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ALTERAÇÕES SÉRICAS NOS NÍVEIS DE MALONDIALDEÍDO, DESIDROGENASE LÁTICA E ALBUMINA EM CADELAS COM TUMOR DE MAMA
SERIC ALTERATIONS AT LEVELS OF MALONDIALDEHYDE, LACTATE
DEHYDROGENASE AND ALBUMIN IN CANINE MAMMARY TUMOR
Belarmino Eugênio LOPES-NETO1 ; Stephanie Caroline Bezerra SOUZA2 ; Diana Célia Sousa NUNES-PINHEIRO3
1 - Médico veterinário, Doutorando do programa de pós-graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV), Faculdade de veterinária (FAVET), belarmino.neto@uece.aluno.br 2 – Graduanda em Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Ceará, FAVET, UECE/ Bolsista de iniciação científica (ICT/FUNCAP), stephaniebezerra12@hotmail.com 3 – PhD, Pesquisadora vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias – PPGCV/UECE;
RESUMO
O estresse oxidativo é decorrente da superprodução de espécies reativas ao
oxigênio associado à deficiência da capacidade antioxidante do organismo. Este
processo pode estar envolvido na patogênese de todos os tipos de câncer, inclusive
o tumor de mama em cadelas. No entanto, existem poucos dados consistentes que
comprovem a participação dos componentes oxidantes e antioxidantes nesta
doença. Dessa forma, o trabalho tem como objetivo avaliar o perfil oxidante-
antioxidante em cadelas com carcinoma da glândula mamária (CGM). Para tanto, foi
utilizado amostras (n = 10) de soro sanguíneo de cadelas com carcinoma mamário e
cadelas saudáveis (n = 10) para análise do estresse oxidativo através da
mensuração dos níveis de malondialdeído (MDA) e a desidrogenase lática, e
avaliação dos antioxidantes não enzimáticos, albumina, ácido úrico, bilirrubina total e
proteínas totais. Os dados foram expressos em média e desvio padrão e analisados
ao nível de 5% de significância. Nos animais com TMC os níveis séricos de LDH e
MDA estavam aumentados (p ≤ 0,05), enquanto os níveis de albumina
apresentaram-se diminuídos (p ≤ 0,05) em relação ao grupo controle. Os teores de
ácido úrico, bilirrubina total e proteínas totais em cadelas com TMC não diferiram em
relação ao controle. Os resultados desse estudo evidenciaram alterações sistêmicas
em antioxidantes não enzimáticos em cadelas com carcinoma de mama (TMC),
ressaltando o aumento da peroxidação lipídica. Portanto, estes Biomarcadores
podem ser utilizados como auxílio ao diagnóstico e no acompanhamento do
tratamento do TMC. Vale ressaltar que o potencial dos biomarcadores sistêmicos no
TMC deverão ser objeto de investigação futura.
Palavras-chave: Tumor Mamário Canino, Estresse Oxidativo, MDA, LDH.
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Keywords: Canine Mammary Tumor, Oxidative Stress, MDA, LDH.
Introdução
Diferentes condições podem causar o desequilíbrio na homeostase dos
animais, inclusive condições patológicas. O organismo pode alterar moléculas
biológicas, ocasionando liberação de moléculas e íons reativos, como as espécies
reativas ao oxigênio (ERO). Em consequência, doenças associadas ao
envelhecimento, como o câncer, estão envolvidas com estado de estresse oxidativo
causado pelo aumento dos radicais livres (GUPTA et al., 2014).
O tumor de mama é a neoplasia mais comum em cadelas, sendo que as
neoplasias malignas são frequentemente diagnosticadas nesta espécie, podendo
chegar até 70% dos casos (FILHO et al., 2010). A etiologia do tumor de mama em
cadelas (TMC) ainda não está bem esclarecida, sendo atribuída a multifatores, como
raça do animal, a ausência de receptores de estrógeno e progesterona e o uso de
contraceptivos, além de dieta, idade avançada e alterações do equilíbrio oxidativo
(MATOS et al. 2012).
O estresse oxidativo pode gerar danos em diversas células do organismo,
sendo esse processo combatido por mecanismos de defesa antioxidante que tem o
objetivo de limitar os níveis das ERO, protegendo os lipídios da membrana celular
contra reações de peroxidação (BIRBEN et al., 2012). Na medicina veterinária há
poucos estudos desses biomarcadores em cadelas com câncer de mama.
Objetivo
O objetivo deste trabalho foi avaliar os níveis séricos de oxidantes e
antioxidantes não enzimáticos em cadelas com TMC.
Metodologia
Para a condução deste estudo, durante o período de janeiro a julho de 2016
foi realizado o levantamento clínico-anatomopatológico de cadelas sem
predisposição de raça, peso e idade, acometidas por lesões tumorais de mama
atendidas no Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Ceará. O diagnóstico
destes animais passou pelo atendimento clínico, radiológico, cirúrgico e patológico,
sendo o diagnóstico presumível dado pelos achados citológicos e confirmado pelo
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histopatológico seguindo critérios histopatológicos (CASSALI et al, 2014) e de
graduação (ELSTON e ELLIS, 1991). Cadelas com diagnóstico de TMC (n=10) e
cadelas sem diagnóstico de TMC (n=10) ou outra doença foram selecionadas e
amostras de sangue foram coletadas para obtenção de soro. Estas amostras foram
aliquotadas e congeladas a -80ºC até o dia das análises.
Foram realizadas as dosagens séricas de lactato desidrogenase (LDH),
bilirrubina total, ácido úrico, proteínas totais e albumina utilizando-se kits comerciais
(®Bioclin) em aparelhos de automação bioquímica (BS-120 ®mindray) seguindo as
metodologias dos fabricantes. Os níveis séricos de malondialdeído (MDA) foram
mensurados pela técnica de Beuge e Aust (1978) e descrita a seguir. Brevemente,
100 µL do soro foram adicionados a 200 µL de ácido tricloroacético a 30% (TCA),
200 μL de tampão TRIS e 200 μL de ácido tiobarbitúrico a 0,73% (TBA) em tubos de
ensaio. Em seguida, a mistura foi colocada em banho-maria a 100°C por 1 h e
imediatamente centrifugada (3000 G, 10 min) para obtenção do sobrenadante, o
qual foi submetido a leitura em um espectrofotómetro a 535 nm. Os resultados foram
expressos em nmol/mL, seguindo uma curva padrão do MDA.
Os dados foram expressos em média e desvio padrão e realizado test t de
Student, com nível de significância a 5%. Previamente, o protocolo experimental foi
submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Uso de Animais (CEUA-UECE)
tendo sido aprovado (número de protocolo 12247080-2).
Resultados e Discussão
Verificou-se que 60% das cadelas com TMC eram da raça poodle e as
demais sem raça definida (SRD), com idade média de 9,3 ± 1,34 anos, não
castradas, sendo que quatro delas tiveram pelo menos uma gestação e outras duas
receberam contraceptivo injetável. Esses dados são semelhantes aos encontrados
na literatura, em que a maioria das cadelas com TMC tem de 9 a 11 anos, com
grande variação nas raças, maioria não castradas (IM et al., 2014; DIAS et al.,
2016).
Para avaliação do estresse oxidativo foi mensurado o MDA sérico que se
apresentou mais elevado (p ≤ 0,05) no grupo com TMC em relação ao controle
(51,20 ± 10,07; 15,80 ± 3,70, respectivamente) (Tabela 1). O MDA é um produto da
peroxidação lipídica causada pela ação das EROs na ruptura das membranas
celulares (NARENDHIRAKANNAN e HANNAH, 2013). Esse aumento de MDA pode
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até ser apontado como um mecanismo de crescimento das células tumorais e
progressão do tumor (KUMARAGURUPARAN et al., 2005; KARAYANNOPOULOU
et al., 2013). O aumento dos substratos da peroxidação lipídica encontrados em
animais com TMC corroboram com os dados encontrados por esses autores.
Outro componente que pode refletir o estado do crescimento tumoral é a LDH.
Em nosso trabalho, animais com TMC apresentaram níveis elevados de LDH (p ≤
0,05) em relação aos animais controle (301,7 ± 85,66 U/L; 128,25 ± 62,25 U/L,
respectivamente). LDH é uma enzima que relaciona-se com o desenvolvimento
neoplásico (MARADEI et al., 2011).
A atividade antioxidante não enzimática também foi avaliada no presente
estudo através dos biomarcadores albumina, ácido úrico e bilirrubina. Os resultados
estão apresentados na Tabela 1. Os teores de ácido úrico não diferiram entre os
grupos avaliados (p = 0,23). O ácido úrico é produzido pelo metabolismo da purina e
excretado pelos rins, podendo atuar como antioxidante com capacidade de
sequestrar EROs e quelar cobre e ferro (CERQUEIRA et al., 2007). Além disso, o
aumento da concentração de ácido úrico no câncer é associado a síndrome da lise
tumoral, principalmente em pacientes após tratamento citotóxico (HOWARD et al.,
2011).
Albumina é importante para o transporte dos ácidos graxos livres na
circulação sanguínea e dispõe de sítios de ligação para íons cobre, inibindo a
peroxidação lipídica dependente de cobre e a formação do radical hidroxila (CERÓN
et al., 2005). A albumina nos animais com TMC apresentou-se menor concentração
(p ≤ 0,05) que nos animais controle (2,13 ± 0,48 g/dL; 3,21 ± 0,27 g/dL,
respectivamente), enquanto que os valores das proteínas totais não diferiram entre
os grupos (Tabela 1). Nossos resultados corroboram com pesquisas que
evidenciaram uma concentração diminuída de albumina sérica em cadelas com TMC
em estadio avançado (apresentando metástase), quando comparado às cadelas
saudáveis ou sem metastases (TECLES et al., 2009).
A bilirrubina é outro antioxidante não enzimático, o qual é oriundo da quebra
da hemoglobina e acredita-se que ligada à albumina possa evitar a oxidação de
ácidos graxos, durante a exposição da proteína aos agentes iniciadores da
peroxidação lipídica (BREIMER e MIKHAILIDIS, 2011). Em nosso estudo a
bilirrubina não apresentou diferença significativa entre os grupos estudados (Tabela
1). Contudo, alguns estudos demonstraram que uma menor concentração de
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bilirrubina sérica possa ser encontrada em pacientes com câncer (SONG et al.,
2015).
Conclusão:
Os resultados desse estudo evidenciaram alterações sistêmicas em
antioxidantes não enzimáticos em cadelas com carcinoma de mama (TMC),
ressaltando o aumento da peroxidação lipídica. Portanto, estes Biomarcadores
podem ser utilizados como auxílio ao diagnóstico e no acompanhamento do
tratamento do TMC. Vale ressaltar que o potencial dos biomarcadores sistêmicos no
TMC deverão ser objeto de investigação futura.
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Grupo
Marcador Controle TMC P
LDH (U/L) 128,25 ± 62,25 301,7 ± 85,66* p = 0,002
Ácido úrico
(mg/dL) 1,07 ± 0,44 1,93 ± 0,67 p = 0,23
Proteínas totais
(g/dL) 7,39 ± 0,57 6,45 ± 0,58 p = 0,06
Albumina (g/dL) 3,21 ± 0,27 2 ,13 ± 0,48* p = 0,001 Bilirrubina
(mg/dL) 0,30 ± 0,13 0,31 ± 0,05 p = 0,75
MDA (nmol/mL) 15,80 ± 3,70 51,20 ± 10,07* p = 0,001 *Diferença significativa entre os grupos
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