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Est am os ap agando nossa r el ev ânc i a?
George R. Knight
Tradução
Davidson Deana e Karina Carnassale Deana
Casa Publicadora Brasileira
Leitura Adventista
L it Ad ti t
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Título original em inglês:T h e A p o c a l y p t i c V i s i o n a n d t h e N e u t e r i n g o f A d v e n t i s m
Copyright © da edição em inglês: Review and Herald, Hagerstown, EUA.Direitos internacionais reservados.
Direitos de tradução e publicação em
língua portuguesa reservados à C a s a P u b l i c a d o r a B r a s i l e i r a
Rodovia SP 127 —km 106Caixa Postal 34 - 18270-000 - Tatuí, SP
Tel.: (15) 3205 -88 00 - Fax: (15) 3205 -8900Atendimento ao cliente: (15) 3205-8888www.cpb.com.br
Ia edição
3“ impressão —4 mil exemplares
Tiragem acumulada: 40,5 milheiros
2010
Editoração:Marcos De Benedicto e Ozeas C. MouraProjeto Gráfico: Levi Grub er Capa: A daptação da capa original criada por Trent Trum anFoto da Capa: Jupterimag es
IMPRESSO N O BRASIL / Printed in Brazil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Knight, George R.A visão apocalíptica e a neutralização do
adventismo : estamos apagando nossa relevância? /George R. Knight ; tradução Davidson Deana eKarina Carnassale Deana. —Tatuí, SP : CasaPublicadora Brasileira, 2010 .
Título original: The apocalyptic vision and theneutering of adventism.
1. Adventistas do Sétimo Dia —Doutrinas2 . Bíblia —Profecias 3 . Cristianismo —PrevisãoI. Título.
10-01049 ___________________________________________________________________ c d d - 286.732
índices para catálogo sistemático:1. Adventistas do Sétimo Dia : Doutrinas 286.732
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial,
por qualquer meio, sem prévia autorização escritado autor e da Editora.
Tipologia: Fairfield LT Std Light, 10,8/13,8 - 11767/2 3220 - ISBN 978-8 5-34 5-128 2-4
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Sumário
Nota A Palavra “Neutralização” ................................................... 6
Capítulo 1 O Cord eiro e o Leão ............................................................... 7
A pregação apocalípt i ca da besta e a i nt rodução àneut ral i zação
Capítulo 2 A Visão Apocalíptica .............................................................29Revendo a profecia apocalípt ica e a hi stóri a advent ista
capítulo 3 A R elev ân cia do Adv entism o .............................................. 53Mas não se esqueça das bestas (incl usi ve as modernas) e meu probl ema com a visão apocalípt ica
Capítulo 4 Cenário de Crise .................................................................... 82
Oengano do pensament o di reto e a profecia mais notável
capítulo 5 Expectativa Equilibrada ......................................................92Vi vendo a visão apocalípt i ca no século 21
Capítulo 6 A Esperança do Mundo ..................................................105Um rel ance da vi são neoapocalípt i ca e um prefácio tardio
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A Palavra “Neutralização”
“Esterilizar”, ou “castrar”, não é uma palavra boa. Tampouco o proces-so é agradável, seja física ou espiritualmente. Alguns odiarão a metáfo-
ra, outros a amarão. Mas ninguém a esquecerá. Assim, terei alcançado a
primeira parte de meu objetivo ao escrever esta pequena obra.
Em português, os editores optaram por utilizar a palavra “neutraliza-
ção” na capa e a palavra “esterilização” ao longo do livro. Mas o sentido
pretendido é o mesmo.
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Capítulo 1
O Cordeiro e o Leão
___________ A pregação apocalíptica da besta
e a introdução à neutralização
Por que ser adventista?
Boa pergunta. Tenho lutaclo com essa questão há cinco décadas.Para alguns, a resposta é simples. Não há nada o que fazer. Nasce-
ram assim.
Para outros, tratase de um vício. Por uma razão ou outra, “sentemse
bem” como adventistas. Não saberiam o que fazer se fossem outra coisa.
Mas, para mim, esse é um problema sério. Não nasci num lar ad-
ventista e, mesmo depois de 47 anos na igreja, ainda não estou viciado.
Deve haver boas razões para eu ser adventista ou mesmo perma-necer um.
Refletindo Sobre o Significado do Adventismo
A origem de meu ponto de vista encontrase em minha iníãncia. Além
dc não ter nascido adventista, nem mesmo professei o cristianismo em
meus primeiros 19 anos de vida.
O conceito de religião que eu tinha na época provinha de meu pai,que costumava dizer que "todos os cristãos são hipócritas” e que parti-
lhava do pensamento de Freud de que apenas os fracos precisam se ape-
gar a Deus como a um pai. No início de minha vida adulta, meu pai con
fessoume que seu maior fracasso na vida foi não poder ter impedido que
todos os quatro filhos se tornassem cristãos. Seu coração amoleceu com a
idade, mas seu antigo ponto de vista moldou o meu em relação à religião.
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g A VISÃO APOCALÍPTICA
Abandonei o agnosticismo durante uma série de reuniões evange
lísticas em Eureka, Califórnia, em 1961. Pouco antes de completar
20 anos de idade, fui batizado na Igreja Adventista do Sétimo Dia. As-sim como muitos novos conversos, observei atentamente os adventistas
c os pastores. Logo cheguei a uma firme conclusão: Q ue bagunça! N e-
nhum era perfeito, e eu sabia o motivo. Obviamente não tinham se es-
forçado o suficiente.
Ainda me lembro como se fosse hoje de ter prometido a Deus que se-
ria o primeiro cristão perfeito desde que Jesus veio ao mundo. Sem pro-
blema, pensei. Afinal, eu tinha energia de sobra c muita determinação.Nunca senti a menor dificuldade em scr mau. Ser bom não seria igual-
mente fácil, apenas seguindo a direção contrária?
Não aconteceu como eu imaginava. Em 1969, eu possuía três diplo-
mas acadêmicos em teologia adventista e trabalhava na igreja como pas-
tor, mas as coisas não estavam indo bem. Na verdade, após quase oito
anos de luta, eu estava completamente perdido, assim como as igrejas
que eu pastoreava.Numa manhã do mês de março, coloquei minha credencial num en-
velope juntamente com uma mensagem para o presidente da associação
pedindo demissão do ministério.
O presidente da associação era um homem bondoso que desejava me
“separar para o trabalho”. Assim, devolveu minha credencial com uma
mensagem de ânimo. Pensou que eu tivesse tido um dia ruim, mas, na
verdade, eu estava tendo uma vida ruim! Tudo o que eu queria estava
fora fora do adventismo e do cristianismo. Meu único desejo era vol-
tar ao hedonismo que aproveitara durante minha juventude. Coloquei
novamente minha credencial num envelope e a enviei pela segunda vez.
A essa altura, o bondoso presidente me convidou para fazerlhe uma
visita em seu lar, a fim de que pudesse orar comigo e por mim, e devol-
ver minha credencial. Mas seus esforços foram em vão. Voltei para casa,
escrevi uma carta com uma boa descrição do que ele poderia fazer com
minha credencial e enviei aquela confusão toda pela terceira vez.
Esse foi meu primeiro sucesso literário. Nunca mais vi minha cre-
dencial. Daquele momento em diante, fiquei seis anos sem ler a Bíblia,
seis anos sem orar, seis anos vagueando espiritualmente "numa terra
longínqua” (Lc 15:13).
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O CORDEIRO E O LEÃO
Durante esses longos anos, estudei filosofia em meu doutorado. Mas,
na ocasião em que recebi o diploma, eu já havia chegado à conclusão de
que a filosofia falhava em responder às questões mais básicas da vida.Esse processo foi muito importante, pois iniciei meus estudos com a es-
perança dc encontrar o “real sentido” da vida que tinha sido frustrada em
minha experiência com o adventismo.
Nesse período, meu orientador, um agnóstico existencialista de as-
cendência judaica, disseme que, sc não fosse judeu, não seria ninguém.
Essa declaração, vinda de um homem que rotineiramente espezinhava a
religião em sala de aula, apanhoume de surpresa. Como assim? perguntei.
A resposta de Josh foi tão afiada quanto ines-
quecível. Ainda me lembro de seu entusiasmo
ao proclamar que fora o judaísmo que dera sen-
tido à sua vida. Ele não era apenas um entre mi-
lhões de indivíduos por aí, mas um membro da
comunidade. Na verdade, a comunidade, além
de oferecer orientação para sua vida, o enviava
ao mundo inteiro como palestrante.
Enquanto ele falava, eu o fitava perplexo,
pensando comigo que Josh não era judeu, mas
adventista. (Claro, num contexto diferente, eu
poderia ter substituído a palavra adventista porbatista, metodista ou católico.)
Josh me ajudou a enxergar o que eu deveria ter descoberto em Mateus
13 a respeito do joio e do trigo existentes em cada comunidade religiosa até
o dia da colheita (versos 30, 49). Ele me ajudou a entender que todas as co-
munidades religiosas são formadas por duas classes de membros: os fiéis
e os adeptos culturais. No caso de Josh, a coisa mais importante a respei-
to de sua orientação religiosa era que ele nascera daquela maneira e foracriado na comunidade. Sua orientação religiosa era sua vida, mesmo não
sendo um “fiel '. Tratavase de sua história, sua cultura, seu convívio social.
Josh amava e respeitava sua comunidade religiosa por todas essas razões.
Anos mais tarde, ao refletir sobre minha conversa com Josh, percebi
que, se eu tivesse nascido num lar adventista, meu pai fosse pastor, mi-
nha mãe fosse professora da Escola Sabatina e meu avô fosse o presidente
Ha cert o nwel
de confor t o e
segurança em
‘bri ncar de
igreja\
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1 0 A VISÃO APOCALÍPTICA
da associação, a coisa mais difícil e radical que eu poderia fazer seria aban-
donar a igreja cjue até então havia proporcionado sentido social para minha
vida. Seria mais fácil permanecer do que sair, mesmo que não partilhas-se de suas crenças. Na verdade, em tais circunstâncias, seria preferível
me tornar um pastor, administrador ou professor de religião a cortar os
laços culturais e familiares. Afinal, não precisaria crer no que pregava.
Há certo nível de conforto e segurança em “brincar dc igreja”. Finalmen-
te, pude entender como Josh havia chegado àquele ponto, mesmo tendo
sofrido por experiência própria o desligamento do trabalho, dos amigos e
da família ao aceitar o adventismo.Na mesma época em que Josh me ajudou a perceber a diferença entre
adeptos culturais e fiéis, algo terrível aconteceu comigo, algo que jamais de-
sejei que acontecesse. Meu primeiro professor de religião foi “convidado” para
almoçar em minha casa. A ideia não foi minha, mas não tive como escapar.
Aquele foi um dia muito longo, pois percebi que ele estava ciente de
minha condição espiritual. Ele, no entanto, não me deu sermão, nem
conselhos, nem advertências. Simplesmente revelou uma atmosfera deserena confiança cm sua fé e me tratou com bondade e amor. Naquele
dia, encontrei Jesus na pessoa de Robert W. Olson. Assim que foi embo-
ra, fiilei para minha esposa que aquele homem tinha o que eu precisava.
Naquele dia, catorze anos depois de ingressar na Igreja Adventis-
ta, torneime cristão. Em outras palavras, meu adventismo foi batizado.
A partir daquele momento, passei a ser espiritualmente ativo no adventis-
mo novamente. Não voltei porque a teologia adventista era perfeita, masporque sua teologia era mais próxima da Bíblia do que a de qualquer ou-
tra igreja que eu conhecia. Em resumo, fui e sou adventista por convic-
ção e não por escolha.
A história de minha jornada em busca do sentido da vida talvez ajude
os leitores a entender a razão de eu ter sido capaz, no passado, de pregar
um sermão intitulado “Por que Não Gosto dos Adventistas”. Realmente
não gosto, mas finalmente parei de pregálo porque soava um pouco ne-
gativo. Sem dúvida, não vejo nenhum problema se forem cristãos e ad-
ventistas. Mas, se forem apenas adventistas, sem condições. Certa vez,
conheci um adventista do sétimo dia que era mais malvado do que o pró-
prio diabo. Na verdade, certa vez conheci um vegetariano que era mais
vicioso do que o diabo. Para ter qualquer valor, nosso adventismo deve
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O CORDEIRO E O LEÃO
estar imerso no cristianismo. Sem essa imersão, o adventismo não é me-
lhor do que qualquer outro “ismo” ilusório.
Pouco tempo atrás, observei um adesivo colocado no parachoquetraseiro de um automóvel que ia direto ao ponto. “JESUS, SALVEME”,
dizia a frase em letras maiúsculas. "De seu povo”, concluía o pensamento
em letras minúsculas. Achei que essa era uma boa frase para intitular de
forma significativa uma obra literária sobre o tema. O filósofo ateu Friedrich
Nietzsche também proclamou a grande verdade de meus primeiros anos:
“O melhor argumento contra o cristianismo são os cristãos.” Em todos os
muitos casos, o mesmo demonstra ser verdade em relação ao adventismo.
Bem, como você pode perceber, minha mente vagueia em direções es-
tranhas. Mas a conclusão de minha jornada deixoume com três perguntas
inevitáveis que têm conduzido minha vida existencial e intelectualmente:
• Qual é o sentido da vida pessoal e no contexto do Universo?
• Por que ser cristão?
• Por que ser adventista do sétimo dia?Devo admitir que não me sinto feliz com a maioria das respostas dadas
pelas pessoas (incluindo a maioria dos adventistas) a essas perguntas es-
senciais. Mas está na hora dc sair da biografia e partir para questões mais
importantes.
Adventista ou Meramente Evangélico?
No início de 2007, apresentei um estudo intitulado "The MissiologicalRoots of Adventist Higher Education and the Ongoing Tension Between
Adventist iVIission and Academic Vision” [As Raízes Missiológicas da Edu-
cação Superior Adventista e a Tensão Progressiva entre a Missão Adventista
e a Visão Acadêmica]1a um grupo de líderes educacionais e administrado-
res adventistas que presidiam as comissões das instituições em que traba-
lhavam. O conteúdo de minha apresentação estava relacionado à tensão e
ao equilíbrio necessários e progressivos entre aquilo que os acadêmicos de-sejam encontrar na educação superior e os objetivos missiológicos da de-
nominação. O estudo também abordou o equilíbrio entre as preocupações
do mundo cristão em geral e do adventismo especificamente.
Na sessão de perguntas e respostas que se seguiu, afirmei que, se o
adventismo perder sua visão apocalíptica, perderá a razão de sua existên-
cia como igreja e como sistema educacional.
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12 A VISÃO APOCALÍPTICA
Em resposta, um administrador declarou, de forma bastante agressiva,
que, na verdade, precisávamos nos livrar da visão apocalíptica e pregar
apenas o evangelho. Tentei mostrar que, corretamente compreendida, avisão apocalíptica é o evangelho. Mas ele tinha suas próprias ideias sobre
o assunto. Um pouco exaltado, observou que a instituição que ele admi-
nistrava estava crescendo rapidamente pela ênfase no evangelho sem a
visão apocalíptica. Aparentemente, via pouca ligação entre os dois.
Ao olhar para trás, fico pensando se esse indivíduo foi vítima do que
denominarei dc “pregação apocalíptica da besta” ou se sofreu uma expo-
sição exagerada a um conflito nauseante entre adventistas sobre minúciasapocalípticas. No entanto, era um administrador prático e bemsucedido,
cuja instituição não tradicional, formada em sua maioria por alunos não
adventistas, crescia rapidamente, apesar da falta de ênfase adventista.
No dia seguinte, durante uma discussão não relacionada ao assunto,
alguém observou que cada vez mais pais adventistas abastados e altamente
instruídos enviam os filhos para estudar em instituições não adventistas.
Todos os presentes concordaram com esse fato. Os motivos que levam ospais a tomar tal decisão e o que pode ser feito a esse respeito tornaram
se os temas principais da discussão a partir de então.
Creio que não foi explicitamente dito na ocasião, mas parte da respos-
ta é óbvia. Se as instituições adventistas são cristãs apenas no sentido de
que apresentam Cristo e a pregação do mundo evangélico, então qualquer
boa instituição evangélica poderá cumprir esse papel. Diante disso, ex-
cluímos qualquer razão convincente para a existência de instituições edu-cacionais adventistas. Apesar de serem boas instituições, ninguém pode
afirmar que sejam necessárias. 1lá diferença entre ser uma boa escola e
ter uma importância que a distingue como instituição.
Alguns dias após o encontro, recebi uma carta interessante de um dos
participantes, que escreveu:
Compreendo muito bem a razão do ponto de vista do [Dr. X], poiscresceu na era do pavor do “tempo do fim”, das interpretações legalis-
tas a respeito de como alcançar uma vida isenta de pecado (que meu
pai e muitos outros fiéis criam ser necessária para que pudessem “sub-
sistir sem um Mediador” durante o tempo de angústia) e de presenciar
o desespero dos mais antigos de que nunca seriam "bons o suficiente
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O CORDEIRO E O LEÃO 3 3
para conquistar 0 amor dc Deus” [...], cm contraste com uma filosofia
mais centrada em Cristo. Tratase, porém, de uma mudança muito ra-
dical de direção desprezar nossa herança e crença em eventos escatológicos/finais, juntamente com as implicações de nossa posição histó-
rica sobre [...] as profecias, e focar apenas na semelhança com Cristo.
Se assim for, qual será a razão de nossa existência como denominação
e de manter um sistema educacional? Concordo que ainda temos o sá-
bado e a doutrina sobre o estado dos mortos [...], mas, se encontrarmos
um grupo de guardadores do sábado [...], poderemos nos unir a eles (ba-
tistas do sétimo dia, algum outro grupo?) e nos sentir perfeitamente emcasa. [...] Obviamente, teremos que minimizar a importância dos tex-
tos que descrevem Ellen White como “inspirada”, pois muitos de seus
escritos tratam dos eventos finais. Mas esse problema pode ser solucio-
nado ao transformála numa “autora devocional ’!
Mas por que o [Dr. X] encara a busca da semelhança com Cristo e a
crença nas visões escatológicas tradicionais como mutuamente exclusivas?
Toda essa argumentação encontrase absolutamente no cerne da de-
finição de quem somos e para onde vamos. Por isso, merece ser apre-
sentada de forma clara e justa, de modo que estimule 0 raciocínio e a
discussão no contexto da missão adventista.
Esses pensamentos levantam as seguintes perguntas: Qual é a razão
da existência da Igreja Adventista do Sétimo Dia? Qual é sua função ouutilidade? E ela importante ou mesmo necessária? Será meramente mais
outra denominação, apenas um pouco diferente das demais por “não abrir
mão” do sétimo dia e de certas questões ligadas à dieta alimentar?
Essas perguntas trazem à tona temas complexos relacionados à natu-
reza do adventismo e ao equilíbrio adequado entre esses aspectos e o sis-
tema de crenças que nos torna cristãos, aquele que nos torna adventistas
e como tudo isso se encaixa. Os mais estudiosos mal podem evitar essesassuntos. Na verdade, devem estar no centro da discussão.
Como procurei demonstrar no livro Em Busca de Ident i dade, a luta
por um adventismo equilibrado esteve no centro do desenvolvimento his-
tórico da teologia adventista.2 Ao longo do tempo, temos oscilado entre
enfatizar com exagero os aspectos de nosso sistema de crenças que nos
tornam iguais a Cristo e aqueles que nos distinguem como adventistas.
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14 A VISÃO APOCALÍPTICA
Temos hoje na igreja o que chamo de adventistas adventistas, aqueles que
encaram tudo o que a denominação ensina como algo unicamente adven-
tista e ficam irritados quando somos chamados de evangélicos. No outroextremo estão os adventistas que podemos chamar de cristãos cristãos.
As pessoas nesse polo da denominação ficam felizes em ser consideradas
evangélicas e esquivamse dc Ellen White, das implicações escatológicas
do sábado, do santuário celestial, e assim por diante. No centro, feliz-
mente, estão aqueles que podemos designar como adventistas cristãos,
cujo adventismo encontra significado na estrutura evangélica que parti-
lhamos com outros cristãos.Em outras palavras, houve um tempo em que Ellen White observou
que alguns adventistas estavam tão centrados na lei que haviam se tor-
nado áridos como os montes de Gilboa. Hoje talvez ela dissesse algo se-
melhante sobre aqueles que estão tão focados na graça que perdem de
vista a lei. Equilíbrio é o objetivo, mas evidentemente isso é algo difícil
de ser atingido e quase impossível de ser mantido em um mundo dese-
quilibrado. Isso não quer dizer, porém, que não devemos procurar apro-ximar esses dois extremos em nosso ministério.
O Jesus Problemático
Antes de prosseguir, eu gostaria de apontar a verdade óbvia de que
Jesus dc Nazaré não foi politicamente correto em Suas declarações. Além
de afirmar que existia uma verdade e que Ele tinha a verdade, declarou
também que Ele era a verdade, o caminho e a vida e que ninguém pode-ria ir ao Pai senão por Ele (Jo 14:6).
Jesu s defendeu algo. Mais do que isso, acreditava na existência do
erro, ou seja, que algumas pessoas e ideias estavam simplesmente erradas.
Como alguém que aberta e rigorosamente defendia uma posição, Jesus
não Se encaixaria muito bem na cultura do século 21 (incluindo muitas
de nossas igrejas). Chamar pessoas, especialmente líderes religiosos e in-
telectuais respeitados, de hipócritas e de sepulcros caiados repletos de
ossos certamente não é nada aceitável hoje em dia.
No entanto, fazer declarações problemáticas não foi a única dificul-
dade de Jesus. Ele também sofreu do que podemos chamar de “arro-
gância santificada”. Cria tanto em Si mesmo e em Sua mensagem po-
liticamente incorreta que comissionou doze homens relativamente não
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O CORDEIRO E O LEÃO
instruídos a disseminála ao mundo inteiro. Essa ordem abala qualquer
imaginação. Quem Ele achava que era? E quem os doze achavam que
eram? M as el es consegui ram!
Sem dúvida, ninguém faz esse tipo de coisa se não estiver plenamen-
te convicto. Ninguém entrega a vida e os bens materiais sem estar cert o
de que possui a verdade. Se jesus tivesse sido politicamente correto e não pos-
suísse arrogância santificada, o cristianismo teria durado alguns anos como
uma seita judaica local e logo se reintegrado às crenças do Oriente Próximo.
Em seus primeiros anos, o adventismo sofreu prof undamente dos mes-
mos “defeitos culturais” de Jesus. Cria que possuía a verdade ou a verdadepresente para a época. Apesar dos poucos adeptos, passou a acreditar que ti-
nha uma missão que englobava o mundo inteiro.
Logo no início do século 20, as principais de-
nominações protestantes, ao perceberem a imen-
sidão do campo missionário, decidiram dividir
certas áreas do mundo entre os anglicanos, meto-
distas, presbiterianos, e assim por diante. Mas os
adventistas não quiseram fazer parte dessa abor-
dagem, por mais sensata que pudesse parecer. Re-
jeitaram a lógica e reivindicaram o mundo inteiro
como sua esfera de ação e influência. Apesar de
poucos, tinham ideias ousadas. Por quê? Porque
eram impulsionados por uma visão apocalípticaque provinha diretamente do centro do livro de
Apocalipse e acreditavam que o mundo inteiro precisava conhecêla. Os ad-
ventistas comunicaram às outras denominações que não poderiam dividir
o trabalho, mas que enxergavam cada nação como seu campo missionário.
Isso é que é arrogância santificada! E el es consegui ram. Através da de-
dicação de muitas pessoas e com muito sacrifício, o adventismo tornouse
o grupo protestante unificado mais amplamente disseminado da históriado cristianismo. Esse sucesso foi alcançado devido à força e ao apoio que
recebeu de compreensões politicamente incorretas a respeito da verdade
e da arrogância santificada que refletiu na deficiência de outros ramos
do cristianismo e na importância da mensagem divina do tempo do fim.
Penso nos sacrifícios da família de minha esposa. Os irmãos Bond
dedicaram a vida para estabelecer o adventismo na Espanha. Um deles
Jesu s não foi
polit icamente
cor ret o em Suas
declarações.
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1 6 A VISÃO APOCALÍPTICA
faleceu naquele país, vítima de envenenamento. O avô de minha esposa
foi muitas vezes apedrejado c forçado a mudarse de uma vila para outra.
Ele também morreu prematuramente. Por quê? Por que foram para lá?Por que dedicaram a vida e tudo que tinham?
Numa escala mais ampla, por que qualquer um de nós deveria arriscar
a vida por uma causa? Por que dedicar a vida a ela? Por que os primeiros
adventistas sacrificaram seus recursos e a família para cumprir uma mis-
são? Unicamente devido à profunda convicção de que tinham uma men-
sagem provinda diretamente do centro do livro dc Apocalipse e que o
mundo inteiro precisava ouvila antes de Jesus voltar nas nuvens do céu.
Introdução à Esterilização
A “boa notícia” é que o adventismo no início do século 21, especial-
mente nos países desenvolvidos, afastouse completamente de tais ideias
“primitivas” e não sofisticadas. “Alcançamos a vitória” ao superar a ideia
de defender vigorosamente a visão tradicional da denominação. Ricos e
munidos de concepções politicamente corretas, perdemos a arrogânciasantificada que no passado nos levou a crer que possuíamos uma mensa-
gem que o mundo inteiro t inha que ouvir.
Os resultados? Redução da Divisão NorteAmericana (e de outros seto-
res da igreja em países desenvolvidos) em quatro grupos principais: brancos,
negros, asiáticos e hispânicos. Apesar do número geral de membros estar
crescendo, esse aumento devese à imigração. O fato é que tanto a asso-
ciação dos “brancos" quanto a associação “local” da cidade de Nova Yorksão quase totalmente formadas por pessoas de ascendência caribenha. Te-
mos fracassado muito em alcançar brancos e negros nativos desse grande
centro urbano e na maioria das outras nações desenvolvidas. Na GrãBre-
tanha e em grande parte da Europa, a igreja enfrenta a mesma situação.
Parte do problema é que o adventismo perdeu, em grande escala, a
base apocalíptica de sua mensagem. Há alguns anos, participei de um
simpósio de acadêmicos adventistas que se reuniram para apresentar asrazões que os levaram a se tornarem adventistas. Tratavase de um gru-
po de representantes de todo o espectro teológico e todos se mostraram
muito sinceros quanto à sua crença. Porém, em minha opinião, seu teste-
munho estava longe do alvo. As razões de sua crença estavam amplamen-
te centradas em questões culturais e de relacionamento, como também
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O CORDEIRO E O LEÃO
na maneira com que foram educados desde a infância dentro da comu-
nidade. Eram relatos emocionantes.
Tudo bem para os de dentro, pensei, mas, para alguém de fora do clu-be da comunidade dos “nascidos em berço adventista”, não vi absoluta-
mente nenhuma razão para me tornar adventista com base no que ouvi
ali. Poderia encontrar tudo aquilo em qualquer outro lugar e talvez me-
lhor e mais barato. Alinal, um décimo dc meu dinheiro e um sétimo de
meu tempo são cobranças bem rígidas!
Pessoalmente, não vi nada de grande importância que me levaria a me
tornar adventista seja não fosse um e certamente nada pelo qual morre-ria ou ofereceria a vida em serviço sacrifical. Decidi, no entanto, ser po-
liticamente correto. Mantive a boca lechada e deixei que apreciassem os
relatos emocionantes —ou o que, em minha concepção, eram relatos re-
lativamente insignificantes em termos da importância do adventismo.
Enquanto isso, comecei a me perguntar por que eu, pessoalmente, de-
veria ser adventista. Se o adv ent i smo éapenas i sso, lembrome de ter pen-
sado, então não há uma hoa razão para ser advent i sta, a menos que a pes-
soa nasça dessa forma ou est ej a tão necessi t ada de rel aci onament o soci al e
i dent i fi cação cul t ural que não t enha al t ernat i va sat i sfatóri a.
Ampliando ainda mais, no momento em que a igreja se torna politi-
camente correta cm todas as suas reivindicações e perde a quantidade
adequada de arrogância santificada em relação à sua mensagem e mis-
são, tornase estéril, mesmo que continue a vangloriarse de sua potência.Você entende o conceito de esterilização, popularmente conhecida
como castração? Devo admitir que sou um pouco ignorante quanto aos
detalhes desse processo. Não sou estéril nem realizo tal procedimento,
mas acho que tenho uma ideia geral.
A esterilização, incluindo a autoesterilização, tem uma longa história
no mundo bíblico e, se quiser saber, até mesmo no adventismo. Daniel,
por exemplo, provavelmente tenha passado por esse procedimento. Potifar, oficial da corte de faraó, quem sabe também tenha feito parte dessa
categoria, o que pode ajudar a explicar o motivo da atitude de sua esposa.
Jesus observou: "Porque há eunucos de nascença; há outros a quem
os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunu-
cos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita”
(Mt 19:12). Orígenes, famoso teólogo do 3° século, leu essa passagem bíblica
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18 A VISÃO APOCALÍPTICA
e não perdeu tempo em procurar uma faca afiada. Ele se autocastrou por
causa do reino de Deus. Na categoria “feitos eunucos por outros homens”
encontramse muitos meninos cantores da Idade Media. Aparentemente,o procedimento mantinha mais aguda a voz dos meninos. Toda vez que
leio esses relatos, agradeço por viver no século 21 e não ser bom cantor!
A boa notícia é que os adventistas do sétimo dia também providencia-
ram o próprio candidato para o hall da fama da esterilização. Walter Harper,
colportor, livrouse de certas tentações por meio desse procedimento, mas
depois acabou se casando duas vezes, sem omitir o problema às futuras es-
posas. A situação fez com que Ellen White enviasse alguns conselhos inte-ressantes. Há alguns anos, encontrei um homem que me disse ser neto de
Walter Harper. Ficou absolutamente surpreso quando lhe contei que sa-
bia quem era seu avô. Como você pode imaginar, fiquei ainda mais surpre-
so do que ele. Ao longo da conversa, descobri que, na verdade, ele era neto
da esposa de Harper. Confesso que essa informação me deixou aliviado.
Como se pode perceber, não estou bem certo de todas as implicações
do processo de esterilização, mas realmente parece ser um dos meios maiseficazes de impedir a procriação.
O melhor exemplo de esterilização religiosa no mundo moderno é o li-
beralismo protestante, que, na década de 1920, renunciou às ideias “pri-
mitivas” do cristianismo, como a imaculada conceição, a ressurreição de
Cristo, o sacrifício expiatório, os milagres, o segundo advento, o criacio
nismo e, claro, a inspiração divina da Bíblia, no sentido de que suas in-
formações ultrapassam o entendimento humano e, por isso, foram obti-
das por meio da revelação divina.
A razão humana apresentouse como a fonte do conhecimento, a dou-
trina tornouse irrelevante, se não desagradável, e Jesus, de Salvador que
morreu em nosso lugar, passou a ser visto como uma pessoa excepcional-
mente boa, um exemplo digno de ser imitado. No processo, o cristianis-
mo deslocouse consideravelmente do campo da religião para o da ética.
Diante dessas façanhas do intelecto humano, o liberalismo protestan-
te eficazmente perdeu a mensagem cristã distintiva que possuía. Ou, co-
locando de forma mais direta, ele se autoesterilizou.
O resultado f i na l foi a redução de milhões de membros das princi-
pais denominações protestantes norteamericanas. Entre 1965 e o início
da década de 1990, a comunidade presbiteriana passou de 4j2 milhões
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O CORDEIRO E O LEÃO
para 2,8 milhões de membros, uma redução de 34%. Durante o mesmo
período, o metodismo caiu de 11 para 8,7 milhões, os episcopais de 3,6
para 2,4 milhões e os discípulos de Cristo de 2 para 1 milhão um de-clínio, respectivamente, de 21%, 34% c 50%.3
Além da redução, a idade média dos membros aumentou e, conse-
quentemente, o ânimo despencou. A revista New sw eek reportou, de for-
ma branda, que “as principais denominações talvez estejam morrendo de-
vido à perda de sua integridade teológica”. Stanley Hauerwas, professor
na Duke Divinity School, demonstrou a mesma coisa de maneira mais
clara ao afirmar: “Deus está matando as principais denominações pro-
testantes da América e nós merecemos.”4
Esse desastre no protestantismo causou a
publicação de vários livros influentes sobre o
assunto. Em seu livro Th e Empt y Chu rch: The
Sui ci de of Li beral Chri st iani t y [A Igreja Vazia:
O Suicídio do Cristianismo Liberal], ThomasC. Peeves sugere que a única esperança para o
protestantismo é redescobrir a teologia ortodo-
xa, incluindo a fé no Deus todopoderoso que
foi e é capaz de operar milagres.5
Surgiu também a obra de Wade Clark Roóf e
William McKinney, Ameri can M ai nl in e Rel i gion
[A Religião Americana Principal], que previu aredução contínua do cristianismo liberal mesmo
se conseguir encontrar algum sentido teológico.6 Na obra Th e Church i ng
of Ameri ca, 17761990: W i nners and Losers in O ur Rel igious Econom y
[A Igreja da América, 17761990: Ganhadores e Perdedores em Nossa
Economia Religiosa], Roger Finke e Rodney Stark discorrem sobre a tese
ultrajante de que “as organi zações rel igiosas são mai s for t es de acordo com
a imposição de cobranças signi f i cat i vas em t ermos de sacr i fício e atémes-
mo do est i gma l ançado sobre os membros. [...] As pessoas tendem a valo-
rizar a religião de acordo com o quanto lhes custa para pertencer àque-
le grupo quanto maior é o sacrifício a fim de obter uma boa posição,
maior valor atribuem à religião”/
Além dessas obras, há também aquela que é considerada a originado
ra do estudo da morte vagarosa do liberalismo: Why Conservat i ve Chur ches
O atalho para
a i rrel evânci a
éa mera
relevância.
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2 0 A VISÃO APOCALÍPTICA
Are Grow ing [Por que as Igrejas Conservadoras Estão Crescendo], dc Dean
Kelley. O autor (metodista) demonstrase muito sincero em suas respostas.
Em síntese, as igrejas conservadoras estão crescendo po rque represent am algo. De acordo com Kelley, se alguém decide se unir a uma igreja é porque essa
igreja representa uma verdade especial e sabe disso. Ou seja, as pessoas es-
tão em busca de uma igreja que esteja acima da cultura, que seja arrogan-
te o suficiente para crcr que há erro e verdade e que ela possui a verdade.8
Se não há uma verdade especial, por que se unir à igreja? Segundo
Kelley, no caso do protestantismo liberal, que no início da década de 1970
era representado meramente por parte da população norteamericana,por que não sair? Sem encontrar razão suficiente para permanecer, gran-
de número de pessoas encontrou sentido em sua vida deixando as prin-
cipais denominações. O mesmo pode ser dito hoje de muitos adventistas.
A palavrachave para o protestantismo liberal na década de 1960 foi
“relevância". As denominações protestantes procuraram ser relevantes
para a cultura em que estavam inseridas. O que provaram, no entanto, foi
que o atalho para a irrelevância é a mera relevância. Afinal, quem preci-sa obter mais daquilo que pode ser encontrado na cultura predominante?
Não há nada de errado em ser relevante do ponto de vista bíblico, mas
a mera relevância é o caminho para se aculturar ou ser absorvido pela cul-
tura predominante. O cristianismo saudável deve, por necessidade, estar
acima da cultura predominante e se apegar às verdades que a cultura julga
detestáveis. Talvez o documento contracultural mais conhecido da histó-
ria seja o Sermão do Monte. O sistema de valores apresentado por ele di-fere radicalmente daquele adotado pelo mundo e pela maioria das igrejas.
Tendo dito tudo isso, devemos acrescentar que a irrelevância não é a
resposta. Como cristãos, não devemos defender apenas a verdade, mas
também aquilo que é importante para o tempo em que vivemos. E justa-
mente nesse ponto que o adventismo pode contribuir. O adventismo for-
taleceuse ao proclamar que possuía uma mensagem profética para nosso
tempo. E exatamente essa mensagem remodelada para o século 21 quefortalecerá o adventismo no presente e no futuro.
Por outro lado, se descobrirmos que o adventismo não possui algo úni-
co e valioso para oferecer, devemos ser honestos, desarmar o acampamen-
to e encontrar algo útil para fazer na vida. O advent i smo não pode esca-
par do d i l ema ent re ser si gni f i cat i vo ou ser estéri l . Não t em como ser os doi s.
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O CORDEIRO E O LEÃO
A Esterilização do Adventismo
Esses pensamentos me levam para a esterilização do adventismo. O ad-
ventismo moderno, queira ou não, está firmemente enraizado nas visõesapocalípticas de Daniel e de Apocalipse. Ao olhar para esses dois livros bí-
blicos, vejo no mínimo três maneiras em que o adventismo pode se autoes
terilizar. Acredite ou não, nós adventistas encontramos todos os três.
A primeira é a "pregação apocalíptica da besta”. Temos nos demorado
demais nesse ângulo da visão apocalíptica. Recordome que, ao entrar para
a igreja, sabia muito a respeito das bestas e pouco a respeito do Senhor
que controla todos os eventos proféticos. As bestas e os períodos proféti-cos têm seu lugar, mas o exagero até mesmo de algo bom pode se tornar
desagradável. E muito fácil para nós adventistas aternos aos detalhes
da visão apocalíptica e esquecernos dAquele que é a razão da profecia.
Ellen White foi ao centro da questão ao escrever: “O sacrifício de
Cristo como expiação pelo pecado é a grande verdade em torno da qual
se agrupam as outras. A fim de ser devidamente compreendida e apre-
ciada, toda verdade da Palavra de Deus, de Gênesis a Apocalipse, preci-
sa ser estudada à luz que dimana da cruz do Calvário. Apresentolhes o
grande, magno monumento de misericórdia e regeneração, salvação e re-
denção o Filho de Deus erguido na cruz. Este tem de ser o fundamen-
to de todo discurso feito por nossos pastores.”9
Devo admitir que também já contribuí para a "pregação apocalípti-
ca da besta”, mas logo aprendi que, se não pudesse firmar genuinamenteminha mensagem no amor de Deus e na cruz de Cristo, não transmiti-
ria uma mensagem cristã. Sem essa integração tão importante, não pas-
saria de mera "pregação apocalíptica da besta”, por mais correto e verí-
dico que fosse o assunto.
Precisamos notar que tanto a cruz de Cristo quanto o amor de Deus
são contraculturais diante de um mundo que defende o “eu” e o "lucro”.
Ouvi, porém, alguns líderes adventistas em certa parte do mundo dizer queo papel do evangelismo é fazer com que as pessoas se adaptem à cultura.
“Não!”, foi minha resposta. O papel do evangelismo é exatamente o
contrário. É levar as pessoas a não se adaptarem a uma cultura que foi
julgada pela cruz e encontrada em falta; a não se adaptarem a uma cul-
tura que chama a violência e o sexo ilícito de diversão; a não se adapta-
rem a uma cultura que paga milhões de dólares aos jogadores de futebol,
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2 2 A VISÃO APOCALÍPTICA
mas permite que os professores de ensino fundamental ganhem um sa-
lário que mal dá para sustentar a família.
Como foi dito, até mesmo virtudes cristãs básicas como amar osinimigos e recompensar os mansos e humildes são contraculturais. Essas
atividades não são normais. Admitamos: o cr i st i ani smo éuma rel igião anor-
mal . D eus desej a que sej amos ano rmai s segundo os parâmet ros do mundo .
Ao pensarmos na centralidade de Cristo e Sua vida, morte e ressur-
reição, não precisamos evitar a visão apocalíptica. Ao contrário, Cristo é
a coluna central dos eventos proféticos de Daniel e Apocalipse. No livro
de Apocalipse, por exemplo:
• Ele é o Alfa e o Omega, Aquele que venceu a morte e detém as cha-
ves da morte e do inferno (Ap 1:18).
• Nos capítulos 1 a 3, Ele é o Senhor da igreja e cam inha entre os
candeeiros.
• Nos capítulos 4 e 5, Ele é o Cordeiro achado digno por ter derramado
Seu sangue para resgatar os seres humanos. Ele é o Leão da tribo de Judá.• Em Apocalipse 6, Ele é o Cordeiro que abre os sete selos.
• No capítulo 12, Ele é o Bebê que Se tornou o Cordeiro que venceu
o dragão por meio de Seu sangue.
• O capítulo 14 retrata0 como Aquele que vem nas nuvens do céu
para ceifar a colheita.
• E, no capítulo 19, Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores mon-
tado em um cavalo branco para trazer salvação aos Seus seguidores.Em resumo, permitame repetir que a primeira maneira de esterilizar ou
castrar o adventismo no Apocalipse é por meio da pregação apocalíptica da
besta a pregação que falha em colocar Cristo e o amor de Deus no cen-
tro da mensagem. Ao buscarmos uma abordagem menos centrada nas bes-
tas do Apocalipse, precisamos manter sempre em mente que a pregação bí-
blica não é o evangelho versus a visão apocalíptica, mas sim o evangelho e
a visão apocalíptica. A visão apocalíptica, corretamente compreendida, é oevangelho. No entanto, precisamos buscar o equilíbrio adequado até mes-
mo no evangelho. Sem equilíbrio, teremos a pregação apocalíptica da besta.
A segunda e a terceira maneiras em que os adventistas podem este-
rilizar sua mensagem estão relacionadas a Cristo, que está nocentro do
Apocalipse de João. O capítulo 5 do livro de Apocalipse, relato do encon-
tro do apóstolo com dois símbolos, salienta essas duas últimas maneiras.
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O CORDEIRO E O LEÃO 2 3
No verso 5, o apóstolo ouve a respeito do Leão da tribo de Judá, que é ca-
paz de abrir o livro da história do mundo. Porém, no verso 6, ao abrir os
olhos, João vê o Cordeiro que foi morto. Aqui encontramos uma combina-ção estranha. Quem já ouviu falar de um cordeiro que também é um leão?
Voltaremos a essa combinação mais tarde, mas primeiro precisamos
analisar a segunda maneira em que os adventistas podem esterilizar sua
mensagem removendo as características do Cordeiro.
Observe as características do Cordeiro descritas em Apocalipse 5:
• O verso 6 descreve0 como tendo sido morto.
• O verso 9 dignifica o Cordeiro como Aquele que foi morto c quecom Seu sangue resgatou a muitos.
• O verso 12 proclama que Lie é digno de re >
ceber toda honra e glória, pois foi morto. q s a c r j f f c j QA mesma ênfase aparece em Apocalipse
12:11, em que os santos são vencedores por cau C o r d e i w QYYl
sa do sangue do Cordeiro, e em Apocalipse 1:5, ftQSSO lugCLT
que diz que Cristo, "pelo Seu sangue, nos liber-tou dos nossos pecados”. Ninguém precisa ser 6 0 el 6YYlCYl tO
um grande estudioso da Bíblia para concluir, s i u gu l c i T d o
ju ntamente com lan Boxal, que “a referênciaao sangue sugere sacrifício, apesar de João não CnStlQHlSJTlO.
detalhar o mecanismo pelo qual isso ocorre”.10
O sacrifício é central tanto no Antigo quan-
to no Novo Testamento. No Antigo Testamento, encontramos o Cordei-ro pascal, o cordeiro do sacrifício diário e os cordeiros e outros animais
sacrificados pelos pecados individuais. Todos eles morreram no lugar
dos pecadores.
O Novo Testamento apresenta essa mesma figura na ocasião em que
João Batista proclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!” (Jo 1:29). Paulo afirmou aos gálatas que "Cristo nos resgatou da
maldição da lei, fazendoSe Ele próprio maldição em nosso lugar (por-
que está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)”
(G1 3:13). Ao escrever aos coríntios, o apóstolo declarou que Cristo é
“nosso Cordeiro pascal”, que "foi imolado” (ICo 5:7). A descrição que
Paulo faz do evangelho enfatiza o fato de que “Cristo morreu pelos nos-
sos pecados” (ICo 15:3; ver Is 53:5).
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2 4 A VISÃO APOCALÍPTICA
Por outro lado, Paulo também observou que a doutrina do Cordeiro
imolado é o aspecto que mais distingue o cristianismo. Tratase de es-
cândalo para os judeus e loucura para os gentios (ICo 1:23, 18).Da mesma forma, devemos admitir que a mensagem da morte expia-
tória de Cristo na cruz não élógica. No mínimo, soa uma grande loucura
proclamar que o melhor ser humano morreu para que um bando de cri-
minosos e rebeldes pudesse ganhar aquilo que não merecem (isto é, gra-
ça). Embora a razão humana possa continuar a fazer uma caricatura da
clara doutrina bíblica a respeito do Cordeiro imolado, tal raciocínio não
se equipara à revelação de Deus na Bíblia sobre o assunto.11O que importa a esta altura é observar a proclamação repetida inú-
meras vezes no livro dc Apocalipse que revela que unicamente pelo der-
ramamento do sangue de Cristo na cruz em nosso lugar foi que Ele Se
tornou vitorioso. George Eldon Ladd coloca da seguinte forma: “A dig-
nidade [de Cristo] não se baseia em especial em Sua divindade, Seu
relacionamento com Deus, Sua encarnação ou Sua vida humana imacula-
da, mas sim em Sua morte expiatória.”12 Em resumo, o Cordeiro conquis-tou a vitória por meio de Seu sacrifício.
O sacrifício do Cordeiro em nosso lugar é o elemento singular do cris-
tianismo. Ellen White salienta que "o princípio de que o homem se pode
salvar por suas próprias obras [...] jaz à base de toda religião pagã”.13 Em
contraste, no fundamento c no centro do cristianismo encontrase o Cor-
deiro que morreu em nosso lugar para colocar o dom da graça de Deus
em base sólida.
Eu gostaria de sugerir que a úni ca coi sa que o cri st i ani smo possui em
seu favor éo Cordei ro de D eus que foi mor t o e cujo sangue abre o cami-
nho para a salvação por meio de um método que não tem relação com o
esforço humano. Se ret i rarmos de cena o Cordei ro qu e foi mor t o em nosso
l ugar, restarão apenas os pr i ncípi os da ét ica.
Não tenho nada contra os princípios da ética c da vida correta, mas
sem o Cordeiro imolado não há esperança. Em outras palavras, a ética
sem a obra salvadora de Cristo por nós é igual à morte. Foi justamente
nesse ponto que os liberais da década de 1920 se desviaram do foco. Eles
est eri l i zaram o Cordei ro e, no processo, se aut oesteri l i zaram. No centro do
Apocalipse de João encontrase o Cordeiro imolado ou morto.
Isso nos leva ao Leão da tribo de Judá e à terceira maneira pela qual
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O CORDEIRO E O LEÃO
nos adventistas podemos esterilizar nossa mensagem. Porém, antes de
prosseguir, precisamos analisar a relação entre o símbolo do Cordeiro
e o símbolo do Leão no livro de Apocalipse. Além de o fato de ambosse referirem a Cristo, o ponto mais importante que os une é a violên-
cia. Lm Apocalipse, ambos são símbolos violentos: o Cordeiro porque
foi morto e o Leão por suas atitudes. Encont ram os a vi olênci a do símbol o
do Cordei ro e do L eão uni da numa frase improvável: a "ira do Cordeiro”
(Ap 6:16). Ouem já ouviu falar de um cordeiro irado?
Ira! Aqui está uma palavra desagradável que, unida à violência, tor-
nase politicamente incorreta e deixa todos os bons adventistas um pou-
co nervosos. Pessoalmente, tento evitar essa palavra por duas décadas.
Mas a triste verdade é que o fato de nos livrarmos da pregação apocalíp-
tica da besta não significa que poderemos nos livrar de todos os temas
difíceis da Bíblia.
A ira é um tema impossível de ser ignorado. Pode ser impopular na opi-
nião de alguns teólogos, mas é muito popular na visão de Deus. A quan-tidade de referências bíblicas à ira de Deus ultrapassa a casa de 580, e o
Apocalipse de João não fica atrás nessa questão. Os estudiosos têm gasta-
do tonéis de tinta para tentar explicar a ira de Deus, mas, no fim das con-
tas, o Leão da tribo de Judá atuará para erradicar o problema do pecado.
Não nos confundamos. A ira dc Deus não pode ser comparada à ira
humana. Ao contrário, a ira de Deus é uma função de Seu amor. Deus
odeia o pecado que continua a destruir a vida e a felicidade de Suas cria-turas. Ele está farto de ver bebês ceifados pela morte, o sofrimento cau-
sado pelo câncer, pela deficiência visual e tantas outras enfermidades;
estupro, assassinato e roubo; holocaustos, Rwandas e Iraques.
No tempo determinado, Deus responderá às pessoas que clamam
diante do altar: "Até quando, ó Soberano Senhor”, esperaremos para
que coloques um fim à bagunça que chamamos de história do mundo
(Ap 6:10)? Como afirma W. L. Walker, “a ira [dc Deus] apenas entra emação porque Deus é amor, e porque o pecado machuca Seus filhos e se
opõe ao propósito de Seu amor”.14 Alan Richardson enfatiza que “apenas
certa classe de teologia protestante degenerada tem tentado contrastar a
ira de Deus com a misericórdia de Cristo”.IS
Deus, conforme retratado na Bíblia, não pode e não irá assistir para
sempre ao sofrimento de Suas criaturas. Sua reação é o julgamento do
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26 A VISÃO APOCALÍPTICA
pecado que está destruindo Seu povo. Devemos entender esse julgamen-
to como o sentido real da ira bíblica. Deus condena o pecado em Seu jul-
gamento e, por fim, irá erradicálo completamente.É justamente nesse momento que a ira do Cordeiro entra em cena.
É nesse momento que, segundo Apocalipse 19, o Leão da tribo de Judá
aparece, vindo do céu montando em um cavalo branco para pôr fim ao
problema do pecado e à miséria causada por ele.
O fat o éque, se t i vermos apenas o Cordei ro de Deus, t eremos apenas
met ade do evangel ho. O Cordeiro foi imolado, mas os filhos de Deus con-
tinuam a sofrer. O auge da obra do Cordeiro é Sua função como Leãoda tribo de Judá no fim dos tempos. Por isso, o Apocalipse referese à
ira do Cordeiro.
A visão apocalíptica mostra o fim do pecado e um novo céu e uma nova
Terra. A visão apocalíptica é a razão da existência do adventismo. Se a pr e-
gação do cri st i ani smo éo Cordei ro i mol ado , a pregação do advent i smo éo
Leão da t ri bo de j u dá: O advent i smo sem o Leão éum advent i smo estéri l , as-
sim como o cri st i ani smo sem o Cordeiro imol ado éum cri st iani smo estéri l .
Como adventistas do sétimo dia, Deus não nos chama para sermos
profetas da respeitabilidade, mas proclamadores da mensagem do Leão
e do Cordeiro.
Essa é uma mensagem muito séria, juntamente com ela, aparece ou-
tra palavra impopular: temor. “Temei a Deus e daiLhe glória”, lemos em
Apocalipse 14:7, “pois é chegada a hora do Seu juízo”.
Que coisa horrível de se dizer a respeito de Deus! Afinal, anunciar
que as pessoas devem "temer a Deus'’ é algo politicamente incorreto em
pleno século 21. “Certamente”, pode alguém dizer, “temor significa res-
peito ou reverência a Deus.”
Não há dúvida disso, mas essa palavra também significa temor no sen-
tido de ter medo dAquele que não tolerará para sempre as atitudes peca-
minosas que continuam a destruir Seus filhos. Significa medo para aque-
les que dirão “aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondeinos da
face dAquele que Se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou
o grande dia da ira dEles; e quem é que pode susterse?” (Ap 6:16, 17).
Q uem sabe nosso real pr ob l ema em relação ao t emor a D eus seja que
mui t os cri stãos t enham esteri l i zado o concei t o bíbl i co do pecado. Esquece-
mos as declarações estrondosas de Paulo, que diz: "pois todos pecaram e
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O CORDEIRO E O LEÃO
carecem da glória de Deus” (Rm 3:23) e “o salário do pecado é a morte”
(Rm 6:23). A compreensão estéri l do pecado l eva àester i l i zação do Cordei-
ro e do Leão. Se somarmos tudo isso, obt eremos a ester i l i zação da impo r-
tânci a da pregação e da rel igião.
O Chamado ao Despertamento de Apocalipse
O Apocalipse de João é o chamado ao despertamento do mundo em
geral e dos adventistas em particular.
O Apocalipse de João é o chamado para abandonar as atitudes casuais
e despreocupadas em relação a Deus e às questões que envolvem o gran-
de conflito e para começarmos a nos preocupar com as questões reais do
mundo em que vivemos.
Desperdiçamos tempo demais tentando tor-
nar Deus um cavalheiro do século 21 ao apre
sentáLo como um grande intelectual adventista
ou um bondoso médico do hospital adventista.Desperdiçamos tempo demais imaginando
Deus como um idoso vovô sem dentes ou como
um personagem fictício da literatura infantil que
distribui doces a todos aqueles que forem bons.
C. S. Lewis retrata muito bem a questão ao su-
gerir que o que a maioria das pessoas quer “não
é um pai no Céu, mas um avô no Céu", uma es-pécie de “benevolência senil”.16 O Apocal ipse de
João é um julgamento dc tais pensamentos.
O Apocalipse de João é o julgamento da mentalidade pósmoderna,
que evita qualquer certeza a respeito da verdade religiosa e procura em
seu lugar uma espiritualidade nebulosa.
O Apocalipse de João fala a respeito de um novo céu e uma nova Terra.
O Apocalipse de João fala a respeito do Cordeiro e do Leão.O Apocalipse de João é um chamado para os adventistas se desperta-
rem não apenas para a beleza desse último livro da Bíblia, mas também
para (1) seu poder e força e (2) sua mensagem para nossos dias.
Que Deus nos ajude a responder à mensagem do livro que fez de nós
um povo vibrante! Nós temos a mensagem sobre o Leão e o Cordeiro e
estamos correndo o perigo de distorcêla e perdêla.
O Apocalipse éo j ul gament o
da mental i dade
pósmoderna.
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2 8 A VISÃO APOCALÍPTICA
O chamado é para abandonarmos a pregação apocalíptica da besta
e outras formas de esterilizar a visão apocalíptica e prosseguirmos para
um estudo renovado dessa visão em relação ao adventismo e ao mundodo século 21.
1Publicado sob o mesmo título no Jo urn al o f Adventist Edu cation , abril/maio de 2008, p. 2028.
2 George R. Knight, Em Busca de Identidade: O Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas do Sétimo Dia (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005).
3 Kenneth L. YVoodward, “Dead End for the Mainline? The Mightiest Protestants Are RunningOut of Money, Members, and Meaning”, Neivsweek, 9 de agosto de 1993, p. 4648.
4 Ibid., p. 47, 48.
5 Thomas C. Reeves, The Empty Church: The Suicide of Liberal Christianity (Nova York: FreePress, 1966).
6 Wade Clark Roof e William McKinney, American M ainline Religion : lts Changing Shape an d Future (New Brunswick: Rutgers University Press, 1987), p. 234, 241.
7 Roger Finke e Rodncy Stark, Th e Churching o f Am erica, 1776-1990: Winners and Losers in Our Religious Economy (New Brunswick: Rutgers University Press, 1992), p. 238, itálicoacrescentado.
H Dean M. Kelley, Why Conservative Church.es Are Growing: A Study in Sociology of Religion (Nova York: Harper and Row, 1972).
9 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, 5a ed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1993),p. 315, linguagem corrigida.
10 lan Boxal, The Revelation of Saint John, Blacks New Testament Commentaries (Peabody:Hendrickson, 2006), p. 33.
11 Ver George R. Knight, Th e Cross o f Christ. God's W ork fo r Us (Hagerstown: Revievv andHerald, 2008).
12 George Eldon Ladd, A Comm entary on the Revelation o f John (Grand Rapids: Eerdmans,1972), p. 91.
13 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, 22aed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,2004), p. 35.
14 W. L. Walker, What Ahout the N ew Theology? (Edinburgh: T. & T. Clark, 1907), p. 48, 149.
15 Alan Richardson, An Introduction to the Theology o fth e New Testam ent (Nova York: Harperand Row, 1958), p. 77.
16 C. S. Lewis, The Problem o f Pain (Nova York: Macmillan, 1962), p. 40.
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Capítulo 2
A Visão Apocalíptica
_______________ Revendo a profecia apocalíptica
e a história adventista
Oprimeiro capítulo apresentou Cristo como o Cordeiro imolado e
o Leão da tribo de Judá, considerando que, se temos apenas o Cordeiro,
possuímos apenas metade do evangelho. Obviamente, se temos apenas
as bestas, não há evangelho nenhum. Precisamos do Senhor das bestas.O Apocalipse apresenta Cristo como o Senhor de tudo.
Este capítulo abordará a visão apocalíptica e a história adventista.
O tema é da maior importância porque, desde seu início, o adventis-
mo considerase um povo chamado e que possui uma missão proféti-
ca. O adventismo nunca se viu como apenas mais uma denominação. É
essa compreensão que deu poder ao movimento adventista. Apesar de
ser uma denominação evangélica, nunca foi meramente evangélica. Eum movimento evangélico com uma mensagem profética para o mun-
do centralizada no Cordeiro de Deus e no Leão da tribo de Judá apre-
sentado no Apocalipse.
O Cenário Profético
A compreensão da visão apocalíptica e da história adventista começa
no capítulo 10 de Apocalipse, entre a sexta (Ap 9:13) e a sétima trombe
tas (Ap 11:15). A identidade das trombetas nem sempre é fácil de ser com-
preendida. Está claro, porém, que a sétima trombeta soará por ocasião
do segundo advento, quando “o reino do inundo” se tornará “de nosso Se-
nhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15).
Entre a sexta e a sétima trombetas está o capítulo 10 de Apocalipse,
como um intervalo ou um desvio no tema da sequência das trombetas.
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30 A VISÃO APOCALÍPTICA
O tema central do capítulo é um livrinho ou um rolo aberto na mão de
um “poderoso anjo” que veio do céu (versos 1, 2). O tempo verbal utiliza-
do no grego significa que o rolo tinha sido fechado e foi novamente aber-to. Portanto, logo antes do fim dos tempos, o rolo seria aberto.
O livrinho aparece novamente nos versos 810: “A voz que ouvi, vinda do
céu, estava de novo falando comigo e dizendo: Vai e toma o livro que se acha
aberto na mão do anjo em pé sobre o mar e sobre a terra. Fui, pois, ao anjo,
dizendolhe que me desse o livrinho. Ele, então, me falou: Tomao e devo
rao; certamente, ele será amargo ao teu estômago, mas, na tua boca, doce
como mel. Tomei o livrinho da mão do anjo e o devorei, e, na minha boca,era doce como mel; quando, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo.”
Temos aqui um livrinho selado até o tempo do fim. Não é o mesmo
livro ou rolo do capítulo 5, que é um livro maior e identificado em grego
por uma palavra diferente. O livrinho de Apocalipse 10 está relacionado
com o livro maior que apresenta os grandes eventos da história escatoló
gica, mas possui identidade própria.
Assim que os mileritas estudaram o capítulo 10 de Apocalipse, foramforçados a questionar qual livrinho teria sido selado até o tempo do fim.
Essa questão os levou a Daniel 12:4: “Tu, porém, Daniel, encerra as pa-
lavras e sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o
saber se multiplicará.”
• Em Apocalipse 10 há um livrinho que deve ser aberto no tempo
do fim.
• Em Daniel 12 há um livro que está selado até o tempo do fim. Quan-do fosse aberto, o conhecimento se multiplicaria.
Nós, adventistas, temos apresentado Daniel 12:4 de formas muito es-
tranhas. Já escutei sermões dizendo que por milhares de anos as pessoas
andaram a pé ou a cavalo, mas depois surgiram a propulsão a vapor, os au-
tomóveis, os aviões a jato, e assim por diante. Com o avanço tão rápido da
ciência, o conhecimento em todas as áreas é duplicado em pouquíssimo tem-
po. Os pregadores e os evangelistas costumam utilizar argumentos como es-
ses para provar que estamos no tempo do fim e que Jesus em breve voltará.
Apresentações como essa, contudo, não têm nada que ver com a pro-
fecia de Daniel 12:4. Ao contrário, é dito que no tempo do fim os olhos
dos homens seriam dirigidos ao livro de Daniel, e o conhecimento sobre
o livro aumentaria conforme o livro fosse aberto.
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A VISÃO APOCALÍPTICA 21
Um fato muito interessante sobre o selamento do livro de Daniel é que
o profeta menciona apenas duas partes de sua visão que foram seladas.
Fie é muito específico com relação a esse ponto. Discutiremos sobre osdois pontos no capítulo 3, mas agora apresentaremos apenas um deles.
Voltemos ao capítulo 8 de Daniel, em que são mencionados quatro
grandes símbolos proféticos: o carneiro do verso 3, o bode do verso 5, o
chifre pequeno do verso 9 e a visão das 2.300 tardes e manhãs, a qual
diz que, ao término desse período, o santuário seria purificado, justifica-
do ou restaurado ao seu estado de justiça (verso 14).
Como saber se há apenas quatro símbolos proféticos no capítulo 8?
Daniel pediu uma explicação e Deus lhe enviou o anjo Gabriel.
Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuá-
rio será purificado. Havendo eu, Daniel, tido a visão, procurei entendê
la, e eis que se me apresentou diante uma como aparência de homem.
E ouvi uma voz de homem de entre as margens do Ulai, a qual gritou edisse: Gabriel, dá a entender a este a visão [a visão dos primeiros catorze
versos]. Veio, pois, para perto donde eu estava; ao chegar ele, fiquei ame-
drontado e prostreime com o rosto cm terra; mas ele me disse: Entende,
filho do homem, pois esta visão se refere ao tempo do fim (Dn 8:1517).
Gabriel inicia a explicação dos quatro símbolos.
1. Verso 20: o carneiro é a MédiaPérsia (longe do tempo do fim).2. Verso 21: o bode é a Grécia.
3. A explicação de Gabriel sobre o chifre pequeno descrita nos versos
22 a 25 não fala diretamente quem ele é. No entanto, ela fornece duas
características para identificálo: no verso 24 é dito que destruiria os san-
tos e no verso 25 que ele se levantaria contra o “Príncipe dos príncipes”.
Portanto, o poder do chifre pequeno não apenas destruiria a nação ju-
daica, mas também se colocaria contra Cristo, o “Rei dos reis e Senhor
dos senhores” (Ap 19:16). Apesar de não estar explícita, a identidade do
terceiro símbolo é implicitamente Roma.
4. Finalmente, o quarto símbolo do verso 26: “A visão da tarde e da
manhã, que foi dita, é verdadeira; tu, porém, preserva a visão, porque se
refere a dias ai nda mui distantes
Apenas duas coisas em Daniel foram seladas até o tempo do fim e
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3 2 A VISÃO APOCALÍPTICA
depois seriam abertas. Daniel é muito específico. Uma delas é a profecia
das 2.300 tardes e manhãs. Essa profecia estaria selada até o tempo do
fim, ocasião em que os olhos dos homens estariam sobre o livro de Da-niel e a profecia seria revelada.
Isso nos remete à história mundial, particularmente à Revolução Fran-
cesa. Sua violência, seus aspectos anticristãos, sua subversão à moralidade c
todos os seus extremos levaram os cristãos ao redor do mundo a considerar
o evento como semelhante aos sinais bíblicos da angústia dos últimos dias.
Essa compreensão literalmente levou o povo às profecias de Daniel e
Apocalipse. Os 50 anos seguintes presenciariam o surgimento de livrossobre as profecias apocalípticas como em nenhum outro momento na his-
tória. Os olhos dos homens realmente foram postos no livro de Daniel, e
o conhecimento de suas profecias aumentou cada vez mais.
Duas profecias particularmente interessaram aos estudiosos da época.
Uma delas foi a profecia dos 1.260 dias, um dos dois itens do livro que
Daniel falou que estariam selados (Dn 12:9). Voltaremos à profecia dos
1.260 dias no capítulo 3. Este capítulo abordará a história da compreen-são adventista da profecia apocalíptica, enquanto o capítulo seguinte tra-
rá a base exegética da história. Em outras palavras, uma coisa é mostrar
as conclusões a que nossos antepassados chegaram, outra é dizer que tais
conclusões realmente são relevantes hoje.
Guilherme Miller e o Surgimento do Movimento Adventista
Nos anos subsequentes à Revolução Francesa, os estudiosos da Bíblia
dos dois lados do Atlântico chegaram à conclusão de que algo havia acon-
tecido na década de 1790 cm cumprimento à profecia dos 1.260 dias, dan-
do início ao tempo do fim indicado nas profecias de Daniel.
Um dos estudantes dessas profecias é especialmente importante para a
história adventista. Guilherme Miller se tornou cético deísta durante a ju-
ventude. Embora ele fosse muito talentoso, a princípio nunca se mostrou
um candidato ao ministério. Gostava muito, por exemplo, de imitar para sua
platéia de bebedores de cerveja2 o jeito de seu avô, que era pastor, pregar.
Sua condescendência, contudo, logo terminou com a segunda guerra
entre os Estados Unidos e a Inglaterra, a partir de 1812. Chamado para
servir como capitão do exército, suas experiências vividas ali o levaram
à conclusão de que seu deísmo não apresentava resposta ao problema da
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A VISÃO APOCALÍPTICA 3 3
morte, que se tornou bastante real para ele ao testemunhar a morte dc
muitos de seus companheiros.
Miller foi levado a buscar na Bíblia algum sentido para um mundo ca-
ótico e destrutivo. Ele buscou a Palavra de Deus assim como fez toda uma
geração de europeus c colonos cm reação aos excessos cometidos durante a
revolução na França. Na América, o reavivamento evangélico tornouse co-
nhecido como o Segundo Grande Despertamento, ocasião em que muitos
saíram do deísmo secular para o cristianismo. Miller estava nesse grupo.
Ao começar a estudar a Bíblia, em 1816, Miller logo pôde proclamaras seguintes palavras: “As Escrituras [...] tornaramsc meu deleite e em
Jesus encontrei um Amigo.”3 Como um homem transformado, Miller pas-
sou a estudar a Bíblia com afinco. A partir de
então, o estudo do Gênesis ao Apocalipse do-
minou sua vida, levandoo a dedicar horas de
estudo diariamente ao longo dos anos.
ci j u • • , O estudo da hle descobriu coisas que jamaisesperava encontrar. Ao estudar as profecias de Daniel, por Bíbl ia d£ \ J£ exemplo, chegou às mesmas conclusões que pelo
flOS YY10VGY menos outros oitenta intérpretes do texto bíbli-
co haviam chegado, ou seja, que a profecia dos a ação.2.300 diasque estava selada até o tempo do fim
teria seu cumprimento entre 1843 e 1847.4
Ao estudar a versão bíblica em inglês King Ja-
mes sobre a profecia dos 2.300 dias (“Até duas mil
e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”), Miller foi força-
do a se perguntar o que ocorreria 110 fim do período profético. Assim, buscou
identificar 0 significado do santuário e da sua purificação mencionados em
Daniel 8:14. Depois de um estudo mais profundo, concluiu que o santuário
que deveria ser purificado na década de 1840 era a Terra e que o fogo seriao agente purificador. “Quando será a Terra purificada pelo fogo?”, ele se per-
guntou. À luz de 2 Pedro 3:1113, respondeu: “Quando Jesus vier outra vezP
Com isso, em 1818, Miller convenceuse de que Jesus retornaria den-
tro de 25 anos. Sentiu o desejo de exclamar: “Não posso expressar a ale-
gria que encheu meu coração!”6 Certamente havia encontrado algo que
era “doce ao paladar” e esperava com todo o coração pela chegada de um
tempo em que o sofrimento e a morte cessariam para sempre.
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34 A VISÃO APOCALÍPTICA
Miller sentiuse impressionado a partilhar sua descoberta com os de-
mais. Temia, porém, que pudesse ter errado em seus cálculos. Assim, de-
dicou mais cinco anos ao tema do segundo advento e dos assuntos rela-cionados. Queria estudar toda e qualquer possível objeção à sua teoria.
Contudo, no fim dos cinco anos, ainda não se sentia confiante para
falar publicamente sobre o assunto. Dedicou mais nove anos ao estudo
particular da Bíblia e, cm 1832, ainda não se sentia preparado para falar.
Parece que Miller sofria do pecado do est udo da Bíbl i a, uma doença
amplamente disseminada entre os membros da igreja. O estudo da Bíblia
é bom em si mesmo, mas, quando se estuda, estuda e estuda sem ser le-
vado à ação, saiba que foi levado pelo pecado do estudo da Bíblia. O es-
tudo da Palavra de Deus sem ação não tem sentido. O estudo da Bíblia
deve nos mover à ação na causa de Deus. O verdadeiro estudo da Bíblia
nos motivará a sair de onde quer que estejamos para pregar a respeito de
Jesus e daquilo que encontramos.
Talvez Miller tenha sofrido do pecado do estudo da Bíblia, mas não
podia escapar de sua consciência, que estava sempre clamando para que
“fosse e pregasse ao mundo”. Sua resposta foi bem parecida com a de Moi-
sés. “Não sou bom orador”, ele disse. “Preciso que um pregador faça isso
para mim.” Contudo, parecia não encontrar ninguém. Embora Miller ten-
tasse de todas as formas escapar da convicção dc que deveria contar às
pessoas sobre suas descobertas, não conseguia ficar em paz. “Vá c conte
ao mundo” era o pensamento que surgia em sua mente a todo instante.Até que um dia, em 1832, conforme ele mesmo relatou algum tempo
depois, algo inesperado aconteceu.
Senteime à minha escrivaninha para revisar algum ponto; quan-
do me levantei e saí para o trabalho, veio à minha mente mais forte do
que nunca: “Vá c conte ao mundo.” A impressão foi tão repentina e veio
com tamanha intensidade que me sentei novamente c disse: “Não pos-so ir, Senhor." “Por que não?”, parecia continuar a voz em minha men-
te. Foi quando todas as minhas desculpas e incapacidade, etc., vieram
à tona. Mas minha inquietação era tão grande que fiz um pacto solene
com Deus: se Ele abrisse o caminho, eu cumpriria meu dever para
com o mundo. “O que você quer dizer com abrir o caminho?”,’parecia
ser a pergunta. “Se eu tiver um convite para falar publicamente em
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A VISÃO APOCALÍPTICA 3 5
qualquer lugar”, eu disse, “irei e contarei o que descobri na Bíblia so-
bre a vinda do Senhor.”7
“Instantaneamente, meu fardo se foi”, Miller relatou. Ficou mais do
que satisfeito com seu acordo com o Senhor. Além do mais, Miller já es-
tava com 50 anos e ninguém jamais tinha pedido que pregasse em toda
a sua vida. Finalmente, encontrou paz com Deus e com sua consciência.
Muito cuidado com o que você promete para Deus! Miller estava para
encarar uma situação inesperada. Em meia hora, um menino bateu à suaporta depois de caminhar por 26 quilômetros. Trouxe a mensagem de
que seu pai precisava da ajuda de Miller naquele dia. Por ser juiz de paz,
Miller achou que o homem queria vêlo por precisar de seus serviços.
Essa confortável ideia, no entanto, despedaçouse ao perguntar ao
menino o que o pai dele precisava. “Ele respondeu que não havia prega-
dor para o dia seguinte na igreja e o pai queria que eu fosse pregar so-
bre a volta dc Jesus.”Miller ficou, no mínimo, irado consigo mesmo por ter feito aquele
acordo com Deus. “Revolteime e saí batendo a porta para um bosque
não muito distante”, relatou. “Ali lutei com o Senhor por quase uma hora,
tentando me livrar do pacto que tinha feito.”8
Sem conseguir encontrar paz, voltou para casa e disse ao visitante que
aceitaria o convite. O sermão do dia seguinte levou muitos à conversão.
Assim começou um dos ministérios mais frutíferos de meados do século19 na América do Norte. Sua mensagem proclamava o retorno dc Cristo
por volta do ano de 1843.
Um ponto de vista interessante da compreensão de Miller sobre o flu-
xo da profecia apareceu em um gráfico da linha do tempo publicado na
revista Si gns of t he Ti mes [Sinais dos Tempos] em 1° dc maio de 1841.
No período entre 1798 e 1843, Miller anotou: “Apocalipse 10. Abertura
do livrinho. Quarenta e cinco anos para o fim.” Ele acreditava que 0 mo-
vimento adventista era o cumprimento da profecia relacionada ao livri-
nho de Apocalipse 10 (ver versos 810 e Daniel 12:4).9
Com esse fato em mente, tenho uma pergunta que gostaria de fazer
a Miller. quando chegar ao Céu: “Por que você não leu todo o texto de
Apocalipse i 0:810? Ali está escrito que o cumprimento da profecia não
seria apenas doce ao paladar, mas que também seria amargo ao estômago.
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36 A VISÃO APOCALÍPTICA
Parece bastante lógico concluir que, se o sabor doce na boca refletia a
alegria de receber as novas do segundo advento, então o amargo deve-
ria estar ligado a algum tipo de desapontamento. A partir dessa pers-pectiva, o capítulo indica que Deus sabia sobre o desapontamento an-
tes mesmo de ele acontecer. Aparentemente, Miller não estava mais
consciente desse detalhe do que os doze discípulos a quem Cristo re-
petidamente deu avisos de Sua crucifixão iminente. Tudo o que conse-
guiam enxergar era a glória. Os seres humanos geralmente gostam mais
do doce que do amargo!
Guilherme Miller leu o livro de Apocalipse como a maioria de nós.Fixamonos naquilo que pensamos que entendemos e pulamos o que não
faz tanto sentido. De qualquer forma, Miller acreditava que a agitação
dos assuntos proféticos que teve início a partir da década de 1790 abriu
o livrinho de Apocalipse 10.
Ele era cauteloso o bastante para não lixar nenhuma data específica
para o segundo advento. Além do mais, Jesus tinha dito claramente aos
Seus seguidores que ninguém sabia o dia ou a hora (Mt 24:36). Miller di-zia apenas “por volta do ano 1843". Contudo, em dezembro de 1842, aque-
les que criam na mensagem perguntavam se ele não poderia ser mais es-
pecífico sobre o assunto, porque o ano de 1843 estava quase chegando.
Miller acreditava que poderia ser mais preciso. Depois dc estudar a tipo-
logia do ano religioso judaico, concluiu que Cristo retornaria entre a Páscoa
de 1843 e a Páscoa de 1844. Ou seja, Jesus viria entre o dia 21 de março de
1843 e 21 de março de 1844. Aquele seria o ano do fim do mundo.Como se sabe, passou o dia 21 de março de 1844 e nada aconteceu.
O milerismo passou pelo seu primeiro desapontamento.
No verão de 1844, um metodista milerita chamado Samuel Snow anun-
ciou aos crentes que haviam se equivocado quanto às datas. Com base
na ideia publicada por Miller em 17 de maio de 1843, Snow insistiu que
não deveriam olhar para a Páscoa para o cumprimento da profecia dos
2.300 dias, mas sim para o Dia da Expiação. Miller havia defendido que,de acordo com o Novo Testamento, a Páscoa e todas as festas da prima-
vera, ou do primeiro mês, no calendário judaico tiveram seu cumprimen-
to antitípico na primeira vinda de Cristo, enquanto as festas do, outono, ou
do sétimo mês, seriam cumpridas por ocasião do segundo advento. Snow,
seguindo a lógica de Miller, afirmou que o santuário seria purificado no
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A VISÃO APOCALÍPTICA 3 7
décimo dia do sétimo mês judaico no Dia da Expiação.10 Esse dia, cm
1844, cairia em 22 de outubro.
A nova data não empolgou Miller. Na realidade, não aceitou a visão
de Snow até 6 de outubro de 1844. Nesse dia, Miller escreveu ao perió-
dico milerita M idn igh t Cry [Clamor da MeiaNoite] uma carta expres-
sando sua alegria sobre o assunto. “Posso ver a glória em torno do sétimo
mês como nunca havia visto antes”,11 exclamou.
Devemos parar aqui e nos colocarmos no lugar de Miller e dos adven-
tistas nesse período de outubro de 1844. Quão grande teria sido nossoentusiasmo se pudéssemos provar matematicamente que Jesus voltaria
em duas semanas! Essa alegre expectativa dominaria nossa vida e procla-
maríamos essa mensagem com todas as lorças.
Não haveria nada mais doce nem mais cheio de
alegria. Jesus viria em questão de apenas mais
alguns dias. Para compreender o impacto do
movimento de outubro de 1844, precisamos in-corporar 0 momento histórico e entender a ale-
gria que os crentes adventistas sentiram com
essa mensagem repleta de tanta alegria.
Com isso em mente, retornemos à entusias-
mada carta de Miller aos crentes em 6 de ou-
tubro de 1844.
Posso ver a glória em torno do sétimo mês
como nunca havia visto antes. Embora o Senhor tenha me revelado o
aspecto típico do sétimo mês há um ano e meio [seu artigo de 17 de
maio de 1843], não percebi a importância dos tipos. Agora, bendito seja
o nome do Senhor, vejo a beleza, a harmonia e a coerência das Escri-
turas pelas quais tenho orado há muito tempo, mas que até hoje não
tinha enxergado.
Graças a Deus! Que os irmãos Snow, Storrs e outros sejam ricamente
abençoados por terem sido usados por Deus para abrir meus olhos! Estou
quase no lar. Glória! Glória!! Glória!!! Vejo que o tempo está certo. [...]
Minha alma está tão feliz que mal posso escrever. Rogolhes e a to-
dos efute aguardam a Sua vinda que agradeçam a Deus por essa glorio-
sa verdade. Minhas dúvidas, meus temores e todas as trevas se foram.
22 de out ubro fo i , na verdade,
0 dia da Grande
Expectativa.
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3 8 A VISÃO APOCALÍPTICA
Vejo agora que estamos no caminho certo. A Palavra de Deus é a Verdade;
e minha alma está cheia de al egri a; meu coração cheio de grat idão a Deus.
Como gostaria de poder gritar! Porem, gritarei quando o Rei dos reis vier.Posso até ouvir alguns dizendo: “O irmão Miller agora é um fanáti-
co.” Muito bem, chamemme do que quiserem; não me importo. Cristo
voltará no sétimo mês e será uma grande bênção a todos nós. Que gl o-
riosa esperança! Então O veremos, seremos como El e e estaremos com El e
para sempre. Sim, para sempre e et ernament e!12
A abertura do livrinho tinha realmente sido doce ao paladar. Jesus de-veria retornar em duas semanas.
Porém, o dia 22 dc outubro chegou e passou. E Jesus não voltou.
Não permita que ninguém lhe diga que 22 de outubro foi o dia do
Grande Desapontamento. Foi, na verdade, o dia da Grande Expectati-
va. Foi apenas no momento em que o Sol apareceu no dia seguinte que o
desapontamento caiu como uma bomba. Na boca tinha sido muito doce,
mas como era amargo ao estômago!
Em 24 de outubro, Josias Litch, um dos mais proeminentes líderes
mileritas, enviou uma carta para Miller da cidade de Filadélfia, dizendo:
“Este é um dia nebuloso e escuro as ovelhas estão dispersas e o Se -
nhor ainda não voltou.”13
Foi muito amargo ao estômago.
Com respeito àquela ocasião, Hiram Edson escreveu: “Nossas mais
ternas esperanças e expectativas foram arruinadas e um espírito de pran-
to tomou conta de nós de uma forma que eu jamais havia experimenta-
do. A dor da perda de todos os amigos terrestres não se compara à dor
que sentimos. Choramos e choramos.”14
Realmente sentiram o quanto era amargo ao estômago.
Tiago White relatou: “O desapontamento com o passar da data espe-
rada foi muito amargo. Verdadeiros crentes deixaram tudo por Cristo ebuscaram a presença de Deus como nunca. [...] O amor de Jesus enchia
cada coração, brilhava em cada rosto e, com inexprimíveis desejos, ora-
vam: Vem, Senhor Jesus, vem depressa!’ Mas Ele não veio. [...] Eu [...]
chorei como uma criança.”15
Sem dúvida, na boca foi doce como o mel tanto quanto foi amargo
ao estômago.
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A VISÃO APOCALÍPTICA 3 9
O desapontamento dc outubro, apontando especificamente ao tempo
determinado, quebrou o movimento milerita. Não era esse, contudo, o
fim profetizado em Apocalipse 10. Depois da experiência doce e amar-
ga dos versos 8 a 10, vem o verso 11: "Então, me disseram: E necessário
que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas c reis.’’
Para alem das ruínas daquela amarga experiência, a profecia diz que ou-
tro movimento surgiria e que alcançaria os confins da Terra.
A esta altura, devo observar que, em minha opinião, a importância de
Daniel 8:14 não é tanto para a salvação pessoal quanto é para servir comoum ponto de referência no tempo para ;i missão mundial final que deve
levar uma mensagem única para toda nação, tribo e língua (Ap. 10:11;
14:6). Discutiremos mais sobre isso 110 capítulo 3.
Descobrindo a Mensagem Profética que Deve Ser Proclamada a Todo o Mundo
Precisamos voltar às ruínas do milerismo. Da condição caótica do milerismo pósdesapontamento, surgiram três movimentos diferentes. O pri-
meiro surgiu na primavera de 1845 e seus adeptos proclamavam que a in-
terpretação profética de Daniel 8:14 estava certa tanto em relação à data
quanto ao evento esperado. Afirmavam que Jesus realmente havia volta-
do em outubro de 1844, mas não fisicamente nas nuvens do céu. Ele ha-
via entrado espiritualmente no coração dos fiéis. Diante disso, começa-
ram a colocar em dúvida a literalidade da Bíblia.
Grande variedade de fanatismos surgiu entre esses “espiritualistas”. Al-
guns deles afirmavam que, quando o reino chegasse, os verdadeiros fiéis
passariam a agir como criancinhas. Assim, muitos começaram a imitar
crianças. Abandonaram os talheres, comiam com as mãos e engatinhavam
pela cidade para provar que realmente faziam parte do reino. Havia tam-
bém os adventistas que rejeitavam0
trabalho. Criam que estavam no sé-timo milênio e, por isso, era pecado trabalhar. Outra facção afirmava que,
por já fazerem parte do reino, eralhes impossível pecar. Assim, uniam
se com maridos e esposas espirituais, com resultados bem mundanos.
O fanatismo estava à solta. E, se havia algo que Guilherme Miller
e Josué Himes detestavam e temiam acima de tudo, era o fanatismo.
Como resultado, reagiram aos espiritualistas fanáticos tomando uma po-
sição alternativa quanto ao cumprimento da profecia de outubro de 1844.
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4 0 A VISÃO APOCALÍPTICA
Assumiram que haviam se enganado quanto à data, mas não quanto ao
evento. Ou seja, criam que nenhuma profecia havia se cumprido naque-
la data, mas que Daniel 8:14 realmente se referia ao fim do mundo. Mui-
tos dos que partilharam dessa posição continuaram a estabelecer novas
datas, mas, quanto mais datas estabeleciam, mas desapontados ficavam.
Esse grupo contava com aproximadamente 50 mil membros no verão de
1845. Porém, após repetidas interpretações frustradas, a compreensão
profética de Miller passou a ser desconsiderada.
Houve uma terceira posição em relação ao cumprimento profético de
outubro de 1844, mas não contava com nenhum adepto em 1845 e 1846.
O que encontramos são indivíduos profundamente comprometidos com
o estudo da Bíblia à luz de sua experiência milerita. Esses dedicados es-
tudantes da Palavra de Deus finalmente concluíram que a profecia real-
mente havia se cumprido cm outubro de 1844, mas que haviam se equivo-
cado quanto ao evento que ocorreu naquela data. Isto é, estavam corretos
quanto à data, mas errados quanto ao acontecimento.
Essa conclusão levou muitas pessoas a questionar a natureza do san-
tuário e sua purificação, mencionada em Daniel 8:14. Logo após o desa-
pontamento, começaram a se perguntar: “Sc estávamos certos quanto à
data, o que aconteceu entãor” Um desses indivíduos era O. R. L. Crosier,
que começou a publicar uma série de artigos a respeito do santuário no
início de 1845, indicando que, de acordo com o livro de Hebreus, há
um santuário no Céu e que a purificação do santuário não se dava pelofogo, mas pelo sangue de Cristo. No início de 1846, Crosier chegou à
compreensão das duas fases que compõem o ministério de Cristo, com
o início da segunda íase no Lugar Santíssimo do santuário celestial em
outubro de 1844.17
Crosier não foi o único a publicar descobertas a respeito da purifica-
ção do santuário celestial. Em abril de 1845, G. W. Peavey escreveu sobre
a segunda fase do ministério de Cristo no Lugar Santíssimo em relaçãoa outubro de 1844. Em agosto do mesmo ano, Peavey viu uma inter
relação entre Daniel 8:14, Hebreus 9:23, 24 e Levítico 16 e concluiu que o
Lugar Santíssimo do santuário celestial precisava ser purificado pelo san-
gue de Cristo no antítipo do Dia da Expiação. Além deles, houve também
Emily C. Clemons, que editou um periódico em 1845 intitulado Hope
W it hin t he Vei l [Esperança Por Trás do Véu].
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A VISÃO APOCALÍPTICA 4 ^
Assim, cm 1845 encontramos alguns adventistas relacionando 0 início da
segunda fase do ministério de Cristo no Lugar Santíssimo do santuário ce-
lestial à data de outubro de 1844. Um excapitão da marinha chamado JoséBates foi um dos primeiros a aceitar essa posição. Como resultado, Bates fi-
cou impressionado quando leu Apocalipse 11:19: “Abriuse, então, o santuário
de Deus, que se acha no Céu, e foi vista a arca da aliança no Seu santuário,
e sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e grande saraivada.”
Diante da nova compreensão dc Daniel 8:14 e do Lugar Santíssimo do san-
tuário celestial, Bates compreendeu a descrição apocalíptica da abertura do
segundo compartimento do santuário celestial no fim dos tempos.A atenção de Bates foi especialmente atraída para a arca da aliança,
levandoo a perguntar a razão de sua exposição
nesse período da história. Que importância te Os batistasria essa abertura? Obviamente, ele sabia o que uÍGJTl 0 sábado a arca continha. Suas perguntas o conduziram
a Apocalipse 12.
O capítulo 12 é um resumo histórico da igre- ja desde o tempo de Cristo até 0 fim dos tempos,
culminando com o conteúdo da arca no verso
17: “Irouse 0 dragão contra a mulher e foi pe-
lejar com os restantes da sua descendência, os
que guardam os mandamentos de Deus.” Dc re-
pente, Bates compreendeu que próximo ao fim
dos tempos, ocasião em que o segundo compar-
timento do santuário celestial seria aberto, os mandamentos de Deus se
tornariam um ponto de conflito, e o Senhor teria um povo que os guarda-
ria. Diante disso, José Bates começou a pregar a guarda de todos os man-
damentos de Deus no fim dos tempos como um cumprimento profético.
A ênfase na observância dos mandamentos não era tão singular em
meados do século 19 na Amcrica do Norte. A maioria das pessoas hon-rava e guardava nove dos Dez Mandamentos. Bates, porém, começou a
pregar que 0 sétimo dia, o sábado, também deveria ser observado.
Como Bates aprendeu a verdade sobre o sábado? Com os batistas do
sétimo dia. Os batistas do sétimo dia nunca foram um povo evangelis-
ta. Por exemplo, em 1840 essa denominação possuía aproximadamen-
te seis mil membros na América do Norte. Em 2000, esse número caiu
como 0 dia de
guarda corret o,
mas não o
compreendiam
em t ermos
profét i cos.
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4 2 A VISÃO APOCALÍPTICA
para 4.800. Ou seja, ao longo de 160 anos, houve uma redução de 20%.
Esse povo possuía a verdade sobre o sábado, mas nunca a levou para fora
de suas fileiras.
Houve, porém, um período em sua história em que esse povo se tor-
nou evangelista. Os registros da assembleia da Associação Geral dos Ba-
tistas do Sétimo Dia de 1841 e 1843 refletem discussões sobre a necessi-
dade de partilhar a compreensão que possuíam sobre o sábado com outros
cristãos. Nos dois anos que se seguiram, houve uma ação conjunta para
disseminar o ensinamento bíblico sobre o sábado.
Porém, ninguém lhes deu ouvidos. Ninguém, quer dizer, exceto algunsmileritas adventistas. Uma senhora batista do sétimo dia de maior relevância
a interagir com os mileritas foi Rachel Oakes. No início de 1844, alem de ter
aceitado a mensagem adventista, Rachel Oakes também partilhou sua cren-
ça no sábado com uma congregação adventista em Washington, New Hamp
shire. Vários membros dessa congregação passaram a observar o sétimo dia
na primavera de 1844. Essa congregação de Washington aparentemente in-
fluenciou Thomas M. Preble, pastor milerita de uma igreja batista indepen-dente. Preble começou a guardar o sábado em agosto de 1844.
O sábado gerou tanta discussão no meio adventista que, em setembro
de 1844, foram publicados dois longos artigos no periódico adventista de
maior importância na época sobre o “problema”. A solução foi bastante
simples: “Vamos manter silêncio sobre esse assunto. Estaremos no Céu
no mês que vem e Deus, então, restabelecerá a identidade do sábado.”
Eles, no entanto, não foram para o Céu. Assim, em 28 fevereiro de 1845,Preble publicou um artigo enérgico a respeito do sábado no periódico Hnpe
oj Israel [Esperança de Israel]. Logo se seguiu um panfleto de doze páginas
intitulado A Tract , Show i ng That t he Sevent h Day Shoul d Be Ohserv ed as
t he Sabbat h, l nst eadòf t he Fi rst Day; “Accordi ng to t he Commandment " [Um
Tratado Mostrando que o Sétimo Dia Deve Ser Observado como o Sábado,
em Vez do Primeiro Dia; “De Acordo com o Mandamento’ ].
Bates estudou o material de Preble no início de 1845 e viajou para Wa-shington, New Hampshire, local em que se encontrou com alguns guar-
dadores do sábado. Bates voltou para casa empolgado. Foi nessa ocasião
que se encontrou com James Madison Monroe Hall na ponte que ligava
Fairview a New Bedford, em Massachusetts. Hall cometeu o equívoco de
perguntar a Bates quais eram as novidades.
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A VISÃO APOCALÍPTICA 4 3
A essa altura, é importante conhecer mais sobre 0 grande entusias-
mo de Bates com relação à questão do sábado. S. N. Haskell relatou que
Bates passou dez dias em sua casa no início da década de 1850. Além depregar toda noite sobre 0 sábado, Bates também conduziu um estudo bí-
blico sobre o assunto na casa de Haskell que começava desde que acor-
davam ao amanhecer até a hora de retiraremse para dormir à noite, com
intervalos apenas para as refeições e para 0 sermão de Bates. Ao fim dos
dez dias, Haskell tornouse observador do sétimo dia.
Bem, não sabemos quanto tempo Bates segurou James Madison Mon
roe Hall naquela ponte, mas o que sabemos é que, no momento em queHall finalmente conseguiu ir embora, era um observador do sábado. Em
gratidão, Hall colocou o nome de José Bates Hall em seu único filho.
Bates, no entanto, nem sempre foi tão bemsucedido. Em agosto dc
1846, por exemplo, encontrouse com um jovem pregador da Conexão
Cristã acompanhado de sua namorada e deulhes um de seus famosos
estudos bíblicos contundentes sobre o sábado. Mas Tiago White e Ellen
Harmon rejeitaram a mensagem. Mais tarde, Ellen escreveu que Bates
sabia falar apenas sobre o sábado, como se os outros nove mandamen- • I <-)tos nao existissem.
Em agosto de 1846, ocorreram mais dois outros eventos. Tiago e Ellen
casaramse e Bates escreveu um pequeno livro chamado T he Sevent h
Day Sabhath, a Perpet uai Si gn 10 Sábado do Sétimo Dia, um Sinal Per-
pétuo]. Não é de surpreender que a primeira edição do livro apresentas-se uma visão característica dos batistas do sétimo dia, em vez da com-
preensão adventista do sétimo dia que se formou mais tarde. Os batistas
viam o sábado como o dia de guarda correto, mas não o compreendiam
em temos proféticos.
No outono de 1846, os recémcasados leram o iivro The Sevent h Day
Sabhath e aceitaram os argumentos de Bates. Mais tarde, no mesmo ano,
Bates viajou para a região oeste do estado de Nova York para encontrarse com Crosier e os outros estudiosos da teologia do santuário.
Aparentemente as discussões em Nova York e com 0 casal W hite aju-
daram Bates a compreender a plena importância do sábado no contex-
to do livro de Apocalipse. Como resultado, em janeiro de 1847, ele pu-
blicou uma nova edição do livro T he Sevent h Day Sabhath, a Perpet uai
Sign, que foi acrescido de 14 páginas.20 Essas páginas apresentavam
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44 A VISÃO APOCALÍPTICA
uma revolução na compreensão sobre a importância do sábado. Bates
havia mudado da teologia batista do sétimo dia para a posição adventis-
ta do sétimo dia.A nova compreensão que possuía, estava fundamentada em Apocalipse
12:17. Englobava não apenas o reconhecimento da importância dos man-
damentos no fim dos tempos, mas também a indicação de que surgiria
um conflito relacionado à observância dos mandamentos próximo ao des-
fecho da história do mundo. De maneira significativa, a edição de 1847
ofereceu uma visão além de Apocalipse 12:17, apresentando um profundo
estudo dos capítulos 13 e 14, que falam sobre o poder do dragão e a mu-lher ou igreja no tempo do fim. Assim, através do estudo da Bíblia, Bates
desenvolveu a teologia do grande conflito. A maioria provavelmente pen-
sa que essa teologia partiu de Ellen White. Estão enganados. Em janei-
ro de 1847, José Bates já havia juntado todas as peças do quebracabeças.
Para ele, foi especialmente importante o capítulo 14 de Apocalipse. No
verso 6, leu: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho
eterno para pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tri-
bo, e língua, e povo.” Aqui ouvimos um eco dc Apocalipse 10:11, que nos
diz que, após a experiência doce e depois amarga da abertura do pequeno
livro de Daniel, surgiria outra mensagem a ser proclamada ao mundo in-
teiro. Encontramos essa mensagem no capítulo 14.
Bates começou a unir as peças. De Apocalipse 14:6, prosseguiu para o
verso 7, em que leu: “Dizendo, em grande voz: Temei a Deus e daiLhe glória,pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a Terra,
e o mar, e as fontes das águas.” A última parte desse verso chamou especial-
mente a atenção de Bates. Ali viu uma referência clara ao quarto mandamen-
to de Exodo 20:811, em que a base lógica para o mandamento de guardar o
sétimo dia é revelada na frase: “Porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e
a Terra, o mar e tudo o que neles há” (verso 11; ver também Gn 2:13). Com
isso, Bates percebeu que o ponto de conflito nos últimos dias não seria so-mente a guarda dos mandamentos de Deus (Ap 12:17; 14:12), mas especial-
mente o quarto mandamento, enfatizado pela primeira mensagem angélica.
Mais importante ainda em Apocalipse 14:7 é a questão da adoração.
Adoração é a palavra ou conceitochave de Apocalipse 13 e 14, aparecen-
do no mínimo oito vezes. Apesar de o verso 7 nos dizer que alguns adora-
rão o Deus Criador do sábado de Gênesis 2 e Exodo 20, o verso 9 aponta
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A VISÃO APOCALÍPTICA 4 5
que outros adorarão “a besta e a sua imagem”. Todo mundo terá tomado
a decisão de adorar alguém no fim dos tempos. Bates viu isso claramente
à medida que desenvolvia sua compreensão sobre assuntos como o selo
de Deus e a marca da besta.
Aqui precisamos notar mais uma vez que a teologia do grande con-
flito (que ensina que ao final da história deste mundo haverá guerra no
Céu sobre os mandamentos de Deus) não se trata de uma aberração teo-
lógica adventista do sétimo dia introduzida por Ellen White. Ao contrá-
rio, essa teologia fundamentase na Bíblia, e não podemos resolver nos-
sos problemas sobre o assunto rejeitando os escritos de Ellen White por
possuírem uma perspectiva do século 19. Não, para isso, teremos que re-
je itara própria Bíblia. Em 1847, Bates desenvol-
veu a teologia do grande conflito com base na
Palavra de Deus, sem o benefício do dom pro-
fético de Ellen White. A primeira declaração
de Ellen White sobre o assunto foi feita ape-
nas quatro meses depois que ele publicou seu
estudo, ocasião em que teve uma visão confir-
mando a teologia do grande conflito desenvol-
vida por Bates.21
Juntamente com Apocalipse 14:7 e a ordem
de adorar 0 Deus criador, Bates leu a segunda
mensagem angélica no verso 8: “Caiu, caiu a
grande Babilônia." Ou seja, aqueles que mistu-
raram a Palavra de Deus com as palavras de homens.
Em seguida, ele prosseguiu para os versos 9 a 12, que de fato traçam
um contraste entre os adoradores da besta (verso 9) e aqueles que pos-
suem a perseverança dos santos e “guardam os mandamentos de Deus e
a fé em Jesus” (verso 12).
Seguindo à terceira mensagem angélica registrada nos versos 9 a 12, o
verso 13 oferece aos leitores uma recapitulação do capítulo 13 e a descri-
ção do conflito final entre aqueles que se submeterem ao poder da besta
e os adoradores de Deus. Finalmente, os versos 14 a 20 falam da volta de
Cristo nas nuvens do céu para ceifar a Terra.
Em janeiro de 1847, Bates reconheceu claramente que, nos últi-
mos dias. Deus teria um povo que pregaria as três mensagens angélicas.
Adoraçao e
a pal av ra ou
conceitochave
de Apocal i pse
13 e 14.
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4 6 A VISÃO APOCALÍPTICA
Concluiu que o adventismo sabatista em desenvolvimento se tratava de
um movimento profético.
Dessa forma, em 1848, os que se tornavam adventistas guardado-res do sábado aceitavam uma mensagem que lhes empolgava e lhes ins-
pirava o senso de evangelismo e, assim, começouse a formar um povo.
Os resultados foram surpreendentes. Entre o fim de 1848 e o início de
1853, o movimento formado por 100 membros aumentou rapidamente
para 2.500 membros. Isso que é crescimento! Eles possuíam uma men-
sagem e sabiam disso.
Nas décadas seguintes, eles pregaram essa mensagem com todo vigor.Mas lembrese de que viviam numa cultura amplamente cristã. Nesse
contexto, viam pouca necessidade de apresentar a graça aos batistas ou a
oração aos metodistas. Esses grupos já conheciam tais coisas. Então, de
que precisavam? Do conhecimento que não possuíam, como a verdade
sobre o sábado, o estado dos mortos e o santuário.
Como resultado, o evangelismo adventista concentrouse nas áreas dou-
trinárias em que a igreja diferia das outras denominações. Os evangelistasadventistas costumavam chegar a certa comunidade e desafiar o principal
pregador do local para um debate público sobre qual era o verdadeiro sá-
bado bíblico ou sobre o que acontece após a morte. Num mundo destituí-
do de entretenimento, não era difícil atrair a multidão por meio dessa tá-
tica. Afinal, o melhor show na cidade seria o debate dos dois pregadores.
Após 40 anos pregando assim, chegamos a dois resultados. Primei-
ro, geralmente conquistávamos a vitória nas batalhas, pois a Bíblia es-tava ao nosso lado. Segundo, surgiram muitos adventistas inclinados à
discussão. Na década de 1880, descobrimos que, além de termos nos tor-
nado peritos em debater com outras pessoas, também podíamos deba-
ter entre nós mesmos.
Tornando Cristão o Adventismo
Após 40 anos pregando sobre aquilo que nos diferia das outras deno-minações (definitivamente uma forma de pregação apocalíptica da bes-
ta), chegamos a uma separação entre o adventismo e a cristandade em
geral. Chegara o momento para uma reforma. Essa reforma começou a
ser colocada em prática na assembleia da Associação Geral de 1888 em
Mineápolis, Minnesota. A assembleia concentrouse em um único texto:
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A VISÃO APOCALÍPTICA 4 7
"Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos
dc Deus e a fé de Jesus” (Ap 14:12).
As duas posições da discussão de 1888 concentraram a atenção emaspectos diferentes desse texto fundamental da história adventista. Dois
líderes da Associação Geral, G. 1. Butler e Uriah Smith, enfocaram a par-
te relativa à guarda dos mandamentos. Para eles, esse era o assunto mais
importante do adventismo.
Km defesa dessa posição, contavam com o apoio de intérpretes de
peso. 'l iago White havia estabelecido a compreensão tradicional adven-
tista de Apocalipse 14:12 em 1850, ao ver as três fases do texto cm ques-tão. O povo de Deus do tempo do fim estaria:
(1) pacientemente aguardando a volta de Cristo;
(2) guardando todos os mandamentos de Deus;
(3) guardando a fé de Jesus, que, para l iago White, incluía práticas
como o batismo e a Ceia do Senhor.22
Essa foi a interpretação principal de Apocalipse 14:12 até 1888. Nas
duas últimas partes do texto, os primeiros adventistas encontravam coi-sas a serem feitas. Assim, J. N. Andrews pôde enfatizar que “a fé de
Jesus [...] é considerada como sendo observada da mesma maneira que
são observados os mandamentos de Deus”. Para Andrews, era importan-
te guardar tanto os mandamentos de Deus quanto os mandamentos de
Jesus.23 Da mesma forma, R. F. Cottrell escreveu que a fé de Jesus “é
algo para ser obedecido ou guardado. Concluímos, portanto, que tudo o
que nos é requerido fazer a fim de sermos salvos do pecado pertence à
fé de Jesus”.24 Não é preciso dizer que, ao seguir essa lógica, 0 adventis-
mo tornouse muito legalista. Baseandose claramente na visão de José
Bates, havia uma forte crença de que as pessoas eram salvas por meio
da obediência aos mandamentos.
Foi nesse contexto que dois jovens que possuíam uma compreensão
diferente de Apocalipse 14:12 se levantaram. A. T. Jones e E. J. Waggonerdefenderam que a última parte do verso significava “fé em Jesus”, que é
uma tradução válida do texto original.
A pessoa mais esclarecida a respeito da nova perspectiva foi Ellen White.
A mensagem proclamada em Mineápolis, afirmou ela, "não foi apenas
com relação aos mandamentos de Deus (uma parte da terceira mensa-
gem angélica), mas à fé de Jesus, que compreende muito mais do que
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4 8 A VISÃO APOCALÍPTICA
geralmente se supõe”. A terceira mensagem angélica precisa “ser proclama-
da completamente. [...] Se proclamarmos os mandamentos de Deus e mal
tocarmos na outra metade, a mensagem será deturpada em nossas mãos”.25
Logo após as reuniões de Mineápolis, Ellen White fez uma dc suas
declarações mais poderosas a respeito de Apocalipse 14:12. “A mensa-
gem do terceiro anjo”, escreveu ela, "é a proclamação dos mandamen-
tos de Deus e da fé de Jesus Cristo. Os mandamentos de Deus têm sido
proclamados, mas a fé dc Jesus Cristo não tem sido proclamada pelos
adventistas do sétimo dia como de igual importância, a lei e o evangelho
andando dc mãos dadas”. Ela, então, prosseguiu argumentando sobre o
significado da fé de Jesus, que “é debatida, mas não compreendida”. A fé
de Jesus, afirmou, é “o ato de Jesus Se tornar o portador de nossos peca-
dos para que pudesse Se tornar o Salvador que perdoa nossos pecados’ .26
O adventismo foi rebatizado em Mineápolis em 1888, à medida que
os membros começaram a enxergar Jesus e a fé no Salvador como a men-
sagem fundamental da denominação. Juntamente com essa linha de pen-
samento, Ellen White disse aos delegados da assembleia da Associação
Geral de 1888: “Queremos a verdade como se encontra em Jesus. [...]
Vi que almas preciosas que teriam abraçado a verdade afastaramse dela
pela maneira com que a verdade tem sido conduzida, pois Jesus não Se
encontra nela. E é por essa razão que tenho pleiteado com vocês o tem-
po todo queremos Jesus.”27 Novamente, “minha preocupação durante
a reunião era apresentar Jesus e Seu amor perante meus irmãos, pois eu
via claras evidências de que muitos não tinham o espírito de Cristo' .28Com eçando em 1888, o adventismo recobrou uma mensagem equili-
brada. Como resultado, Ellen White pôde declarar que finalmente tínha-
mos a mensagem do alto clamor.29 Aqui estava um povo que aguardava a
volta de Jesus. Enquanto aguardavam pacientemente, obedeciam sincera-
mente aos mandamentos de Deus e mantinham a fé salvadora em Jesus.
Em conclusão, preciso reiterar que os fundadores do adventismo des-
cobriram o significado do movimento no contexto profético de Apocalipse14, com sua clareza progressiva, indo da primeira mensagem angélica à
segunda, à terceira e ao clímax escatológico. Reconheceramse como um
povo escolhido, com uma mensagem especial para o tempo do fim para
ser apresentada ao mundo inteiro. Foi essa compreensão profética que re-
vestiu de poder o movimento adventista e o tornou uma força dinâmica.
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A VISÃO APOCALÍPTICA
Estabelecendo as Prioridades
Tendo dito isso, preciso também enfatizar que possuir senso do cha-
mado profético não é. suficiente para ser um povo que Deus possa aben-çoar. Alguns adventistas perderam o foco, confundindo crenças e práti-
cas externas do cristianismo com a religião verdadeira. Há, por exemplo,
grande diferença entre guardar o sábado semanal e observar o sábado bí-
blico. Uma pessoa pode guardar o sábado porque é o dia correto, mas es-
tar totalmente perdida, pois somente poderá observar o sábado bíblico com
Jesus em seu coração. A ênfase na adoração em Apocalipse 14:7 sugere
que a questão é muito mais profunda do que o dia que a pessoa guarda.A questão é se realmente temos um relacionamento salvador com Deus.
O que precisamos é de um relacionamento capaz de transformar nosso co-
ração, e não simplesmente de doutrinas corretas
e a prática de um bom estilo de vida. Deus de-
seja um povo que O ame e O sirva de coração.
Há alguns anos, fiz uma pregação numa igreja
em Ohio sobre meu texto predileto (João 13:35),que diz: “Nisto conhecerão todos que sois Meus
discípulos: se guardares o sábado.’’ Amo essa pas-
sagem bíblica.
Após o sermão, um membro recémconverso
aproximouse de mim e disse: "Pastor Knight,
não consigo encontrar essa passagem em minha
Bíblia.” Ele procurava indubitavelmente a pro-
va bíblica perfeita para mostrar à sua família.
“Irmão”, respondi, “você não ouviu atentamente.” Em seguida, repeti
as palavras que realmente são encontradas em João 13:35: “Nisto todos
conhecerão que sois Meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”
E aqui que se encontra a ação. O cristianismo dinâmico está em tornar
se cada vez mais semelhante ao Deus que é amor (IJo 4:8). Guardare-mos verdadeiramente os mandamentos de Deus somente quando nossas
ações fluírem de um coração repleto de amor a Deus e ao próximo. Sem
esse amor, apenas encenaremos a guarda dos mandamentos que está re-
lacionada à fé de Jesus. A ausência dessa força motivadora tão importan-
te é a razão de algumas pessoas guardarem o dia certo, comerem os ali-
mentos certos, mas serem tão cruéis quanto o próprio inimigo.
bem amor,
apenas
encenaremos
a guarda dos
mandamentos
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5 0 A VISÃO APOCALÍPTICA
Alguns adventistas pensam que nós temos “a verdade”. Fico surpreso
sempre que vou a certas igrejas. Certa vez, entrei numa igreja adventista
e ninguém me cumprimentou. Eu não quis fazer ninguém se sentir mal;
assim, não disse nada também. Apenas entrei e sentei. Havia apenas uma
coisa que não sabiam que eu era o pregador naquele dia.
As 11 h05 pude sentir que algo não estava bem. Finalmente, alguém
bateu em meu ombro e perguntou se eu era o pregador. Adivinhou bem,
mas não foi muito difícil, pois eu era o único visitante.
Assim, levanteime para pregar. No meio do sermão, fiz uma pausa e
depois perguntei: “Se você não fosse adventista e viesse visitar esta igre- ja, voltaria a segunda vez?” Disselhes, então, a verdade: “Eu não volta-
ria, e sou adventista.”
A questão é: se tudo o que temos são os mandamentos de Deus c a
paciência dos santos, não temos nada. Não estamos parcialmente perdi-
dos; estamos totalmente perdidos.
Deus quer que tenhamos a fé de Jesus. No momento em que desco-
brimos que somos salvos pela graça, não podemos ser orgulhosos e des-tituídos de amor. Ao meditar em Efésios 2:8, 9 (“Porque pela graça sois
salvos, mediante a fé; [...] não de obras, para que ninguém se glorie”),
D. L. Moody certa vez observou que, “se alguém pudesse chegar ao Céu por
causa de alguma coisa que tenha feito, nunca saberíamos o final dessa his-
tória”. O fato de sermos salvos pela graça nos torna humildes e nos suaviza.
Creio que Deus tem uma mensagem. Em 1888, alguns adventistas
montaram o quebracabeças: aqui está um povo aguardando pacientemen-te a volta de Jesus e, enquanto espera, guarda os mandamentos de Deus
e mantém a fé salvadora em Jesus. Tal adventismo contextualizase num
relacionamento vibrante com Jesus como Senhor e Salvador.
Deus deseja que sejamos equilibrados em nossa mensagem apocalíp-
tica. A verdade com “v” minúsculo verdade doutrinária é importan-
te, mas apenas se estiver imersa na verdade com “V ” maiúsculo Jesus
Cristo crucificado, ressurreto e que em breve voltará nas nuvens do céu.
1 Ver LeRoy Edwin Froom, The Prophetic Faith ofOtir Fathers: The Historical Development of Prophetic Interpretation (Hagerstown: Review and Heraid, 1982), v. 3. p. 270, 27J.
2 Para conhecer melhor a vida de Guilherme Miller e o surgimento do adventismoj veja George
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A VISÃO APOCALÍPTICA 5 ^
R. Knight, M illenia l Fever and the End o f th e World: A Stndy o f M illerite Adventism (Boise:Pacific Press, 1993).
3 William Miller, Wm. M illers Apology and D efence (Boston: j. V. Himes, 1845), p. 4, 5.
4 Froom, v. 4, p. 404.
■ William Miller, Letter to Joshua V. Himes, on the Cleansing of the Sanctuary (Boston: JoshuaV. Himes, 1842).
6 Miller, Apology a nd Defen ce , p. 12.
Ibid., p. 1517.
s Ibid., p. 18.
9 William Miller, "Chronological Chart of the World”, Signs oft h e lim es, 1° de maio de 1841.
10 Samuel S. Snow, em The True Midnight Cry, 22 de agosto de 1844; William Miller, “LetterFrom Wm. Miller”, Signs ofthe Times, 17 de maio dc 1843, p. 85.
11 William Miller, "Brother Millers Letler, on the Sevenlh Month”, The Midnight Cry, 12 deoutubro de 1844, p. 121.
12 Ibid. (itálico acrescentado).
13 Josias Litch para William Miller e Josué V. 1limes, 24 de outubro de 1844.
14 Hiram Edson, fragmento de manuscrito não publicado. I 'ste documento e muitos outros emnotas deste capítulo foram publicados em George R. Knight, comp. e ed., 1844 and the fíise o f Sahbatarian Adventism (Hagerstown: Revievv and Herald, 1994).
15 James White, Life lncidents (Battle Creek: Seventhday Adventist Publishing Association,1868), p. 182.
16 Sobre o surgimento dos vários momentos pósdesapontamento, consultar Knight, Millennial Fever, p. 245325.
1 Para um relato mais completo sobre o surgimento da teologia adventista sabatista, consultarMerlin D. Burt, "The Historical Baekground, Interconnected Development, and SabbatarianAdventism From 1844 to 1849” (tese de PhD, Andrews University, 2002). Para uma versãoresumida do assunto, ver George R. Knight, Em Busca de Identidade: O Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas do Sétimo D ia (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005).
18 Para saber mais sobre a grande contribuição de José Bates ao desenvolvimento da teologiaadventista do sétimo dia, consultar George R. Knight, jo seph Bates: T he Real Fou nder o f Seventh-day Adventism (Hagerstown: Review and Herald, 2004), p. 107151.
19 Ellen G. White, Spiritual Gifts (Battle Creek: James White, 1860), v. 2, p. 82.
20 Joseph Bates, The Seventh-day Sabhath, a Perpetuai Sign, 2a ed. (New Bedford: BenjaminLindsey, 1847). Ver p. iii, iv e 49 6 0 para as principais informações acrescentadas após asdiscussões de 1846.
21 Ellen G. White para José Bates, 7 de abril de 1847, em James White , ed., A Word to the “Littl e Flock” (s.l.: James White, 1847), p. 1820.
22 James W hite, “Th e Third Angels Message”, Present Truth, abril de 1850, p. 66, 67.23 John N. Andrews, T he Three Messages o f Revelation XIV, 6-12, 5a ed. (Battle Creek: Review
and Herald, 1886), p. 135, 129.
24 R. F. Cottrell, Th e Bib le Class: Lessons Upon the Law of God, an dthe F aith of Jesus (Rochester:Advent Review, 1855), p. 62, 124.
25 Ellen G. White, “Experiences Following the 1888 Minneapolis Conference”, manuscrito 30,1889 (final de junho de 1889). Para uma visão geral das implicações teológicas da assembleiada Associação Geral de 1888, consultar George R. Knight, A User-Friendly Guide to the 1888
Message (Hagerstown: Review and Herald, 1998).
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5 2 A VISÃO APOCALÍPTICA
26 Ellen C. White, Mensagens Escolhidas (Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1980), v. 3,p. 172.
27 Ellen G. White, “Looking Back at Minneapolis”, manuscrito 24, novembro de 1888.
28 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1980), v. 3,p. 171.
29 Ellen G. White, “The Perils and Privileges of the Last Days”, Review and Herald, 22 denovembro de 1892, p. 722.
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Capítulo 3
A
Relevância do Adventismo
Mas não se esqueça das bestas
----------------------- (inclusive as modernas) e meu problema com a visão apocalíptica
Certa vez, conheci um estudante da Bíblia que, baseado em seu co-
nhecimento esotérico e em seu vasto conhecimento de grego, hebraico,
aramaico, ugarítico, urdu e hieróglifos egípcios, tudo filtrado pela teolo-
gia sistemática de Paul Tillich e a filosofia existencial de JeanPaul Sartre,
além de enriquecido pelos pensamentos pósmodernos, concluiu que po-
dia provar sem deixar a menor sombra de dúvida que (1) nada significa
nada e que (2) pessoas sabidas e sofisticadas não possuem convicções só-
lidas a menos que as relacionem com a subjetividade e a incerteza.
Para mim, tudo isso provou algo que eu já desconfiava: que não sou
sabido nem sofisticado.
A Importância da Visão Geral
Devido à minha natureza não sofisticada, muitas discussões teológi-
cas me parecem divertidas, mas não necessariamente significativas. Per
mitame ilustrar. Da forma como vejo, a maioria das batalhas teológicas é
travada entre os ramos e as folhas do que podemos chamar de árvore teo-
lógica, com uma pessoa defendendo a posição de certa ramificação “x” e
outra defendendo uma teoria variante. Essa ginástica mental geralmenteme deixa um tanto perplexo, se não desequilibrado ou zonzo.
A fim de encontrar algum alívio, desenvolvi a medida de autodefesa
baseada no bom senso de averiguar se a árvore possui um tronco e se as
folhas estão ligadas ao tronco de modo significativo. Esse pequeno exer-
cício me dá uma visão geral e me liberta de muitas argumentações teo-
lógicas interessantes, mas sem nenhuma pertinência especial.
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5 4 A VISÃO APOCALÍPTICA
Em outras palavras, gosto de ter uma visão geral das coisas. Minha
abordagem é olhar para o tronco e o formato geral da árvore teológica.
Simplificando ainda mais, orgulhome do fato de que consigo identificaruma árvore ao avistála.
Este capítulo analisará a visão geral das profecias dos livros de Daniel e
Apocalipse que fizeram do adventismo um movimento vibrante. O primei-
ro capítulo concentrouse no fato de que o livro de Apocalipse centraliza
se em Cristo como o Cordeiro imolado e o vitorioso Leão da tribo de Judá.
Os dois símbolos juntos formam o coração do evangelho Cristo morreu
por nossos pecados, ressuscitou, possui as chaves da sepultura c um diavoltará para dar fim ao pecado e ao sofrimento. Se retirarmos qualquer
aspecto dessa visão, esterilizaremos a mensagem adventista/cristã. Como
observamos, o Cordeiro sem o Leão é um evangelho parcial.
No segundo capítulo, examinamos o surgimento do movimento ad-
ventista e a maneira como sc relacionou com a visão apocalíptica. Desco-
brimos que os pioneiros adventistas possuíam uma visão geral e uniram
as peças do quebracabeças teológico, sendo a força de sua lógica jus-tamente o que levou a mensagem adventista a todos os cantos da Terra.
Neste capítulo, queremos averiguar se a compreensão apocalíptica ad-
ventista do início do movimento ainda é válida e relevante no século 21.
Devo admitir que fiquei amedrontado pelo desafio deste capítulo e de
como dizer o que precisa ser dito em tão pouco espaço. Afinal, durante
os últimos trinta anos, temos visto a visão apocalíptica desmantelarse
através dc discussões entre estudiosos e reações defensivas. E testemu-
nhamos um desfile sem fim de excêntricos apocalípticos cuja preocupa-
ção especial é provar algo singular ou no mínimo estranho por meio das
palavras encontradas no livro de Apocalipse. Para não dizer nada, senti
me no mínimo desafiado.
Minha primeira reunião com certo intelectual adventista não aliviou
em nada a insegurança que eu sentia. Depois de falar um pouco sobre oadventismo, ele ponderou em voz alta como alguém inteligente como eu
podia acreditar em toda essa baboseira. Respondi insinuando que não
entendia por que alguém tão inteligente quanto ele permanecia no ad-ventismo se não cria em tudo aquilo.
Ainda partilho dessa convicção. Para ser franco o bastante, se a vi-
são geral apocalíptica adventista não mais é válida, o mais sensato seria
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO
levantar acampamento, voltar para casa e fazer algo importante na vida.
Se a visão geral do movimento adventista carece de significado, eu gos-
taria de sugerir que o título para a próxima geração de PhDs cm estudosadventistas seja “Curadores de Antiguidades Adventistas para Aqueles
que Ainda Possuem Alguma Razão para se Importar".
A maior ameaça do adventismo atual é perder sua compreensão da vi-
são apocalíptica responsável por nos tornar um povo singular e vital. Os
primeiros adventistas liam Apocalipse 14:6, a proclamação do evangelho
eterno a “toda nação, e tribo, e língua, e povo”, e concluíam que haviam
recebido o chamado de Deus para levar as três mensagens angélicas deApocalipse 14:612 ao mundo inteiro em preparação para o advento re-
tratado imediatamente após essas mensagens (versos 1420).
A compreensão dessa visão apocalíptica literalmente levou os mem-
bros da igreja a sacrificar a vida e os recursos para disseminar o que cos-
tumavam chamar de “mensagem”. Como ressaltei, a família de minha es-
posa foi inspirada pela "mensagem” e pela “missão”. O bisavô de minha
esposa curiosamente chamavase James Bond. Não, ele não foi o verda-deiro James Bond, mas, depois de ser pai de doze filhos, tornouse uma
figura igualmente heróica. Praticamente todos os filhos ingressaram na
“obra”. Um deles faleceu em terra estrangeira e os outros sofreram per-
seguição por causa da mensagem adventista.
Tamanha dedicação não ocorre por acaso. E preciso convicção para
motivar a ação banhada em sacrifício a convicção de que o movimen-
to adventista tem uma mensagem que, além de ser verdadeira e impor-tante, precisa ser proclamada ao mundo inteiro em preparação para o se-
gundo advento de Cristo.
Em 1888, um repórter do Journal de Mineápolis retratou a centrali
dade do impacto da “arrogância” da visão adventista. Ele escreveu que,
ao aplicarem Apocalipse 14:12 a si mesmos, os adventistas o faziam ou
por egoísmo fanático ou por fé sublime. Particularmente, creio que tenha
sido a fé sublime que os motivou à ação e ao sacrifício. No início da dé-cada de 1890, o povo adventista estava trabalhando a todo vapor.
Entretanto, como mencionei no capítulo 1, o adventismo desenvolvido
nos setores mundiais no início do século 21 foi “domesticado”, para não di-
zer “castrado”. Temos alcançado tanto sucesso em dizer que somos iguais
aos evangélicos (com exceção do sábado e alguns outros detalhes) que nos
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56 A VISÃO APOCALÍPTICA
esquecemos de quem somos, daquilo que nos torna singulares e daquilo
cjue traz sentido à nossa existência. Isso explica a redução entre os membros
nascidos na America do Norte em todos os quatro maiores grupos da popu-
lação da Divisão NorteAmericana (o mesmo tem ocorrido na maioria das
outras nações desenvolvidas), como também o aumento da media da idade
dos membros. A idade média dos membros da Divisão NorteAmericana é
de 58 anos. Baseandose no fato de que outros segmentos étnicos da igre-
ja tendem a ter membros mais jovens, sem dúvida a média é ainda maior do
que 58 para a comunidade branca da divisão. Não podemos evitar o fato de
que uma igreja envelhecida pode se tornar uma igreja em processo dc morte.Não t emos nada que inspi re os j ov ens adul t os? Não temos nada que
não apenas os motive a permanecer na igreja, mas também a dedicar a
vida à causa do Senhor?
O que é necessário para inspirálos?
• Não o lato de que somos iguais a todos os outros, mas que o adven-
tismo existe por um propósito importante, que a Igreja Adventista do Sé-
timo Dia faz a diferença.• Os jovens são idealistas por natureza, mesmo diante de adultos
exaustos pelo tempo e pelas provações.
• Os jovens são entusiasmados pelas visões que dão sentido à vida. Isso
acorreu entre os fundadores do movimento adventista. O mesmo ocorreu
em minha vida no momento em que compreendi a visão apocalíptica e que
transformou minha indiferença e inutilidade hedonística em significado e
missão. Penso que isso ainda vale para os jovens de nossos dias.Mas, se eu fosse o diabo, tentaria os adventistas e seus pregadores a serem
bons evangélicos e a esquecerem coisas desagradáveis como a visão apocalíp-
tica. Se isso não funcionasse, eu os tentaria a fazer pregações apocalípticas
da besta que se concentrassem nos detalhes, no esoterismo e nos extremos.
Tentaria leválos a debater sobre o número 666 e a identidade dos 144 mil.
Se não fosse bemsucedido, tentaria fazer com que enfocassem a agitação
e o medo dos eventos apocalípticos. E, claro, semearia a dúvida a respeitoda validade da compreensão apocalíptica básica do movimento adventista.
Temos um inimigo muito esperto. Ele tem levado os adventistas e
seus pregadores a adotar uma visão apocalíptica desequilibrada em qua-
se todos os aspectos. No processo, tem muitas vezes feito com que este-
rilizemos a nós mesmos.
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO
Lembrando das Bestas
No capítulo l enfatizei a central idade de Cristo no livro de Apoca-lipse. O Leão semelhante ao Cordeiro é o elemento crucial. Ao mesmo
tempo, apontei que o adventismo tem sido vítima de excessivas prega-
ções apocalípticas da besta.
Mas o fato de termos sofrido com as pregações apocalípticas da besta
não significa que as bestas não sejam importantes ou que devamos evi-
tálas. Por quê? Porque a Palavra de Deus não as ignora. Na verdade, o
livros proféticos de Daniel e de Apocalipse estão repletos de bestas. Porisso, precisamos compreender sua natureza. O livro de Daniel nos será
de grande ajuda para entender esse assunto. Na
bucodonosor, por exemplo, viu a representação
dos impérios mundiais sob a perspectiva de um
governante. Para ele, tratavase de uma imagem
linda e preciosa. Mas, na ocasião em que Da-
niel viu os mesmos impérios no capítulo 7 soba perspectiva do povo de Deus, tratavamse de
bestas ferozes e perigosas que dilaceravam, ras-
gavam e destruíam. O livro de Apocalipse retra-
ta a mesma coisa nos capítulos 13 a 18. A profe-
cia apocalíptica está repleta de bestas.
A segunda razão pela qual não devemos nos
esquecer das bestas em nossos dias é porque
elas são relevantes. Mas nem todo mundo pensa assim. Há alguns anos,
fiz uma série de pregações sobre o adventismo e a visão apocalíptica em
certo país europeu. Após algumas reuniões, fui informado de que “as pes-
soas” (isto é, certos líderes e apenas algumas pessoas) não queriam ou-
vir falar sobre a visão apocalíptica, pois as bestas e todas aquelas “coi-
sas” são obsoletas.Será? Como um país governado por Hitler e por Stalin pode dizer que
as bestas são obsoletas? Os poderes da besta da profecia começaram na
Babilônia e na Pérsia, mas não pararam ali. Nenhum curdo que sofreu
ameaças sob as armas químicas de Saddam Hussein argumentou que as
bestas são irrelevantes. Lidaremos com as bestas até o fim da história
do mundo. Em outras palavras, vivemos num mundo repleto de bestas.
As bestas são relevant es.
As best as sao
rel evant es no sécul o 21 e
cont i nuarão
sendo atéo f i m .
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5 8 A VISÃO APOCALÍPTICA
Obviamente, nem todas as bestas apresentadas na profecia bíblica são
criaturas horrendas. Existem bestas semelhantes a cordeiros em nossos
dias, até mesmo algumas com a capacidade dc falar como um dragão.
Recordome muito bem de uma série de reuniões que dirigi na Suíça
para alunos universitários ao redor da Europa. Aquela era a primeira se-
mana da invasão mais recente ao Iraque e os alunos estavam agitados.
Que direito, perguntaramme, os Estados Unidos têm de invadir outras
nações sempre que desejarem?
Essa não foi uma pergunta muito confortável para um professor uni-versitário norteamericano. Minha resposta foi que a Bíblia apresenta
duas espécies de bestas (governos): bestas horríveis e bestas semelhan-
tes a cordeiros. A última espécie faz tudo em nome da democracia, do
bemestar e da justiça. Acontece que hoje o mundo possui apenas um su
perpoder que ninguém é capaz de combater uma besta aparentemente
bondosa, “cristã” e semelhante ao cordeiro. E quem pode resistir às suas
bombas inteligentes que conseguem identificar e exterminar até o abri-go subterrâneo mais remoto? Concluí minhas considerações ressaltan-
do que eu não tinha o conhecimento pleno da exegese ou implicações
dc Apocalipse 13, mas que podia ver com meus próprios olhos no mun-
do ao meu redor mais do que um tipo ou padrão de besta com implica-
ções presentes e futuras.
As bestas são relevantes no século 21 e continuarão sendo até o fim.
As bestas e o resultado de suas obras aparecem todos os dias na primei-ra página dos jornais e dos noticiários da televisão. Vivemos num mun-
do repleto dc bestas que não será “desbestificado” até que o Rei dos reis
e Senhor dos senhores apareça nas nuvens do céu.
Apesar de ser importante evitar a pregação apocalíptica da besta, é
fundamental não esquecer da atuação da besta no contexto do grande
conflito desde Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma até os nossos dias.
Em conexão com as bestas está a visão profética geral relacionada àscrenças distintivas do adventismo, como as implicações escatológicas do
sábado, do santuário, do estado dos mortos e assim por diante tudo isso
apresentado sob a perspectiva do Cristo redentor que é a essência da vi-
são apocalíptica de João. Portanto, o fato de “não deixar de lado as bes-
tas" envolve a pregação de toda a mensagem distintiva adventista no con-
texto apocalíptico centrado em Cristo.
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO
Muitos adventistas tomados pelo desejo de serem iguais aos demais
cristãos concluíram que não ajuda em nada pregar as doutrinas durante
o culto da igreja. O resultado é a ignorância crescente entre os membros
a respeito da razão de irem para a igreja. Certo pastor recentemente me
disse que sua mãe, que não é adventista, freqüenta regularmente a Igre-
ja Adventista mais próxima de sua casa há seis anos, mas ainda não tem
a menor ideia sobre o estado do homem após a morte. Há alguns meses,
preguei um sermão intitulado “Por Que Ser Adventista?” em minha igre-
ja local. Os ‘‘conversos' ainda estão saindo do esconderijo e vindo me di-zer que a mensagem os ajudou a encontrar o sentido da vida. A verdade
é que muitos, incluindo aqueles que foram criados na igreja, realmente
não fazem a menor ideia do motivo por que são adventistas e até mesmo
se isso faz qualquer diferença. Estimulado pela reação das pessoas, iniciei
uma série de mensagens cristocêntricas em minha congregação local, in-
cluindo temas como: “BoasNovas Sobre o Sábado”, “BoasNovas Sobre o
Santuário Celestial”, “O Julgamento E a BoaNova”, e assim por diante.Enfim, não é pecado pregar sobre a visão apocalíptica ou sobre dou-
trinas no sábado. Precisamos nos lembrar de que as verdades que atraí-
ram as pessoas ao adventismo renovam sua visão e revigoram a fé. Mas,
por favor, lembrese também de que, ao apresentarmos esses assuntos
sem relacionálos a Cristo ou ao amor de Deus, a mensagem tornase uma
pregação apocalíptica vazia e sem sentido da besta.
Outra maneira de bestificar e, assim, esterilizar a mensagem apoca-líptica é por meio do exagero e exaltação do conhecimento. Precisamos
evitar a tentação de sermos excessivamente específicos e dogmáticos a
respeito dos detalhes proféticos ou de sermos excessivamente triunfalis
tas. É importante lembrar que o cumprimento exato da profecia é visto
melhor após o evento e que cada geração de cristãos tem sido capaz de
encontrar esperança e conforto nos símbolos proféticos de Apocalipse.
Obviamente, no outro extremo da exaltação do conhecimento está a
ideia de sabermos pouco sobre a visão apocalíptica. Esse pensamento le-
vame à minha luta pessoal com a visão apocalíptica.
Meu Problema com a Visão Apocalíptica
Para, ser franco, não sei nem metade do que gostaria de saber sobre
o Apocalipse de João. Certamente, não “sei” tanto quanto sabia quando
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6 0 A VISÃO APOCALÍPTICA
comecei a cursar teologia, ocasião em que tinha todas as respostas. Desde
então, descobri que a jornada intelectual é como engatinhar num funil
do fim para o início. Quanto mais longe vou, pior íica. Quanto mais longe
vou, mais me dou conta do vasto banco de dados do conhecimento. As-
sim como muitos adventistas, cheguei à maturidade teológica após viajar
por um período de dúvidas a respeito da mensagem adventista e os en-
foques apocalípticos.
E interessante notar que a Igreja Adventista hoje possui os ministros
e membros leisos mais cultos e instruídos de sua história. No entanto,O ' muitos de nós temos medo de fazer qualquer afirmação, com exceção de
nossas dúvidas. Isso é considerado elegante. Afirmar as verdades distin-
tivas do adventismo, e especialmente relacionálas à profecia apocalípti-
ca, faz com que sejamos rotulados em muitos círculos como pessoas ir-
relevantes do século 19. “Vamos cair na real ” é a resposta.
Reconheço que alguns de nossos pregadores e membros leigos fa-
zem afirmações incorretas. Reconheço também que alguns de nós temossido lamentavelmente arrogantes em nossas interpretações e atitudes.
Mas a resposta não é jogar tudo fora e fingir que Daniel e Apocalipse
não existem como documentos proféticos ou que se preocupam prin-
cipalmente com a adoração ou justiça social. A visão apocalíptica de
João engloba esses assuntos, mas sua função principal é nos apresen-
tar o glorioso Jesus que exterminará a miséria e a injustiça quando vol-
tar para nos buscar.Neste capítulo, eu gostaria de listar os aspectos da profecia apocalíp-
tica que me preocupam. Gostaria de apresentar minhas próprias conclu-
sões e convicções. Não é preciso dizer que focalizarei a visão geral tanto
da profecia apocalíptica quanto da teologia adventista.
Antes de começar, quero enfatizar que o adventismo tem apenas um
problema teológico real: Jesus ainda não voltou. Esse problema, no en-
tanto, é uma locomotiva que puxa todos os outros vagões. A frustraçãoem relação a essa profecia tem fragmentado a visão apocalíptica em pra-
ticamente todos os aspectos.
Historicismo
Em nossa pesquisa sobre as questões apocalípticas, lidarei com os
pontos mais importantes. Para os iniciantes, tentei colocar em dúvida a
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO
estrutura profética historicista, que afirma que a profecia apocalíptica
começou na época do profeta e tem um cumprimento mais ou menos
contínuo até o fim. Por que não deveria duvidar desta posição? Afinal,
poucos eruditos não adventistas são historicistas hoje em dia. Como de-
monstra a pesquisa de doutorado do europeu Kai Arasola, a crise mi
lerita da década de 1840 determinou o fim do historicismo como uma
das principais escolas de interpretação profética.1A maioria dos estu-
dantes da profecia apocalíptica hoje é preterista (aqueles que afirmam
que a profecia se cumpriu no tempo do profeta), futurista (aqueles que
consideram o foco central da profecia apocalíptica como o curto perío-
do que antecede a volta de Jesus) ou se encontra entre aqueles que en-
tendem que a profecia não está relacionada ao
tempo. Diante da aparente demora de Cristo,
alguns intérpretes adventistas do Apocalipse D (\ y \ { q I 2abandonaram a visão historicista e adotaram
a visão preterista ou futurista. A prolongação n â o d e i x ü do tempo gerou um efeito corrosivo no pensa espCLÇO pCLTCLmento adventista. Posso compreender a razãodc tudo isso. ® preterismo,
Minha dúvida, porém, quanto ao histori f u t u r i s mo OU
cismo detevese na extraordinária profecia de
Daniel 2, que apresenta quatro reinos que go-
vernam o mundo bíblico desde Babilônia atéa queda do Império Romano e, em seguida,
apresenta o mundo dividido, cujas peças não poderão ser unidas por
ninguém até o fim dos tempos, ocasião em que Deus estabelecerá “um
reino que não será jamais destruído” e “esmiuçará e consumirá” todos
os reinos deste mundo (Dn 2:44).
É fácil diminuir a importância do poder de Daniel 2. Porém, a pre
dição apresentada nesse capítulo de quatro e apenas quatro (em vez decinco ou seis) sistemas políticos que culminam no antigo Império Ro-
mano (localizado no Oriente Médio e ao longo do Mar Mediterrâneo)
é notável, dado o número de conquistadores que tentaram reunificar as
nações. Nenhum deles foi capaz de fazer com que o ferro se unisse ao
barro (verso 43).
Por natureza, Daniel 2 não deixa espaço para o preterismo, futurismo
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6 2 A VISÃO APOCALÍPTICA
ou idealismo. Tratase de um capítulo puramente historicista, ocorrendo
desde a época de Daniel até o segundo advento. Mais importante ain-
da, Daniel 2 estabelece o modelo profético para as profecias de Daniel7, 8 ,9 e 10 a 12.
O historicismo já não é tão evidente no livro de Apocalipse. O capítu-
lo 12 de Apocalipse é aquele em que o historicismo aparece com maior
clareza. Esse capítulo menciona o período do nascimento de Cristo até
o tempo do fim, ocasião em que o dragão apresenta toda a sua ira contra
a mulher e sai para guerrear contra o resto de sua descendência, aqueles
que guardam os mandamentos de Deus (Ap 12:17).
Antes de prosseguirmos, devemos notar que Apocalipse 12:17 não
apenas nos informa que, no tempo do fim, Deus terá um povo que guar-
da Seus mandamentos, mas também estabelece o cenário dos capítulos
13 e 14. O capítulo 13 aborda o poder do dragão no tempo do fim men-
cionado em Apocalipse 12:7, o capítulo 14 fala sobre a mulher do tempo
do fim que aparece nesse mesmo verso e ambos os capítulos discorrem
sobre o conflito final sobre os mandamentos de Deus e a questão da fi-
delidade ou adoração. Em continuação, os capítulos 15 a 19 abordam os
conceitos introduzidos em Apocalipse 13 e 14. Assim, o historicismo de
Apocalipse 12 estabelece o cenário para metade da escatologia apresen-
tada no livro de Apocalipse, com o verso 17 apresentando uma visão ge-
ral e os capítulos 13 a 19 acrescentando progressivamente os detalhes.
Considerando minha jornada inquiridora, concluí que não havia motivo
para me afastar do historicismo óbvio e claro de Daniel 2 e das profecias
subsequentes construídas a partir desse capítulo. Penso que a estrutura his-
toricista de interpretação profética seja fundamental na própria Escritura.
Por alguma razão, Uriah Smith e seus adeptos interpretaram os pés
e os dedos da estátua (e consequentemente os dez chifres de Daniel 7),
os quais jamais se uniriam, como sendo a Europa. Essa interpretação é
favorecida até hoje na Igreja Adventista, ainda que alguns possam con-siderála eurocêntrica.
O Princípio Dia-Ano
A segunda área profícua para o surgimento de dúvidas quanto à profecia
apocalíptica é o princípio diaano. Esse assunto tem sido alvo de ataques
em alguns setores do adventismo nos últimos trinta anos.
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO
Mais uma vez, minhas dúvidas cessaram abruptamente no livro de
Daniel, especialmente no capítulo 9. Parte do problema que os intér-
pretes desse capítulo enfrentam é que não há absolutamente nenhuma
maneira de partir do período do Império Persa, no 6o século a.C., até a
chegada do “Ungido” (verso 25, ARA) ou “Messias" (ARC) ou Cristo em
69 semanas literais. Por essa razão, os tradutores de algumas versões bí-
blicas em inglês (feitas mesmo por acadêmicos que geralmente não acre-
ditam na profecia preditiva do livro de Daniel e alegam que alguém es-
creveu esse livro no 2° século a.C., em vez de no 6o) sentemse obrigadosa traduzir as setenta semanas de Daniel 9 como “semanas de anos”, mes-
mo que a palavra “anos” não apareça no original em hebraico (ver, por
exemplo, Daniel 9:24 nas versão bíblica HSV c Daniel 9:24, 25, 26 e 27
na versão Moffatt). Até os comentaristas mais liberais tendem a interpre-
tar as setenta semanas como “semanas de anos”.2
Eles se sentem forçados a incluir a palavra “anos” pela própria lógi-
ca do texto. Essa é a única maneira possível de entender essa passagem,a despeito da visão da pessoa a respeito da profecia preditiva ou da data
em que o livro de Daniel foi escrito. Obviamente, o texto implica “sema-
nas de anos” mesmo se o tradutor não verter assim devido à necessida-
de implícita do princípio diaano para marcar o período entre o Império
Persa e a chegada do Messias.
Apocalipse 10 e a Abertura do Livro de Daniel
A terceira área que comecei a questionar foi a interpretação tradicio-
nal adventista de Apocalipse 10, que diz que a abertura do livrinho doce
ao paladar e amargo ao estômago significava a descoberta das profecias
de Daniel e o Grande Desapontamento.
Eu estava ciente da interpretação de Guilherme Miller de que o movi-
mento que iniciou representava a abertura do livrinho de Daniel, que con-tinha profecias doces ao paladar.^ Também conhecia a posição de Ellen
White: "o livro que foi selado não foi o do Apocalipse, mas aquela parte
da profecia de Daniel que se referia aos últimos das. [...] Quando o li-
vro [de Daniel] foi aberto, foi feita a proclamação: 'já não haverá demo-
ra’ (Ap 10:6). O livro de Daniel está agora aberto.”4
Além disso, sabia que os livros selados dos capítulos 5 e 10 de Apo-
calipse não são os mesmos livros, pois o texto original designaos com
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5 4 A VISÃO APOCALÍPTICA
duas palavras gregas diferentes. (O fato, porém, de serem dois documen-
tos distintos não significa que o conteúdo do “livro grande” e do “livri-
nho” não se interponham em algum dos conteúdos escatológicos que
apresentam.)
Para todos que leem Apocalipse 9:1311:18 fica evidente que a aber-
tura do livrinho ocorre entre a sexta e a sétima trombetas, e que a sé-
tima trombeta sinaliza o segundo advento (ver Ap 11:15; 10:6, 7). Mas
a interpretação tradicional adventista, pensei, parece clara demais para
ser verdade. Parece um pouco centrada demais no adventismo e restritademais aos nossos objetivos. Por isso, minha insistência em prosseguir
com a investigação de Apocalipse 10.
A linha dc raciocínio preliminar foi a ligação óbvia entre Apocalipse
10:5, 6 e Daniel 12:7. Os comentaristas geralmente apontam o fato de
que os versos 5 e 6 são uma citação de Daniel 12:7."’ Mais proveitoso ain-
da foi Daniel 12:4, em que encontramos o livro selado até o tempo do
fim, enquanto em Apocalipse 10 temos o livro aberto no tempo do fim.O que realmente chamou minha atenção foi que Daniel nos informa
que apenas duas partes de sua visão foram seladas:
1. A profecia dos 1.260 dias (ou 42 meses, ou um tempo, dois tem-
pos e metade de um tempo), que estaria encerrada até o tempo do fim
(Dn 12:59).
2. A visão das tardes e manhãs de Daniel 8, “porque se refere a dias
ainda mui distantes” (verso 26).Com essa informação em mente, achei muito interessante a obser-
vação de Joyce Baldwin no seu volume da série Tyndale Old Testament
Commentaries [Comentários do Antigo Testamento Tyndale]: "A razão
pela qual Daniel deveria manter suas duas últimas visões seladas era
porque ainda não tinham relevância (8:26; 12:9), pelo menos não em
todos os detalhes.”6
Claro que meus olhos treinados no adventismo não tiveram dificuldadede relacionar o selamento da visão das tardes e manhãs de Daniel 8:26
aos 2.300 dias do verso 14, o que é uma ligação correta. Os primeiros ca-
torze versos de Daniel 8 apresentam quatro símbolos proféticos (versos
3, 5, 9, 14), e o anjo Gabriel é enviado para explicálos, o que ocorre nos
versos 1526. O anjo informa Daniel de que a visão referese “ao tempo
do fim” (verso 17, ver também o verso 19) e prossegue para uma lição de
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO g g
história profética começando com o Império MedoPersa (verso 20) e o
Grego (verso 21) até o poder (Roma) que atacaria Israel (verso 24) e se le-
vantaria contra o Príncipe dos príncipes (verso 25). ü anjo, porém, termi-na dizendo que a profecia dos 2.300 dias seria selada, pois seu cumpri-
mento “se refere a dias ainda mui distantes” (verso 26). A explicação do
anjo Gabriel revela que a profecia dos 2.300 dias de Daniel 8:14 não se-
ria aberta até o tempo do fim (ver o verso 17). Ao chegar o tempo deter-
minado, essa profecia, de acordo com a compreensão tradicional adven-
tista de Apocalipse 10, seria doce ao paladar, mas amarga ao estômago.
A essa altura, meu estudo de Apocalipse 10 em relação a Daniel defi-nitivamente atraiu meu interesse. Ainda assim,
eu disse a mim mesmo: talvez isso tudo esteja ASSIITI C\ Ue claro demais. Oue evidência posso encontrar ,. . , ,
a , r . ,. , p. . i o livrinho d e em Apocalipse de que foi o livro de Daniel que
foi aberto? Não queria ouvir isso de Guilherme ApOCCl l i p se
Miller, Ellen White ou da história adventista. ^ i .
, , 10 e abert o.Esperava encontrar um bom artigo correla-cionando o livro de Daniel com a abertura do enCOn t raVUOS
livrinho de Apocalipse 10. Ao não encontrar ny y i a exp l o são
um artigo assim, fiz o que era óbvio. Compareios dois livros por mim mesmo. Nesse momen V i r t u a l de
to, mergulhei num oceano de riqueza em ter m a t er i a l V i n d o
mos de evidência textual.
A primeira coisa que me ocorreu foi que, as Daniel. sim que o livrinho de Apocalipse 10 é aberto,
encontramos uma explosão virtual de material vindo de Daniel para o
Apocalipse de João. Preste atenção na profecia dos 1.260 dias, por exem-
plo. Imediatamente após Apocalipse 10, a profecia dos 1.260 dias pas-
sa a ser o tema central:
• 11:2: O átrio exterior "dado aos gentios; estes, por quarenta e doismeses, calcarão aos pés a cidade santa”.
• 11:3: “Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil
duzentos e sessenta dias.”
• 12:6: “A mulher, porém, fugiu para o deserto [...] para que nele a sus-
tentem durante mil duzentos e sessenta dias.”
• 12:14: A mulher foge da serpente “ao deserto, [...] onde é sustentada
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6 6 A VISÃO APOCALÍPTICA
durante um tempo, tempos e metade de um tempo, fora da vista da
serpente”.
• 13:5: A besta recebeu “autoridade para agir quarenta e dois meses”.E importante notar que nem sequer uma vez o Apocalipse menciona
esse período de tempo até o livrinho ser aberto e, a partir de então, re-
vela tudo sobre ele.
Essa conclusão levoume de volta ao livro de Daniel e à primeira vez
em que a profecia dos 1.260 dias foi mencionada: o poder do chifre pe-
queno “[1] proferirá palavras contra o Altíssimo, [2] magoará os santos
do Altíssimo, [3] e cuidará em mudar os tempos e a lei; [4] e os santoslhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade dc
um tempo” (Dn 7:25).
Cada uma das quatro partes desse verso forma uma parte de Apoca-
lipse 1114.
• “Proferirá palavras contra o Altíssimo” aparece em Apocalipse 13:5
como: “Foilhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias” por
quarenta e dois meses (ver também o verso 6).• O ato de magoar os santos do Altíssimo refletese em Apocalipse
13:7 com as palavras: “Foilhe dado, também, que pelejasse contra os
santos e os vencesse."
• A tentativa de mudar os tempos e a lei obtém reposta em Apoca-
lipse 12:17, 14:7 e 12, em que Deus prediz a restauração dos mandamen-
tos, incluindo aquele relacionado ao tempo, no fim da história.
• E já notamos a centralidade da profecia dos 1.260 dias (ou “um tem-
po, dois tempos e metade de um tempo”) em Apocalipse.
Na verdade, no momento em que o livrinho de Apocalipse 10 é aber-
to, encontramos uma explosão de referências a Daniel no Apocalipse de
João, indicando que as profecias seladas do livrinho de Daniel foram real-
mente abertas. Mas ainda não acabamos de mencionar todas as ideias
concernentes à abertura da profecia dos 1.260 dias. A fim de ser breve,mencionarei apenas algumas delas:
• A restauração do domínio de Cristo e dos santos ao final do julga-
mento de Daniel 7:14 e 27 vem à tona em Apocalipse 11:15.
• Os dez chifres de Daniel 7:7 reaparecem em Apocalipse 12:3 e 13:1.
• As bestas que surgem do mar, em Apocalipse 13:1 e 2,.representam
uma combinação das bestas de Daniel 7:36. •.
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO
• O vitorioso Filho do homem retratado em Daniel 7:13 e 14 reapa-
rece em Apocalipse 14:14.
• A questão de quem deve ser adorado aparece em Daniel 3 e é o temacentral dc Apocalipse 13 e 14, onde encontramos oito referências sobre a
escolha de adorar a besta e a sua imagem ou o Deus criador.
Provavelmente, há muito mais do que podemos mencionar, mas creio
que a questão foi esclarecida. Imediatamente após a abertura do livrinho
dc Apocalipse 10, os símbolos de Daniel relacionados aos 1.260 dias tor-
namse onipresentes em Apocalipse 11 a 14, enquanto esse simbolismo
estava ausente antes da abertura.A essa altura de meu estudo, não restava dúvida com relação à abertu-
ra da profecia dos 1.260 dias que havia sido selada em Daniel 12:9. Mas,
e quanto à abertura da profecia dos 2.300 dias de Daniel 8:1426? Aqui
a evidência não é tão rica, mas também não está ausente. Essa profecia
fala da purificação, restauração ou justificação do santuário.
No capítulo 2, vimos que os primeiros adventistas interpretavam essa
passagem em termos do simbolismo do Dia da Expiação em relação aosegundo compartimento do santuário celestial.
Com tais pensamentos em mente, é interessante notar que Apoca-
lipse 11:1 e 2 apresenta a cena de um julgamento em que o templo, o al-
tar e os santos são “medidos”. Os estudiosos pesquisaram o Antigo Tes-
tamento em busca de informações sobre essa passagem em lugares como
Zacarias 2:15 e Ezequiel 40 a 48, mas, como Ken Strand afirmou, a úni-
ca passagem adequada do Antigo Testamento é a descrição do Dia da Ex-piação encontrada em Levítico 16.
“Nesse capítulo”, escreveu Strand, “são descritas quatro entidades bá-
sicas beneficiadas pela expiação: os próprios sacerdotes, o santuário, o al-
tar e a congregação (ver os versos 6, 11, 1618). O sacerdócio obviamen-
te seria omitido em qualquer paralelo do Novo Testamento, pois Cristo, o
Sumo Sacerdote, [...] não necessitou de expiação para Si mesmo. Assim, é
impressionante notar que exatamente as outras três entidades que necessi-tam da expiação em Levítico 16 são 'pr ecisament e os três el ement os a serem
‘medidos’ em Apocalipse 11:1. “As características em comum na ordem ou
sequênci a dos três itens também são dignas de nota. Em ambos os casos,
o movimento vai do santuário/templo para o altar e para os adoradores.”
Strand acrescentou que "o antigo Dia da Expiação era uma espécie de dia
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6 8 a VISÃO APOCALÍPTICA
final de ‘medida’ dentro do ano religioso israelita. Havia uma aura de jul-
gamento final em relação a ele, pois nesse dia deveria ocorrer separação”/
Além das implicações do Dia da Expiação/ato de medir/julgamen-to de Apocalipse 11, há também o fato de que o segundo' comparti-
mento do santuário celestial é aberto pela primeira vez em Apocalipse
11:19. Apesar de o santuário ser central no livro de Apocalipse, a pri-
meira metade do livro apresenta apenas o simbolismo do primeiro com-
partimento, com a ação mudando para o segundo compartimento em
Apocalipse 11:19.
Ao refletirmos sobre as implicações dc Daniel 8:14, também é inte-ressante notar o lato de que as cenas do julgamento relacionadas aos
santos e ao chifre pequeno de Daniel 7 e 8 e de Apocalipse 11:1518 são
detalhadas em Apocalipse 14 a 20. Nessa linha, é significativo o fato
de que Apocalipse 14:7 indique que “é chegada a hora do Seu juízo”,
isto é, de Deus.
Nesse ponto de meu estudo da relação de Apocalipse 10 com os trechos
selados de Daniel, comecei a ficar bastante empolgado. Naquele momen-to, saí da experiência doce e amarga da abertura do livrinho (Ap 10:810)
para Apocalipse 10:11, em que se revela que da experiência amarga sur-
giria uma nova mensagem que deveria scr proclamada ao mundo inteiro.
Essa mensagem ccoa em Apocalipse 14:6, que também diz que ela deve
ser dada “a cada nação, e tribo, e língua, e povo”.
A partir dessas ligações, pareceme que a relevância da profecia de
Daniel 8:14 para os nossos dias não está tão ligada à salvação pessoal,
mas sc posiciona como um pont o hi st óri co de referênci a para a mensagem
dos últimos dias de Apocalipse 12:1714:20, que Deus ordenou que Seu
povo pregasse ao mundo inteiro antes do segundo advento. Em outras
palavras, a importância de Daniel 8:14 é ser um marco no tempo para o
início da mensagem no tempo do fim predita em Apocalipse 10:11 após
a experiência amarga. O texto de Apocalipse 11:1 a 14:20, especialmen-
te Apocalipse 14:612, identifica essa mensagem.
O Significado de Daniel 8:14
Essa conclusão conduzme ao meu problema com Daniel 8:14. Parece
seguro dizer que não há nenhum texto na Bíblia que, na visão de muitos
adventistas, seja mais impopular, especialmente entre os mais sofisticados.
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO g g
A parte mais problemática para muitos é ensinar que o juízo investigati
vo ou preadvento dos santos começou em 1844.
Devemos notar que a posição tradicional realmente apresenta umproblema que não deve ser minimizado. O problema não está na data do
cumprimento profético, apesar das dúvidas amplamente disseminadas
sobre esse assunto durante os últimos trinta anos. Afinal, Daniel 8:1719
afirma claramente que a visão referese ao tempo do fim. A ligação entre
Daniel 12:4, Daniel 8:26 e Apocalipse 10 exige um cumprimento profé-
tico no tempo do fim.
Além disso, exegetas conservadores concordam amplamente que a me-
lhor data para o início da profecia das setenta semanas de Daniel 9 é o
ano de 457/458 a.C.8 Os escritores historicistas
têm consistentemente datado o cumprimento
da profecia dos 2.300 dias entre 1843 e 1847.''
O problema boje não é a validade dos ar-
gumentos com base em mudança de data, mas
sim o fato de que o historicismo baseado no
princípio de interpretação diaano está fora de
moda, apesar das evidências óbvias em passa-
gens como Daniel 2 e 9. No início do século
21, os adventistas permanecem quase isolados
numa ilha historicista. Os futuristas, que se sen-
tem mais do que felizes em aplicar o princípiodiaano a Daniel 9 para calcular a data do nas-
cimento de Cristo, recusamse em usar a lógica e aplicar o mesmo prin-
cípio a Daniel 8. Aqui esses intérpretes profundamente conservadores
unemse aos preteristas mais liberais em apontar Antíoco Epifânio IV
(164 a.C.) como o cumprimento da profecia. Antíoco, porém, estava longe
de ser “muito forte” (Dn 8:9). Historicamente, ele foi uma pessoa fraca que
logo recuou ao ser confrontado por Roma. A interpretação que aponta An-tíoco como o chifre pequeno de Daniel 8 baseiase em 1 Macabeus 1:110,
54; mais tarde, porém, a explicação de Flávio Josefo apresenta uma pers-
pectiva mais ampla. Embora fale de Antíoco como um cumprimento par-
cial, Josefo aplica a profecia a Roma, a verdadeira “desoladora” de Israel.10
A interpretação de Jesus harmonizouse com a de Josefo ao mencionar “0
abominável da desolação” (Mt 24:15) no futuro, em vez de no passado.
Os advent istas
permanecem quase i solados
numa i lha
historicista.
Leitura Adventista
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70 A VISÃO APOCALÍPTICA
Algumas pessoas ficam surpresas ao me ouvir dizer que creio que
essa profecia se cumpriu em 1844. Não há outra data melhor, apesar de
eu não ver razão para enfatizar corm exagero o dia exato, tendo em vistaas diversas discussões a respeito do calendário caraíta em oposição a ou-
tras datas possíveis para o Dia da Expiação.
Os opositores sempre atacarão aquilo que percebem ser o ponto mais
fraco de um argumento. A boa notícia é que a visão geral é muito clara.
Descobri que aqueles que abandonaram a crença no cumprimento pro-
fético na década dc 1840 geralmente não dispõem de uma alternativa.
Ao contrário, simplesmente abandonam o elemento do tempo e evitam oassunto, exceto para criticar o ponto de vista tradicional.
Esse pensamento me leva de volta a meu problema real com a com-
preensão tradicional de Daniel 8:14, o qual está ligado com o que o
adventismo fez com a purificação cio santuário. A visão tradicionalmen-
te aceita é a do juízo investigaiivo dos santos.
Contudo, ao estudar esse texto com o máximo empenho possível, não
encontro nessa passagem o julgamento investigativo ou préadvento dossantos. O que encontro é o julgamento do chifre pequeno e a restauração,
justificação e purificação do santuário em relação a esse poder no fim dos
2.300 dias.11
Aqui se encontra um problema do qual devemos estar cientes. Nossas
respostas têm sido simples demais e não estão enraizadas no texto em si.
No entanto, esse malentendido não anula o início do julgamento pré
advento do povo de Deus no fim dos 2.300 dias. Por três vezes, Daniel 7
fala claramente de um julgamento préadvento.
• Os versos 9 c 10 apresentam o julgamento préadvento ocorrendo
em um lugar que aparenta ser o santuário celestial ou sala do trono. Após
esse julgamento, Cristo recebe o domínio (verso 14).
• O verso 22 apresenta o julgamento sendo feito em favor dos santos
antes de receberem o reino.
• E os versos 26 e 27 apresentam a sentença do julgamento contra
o chifre pequeno e em favor dos santos sendo dada simultaneamente e
imediatamente antes de os santos receberem o domínio.
Apocalipse 11:1518, onde se menciona que Cristo e os santos
recebem o reino em relação ao julgamento, reflete as cenas de julgamen-
to de Daniel 7.
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO
Não há a meno r dúvi da de que Dani el 7 apr esent a o j ul gam ent o pré
advent o dos santos ou em favor del es. Alguns de nós, no entanto, temos
tanta bagagem sobre esse assunto que se torna difícil focar a atenção noque o texto realmente diz.
Devemos notar que o julgamento de Daniel 7 possui dois aspectos:
• E contra o chifre pequeno.
• É em favor dos santos.
Daniel 8:14, no entanto, menciona apenas o chifre pequeno. Mas,
como o capítulo 7 deixa claro que o chifre pequeno e os santos são julga-
dos ao mesmo tempo, é seguro concluir, por meio do paralelismo, que o
julgamento préadvento tanto do chifre pequeno quanto dos santos ocor-
re no fim dos 2.300 dias.
Portanto, a compreensão adventista do julgamento préadvento não
é o problema, mas sim o uso equivocado de Daniel 8:14 para provar os
pontos extraídos do capítulo 7.
Antes de prosseguirmos, preciso ressaltar que é errado dizer quea doutrina do julgamento préadvento de Daniel é exclusiva da Igreja
Adventista do Sétimo Dia. Afinal, muitos outros já encontraram o julga-
mento préadvento apresentado em Daniel 7 e vários intérpretes histori
cistas ao longo da história apontaram a década de 1840 como o período
em que a profecia de Daniel 8:14 se cumpriria. A única coisa exclusiva
a respeito da posição adventista é a combinação dessas duas conclusões.
O Julgamento Pré-Advento
Estamos agora preparados para analisar o problema do julgamento pré
advento. Aqui se encontra outro tema que confunde alguns adventistas.
Não há dúvida a respeito da centralidade do julgamento préadven-
to nas três mensagens angélicas. “Temei a Deus e daiLhe glória”, lemos
em Apocalipse 14:7, “pois é chegada a hora do Seu juízo”.
O problema não é o julgamento préadvento, mas sim o que fize-mos com ele. Uma de minhas primeiras visitas à Igreja Adventista ocor-
reu quando eu tinha 18 anos e servia como soldado no exército. Fui à
igreja simplesmente porque queria ficar com minha namorada, mas o
que vi me deixou espantado. Lá na frente estava uma senhora “idosa”
(provavelmente 40 anos) que tinha um dedo excepcionalmente longo e ossu-
do que utilizava para apontar para cada um de nós adolescentes. O conteúdo
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7 2 A VISÃO APOCALÍPTICA
de sua mensagem era que deveríamos ficar acordados durante a noite re-
lembrando e confessando cada pecado que havíamos cometido em nos-
sa vida, pois, se nos esquecêssemos de um, acabaríamos sendo queima-dos. Disse que o julgamento haivia começado e que ninguém sabia em
qual momento nosso nome seria passado.
A tragédia do adventismo é quie fizemos do julgamento préadvento algo
terrível, baseado numa compreensão menos do que bíblica do pecado, da
lei, da perfeição e até mesmo do próprio julgamento. O resultado foi a in-
segurança espiritual e a falta de garantia bíblica. “Deus está pronto para
pegar você no flagra” foi a mensagem da época da mulher do dedo ossudo.Esse, porém, não é o ensino bíblico sobre o julgamento. Dc acordo
com a Palavra de Deus, o Juiz não está contra nós ou mesmo neutro. O
Juiz está a nosso favor. Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu
Filho unigênito para nossa salvação (Jo 3:16, 17). João 5:22 até mesmo diz:
“O Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento.”
O propósito do julgamento na Bíblia não é manter as pessoas fora
do Céu, mas levar para lá o maior número possível. A grande questão ése elas aceitaram o sacrifício expiatório dc Cristo e permitiram que isso
transformasse seu coração (ljo 2:1, 2; Rm 6:111; 12:1, 2; 2:47).
Aqui precisamos enfatizar que o julgamento não ocorre para a informa-
ção de Deus. Acorde! Deus já conhece nosso coração. Ele, porém, enfrenta
um problema. Se todos pecaram (Bm 3:23), e o salário do pccado é a morte
(Rm 6:23), como Ele pode conceder a alguns algo que não merecem (graça)
enquanto dá a outros exatamente o que merecem (morte)? O julgamento e oslivros do julgamento não são para Deus, mas para o restante do Universo. Eles
existem para a justificação de Deus, a qual é fundamental para a justificação
divina dos seres humanos que aceitaram Cristo em seu coração e em sua vida
(Rm 3:25, 26; ljo 1:9). A grande questão em muitas passagens em Apocalipse
envolve a justiça de Deus c Seu julgamento (ver, por exemplo, Ap 15:3, 4;
16:5, 7; 19:1, 2, 11). No fim dos tempos, Deus deseja que todo o Universo seja
capaz de proclamar que a salvação de Deus foi justamente conferida, “por-quanto verdadeiros e justos são os Seus juízos” (Ap 19:1, 2) e porque Ele “ julga
e peleja com justiça” (verso 11). Mesmo assim, para certificarSe de que não
resta nenhuma dúvida a respeito de Sua justiça, Deus oferece aos santos a
oportunidade de uma revisão judicial de Suas decisões antes da extermina
ção do pecado e dos pecadores (Ap 20:4, 915).12
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO 7 3
Dc volta ao julgamento divino dos cristãos, ele é retratado na Bíblia
como um evento de alegria e expectativa positiva. Ouça Daniel e João
sobre esse assunto:• Daniel 7:22: “Fez justiça aos santos do Altíssimo.”
• Daniel 7:26, 27: O julgamento é contra o chifre pequeno, mas em
favor dos santos, que recebem o reino.
• Apocalipse 6:10: São os santos que clamam “até quando” antes do
início do julgamento que colocará as coisas em ordem.
• Apocalipse 11:1518: A recompensa dos servos de Deus está rela-cionada ao julgamento.
• Apocalipse 14:6, 7: O julgamento está relacionado às boasnovas
ou ao evangelho.
• Apocalipse 18:20: O julgamento é em fa-
vor dos santos e contra Babilônia.
• Apocalipse 19:2: Os julgamentos de Deus
são vistos como o auge da esperança.A t ragédia éque 0 advent i smo t radicional p e-
gou um event o de alegri a e, comb i nandoo com
concei t os menos do que bíbl i cos a respei t o do pe-
cado e da perf eição, t ornouo um event o que ins-
pi ra medo , pavor e i nsegurança. Não é. de sur-
preender que tantos adventistas odeiem 0 “juízo
investigativo”.Esse pensamento me faz lembrar de uma
apresentação que fiz sobre a relação entre Ellen
White e a Bíblia a convite da Brigham Young University, o centro do mun-
do acadêmico mórmon. O congresso sobre autoridade religiosa apresen-
tou trabalhos sob a perspectiva católica, ortodoxa, mórmon e protestante.
Na sessão de perguntas e respostas que se seguiu à minha apresenta-
ção, um teólogo protestante importante observou que ele e seus colegas
não viam nenhum problema com a posição adventista sobre Ellen White.
A real dificuldade era com o julgamento investigativo.
Respondi, baseado na visão bíblica (apresentada acima), que o jul-
gamento é um evento que inspira alegria ao povo de Deus. Mencio-
nei que desejava escrever um livro intitulado O j ul gament o é 0 Evange-
lho. Esse líder respondeu que a comunidade protestante aguardaria com
O j ul gament o éum event o
que i nspi ra
al egri a ao
povo de Deus.
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74 A VISÃO APOCALÍPTICA
ansiedade para ler tal livro escrilto por um adventista. Enquanto isso,
David Neff, editor da revista Chri st i ani t y Today [Cristianismo HojeJ e ex
pastor adventista que no passado ficou profundamente perturbado com aperspectiva tradicional, faloume que gostaria que tivéssemos ensinado
a perspectiva do evangelho sobre o julgamento enquanto ele ainda pro-
fessava a fé adventista.
O Santuário
Relacionado a Daniel 8:14 e à questão do julgamento está o assunto
do santuário. Aqui também desenvolvi algumas dificuldades a respeitode como nós adventistas temos tradicionalmente tratado desse assunto.
Veja, por exemplo, o interesse adventista pela geografia do santuário ce-
lestial. Alguns adventistas que conheço são capazes de olhar para o san-
tuário terrestre e relatar tudo o que está ocorrendo no Céu. Além de po-
derem, supostamente, dizer quantos blocos e tábuas o santuário celestial
possui, também são capazes de dizer o significado de cada um!
Não encontro, porém, essa mesma perspectiva na Bíblia. Um exem-plo disso é Hebreus 9:4, em que o autor não parece estar tão preocupa-
do com os detalhes exatos, pois tem coisas mais importantes para falar.
A última parte de Hebreus 9:5 fala a esse respeito: “Dessas coisas [a mo-
bília do santuário], todavia, não falaremos, agora, pormenorizadamente.”
O autor de Hebreus, sem dúvida, poderia ter apresentado inúmeros deta-
lhes sobre a forma e a estrutura do santuário terrestre, mas esse não era
seu objetivo. Ele desejava passar rapidamente para o assunto realmenteimportante, que é o tema de Hebreus 9:6 a 10:28: a ineficácia das ceri-
mônias levíticas em contraste com o ministério sacerdotal de Cristo. Em
essência, o livro de Hebreus não é uma lição sobre os detalhes do santuá-
rio celestial ou sua geografia. Ao contrário, esse livro tem como objetivo
ensinar aos leitores a plena suficiência do sacrifício definitivo de Cristo
e a eficácia de Seu ministério celestial.1:1
Ellen White apresenta uma semelhante falta de preocupação com a geo-grafia do santuário celestial em Primei ros Escri t os ao descrever o trono de
Deus no Lugar Santo. Sua preocupação nessa passagem parece ter sido mais
a mudança de função no ministério de Cristo do que a geografia rígida.14
Não apresentei as ilustrações encontradas em Hebreus e em Primeiros
Escritos com o intuito de sugerir que não existam realidades geográficas
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO 7 5
no santuário celestial ou que cias não sejam importantes. Afinal, precisa-
mos lembrar que João viu a abertura do segundo compartimento do san-
tuário celestial próximo ao tempo do fim (Ap 11:19). O que as ilustrações
de Hebreus e Pri mei ros Escri t os realmente pareccm indicar é uma flexibi-
lidade nem sempre refletida na interpretação tradicional adventista. Em
outras palavras, nós seres humanos talvez sejamos mais limitados do que
gostaríamos ao extrapolar o conhecimento celestial a partir dos detalhes
de um modelo terrestre.
E aqui chegamos a uma questão muito séria. M ui t as vezes os i ntérpre- tes rever t em as pol ar i dades ent re o santuári o t err est re e o cel est i al . Assim,
em vez de 0 santuário terrestre ser 11111 reflexo do celestial, eles fazem
com que o celestial seja o reflexo do terrestre. () resultado dessa interpre-
tação equivocada é que alguns fazem alegações injustificáveis a respeito
do santuário celestial com base nos detalhes do terrestre.
Precisamos manter em mente que o santuário terrestre foi uma cópia
do santuário celestial (ver Ex 25:8, 9, 40; Hb 8:15). Na verdade, o livrode Hebreus repetidamente declara que o santuário terrestre era uma sim-
ples “sombra” do santuário celestial (8:5; 10:1). 'Iodos sabemos que uma
sombra não oferece 0 conhecimento pleno. Por exemplo, posso dizer cer-
tas coisas sobre minha esposa a partir de sua sombra, mas sua presença
real multiplica as informações milhares de vezes.
Além de o santuário terrestre ser uma simples sombra do celestial,
Hebreus 9:9 também o chama de parabole, ou parábola (“alegoria”, ARC;“ilustração", NVI), do celestial. Aqui está um ponto de primeira magni-
tude em importância. Sabemos que uma parábola ensina uma lição prin-
cipal e não deve ser interpretada em todos os seus detalhes. O mesmo
ocorrc com a parábola que reflete a sombra do santuário. A partir dela,
podemos entender a linha geral do plano da salvação e do ministério de
duas fases de Cristo no santuário celestial, mas nos envolvemos em inú-
teis e infindas discussões sempre que ultrapassamos nosso conhecimen-
to sombrio e parabólico.
Devemos ser humildes quanto ao nosso conhecimento sobre o santuá-
rio celestial. Afinal, Daniel descreveu a sala do trono de Deus (o Lugar
Santíssimo) como tendo “milhares de milhares” que O serviam e "miría
des de miríades” que estavam diante dEle (Dn 7:10). Tais dimensões es-
tão muito além da compreensão humana.
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76 A VISÃO APOCALÍPTICA
A inflexibilidade exagerada na aplicação de nosso conhecimento da som-
bra pode levar a conclusões problemáticas. Afinal, Jesus não está derraman-
do Seu sangue no altar de sacrifícios queimados. Nem mesmo está aspergindoo nos chifres do altar. Além disso, tanto a Bíblia quanto o Espírito
de Profecia são muito claros em ensinar que, após Sua ascensão, Jesus não
permaneceu trancado num pequeno cubículo longe de Pai por 1.800 anos.
O Novo Testamento afirma repetidamente que Jesus “assentouSe à destra”
de Deus após a asccnsão (ver Hb 1:4; At 2:34). Ellen White viu um trono
no Lugar Santo, indicando a mesma verdade.b O adventismo tem enfren-
tado inúmeras discussões e contestações a respeito da doutrina do santuá-rio, pois tem sido tentado a superenfatizar a geografia c o paralelismo exato
daquilo que a Bíblia chama de conhecimento de “sombra” e de parábola”.
Intimamente relacionado à ênfase exagerada e infeliz sobre a geogra-
fia do santuário celestial por parte de alguns adventistas encontrase o
problema de, às vezes, agirmos como se o livro de Hebreus respondesse
perguntas adventistas específicas. Hebreus não foi escrito com esse pro-
pósito. O objetivo principal do livro era ajudar os judeus cristãos do Iosé-
culo a entender que eles tinham algo infinitamente melhor no ministé-
rio de Cristo no Céu do que havia no santuário terrestre com toda a sua
pompa, beleza e visibilidade.
Com esse propósito em mente, precisamos tomar cuidado para não
ler ideias que o texto não apresenta. É importante notar que o livro de
Hebreus não está mais interessado na cronologia do que está em geogra-
fia. Assim, embora Hebreus 9:24 afirme que no Céu há coisas que pre-
cisam ser purificadas, o texto não desenvolve o significado pleno da pu-
rificação celestial e de que maneira isso se encaixa cronologicamente no
plano de Deus. Para isso, precisamos estudar o ministério do santuário
levítico, que é um exemplo do ministério de Cristo no Céu.
Outro problema igualmente sério é ler Hebreus 9:2328 como se o tex-
to fizesse uma afirmação cronológica sobre o ministério do Dia da Expia-
ção. E verdade que Hebreus 9:25 pode fazer alusão ao ministério do Dia
da Expiação, mas o objetivo não é a sequência cronológica. 'A preocupa-
ção’ de Hebreus, afirmou William Johnsson, “é uma ideia suprema —a ple-
na suf i ciênci a de Sua mor t e. [Hebrcusj contrasta os sacrifícios do Antigo
Testamento com o Sacrifício Superlativo. Para isso, faz referência ao pon-
to alto do ano religioso do Antigo Testamento, o Yom Kippur, e argumenta
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO JJ
que mesmo nesse dia os sacrifícios não solucionaram o problema do peca-
do. [...] Ou seja, o ponto mais alto do ano religioso do Antigo Testamento
não podia eliminar o pecado. Obviamente, se os rituais do Dia da Expia-ção eram inadequados, quanto mais todos os outros sacrifícios!”16
Permitame resumir os pontos principais que apresentei até agora so-
bre esse assunto. Primeiro, criamos problemas com relação à teologia do
santuário ao enfatizar indevidamente a geografia do santuário. Segun-
do, caminhamos na direção errada ao lermos Hebreus como se estivesse
apresentando a teologia adventista ou argumentando contra ela. Hebreus
tem seus próprios objetivos. Terceiro, é errado projetar uma sequênciacronológica em Hebreus 9. A maior parte da dificuldade do adventismo
com a teologia do santuário centralizase nes-
ses três aspectos.
Antes de mudarmos de assunto, é importante P reCÍSam O S notar que Hebreus infunde luz às preocupações
adventistas mesmo não apresentando a posição
adventista. Observe, por exemplo, Hebreus 9:23com sua ênfase sobre o fato de o Ccu realmen-
te possuir coisas que precisam ser purificadas.
Esse é um conceito que tem gerado polêmi-
ca. O que possivelmente poderia exigir uma pu-
rificação no Céur A impureza no Céu, escreveu
William Lane, “tem sido descartada como 'tolice'”
por parte de muitos estudiosos importantes. Se-
gundo Lane, no entanto, a fraseologia de Hebreus 9:23 “claramente implica
que o santuário celestial também se tornou poluído pelo pecado do povo”.17
Parece que Craig Koester, em seu comentário para a série Anchor
Bible, extraiu a única solução positiva para o problema ao apontar que
Hebreus 9:23 pode ser compreendido tipologicamente apenas em rela-
ção ao padrão levítico. Assim, “a prática levítica prenuncia a purificaçãodo santuário celestial realizada por Cristo no fim dos séculos”.18
Nós adventistas temos estado muito dispostos a nos afastar dos en-
sinos claros da Bíblia diante de alguns que os consideram “tolices”. Está
na hora de revertermos essa situação. Estamos, sem dúvida, sobre terre-
no sólido no que diz respeito à nossa doutrina do santuário, mas não com
relação à maneira como alguns a ensinam.
pr egar com
mais
entusiasmo
a cent ral i dade
do sant uári o.
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7 8 A VISÃO APOCALÍPTICA
Como adventistas, podemos nos alegrar diante do ministério dc duas
fases de Cristo no santuário celestial. Precisamos pregar com mais en-
tusiasmo a centralidade do santuário nas operações de Deus. Sobre esseassunto, é importante notar que o simbolismo do santuário é central no
livro de Apocalipse. As visões da primeira metade do livro estão relacio-
nadas ao primeiro compartimento, enquanto a segunda parte do livro
apresenta o segundo compartimento, aberto pela primeira vez em Apo-
calipse 11:19: “Abriuse, então, o santuário de Deus, que se acha no Céu,
e foi vista a arca da Aliança no Seu santuário, e sobrevieram relâmpagos,
vozes, trovões, terremoto e grande saraivada.” Esse texto é tão importan-te para a história adventista quanto para a sua teologia, pois a arca con-
tém os Dez Mandamentos, que recebem destaque especial em Apoca-
lipse 12:17 a 14:12.
A Teologia do Grande Conflito
Um tema sobre o qual nunca tive nenhuma dúvida é a teologia do
grande conflito apresentada cm Apocalipse 12:17 a 14:20. Tenho algumadificuldade para entender como isso tudo poderia acontecer no mundo
do início do século 21, mas não no esboço bíblico básico.
A colocação de Apocalipse 12:7 no fim da linha histórica do capítulo
12 prepara o terreno para os capítulos 13 e 14, com o capítulo 13 abor-
dando o poder do dragão nos últimos dias e o 14 focalizando a mulher,
ou igreja, dos últimos dias. Apocalipse 12:7 deixa claro que, além de os
mandamentos de Deus serem uma questão muito importante no tempodo fim, cies também serão o motivo do conflito, com a história préadven-
to chegando ao seu auge em Apocalipse 14:12: “Aqui está a perseverança
dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.”
Apocalipse 14:7, com as palavras “adorai Aquele que fez o céu, e a
Terra, e o mar, e as fontes das águas”, especifica inclusive qual manda-
mento será o motivo de conflito. Essa alusão ao texto de Exodo 20:11 e
Gênesis 2:13 coloca o sábado como questão controversa do fim dos tempos.O que está em jogo, porém, é muito mais do que simplesmente um
dia. Apocalipse 14:7 indica que a questão real é a adoração. Isso ocorre
também nos capítulos 13 e 14, que levantam a questão da adoração oito
vezes. A adoração é especialmente ressaltada no contraste traçado en-
tre aqueles que adoram o Deus criador do sábado em Apocalipse 14:7 e
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO 7 9
aqueles que adoram “a besla e a sua imagem" no verso 9. Aqui notamos
com interesse que dois dos Dez Mandamentos lidam especialmente com
a questão da adoração. O segundo mandamento fala da adoração falsa eé o assunto de Apocalipse 1 3 .0 quarto mandamento enfatiza a adoração
verdadeira a Deus e encontrase no centro do capítulo 14.
Com 0 domínio da questão da adoração no centro de Apocalipse 13
e 14, fica evidente que o dia de adoração no grande conflito como apre-
sentado em Apocalipse é meramente um símbolo exterior de lealdade to-
tal, dedicação verdadeira e adoração. Embora o dia tenha esse simbolis-
mo, não é a questão central. Afinal, muitos guardadores do sábado nãoestarão entre os salvos. As pessoas podem guardar o sábado por ser 0 dia
correto e mesmo assim estar em desarmonia com Cristo. Podemos guar-
dar verdadeiramente o sábado apenas através do poder do Espírito Santo
e na qualidade de indivíduos transformados que amam a Deus acima de
tudo e se importam profundamente com o próximo (ver Mt 22:3640).
Se vamos seguir o Apocalipse, precisamos ir além da questão do dia de
guarda e focar as questões do coração, da lealdade e da adoração.
A boa notícia sobre a teologia do grande conflito é que não é algo apre-
sentado somente pelos escritos de Ellen White. Ela está na Bíblia. Em-
bora seu cumprimento possa desafiar nossa imaginação, não há, dada a
condição do mundo hoje, lugar para dúvida em relação aos ensinos da
Bíblia sobre esse assunto.
O Remanescente
A questão do grande conflito levantada em Apocalipse 12:7 também
me faz lembrar da doutrina adventista sobre o remanescente. Muitos con-
cluem com base em Apocalipse 12:17 e 14:612 que a Igreja Adventista
do Sétimo Dia é a igreja remanescente.
Sobre esse assunto, parece haver um conflito entre o voto batismal e
as 28 crenças fundamentais da denominação. O voto batismal fala que aIgreja Adventista do Sétimo Dia é a “igreja remanescente”, enquanto as
crenças fundamentais enfatizam uma mensagem remanescente a ser pro-
clamada ao mundo pelo grupo de remanescentes que já estão na igreja.
A polêmica, que ocorreu há alguns anos sobre o título do livrotexto de
Richard Sqhwarz sobre a história adventista revela a tensão entre as duas
posições. Alguns consideraram L ight Bearers From the Remnant [Portadores
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8 0 a VISÃO APOCALÍPTICA
de Luz do Remanescente] um título apropriado, mas outros argumenta-
ram em favor de L ight Bearers to the Remnant [Portadores de Luz para o
Remanescente]. Venceu a palavra “para”, que reflete a posição das cren-ças fundamentais da denominação.19
Devo admitir que sou adventista do sétimo dia hoje em parte porque
somos a única denominação que conheço que prega a mensagem rema-
nescente de Apocalipse 12:1714:12, especialmente Apocalipse 14:612,
as últimas três mensagens a ser proclamadas ao mundo antes do segun-
do advento, mencionado no fim do capítulo 14. Preferiria, no entanto,
que houvesse centenas ou milhares de denominações pregando a men-sagem remanescente de Apocalipse 14, em vez de simplesmente uma.
Sou adventista por convicção e não por escolha. A teologia adventis-
ta não é perfeita, mas é a mais próxima da verdade bíblica que conheço.
A mensagem remanescente escatológica de Deus encontrada no co-
ração do Apocalipse de João (Ap 14:612) é:
• Uma mensagem bíblica empolgante.
• Uma mensagem enraizada no tempo (Ap 10:10, 11; 12:17; 14:620).• Uma mensagem digna de se viver e sacrificar por ela.
• Uma mensagem que precisa ser pregada com vigor e sinceridade.
Que Deus nos ajude a fazer exatamente isso!
1Kai Arasola, The End oj Historicism: Millerite Hermeneutic of Time Prophecies of the Old
Testament (Sigtuma, Suécia: Datem Publishing, 1990).2 Ver, por exemplo, James A. Montgomery, The B oo ko f Daniel, International Criticai Commentary
(Edinburgh: T. & T. Clark, 1927), p. 372, 373; Louis F. Hartman e Alexander A. Di Lella, The Book o f Daniel, The Anchor Bible (Garden City: Doubleday, 1978), p . 245, 250.
f William Miller, “Chronological Chart of the World”, Signs of th e Times, Iode maio de 1841, p. 20.
4 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1958), v. 2, p. 105.
’ Ver, por exemplo, C. K. Bcale, Th e Rook of Revelation, New International Greek TestamentCommentary (Grand Rapids: Eerdmans, 1999), p. 537539; R. H. Charles, The Revelation of St. John , International Criticai Commentary (Edinburgh: T. & T. Clark, 1920), v. 1, p. 262.
6 Joyce C. Baldwin, Daniel, Tyndale Old Testament Commentaries (Downers Grove: InterVarsity,1978), p. 206.
Kenneth A. Strand, “An Overlooked OldTestament Background to Revelation 11:1", Andrews University Seminary Studies 22 (1984), p. 320325, itálico acrescentado.
8 Ver, por exemplo, Leon Wood, A Commentary on Daniel (Grand Rapids: Zodervan, 1973), p.253; Charles Boutflower, In and Around the Rook of Daniel (Grand Rapids: Zodervan, s.d.),p. 185; Stephen R. Miller, Daniel, New American Commentary (Nashville: Broadman andHolman, 1994), p. 266.
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A RELEVÂNCIA DO ADVENTISMO
9 L. E. Froom, Prophetic F ailh o f Our Fathers, v. 4, p. 404.
10 Josephus, Antiquities o fth e Jew s 10. 11. 7.
11 Ver William H. Shea, Daniel 7-12, Ahundant Life Bible Amplificr (Boise: Pacific Press, 1996),
p. 145, 152.
12 Ver George R. Knight, Th e Cross o f Christ, p. 103121.
13 Ver George R. Knight, Exploring Hehreivs (Hagerstown: Review and Herald, 2003), p. 152,138, 139.
14 Ellen G. White, Primeiros Escritos (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 5457.
15 Ibid., p. 55.
16 William G. Johnsson, ln Absolute Co nfd en ce: The Boo k o f Hebrews Speaks to Our Day (Nashville: Southern Publishing Association, 1979), p. 116, itálico acrescentado. Ver tambémKnight,
Hebrews, p. 168.
17 William L. Lane, Hebrews 9-13, Word Biblical Commentary (Dallas: Word, 1991), p. 247.
18 Craig R. Koester, Hebrews, The Anchor Bible (Nova York: Doubleday, 2001), p. 427.
19 A edição de 2 000 do livro evitou a polêmica trocando o título para Light Bearers: A History ofthe Seventh-day Adventist Church [Portadores de Luz: Uma História da Igreja Adventistado Sétimo Dia].
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--------------------------Capítulo 4
Cenário de Crise
O engano do pensamento direto
e a profecia mais notável
Para alguns, parece muito claro o que a Bíblia ensina sobre o gran-
de conflito, assim como o fato de que essa escatologia não partiu de
Ellen White. Vivemos, porém, em uma era civilizada em que poucos Lêm
qualquer interesse na santidade do domingo. A maioria não se importa
com as leis dominicais e pouca importância se dá à maior parte dos as-suntos trazidos à tona a partir do século 19. Para muitos, o que importa
é o avanço da pregação do evangelho e de outras atividades genuinamen-
te importantes, como alimentar os famintos.
Partilho desses sentimentos. Isto é, partilho deles até o momento em
que observo atentamente o fluxo da profecia bíblica e o curso da histó-
ria nos aspectos escatológicos, políticos, tecnológicos e demográficos.
O Temeroso Caso do Pensamento Direto
A mai or i a de nós sofre do ma l do 'pensament o di ret o. Talvez muitos de
nós em nossa juventude tenhamos nos deparado com esse mal, ao nos
encontrarmos diante de não adventistas, citando 2 Pedro 3:3: “Tendo em
conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os
seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: 'Onde
está a promessa da Sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, to-
das as coisas permanecem como desde o princípio da criação.”
Hoje, porém, cada vez mais esses escarnecedores encontramse dentro do
adventismo. Parece que estão cansados de esperar a “breve” volta de Jesus.
Para o nosso tempo, sugiro as importantes passagens de Apocalipse 18. Fa-
lando sobre a queda de Babilônia e a civilização mundial, o texto menciona:
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CENÁRIO DE CRISE g 3
• “Em uma só hora, chegou o teu juízo” (verso 10).
• “Em uma só hora, ficou devastada tamanha riqueza!” (verso 17).
• “Porque, em uma só hora, foi devastada! [...] Assim, com ímpeto,será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada”
(versos 1921).
O cenário bíblico para o mundo não apresenta um futuro calmo e tran-
qüilo, mas prefigura a crise e um descontinuísmo radical em um curto es-
paço dc tempo como prenuncio da crise final. Temos visto algumas ilus-
trações a respeito disso em um passado não muito distante.
Em outubro de 1989, por exemplo, o governo da Alemanha Orientalconsideroume seu convidado, concedcndomc permissão para ir aonde
quer que eu desejasse dentro daquele país comunista. No momento em
que minha permissão para permanecer no país foi prorrogada, ninguém
imaginava que, antes mesmo de eu sair, os fortificados muros do governo
da Alemanha Oriental teriam caído, sendo logo acompanhados por todo
o bloco soviético. Por décadas, os soviéticos dominaram nossa vida e, en-
tão, em “uma hora” tudo se foi. Pode ser que alguém predissesse a quedado comunismo soviético, em função das deficiências do próprio sistema,
mas ninguém poderia ter previsto a rapidez do seu desaparecimento. Eu
gostaria de sugerir que o desmoronamento do bloco soviético é um tipo
histórico do que poderá ocorrer no fim dos tempos “em apenas uma hora”!
Outro cenário a ser avaliado é o da crise de 11 de setembro. Apenas
os mais céticos não enxergaram as possibilidades escatológicas/apocalíp
ticas relacionadas ao evento. Tudo ali tinha um cunho religioso. Mas e
se o 11 de setembro fosse apenas o começo? E se o dia 12 fosse em Mos-
cou, dia 13 fosse em Pequim, dia 14 em Londres, dia 15 em São Paulo,
e assim por diante? A probabilidade seria de que em trinta dias teríamos
visto medidas para um estado mundial de alerta “para proteger a popu-
lação”. Tudo em “uma hora” da história mundial.
O cjue falar das ameaças ecológicas que o planeta Terra enfrenta com ouso acelerado de recursos naturais das nações desenvolvidas e os países em
desenvolvimento decidindo seguir o mesmo curso? Observe especificamente
a explosão econômica na China e na índia, que somam 2,5 bilhões de con-
sumidores. Começamos apenas a ver a pressão que será colocada sobre os
recursos naturais. No livro Coll apse: Hoi v Societ i es Choose to Fai l or Suc
ceed [Colapso: Como as Sociedades Escolhem Fracassar ou Ter Sucesso],
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84 A VISÃO APOCALÍPTICA %
Jared Diamond comenta: “Há muitos otimistas' que defendem que o mundo
pode suportar até o dobro da população humana atual, considerando apenas
o crescimento numérico dc habitantes e não o aumento da renda média percapita. Contudo, jamais conhcci alguém que defendesse com seriedade a ideia
de que o mundo possa suportar doze vezes o impacto atual, embora um au-
mento dessa ordem resultaria do simples fato de todos os habitantes dos paí-
ses cm desenvolvimento adotar os padrões de vida dos países desenvolvidos.”1
O que aconteceria sc uma seca de dois anos sobreviesse sobre metade
dos maiores exportadores de alimentos do mundo, ou se atingisse os maio-
res produtores de grãos na região das grandes planícies norteamericanasdo Texas até o Canadá? Em tempos de escassez, quem tem alimento?
Desde a década de 1970, a “ética do naufrágio” tem sido uma respos-
ta a essa questão. A ideia básica que sustenta essa perspectiva social é a
de que “cada país rico é um bote salvavidas que irá subsistir apenas se
recusarse a consumir seus limitados recursos com as massas famintas
que nadam nas águas ao seu redor. Se comermos juntos hoje, todos pas-
saremos fome amanhã”.2 A resposta sobre a maneira dc lidar com esseproblema é geralmente discutida em termos de cooperação e compulsão.
Em tempos de significativa crise, continua o argumento, são aqueles que
jogam bola com os que estão no poder que não passarão fome. Não são
os direitos humanos individuais que contam, mas a saúde e o bemestar
da sociedade como um todo. Os que não concordarem em cooperar se-
rão dispensáveis. “Coloque muita gente dentro do bote salvavidas e to-
dos afundarão”, escreveu um sociólogo canadense. O mesmo pode ocor-rer com nossa espaçonave chamada Terra.”3
O grupo internacional de pesquisa interdisciplinar denominado Clube
de Roma resume bem o potencial escatológico da crise ecológica/popula-
cional ao relatar que “o conselho deseja corrigir três ideias erradas sobre
os direitos humanos. A primeira é a de que os direitos humanos são rela-
tivos apenas às liberdades individuais e que não são aplicáveis aos grupos
e às comunidades. Essa ideia tem suas raízes no liberalismo do século 19
e foi promovida pelas igrejas que enfatizam a salvação individual’. Na rea-
lidade, porém, as violações dos direitos humanos ocorrem em setores in-
teiros da sociedade e devem ser eliminadas em um contexto social. A se-
gunda ideia equivocada é a de que a questão dos direitos humanos é ‘não
política'. O concilio acredita que os direitos humanos são uma questão
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CENÁRIO DE CRISE 3 5
política. [...] A terceira ideia a ser corrigida é a de que os padrões dos direi-
tos humanos aplicamse apenas aos outros’, enquanto a ‘nossa’ situação é
diferente. E necessári a a cooperação i nt ernaci onal para garant i r a verdadei- ra apl i cação das normas dos di rei tos humanos.”4
Em síntese, os planos de contingência traçados por grupos seculares
e cientistas sociais têm sido expostos para prever uma crise ou crises de
tamanha magnitude que parecem tirar de vista a ideia de um curso di-
reto para o futuro do mundo. Uma comunidade mundial que está cada
vez mais se tornando interdependente em torno de vários eixos aguarda
nada mais que uma crise para forçála a funcionar sob uma espécie demodo de sobrevivência.
Que crise poderia ser essa? Pergunteme du-
rante 0 milênio e então poderei dar mais infor-
mações. Por enquanto, o que posso dizer é que,
embora os adventistas quase não toquem mais
no assunto, as manchetes que tomam conta das
capas de revistas ressoam como trombetas a um
volume cada vez mais apocalíptico. Eis alguns
itens recentes:
• “A Verdade sobre Negação” foi a manchete
sobre o tema do aquecimento global, que sugeriu
que poderá ser observado o aumento da tempera-
tura global em alguns graus Celsius. Talvez issonão pareça tão alarmante ao descobrir que na úl-
tima era do gelo a temperatura era de apenas 5°C inferior aos níveis atuais.
• “Um Novo Estilo de Guerra” foi o título de um artigo que trazia a
pergunta: “Como é possível parar inimigos que matam com artigos fa-
bricados pelo preço de uma pizza? Talvez a pergunta seja: você consegui-
ria impedilos?”
• “Estado de Inquietação” foi 0 título de um artigo que tratava dasimplicações da desintegração política do Paquistão, uma das potências
nucleares mundiais. A missão de Bin Laden teria sido muito mais fac-
tível se tivesse sido impulsionada por um contexto de tensão por arma-
mentos nucleares.
• Em um anúncio de página inteira, o History Channel divulgou um
programa de duas horas com o título nada sutil de “A Vida Depois das
Uma mul t i dão
de fa t os atuai s
pode sacudi r o
pl anet a Terra.
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8 6 A VISÃO APOCALÍPTICA
Pessoas”. "Bemvindo à Terra comi População Zero” foi *) título do pro-
grama seguinte.
Como não sou profeta, não sei muito sobre o futuro. Mas posso per-ceber que a multidão de fatos atuaiis pode sacudir o planeta Terra e criar
uma crise políticosocial mundial.
E interessante notar que os melhores livros sobre escatologia nem mes-
mo são publicados por editoras cristãs. O livro Populat ion Bomb [Bomba
Populacional], de Paul Erlich, fezme considerar a respeito de novos ru-
mos na década de 1960. Recentem<ente, um bestseller de Jared Diamond
lançado em 2005 e intitulado Col l apse: Hoi v Soci et i es Choose to Fai l or Succeed [Colapso: Como as Sociedades Escolhem Fracassar ou Ter Su-
cesso] tornouse leitura obrigatória) para aqueles que acompanham avi-
damente os fatos da atualidade. Diamond, obviamente, espera que todos
nos tornemos altruístas e aprendamos que devemos nos unir antes que
seja tarde demais. Ao lado dessa frase, fiz uma anotação na margem de
meu exemplar: “Pense no pecado, um fato universal que você demons-
trou amplamente em termos de egoísmo e que levou à queda de várias
culturas ao redor do mundo durante todas as épocas."
Para aqueles que apreciariam ver uma perspectiva cristã não ad-
ventista, Richard Swenson escreveu o livro H urt l i ng Tow ard Obl i v ion:
A Logica l A rgument For t he End o f t he A ge [Atirandose ao Esquecimen-
to: Um Argumento Lógico para o Fim dos Tempos], que trata da “irre
versibilidade do progresso”, das implicações do uso acelerado de mais emais de todas as coisas, da “queda 'do sistema mundial” e da nossa indi-
ferença diante de tudo isso.5
Já os que desejam uma perspect iva essencialmente adventista podem
consultar um livro recente de Marvin Moore, Coi dd I t Real l y H appen?
Revelat ion 13 in t he Li ght of H ist ory and Cur rent Events [Poderia Real-
mente Acontecer? Apocalipse 13 à Luz da História e dos Eventos Atuais],
o qual apresenta uma série de informações provocativas e relevantes.6Sem dúvida, sei que ler esse tipo de conteúdo está um pouco fora de
moda no adventismo, que está se acomodando a uma existência terrestre
confortável. Mas faça a experiência e provavelmente descobrirá por que
é adventista. O pensamento direto tem a tendência de nos deixar numa
posição confortável ao continuarmos a investir em nossos planos de apo-
sentadoria. No entanto, não é apenas a Bíblia que anuncia 'o fim, mas
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CENÁRIO DE CRISE 3 7
também as múltiplas possibilidades de total desastre cm uma era dc rá-
pido crescimento de potencial tecnológico.
Em seu livro Collapse, Jared Diamond analisa sociedades antigas emodernas que entraram em colapso ou estão nesse processo e observa o
estranho fato de que as sociedades frequentemente se autodestroem no
ápice de sua prosperidade, quando tudo parece ir bem, e avançam os li-
mites de suas reservas. Suas conclusões coincidem bem com as procla-
mações apocalípticas “em uma hora” (Ap 18:10, 17, 19).
Não sendo profeta, não posso especificar como será 0 futuro, mas sei
que Jesus previu 0 fim do pensamento direto. Em Lucas 21:26, Ele afir-mou que os homens desmaiariam de terror pela expectativa das coisas
que sobreviriam ao mundo.
Conheço bem a descoberta de um sociólogo da Universidade de Nova
York, Michael Barkun, que diz que “um desastre cria condições que pro-
vocam uma rápida alteração nos sistemas de crenças”.7 Em outras pala-
vras, 110 caso de uma crise dc grande magnitude, as pessoas agem das
formas mais imprevisíveis.Um caso que pode servir de exemplo é o das crianças americanas des-
cendentes de japoneses com quem freqüentei a escola logo depois da Se-
gunda Guerra Mundial. Elas passaram os primeiros anos em um “centro
de realocação” americano, 0 que não passa de um nome bonito para um
campo de concentração na América democrática.
Com o pânico de Pearl Harbor, “mais de 110 mil pessoas, a maioria
cidadãos americanos nativos, que nunca foram acusadas de haver come-tido qualquer crime”, foram aprisionadas durante a guerra em campos
de concentração espalhados desde 0 deserto da Califórnia até os pânta-
nos de Arkansas.8 Há alguns anos tive a oportunidade de visitar os dois
campos de Mazanar, na Califórnia, e o terrível campo nazista em Da
chau. O mais interessante foi observar que os dois tinham o mesmo dese-
nho. Essa, porém, não era a única semelhança. Nos dois casos, a maioria
dos prisioneiros tinha sido levada para lá meramente por ser “diferente”.
Os três poderes do governo federal apoiaram 0 aprisionamento de japo-
neses e mais de uma vez a Suprema Corte dos Estados Unidos sustentou
a “ordem de exclusão". Representando a Corte em um dos casos, o “juiz
Hugo Black reconheceu que, na ausência de guerra, seria inconstitucio-
nal esse tipo de restrição dos direitos civis para determinado grupo racial.
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gg A VISÃO APOCALÍPTICA
Ele observou, no entanto, que certas ações duras fazem parte da guerra e
disse que os japonesesamericanos poderiam estar sujeitos a isso porque
a segurança nacional assim o exigia”.9 Essa lógica, na realidade, foi cons-truída com base no preâmbulo da Constituição dos Estados Unidos, que
sugere que os poderes de polícia do Estado podem ser aplicados sempre
que algo ameaçar o “bemestar geral” da nação.
Que tamanha restrição à liberdade, mesmo na “terra da liberdade”!
Diante de certa crise, as coisas podem mudar “em uma hora”.
A situação japonesa levou dois historiadores constitucionais, Alfrcd
Kelly e Winfred Harbison, a concluir que, “em guerras futuras, nenhu-ma pessoa que pertencer a qualquer minoria racial, religiosa, cultural ou
política poderá estar segura de que o preconceito comunitário e o fana-
tismo não se expressarão em algum programa de supressão justificado
como necessidade militar’, com resultante aniquilação de seus direitos
civis mais básicos como membro de uma sociedade livre”.10
O fim do pensamento direto e do estilo de vida por ele proposto aguar-
da apenas uma crise suficientemente grande e o conseqüente pânico cau-sado por ela. Nessa linha, devemos lembrar que o cabo austríaco que co-
nhecemos por Adolf Hitler jamais ganhou poder na nação mais instruída
do mundo pelo golpe ou pela revolução. Ao contrário, as pessoas que es-
tavam famintas e que desejavam “volks wagons” [carros do povo] foram
as que o elegeram.
Nesse sentido, a Alemanha de 1930 é um tipo histórico do século 20
do que pode acontecer “em uma hora”. Coisas estranhas ocorrem em si-tuações de crise extrema.
A luz da Bíblia, da história e dos eventos da atualidade, não se pode
dizer o que é possível acontecer ou não nos Estados Unidos ou em qual-
quer parte do mundo. O pensamento direto é muito mais uma confortá-
vel ficção do que uma realidade em um mundo fragilizado.
Os adventistas dc hoje me lembram nosso bom amigo Sherlock Holmes
e seu fiel assistente Watson enquanto acampavam em uma expedição.
A meianoite, Sherlock acorda Watson e pergunta: “O que você está vendo?”
Watson faz um belo discurso sobre a beleza das estrelas, a forma da
constelação da Ursa Maior e a grandiosidade da Via Láctea.
“Seu tolo!”, Sherlock grita. “Alguém roubou nossa barraca!”
Essa história me lembra bem o adventismo do século 21. Perdemos
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CENÁRIO DE CRISE g g
algo de importância crucial e ficamos sentados apreciando as estrelas.
Sem esse algo, nossa mensagem corre o risco cie se tornar estéril.
A Visão Mais Extraordinária de Ellen White
Tudo isso me leva ao que considero a profecia mais extraordinária de
Ellen White. Ela fez poucas profecias com relação ao futuro em seu lon-
go ministério, mas encontramos uma delas em sua primeira visão, em
dezembro de 1844.
Enquanto eu estava orando junto ao altar da família, o Espírito Santome sobreveio. [...] Olhei mais para o alto e vi um caminho reto e estreito,
levantado em lugar elevado do mundo. () povo do
advento estava nesse caminho, a viajar para a cida ., , - i i . c , N a d a temos quede que se achava na sua extremidade mais atasta 1
da. Ti nham uma luz bri lhante colocada por Irás de TeceaTQUÜYltO QOles no começo do caminho, a anal um anjo me disse r .
. , f u t u r o , a m eno s ser o clamor da meianoi te [por exempl o, a co mpre J
ensão profética que levou ao cumprimento da profe OfUe eSC fU eçamO S
ciaem outubro de 1844]. Essa luz brilhava em toda vnnv i o i rn p i nn Li / f L u i i L i ü t c i í L
extensão do caminho, e proporcionava claridade
para seus pés, para que assim não tropeçassem. Se C}Ue 0 Sen h o r
conservavam o olhar fixo em Jesus, que Se achava jqQg t6?71 g u i a d o
precisamente diante deles, guiandoos para a ci-
dade, estavam seguros. Mas logo alguns ficaram
cansados, e disseram que a cidade estava muito longe. [...] Outros t emera
riament e negavam a exi stência da luz atrás deles e diziam que não fora Deus
quem os guiara tão longe. A luz atrás deles desaparecia, deixandolhes os
pés em densas trevas, de modo que tropeçavam e, perdendo de vista o si-
nal e a Jesus, caíam do caminho para baixo, no mundo tenebroso e ímpio.”11
Grave essa imagem de dezembro de 1844. Os adventistas que logo se tor-
naram os adventistas evangélicos americanos e os cristãos do advento for-
mavam um grupo de 50 mil pessoas em meados de 1845. O movimento ad-
ventista espiritualizado também consistia cie um grande número de adeptos
no início de 1845. Os dois grupos, em maneiras diferentes, rejeitaram a he-
rança profética e logo desapareceram no decorrer dos 160 anos seguintes.12
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9 0 A VISÃO APOCALÍPTICA
Em contraste, a linha adventista sabatista não tinha nenhum membro
em 1845. Em outras palavras, ela não existia e nem se tornaria visível até
1847/1848. Mas os sabatistas cresceram sobre a sua herança profética; fo-ram dirigidos pela lógica dc Apocalipse 10:11, 14:6 e a visão apocalíptica
de ir aos quatro cantos da Terra. Chegaram a quase 16 milhões em 2008.
Atualmente, duas denominações pósmileritas desapareceram, três es-
tão tentando sobreviver com algwns poucos milhares de adeptos e aque-
la que manteve a herança apocalíptica prosperou.
Mas ela não necessariamente continuará a prosperar. Espero nunca
ter que escrever uma história do adventismo que se assemelhe à histó-ria da Igreja de Deus (Sétimo Dia) e à dos Cristãos do Advento. A par-
te íinal da história da Igreja de Deus (Sétimo Dia) escrita em 1973 é in-
titulada “Uma Igreja Decadente” e as últimas palavras do livro são as da
mensagem de Cristo à igreja em Sardes: “Tens nome de que vives e es-
tás morto” (Ap 3:1)!13
De forma similar, a última seção da impressionante história dos Cris-
tãos do Advento escrita em três volumes por Clyde Hcwitt tem o título:
“Devese Dizer que uma Denominação Está cm Decadência?” As últi-
mas palavras do livro são: “Espero sinceramente que alguns estejam es-
cutando. Amém!”14
Seria muito importante se alguns de nós adventistas do sétimo dia
também estivéssemos escutando. “Quem tem ouvidos, ouça o que o Es-
pírito diz às igrejas" (Ap 3:22).À luz do caminho trilhado por outros adventistas pósmileritas, talvez
seja a hora de tomar as palavras de Ellen White a respeito de lembrar nossa
história passada com um pouco mais de seriedade: “Ao recapitular a nossa
história passada, havendo revisado cada passo de progresso até ao nosso ní-
vel atual, posso dizer: Louvado seja Deus! Ao ver o que o Senhor tem efetu-
ado, enchome de admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada
temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira emque o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado.”15
• O livro do Apocalipse é um chamado aos adventistas estéreis, e
àqueles que estão em processo de esterilização, para acordarem antes
que seja tarde demais.
• O livro do Apocalipse é um chamado a pregar a mensagem que tor-
nou o adventismo um movimento mundial.
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CENÁRIO DE CRISE g J_
• O livro do Apocalipse é um chamado a unirmos forças com o Leão
e Cordeiro que deseja montar em Seu cavalo branco e dar um fim a essa
confusão que chamamos de história mundial.• O livro do Apocalipse é um chamado pessoal a você e a mim para
pregarmos a mensagem neoapocalíptica que utiliza a visão do século 19,
mas que é conscientemente relevante à realidade do século 21.
• O livro do Apocalipse é um chamado de Cristo a todos aqueles que
têm ouvidos para ouvir o que o Espírito diz à igreja. Ouc Deus ajude Sua
igreja nesse ministério! Amém!
! Jared Diamond, Collapse: Hoiv Societies Choose lo Fail or Succeed (Nova York: Viking, 1005),
p. 495.
2 Ronal J. Sider, Rich Christians in an Age ofHunger, 4a ed. (Dallas: Word, 1997), p. 33.
? Ver Penelope ReVelle e Charles ReVelle, Th e Environment: Issues and Ch oices for Society, 2a ed. (Boston: Willard Crant Press, 1984), p. 146, 147.
4 Ervin Laszlo et a)., G oal sfor Mankind: A Report to the Club of Rome on the New Horizons of Global Community (Nova York: E. P. Dutton, 1977), p. 244, itálico acrescentado.
5 Richard Swenson, Hurtling Toward Oblivion: A Log ical Argument fo r the E nd o f the Age (Colorado Springs: NavPress, 1999).
6 Marvin Moore, C oid d It Really Happen? Revelation 13 in the Light of History and Current Events (Boise: Pacific Press, 2007).
7 Michael Barkun, Disasters and the Millennium (New Haven: Yale University Press, 1974),p. 113, citado em Moore, p. 239.
8 Peter Irons, A People s History o f the Suprem e Cou rt (Nova York: Viking, 1999), p. 349. Ver
também Roger Daniels, Prisoners Without Trial: japanese Americans in World War II (NovaYork: Hill and VVang, 1993).
9 Kermit L. Hall, ed., The Oxford Companion to the Supreme Court ofthe United States (NovaYork: Oxford University Press, 1992), p. 944, 945.
10 Alfred H. Kelly e Winfred A. Harbison, Th e American Constitution: Its Origins and Development (Nova York: W. W. Norton, 1948), v. 2, p. 822; cf. Daniels, p. 108114.
11 E. G. White, Primeiros Escritos, p. 14, 15, itálico acrescentado.
12 Para a dinâmica do declínio das denominações mileritas, ver G. R. Knight, Millenn ial Fever, p. 327339.
13 Richard Nickels, A History o fth e Seventh Day Church ofG od (s.l., 1973).
14 Clyde E. Hewitt, Devotion and Development (Charlotte: Venture Books, 1990), p. 367, 373.
15 Ellen G. White, Life Sketches of Ellen G. W hite (Mountain Vievv: Pacific Press, 1915), p. 196.
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Capítulo 5
Expectativa Equilibrada
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Vivendo a visão apocalíptica no século 21
Os quatro primeiro capítulos apresentaram a visão apocalíptica
a partir da perspectiva do livro de Apocalipse. Esse ponto de vista acom -
panha o curso progressivo da história enquanto o grande conflito entre
o bem e o mal se desenvolve, atingindo o auge com a volta de Jesus nasnuvens do céu c o estabclccimento de Seu reino eterno.
E importante reconhecer que a visão geral do Apocalipse é apenas
um dos aspectos da visão apocalíptica do Novo Testamento. O segun-
do aspecto aparece nos evangelhos sinóticos (Mt 24; 25; Mc 13; Lc 21).
A Visão Apocalíptica Sinótica
A visão apocalíptica sinótica tem um fluxo diferente do encontradoem Apocalipse. Apesar de cada apresentação sinótica começar com a
descrição do que se considera “sinais dos tempos”, todas terminam com
o conselho de vigiar e estar pronto, pois ninguém realmente sabe quan-
do virá o fim. Mesmo a função dos sinais, dado o fato de a maioria deles
lidar com eventos que se repetem ao longo da história, não se resume a
nos dizer quando o fim virá. O objetivo dos sinais é chamar nossa aten-
ção para o fato de que precisamos v i v erem estado de cont ínua expect at i va ao aguardarmos o segundo advento, pois ninguém sabe “o dia e a hora”,
a não ser o Pai (Mt 24:36).
A função dos primeiros 41 versos de Mateus 24 é desenvolver nos ver-
dadeiros fiéis a consciência do advento e preparálos para as instruções
de Mateus 24:4225:46, em que Jesus repetidamente exorta para que vi-
giem e se preparem para o maior evento da história.
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EXPECTATIVA EQUILIBRADA 9 3
As cinco parábolas encontradas desde Mateus 24:42 até o fim do
capítulo 25 revelam o que precisa acontecer na vida dos fiéis enquan-
to aguardam a volta de seu Senhor. Ou seja, 0 t exto de M at eus 24:42 até 25:46, com seus paralelos em Marcos e Lucas, demonstr a como v i ver a
visão apocal ípt i ca di a a dia.
Antes de examinarmos a progressão que ocorre entre as parábolas, de-
vemos notar uma informação que aparece nas entrelinhas de todas elas,
ou seja, a volta de Cristo:
• Demoraria (Mt 24:48).
• Tardaria (Mt 25:5).• Ocorreria "depois de muito tempo” no futuro (verso 19).
Já se passou muito tempo. Jesus sabia do que estava falando.
A questão que Cristo precisava lidar, em fase dos aspectos desencora
jadores e ameaçadores da fé ligados à Sua demora, relacionavase às ati-
tudes e à vida diária de Seus seguidores no longo ínterim entre a ascen-
são e o segundo advento.
O verso 42 apresenta a conseqüência prática do que foi exposto ao lon-go de Mateus 24. Se ninguém sabe a hora do segundo advento, exceto o
Pai (verso 36), cabe aos cristãos “vigiar”, pois não fazem a menor ideia do
dia nem da hora da volta do Senhor (verso 42).
Com isso, no verso 43, Jesus conta uma pequena parábola conclaman-
do Seus seguidores a ficar constantemente em alerta. Seu papel é vigiar
assim como o pai de família vigiaria a casa se soubesse que os ladrões
tentariam arrombála. Um estado constante de alerta e prontidão para avolta do Senhor é a mensagem dessa pequena parábola. Afinal, “à hora
em que não cuidais, o Filho do Homem virá” (verso 44). E interessante
notar que, ao longo da história, o momento em que menos se aguarda a
volta de Cristo é sempre “hoje”.
William Barclay conta a parábola de três aprendizes do diabo selecio-
nados para ser enviados à Terra para completar seu treinamento. Cada
um apresentou seu plano a Satanás para a destruição da humanidade.O primeiro propôsse a dizer às pessoas que Deus não existe. Satanás
respondeu que isso não enganaria muitos, pois a maioria tem a sensação
do contrário. O segundo disse que proclamaria que o inferno não existe.
Satanás rejeitou essa tática também, pois a maioria das pessoas tem no-
ção de que o pecador receberá o que merece. “O terceiro disse: ‘Direi aos
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94 A VISÃO APOCALÍPTICA
homens que não há pressa.’ ‘Vá’, respondeu Satanás, e você arruinará mi-
lhares de homens.’”1
A ilusão mais perigosa é pensar que o tempo nunca chegará ao fim."Amanhã” é uma palavra perigosa. E contra essa atitude que Cristo nos
adverte na primeira de Suas cinco parábolas sobre vigilância e prontidão.
A segunda parábola (versos 4551) continua abordando o tema da ur-
gência c vigilância, mas com acréscimos de várias nuances. Essa pará-
bola enfatiza que os cristãos têm deveres e responsabilidades éticas a ser
colocadas em prática enquanto esperam c vigiam. Não devem aguardar
na ociosidade. Nessa história, o senhor também demora a voltar por ra-zões desconhecidas aos servos.
Infelizmente, a demora pode gerar mau comportamento. Como os
servos se encontram sozinhos em meio a uma situação incerta, um de-
les permite que suas paixões mais baixas venham à tona. Ele começa a
tratar os outros com maldade c a viver de maneira inadequada, pensan-
do que ainda tem muito tempo.
Nesse ponto, Jesus reitera a lição da primeira parábola: “Virá o senhordaquele servo em dia em que não o espera c em hora que não sabe” (ver-
so 50). Em seguida, no verso 51, Jesus ensina outra lição, algo que rea-
parecerá no fim da quarta e da quinta parábolas (Mt 25:30, 46). Os ser-
vos infiéis perderão sua recompensa celestial e no lugar dela receberão a
mesma recompensa dos judeus infiéis (Mt 8:12), dos ímpios em geral (Mt
13:42, 50) e dos escribas e fariseus (Mt 23:13, 15, 23, 25, 27, 29). Assim,
manifesta o conceito de fidelidade e alerta de maneira mais completa do
que na primeira parábola.
A terceira parábola (Mt 25:113) prossegue com o tema de aguardar
com expectativa vigilante iniciado nas primeiras duas parábolas, mas ou-
tra vez Jesus aumenta a complexidade da mensagem. A cena da parábola é
um casamento palestino, cerimônia que tipicamente durava uma semana
ou mais. As cerimônias de casamento envolviam toda a comunidade, e,
ao contrário do costume ocidental, os recémcasados não saíam em lua
demel. Em vez disso, permaneciam em casa recebendo os convidados.
Apesar de a parábola das dez virgens ter como pano de fundo a ce-
lebração dc um casamento, não é necessário entender todos os costu-
mes antigos relacionados ao casamento para entender as lições princi-
pais transmitidas pela história. No entanto, um detalhe de importância
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EXPECTATIVA EQUILIBRADA g 5
crucial é que Jesus, assim como em Mateus 9:15, é o noivo. Essa é uma
declaração corajosa, pois o Antigo Testamento frequentemente descreve
Deus (em vez do Messias) como o noivo e Israel como a noiva (ver, porexemplo, Is 54:4, 5; Jr 2:2; Os 13).
Além da chegada do noivo, a ênfase da parábola recai sobre as dez
virgens e suas lâmpadas (verso 2). iNa verdade, o foco principal está na
divisão entre as virgens. A parábola afirma que cinco delas são sábias e
cinco são néscias. Os preparativos que fizeram para a chegada do noivo
determinaram a diferença entre os dois grupos. Todas tinham lâmpadas,
mas apenas a metade havia levado óleo suficiente.Observe que todas as dez eram aparentemente cristãs, pois todas
aguardavam a chegada do noivo. Lembrese
também de que todas as dez ficaram sonolen-
tas e adormeceram (verso 5). Assim, nessa pa-
rábola, não estamos lidando com fiéis e infiéis.
Todas alegam ser fiéis.
O ponto principal dessa parábola é que o noi-
vo “demorou a chegar” (verso 5, NVI). Por esse
motivo, as virgens adormeceram. As necessi-
dades terrenas continuam até mesmo enquan-
to os seguidores de Cristo aguardam Sua volta.
Ninguém pode viver num constante estado de
grande alerta. O Lema da demora da vinda deCristo é apresentado em Mateus 24:48 e reapa-
rece pela terceira vez em Mateus 25:19. A demora, sem dúvida, já esta-
va se tornando um problema para alguns fiéis na ocasião cm que o Evan-
gelho de Mateus foi escrito aproximadamente na terceira década após a
ascensão de Cristo.
A diferença entre as virgens sábias e néscias, como observamos, não era
se estavam adormecidas ou não. Todas estavam dormindo. Mas nem todashaviam se preparado para a convocação. Algumas haviam deixado para se
preparar no último minuto, quando já era tarde demais. Jesus disse que
pagaram caro por sua negligência. “Fechouse a porta” (Mt 25:10), o tem-
po de graça chegou ao fim (ver também Ap 22:10, 11) e perderam o gran-
de banquete de casamento do Cordeiro por ocasião do segundo advento
(Mt 25:1042; Ap 19:9).
N i nguém pode
se apoi ar na
preparação de
out ra pessoa.
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9 6 A VISÃO APOCALÍPTICA
Mateus 25:13 apresenta a moral da história: "Vigiai, pois, porque não
sabeis o dia nem a hora.” A moral dessa história também foi a lógica que
permeou as duas primeiras parábolas da série. Mas essa acrescenta o con-ceito crucial de que ninguém pode se apoiar na preparação de outra pes-
soa. Enfrentaremos o julgamento dc Deus individualmente.
Notase que a parábola das virgens não indica a maneira de nos pre-
pararmos para a chegada do noivo. Esse será o tema das duas parábo-
las finais.
A parábola dos talentos (versos 1430), assim como as três primeiras
parábolas, continua a enfatizar a importância de estar pronto para a vindado Mestre. Entretanto, aborda uma questão não respondida anteriormen-
te: o que significa estar pronto?
O significado de estar pronto é a mensagem da parábola dos talentos. O
enredo da história c bastante simples. Um homem (Cristo) se ausenta do país
e confia a cada um de seus servos certa quantia de talentos (grande soma de
dinheiro). Para um, confia cinco, a outro, dois, e para o último, um talento.
Os dois primeiros investem os talentos, fazendo com que se multipli-
quem, mas o terceiro simplesmente enterra o único talento que recebeu,
a fim de mantêlo seguro. No mundo antigo, o ato de enterrar dinhei-
ro não era um conceito estranho se alguém desejava apenas segurança.
Claro, a pessoa precisava se lembrar em que local havia enterrado o di-
nheiro. A prática de enterrar itens dc valor aparece na parábola do tesou-
ro escondido, relatada em Mateus 13:44.O mestre, porém, deseja mais do que segurança para os talentos con-
fiados. Ele deseja que os talentos gerem lucros. Isso se torna evidente no
momento em que, “depois de mui t o t empo' ’ (note a semelhança desse as-
pecto com as duas parábolas anteriores [Mt. 24:48; 25:5]), o mestre re-
torna e exige um ajuste de contas para determinar a fidelidade de seus
servos durante sua ausência (verso 19).
Na cena do julgamento que se segue, o mestre recompensa os doisservos que foram fiéis em cumprir suas responsabilidades durante sua
ausência, mas pune aquele que não fez nada mesmo sabendo que o mes-
tre esperava que fizesse alguma coisa com o talento que recebeu (verso
24). O servo irresponsável, além de não receber nenhuma recompensa,
ainda é desprovido daquilo que tem. Na opinião do mestre, ele está des-
qualificado para entrar no reino (versos 2830).
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EXPECTATIVA EQUILIBRADA 9 7
A lição é clara: estar preparado para a vinda de Cristo não significa
aguardar passivamente esse evento; estar pronto é a atividade responsá-
vel que produz resultados para o reino do Céu —resultados que o Mes-tre pode ver e aprovar.
Aprendemos também com essa parábola que Deus não espera os mes-
mos resultados de todo mundo. Os cristãos apresentam níveis variados de
habilidade (verso 15). Contudo, não é a quantidade de habilidades de uma
pessoa que será avaliada no julgamento, mas se ela colocou em prática a
gama completa de habilidades que Deus lhe concedeu. As pessoas não são
iguais em suas habilidades, mas elas podem ser iguais em esforço. Deusespera receber bons juros no investimento que fez cm cada um de nós.
Outra lição extraída da parábola dos talentos é que o povo fiel é "re-
compensado, não com grandes somas de dinheiro, mas com uma respon-
sabilidade ainda maior".2 A grandeza baseada no ato de servir (Mt 20:26
28) continuará na cra por vir. Tratase de um princípio eterno do reino
do Céu. Ellen Whitc resumiu muito bem esse conceito ao escrever que
a verdadeira educação “prepara o estudante para a satisfação do servi-ço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um serviço mais
amplo no mundo vindouro”.3
A parábola das ovelhas e dos cabritos (que tecnicamente se trata
mais de uma cena do julgamento apocalíptico do que uma parábola) é 0
auge do tema do julgamento que começou em Mateus 23. Ela também
completa as instruções de Jesus sobre a preparação. Ao passo que as
três primeiras parábolas da sequência colocam a ênfase no ato de vigiar(Mt 24:4225:13) e a quarta reforça o ato de trabalhar enquanto aguar-
damos o retorno do Mestre (Mt 25:1430), essa parábola (versos 3146)
mostra a natureza essencial desse trabalho.
A parábola das ovelhas e dos cabritos é um vivido retrato falado da se-
paração final que ocorrerá na ocasião em que Jesus voltar nas nuvens do
céu. E um retrato que não deixa espaço para meiotermo ou segunda chan-
ce. Seremos ovelhas (símbolo do povo de Deus no Antigo Testamento) oucabritos. Ficaremos à direita (símbolo do favor) ou à esquerda (símbolo de
desfavor). Não há meiotermo. Tampouco a decisão do julgamento estará
sujeita a apelações ou recursos. A cena é de finalização. Aqueles que dei-
xaram de fazer uso apropriado do tempo de espera e vigilância antes do
segundo advento terão perdido para sempre 0 reino (verso 46).
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98 A VISÃO APOCALÍPTICA
A surpresa é um elemento crucial nessa parábola. Tanto as ovelhas
quanto os cabritos ficam surpresos com o veredito do rei quanto ao seu
caso particular. Os dois grupos questionam o veredito (versos 3739, 44).O motivo da surpresa originase da falsa interpretação da verdadei-
ra religião (ver também Tg 1:27; Rm 13:810) defendida pela maioria das
pessoas. Km geral, as pessoas acreditam que o coração da verdadeira re-
ligião é a crença nas doutrinas certas ou a prática de certos rituais e es-
tilo de vida. Mas essa não é a posição bíblica.
Em um dos maiores textos do Antigo Testamento, Deus declarou atra-
vés de Miqueias que o que Ele requer de Seus filhos não é primeiramenteo comportamento em público ou a obediência aos rituais, mas “que pra-
tiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu
Deus’’ (Mq 6:8). Jesus citou essa passagem três vezes em Mateus (9:13;
12:7; 23:23), sempre dentro de um contexto de versos sobre o falso en-
tendimento da verdadeira religião. O restante do Novo 'Testamento abor-
da esse mesmo tema. Assim, Tiago pôde escrever: “A religião pura e sem
mácula, para com o nosso Deus c Pai, e esta: visitar os órfãos e as viúvasnas suas tribulações e a si mesmo guardarse incontaminado do mundo”
(Tg 1:27). Paulo pôde declarar: “Quem ama o próximo tem cumprido a
lei” (Rm 13:810; ver também G1 5:14).
O primeiro evangelho não guardou silêncio sobre a verdadeira reli-
gião e sua recompensa. Jesus falou a respeito desse assunto de manei-
ra clara ao afirmar: "E quem der a beber, ainda que seja um copo de
água fria, a um destes pequeninos, por ser este Meu discípulo, em ver-
dade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt 10:42).
Ele também observou que os dois maiores mandamentos podem ser re-
sumidos em amar a Deus e ao próximo (Mt 22:3640), definiu a per-
feição como o ato de tratar os inimigos com misericórdia (Mt 5:4348;
Lc 6:36) e explicitamente disse ao jovem rico, guiado totalmente pelo
comportamento exterior, que, se ele quisesse ser perfeito, deveria ven-
der todas as posses e doálas aos pobres. Sua recompensa seria o tesou-
ro do Céu (Mt 19:21).
Esses ensinos atingem o ponto máximo em Mateus 25:3146.
Aqui, Jesus apresentou o padrão do julgamento com clareza inigualá-
vel. Não nos será perguntando em que acreditamos ou por que guarda-
mos o sábado, devolvemos o dízimo ou cuidamos bem de nossa saúde.
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EXPECTATIVA EQUILIBRADA 9 9
Embora essas coisas sejam importantes, podemos praticálas rigorosamen-
te e ainda assim estarmos totalmente perdidos (Mt 23:23, 24). A ques-
tão real do julgamento é se demonstramos amor verdadeiro ao próximo.Além de esse ponto ser claro como cristal no primeiro evangelho, Ellen
White o resume muito bem. Em seu comentário sobre Mateus 25:3146,
afirmou que Jesus descreveu “aos discípulos, no Monte das Oliveiras, as
cenas do grande dia do Juízo. E apresentou Sua decisão como girando em
torno de um ponto. Quando as nações se reunirem diante dEle, não haverá
senão duas classes, e seu destino eterno será determinado pelo que houve-
rem feito ou negligenciado fazer por Ele na pessoa dos pobres e sofredores”.4Alguns sustentam que os versos 31 a 46 ensinam que a salvação vem
pelas obras, mas esse não é o caso. A passagem
fala a respeito do padrão do julgamento final em
vez de como somos salvos. Fundamentando lodo
o primeiro evangelho está a concepção de que As obTQ .S C\ U6
Cristo pagou o preço pelo pecado em Sua gran r e a ]m e n tede missão de salvar Seu povo dc seus pecados(Mt 20:28; 1:21). O propósito dos versos 31 a 46 COYltClYYl SÜO
é a evidência tangível de que maneira somos sal s i f T t p l eS 6 Ylão vos. Se estamos salvos, nossa vida produzirá evi-dências de que internalizamos a graça e o amor CQ.lculQ.dciS. de Deus pela disposição de transmitir esses dons
ao próximo. Assim, Joachim Jeremias pôde escre-
ver que, “no julgamento final, Deus procurará a
fé que foi vivida”."’ De forma semelhante, Leon Morris declarou: “Deve-
mos manter em mente que é comum em toda a Escritura que somos sal-
vos pela graça e julgados pelas obras. [...] As obras que fazemos são a evi-
dência da graça de Deus em ação em nós ou de nossa rejeição da graça.”6
Uma lição importante extraída da parábola das ovelhas e dos cabri-
tos é que as obras que realmente contam são simples e não calculadas.São tão simples quanto alimentar o pobre e visitar o doente. São não cal-
culadas no sentido de que quem as pratica não o faz para alcançar méri-
to, mas porque o amor de Deus está em seu coração e flui naturalmente
ao próximo. Atos de auxílio e misericórdia tornaramse naturais. O amor
de Deus foi internalizado e é demonstrado na vida diária, mesmo que
não se tenha consciência dessa virtude.
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100 A VISÃO APOCALÍPTICA
Por outro lado, a atitude dos que forem considerados como cabritos
é que, se soubessem que o doente e o pobre eram pessoas importantes,
teriam sido os primeiros a ajudálos. Tiveram os olhos voltados para oprestígio, a recompensa e o reconhecimento e fracassaram em interna-
lizar o amor de Deus. Por isso, não perceberam o que realmente impor-
ta na verdadeira religião. A religião que possuem é, na verdade, uma for-
ma disfarçada de egoísmo.
Para todas essas pessoas, Jesus diz: “Não vos conheço” (Mt 25:12).
“Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos Céus,
mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus. Muitos,naquele dia, hão de dizerMe: Senhor, Senhor! Porventura, não temos
nós profetizado em Teu nome, e cm Teu nome não expelimos demônios,
e em Teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explici-
tamente: nunca vos conheci. Apartaivos de Mim, os que praticais a ini-
qüidade” (Mt 7:2123).
A qualificação essencial para o reino do Céu é a internalização incons-
ciente do amor de Deus e sua expressão na vida diária. Tais pessoas co-meçaram a viver o princípio do servir e a grandeza que aparece vez após
outra no Evangelho de Mateus. Elas estão seguras à destra de Deus, pois
internalizaram o princípio do amor, o princípio do reino. Desenvolveram,
por meio da graça, a justiça que excede a dos escribas e fariseus. Assim,
prepararamse para entrar no reino do Céu (ver Mt 5:20).'
Vida Apocalíptica Equilibrada
Tendo em mente as instruções da visão apocalíptica sinótica, não é
de surpreender que, ao longo da história da Igreja Adventista do Sétimo
Dia, alguns, em face da demora escatológica, tenham sido tentados a dei-
xar de pregar a visão apocalíptica de Apocalipse e preferido a versão si-
nótica. A pregação da visão apocalíptica do livro de Apocalipse era mui-
to importante no século 19, e ainda é, mas está fora de moda atualmente.Hoje, a visão é a de que precisamos ser realistas, ser relevantes, e seguir
o exemplo de Jesus quanto à justiça social, à assistência aos necessitados,
e assim por diante. Essa é a maneira de sermos relevantes no século 21.
Existem três problemas com a ideia de que esse aspecto é a mis-
são principal da igreja. O primeiro e mais importante é que Jesus rejei-
tou essa abordagem. Embora Ele tenha trabalhado muito erri favor dos
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EXPECTATIVA EQUILIBRADA J_Q 1
pobres e sofredores ao longo de Seu ministério, sabia que os problemas
do mundo nunca seriam solucionados dessa forma. Seguir o caminho da
justiça social, enfatizou Ravi Zacharias, é “ler de maneira errada o rotei-ro" do Novo Testamento.8
O melhor exemplo da posição de Jesus encontrase na ocasião em que
alimentou a multidão de cinco mil pessoas, que ficaram impressionadas
e decididas a “arrebatáLo para O proclamarem rei” (Jo 6:15). Elas se
lembraram de que Moisés, o grande libertador, havia dado aos antepas-
sados “o maná no deserto” (verso 31). Obviamente, ali estava o segundo
Moisés, o segundo libertador, outro profeta (verso 14; Dt 18:18), que, as-sim como Moisés, era capaz de fazer pão cair do céu. Por isso, o intui-
to de tornáLo rei. Essa possibilidade conquistou até mesmo o consenti-
mento dos discípulos. Mateus relata que Jesus teve que "fazer com que
os discípulos entrassem no barco e voltassem para casa enquanto Ele fi-
cou para despedir a multidão (Mt 14:22). Para Jesus, a grande tentação
foi o caminho para o Céu através “da assistência aos pobres”. Afinal, Ele
realmente tinha poder para fazer com que as pedras se transformassemem pães (ver Mt 4:3, 4), e as pessoas, cuja vida geralmente era domina-
da pela fome, ficaram impressionadas tão impressionadas que estavam
dispostas a estabelecer o reino imediatamente.
Essa foi uma tentação de primeira ordem. “Est abeleça o Rei no , sugeri a,
baseado no pão. Torneo o pont o número de um de Seu programa de com-
bat e àfome." 9 Isso éum mini stéri o realment e rel evant e, mas fo i t ambém um
impor t ant e cam i nho ao mini stéri o r ej ei t ado i nsi stentement e po r Jesus tanto
em João 6 quanto em Mateus 4. Sua via de acesso principal ao ministé-
rio visava elevar os “ouvintes de sua existência árida e dominada pelo ali-
mento para o reconhecimento da fome suprema de vida que podia ser sa-
ciada por um pão diferente. [...] Seu desejo era satisfazer uma fome muito
maior”,10 a fome da alma humana e a necessidade da redenção final. As-
sim, enquanto continuava a alimentar os pobres e apontar a necessidadede justiça social, o fo co pr i ncipal de Jesus fo i o fat o " i rr el evant e” da cruz ra-
di cal e a pregação do evangel ho da p l ena redenção de um mundo de pecado.
Com base nesse pensamento, chegamos ao segundo problema sobre o
caminho para o reino através da “assistência aos pobres”: foi o próprio Cristo
que comissionou a pregação das três mensagens angélicas de Apocalipse 14
logo antes do segundo advento. Foi Cristo que Se revelou a João (Ap 1:13)
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102 A VISÃO APOCALÍPTICA
e enviou três anjos com as mensagens do “evangelho eterno” para o mun-
do inteiro (Ap 14:6). Parte dessas boasnovas é que é "chegada a hora do
Seu juízo” (verso 7), o reinado do pecado está no fim e Deus em brevevirá para resgatar Seu povo deste mundo de iniqüidade, fome, tristeza
e morte (Ap 14:1420; 19; 21:14). A solução de Jesus vai muito além do
que a de remendar nosso mundo despedaçado com reformas sociais, por
mais louváveis que tais ações sejam. E um erro grave separar o Cristo da
visão apocalíptica sinótica da visão apresentada em Apocalipse. As duas
mensagens provêm dEle.
O terceiro problema para os adventistas ao encarar o auxílio aos po-
bres e sofredores como o programa apocalíptico principal da denomina-
ção é que Ellen White advertiu contra essa atitude de forma muito clara.
O fim do século 19 testemunhou J. II. Kellogg dar início a um movimen-
to de justiça social muito relevante e bemsucedido em favor dos pobres
e dos marginalizados. Apesar de Ellen White não ter tido a menor dúvi-
da de que “se tratava de uma boa obra” e que “o Senhor tem uma obra aser feita em prol dos excluídos”, foi firme ao declarar que as energias c os
recursos do movimento adventista não devem “ser consumidos em fazer
um trabalho que o mundo faria amplamente”. “Mas”, continuou, “o mun-
do não fará o trabalho que Deus confiou ao Seu povo.”11
Em outra ocasião, Ellen White observou que o Exército da Salvação
estava fazendo um bom trabalho, mas que os adventistas não deveriam
tornar aquilo o seu foco principal. Em vez disso, “o Senhor traçou a nossamaneira de agir. [...] A verdade para este tempo deve ser proclamada.”12
Para ela, essa verdade era a tríplice mensagem angélica de Apocalipse
14. Ellen White nunca se cansou de lembrar os adventistas de que mui-
tas outras pessoas carregavam o fardo da justiça social e do ministério ao
pobre e ao necessitado, mas que não havia ninguém mais que pregasse a
última mensagem apocalíptica de Deus. Essa pregação, ela costumava de-
fender, foi confiada por Deus especialmente ao movimento adventista.1"A esta altura, precisamos reenfatizar que a visão apocalíptica do Apo-
calipse e a do apocalipse sinótico não se opõem uma à outra. Ao contrá-
rio, elas se complementam. Cada uma tem seu lugar, como ilustrado no
ministério de Cristo. Ou seja, embora o Salvador tenha ajudado os sofre-
dores e alimentado os famintos, Seu ministério principal foi o caminho
radical de pregar um evangelho que levava à cruz. Esse mesmo equilíbrio
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EXPECTATIVA EQUILIBRADA ^_Q 3
aparece na mensagem confiada ao movimento adventista, enquanto Deus
busca preparar o mundo para a culminação do reino que Cristo iniciou
há dois mil anos. A mensagem fi nal t ant o do l ivro de Apocal i pse quant o do apocal i pse sinót i co ó qu e a úni ca solução real para a pobreza e a i nj ust i-
ça éa vol ta de Jesus. É essa sol ução que t oma a mensagem advent i sta ver-
dadei rament e rel evant e para um mundo em agonia.
Bem, então, precisamos perguntar: de que maneira devemos viver e
agir ao nos prepararmos para o advento? Encontramos a resposta nas duas
visões apocalípticas do Novo Testamento. De acordo com passagens como
Mateus 25 sobre as ovelhas e os cabritos, precisamos alimentar os famin
A única solução
real par a a
pobreza e a i nj ust iça á a
vol t a de Jesus.
rábolas de Mateus 24 e 25, Cristo claramente ensinou que aqueles queaguardam Sua segunda vinda devem colocar a ênfase em ser servos
fiéis. Sermos servos fiéis enquanto aguardamos e vigiamos resume a li-
ção mais importante que Jesus nos deu em relação ao segundo advento
no apocalipse sinótico.
Isso é motivo de frustração para alguns de nós, pois estamos mais pre-
ocupados com o tempo do advento do que em sermos fiéis. Jesus, porém,
deseja que desviemos nossa atenção dessa obsessão e vivamos cada dia
de tal maneira que estejamos prontos quando Ele chegar.
Como deveríamos agir se descobríssemos que o segundo advento po-
deria ocorrer hoje? Em certa ocasião, John Wesley disse corretamente
que, se tivesse tal informação, continuaria a fazer exatamente o que fazia
todos os dias ao pregar a mensagem de Deus e amar o povo do Senhor.
tos e visitar os doentes, mas também precisamos
pregara última mensagem apocalíptica de Deus.
Essas duas coisas andam de mãos dadas. Com
o equilíbrio apropriado, ambas são importantes.
Aqui precisamos notar que os adventistas têm
muitas vezes demonstrado uma abordagem equi-
vocada quanto à visão apocalíptica que enfatizaos erros das outras igrejas, o temor do tempo do
fim e, pior de tudo, a fixação no tempo. Se um
decreto dominical aparece no horizonte, os ad-
ventistas ficam agitados. Mas todos geralmente
falham em ver que Cristo não enfatizou o tempo.
Ao contrário, em Marcos 13:34 e nas pa
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104 A VISÃO APOCALÍPTICA
William Barclay ressaltou o ponto principal da lição prática do apoca-
lipse sinótico: “Devemos viver de tal forma que não importe o dia da vol-
ta de Cristo. Recebemos a grande tarefa na vida de fazer com que cadadia seja digno de ser observado por Ele, e devemos estar prontos a cada
momento para encontráLo face a lace. Assim, a v i da intei ra t ornase uma
pr eparação par a nos encont rarmos com o Rei." 14
1 William Barclay, The Gospel ofM atthew, 22a ed. (Edinburgh: St. Andrews Press, 1958), v. 2, p. 350, 351.
2 Eduard Schwcizer, The Good News According to Matthew, trad. David E. Green (Atlanta: John Knox, 1975), p. 471.
3 Ellen G. White , Educação, ed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008), p. 13.
4 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, 22a ed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,2009), p. 637.
5 Joachirn Jeremias, The Parahles o f Jesus, 2“ed. (Nova York: Charles Scribners Sons. 1972), p. 209.
6 Leon Morris, Th e Gospel According to Matthew, Pillar New Testament Commentary (Grand
Rapids: Eerdmans, 1992), p. 634.Para um estudo mais profundo sobre a visão apocalíptica sinótica, consultar George B. Knight,
Matthew: The Gospel of the Kingdom, Abundant Life Amplifier (Boise: Pacific Press, 1994), p.232250; George B. Knight, Exploring Mark (Hagerstown: Review and Herald, 2004), p. 240252.
8 Ravi Zacharias, Je sus Among O th er Gods: T he Absolute Cla im s o f th e Christian Message (Nashville: Thomas Nelson, 2000), p. 79.
tJ James Denney, Jesus an d the Gospel (London: llodder and Stoughton, 1908), p. 210, itálicoacrescentado.
10 Zacharias, p. 79.
11 Ellen G. White , “The Work forThis Time”, manuscrito 3, 1889; Ellen G. White para os irmãose irmãs Irwin, Io de janeiro de 1900.
12 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006), v. 8, p. 184, 185.
IS Para um estudo mais profundo a respeito desse assunto, consultar “OccupyingTill Me Comes:l he Tension Between the Present and the Future” em George R. Knight, lf l Were the Devil: Seeing Through lhe Enemys Smokescreen (Hagerstown: Review and Herald, 2007), p. 251269.
14 William Barclay, Th e Gospel o f Mark, 2a ed. (Edinburgh: St. Andrews Press, 1956), p. 337,itálico acrescentado.
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Capítulo 6
AEsperança do Mundo
______________ Um relance da visão neoapocalíptica
e um prefácio tardio
O que é relevante para o século 21? Do que o planeta Terra real-
mente necessita? Essas perguntas encontramse na essência do que é o
adventismo. No entanto, membros leigos e líderes estão divididos quan-
to à resposta.
Diante do que parece ser um segundo advento que nunca chega, mui-tos adventistas, especialmente os jovens mais talentosos, estão em busca
de uma mensagem relevante e significativa para o novo século. A dire-
ção que cada vez mais jovens como esses estão seguindo é a de alimen-
tar os pobres e buscar justiça social. Essas coisas, como apresentei no ca-
pítulo 5, são boas e necessárias, mas, considerando a perspectiva bíblica,
dc forma alguma podemos enxergálas como as atividades cristãs “mais
relevantes” para atender às necessidades do mundo. Jesus, apesar de ter
Se preocupado em cuidar dos excluídos e alimentar os pobres, repetidas
vezes retiravaSe do caminho da justiça social como o foco primário de
Seu ministério. Sua mensagem, em essência, era a de que a engenharia
social e a benevolência cristã jamais resolveriam os problemas do mundo.
A única resposta suficiente e permanente para as dificuldades que en-
volvem um mundo perdido, conforme Cristo ensinou tanto nos evangelhosquanto no livro do Apocalipse, seria o Seu retorno nas nuvens do céu. Na
Sua volta há verdadeira esperança. O resto não passa de simples curativo.
Mais do que tudo, as pessoas precisam de esperança. E a promes-
sa de esperança para um mundo sem esperança que tornou o livro do
Apocalipse tão relevante para todas as épocas.
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1 0 6 A VISÃO APOCALÍPTICA
Um Relance da Visão Neoapocalíptica
As pessoas hoje precisam ouvir o que podemos classificar como uma
mensagem neoapocalíptica que traz esperança em Cristo. Precisamos vêLonão apenas como o Cordeiro de Deus que oferece salvação, mas tam-
bém como o Leão da tribo de judá que em breve irá regressar. Ele virá
não para alimentar os famintos, mas para acabar com a fome; não ape-
nas para consolar os que sofrem, mas para erradicar a morte. O mundo
já sofreu demais e continua sofrendo, apesar dos melhores esforços da
humanidade. A visão neoapocalíptica é a pregação da última esperança
que obscurece todas as outras esperanças.
Aqueles que sofreram com pregações apocalípticas da besta e te-
mem a volta dos “maus dias” devem se lembrar de que a visão apocalíp-
tica orientada pela Bíblia não é um exercício para tentar esmagar outras
igrejas, ou infundir medo por meio de pregações alarmistas, ou mesmo
encorajar as pessoas a experimentar um período de entusiasmo escato
lógico atrás do outro.Ao contrário, a visão neoapocalíptica é centrada em Cristo do come-
ço ao fim e apresenta um viver diário responsável como caminho da fé,
enquanto os fiéis aguardam alegremente a vinda de seu Senhor do Céu.
Ela ativa a percepção de que não há nada mais relevante do que a vinda
de Cristo, que restaurará todas as coisas ao seu devido lugar.
A força que move a visão neoapocalíptica é o amor, não o medo. Seu
ponto focal é o futuro, não o passado. Ao apontar para promessas futu-ras, não significa que o passado foi esquecido. Ao contrário, essa visão é
construída solidamente sobre as bases bíblicas que sustentaram os cris-
tãos através dos séculos, mas também utiliza os eventos e a dinâmica do
século 21 para explicar o progresso da história rumo ao seu inevitável clí-
max. Apesar de fazer uso de ideias do século 19, a visão neoapocalíptica
integra as realidades do tempo presente. Portanto, ela respeita o passa-
do, mas deseja seguir para o futuro.
Jesus, a esperança do mundo, éa visão apocal ípt i ca em resumo. Tudo o
mais provém d Ele.
O Cristo do Apocalipse é o mesmo Jesus dos evangelhosque sempre
nos encoraja a escolher a vida, não a morte, o amor, não o egoísmo, Deus,
não Satanás. O chamado de Cristo ao longo do Novo Testamento é para
adorar a Deus sobre todas as coisas. Esse apelo continuará pelo futuro
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A ESPERANÇA DO MUNDO j [ Q 7
neoapocalíptico à medida que a igreja continuar sua missão dc pregar o
evangelho eterno das três mensagens angélicas a toda a Terra.
A visão neoapocalíptica não recua do cenário do grande conflito apre-sentado nos capítulos 12 a 14 do livro do Apocalipse. Ao contrário, reco-
nhece que o centro da batalha não é mera obediência exterior, mas um
relacionamento sincero e genuíno com o Deus criador. Tal relacionamen-
to leva à total sujeição da vida a Deus, cm uma atitude de adoração que
transborda em uma vida diária de amor e que é parcialmente expressa
na guarda de todos os mandamentos de Deus.
Portanto, a visão neoapocalíptica não promove a mensagem do legalismo, mas da verdadeira adoração que confia plenamente em Deus. Alem
do mais, foi o próprio Cristo revelado no Apoca-
lipse que vigorosamente proclamou que no fim
dos tempos Ele teria um povo que:
• Aguardaria pacientemente Sua volta.
• Guardaria Seus mandamentos enquanto
O aguardasse.• Manteria um relacionamento fiel com
Deus através dEle (Ap. 14:12).
Finalmente, a visão neoapocalíptica enalte-
ce as perspectivas especificamente adventistas e
integraas àquelas comuns ao cristianismo evan-
gélico. Nessa combinação, encontrase a mensa-
gem que Deus enviou em Apocalipse 14 para serpregada a todo o mundo antes do advento. E dessa mensagem que ema-
nam raios de esperança para um mundo sofredor e que o Salvador ressur
relo, o Cristo do Apocalipse, considera a mais relevante para nossos dias.
Um Prefácio Tardio
Você deve ter notado que este livro não teve uma apresentação ou pre-
fácio. A omissão foi proposital. Meu objetivo era que os leitores conhe-cessem o assunto e refletissem sobre ele mais tarde.
A Visão Apocalípt i ca e a Neut ral i zação do A dvent i smo não é um livro do
tipo lento e gradual como um livro didático. Ao contrário, é um tratado para
os tempos atuais e um chamado ao despertamento, baseado no sentimento
profundo dè que o adventismo está correndo o risco de perder o rumo e na
Este l i vro éum
t rat ado para os
t empos atuai s e
um chamado ao
despertamento.
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108 A VISÃO APOCALÍPTICA
observação de que muitos de seus jovens ministros e membros nunca nem
mesmo ouviram a visão apocalíptica, enquanto muitos dos mais velhos
se questionam se podem ainda crer ou pregar sobre ela.Apresentei pela primeira vez a essência das mensagens deste livro nas
reuniões da noite durante um concilio ministerial da União do Pacífico,
em agosto de 2007. O tema, como eu já imaginava, dividiu a platéia de
aproximadamente 800 obreiros. A avaliação dos apresentadores ao fim
do concilio proporcionoume dois prêmios: minha serie foi votada tanto
como a apresent ação de mai or rel evância quanto a de meno r r el evância
durante o concilio, embora tivesse uma margem de cinco para um a fa-
vor de mai or rel evânci a
A avaliação foi importante porque demonstrou um ministério radi-
calmente dividido (como provavelmente estejam os membros) a respei-
to dos vários aspectos que fazem de nós adventistas. O mais importante
para mim, mais do que a avaliação formal, foram as afirmações repeti-
das pelos pastores tanto da União do Pacífico como da União Australasiana (local em que apresentei a mesma série em fevereiro de 2008) de
que, finalmente, podiam pregar a mensagem adventista com confiança.
Além disso, eles finalmente se sentiram confortáveis com a ideia de en-
sinar o juízo préadvento e estavam felizes por enxergar a maior parte dos
temas apocalípticos em seu contexto.
Minha oração é que Deus nos ajude a pregar e a ensinar a mensagem
apocalíptica cm sua plenitude, não de maneira esterilizada, mas de for-ma equilibrada, e que ainda possamos ter ouvidos para “ouvir o que o
Espírito diz às igrejas” na grande visão de João.
George R. Knight
Rogue River, O regon
1 Gerry Chudleigh e Julie Masterson, “Ministerial Council Overflows”, Pacific Union Recorder, dezembro de 2007, p. 31.
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Compreenda melhor o
desenvolvimento das
doutrinas adventistas
No livro Em Busca de
Identidade, George
Knight revela o
desenvolvimento das
correntes doutrinárias
dentro do adventismo.
Mostra como, ao longo
dos anos, a controvérsia
acabou gerando
força e o debate,
consenso. Aponta as
personalidades que
moldaram a discussão
e mostra como Deus
tem conduzido o
adventismo a uma
compreensão mais
ampla e profunda da
verdade.
Cód. 7623
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Este é um clássico em dois volumes, contendo a
mais recente pesquisa sobre os fascinantes livros
proféticos de Daniel e Apocalipse. Maxwell, doutor
em História Eclesiástica pela Universidade de
Chicago, conseguiu transmitir sua erudição em
linguagem acessível a todos, permitindo que esses
livros bíblicos falem diretamente ao nosso coração.
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Um guia prático para
o povo de Deus
Conselhos Para a Igreja tem um pouco dos primeiros escritos de Ellen G.
White, algo dos Testemunhos, textos para jovens, instruções para a família,
música, recreação e a obra da igreja. Ou seja, é uma amostra das milhares de
páginas e dezenas de outros livros da mesma autora inspirada, que você
ainda pode pesquisar, pois seguramente este livro vai deixar
"um gostinho de quero mais".
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Como uma igreja pode perder sua vivacidade, utilidade e
relevância? A resposta está na neutralização, ou esterilização,
palavra relacionada à impossibilidade de reprodução.
Se você acha difícil sua igreja passar por esse processo,
saiba como o liberalismo protestante se autoesterilizou e
descubra como o adventismo tem sido tentado a fazer o mesmo.
George Knight considera este pequeno livro o mais importante
de sua carreira. Sem dúvida, é um livro que deve ser lido portodos os que se interessam pelo futuro do adventismo e o
cumprimento da missão que Deus confiou à igreja remanescente.
Nele, além de diagnosticar as enfermidades atuais do
adventismo, o autor defende a revitalização da visão
apocalíptica. Para ele, essa é a chave para a renovação das
f t d i h fi
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