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Agricultura e pecuária no semiárido nordestino e suas adversidades em relação ao clima alterando a atual dinâmica demográfica do município Caraúbas/RN
RESUMO
Este estudo se propõem a discutir acerca as dinâmicas populacionais no espaço rural,
a partir da análise do clima e a produção agropecuária da região, investigando as
principais questões sobre a sustentabilidade social no meio rural entre os anos de 1970
e 2014. No cenário de uma cidade localizada na porção central do Estado do Rio
Grande do Norte, na microrregião do Médio Oeste Potiguar, observou-se a relação
entre os períodos de estiagem e permanência dessas populações na área rural.
Avaliando as relações de suas produções agrícola e pecuária com a precipitação anual
e as mudanças nos padrões familiares. Os resultados destacam que, embora com um
tênue crescimento na produção pecuária após 1983 e a queda periódica da produção
agrária em suas principais culturas (algodão, castanha de caju, feijão e milho) o
êxodo rural persiste em todo o período do Censitário a partir de 1970. Mesmo nas
áreas rurais mais tradicionais, sejam aquelas dinâmicas ou as mais pobres. Que
também reforça a propensão dos mais jovens e das mulheres a deixarem o campo, em
busca de melhores oportunidades de emprego, renda e estabilidade social. O trabalho
finalmente discute as implicações dessas mudanças sobre a sustentabilidade da
atividade agrícola em médio e longo prazo, sobretudo para as unidades produtivas
familiares pequenas e mais vulneráveis. Além disso, propor políticas públicas que
ajudem a minimizar os problemas que o clima e a estiagem criam nas populações
rurais desse município.
Palavras chave: pequenas cidades, semiárido, população rural, precipitação,
produção agropecuária, dinâmica populacional
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1. INTRODUÇÃO
No Rio Grande do Norte, mais de 90% de seu território está localizado numa
região denominada de polígono da seca, isso quer dizer que no Estado a
predominância do clima é do tipo semiárido. Devido a isso, a irregularidade
pluviométrica nessa região é algo que impacta diretamente na vulnerabilidade de
população, dificultando a permanência do homem no campo devido as suas várias
atividade produtivas se fragilizarem diante das incertezas climáticas. Nessa região, as
caraterísticas do clima, como: baixa pluviosidade, altas temperaturas, alta incidência
de raios solares refletem diretamente na dinâmica econômica dessas populações
submetidas a irregularidades da chuva que comprometem e frustra todo o processo
produtivo.
Para entender esse contexto, o objeto de estudo será o município de Caraúbas,
localizado na mesorregião oeste Potiguar e mais precisamente na microrregião da
Chapada do Apodi, limitando-se ao Norte com os municípios de Governador de Dix-
Sept-Rosado e Felipe Guerra; ao Sul com Janduís, Patu e Olho d’água dos Borges; ao
Leste com Campo Grande e Upanema e ao Oeste com Apodi. Do ponto de vista
geográfico, Caraúbas se localiza na latitude: 5° 47’ 33” Sul e longitude: 37° 33’ 24”
Oeste, distando–se 309 Km da capital potiguar, Natal. Caraúbas é considerada uma
cidade de pequeno porte pois sua população é menor que cinquenta mil habitantes.
Nesse contexto ela representa 93,39% que equivale a 1059 municípios no Semiárido
brasileiro (Censo 2010, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE).
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Mapa 01: Mapa de Localização do município de Caraúbas–RN.
Fonte: Adaptado do site Google Maps. Abril/2106.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município
apresenta atualmente uma área total territorial de 1.132,857 Km², representativo ao
bioma Caatinga no semiárido nordestino. De acordo com o censo demográfico do
IBGE do ano 2010, a população total do município era de 19.576 habitantes, sendo
que 13.704 moram na zona urbana e, 5.872 residem área rural.
Com a instalação da estações da linha férrea que ligava a cidade de Mossoró a
Sousa na Paraíba. A partir desse momento, Caraúbas passa a ser considerada um
entreposto comercial que tem na cultura algodoeira a sua mercadoria hegemônica. Na
década de 1970, essas atividades ligadas ao cultivo e ao beneficiando do algodão
entram em declínio, e decreta da desativação da linha férrea. A crise é em parte
minimizada pela cultura do caju que começa a se desenvolver na cidade
transformando o município num dos principais produtores da região.
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Foto 01: Produção artesanal da castanha de caju, no município de Caraúbas, 2016.
Fonte: foto retirada pelo autor
Na última década, as principais produções agrícolas são: a castanha de cajú, a
melancia, o feijão, o milho, o algodão, a mandioca e o arroz (Produção agrícola
municipal, IBGE).
Tabela 01 - Quantidade produzida de Lavouras temporárias e permanentes na município Caraúbas no período de 2004 a 2014
Ano
Castanha de caju
(ton) Melanci
a
Feijão (em
grão)
Milho (em
grão)
Algodão herbáce
o (em caroço)
Mandioca
(ton)
Arroz (em
casca) 2004 4.400 - 945 720 678 15 40 2005 5.000 301 647 408 180 38 67 2006 5.000 301 775 480 120 38 100 2007 5.000 301 496 288 120 38 100 2008 5.000 301 420 306 90 38 100 2009 5.000 361 193 148 60 38 107 2010 5.000 753 - - - 38 32 2011 5.000 700 540 450 10 70 120 2012 5.000 420 42 40 2 70 120 2013 4.500 980 250 240 - 100 120 2014 3.500 980 200 80 - 50 40
Nota: 1 - O produto Castanha de cajú é considera lavoura Permanente. As demais são consideradas temporárias; 2 - A partir do ano de 2001 as quantidades produzidas do produto melancia passa a ser expressa em toneladas. Nos anos anteriores eram expressas em mil frutos; 3 - Subentende a possibilidade de cultivos sucessivos ou simultâneos (simples, associados e/ou intercalados) no mesmo ano e no mesmo local, podendo, por isto, a área informada da cultura exceder a área geográfica do município. 4- As culturas de mandioca são consideradas culturas temporárias de longa duração. Elas costumam ter ciclo vegetativo que ultrapassa 12 meses e, por isso, as informações são computadas nas colheitas realizadas dentro de cada ano civil (12 meses). N estas culturas a área plantada refere-se a área destinada à colheita no ano. Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal
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Esse artigo portanto, objetiva analisar as atividades produtivas desenvolvidas
no espaço caraubense e de que forma o clima interfere frustrando a produção e
consequentemente induzindo o processo migratório do campo para a cidade na atual
dinâmica demográfica do município.
Dessa forma, o presente artigo está dividido em duas partes. A primeira
intitulada variabilidade climática e seus riscos associados às atividades
agropecuárias que traz, de forma breve, uma abordagem teórica a respeito do clima e
produção do espaço através da ocupação e exploração. Depois tratamos sobre como se
deu o distribuição demográfica nas regiões urbana e rural seguidas de alguns
resultados e considerações sobre a produção e suas relações com a permanência da
população rural a fim de observa se existe alguma modelo que explique essas
transições no decorrer do tempo.
2. Variabilidade climática e seus riscos associados às atividades agropecuárias
Os elementos climáticos variam no tempo e no espaço e são influenciados por
fatores, cujas tendências e índices de precipitação pluviométrica, que a área está
sujeita, enfatizam a importância de desenvolver estudos de escalas locais e regionais,
nos quais os impactos serão maiores pois, submetidos as condições climática de
semiaridez, variadas atividades humanas estão sensíveis a essas irregularidade
meteorológicas e climáticas do mundo.
A seca ou estiagem que afetam as regiões semiáridas caracteriza-se pelas faltas
de chuvas ou pela sua má distribuição, ocasionando irregularidades que causam danos
as atividades econômicas e a qualidade de vida das populações, que convivem em
regiões com essas características climáticas, pois devido à ocorrência de chuvas mal
distribuídas ou de baixas pluviosidades, por longos períodos, geram um decréscimo,
ou até mesmo, uma perda completa da produção.
A economia da região semiárida é particularmente
vulnerável a esse fenômeno das secas. Uma modificação
na distribuição das chuvas ou redução no volume destas
que impossibilite a agricultura de subsistência bastam
para desorganizar toda a atividade econômica. A seca
provoca, sobretudo, uma crise da agricultura de
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subsistência. Daí, suas características de calamidade
social. (FURTADO, 1967).
Apesar de antiga a citação de Furtado, ainda é verdadeiro nos dias atuais pois a
cada período de irregularidade das chuvas danos na pecuária, que reduz ou mantém
estagnado seu rebanho, quantitativo pluviométrico que determina a ampliação das
áreas de pastagem e da oferta de água. Mas também na agricultura com reflexos
profundo na vida social, pois o homem do campo vê comprometida a sua agricultura
de produção de alimentos (milho e feijão principalmente) e sua cultura comercial no
caso de Caraúbas a produção de castanha de caju.
Adaptar-se a essas rigidez do clima através do uso racional dos solos dos
suprimentos de água, incorporando novas tecnologias e processos inovadores é o
grande desafio da nossa contemporaneidade.
2.1 – Precipitação na cidade de Caraúbas
Em Caraúbas a precipitação pluviométrica se concentra em quatro meses
consecutivos do ano, fevereiro a maio, e apresenta uma intensea irregularidade
interanual, espacial e temporal, até mesmo dentro da própria estação chuvosa. A
umidade relativa anual é de 66% e o tempo de insolação de 2.177 horas/ano. Com
uma temperatura máxima de 36,0 °C, média: 27,7°C e mínima: 21,0 °C. Nos últimos
40 anos (1974-2014) a média do total anual de precipitação pluviométrica é de 645,42
mm/ano com desvio padrão de 333,2 mm/ano (EMPARN, 2016). Ou seja, com uma
variabilidade tão alta é possível observar meses de total falta de chuvas, como é
mostra o gráfico1.
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Gráfico 01: Precipitação mensal no município de Caraúbas-RN de 1974 a 2014.
Fonte: Monitoramento pluviométrico, EMPARN.
2.2 – Atividades pecuárias e suas adversidades com o clima
Avaliando a relação entre os períodos chuvosos e a criação pecuária de
bovinos, caprinos e ovinos percebe-se que o quantitativo de cabeças está relacionado
com o quantitativo pluviométrico. Demonstrando que essa culturas acompanham um
padrão comum. Isso quer dizer que no ano que há uma maior escassez de chuvas
maior será o reflexo da queda do número dessas criações no ano. Destaca-se a
tendência de queda dos rebanhos nos anos de 1983, 1993, 2003 e 2013 (Gráfico 02).
Gráfico 02: Precipitação anual e quantidade de rebanhos bovinos, ovinos e caprinos no período de 1974 e 2014 na cidade de Caraúbas/RN.
Fonte: Pesquisa Pecuária municipal, IBGE. Monitoramento pluviométrico, EMPARN
0
100
200
300
400
500
600
700 Precipitação(mm)
1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
Precipitação m
m
Núm
ero de cabeças
Precipitação anual Bovino Ovino Caprino
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Já a criação de galináceos teve comportamento diferenciado, quando
comparado com os bovinos, ovinos e caprinos pois apresentou aumento significativo
em relação as outras criações (Gráfico 02). Esse advento é um possível reflexo do
incentivo tecnológico de instituições como o governo do estado, através do Instituto
de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER) que
fomentou a partir de políticas de fortalecimento da criação de galinhas poedeiras, que
além de ter um rápido retorno financeiro com a produção de ovos, também apresenta
vantagem com o relativo pouco investimento para engorda. Aos 120 dias, os frangos
devem pesar em torno de 1,8 quilo, sendo essa a idade e peso ideal para o abate
Gráfico 03: Precipitação anual e quantidade de galináceos no período de 1974 e 2014 na cidade de Caraúbas/RN.
Fonte: Pesquisa Pecuária municipal, IBGE. Monitoramento pluviométrico, EMPARN
Outras questões levantadas com o estudo foram que se observa, nas
propriedades rurais, uma possível substituição nos tipos de criações. Isso deve se dá
pela dificuldade produtores em manter seus animais e se veem obrigados a migrarem
de uma espécie de grande e médio porte para uma de pequeno porte, como por
exemplo, a substituição do gado, que é um animal de grande porte, para as galinhas,
que é considerado um animal de pequeno porte, justamente pela facilidade de
manusear e de abastecer com provimentos. Isso ocorre porque economicamente é
mais viável produzir uma espécie pela qual irá gastar menos com alimentação, água,
entre outros fatores do que o criatório do gado.
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
Precipitação em mm
Núm
ero de Cabeças
Precipitação anual Galináceos -‐ total
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Um outro fator relaciona-se com o mercado local regional que diante do preço
da carne bovina determinou um outro hábito onde o consumo de frango entra no
cardápio de grande parte da população.
2.3 Atividades agrícolas e suas adversidades com o clima
A produtividade das diferentes culturas agrícolas é altamente dependente da
oferta pluviométrica, bem como de sua frequência e intensidade. Com isso, a época
do plantio das culturas está diretamente ligada aos elementos climáticos, dentre eles a
precipitação. A época mais recomendada para o plantio depende da distribuição das
chuvas na região e sua quantidade. Nesse sentido avaliou-se a produtividade total das
culturas em relação a precipitação total e anual em Caraúbas com o intuito de
verificar se existe alguma relação.
Gráfico 04: Quantidade produzida em toneladas de feijão, milho, algodão herbáceo (em caroço) e total de pluviosidade anual no município de Caraúbas/RN, 1990 à 2014.
Fonte: Produção Agrícola Municipal, IBGE. Monitoramento pluviométrico, EMPARN.
No gráfico 04, observa-se que há um padrão semelhante entre as culturas do
feijão, do milho e do algodão, ou seja, que aparentemente as três culturas sofrem
quedas e aumentos proporcionais ao advento das baixas precipitações. Onde a cada
ano de seca temos uma queda na produção dessas culturas. Além disso na análise do
gráfico, que detalha a produção agrícola no município de Caraúbas, chama a atenção
para a produção do algodão que a partir de 2003 não apresenta produção.
0,0 200,0 400,0 600,0 800,0 1000,0 1200,0 1400,0
0
500
1000
1500
2000
1990 1995 2000 2005 2010
precipitação mm
Produção em toneladas
Precipitação Caraúbas -‐ Ano Feijão (em grão)
Milho (em grão) Algodão herbáceo (em caroço)
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Gráfico 05: Quantidade produzida em toneladas de Castanha de Cajú, melancia e arroz e total de pluviosidade anual no município de Caraúbas/RN, 1990 à 2014.
Fonte: Produção Agrícola Municipal, IBGE. Monitoramento pluviométrico, EMPARN.
No gráfico 05, destaca-se a cultura do cajueiro que parece não se abalar tão
facilmente com advento das restrições de chuvas, e apresenta um crescimento
significativo a partir do ano de 2003. Essa cultura, se manifesta como um sucedâneo a
economia algodoeira. Ela consolida a expressão urbana do município, participa da
expansão da cidade, inclusive para o bairro que a fábrica de castanha de caju, onde
está instalada.
Essa cultura também contribuiu numa dinâmica socioespacial no município,
pois proporcionou o aumento de empregos da cidade, já que funcionava uma fabrica
de beneficiamento com 700 funcionários, a grande maioria de Caraúbas. É na décadas
de 80 que novos estabelecimentos comerciais surgiram, a população urbana
ultrapassou a população rural, fruto da intensificação do êxodo rural e houve uma
expansão urbana no bairro, cuja fábrica estava instalada (Tabela 03).
A atividade da cajucultura, nos dias atuais está sofrendo com o problema da
mosca branca e idade avançada do pomar que junto com a queda das chuvas está
inviabilizando a atividade de beneficiamento das amêndoas, como mostra a tendência
da produção da castanha a partir de 2013 (Gráfico 05).
Nesse contexto, os riscos climáticos associados às culturas, decorrentes da alta
variabilidade da precipitação interanual, podem ser minimizados com a determinação
das características e quantidades de chuvas e seu planejamento de atividades agrícolas
a partir da análise de dados de precipitação. Estudando as melhores épocas de
0,0 230,0 460,0 690,0 920,0 1150,0 1380,0
0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000
precipitação mm
Produção em toneladas
Precipitação Caraúbas -‐ Ano Castanha de caju
Melancia Arroz (em casca)
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semeadura para a cultura analisanso a interação entre a probabilidade de chuva, data
de semeadura e consumo de água da cultura. O conhecimento das características e
duração dos períodos chuvoso e menos chuvoso possibilita que muitas atividades
agrícolas, como a irrigação e o preparo do solo, possam ser planejadas e realizadas de
forma racional, diminuindo os riscos da produção.
2.4 - Políticas de permanência da população rural
Com o intuito de fortalecer a população campesina com a fixação dos
trabalhadores na agricultura, o Governo Federal lançou várias políticas de adquirir no
mercado de terras, um imóvel rural, e até mesmo de mantê-la produtiva sem a ajuda
de uma política pública (FURTADO, 2000). Dentre elas destaca-se a política de
assentamento rural, visando o reordenamento do uso da terra; ou a busca de novos
padrões sociais na organização do processo de produção agrícola (BERGAMASCO,
1996). através dessas políticas as unidades agrícolas independentes entre si,
consolidaram-se e ocupam um importante papel na produção agropecuária dos
municípios também através da agricultura familiar3. Onde originalmente existia um
imóvel rural que pertencia a um único proprietário. Cada uma dessas unidades,
chamadas de parcelas, lotes ou glebas é desfragmentado e variados lotes ou glebas,
um para cada família. A quantidade de glebas num assentamento depende da
capacidade da terra de comportar e sustentar as famílias assentadas. O tamanho e a
localização de cada lote é determinado pela geografia do terreno e pelas condições
produtivas que o local oferece. No presente momento, em Caraúbas, são mais de 150
comunidades de produção, sendo que as mais produtivas são: Mirandas, 1º de Maio,
Santo Antônio, São Geraldo, Mariana, Cachoeira e Igarapé.
No Censo Agropecuário de 2006 foram identificados 71.210 estabelecimentos
da agricultura familiar no RN, ou 85,74% do total (83.052 estabelecimentos),
ocupando 1,046 milhões de hectares, ou seja, 32,82% da área dos estabelecimentos
agropecuários potiguares. Já os estabelecimentos não familiares representavam
14,26% do total dos estabelecimentos, mas ocupavam 67,18% da área total. 3 Conceito de “agricultura familiar” é definido por lei: Para ser classificado como agricultura familiar no Censo Agropecuário (e segundo a Lei nº 11.326), o estabelecimento precisava atender simultaneamente às condições detalhadas na publicação Agricultura familiar – Primeiros Resultados (páginas 14 a 18) - IBGE. Os estabelecimentos não enquadrados nesses parâmetros foram designados como “não familiares”.
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Em Caraúbas a agricultura familiar ocupava 71,57% dos estabelecimentos
agropecuários e apenas 28,43% são considerados não familiares (Tabela 02). Desse
total, 43,66% são considerados proprietários da terra e apenas 4,14% são produtores
mas sem a posse da terra. Esse quadro se agrava pela presença 14,22% de assentados
sem a titulação definitiva de sua terra, mas também para o número significativo de
arrendatários, parceiros e ocupantes, que juntos perfazem 20,49% dos produtores, que
sem a titulação de posse da terra, têm dificuldades ao acesso ao crédito e perpetuam
processos antiquados de ralações sociais que os estudiosos denominaram de pré-
capitalista.
Tabela 02: Número de estabelecimentos e Área dos estabelecimentos agropecuários, por condição do produtor em relação às terras e agricultura familiar
Não familiar
% Não familiar
Agricultura familiar
% Agricultura familiar
Proprietário 268 17,60 665 43,66 Assentado sem titulação definitiva 61 4,01 154 10,11 Arrendatário 9 0,59 16 1,05 Parceiro 20 1,31 100 6,57 Ocupante 67 4,40 100 6,57 Produtor sem área 8 0,53 55 3,61 Total 433 28,43 1090 71,57
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2006
3. Dinâmicas demográfica nas regiões urbana e rural
As famílias rurais são muito influenciadas por vários fatores, no que diz
respeito a sua ocupação espacial. O desenvolvimento do campo ou da cidade são
pontos forte quando observado as questões de acesso a saúde, educação e
oportunidades de emprego e renda. Segundo Sakamoto (2013), outros fatores,
considerados endógenos, também podem determinar essa escolha de região do
domicílio, como é o caso, da diminuição da a queda da fecundidade e a fragmentação
das famílias.
Segundo os dados dos Censos (BGE), a cidade de Caraúbas entre 1970 e 2010
mostra queda da participação da população rural que cai de 70,7% para 30,0%
(Tabela 01), o que qualifica a velocidade do processo de urbanização no período de
40 anos. Em termos absolutos a população rural passa de quase onze mil (10.991) do
censo de 1970 para aproximadamente seis mil (5.872) pessoas no censo de 2010. Essa
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população rural é distribuído em cerca de 150 comunidades, em sua grande maioria é
criadas ou fortalecidas pelos programas de assentamentos rural.
Tabela 03: População de Caraúbas por gênero e tipo de região entre os censo de 1970 a 2010 Ano População
total Homens Mulheres Urbana Rural
1970 15545 7.630 7915 4554 10991 % do Total 1970 100 49,08 50,92 29,30 70,70 1980 18786 9223 9563 7439 11347 % do Total (1980) 100 49,10 50,90 39,60 60,40 1991 20.248 9.938 10.310 10.676 9.572 % do Total (1991) 100 49,08 50,92 52,73 47,27 2000 18.810 9.295 9.515 12.304 6.506 % do Total (2000) 100 49,42 50,58 65,41 34,59 2010 19.576 9.568 10.008 13.704 5.872 % do Total (2010) 100 48,88 51,12 70 30
Fonte: Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Entre os períodos dos censos de 1970/2010, houve declínio expressivo das
taxas anuais de crescimento populacional rural de Caraúbas, determinado
principalmente pela taxa média geométrica de crescimento anual (%) da população
que o valor de -1,55. Taxa essa, provocada por vaiáveis tais como: falta de emprego;
o poder atrativo das cidades; irregularidades das chuvas, que comprometem a
produção agrícola e pecuária. E a ausência de políticas públicas que propiciem ao
moradores das comunidades rurais o acesso a saúde e educação, que termina por gerar
um desencanto dos jovens com as atividades rurais. E são eles os primeiros a
migrarem para as cidades, ondem acreditam que perspectivas de melhora de vida são
mais reais.
6. CONCLUSÃO
Os dados mostram que a permanência da população rural sofre influencia da
dinâmica econômica no município. Essa economia, gerada principalmente pela
produção agrícola, principalmente. Pois com a queda das suas principais culturas
como: o algodão e a castanha de caju, o evento do êxodo rural persiste em todo o
período do Censitário a partir de 1970.
No que diz respeito a pecuária no município, as criações de animais de grande
e médio porte sofrem o direto impacto das questões climática. Destacando-se a cultura
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de criação de galináceos, que diferente das outras culturas, tem seu crescimento
muito em parte, pela fácil manejo desse animal de pequeno porte e o rápido retorno
financeiro. Mesmo assim, essa cultura não teve impacto significativo como elemento
atrativo para a população na área rural de Caraúbas.
A redistribuição das áreas rurais mostra um forte impacto na dinâmica
populacional pois é através da ocupação da área rural de forma coletiva, a economia
desses povoados permite o fortalecimento da economia local dos municípios. Como
mostra os dados do último Censo agropecuário, existem mil quinhentas e vinte e três
famílias (1.523) na área rural, destas mil e noventa (1090) famílias são consideradas
por condição do produtor em relação às terras como estabelecimento de agricultura
familiar. Estratégia importante para conseguir promover a segurança e a soberania
alimentar de uma população.
As possibilidades de mudanças desse contexto que envolvem a economia e a
sociedade de municípios, como o caso de Caraúbas, ficam mais difíceis quando se
constata o aprofundamento da atual crise política e econômica do país, que rebate nos
estados e municípios que ficam sem recursos para investimento, principalmente
aqueles municípios menores que dependem financeiramente dos repasses pela União
do fundo de participação dos municípios.
7. BIBLIOGRAFIA
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