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1. IntroduçãoA eficiência de utilização dos ingredientes protéicos de-
pende da quantidade, da composição e da digestibilidade
de seus aminoácidos, os quais são exigidos em níveis es-
pecíficos pelos animais. Durante muitos anos, as formu-
lações de rações para monogástricos foram formuladas
no conceito de proteína bruta (PB), resultando freqüente-
mente em dietas contendo níveis aminoacídicos superiores
aos exigidos pelos animais. No organismo, os esqueletos
de carbono dos aminoácidos (AAs) em excesso é utilizado
para produção de energia, sendo o nitrogênio (N) residual
excretado pelos rins, com alto gasto energético para o or-
ganismo.
A formulação de ração com base em um nível mínimo de
PB normalmente resulta em valores de proteína bastante
altos, em função da adoção de margens de segurança para
garantir o fornecimento dos AAs essenciais. No entanto, há
que se salientar que as aves não têm requerimentos nutri-
cionais para PB em si, e sim para cada um dos AAs essen-
ciais constituintes das proteínas e para uma quantidade de
nitrogênio amino suficiente para a biossíntese de AAs não
essenciais (Costa & Goulart, 2010).
Outro ponto importante é que o valor de PB de um ali-
mento é calculado pelo seu teor de N (determinado por
uma análise proximal) multiplicado por um fator de con-
versão padrão, cujo valor universalmente utilizado é 6,25.
Entretanto, Sriperm et al. (2011) avaliaram este fator de
conversão para várias matérias primas, e encontraram que
cada ingrediente possui um coeficiente específico. Por
exemplo, para milho, farelo de soja, farinha de víscera de
aves e farinha de carne ossos, os coeficientes determinados
foram: 5,37; 5,39; 5,13e 5,07, respectivamente. Isto indica
que o coeficiente padrão normalmente utilizado, de forma
geral, superestima o valor de PB dos ingredientes; além de
ser mais uma prova de que é incerto e ultrapassado a uti-
lização de valores de PB para determinação das exigências
dos animais.
Com os avanços em pesquisas científicas na área de nu-
trição e metabolismo animal, bem como na tecnologia
de produção dos AAs industriais e a preços compatíveis,
tornou-se possível a formulação de rações com menor teor
protéico e níveis de AAs mais próximos das necessidades
do animal. Quanto mais próxima a composição de AAs da
dieta for da exigência dos animais mais eficiente será a uti-
lização da proteína fornecida, havendo também, reflexos
positivos na utilização dos demais nutrientes.
Os AAs industriais para alimentação animal possibilitam
a redução do teor protéico das rações sem afetar o
desempenho dos animais, ainda com o benefício da di-
minuição da excreção de N para o meio ambiente.
Atender às exigências nutricionais dos AAs essenciais, por
intermédio de rações suplementadas com AAs permite que
os animais expressem seu potencial genético, com efeitos
positivos nos parâmetros zootécnicos, econômicos e ambi-
entais da produção.
2. Aminoácidos Limitantes para Frangos de Corte
Os AAs limitantes podem ser definidos como os AAs que
estão presentes na ração em uma concentração inferior à
exigidada pelos animais para desevolverem seu potencial
de produção. A ordem de limitância dos AAs essenciais
depende basicamente da composição de ingredientes das
rações e das exigências nutricionais aplicadas para formu-
lação. Nos casos das formulações no Brasil e na maioria dos
países da América Latina, em que as rações para frangos
de corte tem como base o milho e o farelo de soja, com ou
sem farinha de carne e ossos, os três primeiros AAs limi-
tantes em ordem são metionina, lisina e treonina. A valina
apresenta-se como o quarto aminoácido (AA) limitante,
seguido da isoleucina, arginina e triptofano. Em formu-
lações onde se utilizam diferentes subprodutos de origem
animal, principalmente nas fases de crescimento e termi-
nação, pode ocorrer mudança na ordem de limitância dos
AAs, onde a isoleucina pode vir a ser o quarto AA limitante,
seguido pela valina, arginina e triptofano.
AMINOÁCIDOS NA NUTRIÇÃO DE FRANGOS DE CORTE
Waldroup et al., 2005 também informa que na maioria das
formulações para frangos de corte, a metionina apresenta-
se como o primeiro AA limitante, seguido pela lisina como
o segundo e a treonina, como o terceiro limitante. Estudos
recentes confirmam a valina como o quarto (Thornton et
al., 2006; Corzo et al., 2009; Berres et al., 2010; Goulart,
2010) e a isoleucina como quinto AA limitante (Corzo et
al., 2009; Goulart, 2010) em dietas para frangos de corte
isentas de ingredientes de origem animal. Nas fases pré-
inicial e inicial, no caso de dietas vegetais, a Glicina + Se-
rina assume um papel importante na ordem de limitância,
já que estes AAs são dificilmente fornecidos em quanti-
dades suficientes. Porém, para as mesmas fases de criação,
mas com a suplementação de farinha de carne e ossos, a
exigência de Glicina+Serina é facilmente atendida, não
havendo problema de ordem de limitância.
Goulart et al., 2009 avaliaram o desempenho de frangos
de corte submetidos a dietas com redução proteica suple-
mentadas com os AAs industriais valina, isoleucina e glici-
na, além de metionina, lisina e treonina. A redução média
de 2 pontos percentuais na PB das dietas, em relação ao
tratamento controle, obtida pela suplementação dos
AAs L-Valina e L-Isoleucina manteve o desempenho dos
frangos, que apresentaram ganho de peso e conversão ali-
mentar semelhantes àqueles alimentados com a dieta de
alta PB. A suplementação de glicina não melhorou o
desempenho das aves, mostrando que, com a redução pro-
teica estudada, não houve problema de deficiência deste
AA. Pelos resultados encontrados, também é possível con-
cluir que a valina e isoleucina foram o quarto e quinto AAs
limitantes nas rações, respectivamente (Tabela 1).
Tabela 1. Desempenho de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade, de acordo com a utilização de AAs industriais nas dietas:
A suplementação dos AAs industriais segue a ordem de
limitação imposta pelos ingredientes utilizados nas formu-
lações. Por exemplo, em dietas para frangos de corte for-
muladas à base de milho e farelo de soja, com base nas
recomendações de Rostagno et al. (2011), suplementada
somente com metionina e lisina na forma industrial, a com-
binação dos ingredientes será feita para atender os
requerimentos da treonina, o terceiro AA limitante. Caso
haja interesse suplementar outros AAs industriais para re-
duzir o nível de PB da ração e melhorar o balanço
aminoacídico, não adianta disponibilizar a L-Valina, sem
antes ter suplementado a L-Treonina na formulação, pois a
treonina é mais limitante que a valina nesta dieta.
3. Exigências de Aminoácidos
A exigência nutricional de AAs é influenciada por uma sé-
rie de fatores como idade e sexo dos animais, níveis
de energia e lisina da ração, densidade populacional, con-
dições ambientais (principalmente temperatura), estado
sanitário dos animais (desafio imunológico), digestibilidade
dos nutrientes das matérias primas para fabricação de
rações e grande variedade de metodologias utilizadas para
a estimativa.
As linhagens também são fatores importantes e variáveis
que influenciam a exigência nutricional de AAs, particulari-
dades como potencial de ganho de peso, o peso corporal
e as características reprodutivas e comportamentais devem
ser considerados na formulação das rações garantindo que
os animais possam atingir seu potencial genético.
A idade das aves influencia as exigências nutricionais de
AAs, uma vez que ocorrem mudanças tanto na capacidade
de deposição de proteína, que aumenta durante o cresci-
mento das aves, atingindo um máximo e então decresce
à medida que o animal se aproxima do tamanho adulto,
quanto na exigência de AAs para a mantença, que aumen-
ta com o aumento do peso corporal. Em geral, assume-se
que as exigências em AAs em percentagem da dieta di-
minuem com o aumento da idade das aves, em função da
redução na taxa relativa de crescimento e do aumento da
capacidade de consumo alimentar. No entanto, os valores
absolutos de exigências de AAs, em gramas ou miligramas
por dia, aumentam com o avanço da idade.
Em relação ao sexo, os frangos de corte machos apre-
sentam maior peso corporal e metabolismo basal mais
acelerado em relação às fêmeas, exigindo maiores quanti-
dades de nutrientes. Em função da curva de crescimento
diferenciada entre os sexos, Rostagno et al., 2011 determi-
naram que as fêmeas de desempenho superior comparadas
com os machos da mesma categoria necessitam de 1,3%
a mais; 1,3% a menos; 6,5% a menos e 11,6% a menos
de AAs, nas fases pré-inicial, inicial, crescimento e final,
respectivamente. Visando melhorar a nutrição dos animais
e diminuir os gastos com a alimentação, tem se tornado
prática comum pela indústria avícola a adoção da produção
de frangos de corte com separação de sexo.
Dentre os fatores ambientais, a temperatura é o que mais
influencia a expressão do potencial genético das aves.
Quando submetidas a ambientes termoneutros (conforto
térmico), as aves apresentam ótimo desempenho produ-
tivo. A redução no consumo de ração é uma resposta ao
estresse por calor, trazendo prejuízos ao ganho de peso e
conversão alimentar das aves. Assim, manejos nutricionais
foram desenvolvidos de forma a minimizar os efeitos das
altas temperaturas no desempenho das aves. Uma alter-
nativa proposta é o aumento da densidade energética das
dietas com suplementação de lipídios (óleos e gorduras),
mantendo-se a relação nutrientes:calorias da dieta. Assim,
em dietas para frangos de corte criados em altas tempera-
turas, a densidade de AAs deve ser maior que em dietas
convencionais, para que com um menor consumo de ração
o consumo de AAs seja mantido em níveis satisfatórios. No
entanto, de acordo Bertechini (2006), este aumento dos
teores de AAs deve ser obtido pela redução da PB dietética
e suplementação com AAs industriais, uma vez que dietas
com altos níveis de PB geram um maior incremento calórico
em seu metabolismo.
3.1. Exigência de Lisina Digestível
A lisina é um AA fisiologicamente essencial para a man-
tença, crescimento e produção das aves, tendo como
principal função a síntese de proteína muscular.
Leclercq (1998) afirma que a lisina exerce efeitos es-
pecíficos na composição corporal dos animais, sendo
que as exigências deste AA obedecem a uma hierar-
quia, na qual a exigência para máximo ganho de peso é
menor do que para rendimento da carne de peito que,
por sua vez, é menor que a exigência para conversão
alimentar e, por último, a exigência para diminuição da
deposição da gordura abdominal.
Uma informação precisa sobre as exigências de lisina
digestível para frangos de corte é a base inicial para
formulação de rações com adequado balanceamento
de AAs, pois a lisina é utilizada como referência para o
perfil da proteína ideal, sendo as quantidades de todos
os outros AAs serão estabelecidas como uma proporção
de sua exigência. Assim, qualquer erro na determinação
da exigência de lisina resultará em erros nas exigências
de todos os outros AAs, com consequente queda no
desempenho e na qualidade da carcaça.
As linhagens modernas necessitam de um aporte maior
de AAs para a expressão dos ganhos genéticos. Albino
et al. (2009) constataram um aumento de 24, 22 e 28%
nas recomendações de lisina digestível para frangos de
corte as fases inicial, de crescimento e final, verificadas
na edição de 2005 das Tabelas Brasileiras para Aves e
Suínos (Rostagno et al., 2005) em relação à edição de
1983. Comparando com as recomendações de Rostag-
no et al. (2011), pode se observar que este aumento é
ainda maior, correspondendo a 34, 36 e 39% para as
fases inicial, crescimento e final, respectivamente. As
recomendações de Rostagno et al. (2005) para frangos
de corte machos de médio desempenho são de 1,363;
1,189; 1,099 e 1,048% de lisina digestível para as fases
pré-inicial, inicial, crescimento e final, respectivamente.
Já as recomendações de Rostagno et al. (2011) para os
frangos da mesma categoria são: 1,324; 1,217; 1,131 e
1,060% de lisina digestível para as fases pré-inicial, ini-
cial, crescimento e final, respectivamente. Em relação à
fase pré-inicial, houve uma redução em torno de 3% no
nível de lisina digestível comparado as recomendações
de Rostagno et al. (2005), possivelmente em resposta
à novas linhagens dos frangos, onde tem sido sugerido
promover uma menor taxa de crescimento nesta fase
visando evitar problemas metabólicos e de locomoção
nos animais em fases posteriores.
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Resultados de 20 experimentos de determinação da
exigência de lisina foram compilados pela Ajinomoto
Eurolysine (Relendau e Le Bellego, 2004), possibilitando
a geração de uma equação para estimar o consumo
de lisina digestível em gramas por dia para frangos de
corte.
A observação das linhas com traçado em vermelho
permite observar que um frango (1 a 15 dias) com o
mesmo ganho de peso por dia (29g) possui uma reco-
mendação de consumo de 0,49 gramas de lisina di-
gestível por dia. Considerando diferentes consumos de
ração por dia (Exemplo 1- 40g e Exemplo 2- 33g), a
recomendação de porcentagem de lisina na ração difere
de 1,23 a 1,49%, respectivamente, para os consumos
dos exemplos 1 e 2. O mesmo comparativo é pertinente
para diferentes taxas de ganho de peso em uma mesma
faixa de idade, que por sua vez também influenciam a
recomendação do consumo de lisina. Este cálculo evi-
dencia a importância de calcular o consumo de ração
dos animais, além de mostrar que é mais importante o
conhecimento de consumo de lisina por grama por dia
do que a recomendação em porcentagem (Figura 1).
Uma pesquisa foi desenvolvida por Almeida et al. (2010)
com o objetivo de avaliar cinco planos nutricionais com
diferentes níveis de lisina digestível para frangos de corte.
No plano nutricional 1 os níveis de lisina digestível utiliza-
dos foram 1,20; 1,05; 1,00 e 0,90%, para as fases pré-
inicial, inicial, crescimento e final, respectivamente. Os de-
mais planos nutricionais foram constituídos de acréscimos
de 0,05% de lisina digestível nas dietas para cada uma das
fases, resultando nos níveis de 1,40; 1,25; 1,20 e 1,10% de
lisina digestível no plano nutricional 5. As relações entre os
outros AAs e a lisina digestível foram mantidas segundo as
recomendações de Rostagno et al. (2005). Os autores con-
cluíram que os planos nutricionais 4 e 5, com os maiores
níveis de lisina digestível, proporcionam os melhores resul-
tados de ganho de peso, conversão alimentar, rendimento
de coxa e de peito.
A adição de L-Lisina na formulação promove redução na
inclusão de ingredientes protéicos, favorecendo a entrada
de mais ingredientes energéticos, poupando o uso do óleo
ou gordura, mantendo o mesmo nível de energia da ração
com o benefício de reduzir os custos de produção. A
literatura cientifica comprova que o uso da lisina promove
melhoria nos resultados de ganho de peso e conversão ali-
mentar dos animais (Han & Baker, 1993; Mack et al., 1999,
Labadan et al., 2001).
3.2. Exigência de Treonina Digestível
A treonina é um AA essencial para aves, sendo encon-
trado em altas concentrações no coração, músculos, trato
gastrointestinal e sistema nervoso central. É exigido para
formação da proteína e manutenção do turnover protéico
Figura 1: Equação para estimar o consumo de lisina digestível (grama/dia)
corporal, além de auxiliar na formação do colágeno e elas-
tina (Sá et al., 2007). Baixo conteúdo de treonina é en-
contrado nos grãos, portanto, em dietas formuladas a base
de graníferos, o fornecimento do AA industrial é recomen-
dado.
Em dietas de frangos, a treonina é o terceiro aminoácido
limitante, o que reafirma sua importância no metabolismo
animal e sua aplicação prática nas formulações de rações.
Este AA é um importante componente da proteína corporal
e atua como precursora da glicina e da serina no metabo-
lismo. A treonina torna-se mais importante à medida que a
idade dos animais avança, pois a proporção da exigência de
treonina para mantença é alta.
Além de atuar em outras funções vitais do organismo,
a treonina está envolvida em outras funções fisiológicas,
como a digestão e a imunidade (Bisinoto et al., 2007). O
muco, secreção produzida pelo trato gastrintestinal, é com-
posto principalmente de água (95%) e mucinas (5%), que
são glicoproteínas de alto peso molecular, especialmente
ricas em treonina. Estima-se que mais da metade da tre-
onina consumida seja utilizada a nível intestinal para as
funções de mantença, sendo primariamente utilizada na
síntese de mucina. O tipo e quantidade de mucina pro-
duzida no trato gastrintestinal influenciam as comunidades
microbianas (por servir de substrato para a fermentação
bacteriana e para fixação), a disponibilidade de nutrientes
(via perda endógena de mucina, bem como pela absorção
de nutrientes) e função imune (via controle da população
microbiana e disponibilidade de nutrientes) (Corzo et al.,
2007a).
Em Rostagno et al. (2005) encontram-se as exigências de
0,865; 0,745; 0,697 e 0,661% de treonina digestível para
frangos de corte de desempenho médio nas fases pré-ini-
cial, inicial, de crescimento e final, respectivamente, com
relação treonina digestível: lisina digestível (Thr:Lys Dig.) de
65% em todas as fases. Já Rostagno et al. (2011) recomen-
dam 0,871; 0,780; 0,687 e 0,607% de treonina digestível
para frangos de corte de desempenho superior nas fases
pré-inicial, inicial, de crescimento e final, respectivamente;
com relação Thr:Lys Dig. de 65% em todas as fases.
Corzo et al. (2007a) verificaram que a exigência de treonina
variou de 0,71 a 0,74% para frangos de corte de 21 a 42
dias criados em ambiente limpo (cama nova); resultando
em relações de Thr:Lys Dig. de 63 a 65% de acordo com
diferentes parâmetros. Quando os frangos foram criados
em cama reutilizada (ambiente sujo), a exigência variou de
0,73 a 0,78%, resultando em relações de Thr:Lys Dig. de
65 a 70%; evidenciando assim a maior importância da tre-
onina em situação de maior desafio ao sistema imune da
ave (Figura 2).
A inclusão de L-Treonina na ração, permite a melhor uti-
lização da lisina e metionina, visto que na formação da
proteína corporal, a treonina se liga à estes AAs. Se há
limitância de treonina, a síntese protéica corporal cessa, fa-
zendo com que a lisina e metionina não sejam aproveitadas
de forma adequada.
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Figura 2: Desempenho e características da carcaça de frangos de corte, de 22 a 42 dias de idade, criados en ambientes limpo e sujo, de acordo com a % de Thr Digestível na ração.
3.3. Exigência de Metionina + Cistina Digestível
A metionina é o primeiro AA limitante em rações para aves
à base de milho e farelo de soja, destacando-se por par-
ticipar na síntese de proteína, ser precursora da cisteína e
doadora de radicais metil (Warnick & Anderson, 1968). No
período de crescimento, as aves utilizam grandes quanti-
dades de AAs sulfurosos, principais limitantes nas rações,
que, geralmente são suplementadas com o AA sintético
(Silva et al., 1999).
Oliveira Neto et al. (2005) verificaram que pintos de corte na
fase de 1 a 21 dias de idade, mantidos em ambiente termo-
neutro, exigem 0,866% de metionina + cistina (Met + Cys)
total, correspondente a 0,790% de Met + Cys digestível e
a uma relação de 72% com a lisina digestível, para melhor
resposta de ganho de peso, e 0,898% de Met + Cys to-
tal, correspondente a 0,822% de Met + Cys digestível e a
uma relação de 74% com a lisina digestível, para melhores
resultados de conversão alimentar. Para a fase de 22 a 42
dias, Oliveira Neto et al. (2007) recomendaram o nível de
0,727% de Met + Cys total, correspondente ao nível cal-
culado de 0,661% de Met + Cys digestível e a uma relação
Met + Cys: lisina digestível de 72%.
Para Rostagno et al. (2005) as recomendações de Met +
Cys digestível para as fases pré-inicial, inicial, crescimen-
to e final de frangos de corte de desempenho médio são
0,944; 0,814; 0,773 e 0,732%, com relações Met + Cys
digestível: lisina digestível (M+C: Lys Dig.) de 71, 71, 72
e 72%, respectivamente. Para frangos da mesma catego-
ria de desempenho, Rostagno et al. (2011) recomendam
0,939; 0,822; 0,763; e 0,707% de Met + Cys digestível,
resultando em relações M+C: Lys Dig. de 72, 72, 73 e 73%,
respectivmente.
Em experimento realizado na UFPB, Costa et al. (2008) veri-
ficaram requerimento de 0,873 e 0,755% de Met + Cys
digestível para frangos de corte machos nas fases pré-inicial
e inicial, com relações Met + Cys digestível: lisina digestível
de 71 e 70%, respectivamente. Para a fase de crescimento
Goulart et al. (2011) recomendaram 0,748% de Met + Cys
digestível, com relação de 76% da lisina digestível, enquan-
to para a fase final o melhor desempenho foi obtido com
0,661% de Met + Cys digestível e relação de 72%.
3.4. Exigência de Valina & Isoleucina Digestível
Valina, isoleucina e leucina são AAs essenciais alifáticos e
altamente hidrofóbicos, que compartilham as mesmas en-
zimas usadas para sua degradação e metabolismo, sendo
denominados de AAs de cadeia ramificada. De acordo com
Champe & Harvey (1996) estes AAs são encontrados
geralmente no interior das proteínas, sendo responsáveis
por sua estrutura tridimensional. A deficiência moderada
pode reduzir a taxa de crescimento, piora na conversão
alimentar e redução nos níveis de proteínas essenciais no
sangue (D’Mello, 1994).
Como com a lisina, a principal função da valina é a for-
mação e deposição da proteína corporal, sendo encontrada
em maior concentração na musculatura esquelética. Nas
rações de frangos de corte, principalmente naquelas à base
de milho e farelo de soja, normalmente o nível a redução
da PB se limita quando chega à exigência de valina, sendo
que dependendo dos ingredientes utilizados na formu-
lação, valina ou isoleucina podem vir a tornar-se o quarto
limitante nas rações com redução dos níveis protéicos.
Rostagno et al. (2005) recomendam as exigências de 0,998;
0,860; 0,826 e 0,783% de valina digestível para frangos
de corte de desempenho médio nas fases pré-inicial, ini-
cial, de crescimento e final, respectivamente, com relação
valina digestível: lisina digestível (Val:Lys Dig.) de 75% de 1
a 21 dias e de 77% de 22 a 42 dias. Estas relações foram
atualizadas para 77 e 78% em Rostagno et al. (2011), re-
sultando nas exigências de 1,009; 0,904; 0,841 e 0,788%
de valina digestível na dieta para as respectivas fases.
Corzo et al. (2007b) avaliaram a ordem de limitância dos
AAs valina, isoleucina, arginina e glicina em dietas vegetais
a base de milho e farelo de soja para frangos de corte de
22 a 42 dias de idade. Os autores comparam uma dieta
controle (suplementada com todos os AAs) com uma
dieta Teste (deficiente em todos os AAs estudados) e com
a dieta Teste suplementada com cada AA estudado indi-
vidualmente. Segundo os autores, a valina seria o quarto
AA limitante visto que este AA foi o único a proporcionar
resultado que se equiparasse com o tratamento controle.
Neste mesmo estudo, a isoleucina se apresentou como o
quinto AA limitante (Tabela 2). É visível a redução no cresci-
mento, aumento da conversão alimentar e aumento da
gordura abdominal tanto em peso absoluto como relativo.
Isto evidencia a importância de se utilizar relações mínimas
de todos aminoácidos limitantes no momento da formu-
lação das rações.
Tabela 2. Desempenho e porcentagem de gordura abdominal de frangos de corte, de 21 a 42 dias de idade, alimentados com níveis suplementares de valina (Val), isoleucina (Ile), arginina (Arg), ou glicina (Gli):
Em um estudo subsequente estes autores determinaram a exigência de valina para frangos de corte de 21 a 42 dias de
idade. A análise dos dados permite concluir que o ganho de peso e o filé de peito, tanto em peso como em rendimento,
foram influenciados pelos níveis de valina estudados (Tabela 3). Os autores recomendaram uma relação Val:Lys digestível de
78%, ou um mínimo nível dietético de 0,74% de valina digestível.
Tabela 3. Desempenho de frangos de corte, de 21 a 42 dias de idade, alimentados com níveis crescentes de valina di-gestível*:
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Berres et al. (2010) verificaram que relações Val:Lys Dig.
de 74,5 a 75,5% resultaram em maior ganho de peso e
melhor conversão alimentar em frangos de corte de 22 a
42 dias. No entanto, o aumento da relação para 78% re-
duziu a percentagem de gordura abdominal. Uma relação
superior foi recomendada por Campos et al. (2010), que
verificaram que a relação Val:Lys Dig. de 79% na dieta
(0,77% de valina digestível) melhorou o desempenho de
frangos de corte de 28 a 40 dias de idade.
Em dietas para frangos de corte a base de milho e farelo de
soja a isoleucina tem sido considerada como quinto ami-
noácido limitante (Berres et al., 2010; Goulart et al., 2009).
Rostagno et al. (2011) recomendam os valores de 0,878;
0,787; 0,733 e 0,687% de isoleucina digestível para fran-
gos nas fases de 1 a 7, 8 a 21 , 22 a 33 e 34 a 42 dias
de idade, respectivamente. A relação isoleucina: lisina di-
gestível (Ile:Lys Dig.) recomendada por estes autores é de
67%, para as duas primeiras fases e de 68%, para as fases
finais. Estas relações são superiores às encontradas em Ros-
tagno et al. (2005), que recomendam 65 e 67%, para as
fases de 1 a 21 e 22 a 46 dias de idade, respectivamente.
Campos et al. (2009) avaliando o efeito das relações Ile:Lys
Dig. no desempenho e rendimento de peito de frangos de
corte de 7 a 21 dias e de 22 a 40 dias, recomendaram
os valores de 67 e 70%, correspondendo às exigências de
0,724 e 0,685% de isoleucina digestível.
Kidd & Kerr (2000) verificaram efeito positivo da suple-
mentação de isoleucina na ração de crescimento sobre a
produção de carne de peito em frangos de corte aos 42
dias. Segundo os autores, quando se reduz a PB das di-
etas, parte do farelo de soja é substituída pelo milho, re-
sultando em aumento da leucina da dieta e redução dos
teores de isoleucina. Embora o antagonismo entre os AAs
de cadeia ramificada tenha pouca importância em dietas
práticas, estes resultados sugerem que a suplemen-
tação de isoleucina em dietas com redução da PB pode ser
necessária para suportar maior produção de peito.
A suplementação dos AAs industriais permite o a diminuição
dos custos da formulação pela redução na inclusão dos
ingredientes protéicos. Entretanto, para ter segurança, é
imprescindível formular as rações empregando o conceito
de proteína ideal, o que garante que os níveis dos AAs es-
senciais fiquem adequados à exigência do animal. A correta
contemplação da valina e isoleucina no perfil da proteína
ideal é peça fundamental para o sucesso da redução da PB
das rações.
5. Perfil da Proteína Ideal
De acordo com Emmert & Baker (1997) a proteína ideal se
define como o balanço exato de AAs essenciais e não es-
senciais, capazes de prover, sem deficiências ou excessos,
as necessidades absolutas de todos os AAs exigidos para
manutenção e aumento da proteína corporal. Uma vez que
a exigência de lisina esteja estabelecida, as exigências para
os outros AAs podem ser facilmente calculadas. Formular
uma ração no conceito do perfil da proteína ideal significa
quantificar as necessidades específicas de todos os AAs es-
senciais limitantes em relação à exigência de lisina, que é
utilizada como AA referência.
A formulação adequada da proteína ideal deve ser feita
utilizando valores de AAs digestíveis, objetivando atender
as exigências de lisina e de um perfil de proteína
ideal adequado para cada fase de criação e objetivo de
produção. No conceito da proteína ideal, a formulação
será ajustada para se atender aos mínimos exigidos para
cada um dos AAs primeiros limitantes: metionina + cistina,
treonina, valina, isoleucina, arginina, triptofano, histidina,
leucina e fenilalanina + tirosina; reduzindo-se os excessos
de AAs essenciais e não essenciais a partir da redução da
PB. O teor de PB determinado pelo programa de formu-
lação de ração é aquele necessário para prover a exigência
do próximo AA limitante, cuja suplementação não é pos-
sível de ser controlada pela adição de fontes de AAs indus-
triais (ainda indisponíveis no mercado da nutrição animal).
Assim, o nível de PB deve ser uma conseqüência da melhor
combinação de nutrientes e não um passo inicial do cálculo
de ração.
À medida que mais AAs industriais se tornem disponíveis,
mais fácil e exato será o estabelecimento e a formulação
de rações fundamentadas no conceito do perfil da proteína
ideal. Atualmente, a suplementação de L-Lisina, L-Treonina
e DL-Metionina, é uma prática incorporada na rotina das
fábricas de rações para aves. Num futuro breve espera-se
que a L-Valina também esteja disponível, já que este AA já
foi lançado no mercado e atualmente é utilizado nas rações
de suínos. Os principais objetivos da inclusão dos aminoáci-
dos industriais na formulação são:
� Possibilitar a redução da PB das rações sem prejuízos ao
desempenho animal;
� Atendimento das exigências dos AAs mais próximas da
proteína ideal;
� Melhoria da eficiência de utilização da proteína, uma
vez as deficiências ou excessos de AAs são minimizadas;
� Redução dos custos de produção;
� Redução da excreção de nitrogênio para o ambiente.
Para que a proteína ideal seja utilizada com sucesso, as
exigências dos AAs e suas relações com a lisina di-
gestível devem ser atualizadas constantemente em função
dos avanços produtivos das linhagens modernas. Dozier
et al. (2010) verificaram um acréscimo de 162 e 150% no
ganho de peso de machos e fêmeas da linhagem Ross, em
relação ao ganho estimado pelo NRC (1994). Segundo os
autores, o aumento na taxa de crescimento das linhagens
modernas é acompanhado do aumento na exigência de
lisina digestível, de forma a possibilitar a expressão do
ganho genético.
Outro aspecto importante é devido às questões ambientais
relacionas à excreção de N nos dejetos animais. Pesquisas
científicas apontam o N como um potente poluidor dos
solos e mananciais hídricos na superfície terrestre e no sub-
solo. Como a escassez de água tornou se um dos maiores
problemas mundiais, é demandado que os produtores de
aves e suínos façam uso de rações com níveis reduzidos de
PB, que comprovadamente promovem menor excreção de
N pelos animais. De acordo com Relandeau et al., (2000), a
redução de 10% da PB da dieta resulta em 20% menos ex-
creção de N nas fezes dos animais, 10% menos em emissão
de amônia para o ar, redução no consumo de água na or-
dem de 2 a 3% e redução de 3 a 5% no volume de dejetos.
Esforços contínuos são realizados por parte de universi-
dades, instituições de pesquisa e da indústria, no sentido
de atualizar as exigências de AAs para frangos de corte e
suas relações com a lisina digestível. Na Tabela 4 estão apre-
sentados diferentes perfis da proteína ideal para frangos
de corte de acordo com as recomendações de Rostagno et
al. (2005) e (2011), Ajinomoto Eurolysine e Ajinomoto do
Brasil.
Tabela 4. Recomendações do Perfil da Proteína Ideal para frangos de corte:
Disponível no site www.lisina.com.br
Na Tabela 5 encontra-se exemplos de formulações com base no conceito da proteína ideal, mostrando o efeito da inclusão
crescente de AAs industriais sobre a composição de ingredientes e nutrientes da formulação de frangos de corte em cresci-
mento 1 (22 a 35 dias de idade). É possível observar que:
� A inclusão dos AAs iniciou-se com a DL-Metionina, seguido pela L-Lisina, L-Treonina e L-Valina, representando a ordem
de limitância dos AAs (do 1º ao 4º AA limitante);
� Quanto à composição dos ingredientes, nota-se que à medida que se aumenta a inclusão de AAs, ocorre aumento na
quantidade do milho e diminuição nas quantidades de farelo de soja e óleo de soja, sem alteração do nível de Energia
Metabolizável;
� Em relação aos nutrientes da ração, observa-se o teor de PB é reduzido à medida que se disponibiliza os AAs industriais
(passando de 22,58 a 20,17%).
� Na parte inferior da formulaçao encontram-se as relações dos AAs com a lisina, onde verifica-se a adição dos AAs in-
dustriais proporciona melhor ajuste nas exigências dos AAs no perfil da proteína ideal, evidenciando a isoleucina como
o 5º AA limitante na última formulação após a inclusão de L-Valina;
� O custo das rações reduziram substancialmente com a adição crescente dos AAs industriais nas formulações.
Tabela 5. Exemplos de rações para frangos de corte formuladas no conceito da proteína ideal:
6. Considerações Finais
A rentabilidade do produtor de frangos de corte está altamente relacionada com o desempenho animal, onde a po-
tencialização do ganho de peso e a melhoria da conversão alimentar são priorizadas. A formulação de rações utili-
zando se o conceito do perfil da proteína ideal é uma ferramenta eficaz para promover melhor desempenho e retorno
econômico.
O conceito da proteína ideal permite calcular facilmente as exigências de todos os aminoácidos essenciais utilizando
como referência o nível de lisina da ração. A contemplação da relação dos aminoácidos limitantes com a lisina di-
gestível é o ponto inicial para a aplicação do conceito da proteína ideal e a chave do sucesso da redução do teor da
proteína bruta das rações.
A adição dos aminoácidos industriais é imprescindível para a formulação de rações fundamentadas no perfil da pro-
teína ideal, sendo que à medida que mais aminoácidos industriais se tornem disponíveis, mais fácil e mais exato será o
atendimento das exigências nutricionais pré estabelecidas.
Autores :
Luciano Sá, Eduardo Nogueira - Ajinomoto do Brasil
Cláudia Goulart - Universidade Estadual Vale do Acaraú
Fernando Perazzo Costa - Universidade da Paraíba
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