do Rio Grande do Sul
com a mídia. Em estágio inicial, o desafio atual está posto quanto à delimitação das
amostras de artistas e veículos de comunicação. Entre os objetivos está analisar as
trajetórias de cantores-compositores, tais como Bebeto Alves, Nei Lisboa e Vitor
Ramil, percebendo as mudanças tecnológicas de comunicação e como eles se
adaptaram a elas. Considera-se nomes que há quase 40 anos estão em atividade.
Portanto, passaram pela gravação de long-plays (LPs) em grandes gravadoras
nacionais, aderiram à cena independente e hoje financiam discos e shows por
crowdfunding via web. De forma específica, proponho aprofundar questões de
identidade, estética e consumo, para compreender melhor no contexto contemporâneo
a relação de músicos de vanguarda com a mídia. O posicionamento de ambos os
lados (artista e comunicador) frente à mundialização da cultura, e na busca por
conquistar público, deverão ser categorizados e compreendidos, em suas diversas
formas. Outra questão importante que será contemplada, relativa mais à radiodifusão,
é a comparação entre as comunicações pública e privada na cobertura da cena
musical local. Visto que cumprem um papel de protagonismo na divulgação desta
cena, deverão ser incluídos na pesquisa os veículos da Fundação Cultural Piratini
(pública) e do grupo RBS (privado). Mas no caso de o recorte do objeto abranger o
final dos anos 70, faz-se necessária a inclusão de outros, como a rádio Continental
AM. Para trabalhar neste problema de definição de amostragem, estou propondo e
desenvolvendo um questionário de sondagem para traçar um panorama da MPB no
Rio Grande do Sul, com questões relativas à comunicação. Pretende-se com esta
ferramenta sondar algumas informações, consideradas a priori, a exemplo da
reclamação de que as rádios não tocam o repertório dos artistas deste gênero. Assim,
busca-se colher dados quantitativos a respeito da cena musical e do espaço que os
compositores locais têm na comunicação de massa, bem como o uso que fazem das
novas mídias.
124
O jornalismo como instituição social no século XXI: como delimitar o objeto de pesquisa
Taís Seibt
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo A pesquisa em desenvolvimento para a tese de doutorado pretende promover uma
discussão sobre o jornalismo como instituição social no século XXI, diante da
emergência da internet, que impõe transformações profundas no sistema de circulação
e consumo de informações, bem como na produção jornalística, e a consequente crise
econômica que abala grandes organizações jornalísticas ao redor do mundo.
Inicialmente, o projeto propunha a realização de estudos de caso em dois sites
jornalísticos (El País e O Globo). Os resultados da pesquisa de campo seriam
tensionados com as bases teóricas que sustentam a pesquisa, as quais partem da
sociologia do conhecimento, principalmente à luz de Robert Park, que trata o
jornalismo como forma social de conhecimento, e Miquel Alsina, que, a partir das
bases epistemológicas de Berger & Luckmann, trabalha a notícia como uma
construção social da realidade. As ideias desses autores, postas em articulação,
permitem compreender o jornalismo como uma instituição social que se consolidou ao
longo do século XX. A questão central da pesquisa é em que condições o jornalismo
poderia manter tal status no século XXI. A escolha dos dois veículos leva em conta
critérios de similaridade, como a abrangência de seus conteúdos (ambos se
pretendem nacionais) e a localização de suas sedes (no centro do país, o que torna o
cenário econômico e social dos dois veículos similares). Esses fatores permitiriam
certo grau de comparação entre os portais. Também aspectos que os diferenciam são
importantes: O Globo cobra por assinaturas digitais, o El País, não; O Globo tem um
jornal impresso que circula em território nacional, o El País, não. Desse modo, seria
possível identificar eventuais interferências da estrutura de cada organização
jornalística em processos de produção e critérios de noticiabilidade. Seriam
necessárias entrevistas em profundidade com informantes-chave, bem como coleta de
dados para mapear as estratégias de geração de receita e indicadores de audiência. A
partir da observação de rotinas, seria possível identificar graus de interferência de
fatores externos, como as fontes de financiamento e os indicadores de audiência, no
conteúdo produzido. Na pesquisa de campo também poderiam ser analisados critérios
de noticiabilidade. Aspectos da observação norteariam a análise de conteúdo, no
sentido de identificar características das notícias e reportagens publicadas, sinalizando
125
rupturas e continuidades em relação aos pilares do jornalismo tradicional. No estágio
atual da pesquisa, que é bastante inicial, o aprofundamento das leituras tem levantado
questionamentos acerca da metodologia e do recorte da pesquisa. Há dúvidas sobre
se realizar estudos de casos seria a melhor alternativa, se os casos inicialmente
escolhidos dariam conta da discussão que se pretende promover e até mesmo se
seriam necessárias tantas entradas no campo para realizar tal debate, que tem um
propósito muito mais teórico, conceitual e conjuntural sobre as condições da prática
jornalística no século XXI.
126
O professor da Educação Básica e sua relação com as tecnologias educacionais como elemento fortalecedor da prática pedagógica
Jorge Alberto Rodriguez
Rose Alves de Moura
Universidade Estadual do Ceará
Resumo O projeto de dissertação pretende dá conta de parte das discussões hoje levantadas
em torno do uso (ou não) das tecnologias da informação e comunicação – TICs pelos
professores da educação básica pública brasileira como elemento fortalecedor da sua
prática pedagógica. No entorno desta discussão, pretende-se, como objetivo geral,
investigar de que forma os professores da educação básica pública da cidade de
Limoeiro do Norte – Ceará utilizam (ou não) as TICs disponíveis no espaço escolar em
prol do fortalecimento da sua prática docente cotidiana em sala de aula. Como objetivo
específico, pretende-se levantar quais as ferramentas tecnológicas digitais utilizadas
hoje pelos professores da Educação Básica de Limoeiro do Norte como auxiliares na
sua prática pedagógica em sala de aula e apontar as dificuldades enfrentadas por
esses professores no uso (ou não) dessas tecnologias. Para tanto, a apropriação das
contribuições dos teóricos postulantes dos temas como tecnologias na educação e
prática docente, são imprescindíveis para a consecução da pesquisa. Nesse sentido,
teóricos como Kensky (2003) (2007), Levy (1996) (1999), Veiga (2010), Kay (2006),
Kessler (2006), Hanson-Smith (2006), Moraes (1997), Libâneo (2006), Demo (2008),
Moran (2000), e os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (1997) farão
parte deste aporte teórico, assim como todo outro referencial que possa sustentar os
objetivos propostos neste trabalho. Como parte da metodologia adotada, far-se-á
pesquisa de campo em duas escolas da rede pública de Limoeiro do Norte – Ceará,
com um universo de vinte professores, aproximadamente. Esses professores serão
divididos em níveis diferentes (fundamental e médio), em áreas disciplinares
diferentes, mas que são comuns nos dois níveis (língua portuguesa, língua inglesa,
matemática, história e geografia), e em diferentes tempos de exercício do magistério
(anos iniciais e anos finais). Após a seleção da amostra, será aplicado um questionário
semi aberto, buscando levantar quais recursos são utilizados ou não pelos
professores. O questionário também procurará levantar quais os entraves enfrentados
no uso escolar cotidiano desses recursos. Embora a pesquisa ainda esteja em
andamento, considera-se como hipótese principal a ser comprovada, que o uso dos
recursos tecnológicos digitais acontece sim, os professores os utilizam, mas,
127
problemas como competência técnica ( precisamente o domínio de algumas
ferramentas), disponibilidade, quantidade e qualidade desses recursos, tornam seu
uso limitante e muitas vezes inviável. Diante do que se pretende, o principal impasse
atualmente enfrentado é selecionar os professores que atendam aos requisitos de
tempo no magistério, nível de ensino, áreas variadas do conhecimento e
disponibilidade necessária para participar da pesquisa. Ressalta-se a importância do
estudo ao propor a investigação de um tema relativamente novo que é o uso das
tecnologias digitais no ensino, dentro do maior polo acadêmico da região do Vale do
Jaguaribe cearense, em uma cidade que concentra grandes instituições de ensino
públicas e privadas e responsáveis por formar maioria dos professores da região.
128
Prêmios, pra que te quero? Reflexões e problematizações sobre o processo de seleção, agarre e utilização de peças publicitárias na amplitude do ambiente web
Alessandro Souza
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Escola Superior de Propaganda e Marketing
Resumo Como lidar com o processo de seleção, agarre e utilização de peças publicitárias no
ambiente web? Essa pergunta sintetiza uma das dificuldades operacionais de
pesquisa em um meio no qual as indexações de conteúdos (relacionadas às
corporações) são contabilizadas em casas elevadas e em contínuo crescimento,
situação própria do ambiente de rede. Assim, há ampla oferta de materiais espalhados
por nós (Barabási, 2009) heterogêneos a exigir soluções metodológicas dos
pesquisadores. Os recortes seriam, por exemplo, considerar peças ou ações
publicitárias em portais com audiências elevadas, em páginas corporativas ou em
espaços de falas personalizadas dos sujeitos, como SRS (Sites de Redes Sociais).
Além da ponderação quantitativa, emergem reflexões qualitativas. As produções
publicitárias na web estão menos presas a padronizações convencionais de
exposição, observadas em outros meios, como formatos clássicos de trinta e sessenta
segundos (televisão e rádio); páginas e meia páginas (jornais), dentre outros. Também
deve ser considerado o polo emissor: divulgações advindas explicitamente de
corporações podem ter apreensões distintas daquelas emanadas por sujeitos. Este
cenário complexifica as decisões de recorte. Em pesquisa de doutorado, propus as
Premiações Publicitárias como, grosso modo, indexadoras de materiais para análise.
As peças por elas agraciadas têm legitimidades notórias ao serem destacadas por
processo avaliativo. Para o mercado profissional (e até mesmo para estudantes)
representam atestados razoavelmente públicos de qualificação criativa. Ademais, as
Premiações atendem quatro critérios pertinentes a pesquisas: funcionam como
repositório, são relevantes, possibilitam acesso aos materiais e configuram perenidade
(ocorrem anual ou bienalmente). Neste cenário, ao menos aqueles eventos que
apresentam categorias digitais seriam os locais a abastecer os pesquisadores. De
outra parte, mesmo consideradas tais ponderações, o universo de Premiações
Publicitárias é razoavelmente elevado e traz matizes variados. Em prisma geográfico,
há eventos regionais, nacionais e mundiais. Em prisma de foco, há eventos
especificamente digitais e outros híbridos. Já quanto a ciclo de carreira, existem
competições profissionais e mostras estudantis. Em meio a essas variações, entendo
129
que o Festival Mundial de Criatividade de Cannes, por ser o mais representativo à
área (Publicidade), e mais especificamente ainda a categoria “Cyber Lions”, por ser a
mais afeita a produções web, sintetiza recorte apropriado para avaliação de produções
relevantes. Deste constructo, surgem questões: haveria outros recortes
representativos além das Premiações Publicitárias? Como pensar produções
acadêmicas/estudantis se essas não dispõem de categoria nesse Festival? A
deliberação por Cannes não limitaria em demasia as peças avaliadas por esse ser o
Festival com competição mais acirrada ou, contrário senso, tal circunstância o efetiva
como espaço mais adequado à pesquisa?
Filiação teórica BARABÁSI, Albert-Laszló. Linked. A nova ciência dos networks. São Paulo: Leopardo,
2009.
SOUZA, Alessandro. Como rugem os leões na publicidade digital? Os padrões
encontrados nos Grand Prix da categoria Cyber Lions do Festival Mundial de
Criatividade de Cannes entre 2009 e 2014. Tese (doutorado) – Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Programa de
Pós-Graduação em Comunicação e Informação, 2015.
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Problemas teórico-metodológicos: uma investigação sobre a Cachorro Grande e o rock gaúcho
Caroline Govari Nunes
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo Nosso problema propõe sistematizar e detalhar as tensões identitárias presentes na
banda Cachorro Grande e suas relações com as cenas musicais de Porto Alegre e
Manchester (Inglaterra). Pensamos a música como objeto de identidade cultural e
discutimos possíveis paralelos entre tais cenas musicais. Atravessando conflitos
teóricos e metodológicos, tentamos fazer a teoria do nosso objeto, o qual se desdobra
em ângulos como, por exemplo, cenas musicais, identidades culturais e arqueologia
da mídia – tudo uso propondo uma metodologia ancorada na etnografia.
Tema O tema sugere pensar a relação entre identidades, cultura e música. Trabalhamos
especialmente com o “Costa do Marfim”, disco mais recente da banda gaúcha
Cachorro Grande, pois no novo disco houve um rompimento – ou uma repaginação,
ou mudanças performáticas – da própria identidade do grupo.
Objeto de pesquisa A banda Cachorro Grande. Por meio dela, pensamos em remanejos identitários e
tentamos identificar se é possível traçar um paralelo entre as cenas musicais de Porto
Alegre e Manchester.
Problema No decorrer de nosso trabalho, levantamos a suposição de um possível diálogo entre
cenas musicais de Porto Alegre e Manchester. Ao que tudo indica, o rock gaúcho já
estaria dando indíciosdessa relação. A Cachorro Grande, por hipótese, é a banda que
melhor realiza isto, assume isto, dentro do mercado e, mesmo assim, debatendo-se
com uma identidade local que se tem (uma identidade mítica, estereotipada) de rock
gaúcho. Nos parece plausível averiguar se existe mesmo uma semelhança de
matrizes culturais no aspecto pós-punk de Manchester e na música juvenil feita em
Porto Alegre de meados dos anos 1970 pra cá. Então será, por exemplo, que a
Cachorro Grande, agora, com o disco “Costa do Marfim”, deu finalmente maior
formatação para essa conversa Porto Alegre – Manchester?
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Filiação teórica Quando pensamos em questões identitárias, ancoramo-nos em autores como, por
exemplo, Stuart Hall, já que este comenta que as identidades são pontos de afeição
temporária às posições do sujeito que as práticas discursivas reúnem para nós.
Kathryn Woodward e Tomaz Tadeu da Silva, com seus aportes sobre identidade e
diferença, também se mostram relevante aqui. Nas questões de cenas musicais, Will
Straw é quem nos dá suporte para a discussão, descrevendo cenas como espaços
culturais mutáveis e fluidos (que pensamos junto às feições temporárias de Hall e
problematizamos nestas cenas que se reconfiguram constantemente). Ainda, Friedrich
Kittler e Seigfried Zielinski aparecem para nos ajudar a discutir a arqueologia da mídia.
Eles nos explicam que esse pensamento aparece como uma modernização da
arqueologia do saber de Foucault para o audiovisual e a era da mídia digital. Através
da perspectiva da materialidade, esta acaba rompendo com as teorias de mídia
clássicas. Pensamos que pode ser importante fazer a arqueologia da Cachorro
Grande para avaliar um pequeno acidente numa parte da evolução ou do processo
histórico maior, que, neste caso, seria o rock gaúcho.
Impasses atuais Nossa metodologia baseia-se na etnografia, um método antropológico. Dessa forma,
vários questionamentos surgem ao aplicar o método etnográfico no ambiente
comunicacional. Alguns dos principais impasses decorrem justamente das
características do método, que estamos, no momento, nos aproximando. Por exemplo:
a) O que fazer para não correr o risco de a pesquisa ficar calcada somente na
antropologia? b) Até que ponto eu, enquanto pesquisador, devo ficar neutro ou atuar
dentro do campo? c) O que observar nestes observáveis? E como observar, já que o
método pede um olhar que não deve ser nem desenvolto nem extremamente
concentrado? d) E quais os cuidados que devemos ter com o método, já que nossos
objetos falam (pois não queremos que suas falas sejam a resposta de nosso
problema, mas sim algo a ser analisado)?
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Ritmanálise como proposta metodológica
Thaís Amorim Aragão
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo Iniciando o último semestre antes da qualificação de doutorado, encontro-me às voltas
com a ideia de ritmanálise como método para abordar processos midiáticos
observáveis na prática de fazer mapas sonoros. Embora possamos identificar mapas
sonoros como um tipo de plataforma cartográfica colaborativa disposta na internet,
onde se encontram áudios de gravações ambientais geolocalizadas, eles não
interessam a esse estudo meramente em seu aspecto “mídia”. Antes, interessa o
processo que envolve sua produção e que eles tangenciam, pois tomá-los como objeto
– ao invés de processo – poderia, entre outros problemas, aplanar as camadas de
mediação implicadas nele. Tal processo, mais dinâmico, relaciona-se desde a uma
postura de escuta ativa diante do ambiente, passando pelo manuseio de aparelhos
para gravação, até chegar ao desenvolvimento e utilização dos mapas sonoros
propriamente ditos. No atual estágio da pesquisa, estou me referindo a esses
subprocessos, ou práticas constitutivas do processo mais amplo, como momentos. A
ritmanálise foi uma ideia originalmente lançada pelo pesquisador português Pinheiro
dos Santos, quando radicado no Brasil, e que influenciou Gaston Bachelard na
formulação de sua crítica a Bergson, contida na obra “Dialética da Duração”. Para
Bachelard, a “durée” não podia ser tão coesa como concebida por Bergson, e sim
descontínua e fragmentada. Revelou-se adequado, portanto, pensá-la em termos de
ritmo, numa orquestração intercalada por pausas e retomadas – o que evitaria o
desmanche de outras noções importantes, como a de evento. Mais tarde, Henri
Lefebvre trabalhou mais a fundo a ideia de ritmanálise, com foco no espaço urbano
(externo, público), somando reflexões como a necessidade de “pensar aquilo que não
é pensamento”, de dar ouvidos ao ruído, ao corpóreo, ao sensível e ao concreto. O
pensamento de Lefebvre, um teórico reconhecido por sua ideia de espaço social, se
apresenta para mim como um importante articulador entre os conceitos e backgrounds
teóricos mobilizados adicionalmente pela pesquisa: o espaço (teoria espacial) e o som
(“sound studies”). Parece promissor o fato de ele pensar o espaço e o social a partir de
uma imaginação acústica, pois leva a crer que aspectos próprios ao sonoro possam
ser mais contemplado nesses esforços de teorização. Considerado a quarta obra de
sua série sobre a vida cotidiana, o trabalho sobre ritmanálise é o último livro de
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Lefebvre, lançado postumamente. Sua proposta era a de transformar a ritmanálise não
só em um método, mas até mesmo em uma “ciência dos ritmos”. Mas apesar de sua
potência heurística, o texto deixa esse método por ser melhor delineado. O desafio
agora tem sido buscar pesquisas posteriores que tenham retomado, desenvolvido e/ou
questionado a ideia de ritmanálise, que a tenham aplicado como método, a que
problemas e com quais resultados, etc. Nas últimas semanas, tenho me dedicado a
me aprofundar nas ideias de Lefebvre e a buscar investigações que já tenham trilhado
alguns desses caminhos, especialmente na área das novas mídias, para poder
conceber uma forma consistente de, no contexto de minha investigação, trabalhar com
a ritmanálise – ou, ainda, se for o caso, abandoná-la.
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#selfie: você está certo disso?
Cristiane Weber
Universidade Feevale
Resumo Diariamente, milhares de pessoas postam fotos, carregadas de filtros de imagem, para
cultos aferidos a si próprios. As postagens ocorrem pelos mais diversos motivos, com
o esperado retorno de relevância e “curtidas” por parte de quem recebe o conteúdo
nas timelines. Em proposta de tese temos o objetivo de problematizar o ciclo narcísico
que marca a sociedade atual, promovendo uma triangulação entre três polos: o social
(relações interpessoais de culto ao narcisismo), o tecnológico (suportes para tal
execução) e o cognitivo/neural (reações orgânico-psíquicas da autoadmiração no
cérebro). Através dos eixos propostos, temos como objetivos específicos: (a)
investigar as tipologias de selfies em frente ao espelho, com análise não só
quantitativa como qualitativa (corpus); (b) realizar uma ampla pesquisa acerca da
evolução histórica e tecnológica da selfie, desde o autorretrato e sua difusão na
pintura até as milhões de postagens diárias e instantâneas; (c) coletar e processar
dados de exames de ressonância magnética em amostra a ser determinada, com
leitura da atividade cerebral durante o reconhecimento da face (essa última com
suporte de pesquisa em neurofilosofia no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul –
PUCRS). O corpus sugerido pela pesquisadora se trata de um compilado de selfies
em frente ao espelho, catalogadas pela ferramenta Websta, voltada a quantificar
hashtags (marcações de conteúdo online) e fotos postadas na rede social Instagram.
Apesar de se tratar de uma ferramenta importante em tal levantamento, principalmente
no quesito quantitativo, um dos grandes problemas enfrentados é a falta de
discernimento do próprio usuário na marcação #selfie. Na data de submissão desse
resumo, havia pelo menos 600 milhões de registros da #selfie na ferramenta. Nas
primeiras análises (que catalogam as fotos mais recentes para menos recentes), foram
encontradas fotos de bonecos (como a personagem do desenho Peppa Pig), de uma
modelo sendo fotografada por outra pessoa, fotos em grupos (que são chamadas de
wefies), frases, fotomontagens e paisagens. De quinze registros com a hashtag selfie
no minuto analisado, sete não se tratavam de um autorretrato. Com o filtro mais
apurado e a busca pelas hashtags “selfie” e “gym” (em tese mais comuns para fotos
em frente ao espelho), foram encontrados mais de cinco mil registros. Nos dez
primeiros, sete se tratavam de uma selfie na academia. Nos demais, o que foi captado
mostrava: alguém fotografando o atleta, um balão (balonismo) e uma jovem em um
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show a céu aberto. Acreditamos que os algoritmos de cruzamento de dados pela web
não sejam precisos (o que se torna um problema na pesquisa), tendo em vista a
quantidade de fotos captadas não condizentes com o conteúdo marcado
automaticamente. Assim, o estudo que poderia tratar o ponto de vista qualitativo com
maior rapidez deve se debruçar por mais tempo no quesito quantitativo, de forma a
precisar a real existência das fotos, mensurando assim o impacto de produção real, e
não o indicado pelas ferramentas de busca. A filiação teórica é a de estudos de
performance, baseada em autores como Ehrenberg (2010), Schechner (2003 e 2003),
Goffman (1975).
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Tamanho é documento? Desafios na construção de um corpus de pesquisa adequado à complexidade e processualidade do objeto”
Danielle Miranda
Nísia Martins do Rosário
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo O resumo apresentado aqui busca dar visibilidade aos impasses experienciados no
desafio de composição do corpus de pesquisa de dissertação defendida em maio de
2015, sob o título Outros nomes da ascensão: modos de enunciar afirmativamente as
periferias e as classes populares no discurso aberto televisivo. Tal trabalho tem como
tema os modos de enunciar afirmativamente as periferias e classes populares na
atualidade do ambiente comunicativo no Brasil, articulando três temáticas centrais:
televisão, periferias e o contexto de emergência de um discurso de ascensão
socioeconômica no país. Assumindo relações intrínsecas entre as transformações
socioeconômicas e culturais dos anos 2000 e 2010 no Brasil e as atualizações
discursivas percebidas no ambiente da TV aberta do país, partimos de uma
perspectiva teórico-metodológica foucaultiana, tensionada pelas contribuições do
campo da Comunicação, em especial relacionadas aos estudos sobre os mundos
televisivos, realidades televisivas e ao conceito de televisibilidade. Focamos o estudo
na dimensão comunicacional dessa rede de inteligibilidade que permite trazer a tona
novas formas de se ver e falar sobre as periferias e pautamos a análise em
enunciados midiáticos televisivos que as posicionam hoje em certos discursos
relacionadas à noção de ascensão. Dito isto, entre tantos outros impasses, um dos
mais duradouros que se apresentou no processo de pesquisa foi, sem dúvida, a
definição do corpus. Assim, nesta III Jornada, o que pretende-se é compartilhar os
anseios e reflexões a partir de impasses tais como: diante de nosso tema, como dar
conta de um corpus que apreendesse a complexidade e multiplicidade da TV aberta
brasileira? Como respeitar nossa perspectiva epistemológica e estabelecer um corpus
capaz de dar a ver a estruturalidade dos modos de definição do sistema de relações e
transformações possíveis em um novo contexto de visibilização midiática das
periferias? Como, foucaultianamente, compor um conjunto que proponha não
traduções do objeto, mas sim regularidades, visibilidades, relações e interdições?
Como não limitar o olhar neste percurso de acompanhar os movimentos de
recomposição socioeconômica do país e, ao mesmo tempo, garantir um recorte e
critérios de pertinência que permitiriam que as intensidades e a atenção direcionada
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aos objetos não se dispersassem em cenários tão diversificados que dificultariam a
composição de relações? Como respeitar a heterogeneidade fundamental à
composição de inteligibilidades a partir dos enunciados em circulação na TV? Em
síntese, portanto, propomos discutir em conjunto com os demais pesquisadores as
dificuldades e desafios de construções de corpus operativos de acordo com a
especificidade de cada pesquisa, para além do olhar quantitativo que se detém no
“tamanho” do corpus, mas especialmente voltando a sua validade enquanto conjunto
produtivo aos objetivos do trabalho, permitindo apreender as conexões e
processualidades do objeto, em sua condição movente e heterogênea.
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The book is still on the table
Pedro Pazitto Galhardi
Thais Sehn
Universidade Federal de Pelotas
Resumo O estudo está sendo feito como trabalho de conclusão de curso de bacharel em
Design Gráfico. A pesquisa encontra-se na fase intermediária, após a avaliação da
banca de qualificação. O estudo partiu da ideia de estudar os livros impressos como
objeto de desejo, inspirado no apreço que o próprio autor deste estudo tem pelos
livros. O possível diferencial desta pesquisa frente a outras seria o destaque do
contexto em que se vive com a crescente oferta dos livros em formato digital.
Tema O objetivo geral da pesquisa é compreender os motivos pelos quais o livro físico ainda
é adquirido e colecionado pelos leitores mesmo com o avanço dos e-books, e através
deste estudo realizar o projeto gráfico de um livro com potencial para se tornar um
objeto de desejo.
Objeto de pesquisa Livro impresso.
Problema Com o avanço da tecnologia digital dos e-books, quais são as características que
influenciam o leitor, mais especificamente o designer, a ainda desejar o livro físico?
Filiação teórica Até o momento foram confrontados alguns autores que discorrem tanto sobre o livro
impresso como o digital, desde aqueles que defendem a “morte” do impresso frente ao
virtual até aqueles que defendem a coexistência entre ambos os modelos. Para essa
discussão são utilizados os autores Furtado (2006), Chartier (1998), Oliveira (2013),
Ungaretti e Fragoso (2012), Bolter (2001) e Machado (1994). Para aprofundar a parte
do livro como desejo optou-se por seguir a linha do Design Emocional do Norman
(2008), trazendo um resumo dos níveis reflexivo, visceral e comportamental, para
pensar como isso pode ser aplicado ao design editorial para seduzir o possível leitor.
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Impasses atuais A princípio pensamos em fazer um questionário para selecionar leitores para fazer
entrevistas tentando descobrir o que chamaria sua atenção. Com base nesses
resultados seria embasado o projeto prático do tcc – obrigatório no curso de Design da
UFPel – que seria um livro que traria esses aspectos listados. Contudo no momento
da qualificação, percebeu-se o quanto seria difícil traçar um perfil do leitor, já que,
como pode ser visto em outros estudos (SEHN, 2008; SEHN; FRAGOSO, 2015), o
processo de leitura é muito particular, fazendo com que cada um tenha suas manias e
coincidentemente outra pessoa possa vir a ter uma mania semelhante a sua. Com
isso, optou-se por mudar o foco, o livro a ser projetado seria o próprio TCC do aluno,
que traria esses recursos ainda a serem descobertos. Ao invés de pensar em leitor
geral e imaginário, o público-alvo seria os próprios designers, que possuem uma
aproximação do pensamento do pesquisador, já que ele se insere nesse público-alvo,
e ficaria dentro das questões que o aluno quer abordar desde o inicio do trabalho.
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Usos sociais do Facebook por migrantes brasileiros na Suécia: identidades, diferenças e dinâmicas interculturais nas redes sociais online
Laura Roratto Foletto
Universidade Federal de Santa Maria
Resumo Esta proposta tem por objetivo compreender como podemos utilizar uma metodologia
qualitativa para as pesquisas nas redes sociais online a partir de uma perspectiva
teórica dos estudos de recepção latino-americanos, com base em Martín-Barbero
(2009; 2004) e Orozco Gómes (2000; 2007). Esse debate parte de uma proposta
maior, de dissertação de mestrado em desenvolvimento que tem por objetivo analisar
os usos sociais que migrantes brasileiros na Suécia fazem de grupos do Facebook.
Diante disso, questiona-se, de forma mais ampla, qual(is) metodologia(s) é(são) mais
adequada(s) para uma pesquisa de recepção na Internet?
Tema Pretendemos investigar como os brasileiros que residem na Suécia se apropriam de
grupos no Facebook para experienciar a respeito das questões de identidades,
diferenças e dinâmicas interculturais vivenciadas a partir da vivência da migração.
Objeto de pesquisa Analisar os usos sociais que migrantes brasileiros na Suécia fazem de grupos do
Facebook relacionado às questões de identidade e diferença.
Problema Quais são e como se dão os usos sociais do Facebook, especialmente nos ambientes
dos grupos, por migrantes brasileiros na Suécia e como essas interações dão
visibilidade e fomentam questões de identidade e diferença experimentadas pelos
sujeitos migrantes?
Filiação teórica Estudos de recepção latino-americana com Martín-Barbero (2009, 2004) e Orozco
Gómes (2000; 2007).
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Impasses atuais Como utilizar a etnografia virtual para estudos na internet sem que essas informações
não fiquem apenas descritivas e haja uma reflexividade sobre as informações? Quais
e de que forma outras técnicas além da entrevista ajudam a compreender o contexto
de pesquisa nas redes sociais online, a exemplo do Facebook? Pois, na minha
dissertação uso o método da etnografia virtual aliada à análise de conteúdo, como
uma técnica, para identificar as principais temáticas postadas e comentadas, além de
entrevistas com membros dos grupos, mas estou com dificuldade de avançar para
uma análise para além da descrição dos temas debatidos, de modo a compreender
efetivamente os sentidos construídos nas apropriações sociais dos sujeitos migrantes
nos grupos do Facebook.
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Violência Simbólica: trajetos para compreensão de discursos políticos legitimados nos Sites de Redes Sociais
Ana Karen Hernandorena Viegas
Universidade Católica de Pelotas
Resumo Esta pesquisa tem como tema as condições de produção e reprodução de discursos
violentos em atos de interação na internet, baseados em ideais políticos. A escolha
pelos sites de redes sociais (SRS), especificamente o Facebook, deu-se pelo seu
caráter múltiplo de personas inseridas no mesmo contexto, o que condiciona espaço
para propagação de conflito. Para discussão, serão utilizados conceitos centrais de
redes sociais, violência simbólica, capital social (primeiro e segundo nível), audiências
invisíveis, entre outros. Desta forma, cabe salientar que a comunicação virtual introduz
características de descentralização da informação, mudanças relativas às formas de
socialização, bem como adaptação da linguagem para replicação e (re)construção em
torno das constantes transformações políticas no cenário brasileiro. Além de utilizar
referenciais da Comunicação Mediada por Computador, percebe-se a necessidade de
trabalhar também com eixos teóricos da Análise do Discurso (AD). Assim, parte-se do
entendimento de que o meio condiciona a legitimação de objetos de sentido, os quais
desembarcam em uma grande arena de construtos ideais – como forma de
estabelecer parâmetros que acolham a perspectiva de que as formações discursivas
na internet representam resultados de interpelações ideológicas que já estavam
inconscientemente alojadas na memória discursiva para formação do dizer no ato de
interação. Para tratar o tema, serão utilizados os seguintes autores: Raquel Recuero,
Eni Orlandi, Michel Pêcheux, Slavoj Žižek, Pierre Bourdieu. A ComScore disponibilizou
insights de análise de tendência de comportamento, e entre os dados disponibilizados
de acesso à rede, o Brasil está como líder global em relação ao tempo gasto. Os
usuários navegam 29,7 horas/mês, ou seja, 7 horas a mais do que a média mundial
relativa a países da América Latina. Há destaque também para o contraste em relação
a fevereiro de 2013 a fevereiro de 2014, o que confirma que o Brasil possui a 5ª maior
audiência do mundo, com total de 68,1 milhões de visitantes. No pódio dos espaços
mais visitados, estão o Google Sites e o Facebook – líder na categoria redes sociais.
Com, isso, percebe-se a possibilidade de repercussão que qualquer discurso pode
ganhar na rede. Com base neste parâmetro, cabe expor que neste trabalho serão
apresentados recortes do discurso de um vídeo de uma persona pública, jornalista
Débora Albuquerque, atual administradora da comunidade Revoltados Online, postado
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logo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014, e que obteve 67.129
curtidas e 221.579 compartilhamentos. Percebe-se como problema a necessidade de
estabelecer abordagem metodológica para analisar o discurso de ódio de cunho
político, de forma a entender os critérios de legitimação em tentativas de
desmoralização do dizer do tu para afirmação do dizer do eu. Também é importante
buscar alternativas para seleção de recortes do corpus escolhido para análise e suas
correlações em termos de comentários e compartilhamentos.
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“Zelando o ouro produzido no passado”: escavando construtos de memória através do site Propagandas Históricas
Roberta Fleck Saibro Krause
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo Minha dissertação de mestrado se propõe a “zelar o ouro produzido no passado” em
busca de construtos de memória através do site Propagandas Históricas (PH). Através
de escavações na web, venho observando que a história da publicidade está
registrada em diversas manifestações de arquivamento, desde formas mais
categóricas como os anuários impressos que posteriormente são digitalizados. Foi a
partir dessas pistas audiovisuais do mercado da propaganda na rede que me deparei
com o site PH, uma iniciativa que realiza um resgate de diversas campanhas mundiais
desde o século XIX. Com um olhar “contagiado” por autores como Georges Didi-
Huberman e Walter Benjamin, minha forma de pensar a história de uma maneira
cronológica e linear, foi sendo apoiada por uma proposta de tempo não sequencial,
que auxilia a contextualizar a memória e o imaginário contido nas imagens. Didi-
Huberman diz que a história e memória devem ser interrogadas através das imagens,
propondo um novo modelo de temporalidade; deixando a imagem no centro do
pensamento sobre o tempo. Esse devir contido nas imagens me fez resgatar termos
bergsonianos para pensar meu problema de pesquisa mais em função do tempo do
que do espaço. Assim, minha pergunta de pesquisa é: Como os construtos de
memória na web se atualizam nos audiovisuais publicitários do site PH? Para
problematizar o material empírico através de uma perspectiva tecnocultural que
“tensiona vários tempos” e que interroga imagens “do passado” na sua atualização, é
que encontro minha principal dificuldade metodológica na pesquisa. Como pretendo
iniciar meu “agir arqueológico” trazendo uma visão através da vertente designada
como arqueologia das mídias, como uma forma de articular os conceitos de memória,
as mídias e história, estou enfrentando problemas quanto à sua aplicabilidade. Uma
das características da metodologia é justamente não possuir um “manual de uso”,
enfatizando ser uma proposta que se adapta ao objetivo do pesquisador. Isso faz com
que questione constantemente se a maneira como estou escavando a interface seria a
mais produtiva ou mais adequada para meu problema. O primeiro passo após escavar
a web com o alicerce da arqueologia da mídia, será fazer a análise do material
empírico coletado, com uma cartografia, inspirada em Benjamin, através das capturas
de telas da interface web. Por meio desse movimento, pretendo compreender melhor o
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uso da arqueologia para desenvolver um trajeto sobre as escavações, e,
consequentemente, criar mapas de constelações. O percurso da pesquisa
arqueológica atravessará camadas que estão posicionadas no PH e que se
interconectam, como a camada “temporalizada”, (virtual), onde há diversos tempos
que “duram” como web, usuário, publicidade, televisão, como venho notado por meio
de comentários nostálgicos dos usuários, ou através dos compartilhamentos e “likes”
nas redes sociais. A interface que remidia o vídeo “transmutado” para ser reproduzido
na mídia digital também acompanha uma camada de “navegação”, da ordem das
materialidades, que faz o percurso desse audiovisual na correnteza fluída da rede, de
forma recorrente e cíclica registrando traços da memória “viva” na web.