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5/10/2018 Aluno com gagueira é alvo da intolerância de professora universitária - slidepdf.com
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| 10 DE OUTUBRO, 2011 | A1 GAGUEIRA.WORDPRESS.COM
andolph, New Jersey (EUA) –Na faculdade do Condado deMorris, enquanto assistia auma aula sobre a descoberta eexploração do Novo Mundo,
Philip Garber Jr. levantou a mão no intui-to de perguntar por que os exploradoreschineses do século 15, cujas expediçõeschegaram a atingir a África, não alcança-ram também a América do Norte. Elemanteve sua mão erguida durante boaparte dos 75 minutos de duração da au-la, mas a professora não o chamou. Ela jáhavia dito antes a ele para não falar du-rante suas aulas.
Philip, um adolescente precoce econfiante de 16 anos de idade, está fa-zendo dois cursos universitários nestesemestre e tem muito a dizer, mas eletambém tem uma gagueira muito severa,que dificulta sua fala e torna praticamen-te impossível para ele dizer as coisas deforma rápida. Depois das duas primeirasaulas, em que ele participou ativamente,
a professora de história, uma adjuntachamada Elizabeth Snyder, enviou umemail pedindo a ele para fazer perguntassomente antes ou depois da aula, "paranão prejudicar o tempo dos outros alu-
nos".Em relação às questões que costuma
dirigir à turma durante as aulas, a Sra.Snyder sugeriu: "Acredito que seria me-lhor para todos se você mantivesse umafolha de papel em sua mesa e escrevesseas respostas" [em vez de respondê-lasoralmente]. Mais tarde, comenta Philip,ela falou para ele: "Sua gagueira é per-turbadora".
Sem se abater, Philip relatou a situa-ção a um dos pró-reitores da faculdade,que sugeriu então que ele fosse transfe-rido para a sala de outro professor, ondefinalmente pôde ficar livre outra vezpara fazer e responder perguntas duran-te as aulas.
Ao mesmo tempo em que o caso dePhilip parece incomum, pode-se dizer
que a gagueira não é. Cerca de 5% daspessoas passam por uma fase de gaguei-ra em algum momento da infância – e emaproximadamente 1% a gagueira se tor-na crônica, de acordo com dados do Na-tional Institutes of Health (NIH).
A experiência que Philip teve na fa-
culdade traz à tona uma queixa constan-te entre os gagos – a de que a sociedadenão reconhece a condição como umadeficiência – e toca em um antigo dilemapedagógico e social: o equilíbrio entre asnecessidades do indivíduo e o bem-estarde um grupo.
"Assim como fazemos com todos osalunos recém-chegados à faculdade, to-mamos medidas para resolver as recla-mações de Philip, de modo que ele possacontinuar com êxito a sua formação",disse Kathleen Brunet Eagan, diretora dodepartamento de comunicação da facul-
dade. Ela não quis dizer se a Sra. Snyder,que se recusou a discutir o caso, recebeualgum tipo de punição ou reprimenda,mas observou que a faculdade "se esfor-ça para educar seus professores e fun-cionários em relação à melhor forma detratar os alunos."
A Sra. Snyder ensina história na fa-culdade há 10 anos, e vários alunos atu-ais e antigos do campus disseram ementrevista que tinham opiniões positivassobre ela. Ela foi uma das primeiras es-tudantes quando a faculdade abriu em1968, fez mestrado na Montclair StateUniversity , e ensinou a disciplina de es-tudos sociais em escolas do ensino mé-dio por mais de 30 anos.
Para Philip, que passou a maior par-te da vida sendo educado em casa ou
R
Aluno com bom desempenho acadêmico
é alvo da intolerância de professorauniversitária. Motivo: ele tem gagueira.
“NÃO FALE”
Philip Garber Jr., aluno da faculdade
do Condado de Morris, em New
Jersey (EUA). “Não fale durante
minhas aulas, sua gagueira é
perturbadora”, disse a ele uma
professora de história.
INTOLERÂNCIA
Por RICHARD PÉREZ-PEÑA. Publicado em 10 de outubro de 2011 na versão online do jornal The New York Times.
Matt Rainey for The New York Times
Philip Garber Jr., aluno da faculdade
do Condado de Morris, em New
Jersey (EUA). “Não fale durante
minhas aulas, sua gagueira é
perturbadora”, disse a ele uma professora de história.
INTOLERÂNCIA
Matt Rainey for The New York Times
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frequentando a escola pública do bairro,a atitude da professora foi uma surpresae uma decepção. "Eu nunca tinha expe-rimentado essa forma tão ostensiva dediscriminação", disse ele. "Ter que lidarcom isso logo numa sala de aula de fa-culdade foi muito chocante."
Jim McClure, membro do conselhoda Associação Nacional de Gagueira e
porta-voz da entidade, afirmou que aexperiência de Philip é pouco comum –porque a grande maioria das pessoasque têm gagueira evita falar em sala deaula. "Geralmente, os professores ou asignoram, ou tem que persuadi-las a fa-lar", disse McClure. "O fato de esse estu-dante demonstrar vontade de participaré um sinal muito saudável."
Kasey Errico, que foi professor dePhilip na sétima e oitava séries – quandoele estudava na Escola Pública Ridge and Valley em Blairstown (New Jersey) –, ob-serva que em qualquer turma há sempre
alguns estudantes que fazem mais per-guntas que outros e que monopolizam otempo de aula. "Eu me pergunto o queesta professora faria com esses alunos,os que não gaguejam", diz Errico. "Se eladissesse a eles a mesma coisa que disse aPhilip, então eu poderia entender."
Dois alunos da turma da professora
Snyder, que falaram sob a condição de
permanecerem no anonimato – para evi-tar eventuais retaliações por parte da
professora –, disseram que Philip de fato
demorava mais tempo do que os outros
alunos, mas nada tão inaceitável assim, e
que suas contribuições eram sempre pro-veitosas. Eles disseram não saber ao certo
o que tinha acontecido entre ele e a Sra. Snyder, mas testemunharam o dia em que
Philip levantou a mão durante boa parte
da aula e foi ignorado pela professora."Como você agiria com um garoto
que tem um forte sotaque e tem que repe-tir tudo?", perguntou o pai de Philip, tam-bém chamado Philip, editor de dois jor-nais de pequeno porte. "Eu não acho que
seria correto dizer ao garoto que ele não
pode falar." Os defensores das pessoas
que gaguejam usam uma comparação
didática para ilustrar o tamanho da in-compreensão social em relação à gaguei-ra: em geral, as pessoas que aceitam cal-mamente um atraso na viagem de ônibus
para que um passageiro com deficiência
possa embarcar, muitas vezes
são as mesmas que demons-tram impaciência com quem
tem gagueira e está se esfor-çando para falar claramente.
Antigamente, a gagueiraera vista como um problemapsicológico, mas o consensocientífico atual é que sua ori-gem tem bases genéticas e
neurofisiológicas, embora osfatores emocionais possamtorná-la pior1. No ano passa-do, um estudo do NIH identi-ficou os primeiros genes liga-dos à gagueira.
O histórico da gagueira de Philip é muito comum: havia antecedente na fa-mília (um tio gaguejava), o problema começou por volta dos 3 anos e ele pas-sou anos fazendo tratamentos fonoau-diológicos, alguns dos quais fizeram mais mal do que bem. No tratamento mais
recente de
Philip,
ele
adquiriu
um
pouco
mais de confiança e aprendeu algumas técnicas para melhorar sua fluência. Po-rém, depois de tantos anos consecutivos de tratamento, ele decidiu no último in-verno que era hora de dar um tempo, pelo menos por agora.
"Eu até entendo que às vezes podeser difícil ouvir uma pessoa que gagueja,mas querer calá-la não é uma respostaaceitável", disse a mãe de Philip, MarinMartin, uma enfermeira. "Se formos pen-sar assim", ela diz, "haveria um sem nú-mero de situações sociais em que ele
estaria proibido de falar".
Conversar com Philip requer certograu de paciência – ainda mais porqueele é notavelmente desinibido, e tende afalar em parágrafos completos, como épossível ver nos vídeos que ele grava emseu canal no YouTube. Para o ouvinte, arecompensa é poder apreciar seu sensocrítico afiado e sua sagacidade irônica.
Ele tem se esforçado para suprimiruma característica comum em sua ga-gueira – contorcer o corpo ou parte delena tentativa de expulsar uma palavra."Descobri que é difícil fazer as pessoasescutarem você quando acham que você
1 [N.T.] A mesma afirmação é válida para o mal deParkinson, a disfonia espasmódica e outros distúr-bios que prejudicam a fluência motora da fala.
está tendo uma convulsão", disse ele. Fo-tógrafo amador ávido, Philip espera fa-zer carreira na área, mas se preocupaporque "mesmo que ninguém espere queum fotógrafo fale muito, em qualquer
profissão é preciso falar".Depois de tantos anos fazendo tra-tamento fonoaudiológico, Philip até con-segue forçar sua fala a assumir um pa-drão razoavelmente fluente, mas issoexige dele uma concentração tão intensa,que fica difícil falar e manter uma linhade raciocínio ao mesmo tempo.
No momento, ele está se ocupandocom aulas de história e redação na facul-dade, estudando outras disciplinas emcasa e viajando para Manhattan uma vezpor semana para trabalhar com drama-turgia na companhia Our Time, um grupo
de teatro constituído exclusivamente porpessoas que gaguejam (v. figura).
Em relação à Sra. Snyder, Philip dis-se que até poderia ter tentado entenderas motivações por trás do pedido da pro-fessora, mas para isso ela deveria terusado uma forma mais gentil de pedir."Tenho muita sorte de nunca ter sidoprovocado ou intimidado quando maisjovem, porque algumas pessoas que ga-guejam desistem completamente de falarpor causa desse tipo de abuso", dissePhilip. "As pessoas não pensam na ga-gueira como uma deficiência legítima,mas elas precisam aprender."
Traduzido por Hugo Silva, em out. de 2011, para a campanha doDia Internacional de Atenção à Gagueira (bit.ly/diag-2011). O ar-tigo original, em inglês, pode ser encontrado online através doseguinte endereço encurtado: tinyurl.com/diag2011-artigo01
Na imagem acima, Philip Garber aparece ao lado de outros adolescentesda companhia de teatro Our Time em uma reportagem especial sobregagueira feita pela rede CBS.
Eu nunca tinha ex-
perimentado essa formatão ostensiva de discri-
minação. Ter que lidar com isso logo numa sala
de aula de faculdade foi muito chocante.”
Antigamente, a ga-
gueira era vista como um problema psicológico,
mas o consenso científicoatual é que sua origemtem bases genéticas e
neurofisiológicas.”
Algumas pessoasque gaguejam desistem
completamente de falar
por causa desse tipo deabuso. As pessoas não pensam na gagueira co-
mo uma deficiência legí-tima, mas elas precisam
aprender.”