Post on 28-Jun-2020
CONVIDADOS Carlos Resendee Eduardo Filipe serão novos docentesna FADEUP a partir de Janeiro
Os novos professoresMarta Fernandes
arlos Resende e Eduar-do Filipe assinaram ontem con-tratos com a Faculdade de Des-
porto da Universidade do Por-to (FADEUP) e vão integrar-seno corpo docente a parti r de Ja-
neiro. Os ainda campeões na-cionais pelo FC Porto ficarão li-
gados ao Gabinete de Andebol,no caso do médico Eduardo Fi-
lipe principalmente na parte da
fisiologia etraumatologia, sen-do provável que vá trabalhar de
perto com Leandro Massada.Eduardo Filipe, jogador commais internacionalizações noandebol português, encara esta
experiência como "um novo de-
safio", esperando que o seu tra-balho seja "não só uma mais-valia pessoal como tambémpara a universidade".
Já mais rotinado, uma vez
que lecciona no Instituto Su-
perior da Maia desde o iníciodeste ano lectivo, Carlos Re-
sende, ex-treinador doFC Porto, afirma que "esta é
Carlos Resende nãoassocia o conviteque recebeu à saídade José AntónioSilva para o Benfica
uma área em que queriaapostar" e pela qual nutre"grande paixão". Não asso-ciando o convite que recebeuà saída, por três anos, de JoséAntónio Silva para treinadordo Benfica - "Fui convidado
para dar aulas de andebol,não faço ideia quanto ao José
António", comentou -, Resen-
de negou o fim da carreiracomo técnico. "Vai continuar,mas espero que não comoagora...", diz com humor, poisactualmente não está a trei-nar nenhum clube. E acres-centa que "ser professor estárelacionado com o facto deser treinador".»
"Profes" > Resende e Eduardo Filipe na sua nova casa
GABINETE
FADEUP mais
preenchidaO ex-treinador e o ex-lateralesquerdo do FC Porto vão inte-
grar-se no Gabinete de Ande-bol da FADEUP, que já é consti-tuído pelos docentes Luísa Es-
triga, responsável do gabinete,António Cunha e José AntónioSilva. Este último, treinador do
Benfica, pertence aos quadrosda universidade, mas actual-mente não lecciona. O técnicodos encarnados tem salvaguar-dado o seu futuro na instituiçãoatravés de uma licença semvencimento com duração detrês anos, correspondente ao
tempo do contrato que assinou
com o clube da Luz. Falta saber,dentro de três anos, se o gabi-nete irá realmente funcionarcom cinco responsáveis. M.F.
NA FACULDADE DE DESPORTO
Resende e Filipeagora professores¦ Carlos Resende e Eduardo Filipevão dar aulas na Faculdade de Des-
porto do Porto. Os antigos interna-cionais estiveram ontem nas instala-
ções desta universidade e está tudoacertado para em janeiro começarema lecionar... andebol, obviamente.
Eduardo Filipe, que é médico, eResende, que é treinador, aceitaram
o desafio convictos de que esta etapapode ser "uma boa experiência".
Carlos Resende já dá aulas noISMAI mas quer prosseguir a suacarreira de treinador, conforme re-velou ontem. E.Q.EXCELÊNCIA. Antigos internacionais continuam ligados à modalidade
Conferência "Gestão de Topo: Rumo à Internacionalização" conclui
Empresas devem aumentaro esforço de exportaçãoApesar de esta ser já uma "uma tendência crescente", a internacionalização das empresas nacionaissurge, em muitos casos, como uma resposta a uma necessidade de sobrevivência. Na verdade,segundo os oradores presentes na conferência "Gestão de Topo: Rumo à Internacionalização",integrada no ciclo de conferência e workshops "Gestão de Topo", organizado pela FEP JúniorConsulting, as empresas portuguesas "ainda não" deram o passo decisivo rumo ao exterior, e háainda "muito trabalho a fazer".
Os oradores foram unânimes ao afirmarem que Portugal precisa de exportar mais.
A internacionalização das PME nacionais é já "umatendência crescente", e em consolidação, pois "a ne-cessidade assim o exige". Exportar é assim "decisivo"
e cada vez mais as "PME vão sentir dificuldades se não o
fizerem", alertou Gonçalo Quadros. Porém, para o CEOda Criticai Software, as empresas portuguesas "ainda não"deram o passo decisivo rumo ao exterior, havendo ainda"muito trabalho a fazer". "Temos que exportar muito maisdo que o fazemos" e "nunca nos devemos sentir satisfeitos,
porque infelizmente não é caso para isso", acrescentou.Acreditando existir já um processo "que está a aconte-
cer", e que apresenta "bons exemplos em alguns sectores,
Quadros revelou esperar agora que "esses bons exemplosdeixem de ser uma excepção e passem a ser a regra". Por
isso, "é preciso continuar" neste caminho e "encontrar as
competências" no nosso mercado de modo a "abraçar to-dos os outros sectores" e "aumentar as exportações" na-cionais.
Contudo, e dependendo do sector, existem muitas vezes
segmentos que são "olhados de lado", sectores "extrema-mente dinâmicos, apesar de tradicionais", assentiu AuroraTeixeira. Conforme salientou a professora da Faculdade de
Economia do Porto (FEP), "dentro de cada sector existemrealidades completamente distintas, diferentes dinâmicas",e como tal "há empresas nos sectores ditos tradicionais quedesde sempre fizeram um esforço no sentido de chegar mais
além". Independentemente de tudo isto, segundo AuroraTeixeira, é cada vez mais essencial à sobrevivência das em-
presas nacionais "exportar talento e conhecimento".Também para Rui Boavista Marques, a internacionaliza-
ção "deixou de ser uma opção". Esta é já, no entender dodirector executivo da AICEP (Agência para o Investimentoe Comércio Externo de Portugal), "uma necessidade básicada sustentabilidade e do crescimento da nossa economia".
Congratulando-se com os "imensos casos concretos" de
empresas que "nascem 100% exportadoras", Rui Boavista
Marques revelou acreditar que o oposto "deixou de ser umaopção" face "à reduzida dimensão do nosso mercado", mastambém face "às oportunidades que a globalização nostraz". Por isso, para este responsável, a internacionalizaçãodas empresas portuguesas "é fundamental" e, sem dúvida,
"uma das preocupações mais importantes que denotamos
nas empresas", rematou.
Apoios à internacionalização permitem partilhado risco
Falando sobre os incentivos à internacionalização dis-
ponibilizados pelo Estado, Gonçalo Quadros reconheceu
que este tipo de instrumentos de apoio às empresas portu-guesas faz todo o sentido. Exemplificando com o caso da
empresa que lidera, Quadros admitiu que a Criticai tirou"muito partido" destes apoios. "Muito do que fazemos ficaextraordinariamente facilitado com esses incentivos", pois,como temos "um parceiro que partilha as responsabili-dades connosco", isso "permite-nos correr menos riscos".
Por isso, acrescenta, "estas medidas tem sido úteis para
mover esta necessidade de nos virarmos para o mercadoexterno".
Já em relação aos seguros de crédito, o presidente da
tecnológica de Coimbra revelou que seria "interessan-te" que no pacote de apoios apresentados para fazer face
à actual crise económica tivesse sido contemplado os se-
guros com o risco mais elevado. Sublinhando que a Criti-cai sentiu "muito" esse problema, tendo mesmo perdido,durante algum tempo, "qualquer capacidade de segurar o
nosso crédito", Quadros admitiu que "esta medida possi-bilitaria às empresas manterem-se nos mercados mais im-portantes". Essas foram assim "oportunidades perdidas",pois "muitas empresas, não tendo esse crédito de seguros,não avançavam", acrescentou.
Em resposta, Rui Boavista Marques assegurou que o Go-verno e a AICEP tentaram, "até à exaustão", melhorar os
apoios às empresas. "Houve um grande apoio por partedo Governo com as linhas PME Invest, com o reforço ao
seguro de crédito para a exportação e um maior preocu-pação com a internacionalização das empresas nacionais",defensou.
Prosseguindo, o director executivo da AICEP enumerouos vários instrumentos disponíveis e as iniciativas desen-
volvidas neste âmbito pelo Governo, tais como a dinami-
zação das linhas de crédito protocoladas com muitos paísese a duplicação do número de eventos organizados sobre
mercados concretos. "Temos tido uma atenção reforçadaaos mercados externos e as empresas têm reagido muitobem a essa necessidade de colher mais informação e de
fazer mais prospecção sobre os mercados internacionais",concluiu.
"Subsidiodependência é um cancro"
Em sentido oposto, Aurora Teixeira assumiu-se, pesso-almente, "contra a questão dos apoios". Apesar de estes
serem, antes de mais, "uma realidade um pouco recente", adocente da FEP defendeu categoricamente que a "questãoda subsídio-dependência é um cancro". Muitas das vezes,
prosseguiu, "em vez de incentivar, os apoios "criam pe-quenos lobbies, pequenas artimanhas", que condicionamvoluntariamente a actividade e
' ' ' '
o desenvolvimento aas
empresas. "Por vezes, porque existe incentivo, as empresasdecidem fazer algo para receber o subsídio e não porque a
ideia é boa", exemplificou.Desta forma, os subsídios criam, no entendimento desta
especialista, "formas que não eram inicialmente preconiza-das", acabando as empresas por "acomodar as ideias" aos
apoios. Esta situação é "contra-natura" e, no caso de Por-
tugal, esta, "infelizmente, tem sido uma tendência" cres-
cente, advertiu.Todavia, Aurora Teixeira reconheceu que o nível de apoio
prestado "é uma gota no oceano" e que o que falta "muitasvezes não é o dinheiro, mas sim boas ideias". Por isso mes-
mo, "é por aí que temos que actuar", dando e criando con-
dições, ao nível de "uma educação de base e não superior",
para que "surjam ideias" e projectos promissores.A finalizar, a professora da FEP deixou ainda um alerta ao
tecido empresarial. Funcionando por pacotes e não por po-líticas transversais, como a educação ou saúde, os incentivosdevem ser uma "situação esporádica", pois os apoios em si
mesmo "não são sustentáveis". "São algo indefinido estrategi-camente e que apenas dura o tempo em que existe determina-da verba. Quando esta acaba, acaba o incentivo", avisou.
Internacionalização não é opcional
Questionado se a aposta na procura de mercados exter-nos pode e deve ser encarada como uma possível reacçãodas empresas face à crise, Aurora Teixeira salientou que, in-dependentemente de haver ou não crise, "para sobreviver
em qualquer negócio, exceptuando mercados pontuais, é
necessário um mercado mais alargado". Por isso, esta "nãoé questão de opção, mas sim uma questão de ter que ser".
Partilhando esta ideia, também o líder do grupo Criti-cai, foi peremptório ao afirmar que as empresas têm queexportar para se exporem aos mercados com maior poten-cial de crescimento sob pena de "morrerem por asfixia" nos
mercados onde estão presentemente. Por isso, para quemquer estar no mercado, quer melhorar o seu desempenhoeconómico, quer crescer e empregar mais pessoas "tem quepartir para além fronteiras", advogou economista da FEP.
Concordando com Rui Boavista Marques, quando este
afirmou que a crise afectou todas as empresas do mundo",ainda que "mais uns países do que outros", Aurora Teixeiraterminou a sua intervenção aconselhando os empresáriosnacionais a estarem atentos e, em caso de um mercado que"não funciona", procurarem dispor de recursos humanos
que sejam "suficientemente criativos" de maneira a explo-rar novos produtos e novos mercados.
FERNANDA SILVA TEIXEIRAfernandateixeira@vidaeconomica.pt
IBM instalaprimeiro centrode investigaçãono Porto
Margarida Gomes
Centro funcionará na UP
• O primeiro Centro de EstudosAvançados (CAS) da IBM Portugalem engenharia e gestão empresarialvai ser instalado na Faculdade de En-
genharia da Universidade do Porto(FEUP) e deverá começar a funcio-nar já no início de 2010. Orientadopara ser um centro de excelência de
investigação aplicada na Engenha-ria, Gestão e Ciência dos Serviços, oCAS resulta de uma parceria entre aUniversidade do Porto (UP) e a IBM
que ontem foi consubstanciada nacelebração de um protocolo entre as
duas entidades.Em declarações ao PÚBLICO, o di-
rector da FEUP, Carlos Costa, desta-cou a importância de Portugal passara ter um Centro de Estudos Avançados
que se vai dedicar à ciência e engenha-ria dos serviços, "uma área nova queestá a despontar em todo o mundo".Segundo o professor, a IBM disponi-bilizará software para ser utilizado anível do ensino, enquanto a Faculda-de de Engenharia desenvolverá pro-jectos de investigação para a própriaIBM, uma empresa líder no sector das
tecnologias da informação.O protocolo estabelece que o CAS
desenvolva "projectos pertinentes,de qualidade e inovadores, ao mes-mo tempo que deverá ser científicae economicamente viável". O futurocentro visa ainda promover a colabo-ração ente universidades, Governo eos laboratórios de pesquisa da IBM(com destaque para os de Zurique, naSuíça, e Almaden, nos Estados Uni-dos) e criar soluções e projectos ino-vadores, capazes de serem integradosem soluções realistas, com aplicaçãoprática e potencial comercial.
A instalação deste centro começoua ser negociada há cerca de dois anoscom a IBM Portugal, tendo o projectorecebido há cerca de quatro mesesluz verde. O facto de na FEUP funcio-nar há dois anos um mestrado na áreada engenharia de serviços e gestãopode ter pesado na decisão da opçãopelo Porto.
Soares da Costa colabora com UPA construtora Soares da Costa e aUniversidade do Porto (UP) assinaramontem um protocolo de colaboraçãoque visa a troca de informação científi-ca e técnica nas áreas da engenharia e
construção, gestão de empresas e pro-jectos, análise de risco, sustentabili-dade e ambiente. A Soares da Costaassinou já um protocolo semelhantecom o Instituto Superior Autónomode Estudos Politécnicos (IPA).
IQual é o riscosísmico
do territórioportuguês?
Portugal continental está numazona de risco sísmico modera-do. A localização perto da fron-
teira entre as placas euroasiáti-ca e africana e a existência de
um conjunto de falhas activas
junto à costa e mesmo no terri-tório fazem com que o País te-nha "uma actividade sísmica
moderada, pautada por eventosde grande intensidade, masmuito separados no tempo", ex-
plica o geofísico José Borges, do
Centro Geofísico de Évora. "No
contexto mundial, há zonas mui-
to piores, nomeadamente no Pa-
cífico. No contexto europeu, Itá-lia e Grécia estão numa situaçãomais complicada, mas logo a se-
guir aparecem Portugal e Espa-nha", acrescenta. Ou seja, a zonado Mediterrâneo, afectada pelaconvergência entre as placas
europeia e africana. Os Açores,
perto da Crista Média Atlântica,uma cordilheira submarina quedivide e atravessa o oceano nosentido sul/norte, estão tambémnuma zona complicada. Mas noContinente o risco não é
o mesmo em todo o território:diminui de sul para norte -Al-
garve, Alentejo, Lisboa e regiãooeste são as zonas com mais
risco, enquanto o Norte temestado a salvo dos eventos maisdestrutivos.Isto porque estes geralmentetêm origem a sudoestedo cabo de São Vicente. ¦
Quais foram os últimos grandes sismos em Portugal?
O DN está ligado à história de um sismo em Por-
tugal, o de Benavente, em 1909, cuja intensida-de provocou uma onda de emoção no País. Este
jornal integrou a onda de solidariedade quepermitiu a reconstrução da vila ribatejana.O sismo de Benavente (de que se pode ver a
imagem em baixo) matou 60 pessoas e des-truiu praticamente todas as casas da povoa-ção. Apesar da devastação, está muito longe deser o pior sismo que atingiu o território portu-guês, que foi regularmente palco de grandeseventos. A história recorda sobretudo o grandeterramoto de 1755, que destruiu a capital por-tuguesa; primeiro, pelos abalos; depois, pelofogo e ainda por um terrível tsunami. Não hánúmeros precisos sobre as vítimas mortais,
mas alguns cálculos mencionam entre 30 mil e80 mil. Pelo menos um sexto da população dacidade terá perecido.Lisboa sofreu grandes estragos também em1 356 e em 1 53 1
,dois sismos de que há relatos
da época. No caso do século XVI, existem refe-rências a grandes estragos e há estimativas de
que a cidade pode ter perdido 2% da sua popu-lação da época. Há numerosos sismos que pro-duziram referências escritas, mas cuja naturezaou epicentro não podem ser estabelecidos. En-
tre outros, os de 1017, 1344, 1748, 63. Muitosportugueses deverão recordar-se do sismo de1 969, que causou o pânico na capital portugue-sa, sem provocar estragos.Nos Açores, a actividade sísmica é igualmenteintensa, com vários eventos importantes nos úl-timos cem anos: 1926 (Horta), 1964 (São Jorge),1 980 (Terceira) e 1 998 (Faial). O da Terceira ma-tou 71 pessoas.»
Onde nascem os sismos que atingem Portugal?Os sismos sentidos no território português es-tão ligados a falhas geológicas bem conhecidas.Há três famílias principais de sismos em Portu-gal: os que estão ligados à falha de São Vicente,
que fica na região do oceano Atlântico do Bancode Gorringe; os açorianos; e os do estuário do
Tejo, ligados à falha do Vale Inferior do Tejo. Es-
tas três zonas sísmicas são diferentes, mas osefeitos podem ser igualmente devastadores. Os
geólogos estão convencidos de que o grandeterramoto de 1 755, que destruiu a Lisboa barro-
ca, foi provocado pela actividade da falha de SãoVicente, sendo esta a mesma responsável pelosismo da madrugada de ontem. O episódio deBenavente de 1 909 está ligado à falha do Vale
Inferior do Tejo, por sua vez a principal suspeitados sismos que atingiram Lisboa em 1 858, 1 53 1
e 1344. Há testemunhos de grandes estragosmateriais e humanos sobretudo nos dois mais
antigos, mas os efeitos foram limitados à capitale arredores. Os sismos açorianos têm grandeviolência e são frequentes, mas o sistema que os
provoca é diferente, tendo a ver com a intersec-ção entre as placas tectónicas Eurasiática e daAmérica do Norte. Para o conjunto do País, pare-ce ser mais perigosa a actividade da falha deSão Vicente. Além da catástrofe de 1 755, estazona parece ter sido responsável por sismos
pouco intensos, como o de 1 969, mas também
por eventos que deixaram marcas de tsunamis,como o que ocorreu no ano 63. 0 Algarve é vul-nerável. Há outras regiões sísmicas menos acti-
vas, como Moncorvo e o Vale do Sado. ¦
4 Quais são osriscos de tsunami
no nosso país?
Portugal é um país em risco de seratingido por um tsunami, ou onda gi-
gante produzida pela deslocação devastas quantidades de terra no fundooceânico. Há registos de pelo menosdois de grande intensidade, ligadosaos terramotos de 1755 e de 63 d.C,que causaram profundos danos, o pri-meiro matando dezenas de milharesde pessoas. A zona em maior risco detsunami é o Algarve, mas também a
região do estuário do Tejo está sob
ameaça. 0 caso toma maior relevân-cia devido à concentração populacio-nal que agora existe nesta regiãoameaçada.Na catástrofe de 1755, calcula-se quea maior parte das vítimas terá sidocausada pela onda gigante, que che-
gou ao actual Rossio. Os relatos dossobreviventes são claros, mencionan-do o recuo das águas do rio Tejo, a
ponto de serem visíveis restos de nau-frágios no lodo do fundo. De repente,surgiu a onda, que se abateu sobre amultidão que procurara refugiar-sejunto à água.Este episódio é bem conhecido daciência, mas tem apenas relatos de so-
breviventes, que fazem lembrar as
imagens recolhidas quando a onda dosismo de Samatra, de 2004, atingiu acidade de Banda Aceh.
A onda que matou em Lisboa teria dezmetros de altura e o tsunami atingiuoutros pontos do Atlântico, incluindo
Algarve, Canárias, Açores e até Caraí-bas. Os relatos do sismo de 1531 tam-bém apontam para a ocorrência deuma onda, embora de menor dimen-são, mas o suficiente para afundar na-vios no rio.
Sob Portugal paira um perigo aindamais mortífero, embora teórico e sem
precedentes históricos. Alguns geólo-gos afirmam que uma das vertentesda ilha de La Palma, nas Canárias, po-derá (num futuro remoto) entrar emcolapso e tombar no oceano. Isto, a
acontecer, provocaria um gigantescomaremoto de 100 metros de altura. A
teoria é controversa, contestada poroutros geólogos. A acontecer, serianum prazo de milhares de anos. ¦
No caso do território continental português, o
aspecto mais importante para explicar a activi-dade sísmica tem a ver com o choque entre aplaca eurasiática e a africana. A zona de colisão
entre as duas passa pelo estreito de Gibraltar e
ao largo do Algarve. Muitas das tensões provo-cadas pelo choque ocorrem no Oceano Atlânti-
co, sobretudo numa zona chamada Banco de
Gorringe, a oeste do estreito de Gibraltar. A falha
estende-se até aos Açores, arquipélago que étambém afectado pela proximidade da placanorte-americana, que se afasta da euroasiática,formando a chamada dorsal meso-atlântica. As
placas tectónicas terão espessura média de
cem quilómetros e movem-se a velocidades pe-quenas, diferentes entre si. A placa africana, porexemplo, está a mover-se há 1 00 milhões deanos para norte, a uma velocidade que se calcu-la ser de 2, 1 5 centímetros por ano.
A Península Ibérica é ela própria uma placa ter-ciária, como no romance de José Saramago A
Jangada dePedra. m
5 O que são as placas tectónicas e como semovem?
A ideia de tectónica de placas surgiu da genial
intuição do geólogo alemão Alf red Wegener(1880-1930), que em 1915 publicou um livro de
grande influência onde desenvolvia o princípioda deriva dos continentes. A teoria levou déca-das a ser aceite, mas permite explicar as activi-dades sísmicas e vulcânicas do planeta. Numresumo muito simplificado, a Terra tem sete pla-cas principais, que cobrem a crosta terrestre e
que se movimentam sobre uma zona pastosa e
aquecida do manto, cujos movimentos internos
produzem as deslocações visíveis à superfície.A dinâmica deste sistema é extremamente lentae muito complexa. Há zonas onde se forma novacrosta terrestre e outras áreas onde as rochas
existentes se afundam no manto. Tudo dependeda densidade dos materiais e dos movimentosinternos do planeta. Muita actividade sísmica evulcânica é também explicada pela existência
de placas secundárias e terciárias, respectiva-mente sete de dimensão média e 6 1 mais pe-quenas. Todas colidem entre si.
Porque é que a crosta terrestre está em constantemovimento?
O interior da Terra é dividido em várias cama-das. À superfície, mais espessa sobre os con-tinentes que sobre os oceanos, en-contramos a crosta terrestreSob a crosta, até uma pro-fundidade de 2890 quiló-metros surge o mantoAbaixo do manto, o in-
terior do planeta divi-
de-se, por sua vez, noNúcleo Externo (en-tre os 2980 e os 5150quilómetros de pro-fundidade) e o NúcleoInterno (com um raiode aproximadamente1220 quilómetros). A cros-ta terrestre não é uma cama-da contínua, apresentando-se an-
tes dividida em fragmentos que se designampor placas tectónicas, que se movem entre si
e sobre uma zona viscosa no manto su-
perior. São as correntes térmicas
que ocorrem no manto, geran-do aquilo que se designa co-
mo correntes de convec-
ção, as grandes respon-sáveis pelas forças queagem sobre a litosfera,movendo as placas à
superfície do planeta.Ou seja, a razão pelas
quais a crosta terrestreestá em constante movi-
mentação encontram-se no
interior da Terra, as massasfrias ascendendo e as mais
quentes mergulhando. ¦
7 Onde foram osúltimos grandes
sismos no mundo?0 abalo sísmico mais mortífero de sem-
pre ocorreu em 1556, em Shanxi, na Chi-
na. Segundo relatos da época, terá pro-vocado a morte a mais de 800 mil pes-soas, embora tivesse magnitudeestimada inferior a 8,0 na escala de Ri-chter, que é logarítmica e mede a ener-gia libertada. Para se perceber o que si-
gnifica o aumento dos valores, refira-se
que a magnitude 4,0 é equivalente a umabomba atómica de Hiroxima; a 5,0 é
equivalente a mais de 30 dessas bom-bas.Já neste século, em 1976, a China foi atin-gida pelo segundo sismo mais mortíferode todos os tempos, em Tangshan, comnúmero oficial de vítimas superior a 250mil. Mas há estimativas que apontam pa-ra um valor mais elevado de mortos, su-
perior a 600 mil. Curiosamente, este sis-
mo também não foi dos maiores sempre,em magnitude (7,5) muito menos do quese calcula para o grande terramoto de
Lisboa, em 1755, cuja magnitude é hojeavaliada entre 8,5 e 9,0. A catástrofe de
Lisboa, em 1755, teve grande impacto noseu tempo, mas nem sequer está entreos dez sismos mais mortíferos da Histó-ria. No actual século, em 2004, ocorreu a
tragédia de Samatra, que matou 230 mil
pessoas, sobretudo vitimadas pelo tsu-nami que se seguiu ao sismo. Pelo me-nos 1 ,7 milhões de pessoas ficaram semcasa e a onda afectou territórios distan-
tes do epicentro, em várias zonas doOceano Índico, da índia ao Bangladesh,passando por Sri Lanka e Maldivas. O
sismo de Samatra foi fortíssimo, de mag-nitude 9,1,0 terceiro maior dos últimoscem anos. Também nesta década, desta-
que para o sismo paquistanês, de 2005,
que matou 86 mil pessoas.A devastação provocada nem sempreestá ligada à magnitude. Nos últimoscem anos, houve apenas três sismos
com magnitude superior a 9,0. Mas nosismo de 1952, em Kamchatka (9,1), naRússia, não há sequer registo de vítimas.O recordista em magnitude continua aser o de Valdívia, no Chile, em 1960, queatingiu uns espantosos 9,5 na escala de
Richter, matando 1655 pessoas. ¦
Quais as medidas que devetomar em caso de sismo?
Se estiver num dos pisos superiores de um edifício, não se precipite
para as escadas. Abrigue-se no vão de uma porta interior, nos cantosdas salas ou debaixo de uma mesa ou cama. Nunca utilize elevadores.Mantenha-se afastado de janelas, espelhos e chaminés. Tenha cuida-do com a queda de candeeiros, móveis ou outros objectos. Desligue o
gás, a electricidade e a água. Não fume nem acenda fósforos ou is-
queiros, pois pode haver fugas de gás ou curto-circuitos. Utilize lan-ternas a pilhas. Calce sapatos e proteja a cabeça e a cara com um ca-
saco, uma manta, um capacete ou um objecto resistente e prepareagasalhos se o tempo o aconselhar. Verifique se há incêndios e tente
apagá-los. Ligue o rádio e cumpra as recomendações que forem da-das. Limpe urgentemente os produtos inflamáveis que tenham sido
derramados (álcool, tintas, etc). Se estiver no rés-do-chão e a rua formais larga que a altura dos edifícios, saia de casa calmamente e cami-nhe para um local aberto, sempre pelo meio da rua. Se estiver na ruaquando ocorrer o sismo, dirija-se para um local aberto, com calma eserenidade. Não corra nem vagueie pelas ruas. Enquanto durar o sis-
mo, não vá para casa. Mantenha-se afastado dos edifícios, sobretudodos velhos, altos ou isolados, dos postes de electricidade e outros ob-
jectos que lhe possam cair em cima. Afaste-se de taludes e muros que
possam desabar. Se está num local com muitas pessoas (escola, sala
de espectáculos, edifício de escritórios, fábrica ou estabelecimentos
comerciais), não se precipite para as saídas. As escadas e portas são
pontos que facilmente se enchem de escombros e podem ficar obs-truídos por pessoas a tentar fugir. Fique dentro do edifício até o sismo
cessar. Saia depois com calma tendo em atenção as paredes, chami-nés, fios eléctricos, candeeiros e outros objectos que possam cair. Se
conduzir um veículo, pare longe de edifícios, muros, taludes, postos ecabos de alta tensão e mantenha-se dentro da viatura. Se estiver juntoao litoral, fuja para uma zona alta (30 metros acima do nível do mar) e
longe da costa, pois é possível ocorrer um tsunami. ¦
9 As casas em Portugal estãopreparadas para resistir a sismos?
"A maioria das construções já terá resistência sísmica", afirma EmaCoelho, responsável do Núcleo de Engenharia Sísmica do Laboratório
Nacional de Engenharia Civil (LNEC), que se mostra "preocupada comas edificações anteriores a 1960". Segundo explicou ao DN, "só em1 960 é que passou a haver regulamentação específica para as novas
construções terem resistência aos sismos. Em 1 980 essa regulamenta-
ção foi reforçada, determinando que os edifícios têm de cumprir os re-
quisitos para resistir aos sismos". No entanto, "não há a garantia de quea regulamentação seja cumprida a 1 00% pelos construtores. Nasgrandes obras públicas, não há dúvida que sim. Na construção priva-da não se tem feito essa verificação, mas penso que seja cumprida", re-feriu. "As câmaras municipais têm técnicos e existem mecanismos paraverificar se as construções, mesmo depois de concluídas, cumpremos requisitos de resistência sísmica. Mas não o fazem", diz a mesmaresponsável, defendendo que "é preciso reforçar a fiscalização". Consi-
dera que, "da parte do consumidor, também não há a preocupação de
saber se a casa que vai comprar tem resistência sísmica ou não". EmaCoelho salientou que "a regulamentação portuguesa, em termos da re-sistência sísmica em edificações, até é das mais evoluídas da Europa.Se for cumprida, o risco de os imóveis colapsarem é muito menor e nãohaverá problemas de maior". Revelou que "está a ser preparada nova
legislação nesta matéria e as autoridades responsáveis deveriam
aproveitar a oportunidade para regulamentar a obrigatoriedade de re-
forçar a resistência sísmica nas construções mais antigas, principal-mente nas zonas mais vulneráveis, como Lisboa e Algarve". Exemplifi-ca que, "por vezes fazem-se obras para recuperar edifícios, mas não sedá resistência sísmica. Normalmente, só tapam rachas e pintam as fa-
chadas dos prédios. Para dar resistência sísmica às construções anti-
gas, basta consolidar as suas ligações (paredes, tectos e chão). Os cus-tos nem são muito elevados". ¦ DANIEL LAM
10 Há certificados e seguros obrigatórios para os prédios?
Não. Em Portugal, além da garantiado técnico que assina o projecto, nãoexiste nenhuma certificação de queeste cumpre as normas de constru-
ção anti-sísmica. E o seguro contrariscos sísmicos é facultativo. As nor-mas mínimas de construção anti-sís-
mica estão definidas num Decreto Leide 1983, o Regulamento de Seguran-ça e Acções nas Estruturas de Edifí-
cios e Pontes, que estabelece requi-sitos diferentes de acordo com o ris-
co da zona do País onde se vaiconstruir. No entanto, para a maior
parte dos projectos, com excepção
das grandes obras públicas, é sufi-
ciente a assinatura de um técnicoinscrito numa associação profissio-nal. "Em teoria, os edifícios construí-dos depois dos anos 80 estão bem
preparados para resistir a um sismo,
mas não existe nenhuma certificaçãoalém da garantia do técnico que assi-
na o projecto", explica João Azevedo,do departamento de Engenharia Ci-
vil do Instituto Superior Técnico. "De-
via haver um processo mais exigentede controlo de qualidade. Infelizmen-te, do meu ponto de vista, não há ga-rantias suficientes. E infelizmente
grande parte dos edifícios de Lisboanão tem qualidade", conclui. Isto semfalar nas construções anteriores aos
anos 80, e na construção tradicional,em alvenaria, no Alentejo e Algarve,acrescenta. E até a construção da
época pombalina, que recorreu a mé-todos inovadores depois do terremo-to de 1 755, já foi muitas vezes "abas-tardada". Por outro lado, "os segurospara o risco sísmico são facultativos,
enquanto que para os incêndios são
obrigatórios", diz João Azevedo. O en-
genheiro acredita que a coberturacontra sismos é reduzida no País. ¦
Que planos de contingência existem?
0 plano de emergência é elaboradode acordo com as directivas emana-das da Comissão Nacional de Pro-
tecção Civil e estabelece a tipif icaçãodos riscos, as medidas de prevençãoa adoptar, a identificação dos meiose recursos mobilizáveis, os critériosde mobilização e mecanismos de
coordenação dos meios e recursosutilizáveis. O plano determina tam-bém a estrutura operacional que há--de garantir a unidade de direcção e
o controlo permanente da situação,definindo as responsabilidades queincumbem aos organismos, serviçose estruturas com competências nodomínio da protecção civil. Os pla-
nos são nacionais, regionais, distri-
tais ou municipais e, consoante a sua
finalidade, são gerais ou especiais.Os planos de emergência estão su-
jeitos a actualização periódica e de-
vem ser objecto de exercícios fre-
quentes com vista a testar a sua ope-racionalidade. O simulacro maisrecente, destinado atestar o plano de
emergência a aplicar a um sismo de
6,7 na escala de Richter, a seis quiló-metros de Benavente, foi realizadoem Maio, envolvendo a participaçãode meios de socorro e protecção ci-vil estrangeiros. A Autoridade Nacio-nal de Protecção Civil (ANPC) temdesenvolvido actividades conducen-
tes ao conhecimento do risco sísmi-
co e à sua minimização, como a reali-
zação de exercícios, acções de infor-
mação e sensibilização de popula-ções e instituições. Participa emmissões de observação de sismosocorridos em vários países para re-colher ensinamentos e contribuiu
para a montagem da rede sísmicaLAPSIS. A ANPC destaca ainda o es-tudo das vulnerabilidades sísmicasde obras de arte (quatro viadutos doconcelho de Lisboa), o Estudo doRisco Sísmico da Área Metropolitanade Lisboa e Concelhos Limítrofes e o
Estudo do Risco Sísmico e de Tsuna-mis do Algarve, lançado em 2006. ¦
Como funciona o gabinete de crise e quem o compõe?
A Comissão Nacional de ProtecçãoCivil reúne-se sempre que a gravi-dade da situação o justifique, sendo
presidida pelo ministro da Adminis-
tração Interna. Dela fazem parte os
delegados dos ministros dos secto-
res da defesa, justiça, ambiente,economia, agricultura e florestas,obras públicas, transportes, comu-
nicações, segurança social, saúde e
investigação científica. Também in-
tegram a comissão o presidente da
Autoridade Nacional de ProtecçãoCivil, representantes da AssociaçãoNacional de Municípios Portugue-ses e da Associação Nacional de
Freguesias, da Liga dos Bombeiros
Portugueses e da Associação Na-cional dos Bombeiros Profissionais.
Participam ainda representantesdo Estado-Maior-General das For-
ças Armadas, da GNR, da PSP, daPolícia Judiciária, do Conselho Na-cional de Planeamento Civil de
Emergência, do Gabinete Coorde-nador de Segurança, da Autoridade
Marítima, da Autoridade Aeronáuti-ca e do INEM. Os Governos Regio-nais também podem participar nasreuniões da comissão. O presidentepode convidar para a reunião ou-
tras entidades que, pelas suas ca-
pacidades técnicas, científicas ououtras, possam ser relevantes paraa tomada de decisões, no âmbito da
protecção civil. ¦
1 Como funciona alw hierarquia do Estado?O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, não foi
acordado pelas autoridades competentes porque nãoestava a dormir. O DN sabe que o ministro sentiu o sismoà 0.37 e depois recebeu, como sempre acontece nestas
situações, as mensagens da Autoridade Nacional de Pro-
tecção Civil (ANPC). Como não havia danos patrimoniaise/ou pessoais, o ministro não se viu obrigado a comuni-
car imediatamente a situação a outras figuras da hierar-
quia do Estado. Se o caso fosse o contrário, o MAI deveriainformar outros responsáveis políticos. Depois de infor-
mado, Rui Pereira entrou em contacto telefónico com o
presidente da ANPC, general Arnaldo Cruz, e foi, ]á de-
pois das 02.00, para a sede na tentativa de obter mais in-
formações e de participar no briefíng. Neste encontro
participaram todos os membros da direcção da ANPC eainda elementos da Unidade de Riscos e da Unidade dePlaneamento de Emergência. Para além de Rui Pereira e
de Arnaldo Cruz, o Comandante Operacional Nacional,Gil Martins, e o director nacional de Recursos e Protec-
ção Civil, Gamito Carrilho, estiveram também presen-tes.Este é o procedimento normal numa situação como a
que ocorreu ontem de madrugada, pelo que Rui Pereira,baseado em informações dos seus comandantes opera-cionais, não precisou de contactar de imediato o primei-ro-ministro José Sócrates e o Presidente da República,Aníbal Cavaco Silva.Quando ocorrem sismos a
partir de uma certa intensidade, o ministro da
Administração Interna e os outros respon-sáveis máximos da área da protecção civilrecebem mensagens automáticas de
aviso, o que neste caso só sucedeu
depois de o próprio governante tersentido o abalo sísmico. Neste caso,
o ministro apercebeu-se do sismo à0 1 .37, recebeu a mensagem à
0 1 .43 e chegou à sede da ANPC
cerca das 02. 1 5. Ou seja, o
ministro demorou apenas32 minutos a ficar ao co-mando das operações, o
que também terá a ver com o
facto de o ministro viver muito
perto do centro nevrálgico de
resposta a este tipo de casos.
Quando os noticiários da ma-nhã foram para o ar, Rui Perei-
ra surgia já a fazer as primeiras
declarações a partir justamenteda sede das operações
Quem estuda este fenómenoem Portugal?14
A monitorização sísmica em Portugal é feita pelo Instituto de
Meteorologia, através de redes de estações sísmicas, analógi-cas e digitais, instaladas no Continente e nos arquipélagos daMadeira e dos Açores. Cerca de 7% dos funcionários do Insti-tuto trabalham no departamento de sismologia, que gere umarede de 14 estações sismológicas digitais e três digitais debanda larga (com transmissão de dados por satélite e por li-nha telefónica), para além de três estações analógicas (trans-missão por rádio) instaladas na região da Grande Lisboa. Háainda importantes centros universitários de investigação, co-
mo o Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa, ou o
Centro Geofísico de Évora, que tem um grupo de 20 geofísi-cos com nove profissionais dedicados apenas à sismologia.O Instituto Superior Técnico também tem uma centro de in-
vestigação importante, com muito trabalho na área da enge-nharia sísmica. A Faculdade de Engenharia da Universidadedo Porto (FEUP) e a Universidade de Aveiro têm investigado-res que integraram recentemente uma equipa que esteve emItália a avaliar a construção dos edifícios aquando do sismode Áquila, em Abril. No caso da FEUP, a equipa de investiga-ção sísmica foi chamada a intervir quando se deu um forte
tremor de terra em Los Angeles, na primeirametade da década de 90. ¦
1 f? Portugal ficou livreX\J de um grande sismodepois do de ontem?Não. O sismo de ontem não impede nem atrasa um terra-moto como o de 1755, que pode acontecer amanhã ou da-
qui a 300 anos. O geólogo José Luís Zêzere, do Centro deEstudos Geográficos de Lisboa, explica que o sismo deontem serviu para libertar a tensão acumulada num ponto,mas que Portugal está numa área muito complexa: o abalolibertou alguma tensão "da mesma forma que se retira um
pouco de ar a um balão". E, usando a mesma imagem,acrescenta que "Portugal está numa área em que existem
vários balões, que enchem a ritmos diferentes", conclui.Ou seja, vários pontos capazes de originar sismos, comoas falhas do banco de Gorringe, a falha Marquês de Pom-
bal, ao largo da costa alentejana ou a falha do Vale do Tejo.Para o geólogo António Ribeiro há ainda a possibilidadede a libertação de energia numa falha significar que seacumula tensão noutra. O especialista acrescenta que, "in-
felizmente ainda estamos muito longe de conseguir preversismos ou de saber identificar quando um sismo é premo-nitório de outro maior". O terremoto de 1755, por exemplo,
tem um período de retorno de cerca de mil anos, diz. Ou
seja, é provável que aconteça um sis-
mo daquela magnitude em cada pe-ríodo de mil anos. E essa probabili-dade não é influenciada pelos pe-quenos sismos, conclui. Por isso,
um abalo como o que destruiuLisboa no século XVIII podeacontecer amanhã, daqui a 10
anos, ou daqui a 1 00. Para o
geoflsico Luís Matias, do Insti-tuto de Meteorologia (IM), é
preciso explicar que um
grau de diferença, na escalade Richter, corresponde a 30
vezes mais energia liberta-da e que o aumento é
exponencial. Ou seja,dois graus de diferençacorresponde a uma
quantidade de ener-
gia 900 vezes maior.
Assim, seriam ne-cessários "muitos
sismos de magnitu-de 6.0 para atrasar ou
evitar um abalo mais in-
tenso", conclui o geofísi-co. ¦ P. J.
Porto e Gaia perdem entre1 7 e 23 milhões de euros
Red Buli. A provacustava cerca de doismilhões de euros poredição, mas o Turismode Lisboa já garantiu3,5 milhões para levaro evento para a capital¦ SÉRGIO PIRES
A Red Buli Air Race voou para Lis-
boa e deixou os autarcas do Portoe Gaia a queixarem-se.
Pior: ficou um sentimento de re-volta numa franja considerável da
população de uma área metropo-litana que congrega cerca de 1 ,5milhões de pessoas. O principalevento internacional que se reali-za no País foi encarado como umsímbolo de uma iniciativa de su-cesso, que o Porto "descobriu"pa-ra Portugal e soube potenciar emtermos de promoção turística nasedições de 2007, 2008 e 2009.
As constantes enchentes, arondarem o milhão de pessoaspor fim-de-semana, e as imagensda prova transmitidas pelas tele-visões para mais de uma centenade países são um forte argumen-to deste evento. E a sua perda re-presenta um rombo considera- velno orçamento das duas cidades.Um estudo da Faculdade de Eco-nomia da Universidade do Portocalculou que o retorno imediatodo investimento rondava os 17 a23 milhões de euros por ano, con-forme revelou o autarca portuen-se Rui Rio, aquando da última edi-ção, no local da prova.
As contas apresen-tavam um saldo muitopositivo, já que as Câ-maras de Porto e Gaia
gastavam 400 mil eu-
ros cada por edição,que tinha como prin-cipais patrocinadores o Turismode Portugal, que contribuía com500 mil euros, e a empresa de tele-
comunicações TMN, cujo valor do
apoio é confidencial, mas ao que o
DN apurou rondava o milhão deeuros anuais. Contas feitas, a orga-
nização do Red BuliAir Race nas margensdo Douro não chegavaaos dois milhões de
euros, sendo que o Tu-rismo de Lisboa noacordo que assinoucom a Red Buli garan-
tiu para a edição de 2010 umapoio de 3,5 milhões de euros, su-blinhando que pretende candida-tar-se a um apoio por parte do Tu-rismo de Portugal nos valores quePorto e Gaia beneficiaram paraalargar o seu budget. A TMNanunciou ontem que retirou o
apoio à competição, falta, em todoo caso, saber a posição de outras
empresas parapúblicas.como aGalp ou a EDP acusadas recente-mente pelos autarcas de Porto eGaia de promoverem a mudançade local.
Nesse sentido, Marco AntónioCosta, vice-presidente da Câmarade Gaia, ironizou ao DN essa pos-sibilidade, declarando que "se é
para entrar na lógica de pagar o
dobro para ter eventos a qualquercusto, vamos ver se o Governoatravés destas empresas nos dauma ajuda para tirar o Rock in Riode Lisboa..."
O autarca gaiense sublinhaainda a sua revolta pelo desvio de
uma iniciativa trazida para Portu-
gal pelas autarquias de Porto eGaia.
"Fomos ao estrangeiro buscar
um evento novo para o País, paracriar valor acrescentado. Não o fo-
mos roubar a outra cidade portu-guesa numa lógica de comodis-mo, dinheiro fácil e esperteza sa-loia", concluiu. ¦A TMN járetirou o apoio,falta saberas posições daGalp e da EDP
Contestaçãochegou ao bispo
Do Porto choveram reacções de
condenação e lamento à deslo-
calização da corrida para Lisboa.
A contestação chegou inclusiva-
mente ao bispo do Porto. D. Ma-
nuel Clemente declarou "nâo po-der deixar de ter pena". A Asso-
ciação de Comerciantes do Porto
chegou mesmo a apelarão boi-
cote a produtos dos patrocinado-res da prova. Ontem, foi a vez do
presidente do FC Porto, Pinto da
Costa, se pronunciarsobre o
evento, aproveitando para lançaruma "farpa" a Rui Rio, sublinhan-
do a sua "inferioridade negociai".
Ontem foi a vez de Rui Moreira,
presidente da Associação Co-
mercial do Porto, chamar menti-
roso a Luís Patrão, presidente do
Turismo de Portugal, que referiu
que a passagem da corrida paraLisboa não teve o apoio deste ins-
tituto: "0 Turismo de Portugal es-
teve envolvido em negociações
com as autarquias. (Ele) é menti-roso, não há outra designação."
Em Portugal, o Douro dá lugar ao Tejo na Fórmula 1 dos aviões
Destinoturístico
As enchentes da RedBuli Air Race tornaram -
-se um evento maior napromoção nacional e in-ternacional do Porto co-
mo destino turístico. Naúltima edição, o dia prin-cipal de corridas (domin-go), juntou nas margensdo Douro cerca de 720mil pessoas, um recordede assistência da tempo-rada de 2009. Em todo ofim-de-semana registou--se uma afluência próxi-ma do milhão de espec-
tadores, uma marca quejá tinha ficado próximana edição de 2008 - nocontrato assinado com aRed Buli, Lisboa garante"os equipamentos neces-sários para a coberturamínima de 1 00 mil espec-tadores" para 2010. Po-
rém, se ao vivo a esmaga-dora maioria dos espec-tadores veio dos quatrocantos do País, pela tele-
visão, a promoção che-
gava a cerca de 1 30 paí-ses à escala planetária.
Grupo DSTquer investir 25milhões de euros
em Évora e SilvesO Grupo DST apresentou dois
pedidos de informação préviapara ligar à Rede Eléctrica de Ser-
viço Público (RESP) duas cen-trais de produção de electricidade
a partir de tecnologia solar foto-voltaica e termoeléctrica de con-
centração, as quais representarãoum investimento de cerca de 25milhões de euros.
Caso a iniciativa avance, as duasunidades vão estar instaladas emÉvora e Silves e terão uma capaci-dade total de 5,5 megawatts.
Para além da venda de energia à
Rede Eléctrica, os projectos apre-sentados pela empresa contem-plam também a aposta na inves-
tigação e no desenvolvimento da
produção de energia solar. "Es-
tamos perante um novo desafio
para o desenvolvimento de novas
tecnologias na área da energia so-
lar, o que volta a colocar Portugalno pelotão da frente da agenda da
sustentabilidade", refere José Tei-
xeira, CEO do Grupo DST.As duas iniciativas vão exigir
uma análise de desempenho de-talhada durante a fase de projectoe uma monitorização constantedurante a fase de operacionaliza-ção. De acordo com a empresa, o
processo de monitorização seráessencial para apreender questões
pertinentes e demonstrar a matu-ridade e a viabilidade de projectoscomo o apresentado.
O objectivo, diz José Teixeira, é
captar investimento público (atri-buição de capacidade de injecçãode potência na RESP para energiaeléctrica produzida em central so-
lar) e privado, com vista a tornara indústria solar portuguesa com-
petitiva e exportadora."Estes projectos vão servir para
estabelecermos parcerias comcentros de investigação de uni-versidades portuguesas, com o
objectivo de passar para a fase in-dustrial a prototipagem da inves-
tigação do solar fotovoltaico", re-fere José Teixeira.
Para além do Grupo DST, par-ticipam também neste projecto aFaculdade de Engenharia da Uni-versidade do Porto e a Escola de
Engenharia da Universidade doMinho.
A nível internacional, as empre-sas Heliodynamics, Waste2Value,Ecos Sustainable Improvement e
Dordtech estão também associa-das à iniciativa.
Zon distingue criatividade multimédia• • • "Romeu & Julieta - O
Musical", da Universidade Lu-sófona, foi o vencedor da se-gunda edição do Prémio ZONCriatividade em Multimédia.Este é o maior prémio mone-tário nacional atribuído numconcurso multidisciplinar,com o valor global de 200 mil
euros. A iniciativa recebeu,este ano, quase 200 inscri-
ções. A Cerimónia de entregado Prémio ZON Criatividadeem Multimédia 2009 decorreuesta semana no Museu Berar-do, Centro Cultural de Belém,e contou com as presençasde Gabriela Canavilhas, mi-nistra da Cultura; de Paulo
Campos, secretário de Esta-do adjunto, das Obras Públi-cas e das Comunicações;Manuel Heitor, secretário deEstado da Ciência, Tecnolo-
gia e Ensino Superior; e Car-
los Zorrinho, secretário de Esta-do da Energia e da Inovação. Ro-meu & Julieta - O musical alcan-
çou o I .° lugar na categoria Cur-tas-Metragens e ainda o GrandePrémio, arcécâadânclcfi oo mil eu-
ros. Na categoria que visa dis-tinguir aplicações informáticasúteis, a vitória foi atribuída emex-aequo aos trabalhos "Jar-bas" e ao Portal de Televisãoda Univepidade do Porto.
Prémios
Ministro da Agricultura garantiu à VE que "foi dada uma mensagem forte de interesse"
para viabilizar o investimento
Projecto RefCast investe73 milhões de euros
na produção de castanhaO objectivo é ambicioso: se o projecto RefCast avançar e vier a ter sucesso, Portugalpode tornar-se "o primeiro produtor europeu de castanha". Em entrevista à "VidaEconómica", José Martino, da empresa Espaço Visual, explica que está causa um"projecto estruturante" de 73 milhões de euros na área da produção de castanha com a
exploração de 12.300 hectares de soutos, numa lógica de fileira que envolve 21 parceiros,entre universidades, cerca de 6200 agricultores e várias empresas da região Norte. Está
prevista a criação de 1000 novos postos de trabalho.
"O projecto tem de ser muito trabalhado, mas fui eu pró-prio que mandei chamar os promotores do investimento ao
Ministério, pois estamos muito interessados em apoiar este
projecto".Estas foram as declarações do novo ministro da Agricultu-
ra, António Serrano, quando questionado pela "Vida Econó-mica" sobre se há margem, através do Programa de Desen-volvimento Rural (PRODER), para enquadrar e financiar o
RefCast. Um projecto com cerca de dois anos, envolvendo,entre outros, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro(UTAD), o Politécnico de Bragança (IPB), várias associaçõesde produtores e empresas ligadas à industria de transforma-
ção, e que foi apresentado pela primeira vez ao Ministérioda Agricultura em Julho de 2008, explicou José Martino, ementrevista à VE.
Parado desde então, há cerca de duas semanas, porém, foi o
próprio ministro António Serrano e respectivos secretários de
Estado quem reuniu em nova audiência com os investidores,transmitindo-lhes "uma mensagem forte de interesse" paraque o projecto avance, explicou o ministro à "Vida Econó-mica". O passo seguinte é "fazer uma pré- análise" com os téc-
nicos do Ministério e os responsáveis do RefCast e "ver quaisos complementos que podem ser trabalhados" para melhor o
adaptar à estrutura de financiamento do PRODER.
Quatro eixos de investimento
A proposta está estruturada em quatro eixos de investi-
mento: a implementação da área de soutos, a valorização dacastanha produzida, a promoção do seu consumo mais regu-
lar e a formação e investigação/demonstração, explicou José
Martino. No âmbito do primeiro eixo está previsto o plan-tio de "aproximadamente 12 mil hectares de novos soutos e
a requalificação (adensamento) de outros seis mil hectares".
Considera-se, aliás, "fundamental a reposição do potencialprodutivo dos soutos afectados pela doença da tinta que, emmuitos casos, dizimou soutos completos", lê-se na propostade investimento na fileira da castanha apresentada ao Minis-tério da Agricultura.
O projecto envolve ainda a resolução "de um dos princi-pais factores de constrangimento que esta cultura enfrenta e
que diz respeito à ausência de um mais apropriado maneiodos soutos, em resultado da idade avançada de muitos dos
agricultores seus proprietários". O objectivo é "investir numnúmero suficiente de empresas, capazes de prestar este tipode serviços" tidos como "essenciais para garantir a adequadamanutenção dos soutos".
No domínio da investigação, as instituições de ensino supe-rior envolvidas (UTAD, IPB e Instituto Nacional de Recursos
Biológicos - INRH) irão dedicar-se ao melhoramento de al-
gumas variedades de castanha, como a Longal, a Martaínha, a
Lada, a Amarelai e a Cota. Estão igualmente previstos estudos
sobre o controlo da doença do cancro.
Construir uma unidade de transformaçãode castanha
No eixo da valorização da castanha, a ideia é "apostar no fa-brico de produtos a partir da castanha por parte das empresasparceiras que já se dedicam a este sector", nomeadamente a
Marron Glacê (instalada em Orense, Espanha, e que já fabri-
ca 39 produtos através da castanha), a Sortegel (adquirida em
2002 pela Sociedade Lusa de Negócios) e a Quinta da Alagoa.As empresas terão, aliás, mostrado "disponibilidade para in-vestir na implementação de unidades" que permitirão, numa
primeira fase, fazer a recolha, calibração e armazenamento de
castanha e, numa segunda, conceber o modelo para uma uni-dade de transformação de castanha.
E, aqui, disse José Martino à "Vida Económica", há "um
grande potencial para exportação" (mercados europeus, Esta-dos Unidos, Canadá, Japão ou Brasil), pois há variedades decastanha que "mais ninguém tem". Além de todo o "potencialde consumo em fresco ou para industrialização (congelação,
sopas, farinhas, compotas, produtos tradicionais, etc)".A par disso, e como complemento à produção de castanha,
e uma vez que as novas plantações serão efectuadas com plan-tas micorrizadas, os promotores do RefCast querem ainda
"apostar de uma forma sustentada na produção e comerciali-
zação de cogumelos". As empresas Arbórea e a Aguiar Floresta"mostraram já interesse em investir em unidades especiais de
recolha" daquele produto.Dos 73 milhões de euros previstos para o projecto RefCast,
cerca de 47 milhões destinam-se ao plantio de novos soutos
e à requalificação dos degradados. O objectivo é que, concre-tizado este investimento, Portugal possa vir a ser "o principalpaís europeu produtor de castanha", com 82 mil toneladas/
ano de produto e um rendimento líquido anual com a vendada castanha em fresco de 80 milhões de euros.
Hoje, recorda José Martino, a fileira da castanha "está rela-
tivamente desorganizada", oscilando a produção anual as 30
mil toneladas, 85% da qual na região Norte.
TERESA SILVEIRAteresasilveira@vidaeconomica.pt
Viseu
Município ameaça sairà rua pela universidadeO ministro da Ciência e do Ensi-no Superior, Mariano Gago, infor-mou, anteontem, o presidente daCâmara Municipal de Viseu(CMV), de viva voz, que aindanão é nesta legislatura que a re-gião terá a Universidade Pública.Uma decisão que inviabiliza, porseu turno, a também antiga aspi-ração da Faculdade de Medicina.Fernando Ruas avisa que os pas-sos seguintes serão ditados pelavontade dos cidadãos.
A exemplo do que aconteceuem finais da década de 90, quandoViseu perdeu a Faculdade de Me-dicina para a Covilhã. "Criar ummovimento, fazer manifestações,estou disposto a tudo. A Assem-bleia Municipal, representante da
população, ditará o caminho", de-clara o autarca
Premonitória da que viria a sera decisão negativa da tutela, foi acarta que os deputados do PSD,eleitos por Viseu, enviaram no iní-cio da semana ao ministro Maria-no Gago. Os deputados social-de-mocratas não escondem a sua "re-volta" contra o ministro, acusadode fazer tábua rasa das ambiçõesde Viseu em ter a UniversidadePública e a Faculdade de Medici-na. Sem porem em causa a legiti-
midade de Aveiro - a "cidade-irmã" contemplada com um cursode Medicina -, os parlamentaresacusam o Governo de ignorar asexcelentes condições de Viseu nodomínio da saúde.
Acácio Pinto, deputado socia-lista, rejeita a acusação. E contra-põe razões que fazem recair as
responsabilidades sobre o PSD."O curso de Medicina de Aveiroestá assente em parcerias com aUniversidade do Porto. Em 2002,Viseu também tinha uma parce-ria com a Universidade de Aveiropara a criação do Instituto Uni-versitário, em fase de promulga-ção pelo Presidente da República,que não foi para a frente porque oPSD não quis. E não podemos dei-xar de relevar a importância determos dois hospitais da região(Viseu e Tondela) a fazer forma-ção no projecto de Aveiro".
"Qual foi o projecto de universi-dade que o presidente da Câmarade Viseu propôs a Mariano Gago?A conversa que teve com o minis-tro foi pessoal, em nome do con-celho ou do distrito? Afinal, esta-mos a falar de quê?", ironiza Hél-der Amaral, deputado do CDS/PP,que tenciona interpelar o Gover-no sobre esta matéria ¦
Programa de empreendedorismoda Cotec criou quatro "star ups"
A Cotec Portugal — Associação Empre-sarial para a Inovação, através do programaCOHiTEC, permitiu a criação de quatro"start-ups", duas das quais já estão no mer-cado. Os dados são avançados, à "Vida Eco-
nómica", por Pedro Vilarinho, presidenteda associação. O mesmo responsável faz umbalanço "muito positivo" das seis edições doreferido programa.
Pedro Vilarinho admite que "as pessoas
esperam sempre a criação de mais empre-sas", mas destaca que a estratégia da Cotecé concentrar-se "em poucas empresas, mas
que poderão fazer a diferença para o paísdaqui a alguns anos".
Criado em 2004, o programa COHi-TEC - destinado a estimular a criação de
empresas de base tecnológica e elevado po-tencial de crescimento a partir do conheci-
mento gerado nas universidades portuguesas- dará lugar, em 201 0, ao Act (Acelerador de
Comercialização de Tecnologias) .
Este será uma "versão melhorada" do
seu antecessor, "com mais etapas e hipóte-ses para os investigadores para escolherem
aquilo que mais lhes convém", explica PedroVilarinho.
O COHiTEC não terminará, mas "re-
gressará às origens" e passará a ser apenas a
designação da acção de formação na área de
comercialização de tecnologias que decorreanualmente de Março a Julho. De acordo
com Pedro Vilarinho, as duas empresas "in-cubadas" no COHiTEC que já se lançaramno mercado "contratualizaram, no conjun-to, um investimento de 14,4 milhões de
euros"MARTA ARAÚJO
martaaraujo@vidaeconomica.pt
Grupo de cidadãosassocia-se
para combatera corrupçãoem Portugal
Saldanha Sanches, Adelino Mal-tês, Paulo Morais, Carlos Pimentade Luís de Sousa decidiram jun-tar-se e criaram uma OrganizaçãoNão Governamental (ONG) deestudo e combate à corrupção em
Portugal. A nova associação estará
ligada à Transparency Internatio-nal, instituição de nível mundial
que analisa a corrupção em vários
países. O presidente do grupo é
Luís de Sousa, investigador emética e corrupção no Instituto de
Ciências Sociais da Universidadede Lisboa, que já teve várias co-
laborações com a TransparencyInternational. A ONG ainda não
tem nome, mas já iniciou o pro-cesso de adesão à TransparencyInternational, que obriga a vários
requisitos que deverão levar cercade ano e meio a cumprir.
CIÊNCIA
Science elege "Ardi"como acontecimentocientífico do ano¦? A identificação do Ardipithe-cus ramidus, ou "Ardi", uma es-pécie de hominídeo que viveu há
4,4 milhões de anos em África,na actual Etiópia, foi considera-da o principal acontecimentocientífico do ano pela revistaScience. Os fósseis que levarama essa descoberta precedem osde "Lucy" - o mais antigo esque-leto parcial conhecido de um ho-minídeo - em mais de um milhãode anos, pelo que aproximaramos investigadores do último an-tepassado comum a humanos e
chimpanzés.Foi por isso que a Science deci-
diu colocar a identificação dosfósseis do "Ardi", incluindo um es-
queleto parcial, no topo da sua lis-ta das dez principais notícias cien-tíficas do ano.
Esta investigação "mudou a nos-sa maneira de pensar os inícios daevolução humana e culminou 15
anos de intensas colaborações en-tre 47 especialistas em vários do-mínios de nove países, que estuda-ram 150 mil amostras de fósseis de
plantas e animais", escreve numeditorial Bruce Albert, chefe de re-dacção da Science.
As restantes descobertas doano eleitas pela Science foram a
detecção de pulsars pelo telescó-pio espacial Fermi, a rapamicina,novas propriedades do grafeno, a
recepção de ácido abscísico nasplantas, o novo acelerador linearde partículas de Stanford, uma in-vestigação que combina terapiagenétice e celular, a descoberta de
água na lua e a reparação do teles-
cópio Hubble, entre outros. ¦
Nos 10 anos
da Declaração de BolonhaLuís Barreto XavierDirector da Católica Global
School of Law da Faculdadede Direito da UCP, Lisboa.
A MELHOR maneira de
avaliar um movimen-to de reforma do ensi-
no superior como o iniciadocom a Declaração de Bolonha
é comparar os seus objectivoscom os resultados.
Promover a competitivida-de internacional das institui-
ções de ensino superior euro-
peias, no confronto com as
universidades americanas, foi
o objectivo primacial. Isto im-
plicava transformar métodos
de ensino, instituir um siste-
ma de dois ciclos comparáveisà escala europeia, promover amobilidade, instituir um sis-
tema de créditos europeu, ga-rantir a qualidade.
A percepção dos objectivos e
a concretização do Processo de
Bolonha foi muito diversa de
país para país, de área cientí-fica para área científica e, até,de instituição para instituição.
Por isso, o balanço, neste
momento, é necessariamente
um balanço misto.
Muito foi feito. Muito não foifeito. E muito do que se fez não
se orientou na direcção certa.E isto por diferentes ordens de
factores. Porque as regula-mentações nacionais nemsempre retiveram o objectivoessencial (promover a compe-titividade dos sistemas de en-
sino) e focaram demasiadas ve-
zes no acessório (a duração dos
ciclos de estudos). Porque mui-tas instituições não estiveram
disponíveis para aproveitar o
ensejo de adoptar reformas di-fíceis mas necessárias. Porqueinteresses instalados resistem
sempre a mudanças que nãosão interiorizadas como ne-cessárias.
DAQUIresulta que há di-
versos subprodutos ne-
gativos de Bolonha: mudançascosméticas nos planos de es-
tudos; o 'Bologna squeezé, isto
é, a compressão dos mesmosconteúdos em menos tempo de
aprendizagem; a redução no
grau de exigência académica;
a manutenção dos nomes com
a alteração substantiva dasrealidades subjacentes (cx. 'li-cenciatura' e 'mestrado' são
hoje realidades distintas das
que anteriormente eram desi-
gnadas com as mesmas pala-vras).
Mas há, também, resultados
muito positivos trazidos peloProcesso de Bolonha.
Há instituições europeiasque competem à escala globalpelos melhores alunos, espe-cialmente nos segundos e ter-ceiros ciclos (mestrado e dou-toramento). Oferecem-se opor-tunidades internacionais paraestudantes e para professores
que não existiam há poucosanos. É possível observar emvárias escolas um esforço sé-
rio de renovação de métodosde ensino e de aprendizageme o afastamento do tradicional
paradigma da transmissão de
conhecimentos, no qual as au-las magistrais eram centrais.
Há parcerias entre escolas
europeias e americanas quedinamizam a oferta europeiade ensino e a investigação. Re-
gista-se o crescimento da co-
laboração entre instituiçõesde ensino superior e o tecido
empresarial. Diversifica-se aoferta pós-graduada de quali-dade, que permite optar entre
programas mais centrados narealidade local e outros queabrem perspectivas para a
prática num mercado de tra-balho cada vez mais globali-zado e onde se utiliza a línguainglesa.
A FACULDADE de Direitoda Universidade Católica
foi recentemente mencionadanum colóquio organizado pelaFundação Gulbenkian como
um dos casos de sucesso naconcretização de Bolonha em
Portugal. Mas a concorrênciaà escala global vai continuara implicar um esforço signifi-cativo e consistente dirigido à
consolidação das reformasefectuadas, à melhoria contí-
nua da qualidade do ensino e
da investigação desenvolvidas
e à capacidade de atracção de
estudantes qualificados de
todo o mundo.