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ADOÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO
SISTEMA LEAN PRODUCTION EM UMA
EM UMA GRANJA DE AVICULTURA DE
POSTURA
Laiz Eritiemi de Moura Hiraga (UNESP/Tupã)
laizhiraga@hotmail.com
Eduardo Guilherme Satolo (UNESP/Tupã)
eduardo@tupa.unesp.br
Lucas Furlani Zoccal (UNESP/Tupã)
lucaszoccal@gmail.com
Wagner Luiz Lourenzani (UNESP/Tupã)
wagner@tupa.unesp.br
O sistema Lean Production é reconhecidamente um modelo de gestão
que tornou uma referência de eficácia e competitividade quando se
trata do uso de uma abordagem sistêmica focada na eliminação de
desperdícios. Tal fato é comprovado pelas mais diversas e numerosas
publicações oriundas de estudos que retratam sua implantação,
benefícios, dificuldades, avaliação de desempenho e diversos outros
focos. No entanto, estes estudos concentram-se em segmentos como
automotivo e metal mecânico, negligenciando um importante setor da
economia, as agroindústrias. Nesse cenário de incertezas acerca do
atual estágio que se encontram as aplicações do sistema Lean
Production junto ao segmento do agronegócio, este artigo tem como
objetivo avaliar o emprego da filosofia, técnicas e ferramentas do
Sistema Lean Production em uma granja de avicultura de postura. A
partir de um roteiro de pesquisa elaborado a partir dos 14 princípios
para implantação proposto por Lker foi conduzida uma entrevista,
além de visita in loco e observação com o intuito de realizar a
triangulação das informações. Os resultados da pesquisa identificaram
que embora tenha ações voltadas a filosofia Lean, com destaque a
categorias processos e filosofia, a organização necessita maior
formalização de suas ações, principalmente no que compete as
categorias de funcionários e parceiros; e solução de problemas.
Palavras-chave: agroindústria, estudo de caso, produção enxuta
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
O atual cenário de competitividade das organizações faz com que estas busquem e adotem ferramentas que
impulsionem a lucratividade, aliados ao aumento da satisfação de clientes e consumidores e à sustentabilidade do
negócio (ORO et al., 2012). Para este sucesso é imprescindível o estabelecimento de estruturas organizacionais
mais enxutas e flexíveis, vinculadas a uma abordagem sistêmica fortemente associada à redução de custos via
eliminação de perdas.
Nesse contexto, uma das estratégias adotadas pelas organizações é o sistema Lean Production ou Produção
Enxuta. Nesse sistema produtivo, que teve como origem o Sistema Toyota de Produção, foi desenvolvido um
modelo de gestão que se tornou uma referência de eficácia e competitividade.
O sistema Lean Production possui uma filosofia que visa à identificação e a minimização, ou eliminação,
progressiva das fontes de desperdícios, baseado em cinco princípios fundamentais: a definição de (i) valor, a
partir da visão do cliente e de suas necessidades, determina-se a (ii) cadeia de valor, que são as atividades
necessárias para ofertar o produto ao cliente com o menor nível de desperdício. Busca-se então à fabricação do
produto utilizando-se de um (iii) fluxo contínuo, que é disparado apenas quando o cliente efetua o pedido. Ou
seja, usando lógica de (iv) produção puxada. A partir destes quatro princípios e da utilização de melhorias
continuas (kaizen) ou melhorias radicais (kaikaku) é alcançado o quinto princípio fundamental que é a (v)
perfeição do sistema (CALARGE et al., 2012).
Diversas são as investigações referentes à aplicação de técnicas e ferramentas do sistema Lean Production, as
quais são divulgadas em diversos artigos científicos (FELD, 2001; DALLA; MORAIS, 2006; PETTERSEN,
2009; WALTER; TUBINO, 2013; MARODIN; SAURIN, 2012; CALARGE et al, 2012). Analisando os estudos
percebe-se que o segmento do agronegócio, embora apresente grande importância para a economia do país, tem
sido pouco explorado pelos pesquisadores quando se trata de análises vinculadas ao pensamento Lean.
O agronegócio ou agribusiness, segundo Zylberstajn (2013), foi cunhado para designar a conexão indissociável
entre a atividade de produção agrícola e a atividade industrial, seja dos insumos a ela direcionados, seja do
processamento da produção por ela gerada. Este segmento, no ano de 2014, foi responsável por gerar na
economia brasileira uma receita de US$ 98 bilhões em exportações, contribuindo para o superávit da balança
comercial nacional na ordem de US$ 80 bilhões.Vale ressaltar ainda que o agronegócio tem grande importância
na geração de emprego e renda, contribuindo para o desenvolvimento rural e regional.
Em recente levantamento, Hiraga, Zoccal e Satolo (2014) identificaram seis publicações científicas nacionais
que relacionam a aplicação do sistema Lean Production ao segmento do agronegócio. Desses, foi observada que
dois estudos apresentaram características similares ao segmento metal-mecânico, estando focado em empresas
fornecedores de equipamentos, tendo quatro casos que retratam a transformação de produtos agrícolas.
A avicultura brasileira é um dos segmentos mais importantes do agronegócio nacional e internacional. A
produção nacional de ovos vem se destacando nos últimos anos. Em 2012, o segmento ocupou a sétima
colocação em termos mundiais, com uma produção de 34.730 milhões de unidades de ovos (ANUALPEC,
2014).
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O aumento da qualidade dos ovos e o investimento tecnológico no segmento demonstra o desenvolvimento da
avicultura brasileira. De acordo com Santos et al. (2014), em 2012, a exportação desse segmento nacional
alcançou 26,8 mil toneladas, com crescimento de 61,2% em relação a 2011, com uma receita de US$ 42,6
milhões.
Além dos retornos econômicos obtidos, destaca-se, a mudança de paradigma quanto ao consumo de ovos no
Brasil. O consumo per capita anual do brasileiro aumentou entre 2010 e 2013, em média 4,5% ao ano,
representando o consumo de 149 para 170 ovos por habitante (UBA, 2014). No entanto, o consumo é baixo
quando comparado a outros países, por exemplo, o México, com um consumo de 374 ovos per capita ao ano
(UBA, 2010). Entretanto, esse crescimento demonstra uma tendência de elevação para os próximos anos,
especialmente por conta das campanhas em prol do ovo (nutritivo e saudável) e também pela substituição do ovo
na alimentação como alternativa de proteína com melhor custo e beneficio (MENDES, 2014).
Tais dados mostram a importância do segmento de avicultura de postura no Brasil, e o grande potencial existente
para crescimento. Cabe para tanto estudar e avaliar como estão as prática de gestão da produção nesses
ambientes industriais que apresentam características próprias, porém não deixam de enfrentar um mercado
competitivo e acirrado.
Nesse cenário de incertezas acerca do atual estágio que se encontram as aplicações do sistema Lean Production
junto ao segmento do agronegócio, este artigo tem como objetivo avaliar o emprego da filosofia, técnicas e
ferramentas do Sistema Lean Production em uma granja de avicultura de postura.
Para apresentação dos resultados da pesquisa, o artigo encontra-se dividido em cinco seções, a saber: esta
primeira seção, que contextualiza a pesquisa e a lacuna existente. A segunda seção fundamenta teoricamente três
tópicos centrais desta pesquisa relativos ao sistema Lean Production, as características de um sistema de
produção agroindustrial, e o segmento nacional de produção de ovos. A terceira seção apresenta o método de
pesquisa e suas etapas. A quarta seção, relata a condução do estudo de caso. Por fim, o artigo encerra na quinta
seção apresentando as considerações finais e perspectivas de trabalhos futuros.
2. Fundamentação teórica
2.1. O sistema Lean Production
A criação do sistema Lean Production se deu no final da Segunda Guerra Mundial, quando a indústria japonesa
precisou repensar seu modelo produtivo, surgindo então o Sistema Toyota de Produção (STP), que em virtude da
escassez de recursos produtivos, buscava produzir com o menor custo possível, combatendo principalmente os
denominados desperdícios (SINGH; SINGH, 2015).
O termo Lean Production foi definido, no final dos anos 1980, em um projeto de pesquisa do Massachusetts
Institute of Technology (MIT), que estudou a indústria automobilística mundial, tendo como enfoque principal o
modelo japonês da Toyota e o objetivo de mapear as melhores práticas da indústria, por meio de entrevistas com
funcionários, sindicalistas e funcionários do governo (LUCATO et al, 2014).
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Como supracitado, o sistema Lean Production tem como filosofia a identificação e a minimização, ou
eliminação, progressiva das fontes de desperdícios, baseado em cinco princípios fundamentais: valor, cadeia de
valor, fluxo contínuo, produção puxada e melhorias contínuas. Esta minimização ou eliminação dos
desperdícios (muda em japonês) são cruciais para que as empresas aperfeiçoem seus processos e eliminem
tempos e processos que não agregam valor e que são classificados em sete tipos, a saber: excesso de produção ou
superprodução, espera, transporte, movimentação, processamento inapropriado e estoque (VINODH;
SOMANAATHAN; ARVIND, 2013).
Um dos principais trabalhos relacionados à implantação do Sistema Lean Production é o apresentado por Liker
(2007), que, após 20 anos estudando o Modelo Toyota de Produção, identificou 14 princípios de gestão que
impulsionam as técnicas e ferramentas para essa implantação (Quadro 1).
Quadro 1 –Princípios para avaliação da implantação do Sistema Toyota de Produção
Fonte: Liker (2007)
Para Liker (2007), estes princípios podem ser agrupados para melhor compreensão em quatro categorias (Figura
1), a saber: categoria filosofia (princípio 1); categoria processo (princípios 2 a 8); categoria funcionários e
parceiros (princípios 9 a 11); e categoria solução de problemas (princípios de 12 a 14).
Figura 1 - Os princípios do Sistema Toyota de Produção
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Fonte: Liker (2007, p. 28).
Para alcançar os princípios mencionados, a implantação do sistema Lean Production nas empresas pode se dar
pelo emprego de diversas técnicas e ferramentas, que devem ocorrer de forma coordenada e estruturada
(PETTERSEN, 2009; HUNTER, 2004). Estes técnicas e ferramentas auxiliam no processo de minimização e/ou
eliminação dos desperdícios, trazendo resultados para a organização como: redução de lead time, redução de
custos, melhoria da qualidade e aumento de produtividade, tornando-as ágeis e mais competitivas (WALTER;
TUBINO, 2013; SAURIN et al, 2010). Desta forma, as técnicas e ferramentas são indispensáveis na melhoria de
um produto ou processo nos mais diversos tipos organizações (FELD 2001).
2.2. Características do sistema de produção agroindustrial
O sistema de produção agroindustrial, segundo Watanabe e Zylbersztajn (2011), está em constante mudança,
juntamente ao seu conceito. No entanto, independente da diversidade do sistema agro que concentra seu estudo é
usado para analisar as relações entre os diferentes agentes de uma cadeia, a fim de projetar estratégias
empresariais e políticas públicas. O foco desse artigo concentra-se na possibilidade de projeção de estratégias
empresariais.
Batalha e Silva (2008) destacam que grande parte das ferramentas modernas de gestão foram desenvolvidas para
outros setores que não o agroindustrial. Esta pode ser a razão pela qual há dificuldades em se implantar as
técnicas e ferramentas, aliada a uma possível resistência por parte dos estudiosos em adaptar, implantar e
analisar o uso destas em ambientes agroindustriais. A Tabela 2 destaca as especificidades características dos
sistemas de produção agroindustrial, segundo alguns autores da área.
Tabela 2 - Especificidades dos sistemas agroindustriais de produção
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*Devido a restrições de palavras, detalhes sobre as especificidades podem ser consultados nas literaturas citadas.
Os autores deste trabalho acrescentam ainda outra especificidade não destacada na Tabela 2. Trata-se do número
de fornecedores de matéria prima. Toda organização necessita de matéria prima, que serve de input (entrada) no
sistema produtivo e que são transformadas nos processos gerando os bens. Muitos dos segmentos agroindustriais
apresentam um elevado número de fornecedores de matéria-prima, podem-se citar os segmentos de: leite, carne,
sucroenergético, borracha, soja, entre outros. Isto traz um alto grau de dificuldade para gestão e integração destes
fornecedores com a agroindústria.
2.3. Caracterização do sistema de produção de ovos
Os autores deste trabalho acrescentam ainda outra especificidade não destacada na Tabela 2. Trata-se do número
de fornecedores de matéria prima. Toda organização necessita de matéria prima, que serve de input (entrada)
para o sistema produtivo e que são transformadas nos processos gerando os bens. Muitos dos segmentos
agroindustriais apresentam um elevado número de fornecedores de matéria-prima, elevando o grau de
dificuldade para gestão e integração destes fornecedores com a agroindústria.
2.3. Caracterização do sistema de produção de ovos
Conforme destacado na seção de introdução, a avicultura de postura vem assumindo um importante papel no
contexto socioeconômico nacional. Tem sido verificado um aumento do consumo de ovos pela população
brasileira, influenciado possivelmente por ser uma proteína animal de baixo custo (UBA, 2014). Além disso, as
granjas se desenvolveram e se modernizaram ao longo dos anos, por meio da adoção de tecnologia e do
aperfeiçoamento das técnicas para alcançar maior produtividade (KAKIMOTO, 2008). Com isso, manter
harmonizados e melhorar constantemente os aspectos de alimentação, nutrição, sanidade, ambiente e manejo, são
ações necessárias para propiciar a expressão de todo o potencial das poedeiras comerciais (AUGUSTO; KUNZ,
2009).
As grandes empresas produtoras de ovos são integradas verticalmente para trás, dispondo de várias unidades
produtivas, fabrica de ração, criação de galinhas e fábrica de ovos (MARTINS, 1996). A disparidade entre os
pequenos e grandes avicultores são notórias, quando se trata da automatização da produção de ovos (COVRE;
FASSARELA, 2010). Os pequenos avicultores executam atividades, como a coleta dos ovos e distribuição da
ração, manualmente e em galpões rudimentares. Por outro lado, os grandes produtores adotam a adequação
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climática e automação das instalações, possuindo fábricas mecanizadas com classificadoras elétricas, que por
sensor selecionam e embalam os ovos, diminuindo o desperdício e, consequentemente, os custos (DONATO et
al., 2009 ; COVRE; FASSARELA, 2010). Entretanto, indiferente ao porte, as etapas do processo de produção de
ovos (Erro! Autoreferência de indicador não válida.) são semelhantes em qualquer indústria de
ovos, divergindo em alguns aspectos como, por exemplo, o nível da implementação de tecnologia e
automatização.
Figura 2 - Fluxograma do sistema de produção de ovos
Fonte: Adaptado de EMBRAPA(2004)
3. Método de pesquisa
O presente trabalho examina acontecimentos contemporâneos em um contexto real e recente, cujos
comportamentos relevantes não podem ser manipulados e, até o presente momento, não se apresentam
claramente definidos na literatura. Além disso, há mais variáveis de interesse a serem pesquisados do que dados
a serem coletados, caracterizando desta maneira como um estudo de caso (YIN, 2010; MIGUEL, 2011).
Considerando o propósito da pesquisa, o presente trabalho tem a característica de um estudo de caso como
construção de teoria (VOSS et al, 2002). Tipicamente, este tipo de pesquisa esta baseada na aplicação de
questionários a fim de realizar a triangulação, ou seja, uso e combinação de diferentes métodos para estudar o
mesmo fenômeno. A fim de validar o processo de triangulação empregou-se também a visita in loco, a
observação e a análise de documentos (VOSS et al, 2002; MIGUEL, 2011). A condução do estudo de caso
baseou nas etapas propostas por Miguel (2011) descritas na Figura 3.
Figura 3 - Etapas para condução do estudo de caso (MIGUEL, 2011)
Fonte: Adaptado de Miguel (2011)
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A seleção do caso foi restrita a granjas localizadas no interior do estado de São Paulo, que representa 26,5% da
produção nacional de ovos. Em especial, ao município de Bastos que se destaca no cenário nacional e estadual,
representando, respectivamente, 8% e 30% da produção de ovos (Tabela 1). Considerada a “capital nacional do
ovo”, Bastos teve no ano de 2013 um crescimento de produção entre 10% e 13%, produzindo cerca de 190 ovos
por segundo, vantagem esta gerada principalmente pela automação dos aviários e a modernização de suas salas
de processamento de ovos, refletindo em maior produtividade e qualidade dos ovos (AVISITE, 2014).
Tabela 1 - Brasil, estado de São Paulo e município de Bastos: produção de ovos de galinhas comerciais, 2010 a
2013 (Mil
dúzias)
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados extraídos do site do IBGE (2015).
4. Resultados
Fundada há mais de 50 anos e, atualmente, sobre o controle da segunda geração da família, a Unidade de
Pesquisa é uma tradicional produtora de ovos da cidade de Bastos. É reconhecida pela qualidade dos ovos
produzidos, tendo recebido premiações em diversas edições do Concurso de Qualidade de Ovos.
Entre seus valores, destacam-se: investir em qualidade, tecnologia, sanidade e nutrição das aves e automatização
dos processos. Conta atualmente com um milhão de aves poedeiras que produzem aproximadamente 600 mil
ovos por dia, correspondendo a 7,6% da produção de Bastos. Para gerir todos os processos, a Unidade de
Pesquisa tem aproximadamente 35 colaboradores (pequeno porte).
A entrevista (com duração de 1h45) foi conduzida junto ao gerente industrial, responsável pela gestão produtiva
da empresa (cria de pintinhos, agrícola e industrial), além da realização de observação in loco e documental, que
permitiram a triangulação dos dados.
A Figura 4 retrata a percepção do nível de aplicação do princípio Lean, segundo Liker (2007), por meio do
conjunto de informações referente à entrevista, observações e análise documental .
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Figura 4 – Nível de percepção da aplicação dos princípios Lean, conforme abordagem de Liker (2007).
Esta percepção do nível de aplicação dos princípios do sistema Lean Production podem ser justificadas por
meio das ações realizadas e pelas limitações apresentadas pela Unidade de Pesquisa, descritos no
Quadro 1.
Quadro 1 – Justificativas quanto as percepções do nível de aplicação dos princípios do sistema Lean Production
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Com relação às especificidades do sistema agroindustrial de produção, citados por Batalha e Silva (2008), para o
sistema de postura de ovos em análise, esse sofre importantes influências em alguns itens descritos no Quadro 2.
Quadro 2 - Influência das especificidades sobre sistema de produção agroindustrial de postura de ovos
5. Conclusões
Esse estudo de caso tem como objetivo descrever como os princípios do sistema Lean Production estão sendo
aplicados em um sistema agroindustrial de produção de postura de ovos, e que permitiu, de modo inicial,
vislumbrar algumas importantes considerações acerca do tema.
Com relação aos princípios do sistema Lean Production descritos por Liker e utilizados para avaliar a Unidade
de Pesquisa, verifica-se que na categoria filosofia (compreende o princípio 1), a Unidade de Pesquisa possui boas
iniciativas, porém há carência na formalização do pensamento a longo prazo, sendo um limitante, pois as
decisões são baseadas por necessidade do que estratégia.
No que refere-se a categoria processos, um grande número de ações são realizadas e evidenciadas pelos bons
índices obtidos nos princípios 2, 3, 4, 6 e 8. Porém nota-se que ainda há margem de melhoria, principalmente nos
princípios 5 e 7, onde atualmente não há ações sendo realizadas pela Unidade de Pesquisa.
Na categoria funcionários e parceiros, percebe-se um nível satisfatório de integração com fornecedores e o
desenvolvimento de liderança (principio 11). Porém, no que tange a criação de líderes que assimilam e se
inspiram na filosofia lean, não foram identificados ações neste sentido (principio 9).
Por fim, na categoria solução de problemas, nota-se que esta é realizada de modo informal e pelo responsável
pelo setor. A organização iniciou ações para tornar o processo de melhoria continua um hábito na organização.
Com relação ao uso de técnicas e ferramentas do sistema Lean Production, a Unidade de Pesquisa emprega um
conjunto de seis, sendo que quatro ferramentas (dimensionamento do lote, poka yoke, sistema puxado de
produção, autonomação/jidoka) estão voltadas para o processo. Tal fato evidencia o bom desempenho nessa
categoria pela Unidade de Pesquisa. As outras duas ferramentas são: integração de fornecedores e empowerment.
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Verificam-se também que os aspectos relativos às especificidades dos sistemas de produção agroindustrial
afetam também a organização, tais como: sazonalidade de matéria prima, sazonalidade de consumo,
perecibilidade do produto final, qualidade e vigilância sanitária, aspectos sociológicos dos alimentos e
condicionantes biológicos e edafoclimaticos dos alimentos.
Por fim, destaca-se que a Unidade de Pesquisa, embora já realize ações não formalizadas que impactam na
minimização e eliminação de perdas em seus mais diversos aspectos produtivos, ainda possui uma ampla
margem de melhoria que podem ser obtidas por meio da filosofia Lean. Para tanto, a organização pode realizar
uma formalização do sistema Lean Production, e utilizar das diversas técnicas e ferramentas difundidas na
literatura para melhorar os princípios de Liker e melhor gerir os impactos trazidos pelas especificidades dos
sistemas de produção agroindustrial que atuam sobre a Unidade de Pesquisa.
Agradecimentos
As bolsas de pesquisa concedidas: Processo no. 2013/21047-5, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP), Processo no. 2014/04329-0, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP), e PROPe - Pró Reitoria de Pesquisa - UNESP.
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