Post on 30-Dec-2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
MESTRADO EM LETRAS NEOLATINAS
A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE
ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS
LUZIA DE CASSIA ALMEIDA PASSOS DA SILVA
Rio de janeiro
2011
A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE
ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS
Por
LUZIA DE CASSIA ALMEIDA PASSOS DA SILVA
Departamento de Letras Neolatinas
Dissertação de Mestrado apresentada ao
programa de pós-graduação em Letras
Neolatinas da Universidade Federal do Rio de
janeiro.
Orientador: Professora doutora Leticia Rebollo
Couto
Co-orientadora: Professora doutora Maria
Mercedes Riveiro Quintans Sebold
Faculdade de Letras, UFRJ
Rio de Janeiro
Julho/2011
A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE
ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS.
Luzia de Cassia Almeida Passos da Silva
Orientadora: Leticia Rebollo Couto
Co-orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos mínimos para a
obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção:
Língua Espanhola)
Aprovada por:
______________________________________________________________________
Presidente, Profª. Doutora Leticia Rebollo Couto
_____________________________________________________________________
Profº. Doutor Paulo Antônio Pinheiro Correa – UFF
_____________________________________________________________________
Profª. Doutora Maria do Carmo Leite de Oliveira – PUC-RJ
_____________________________________________________________________
Profª. Doutora Maria Zulma Moriondo Kulikowski – USP
Suplente
_____________________________________________________________________
Profª. Doutora Célia Regina dos Santos Lopes – UFRJ
Suplente
Silva, Luzia de Cassia Almeida Passos.
A representação do ethos do espanhol peninsular em filmes de almodóvar:
imagens da mulher através de pedidos/ Luzia de Cassia Almeida Passsos da Silva –
Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2011.
144f.: 31 cm.
Orientadora: Leticia Rebollo Couto.
Co-orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras
Neolatinas (Língua Espanhola), 2011.
Referências Bibliográficas: f. 120-126.
1. Pedidos. 2. Ethos. I. Couto, Leticia Rebollo. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. III.
Título.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado força e determinação para a conclusão deste trabalho;
A meu marido, Aime Júnior pela compreensão e pelo compaheirismo de sempre;
A minha família, que sempre esteve ao meu lado;
À professora doutora, Letícia Rebollo Couto pela orientação e pela confiança;
À professora doutora, Maria Mercedes Sebold pelo incentivo, pela força e pelas
sugestões que muito me ajudaram;
À professora doutora da PUC, Maria do Carmo Leite Oliveira pelas aulas brilhantes e
pelas dicas valiosas;
Aos meus amigos, que me apoiaram e não me deixaram desistir;
À UFRJ, que é a base da minha vida acadêmica.
RESUMO
A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE
ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS.
Luzia de Cassia Almeida Passos da Silva
Orientadora: Leticia Rebollo Couto
Co-orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras
Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos
mínimos para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos
Neolatinos, opção: Língua Espanhola)
Este trabalho tem como objetivo analisar as formulações de pedidos nas sequências
conversacionais das três personagens principais dos filmes: “Mujeres al borde de un ataque de
nervios” (1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006). A partir das definições e
categorias propostas por Kerbrat-Orecchioni (2005, 2006), Bravo e Briz (2004), verificamos
como as escolhas por tipos de formulações de pedidos (imperativo, presente do indicativo,
enunciados interrogativos, frases nominais, futuro, condicional, presente do subjuntivo e
pretérito perfeito e imperfeito) ou por estratégias de atenuação ou intensificação (formas de
tratamento nominais, marcadores conversacionais, justificativas, modalizadores adverbiais e
microatos de fala) desses atos de fala são influenciadas por variáveis extralinguísticas como o
gênero (masculino e feminino), as relações funcionais (pessoais e transacionais) dos
interlocutores ou os tipos de pedidos, procurando encontrar pistas sobre o perfil comunicativo
feminino do espanhol peninsular representado nas três personagens. Observou-se que houve
uma frequência maior de formulações de pedidos diretos e sem estratégias de atenuação ou
intensificação, observou-se também que os pedidos atenuados ocorreram nos pedidos de ação
quando estes apresentam um alto custo para o interlocutor e nos pedidos de mudança de
comportamento, principalmente quando direcionados a mulheres, e nos pedidos intensificados
verificamos que os pedidos de ação e de mudança de comportamento também foram
intensificados, principalmente em relações pessoais de mais poder para menos poder (relações
assimétricas). Pode-se concluir que a sociedade espanhola peninsular tem uma tolerância pela
diretividade dos pedidos o que pode sugerir que seja uma sociedade voltada para o ethos de
confiança, e a atenuação ocorre para minimizar a força ilocutiva do ato quando este tem
grande possibilidade de rejeição e a intensificação ocorre para reforçar a imagem de
autonomia, principalmente nas relações assimétricas.
RESUMEN
A REPRESENTAÇÃO DO ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR EM FILMES DE
ALMODÓVAR: IMAGENS DA MULHER ATRAVÉS DE PEDIDOS.
Luzia de Cassia Almeida Passos da Silva
Orientadora: Leticia Rebollo Couto
Co-orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold
Resumen da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras
Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos
mínimos para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos
Neolatinos, opção: Língua Espanhola)
Este trabajo tiene como objetivo analizar las formulaciones de las peticiones en
secuencias conversacionales de los tres personajes de las películas: “Mujeres al borde de un
ataque de nervios” (1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006). A partir de las
definiciones y categorías propuestas por Kerbrat-Orecchioni (2005-2006), Bravo y Briz
(2004), verificamos como las elecciones por tipos de formulaciones de peticiones (imperativo,
presente de indicativo, enunciados interrogativos, frases nominales, futuro, condicional,
presente de subjuntivo y pretérito perfecto y imperfecto) o por estratégias de atenuación o
intensificación (formas de tratamento nominales, marcadores conversacionales, justificativas,
modalizadores adverbiales y microactos de habla) de esos actos de habla se influencian por
variables extralinguísticas como el género (masculino y femenino), las relaciones funcionales
(personales y transacionales) de los interlocutores o los tipos de peticiones, buscando
encontrar rasgos sobre el perfil comunicativo femenino del español peninsular representado
en los tres personajes. Se observó que las formulaciones de peticiones directas y sin recursos
atenuadores o intensificadores fueron más frecuentes, se observó además que las peticiones
atenuadas ocurrieron en las peticiones de acción cuando estas apresentan un alto costo para el
interlocutor y en las peticiones de cambio de comportamiento, principalmente cuando
direccionadas a mujeres, y en las peticiones intensificadas verificamos que las peticiones de
acción y de cambio de comportamiento también se intensificaron, principalmente en
relaciones personales de más poder para menos poder (relaciones asimétricas). Se concluye
que en la sociedad española peninsular hay una tolerancia por la directividad de las peticiones
lo que la sugiere un ethos de confianza, y la atenuación ocurre para minimizar la fuerza
ilocutiva del acto cuando este apresenta gran posibilidad de rechazo y la intensificación ocurre
para reforzar la imagen de autonomía, principalmente en las relaciones asimétricas.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. POLIDEZ, PEDIDOS E ETHOS: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 Pedidos ...............................................................................................................................13
1.1.1 Os Atos de Fala: a questão da indiretividade ............................................................. 14
1.1.2 Atos de fala diretivos e Polidez ................................................................................... 22
1.1.3 Atenuação: construção da imagem polida ................................................................. 30
1.1.4 Intensificação: reforço da imagem de autonomia ..................................................... 34
1.2 Ethos do espanhol peninsular ............................................................................................. 38
1.2.1 O Ethos na sociedade espanhola peninsular ................................................................ 40
1.2.2 Ethos da mulher espanhola nos filmes de Almódovar ...............................................43
2. SEQUÊNCIAS CONVERSACIONAIS E DIÁLOGOS DRAMÁTICOS NO CINEMA:
METODOLOGIA
2.1 Considerações sobre o texto dramático e o discurso cinematográfico ............................ 55
2.2 Estratégias linguísticas de atenuação e intensificação ................................................... 59
3. AS FORMULAÇÕES DE PEDIDOS
3.1 Imperativo ....................................................................................................................... 65
3.2 Presente do indicativo ..................................................................................................... 81
3.3 Enunciados interrogativos ............................................................................................... 93
3.4 Frases nominais ............................................................................................................. 102
3.5 Outras formas verbais
3.5.1 Condicional, presente do subjuntivo e futuro simples e composto ............................ 110
3.5.2 Pretérito perfeito e imperfeito .................................................................................... 114
CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 117
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
INTRODUÇÃO
Esta dissertação tem como objetivo analisar as formulações de pedidos verificando
como as escolhas por tipos de formulações ou por diferentes estratégias linguísticas de
atenuação ou intensificação desses atos de fala são influenciadas por variáveis
extralinguísticas como o gênero (masculino e feminino), as relações funcionais (pessoais e
transacionais) dos interlocutores ou tipos de pedidos (pedidos de informação, pedidos de ação,
pedido de objeto e pedido de mudança de comportamento).
Segundo Kerbrat-Orecchioni (1994) as práticas discursivas resultam da interação entre
indivíduos, que é construída dialogicamente e é marcada subjetivamente seguindo formas e
graus variáveis. Por isso, quando escolhemos uma estratégia para formular um ato de fala, por
exemplo, não o fazemos aleatoriamente, pois a partir de nossas escolhas linguísticas podemos
dizer quem somos, sendo assim, a imagem que o locutor faz de si no discurso revela certa
identidade a partir das marcas de subjetividade. No entanto, há hábitos locucionais
influenciados por normas sociais partilhadas por membros de uma sociedade que para a autora
podem delinear um perfil comunicativo – ou ethos –dessa sociedade.
A construção do perfil comunicativo de uma sociedade pode ser determinada a partir
de formulações e estratégias de atos de fala?
Kerbrat-Orecchioni (1994) estabelece que os componentes do ethos podem ser
caracterizados na concepção das relações interpessoais como ethos de proximidade vs ethos
de distância, ethos de igualdade vs ethos de hierarquia e ethos de conflito vs ethos consensual.
A nossa hipótese é que a análise dos atos de pedidos e seus contextos de interação podem dar-
nos pistas do perfil comunicativo, isto é, do ethos feminino espanhol, que já foi descrito por
alguns estudiosos como Haverkate (2002), Hernández Flores (2002) e Bravo (2005) como
ethos de confiança, podendo haver uma tendência maior a formulações de pedidos, já que esse
tipo de ato tende a caracterizar as relações com maior aproximação interpessoal. Uma
sociedade que valoriza a formulação de pedidos pode estar relacionada à construção de uma
imagem de afiliação e a um ethos de confiança, o que pode corroborar a tolerância da
sociedade espanhola peninsular pelo uso da diretividade nos pedidos. Faremos um repertório
de todas as formulações de pedidos nas sequências conversacionais das personagens
analisadas, verificando a frequência e a utilização de recursos estratégicos para atenuação ou
intensificação desses atos e a variação dessas formulações e estratégias em função das
relações interpessoais e tipos de pedidos.
Optou-se por fazer o estudo dos pedidos, por serem atos de fala que só trazem
benefícios a quem “manda” executar a ação, portanto trata-se de um ato que poderia ser
considerado potencialmente invasivo do território do outro. Sendo assim, os falantes
precisam ter mais cuidado ao selecionar uma formulação pragmaticamente apropriada para
alcançar seu objetivo.
As relações interpessoais influenciam nas escolhas das formulações de pedidos e
estratégias de atenuação e intensificação desses atos de fala?
Este trabalho poderá nos dar pistas de como a sociedade espanhola peninsular formula
os atos de pedidos de acordo com as diferentes relações interpessoais. Trata-se de um estudo
baseado em dados obtidos através das transcrições de sequências conversacionais de três
personagens dos filmes de Pedro Almódovar: “Mujeres al borde de un ataque de nervios”
(1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006). Repertoriaremos as formulações de
pedidos das três personagens principais (Pepa, Rebeca e Raimunda), destacando as estratégias
mais frequentes nas sequências conversacionais ficcionais dessas três personagens,
verificando se as diferentes relações interpessoais de gênero (masculino e feminino) e
funcionais (pessoais e transacionais), e os tipos de pedidos (pedidos de ação, pedidos de
objeto e pedidos de mudança de comportamento) favorecem tais escolhas.
Briz (2005) afirma que a atenuação é uma operação linguística de minimização do que
é dito e do ponto de vista e a intensificação reforça a verdade do que é expresso e para fazer
valer sua intenção de fala. A nossa hipótese, em relação às estratégias de atenuação e
intensificação, é que a atenuação ocorra para minimizar a força ilocutiva do pedido que tenha
um alto custo para o interlocutor, e a intensificação apareça para intensificar a força ilocutiva
do pedido, principalmente em relações de + poder para – poder, o que reforça a imagem de
autonomia do falante.
Esse trabalho tem como base duas perspectivas pragmáticas: pragmalinguística e
sociopragmática. A pragmalinguística se refere às estruturas linguísticas específicas que as
diferentes línguas utilizam na realização de um ato de fala determinado, nesse caso os
pedidos. Foi realizado um levantamento das formulações e das estratégias encontradas nas
diversas sequências conversacionais das personagens. A sociopragmática trata das regras
culturais que governam a eleição dessas formulações e estratégias de acordo com as relações
interpessoais. Dessa forma, pode-se afirmar que os falantes poderão adotar estratégias
linguísticas (atenuação e intensificação) coerentes com a relação interpessoal (mais próxima
ou distante, mais “à vontade” ou respeitosa com o território alheio etc) a fim de conseguir
uma eficácia pragmática (Briz, 2005).
A escolha por representações conversacionais cinematográficas como contexto para
análise da pesquisa deve-se ao fato de que tal atividade de fala, embora ficcional, representa
uma prática social cotidiana de comunicação, dialógica, emocional, com finalidade
interpessoal e que reconhece uma espontaneidade, o que possibilita analisar o comportamento
lingüístico de falantes de uma determinada cultura e a construção da imagem de uma
sociedade, como afirmam alguns autores como Quaglio (2010), Richardson (2010) e Metz
(2010).
Segundo Maingueneau (1996) no texto dramático acontecem várias encenações de
atos de fala, de contratos de comunicação também determinados por componentes
psicossociocomunicacionais, porém ficcionais, o que ele chama de encenações fingidas.
Os seres que se encarregam de materializar o discurso dramático assumem posições
simbólicas de sujeitos comunicantes que acionam sujeitos enunciadores para atingir sujeitos
interpretantes, que construirão o ethos do sujeito comunicante a partir da voz que foi criada
em seu discurso (Maingueneau, 1996).
A escolha pela transcrição das sequências conversacionais das personagens Pepa,
Rebeca e Raimunda nos respectivos filmes “Mujeres al borde de un ataque de nervios”
(1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006) como corpus para análise ocorreu porque
ainda que tais sequências conversacionais sejam consideradas ficccionais, há a recriação da
língua falada e a presença de uma representação da linguagem coloquial. Um filme ainda que
seja previamente escrito apresenta estruturas lingüísticas e discursivas próprias da interação
verbal cotidiana, sendo assim há fortes indícios de alocução como o uso de atos de fala que
Searle (1969) define como unidades básicas conversacionais.
A escolha por essas personagens específicas é porque elas assim como todas as
mulheres almodovarianas são mulheres emblemáticas, que representam a liberdade adquirida
pelos movimentos feministas, têm sua liberdade sexual, são independentes, mães solteiras, e
mesclam vários estereótipos que as tornam mulheres com personalidades complexas e que
representam um paradoxo, pois não são boas e não são más, sofrem, mas também são felizes.
Esta dissertação poderá contribuir para posteriores pesquisas sobre estudos da
linguagem e pragmática intercultural, e poderá contribuir também tanto para os profissionais
de língua espanhola formados ou em formação, porque ao ensinar, aprender ou traduzir uma
língua é importante deter-se no uso pragmático da linguagem e suas variações culturais.
A seguir será apresentada a forma como está estruturada esta dissertação. O capítulo 1
se estrutura na fundamentação teórica da pesquisa, em que há um esboço dos conceitos
básicos sobre os atos de fala e a teoria da polidez, diálogo com alguns conceitos acerca dos
pedidos, apresentação do contexto conversacional preferido para análise e considerações
sobre ethos. O capítulo 2 é dedicado à exposição da metodologia de pesquisa, que consiste na
descrição do método de análise da pesquisa. O capítulo 3 é destinado à análise dos dados de
pesquisa. E para finalizar, a última sessão da conclusão está reservada para sintetizar
resultados e confirmar hipóteses.
1. POLIDEZ, PEDIDOS E ETHOS: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 PEDIDOS
Considerando a classificação de Searle (1984), os pedidos pertencem à categoria de
atos de fala diretivos, nos quais se tenta fazer outrem fazer coisas. Os pedidos são atos de fala
em que o falante usa alguém para fazer algo que ele deseja (Yule, 1995: 54).1 Quando o
locutor realiza um pedido, ele espera que seu interlocutor o realize, tanto que se o ouvinte se
opõe a executar o que foi pedido poderá haver um “mal estar” na interação, portanto o sucesso
da ação dependerá de diversos fatores e não somente da simples produção de um enunciado
com uma intenção específica. Ao proferir um pedido, o falante poderá estar invadindo o
território do outro e suprimindo sua liberdade de ação, pois o outro se vê com a
responsabilidade de executar determinada ação, sendo assim o pedido é um potencial ato de
invasão de território. No entanto, segundo Blum-Kulka (1989) a classificação de Searle não é
aceita universalmente. Alguns autores criticaram os princípios desta classificação, enquanto
outros criticaram a afirmação mesma de que os atos de fala operam de acordo com princípios
pragmáticos universais, demonstrando em que medida os atos de fala variam entre diferentes
culturas e línguas.
Optamos por fazer o estudo desse ato de fala, para verificarmos quais estratégias para
sua formulação são utilizadas já que se trata de um ato de fala potencialmente invasivo ao
território do outro, e a partir disso obtermos pistas sobre o perfil comunicativo da sociedade
espanhola.
1 Requests are those kinds of speech acts that speakers use to get someone else to do something.
1.1.1 Os atos de fala: a questão da indiretividade
Os atos de fala podem ser definidos como o próprio nome sugere como a ação do
falar, isto é, o fazer pelo simples fato de dizer. Os pedidos são atos de fala cujas formulações e
emprego dependem das relações sociais que estarão de acordo com as normas socioculturais
de uma sociedade, o que permite analisar situações representativas do funcionamento
sociopragmático dessa determinada sociedade. Apesar de autores mais modernos
denominarem “atos do discurso” ou “atos de linguagem”, definiremos nosso objeto de estudo
como “atos de fala” pertencente a corrente da filosofia da linguagem de Austin e Searle
(1984).
O filósofo da linguagem Austin lançou sua teoria sobre os atos de fala em que dá a um
ato um valor que determina seu significado. Embora essa teoria pareça sofrer influências dos
jogos de linguagem de Wittgenstein, cuja tese central é: “descrever o sentido de um
enunciado, é descrever o ato que eles permitem realizar” (Kerbrat-Orecchioni, 2005: 19),
Levinson (2007) diz que Austin pareceu ter desconhecido esse trabalho, podendo tratar a sua
teoria como autônoma.
Na teoria austiniana, encontra-se o questionamento à visão de linguagem que colocava
as condições de verdade ou falsidade como centrais para a compreensão da linguagem
(Levinson, 2007: 289). Dessa maneira Austin desarticula a questão do verdadeiro e do falso
atribuída aos enunciados chamados pelo filósofo de constativos, que descrevem, constatam
um certo tipo de ação que executada ou não no momento da enunciação da frase será julgada
como falsa ou verdadeira (como no exemplo: Eu abro a porta).
O grande marco da teoria de Austin foi a descoberta dos atos performativos, que
executam uma ação pelo simples ato da enunciação da frase, ou seja, dizer é fazer (Kerbrat-
Orecchioni, 2005: 20).
Exemplo: Eu prometo vir
O falante pode não cumprir com o que ele promete, mas a partir do momento em que o
enunciado é formulado há a realização efetiva de um ato de fala, nesse caso o ato de prometer.
O enunciado não pode ser considerado falso ou verdadeiro, já que ele promete efetivamente,
mas pode ser considerado sincero ou insincero (feliz ou infeliz, terminologias usadas por
Austin) se o falante tiver a intenção de não cumprir. Com base nisso, Austin produziu uma
tipologia das condições que as sentenças perfomativas devem cumprir para serem “felizes” ou
“infelizes”, as quais ele chamou de “condições de felicidade”. As três principais categorias
das condições apropriadas para o êxito dos perfomativos são (apud Levinson, 2007: 291):
A. 1 Deve existir um procedimento convencional com um efeito convencional.
2 As circunstâncias e pessoas precisam ser apropriadas, conforme especificado no
procedimento.
B. 1 O procedimento precisa ser executado corretamente.
2 O procedimento precisa ser executado completamente.
C. 1 As pessoas precisam ter os pensamentos, sentimentos e intenções exigidos - como
especificado no procedimento.
2 Havendo condutas consequentes especificadas, elas devem ser requeridas pelas
partes.
Quando algumas dessas condições não são cumpridas, ocorrem, segundo o filósofo,
falhas (as ações pretendidas simplesmente deixam de dar certo) ou abusos (as ações são
executadas por completo, mas sem felicidade ou sinceridade).
A teoria de Austin não se manteve linear, o que começa com o estudo das enunciações
perfomativas, termina com uma teoria geral que diz respeito a todos os tipos de enunciações
(Levinson, 2007: 293). Austin se deu conta que assim como se pode dizer “Eu lhe ordeno que
feche a porta” para realizar o ato de ordenar, pode-se também dizer “Feche a porta” para se ter
o mesmo ato, portanto, ele reconhece que todos os enunciados, inclusive os constativos, vêm
a ser considerados como dotados de uma força ilocutória (Kerbrat-Orecchioni, 2005). Desse
modo, a dicotomia entre perfomativos e constativos dá lugar a uma teoria geral dos atos de
fala, que mais tarde foi aprofundada por seu sucessor, Searle.
Austin caracteriza três tipos de atos:
a) Ato locutório: é o que se realiza pelo simples fato de dizer algo, isto é, produção de
uma expressão lingüística com significado;
b) Ato ilocutiva: é o que se realiza ao dizer algo (ordem, promessa, conselho etc);
c) Ato perlocutório: é o que causa efeito no destinatário por meio da enunciação.
A partir da elaboração de um ato ilocutório, espera-se um ato perlocutório, que muitas
vezes pode contrariar a expectativa do locutor. O enunciado “Você não pode fazer isso” pode
se transformar em atos ilocutórios de conselho, protesto etc e produzir um efeito perlocutório
que nem sempre é o esperado (deter a ação do destinatário, irritá-lo etc) (Levinson, 2007).
Austin e Searle afirmam que todos os enunciados além de significar o que quer que
signifiquem, executam ações específicas por terem forças específicas (Levinson, 2007: 299).
Searle chama essa força de ilocutiva. Segundo ele, para que um enunciado constitua uma
força ilocutória de um ato específico é necessário seguir algumas condições de adequação dos
atos na comunicação:
i) Condições de conteúdo proposicional: referem-se às características significativas da
proposição empregada para levar a cabo o ato de fala. Portanto, para que haja um pedido,
deve haver algum comando direto ou indireto que leve o destinatário a realizar o que lhe foi
solicitado.
ii) Condições preparatórias: são preparatórias todas aquelas condições que devem
existir para que haja sentido no ato ilocutivo. Nos pedidos, há de se considerar que o que está
sendo solicitado é possível de se realizar e/ou que o ouvinte tenha condições físicas ou
psicológicas de executar a ação. Um falante ao pedir a seu ouvinte que feche a porta, é
necessário que a porta esteja aberta e que o ouvinte esteja com suas mãos livres para levar a
cabo a ação.
iii) Condições de sinceridade: estas condições se centram no que o falante sente ou
deve sentir ao realizar o ato ilocutivo. Para realizar um pedido, o falante deve realmente
desejar que seu ouvinte realize algo.
iv) Condições essenciais: são aquelas que caracterizam tipologicamente o ato
realizado. Para que um ato seja considerado um pedido, deve levar o ouvinte a realizar a ação
proposta por seu emissor.
Searle (1984) propõe cinco tipos básicos de ação que alguém pode executar ao falar,
ou seja, atos ilocutórios:
• Assertivos: Dizer a outrem como são as coisas;
• Diretivos: Tentar mandar outrem fazer coisas;
• Promissivos: Comprometer-se a fazer coisas;
• Expressivos: Expressar sentimentos e atitudes;
• Declarações: Provocar mudanças no mundo através de enunciações.
Kerbrat-Orecchioni (2005) afirma que um mesmo ato de fala pode se realizar de
diferentes maneiras, mas também, uma mesma estrutura linguística pode expressar valores
ilocutórios diferentes, segundo a autora, para identificar a força ilocutória de um ato, é preciso
que intervenham simultaneamente diferentes fatores na interpretação dos enunciados, fatores
linguísticos e paralinguísticos, mas também fatores contextuais. Um mesmo ato de fala, como
os pedidos, pode ser realizado de forma direta ou indireta.
Há diversas incertezas no que convém admitir ser uma formulação direta de um
determinado ato de fala (Kerbrat-Orecchioni, 2005: 52). Austin (1975) considera como atos
de fala diretos os performativos explícitos, que denominam o ato realizado ao mesmo tempo
em que o realizam: “Ordeno que você saia”, esse enunciado deixa explícito que se trata de
uma ordem, e os casos das formas de frase (afirmativa, interrogativa, imperativa etc): “Parta”,
forma imperativa que marca a ordem. Mas, Kerbrat-Orecchioni (2005) questiona a
convencionalização da diretividade desses atos, pois considera o uso dos performativos
restrito, já que não há formulações específicas para todos os atos de fala e também considera
que as formas de frase podem ser polissêmicas e dependendo do contexto em que são
formuladas podem adquirir uma outra força ilocucionária. A autora ainda acrescenta outras
formas de enunciação direta à fórmula performativa e à forma de imperativa, no caso da
ordem, como nos exemplos abaixo dados por ela:
• Infinitivo prescritivo: “apagar a luz ao sair da sala”;
• Fórmulas elípticas: “Dois chopes na pressão”;
• Certas formas declarativas: “Quero que você feche a porta”, “Você deve ir embora”
etc.
A diretividade na enunciação embora possa demonstrar um alto grau de imposição e
de impolidez, está adequada em determinados contextos.
Nesse trabalho, será considerado como direto todo ato que apresente em sua forma a
força ilocucionária específica e como indireto todo ato que apresente uma força ilocucionária
sob aparência de outro ato.
Sendo assim, podemos considerar como pedidos mais diretos, os formulados com as
seguintes categorias pragmalinguísticas como: imperativos e presentes do indicativo ou
subjuntivo.
(01) Pepa – Candela: “Candela/ tráeme algo de beber.”
(02) Pepa – Carlos: “Y de paso arreglas el teléfono.”
(03) Pepa – Iván: “Es urgente que hablemos de ello antes de irte de viaje.”
Já em relação ao ato de fala indireto, o consideraremos como o ato de linguagem que
possui um significado ambíguo no contexto e que é diferente de seu significado literal (Brown
e Levinson, 1987: 137), mas que só pode ser compreendido como um ato específico se estiver
contextualizado dentro do processo interativo.
Como observou Searle (1984), há diferentes tipos de realizações de atos de fala
indiretos, sendo assim convém mencionar os seguintes:
a) Atos indiretos convencionais: no enunciado “Você pode me passar o sal?”, os
interactantes já têm internalizado que se trata de um pedido, tanto que se a pergunta for
interpretada como tal pode-se considerar que o destinatário é um provocador ou que
não domina as regras da língua.
b) Atos indiretos não convencionais: já no enunciado “Está com pouco sal”, o
destinatário pode entender o enunciado como uma asserção (“para mim, está bom
assim”), sem ser acusado de trair a língua (poderia eventualmente levantar suspeita de
agir de má fé ao interpretar ao pé da letra o enunciado que lhe é endereçado). Nesse
caso o valor de solicitação aqui é não convencional.
Sendo assim, no ato de fala indireto convencional do exemplo citado em (a) há o
apagamento do conteúdo literal (pergunta) em proveito do conteúdo derivado (pedido) que se
torna prioritário, já no ato de fala indireto não convencional do exemplo citado em (b), o
conteúdo derivado (pedido) não substitui totalmente o valor literal (constatação), mas sim se
acrescenta a ele sob a forma de uma derivação alusiva (Kerbrat-Orecchion, 2005: 56).
Para Kerbrat-Orecchioni (2005) essa noção de indiretividade pode variar de uma
cultura para outra. E a interpretação do ouvinte sobre o que o falante deseja comunicar em
muitas das vezes só poderá ser validada quando conjugada ao contexto que é reinterpretado na
conversa, sendo construído social e interacionalmente.
Portanto, para entender que o enunciado acima mencionado: “Você pode me passar o
sal?” não é uma pergunta, mas sim um pedido, o destinatário vai levar em consideração toda a
situação comunicativa para perceber que o valor de pergunta não é pertinente e dessa maneira
entender a verdadeira intenção de seu interlocutor.
Essa canalização de interpretação se realiza por implicaturas conversacionais2
conceitualizadas por Grice (1989) baseadas em expectativas convencionalizadas que os
falantes usam para sinalizar suas intenções comunicativas e os ouvintes usam para inferir as
intenções conversacionais de seu interlocutor. Tais traços são denominados “pistas de
contextualização” que podem ser quaisquer traços de formas linguísticas, paralinguísticas ou
prosódicas que contribuem para assinalar as pressuposições contextuais (Gumperz apud
Telles Ribeiro, 1998).
Quais são as estratégias de indiretividade e seus fatores condicionantes nas
formulações de pedidos feitos por mulheres espanholas contemporâneas em filmes de
Almodóvar? Em nosso corpus consideraremos pedidos com tom indireto as categorias
pragmalinguísticas: frases nominais (exemplo 04), condicional (exemplo 05), enunciados
interrogativos e marcadores conversacionais (exemplo 06), pois essas categorias podem
modificar o pedido internamente ou externamente deixando-o menos coercitivo ou com
menos força ilocutiva, como descrito por Marquez Reiter (2002), a força ilocutiva do ato está
2 Interpretações dos significados das expressões e não dependem do significado convencional das palavras
emitidas, são analisadas a partir de princípios que regulam a conversação.
implícita na enunciação do ato e o ouvinte a interpreta como pedido devido ao que já está
convencionalizado em sua língua.
(04) Pepa – taxista: “Castellana 31.”
(05) Raimunda – Sole: “Es que Paco viene esta noche a casa, quiere que hablemos, me gustaría estar
sola”
(06) Rebeca – Juiz: “Oiga ¿me da un cigarillo?”
Observam-se acima exemplos de pedidos indiretos. No exemplo 04 a formulação de
um pedido ritualizado em prestações de serviço em que há a omissão da forma verbal e há a
referência somente ao objeto que se deseja, no exemplo 05 a formulação do pedido está
centrada no desejo do falante e espera-se que ouvinte entenda esse desejo e o realize, no
exemplo 06 o pedido de objeto está na pergunta que dá ao ouvinte a liberdade para realizar ou
não. Para Searle (1984), a maior motivação para a existência das formas indiretas
convencionais para formular pedidos é a polidez.
1.1.2 Atos de fala diretivos e polidez
Uma das perguntas de nossa pesquisa é saber se as diferentes relações interpessoais
influenciam nas formulações dos pedidos. Para entender melhor esse assunto, teremos que
nos ater à teoria da polidez, que é um ramo da pragmática que busca descrever o
funcionamento dos atos de fala que estão relacionados a papéis sociais. As teorias fundadoras
da polidez surgem do princípio de cooperação de Grice (1989), que é um conjunto de
suposições mais amplas que guiam a conduta conversacional (Levinson, 2007), a partir de
então surgiram diversas teorias acerca da polidez, mas para Bravo (2004) sem dúvida a teoria
da polidez que maior influência exerceu nos estudos da área foi a apresentada por Brown e
Levinson em 1978. Esses autores propuseram uma teoria segundo a qual todo indivíduo tem
duas faces (imagem social), uma imagem positiva e uma imagem negativa3. Os pedidos são
atos que ameaçam tanto a imagem negativa do receptor quanto a imagem positiva do emissor
nas sequências conversacionais, objeto de estudo deste trabalho. Para evitar ou minimizar tais
ameaças, os autores sugerem algumas estratégias, como a estratégia de polidez, que aparece
como um meio de conciliar o desejo mútuo de preservação das faces (Kerbrat-Orecchioni,
2005: 87). Brown e Levinson (1987) afirmam que essas estratégias podem ser utilizadas a
partir de representações linguísticas do tipo: indiretividade convencional, suavização da força
ilocucionária, ênfase no poder relativo do ouvinte etc.
No entanto, o que se deve considerar quando se fala em estratégias de polidez nos
pedidos é a avaliação do contexto no qual esses atos estão sendo empregados, pois um tipo de
estratégia pode não surtir efeito se for elaborada em contextos diferentes.
Nesse estudo, a polidez é vista como forma de “salvar a imagem”, imagem esta que é
baseada no conceito de face de Goffman (1967). Este conceitua face como uma imagem de si
próprio delineada em termos de atributos sociais aprovados (p. 306). Segundo o autor,
proteger a face é uma condição da troca comunicativa, em que o falante tem que salvar sua
própria imagem e proteger a de seu interlocutor, para evitar consequências desagradáveis na
interação, obtendo uma harmonia interpessoal.
Brown e Levinson tomam esta idéia de face, mas fazem prevalecer a figura do
indivíduo frente a do grupo social e o papel social do ouvinte frente a do falante (Bravo,
2004). Os autores consideram que a interação é uma troca entre agentes humanos e racionais,
isto é, cada indivíduo possui um modo de racionalização que lhe faz escolher os meios
adequados para atingir o que deseja.
3 Ver definição na pág. 27
Segundo Brown e Levinson (1987), todo indivíduo possui duas faces: Face Negativa e
Face Positiva. Entende-se por face negativa o desejo de ter liberdade de ação e face positiva
o desejo de ter a imagem apreciada. Durante uma interação os falantes têm o desejo de
preservar ou construir uma face, e essa face é construída através de ações em relação ao outro,
no entanto esse desejo de face é frequentemente contrariado, já que segundo os autores a
maior parte dos atos de fala elaborados pelos falantes são potencialmente “ameaçadores de
face” conhecidos como FTAs (Face Threatening Acts, ou atos ameaçadores da face), sendo
assim, serão necessárias estratégias para minimizar o grau de ameaça desses atos, estratégias
estas que Brown e Levinson chamam de polidez. As estratégias de polidez surgem como
forma de resguardar a imagem pública e são caracterizadas como: polidez negativa, que
consiste em evitar a produção de um FTA ou em suavizar sua realização, buscando não
limitar a liberdade de ação do interlocutor e a polidez positiva, que consiste em atender os
desejos de face positiva do outro, buscando proteger a imagem do interlocutor.
Do ponto de vista dos autores, o nível de polidez que se emprega depende dos seguintes
fatores:
a) Distância social: grau de familiaridade entre os participantes. Eixo horizontal.
b) Poder: relação de poder entre os participantes. Eixo vertical.
c) Grau de imposição: teor de ameaça à imagem pública.
Apesar de todas as suas vantagens e contribuições aos estudos da linguagem, esta teoria
foi muito questionada, principalmente no que se diz respeito à universalidade. Blum-kulka
(1989) diz que os desejos de face não são universais, mas sim determinados culturalmente.
Arndt e Janney (1985) afirmam que a polidez não está ligada às variáveis sociais, mas às
emoções humanas. Já Kerbrat-Orecchioni (2005) diz que a polidez serve para fortalecer as
relações sociais e não somente para suavizar a ameaça à face como defendiam Brown e
Levinson (1987), dessa forma a autora francesa estabelece os atos valorizadores da face,
conhecidos como FFAs (Face Flattering Acts, ou atos bajuladores da face) frente aos atos
ameaçadores de face, os FTAs. Sendo assim, todo ato de fala pode ser descrito como um
FTA ou um FFA. Segundo Bravo (2004), esta distinção parece ser útil para a descrição das
particularidades da polidez do espanhol peninsular, já que atos conhecidos como ameaçadores
podem aparecer como “valorizadores da imagem” nessa cultura. Para a autora, é de extrema
relevância o fator sociocultural para o estudo da cortesia:
“Em um corpus de fala natural, o tema, os papéis
sociais, a experiência anterior e o modo no qual os
participantes mesmos definem a situação comunicativa,
influenciam a interpretação dos „efeitos de cortesia‟. No
entanto, esta consideração não somente não exclui a
influência de fatores socioculturais, mas também que
são este tipo de considerações as que fazem
compreensível a interpretação de se determinados
comportamentos, são ou não, percebidos como
„corteses‟ „justamente nessa‟ situação comunicativa”.
(Bravo, 2004: 27)
Nesta dissertação, verificaremos se as diferentes situações extralinguísticas em que os
interlocutores estejam inseridos, como as diferenças de gêneros (masculinos e femininos) e as
diferentes relações funcionais (pessoais e transacionais) influenciam nas formulações de
pedidos considerados mais polidos ou menos polidos.
A partir de tais afirmações, não há como descartar a contextualização nas sequências
conversacionais. E, por isso, vamos traçar algumas considerações sobre este tema.
A noção de situação comunicativa ou contexto é vista nas teorias de Searle (1984) e de
Grice (1989) como um “conhecimento de mundo idealizado”, limitando-se ao conceito de
intencionalidade (coloca a intenção do falante como o critério definitivo do significado) e ao
fato de que o ouvinte é um indivíduo também idealizado, que existe como um ser passivo e
não como um participante com a possibilidade de guiar a interação (Martins, 2002). Já nos
estudos interacionistas, a visão de contexto é mais ampla, considerando-o não só como
“conhecimento de mundo” mas também como “situação”, ou seja, os fatores sócio-culturais
são efetivamente incorporados e o ouvinte passa a ter junto com o falante um papel primordial
e ativo, sendo assim, o contexto é uma forma de práxis interacionalmente constituída
(Martins, 2002: 5).
De acordo com a teoria sócio-interacionista, o objeto de estudo deixa de ser as frases
descontextualizadas para dar lugar ao discurso atualizado em situações concretas de
comunicação, por isso o conceito de “enquadre”4 (Bateson, Goffman apud Martins, 2002) é
central à discussão de contexto. Goffman (1967) afirma que o significado das ações sociais é
definido em função dos enquadres, que governam e organizam os eventos sociais. Portanto,
numa interação os participantes formulam seus atos, avaliam as intenções dos falantes e
elaboram suas respostas de acordo com o enquadre. Sendo assim, o papel social que um
interlocutor desempenha no momento da interação pode determinar a maneira como ele vai
compor seu ato de fala e influenciar a reação do ouvinte, em uma determinada cultura.
Kerbrat-Orecchioni (2006) descreve contexto levando em consideração os seguintes
elementos:
• O quadro espacial: aspectos físicos do lugar onde se desenvolve a interação (loja,
restaurante, sala de aula etc) e função social e institucional (tribunal de justiça não
mais como edifício, mas como lugar de exercício da função judiciária);
• O quadro temporal: o momento da interação;
• objetivo da interação;
• os participantes: número, características individuais (idade, sexo profissão etc),
relação mútua (grau de conhecimento);
• diferentes tipos de receptores:
a) “reconhecidos”: fazem oficialmente parte do grupo conversacional.
4 Tradução do termo: “Frame” que foi introduzido por Bateson (apud Goffman, 1967) nas ciências sociais e
definido como conjunto de mensagens incluídas no mesmo e fornece instruções ao receptor sobre como entendê-
las. Posteriormente retomado por Goffman numa abordagem sociológica
b) “espectadores”: são somente as testemunhas da troca, da qual estão, em
princípio excluídos;
• Os papéis interacionais: papel representado no momento da interação,
médico/paciente, professor/aluno etc. O conjunto de papéis interacionais define o
contrato de comunicação ao qual estão submetidos os participantes num tipo
determinado de interação, numa determinada cultura.
Sendo assim, pode-se dizer que é a partir do contexto que um falante de uma língua
atribui a uma situação interacional a qualidade de “polida”, “não polida”, ou a uma pessoa a
característica de “cordial”, “mal-educada” etc. Para Bravo (2004), uma grande parte da
comunicação interpessoal aparece estreitamente relacionada ao conhecimento dos falantes do
conjunto de conteúdos sócio-culturais que a integram. Com isso ela questiona a dualidade de
imagem social estabelecida por Brown e Levinson (1987), afirmando principalmente que a
imagem negativa não parece coincidir em todas as sociedades, justamente porque não está
configurada do mesmo modo e exemplifica com a descrição da sociedade espanhola
peninsular que prioriza a autoafirmação como forma de manter a individualidade e que é
respeitada entre os demais. Em conseqüência, Bravo (2005) estabelece dois novos conceitos
para caracterizar a imagem social: a imagem de autonomia, que é aquela a qual um integrante
de um grupo adquire um “contorno próprio”, ou seja, o indivíduo possui características
próprias que são necessariamente iguais a do grupo em que está, e imagem de afiliação, que
se plasma em comportamentos que tendem a ressaltar os aspectos que fazem uma pessoa
identificar-se com o grupo, ou seja, o indivíduo possui características que o inserem no grupo.
Se o desejo de autonomia deve ser concebido como a necessidade de liberdade de ação,
denominado por Brown e Levinson (1987), depende dos conteúdos socioculturais fixados em
determinadas sociedades ou grupos sociais.
a) Premissas ligadas à autonomia: ver-se ou ser visto
Como um indivíduo que se autoestima, que reconhece o próprio valor, mostrando-
se capaz de exibir ou ratificar suas boas qualidades e originalidade. Esta
autoestima se relaciona com a necessidade de autoafirmação do indivíduo e faz
parte do ser social. A autoestima é merecedora do interesse, admiração e apreço,
dentro do grupo.
Como um membro competente da sociedade, não ser crítico, não ser indiferente,
não improvisar.
Como um indivíduo que não aceita facilmente que se questione seu valor.
b) Premissas ligadas à afiliação: ver-se ou ser visto
Como um indivíduo capaz de demonstrar afeto, tolerância, sinceridade através de
comportamentos próprios da intimidade familiar e da amizade.
Como um indivíduo que busca a confiança do outro.
Como um indivíduo que se importa com o apreço interpessoal, o qual conduz ao
consenso e à manutenção da coesão do grupo.
Levando em consideração que todo ato de fala pode ser descrito como FTA ou FFA,
Kerbrat-Orecchioni (2004) reconhece e caracteriza dois tipos de polidez, uma mitigadora,
motivada por um possível risco de ameaça ao interlocutor e que se dirige a evitá-las ou
repará-las; e uma valorizante, na que não existe possível risco de ameaça e seu uso é para
produzir atos polidos, portanto o uso da polidez está diretamente ligado à imagem do
interlocutor (Albelda Marco, 2004), no quadro abaixo há a descrição desses tipos de polidez
caracterizado por Kerbrat-Orecchioni (2004):
Risco de ameaça à de autonomia polidez
imagem do ouvinte de afiliação mitigadora
POLIDEZ
Não ameaças à de autonomia polidez
Imagem do ouvinte de afiliação valorizante
Briz (2005) afirma que a atenuação tem uma função pragmática e age como uma
atividade estratégica, é uma operação lingüística de suavização do que é dito, da força
ilocutiva do ato. Ele afirma que cada cultura subjetiviza o uso de certos mecanismos
lingüísticos para atenuar a força ilocutiva de um ato. Portanto, pode-se dizer que algumas
formas de polidez podem estar internalizadas em cada língua ou cultura. Sendo assim, Briz
propõe dois tipos de polidez verbal na conversação: polidez codificada (convencionalizada),
que está regulada antes da interação, submetida a convenções socioculturais, e polidez
interpretada, que é avaliada no decorrer da interação de acordo com as reações dos
participantes. O autor propõe esses dois conceitos para demonstrar que não se pode tratar da
polidez como uma manifestação lingüística com fórmulas fixas. Há estratégias de polidez que
podem estar convencionalizadas ou não, com isso, um pedido com verbo em imperativo
(“tráeme un vaso de agua”) pode ser mais ou menos polido, mais ou menos impolido, mais ou
menos atenuado, depende da interpretação da situação, da mesma forma que uma forma
linguística possa associar-se convencionalmente a uma estratégia polida, mas que numa
determinada interação seja interpretada como impolida. Portanto, a atenuação da força
ilocutiva dos atos de fala e a função social destes, só podem ser medidas dialogicamente no
contexto conversacional (Briz, 2005: 73).
A denominação do comportamento linguístico polido ou impolido nas interações
depende da interpretação, do contexto comunicativo, pois nem sempre o que está codificado
na língua como impolido poderá ser interpretado dessa forma.
A seguir descreveremos a atenuação e veremos que situações e que objetos de pedidos
podem favorecer o uso de recursos atenuadores.
1.1.3 Atenuação: construção da imagem polida
Segundo Briz (2005), a conversação é uma negociação, dar argumentos para chegar a
uma conclusão, para conseguir um acordo ou a uma “eficácia pragmática”. Para atingir essa
meta, o falante poderá empregar em seu discurso formas lingüísticas entendidas como
estratégias adequadas, efetivas e eficazes. As categorias pragmalinguísticas são formas
associadas a uma atividade estratégica e estão ligadas ao valor intencional, à força ilocutiva e
que podem algumas vezes regular as relações interpessoais e sociais dos participantes de uma
interação. A atenuação, como categoria pragmalinguistica, é uma operação lingüística
estratégica de minimização do que é dito e do ponto de vista, sendo assim, está vinculada à
atividade argumentativa e de negociação do acordo, que é o fim de toda conversação (Briz,
2005: 56). Assim como existem algumas categorias pragmalinguísticas específicas que
podem ser empregadas como recurso de atenuação, há também atos de fala preparatórios, que
surgem como “adornos” ou “envolturas sociais” (Van Dijk, 1980), que também podem sugerir
uma atenuação ou intensificação da força ilocutiva do ato global.
Nessa pesquisa, foram consideradas como categorias pragmalinguísticas estratégicas
para atenuação as seguintes formas:
1- Marcadores conversacionais: (ou „marcadores discursivos‟,„operadores
argumentativos‟, „articuladores textuais‟, não há consenso na literatura
acerca da denominação, mas nesse trabalho utilizaremos o termo
marcador conversacional por se tratar de uma análise no âmbito
conversacional) é um rótulo amplo que recobre construções que atuam
tanto no plano textual, estabelecendo elos coesivos entre partes do
texto, como no plano interpessoal, mantendo a interação falante/ouvinte
e auxiliando no planejamento da fala (Marcuschi, 1989): “Anda/ suelta”
“Bueno anda Letal ya está”
2- Formas de tratamento nominal: constituem o conjunto de formas de
formas que os falantes possuem de uma variedade lingüística para se
dirigir ao destinatário e fazer referência a uma 3ª pessoa e a si mesmo
na mensagem Rigatuso (2011). Segundo a autora as formas nominais
segundo seriam as seguintes:
Termos de tratamento:
a) termos de parentesco: formas nominais utilizadas pelo emissor ao referir-se
as relações familiares (padre, madre, hijo, etc);
b) termos gerais: formas nominais empregadas para pessoas não familiares
(señor, señora, joven, caballero, etc.);
c) termos de ocupações: formas nominais relacionadas as profissões (doctor,
profesor, camarero, etc);
d) termos de amizade, cordialidade e afeto: formas nominais empregadas a
pessoas amigas e com expressão de afeto (amigo, cariño, querido, tesoro, etc.);
e) termos honoríficos: forma nominal para dirigir-se ao interlocutor de acordo
com o cargo, título, etc. (Va. Excelencia, Su Reverencia, etc).
Nomes pessoais:
a) nome de batismo ou hipocorísticos: nome de batismo - se refere aos nomes
próprios das pessoas (Esperanza ,Catalina, Belén, etc.), aos diminutivos
(Carmencita, Pablito, etc.) ou alterações dos nomes (formas abreviadas), sejam
próprios ou comuns, que se usam de forma carinhosa ou familiar (Pepe, Gabi,
etc.).
3- Justificativas: asserção constatativa como causa do pedido.
4- Minimizadores: elementos, como o sufixo diminutivo, que se
apresentam para reduzir a ameaça que o ato constitui (Kerbrat-
Orecchioni, 2006:88).
5- Apreciação positiva.
Por se tratar de uma estratégia que tem como intenção principal: suavizar, atenuar a
força ilocutiva do ato, reparar, esconder a verdadeira intenção etc, pode-se dizer que a
atenuação tem uma função social, a de preservação da imagem, sendo assim, a atenuação
pode aparecer muitas das vezes como uma forma de estratégia de polidez, mas nem sempre
ela exerce essa função e pode funcionar como uma estratégia de negociação para o equilíbrio
da interação.
(07) Pepa – Candela: “Espera/ hija que no será tan urgente”
No exemplo acima, Pepa se dirige a Candela utilizando um recurso de atenuação para
conseguir “o acordo” com seu pedido, nesse caso há uma atividade de imagen, mas não uma
imagem de polidez.
Briz (2005) diz que os atenuadores estrategicamente polidos são evidentes em
situações pouco cooperativas em que há uma busca de equilibrio de imagens.
(08) Pepa – Carlos: “¿te importa quedarte hasta que yo vuelva? Somos demasiadas mujeres para un
ático tan grande”
Nesse exemplo, Pepa tenta conseguir “o acordo” através de uso de atenuadores
(interrogação e justificativa) que se codificam como fórmulas de polidez, nesse caso o falante
não só quis buscar o equilibrio de ambas imagens, mas também intensificar sua imagen de
afiliação, já que não apresenta uma relação muito próxima com seu interlocutor. Para Briz
(2005) a eficácia linguística depende da eficacia social, e é aquí que surge a atividade
atenuadora estrategicamente polida.
Há termos ou expressões que podem ter um grau menor ou maior de atenuação em
cada língua, sendo assim, elementos como: marcadores conversacionais, justificativas, formas
de tratamento nominal etc podem ter uma escala maior de diminuição estratégica da força
ilocutiva. Tais escalas podem vir ordenadas a partir do conhecimento de mundo, dos
conhecimentos compartilhados coletivamente, por isso o excessivo uso de atenuadores na
interação coloquial espanhola entre amigos pode parecer estranho, já que a negociação é
muito mais direta (Briz, 2005: 72). Na sociedade espanhola, pode haver enunciados diretos
com tão pouca força ilocutiva, que seria incompreesível o uso de atenuadores. Briz aponta
que os fatores mais relevantes para a presença de maior atenuação na interação coloquial
espanhola são a presença de temas polêmicos e delicados que produzem conflitos individuais
e sociais, quando há a invasão da intimidade de alguém, quando há um pedido delicado ou
difícil para realizar, entre outros.
Assim como a atenuação, a intensificação é vista como uma estratégia linguística, mas
de reforço do que é dito. A seguir descreveremos a intensificação e veremos que situações e
objetos de pedidos podem favorecer o uso de estratégias intensificadoras.
1.1.4 Intensificação: reforço da imagen de autonomia
A intensificação, assim como a atenuação, é uma categoria discursiva manifestada
através de elementos linguísticos, não é uma função social em si mesma, mas sim categoria
pragmalinguística, que pode ser empregada para conseguir um fim social (Albelda Marco,
2005). Entende-se a intensificação como categoría pragmática, relacionada com a atividade
retórica do falante, quem a emprega com um propósito determinado “reforçar a verdade do
que é expresso e para fazer valer sua intenção de fala” (Briz, 1998).
Segundo Albelda Marco (2005), uma das principais funções da polidez é manter e
estreitar relações sociais entre os interlocutores e ainda segundo a autora, na cultura espanhola
peninsular a frequência de meios lingüísticos que valorizam o tu é muito significativa. Sendo
assim, pode-se dizer que a intensificação da imagen do tu seria uma forma de reforçar as
relações sociais nessa cultura. Os atos corteses podem realizar-se mediantes estratégias
discursivas de atenuação e intensificação.
Para a autora em questão, a intensificação opera em distintos níveis da linguagem em
função da finalidade a que se oriente: Intensificação no nível da força ilocutiva, no nível
argumentativo e no nível das relações sociais (2005: 96):
A intensificação no nível ilocutivo: Aumenta a força ilocutiva do enunciado, o
que pode valorizar o que é dito de tal forma que reforça a implicação do falante
na comunicação.
A intensificação no nível argumentativo: Tipo de reforço do que é dito mediante
a argumentos, de modo que se intensificam ideias ou opiniões próprias ou do
outro interlocutor, como por exemplo, insistindo em algo, oferecendo diferentes
perspectivas de uma mesma ideia ou opinião etc.
A intensificação no nível das relações sociais: As estratégias de intensificação
são direcionadas a fazer mais fortes os laços sociais entre os interlocutores.
Pode-se intensificar ou fortalecer a relação quando há um agradecimento por
algo, quando há elogios a alguém etc.
Na sociedade espanhola peninsular, como já foi afirmado por Bravo (2004), há uma
preferência pela imagem de autonomia, o que sugere que a presença da intensificação dos
enunciados no nível ilocutivo seja vista como algo esperado e valorizado e não como uma
ameaça. Para Bravo (2005), um dos conteúdos da autonomia é a autoafirmação, que se refere
ao desejo da pessoa por se distinguir do grupo e se ver frente a ele como alguém original e
consciente de suas qualidades sociais positivas, que lhe permitirão se destacar do grupo e
expresar suas opiniões persuasivamente e com força. De outro lado está a imagem de
afiliação que não pode ser vista como oposta à imagem de autonomia, pois aquela demonstra
a confiança, a proximidade, sendo assim, o reforço à imagem de autonomia também pode ser
um reforço à imagem de afiliação, e à intensificação dos enunciados no nível ilocutivo pode
representar a autoafirmação do falante a fim de fortalecer sua imagen de autonomia e também,
em alguns casos, fortalecer sua imagem de afiliação.
Nessa pesquisa, foram consideradas como categorias pragmalinguísticas estratégicas
para intensificação seguintes formas:
1- Marcadores conversacionais
2- Formas de tratamento nominal:
3- Justificativas
Esses três primeiros coincidem como categorias de atenuação parcialmente ou totalmante.
4- Modalizadores adverbiais.
5- Microatos: atos de fala preparatórios, que surgem como “adornos” ou
“envolturas sociais” (Van Dijk, 1980). Em nossa análise apareceram:
a) Insulto: forma que opera uma predicação axiologicamente negativa
colocada de forma explícita sobre o alocutor por uma designação,
enunciada com a intenção de criar tensão sobre a face do alocutor,
recebida como tal por ele, e, realizadas dentro de condições de sucesso
apropriadas (Giaufret, 2011: 54)
b) Predicação negativa
c) Captação da benevolência
d) Ameaça: Kerbrat-Orecchioni (2006: 90) denomina como “agravantes”
cuja função é reforçar o ato de fala, em vez de abrandá-lo.
Um dos objetivos de nosso trabalho é repertoriar as estratégias de intensificação no
nível ilocutivo dos pedidos e a partir daí repertoriar o tipo de imagem que se deseja construir e
assim se ter pistas do funcionamento conversacional e do comportamento social da sociedade
espanhola peninsular, representrados nesses três filmes de Almodóvar, podendo assim nos dar
pistas sobre o funcionamento feminino do ethos espanhol.
1.2 ETHOS DO ESPANHOL PENINSULAR
Segundo Kerbrat-Orecchioni (1994), as práticas discursivas resultam da
interação entre indivíduos, que é construída dialogicamente e é marcada subjetivamente
seguindo formas e graus variáveis. Por isso, quando escolhemos uma estratégia para formular
um ato de fala, por exemplo, não o fazemos aleatoriamente, pois a partir de nossas escolhas
linguísticas podemos dizer quem somos, sendo assim, a imagem que o locutor faz de si no
discurso revela certa identidade a partir das marcas de subjetividade. No entanto, há hábitos
locucionais ou formulações linguísticas influenciadas por normas sociais partilhadas por
membros de uma sociedade que para a autora podem delinear um perfil comunicativo – ou
ethos –dessa sociedade. Sendo assim, pode ser considerado um ethos “coletivo” em que as
pessoas o portam como uma referência involuntária, pois a imagem não seria objeto de
escolhas subjetivas, mas sociais.
Brown e Levinson (1987) definem ethos como o estilo interacional característico de
uma sociedade, e em algumas culturas pode ser amigável, afetuoso, em outras pode ser
formal, deferencial e em outras pode ser caracterizado como individualista, ostensivo e ainda
distante e até hostil. Kerbrat-Orecchioni (1994) afirma que o ethos é uma etiqueta para indicar
a qualidade da interação que categoriza um grupo, ou categorias sociais de pessoas, em
particular na sociedade. A autora afirma que para identificar o ethos de um grupo ou
sociedade seria preciso tentar agrupar fatores relevantes de diferentes níveis a fim de
descobrir o seu sistema. Brown e Levinson (1987) assinalam ser necessário correlacionar os
níveis de distância, e poder, o tipo de atenção à face e o tipo de estratégias de polidez, na
elaboração dos atos de fala. Segundo eles, em sociedades em que há um alto nível de poder,
distância e imposição, a polidez positiva é quase inexistente. Dessa maneira, pode-se
distinguir culturas de polidez positiva e culturas de polidez negativa.
Na sociedade espanhola peninsular, segundo Placencia e García (2007), há uma
tendência a usar menos mitigadores e uma tolerância para diretividade, o que a faria ser
considerada impolida, se fosse levada em consideração a teoria da universalidade de polidez
assumida por Brown e Levinson (1987). Porém, muitos estudiosos do campo da pragmática
intercultural e da sociopragmática contradizem essa teoria e têm classificado a sociedade
espanhola peninsular como uma cultura de polidez positiva. Haverkate, Hernández Flores e
Bravo sugerem que isto é devido à composição sociocultural específica da face de autonomia
(representada pela autoafirmação) e a face de afiliação (representada pela confiança)
(Placencia e García, 2007).
São as estratégias nas elaborações dos atos de fala nas interações de diferentes
sociedades que podem caracterizar seu ethos. Há diferentes e específicas maneiras de
produzir atos de fala em cada sociedade, levando em consideração mais ênfase nas relações de
poder ou distância social.
Kerbrat-Orecchioni (1994), de acordo com que Brown e Levinson (1987) estabelecem,
afirma que os componentes do ethos estão:
1- na concepção das relações interpessoais:
– Ethos de proximidade versus distância:
Marcadores : comportamentos proxêmicos, frequência do contato ocular e corporal,
formas de tratamento, facilidade que se permite aceder a seu teritório privado
(convites, confidências etc)
– Ethos igualitário versus hierárquico:
Marcadores: formas de tratamento (nominais, verbais e pronominais), forma
honoríficas, distribuição dos turnos de fala, realização dos atos do discurso, formas
de polidez ou cortesia, bem como outros «taxemas».
– Ethos de enfrentamento/conflito versus consensual:
Marcadores : realização dos desacordos e negações
Os diferentes marcadores, porém, nem sempre assinalam a mesma direção. Uma
sociedade pode apresentar o mesmo ethos que uma outra, mas podem apresentar
marcadores com dimensões diferentes.
2- na concepção da polidez:
– Noção de face: imagem social se refere à auto imagem que a pessoa quer
apresentar ante os outros na interação (caráter público e interpessoal)
– Polidez negativa (afiliação) e polidez positiva (autonomia).
1.2.1 Ethos da sociedade espanhola peninsular
Nos estudos sociopragmáticos pode-se observar que os falantes do espanhol peninsular
têm uma preferência pelo uso do imperativo nas elaborações de seus atos diretivos, o que
reduz a liberdade de ação de seu interlocutor, mas que no entanto representa uma sociedade
onde predomina a solidariedade e a confiança, sendo assim a teoria universal de Brown e
Levinson sobre os FTAs entra em contradição nesse tipo de sociedade, pois essa escolha de
estratégia na elaboração de atos de fala não representa uma ameaça à face ou uma manifestção
de impolidez. Assim, um pedido direto é mais previsível em um contexto de proximidade
social, na interação interpessoal, em um contexto como o espanhol peninsular em que tal ato
de fala não seja visto como ameaçador (Briz, 2004, 73).
Por isso, as categorias de autonomia e afiliação desenvolvidas por Bravo (2004)
apresentaram grande relevância nesse tipo de estudo, pois essas categorias não incorporam
significados de como deve ser especificamente a imagem social, mas sim, como um indivíduo
deseja ver-se e ser visto diferente do grupo (autonomia) ou ver-se e ser visto parte do grupo
(afiliação), o que o converte em algo dependente de um contexto sociocultural.
Portanto, a imagem da sociedade espanhola é caracterizada por Bravo ( 2004) como:
Imagem de autonomia: necessidade de ter um contorno próprio frente ao
grupo (originalidade), auto estima, auto afirmação, necessidade de sentir-se
orgulhoso de suas próprias qualidades e competências.
Imagem de afiliação: necessidade de identificar-se com o grupo, confiança,
consideração, afeto.
Imagem de estima: característica da mentalidade hispânica, representação
do indivíduo como pessoa digna de estima pela sua posição hierárquica na
sociedade, noção de orgulho, el honor, auto afirmação e confiança.
Uma característica fundamental na imagem de afiliação é o valor da confiança,
Hernández Flores (2002) descreve o termo a partir das seguintes situações:
Falar com confiança: estilo comunicativo que supõe falar abertamente,
sem rodeios, com franqueza.
Ter confiança em alguém: tipo de relação afetiva que alude à proximidade.
Fazer algo porque se tem confiança: atuar livremente, sem medo de
ofender o outro e sabendo que essa atitude será recebida com naturalidade.
Ser alguém de confiança: ser muito próximo do outro e conhecê-lo bem.
Segundo a autora, a confiança é uma característica da imagem afiliativa espanhola, e
que não se pode incluir na categoria de imagem positiva de Brown e Levinson (1987), pois a
afiliação supõe o desejo de buscar ou reafirmar a proximidade social entre as pessoas, e não o
desejo de ser aprovado socialmente, e ela ainda diz que o não ser polido, seria caracterizado
pelo abuso de confiança, que haveria em relações em que não há esse contrato social
(desconhecimento pessoal ou falta de proximidade entre os interlocutores) ou por pessoas que
usam a existência de uma relação de confiança para falar ou atuar com um grau tão acentuado
de franqueza que possa ofender os demais.
Portanto, segundo Albelda Marco (2004), na cultura espanhola peninsular o conflito
pode ser uma manifestação de confiança e de reforço dos laços sociais, inclusive pode reduzir
a possível distância existente ou igualar mais as relações hierárquicas, e não representa uma
ameaça à face e consequentemente um ato impolido como defendem Brown e Levinson, e ao
contrário do que estes afirmavam, em casos de estreita relação interpessoal, se um falante se
demostra ser muito polido com seu interlocutor, este último pode sentir-se ofendido ou
advertir uma falta de confiança.
Sendo assim, esse trabalho tem por objetivo observar se o ethos de confiança
(construção da imagem de afiliação) como tendência na sociedade espanhola favorece a
formulação de pedidos e se essas formulações apresentam estratégias mais/menos atenuadas
ou mais/menos intensificadas de acordo com as relações interpessoais. Analisaremos essas
formulações em diálogos dramáticos ficcionais representados das personagens dos filmes de
Almodóvar, que como Quaglio (2010) afirma são uma mostra de interação que resulta em
sobreposições, interrupções, trocas de turnos semelhantes à conversação natural.
1.2.2 Ethos da mulher espanhola nos filmes de Almódovar
Pedro Almodóvar é um diretor e roteirista espanhol que se tornou conhecido em seu
país e internacionalmente por produzir filmes intensos e polêmicos. Nasceu em uma cidade
pequena chamada Cidade Real, em uma família humilde e cercado de mulheres, o que talvez
o tenha influenciado a escrever sobre o universo feminino de maneira tão peculiar que passou
a ser considerado um “diretor de mulheres” e se tornou um dos maiores cineastas do cinema
espanhol. A figura da mulher tem presença certa nos filmes de Almodóvar em papéis
principais ou secundários, elas estão presentes até mesmo em muitos dos títulos de seus
filmes direta ou indiretamente (“Mujeres al borde de un ataque de nervios”, “Tacones
lejanos”, “Hable con ella”, entre outros) e sempre apresentando seus dramas, conflitos,
tensões, paixões etc (Strauss, 2008).
Para criar este universo feminino, o diretor explora uma diversidade de gêneros
discursivos. Alguns críticos afirmam que seu estilo de narrativa se baseia em colagens e
combinações enigmáticas (semelhantes a um quebra-cabeças) e híbridas entre referências e
citações. Ao combinar motivos tradicionais da cultura espanhola com hábitos e gostos
transnacionais, Almodóvar utiliza uma explosão de cores e tipos de personagens que se
assemelha a uma carnavalização da vida. Se lembrarmos que o carnaval é o lócus
privilegiado da inversão, pode-se dizer que é essa inversão que possibilita que a mulher deixe
de ser coadjuvante e ocupe o centro da cena, seja para representar o fraco ou o forte, o que dá
ou o que toma, o que bate ou o que apanha (Mariano, 2009).
Todos os filmes de Almodóvar desenvolvem narrativas sinuosas em que o amor e os
desejos se perdem e se aventuram com total liberdade nos emaranhados de uma imaginação
fértil (Strauss, 2008). Ao reproduzir os mecanismos do desejo (seu nascimento e a busca por
sua satisfação, seja o objeto do desejo o que for e custe o que custar consegui-lo), Almodóvar
aniquila a possibilidade de fixação de padrões e modelos do que a mulher (ou qualquer de
seus personagens) deveria ser para conviver em sociedade (Mariano, 2009). Segundo Evans
(1999), a mulher almodovariana representa a liberdade adquirida pelos movimentos
feministas. Em seus filmes, a mulher tem sua liberdade sexual, é independente, mãe solteira,
e se mesclam vários estereótipos que as tornam mulheres com personalidades complexas e
que representam um paradoxo, pois não são boas e não são más, sofrem, mas também são
felizes.
“O cinema de Almodóvar surge na década de 70,
momento em que os movimentos feministas, os
discursos emancipatórios e a sedimentação das
transformações do pós-guerra transformam a condição
feminina em tema definitivamente político. O cinema
começa a ser povoado pelo que muitos chamam de
"mulheres reais". Assim, ele inicia seu cinema
influenciado, sem dúvida, pelos movimentos feministas
da época, trazendo um perfil feminino mais realista para
as telas. É um conjunto de representações que retratam a
mulher em seu cotidiano vivido, com ênfase nos dramas
domésticos e com a inserção do imaginário que lhe é
próprio.”
(Ana Lucília Rodrigues5 em entrevista à revista eletrônica
Mulher de película6)
Os filmes de Almodóvar contribuíram para criar um clima favorável para a discussão
mais vívida das questões relacionadas a sexo e gênero, que Mills (2003) define como
comportamentos de homens e mulheres que negociam com certos parâmetros de
comportamentos aceitos socialmente. Até certo ponto, seus filmes são os equivalentes
irônicos dos manuais e guias sobre sexo que inundaram o mercado depois da morte de Franco,
5 Ana Lucilia Rodrigues é psicanalista e mestre em Psicologia pela Unimarco. É co-autora dos livros
Sexualidade Feminina/Masculina e Temas da Clínica Psicanalítica e autora do livro Pedro Almodóvar e a
feminilidade. Dedica-se ao estudo da sexualidade feminina e do cinema. 6 www.fafich.ufmg.br/mulherdepelicula/revista
quando a representação e a discussão da sexualidade já não estavam mais condenadas a serem
um tabu (Evans, 1999).
A partir dessa sensibilidade de Almodóvar para descrever as mulheres em seus filmes,
escolhemos três de suas personagens para serem objeto de estudo desse trabalho: Pepa
(Mujeres al borde de un ataque de nervios), Rebeca (Tacones lejanos) e Raimunda (Volver).
- Universo de Pepa em “Mujeres al borde de un ataque de nervios”
“Mujeres al borde de un ataque de nervios” focaliza a vida de um determinado número
de mulheres que em sua maioria foram de certo modo impelidas a um colapso nervoso pelas
desastrosas relações com os homens, numa narrativa que, como em muitas comédias
românticas, gira em torno da denúncia das limitações conformistas do homem, e se concentra
nas personagens femininas que caracteristicamente demonstram iniciativa, força e
solidariedade face às traições masculinas em matéria de amor (Evans, 1999). Uma dessas
personagens femininas de maior destaque no filme é Pepa. A história é baseada e construída
na impossibilidade cômica de qualquer diálogo entre Pepa e seu amante e no que ela tinha a
dizer a todo tempo: anúncio de sua gravidez.
Pepa é uma mulher madura, independente e tem um comportamento muito
espontâneo. Há uma preferência de Almodóvar por escrever papéis de mulheres já maduras.
Para o diretor, as crises são muito mais interessantes de contar quando se trata de mulheres
mais velhas, pois nesse momento há uma forma de enfrentar a vida conscientemente que torna
tudo mais intenso (Strauss, 2008).
A aparência de Pepa é muito importante para compor a personalidade da personagem,
ela usa saltos altos e roupas justas que demonstram sua liberdade para escolher suas roupas
mesmo que isto a atrapalhe no seu dia a dia.
“Para Pepa, os saltos são a melhor forma de assumir sua
angústia. Se Pepa se soltar, perderá toda sua coragem.
O exercício da elegância é uma disciplina, e aí reside
sua maior força. Quer dizer que os problemas ainda não
a dominaram”
(Pedro Almodóvar apud Strauss, 2008: 127).
Além disso, a vida que leva também compõe a personagem, ela tem um emprego bem
remunerado, usa roupas de grife, vive num apartamento elegante em um lugar privilegiado de
Madri, e segundo Evans (1999) essa aparência elitizada de Pepa mostra os componentes
fundamentais da nova sociedade de consumo dos anos 80 na Espanha. A aparência visual
extremamente colorida de Pepa tem o intuito de comemorar o fim das austeridades passadas, e
seu gosto pelo vermelho denuncia a intenção de Almodóvar de evocar os sentimentos
apaixonados de Pepa, já que na cultura espanhola o vermelho é a cor da paixão e da
vitalidade, e a personagem é intensa como a cor vermelha, pois durante o filme é abandonada
grávida, desmaia, chora, se desespera, procura seu ex-amante por toda a cidade, tenta
suicidar-se, mas decide criar a criança sozinha. Todas as ações de Pepa são motivadas pelo
desejo e pela paixão, a ponto de romper todos os limites do que é certo ou errado para se
render às exigências desse desejo e dessa paixão em busca da satisfação.
Como já foi dito anteriormente por Mariano (2009) a inversão possibilita que a mulher
ocupe o centro da cena, e um exemplo disso é Pepa. Ela é enganada por seu amante, mas
também engana a polícia; protege a amiga que foge dos terroristas e conta com a ajuda do
filho do amante para dar conta dos policiais; age racionalmente ao tentar resolver os
problemas que aparecem, mas queima a própria cama em um momento de descontrole. Pode-
se dizer que Pepa é uma personagem paradoxal e ambivalente assim como os homens
retratados no filme: o taxista proporciona um enfoque cômico por questionar as normas
rígidas da masculinidade, Carlos exteriormente doce e sensível é,entretanto, alguém em cuja
gagueira podem ser detectados sinais de desequilíbrio (Evans, 1999).
Em oposição ao cenário masculino, Pepa é quem governa o ambiente feminino
existente no filme e é a responsável pela extinção do reino da autoridade patriarcal exercida
pelo homem, o que estimula e aproxima Carlos, filho de seu amante, Pepa possibilita a Carlos
o retorno a um princípio maternal e menos opressor, e ao mesmo tempo afasta Iván, que foge
de mulheres fortes e poderosas.
Pepa termina como uma mulher que recusa as ofertas de reconciliação de seu amante,
fazendo-a livre da escravidão do desejo, que a fez perder o controle e a razão tantas vezes.
- Universo de Rebeca em “Tacones lejanos”
As mulheres de Almodóvar fogem de alguns estereótipos que costumam caracterizar
as mulheres nos filmes hollywoodianos, a mulher almodovariana não é somente “mocinha” ou
somente “bandida”. Dessa forma, segundo Mariano (2009) Almodóvar trabalha com a
fragmentação e a mobilidade de identidades e da subjetividade humana, ressaltando suas
especificidades históricas e culturais, ao invés da representação monolítica e fria dos padrões
sexuais, culturais, morais e sociais (tal como moldados pela ideologia dominante). Suas
personagens mesclam várias características, construindo personalidades complexas, e Rebeca
é uma dessas mulheres com personalidade muito complexa, é uma das heroínas do filme, mas
segundo Almodóvar não pode ser considerada verdadeiramente boa, não é uma mulher
madura, mas é inteligente, ao confessar três vezes que matou o marido, Rebeca consegue se
tornar vítima, a culpabilidade se torna algo que ela mesma manipula, utilizando suas
confissões de acordo com os próprios interesses. Rebeca é ao mesmo tempo a origem e o fim
de sua própria moral. Isso lhe confere uma grande dimensão. Em sua primeira confissão,
Rebeca mostra que está completamente sozinha, que a objetiva da câmera de televisão é a
única com quem pode falar, e também é a verdade da informação, pois ela diz as coisas que
aconteceram, atinge o extremo desse tipo de discurso. Ao se confessar, pune-se a si mesma, e
o espetáculo patético da autopunição chega até sua mãe, que também sente isso como
punição. Rebeca se confessa e ao mesmo acusa diretamente a mãe e o marido: utiliza sua
confissão para outro fim que não sua própria acusação (Almodóvar apud Strauss, 2008: 133).
Segundo Almodóvar (apud Strauss, 2008), seu caráter paradoxal é delineado ao
demonstrar-se tão maquiavélica e ao mesmo tempo tão vítima da vida que levou. A cena em
que o juiz diz a Rebeca que não pode acusar sua mãe por não existirem provas, ela afirma que
vai encontrá-las, e o faz com tanta determinação que sua personagem acaba por causar medo,
mas ao mesmo tempo causa compaixão por acreditar que sua conduta se justifica pela
ausência de afeto materno.
Almodóvar mostra isso na última cena em que Rebeca entrega o revólver à mãe para
que coloque as digitais, ela manipula uma parte da dor e da culpabilidade da mãe, mas
respeita sua decisão, mostrando a frieza de seu caráter. Entretanto, se absolve quando conta à
mãe sua lembrança de infância ligada ao barulho de seus saltos, que assinalavam que a mãe
tinha finalmente voltado para casa. Rebeca volta-se para cama, mas a mãe morrera enquanto
ela falava, sendo assim, não tiveram tempo para concretizar a relação, e Rebeca tem de fazer
metade de suas confidências a uma mulher morta, o que mostra que a mãe sempre a
abandonará (Almodóvar apud Strauss, 2008).
A difícil relação com a mãe é foco central da história do filme, Rebeca sempre foi
rejeitada pela mãe que sempre preferiu a carreira de atriz e cantora à filha, e essa ausência da
mãe a impediu de crescer até fisicamente. A fascinação pela mãe é tanta que Rebeca não se
comporta como filha em relação à própria mãe, mas como marido, e Almodóvar afirma que
nesse caso as relações familiares são muitas vezes perigosas, e podem até se tornar psicóticas.
Como já foi dito anteriormente, a aparência é muito importante para compor a
personagem, assim como Pepa, Rebeca é uma mulher com um emprego bem remunerado,
mas também uma rica herdeira, é bem vestida, só usa Chanel, que além de ser coerente com
sua personagem de apresentadora de telejornais é um modo de lhe dar uma espécie de
uniforme, diz Almodóvar (Strauss, 2008: 57).
- Universo de Raimunda em “Volver”
Raimunda é uma mulher marcada por intensos problemas em sua vida familiar,
quando criança sofreu abuso sexual de seu pai, viveu anos sofrendo com a omissão da mãe
por esse ato, no futuro viu sua filha passar pelo mesmo problema, mas mesmo assim se
mantém forte, não absorve esses problemas para se fazer de vítima, e leva a sua vida com
alegria e leveza. Segundo Almodóvar a escolha da atriz certa é essencial para dar vida à
personagem, e Penélope Cruz tinha os 3 atributos essenciais para interpretar Raimunda: 1)
mesmo vestindo-se de maneira simples e popular, Penélope permanece linda; 2) irradia a
energia combativa de uma mulher que tem de lutar para defender a filha e a família; 3)
transmite uma grande vulnerabilidade. Era indispensável que ela tivesse ao mesmo tempo a
força e a vulnerabilidade de Raimunda que viveu uma infância terrível, uma juventude
abortada, e que lutou para superar todas essas provações (apud Strauss, 2008: 290).
Segundo Rodrigues (2009), Almodóvar traz um perfil feminino mais realista para as
telas. É um conjunto de representações que retratam a mulher em seu cotidiano vivido, com
ênfase nos dramas domésticos e com a inserção do imaginário que lhe é próprio, e Raimunda
representa bem isso.
“Volver” e a personagem principal Raimunda fogem ao ambiente sócio-econômico
adotado nos filmes anteriores. Em “Mujeres al borde de un ataque de nervios” e em “Tacones
lejanos” as sequências ocorrem em um ambiente totalmente urbano (Madri) e as mulheres
(Pepa e Rebeca) têm uma situação financeira bem confortável. Já em “Volver”, Almodóvar
mistura o ambiente entre o urbano e o provinciano (La Mancha), Raimunda trabalha em mais
de um emprego para poder sustentar a filha adolescente e o marido desempregado e não veste
roupas de grife e nem apresenta uma aparência sofisticada. Brant (2009) afirma que nas obras
de Almodóvar é possível notar uma forte inspiração na cultura hispânica, desde a construção
das personagens até a composição dos cenários. Em “Volver” ele reconstrói, com todos os
tons de uma Espanha provinciana e folclórica, sua terra natal, La Mancha. Suas tradições são
recriadas, como no plano-sequência que abre o filme, quando um grupo de mulheres lava o
túmulo da família, ritual comum na região. Raimunda serve em seu restaurante as comidas
típicas da cidade. Na cozinha, pelos diálogos das mulheres, a impressão que se tem, é que
naquele ambiente elas se conhecem melhor.
E como afirma o próprio Almodóvar o universo de Raimunda é a cozinha. As
mulheres de “Volver” se conhecem de verdade quando se preparam para partilhar uma
refeição (apud Strauss, 2008). E isso se confirma na cena da cozinha, enquanto as mulheres
conversam, algumas revelações para o espectador, a alusão aos seios de Raimunda feita pela
mãe, é possível perceber que ela teve seios bem jovem, uma vez que a mãe lembra-se da
aparência que ela tinha mas não vê a filha desde os 14 anos. Pode-se então dizer que, na
época, a mãe ficava deslumbrada por ter uma filha tão bonita: era sua perolazinha, e queria
fazer dela uma atriz, maquiando-a e penteando-a. Na verdade transformava a filha numa
terrível tentação para os homens e, acima de tudo, para o pai, o que virou de cabeça para
baixo toda a historia da família (Almodóvar apud Strauss, 2008: 286).
O foco central dos três filmes está em três mulheres com realidades de vida
semelhantes em alguns aspectos, mas ao mesmo tempo diferentes em outros aspectos, porém
todas são mulheres emblemáticas e intensas, seja nas conflituosas relações com as mães ou
com os homens.
Pode-se dizer que o universo feminino é o tema preferido de Pedro Almodóvar, que
tenta desvendar constantemente esse universo em alguns de seus filmes.
É importante esclarecer que a escolha dessas três personagens para análise se justifica
pelo fato de serem personagens icônicas e expressivas e por representarem diferentes papéis
sociais em suas interações cotidianas e transacionais, facilitando uma análise dos atos de fala
nas diversas relações interpessoais e assim como em toda troca comunicativa ocorrer a
construção de uma imagem social.
A estrutura parcialmente cômica do filme “Mujeres al borde de un ataque de nervios”
(1988) focaliza a vida de um determinado número de mulheres que em sua maioria foram de
certo modo impelidas a um colapso nervoso pelas desastrosas relações com os homens, numa
narrativa que gira em torno da denúncia das limitações conformistas do homem. O filme se
concentra nas personagens femininas que caracteristicamente demonstram iniciativa, força e
solidariedade face às traições masculinas em matéria de amor (Evans, 1999) e tem como
personagem principal, Pepa Marcos.
“Tacones lejanos” (1991) é um drama que envolve uma mulher (Rebeca) que sofre
com a ausência da mãe (Becky) que priorizou sua carreira como cantora e abandonou a filha
por quinze anos. Rebeca tenta superar essa falta casando-se com o ex-amante de sua mãe e
aproximando-se de um transformista que imita Becky. Todo o filme gira em torno das
atitudes de Rebeca, que embora seja uma mulher adulta, não amadureceu o suficiente devido
a ausência materna.
“Volver” (2006) demonstra as três gerações de mulheres de uma família que vivem
entre a dura realidade da vida, entre segredos e entre mentiras. Raimunda, personagem
principal, vive um drama marcado por questões familiares mal resolvidas, principalmente com
sua mãe. O filme é marcado pelas relações em família.
Esses filmes, depois de assistidos, buscou-se selecionar os dados, levando em
consideração a ocorrência dos pedidos, e a partir da seleção dos dados ocorreu a transcrição
das sequências conversacionais das personagens.
Pepa, Rebeca e Raimunda são as personagens que protagonizam esses conflitos, e seus
discursos elaborados para as representações conversacionais dos filmes fornecerão as
informações para os recortes de análise deste trabalho.
Pepa é uma mulher de aproximadamente 40 anos, nível socioeconômico e de
escolaridade médio, trabalha em um estúdio de dublagem, vive sozinha num apartamento
elegante num dos lugares mais chiques da cidade de Madri e apresenta-se em papéis sociais
definidos como: amiga, amante, madrasta, dubladora, cliente.
Rebeca é uma mulher de 27 anos, nível socioeconômico e de escolaridade alto, é
jornalista e casou-se com o amante da mãe, artista famosa que a rejeitou durante toda a sua
infância, apresenta-se em papéis sociais definidos como: amiga, esposa, amante, filha.
Raimunda é uma mulher de aproximadamente 35 anos, nível socioeconômico e de
escolaridade baixo, nasceu em um povoado, teve uma filha muito jovem, fruto do estupro do
próprio pai, apresenta-se em papéis sociais definidos como: esposa, mãe, filha, irmã, amiga.
Elas são mulheres emblemáticas que representam a liberação feminina dos modelos
disponíveis nos manuais de feminilidade, segundo Almodóvar (Strauss, 2008).
Almodóvar constrói personagens de mulheres com personalidades contrastantes em que a
presença masculina muitas vezes ou é ameaçadora ou não faz falta nenhuma. Essas
personalidades desenham o comportamento linguístico das personagens nas interações, ao
formularem seus pedidos elas podem sugerir uma demonstração do que seria o
comportamento real dos falantes da sociedade que representam quando influenciados pela
diversidade contextual e pelas variedades de papéis sociais que desempenham no cotidiano,
podendo até servir de referência para identificar o ethos da mulher espanhola.
2. SEQUENCIAS CONVERSACIONAIS E DIÁLOGOS DRAMÁTICOS NO
CINEMA: METODOLOGIA
Neste trabalho, os atos de pedido serão analisados em sequências conversacionais
ficcionais ou trocas como define Kerbrat-Orecchioni (2005):
Sendo a troca por definição, produzida por dois
locutores, cada um deles assumindo a responsabilidade
de pelo menos um ato, toda troca deve normalmente
comportar no mínimo dois atos.
(Kerbrat-Orecchioni, 2005, 76)
As sequências conversacionais são caracterizadas como ficcionais por se tratar de
sequências de personagens de filmes e serão divididas em situações cotidianas (pessoais) e
transacionais. Segundo Briz (1998), a conversação é uma modalidade discursiva que se
caracteriza por uma interlocução em presença (cara a cara), imediata, com trocas de turnos
não pré-determinados, dinâmica e cooperativa. Briz divide a conversação em dois tipos: a
pessoal e a transacional, segundo ele esses tipos de conversação têm finalidade interpessoal e
busca favorecer primordialmente a manutenção das relações pessoais, a relação entre as
pessoas. A conversação cotidiana ou pessoal é uma interação de mais solidariedade
(proximidade) entre amigos, vizinhos etc, está numa relação funcional pessoal que determina
uma simetria, a qual indica sua estreita relação com as interações de mais proximidade. Já a
conversação transacional é aquela em que existe uma negociação concreta, uma finalidade
precisa, por isso pode ser marcada por uma distância social. Dentro de uma relação funcional
transacional há a assimetria, isto é, os direitos e obrigações se apresentam de algum modo
determinados e mais estritamente submetidos às convenções sociais portanto, uma conversa
acadêmica entre professor e aluno teria um caráter mais transacional.
Em nosso corpus consideraremos relações funcionais pessoais as relações entre
familiares, entre amigos e entre casais ao passo que as relações funcionais transacionais serão
as profissionais, as comerciais e as de autoridade (sequências conversacionais com juízes,
policiais, prestadores de serviços em geral).
2.1 Considerações sobre o texto dramático e o discurso cinematográfico
Muitos estudiosos e adoradores do cinema vêem o discurso cinematográfico como
uma forma de linguagem. Metz (apud Alves, 2006) afirma que a linguagem cinematográfica é
constituída por várias linguagens, inclusive a verbal.
Sendo assim, o uso do texto dramático para análises de comportamentos
sociolingüísticos de falantes de uma determinada cultura é possível, pois como defende Mello
(apud Alves, 2006):
“Esse tipo de discurso também é analisável – como
qualquer outro objeto construído com/pelo código
lingüístico – segundo as regras de linguagem e o
processo de comunicação, visto que ele é o produto de
sua enunciação, supõe um momento e um lugar
particular e é composto, incontestavelmente de emissor
– código – mensagem – receptor.”
Assim como nos textos líricos, mencionados por Iglesias Recuero (2002), o texto
dramático evoca a oralidade e apresenta uma imediatez comunicativa, há um destinatário cujo
emissor lhe dirige palavras que costumam ser elaboradas a partir de seu comportamento ou
por algum elemento do contexto de situação compartilhada, e que são emitidos com a
intenção de provocar uma reação nesse destinatário.
Essa imediatez comunicativa é característica das conversações informais cotidianas
que representam uma comunicação cara a cara, espontânea, privada, dialógica, altamente
emocional, fortemente ligada à situação e às ações (Iglesias Recuero, 2002: 12).
As personagens, no nível discursivo, segundo Maingueneau (1996), realizam dentro
do desenvolvimento da historia, várias encenações de atos de fala determinados por
componentes psicossociocomunicacionais, porém ficcionais. Maingueneau define essas
enunciações como enunciações “fingidas”:
“Por um lado, as enunciações em cena apresentam-se
como proferidas espontaneamente pelos personagens,
por outro, são apenas a atualização de enunciados
escritos anteriormente.” (1996:161).
Segundo o mesmo autor, os seres ficcionais assumem posições simbólicas de sujeitos
comunicantes que acionam sujeitos enunciadores para atingir sujeitos interpretantes. Porém,
Maingueneau (1996) reafirma que isso ocorre de maneira “fingida”, reproduzida
simbolicamente, a fim de dar corpo às vozes do discurso.
O discurso das personagens, a maneira como se comportam linguisticamente transmite
ao espectador uma realidade, que o identifica com seres reais:
“A vocação realista da fala é condicionada pelo fato de
ser um elemento de identificação dos personagens da
mesma forma que a roupa, a cor da pele, ou o
comportamento em geral (e também uma peculiaridade
qualquer); há, portanto, uma adequação necessária entre
o que diz um personagem – e o modo como diz – e sua
situação social e histórica. Pois a fala é sentido, mas é
também tonalidade humana (...).”
(Martin, 1990: 176)
É através deste tipo de interação conversacional presente no texto cinematográfico,
isto é, através da alternância de turnos de fala entre um emissor e um destinatário, que
chamaremos de sequências conversacionais de filmes - e, portanto, ficcionais - que
observaremos o funcionamento dos pedidos.
Os filmes que compõem o corpus desta pesquisa são intitulados “Mujeres al borde de
un ataque de nervios”(1988), “Tacones lejanos” (1991) e “Volver” (2006) do diretor espanhol
Pedro Almodóvar. Os filmes “Mujeres al borde de un ataque de nervios”(1988) e
“Volver”(2006) encontram-se em cópias originais lançadas em DVDs (distribuídos
respectivamente pela MGM home entertaiment e Videolar S/A) e “Tacones lejanos” (1991) é
uma cópia em VHS digitalizada para análise, pois não foi lançado em DVD no Brasil.
Tal análise será feita da seguinte maneira:
a) Buscar nas sequências conversacionais das personagens elementos que representem os
atos de pedido;
b) Separar essas sequências por gênero (masculino/feminino) e por relações funcionais
(pessoal/transacional) dos destinatários;
c) Verificar se as formulações de pedidos foram elaboradas sem estratégias de atenuação
ou intensificação, com atenuação ou com intensificação;
d) Verificar os tipos de estratégias utilizadas de acordo com as diferenças de gênero,
relação funcional e tipo de pedidos;
e) Verificar se a imagem que as personagens constroem de si mesmas com a formulação
dos pedidos confirma o ethos de confiança descrito para essa sociedade.
2.2 Estratégias linguísticas de atenuação e intensificação
Briz (2005) afirma que os falantes podem adotar estratégias linguísticas (atenuação e
intensificação) coerentes com a relação interpessoal (mais próxima ou distante, mais “à
vontade” ou respeitosa com o território alheio etc) a fim de conseguir uma eficácia
pragmática. Sendo assim, a hipótese geral desse trabalho é que haverá variação nas
formulações dos pedidos de acordo com as diferentes relações interpessoais dos
interlocutores: gênero (masculino e feminino) e funcional (pessoal e transacional), e os tipos
de pedidos: pedidos de ação, pedidos de objeto e pedidos de mudança de comportamento.
Abaixo há uma mostra das situações que empregamos para exemplificar os três tipos de
pedido (seguindo o modelo de Orozco, 2010).
Pedido de Situação
Ação Há convidados para o jantar e a comida não está pronta.
Como você pede ajuda a seus filhos que estão vendo a
televisão?
Objeto Um colega de trabalho comprou um filme que você deseja
assistir. Como lhe pediria emprestado?
Mudança de comportamento Um amigo de trabalho lhe diz diante dos demais
companheiros que você fez o trabalho mal feito e você não
gostou. Como lhe pediria para que isso não volte a
ocorrer?
O grau de distância ou proximidade e as relações de simetria ou assimetria entre os
intelocutores poderão ser determinantes para as escolhas de tais estratégias nas formulações
de pedidos. Segundo Orozco (2010), nos estudos sobre polidez se encontram diversos dados
recorrentes das diferenças baseadas nos gêneros, e que essa evidência empírica tem
contribuído para fazer generalizações sobre a incidência da variável sexo ou gênero na
atuação linguística, assim como a posição social do indivíduo, o que pode dizer que as
relações de mais poder ou menos poder, mais distância ou mais proximidade também
influencie na atuação linguística do falante, sendo assim, espera-se que nas relações pessoais
haja uma relação mais simétrica e próxima, assim como nas relações transacionais haja uma
assimetria e/ou distância.
A seguir, veremos a análise das formulações de pedidos com influência das variáveis
linguísticas e extralinguísticas mencionadas.
3 AS FORMULAÇÕES DE PEDIDOS:
Neste capítulo faremos uma análise das formulações dos pedidos das três personagens
Pepa, Rebeca e Raimunda. Veremos se estas formulações foram elaboradas com ou sem
estratégias de atenuação ou intensificação e se o uso desses recursos estratégicos está
condicionado a variáveis extralinguísticas como as diferenças de gênero e de relações
funcionais.
As formulações de pedidos que constituem o eixo da nossa análise foram estabelecidas a
partir dos tipos de processos verbais selecionados pelos falantes na formulação dos pedidos e
não necessariamente pelo objeto do pedido.
Essas formulações foram categorizadas segundo a sua natureza verbal ou nominal em 09
tipos de formulações: imperativo (“Candela, tráeme algo de beber”), presente do indicativo
(“Bueno, pues ahora lo hablamos”), enunciados interrogativos (¿Tú sabes arreglar um
telefono?), frases nominais (“Ni una palabra”), Condicional (“El puerco me vendría muy
bien”), futuro simples ou composto (“Te voy a pagar como a cualquier cliente”), presente do
subjuntivo (“Es urgente que hablemos”), pretérito perfeito (“trabajé toda la tarde”) e pretérito
imperfeito (“Necesitaba una furgoneta”).
Verificamos em nossa análise que se uma personagem pede algo a outra (“¿Me pones con
este número, por favor?” ), embora tenha elaborado um pedido ou um tipo de pedido, este
pode realizar-se com uma ou mais formulações, como se pode ver nos exemplos:
(01) Pepa-recepcionista:“¿Me pones con este número, por favor?”
(02) Pepa-recepcionista :“No importa, márcamelo.”
(03) Pepa-recepcionista: “O me lo marcas tú, o llamo desde la calle. Me están esperando en el
estudio, tú verás”
Os exemplos acima representam o mesmo pedido (pedido de ação de Pepa para a
recepcionista a fim de que ela complete uma chamada telefônica), entretanto nesta pesquisa
são analisados como três formulações diferentes:
1- Enunciado interrogativo (exemplo 01);
2- Imperativo (exemplo 02);
3- Presente do indicativo (exemplo 03).
A partir deste repertório de formulações de pedidos, puderam-se verificar quais foram as
formulações pragmalinguísticas mais freqüentes (ver tabela 1), se elas foram formuladas com
recursos de atenuação ou intensificação e se essas estratégias estão condicionadas às
diferenças de gênero e de relação funcional.
Tabela 1: Total de 184 ocorrências das formulações de pedidos, classificados em função de categorias
pragmalinguísticas verbais ou nominais
FORMULAÇÕES PRAGMALINGUISTICAS DE PEDIDOS
1. IMPERATIVO 113 (62%)
2. PRESENTE DO INDICATIVO 27 (14%)
3. ENUNCIADOS INTERROGATIVOS 21 (11%)
4. FRASES NOMINAIS 11 (6%)
5. FUTURO SIMPLES OU COMPOSTO 05 (2%)
6. CONDICIONAL 04 (3%)
7. PRESENTE DO SUBJUNTIVO 01 (1%)
8. PRETÉRITO PERFEITO 01 (0,5%)
9. PRETÉRITO IMPERFEITO 01 (0,5%)
TOTAL 184 (100%)
Como se pode observar na tabela 1, as formas mais frequentes para formulações de
pedidos foram com o imperativo seguido de presente do indicativo, enunciados interrogativos
e formas nominais, e as formas menos frequentes foram as formas condicionais, as formas em
futuro e presente do subjuntivo que foram agrupadas por apresentarem um valor de
posterioridade ou probabilidade e as formas em pretérito que também foram analisadas juntas
por representarem uma anterioridade de tempo verbal. Orozco (2010) agrupa essas formas
mais frequentes como formas que não apresentam uma desfocalização do centro dêitico
temporal, e as formas menos frequentes são formas verbais desfocalizadas, que se utilizam
principalmente em pedidos indiretos convencionalizados por apresentarem uma
desfocalização do centro dêitico de tempo. Segundo Haverkate (1994, apud Orozco, 2010), as
formulações que se afastam do centro dêitico criam uma distância metafórica e tem um efeito
atenuador.
Em nossa análise verificamos que algumas formulações de pedidos apareceram atenuadas,
intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. Na tabela 2 pode-se visualizar como foi
distribuído o total de formulações de pedidos com esses recursos de atenuação, intensificação
e sem nenhuma dessas estratégias.
Tabela 2: Total de 184 formulações de pedidos classificados estratégias de atenuação, intensificação e sem
estratégias de atenuação e intensificação.
ESTRATÉGIAS FORMULAÇÕES DE PEDIDOS
ATENUAÇÃO 65 (35%)
INTENSIFICAÇÃO 26 (14%)
ZERO 93 (51%)
TOTAL 184 (100%)
Vemos que houve formulações mais frequentes de pedidos sem estratégias atenuadoras
ou intensificadoras, o que pode estar relacionado com a grande ocorrência de formulações de
pedidos em relação pessoal (que veremos a seguir), já que esse tipo de relação pode muitas
vezes está favorecido pela relação de mais proximidade. Observamos também, a presença de
formulações de pedidos atenuados e intensificados, ou seja, para formular um pedido foi
necessário utilizar “reforços” como a atenuação e a intensificação, sendo assim, quais teriam
sido as estratégias de atenuação e intensificação mais frequentes nessas formulações e que
situações favorecem essas formulações atenuadas ou intensificadas? É o que tentaremos
responder na análise de nossos dados.
Ao analisar as sequências conversacionais das personagens Pepa, Rebeca e Raimunda,
levantamos um total de 184 formulações de pedidos direcionados a mulheres e a homens (ver
tabela 3) em relações funcionais pessoais e transacionais (ver tabela 4).
Tabela 3: Total de 184 formulações de pedidos classificados por personagem e por sexo (Homens – pedidos
dirigidos a personagens homens; Mulheres – pedidos dirigidos a personagens mulheres).
PERSONAGEM
GÊNERO PEPA REBECA RAIMUNDA TOTAL
HOMENS 35 19 20 74 (40%)
MULHERES 34 12 64 110 (60%)
TOTAL 69 (37%) 31 (17%) 84 (46%) 184 (100%)
Podemos notar na tabela 3 que houve maior frequência de formulações de pedidos
direcionados a mulheres que a homens, mas esta frequência está relacionada ao quantitativo
de sequências conversacionais que foi maior com mulheres que com homens, no entanto
podemos perceber uma diferença de comportamento entre as três personagens a partir do total
de formulações de pedidos de cada uma. Raimunda foi a personagem que mais formulou
pedidos, ela é a representação de uma mulher de nível econômico mais baixo, trabalha em
mais de um emprego para sustentar a filha e o marido que se encontra desempregado. Pepa
aparece em seguida com um quantitativo intermediário de formulações de pedidos, ela
representa uma mulher independente, de classe média alta, mas que foi rejeitada pelo amante
e passa mais da metade do filme buscando por ele. Rebeca é a personagem que apresenta a
menor freqüência de formulações de pedidos, ela é uma mulher mimada, porém a mais
independente de todas, tem um nível social alto, que herdou de seu marido e de sua mãe.
Tabela 4: Total de 184 formulações de pedidos classificados por personagem e por relação funcional (pessoal e
transacional).
PERSONAGEM
REL. FUNC.
PEPA REBECA RAIMUNDA TOTAL
PESSOAL 51 28 72 151(82%)
TRANSACIONAL 18 03 12 33 (18%)
TOTAL 69 (37%) 31 (17%) 84 (46%) 184 (100%)
Na tabela 4 notamos uma maior frequência de formulações de pedidos em relações
pessoais que em relações transacionais, isso talvez se explique pela preferência pelo registro
coloquial esperado nos filmes de Almódovar, observa-se que a frequência das formulações
permanece a mesma para as três personagens, assim como nas relações com homens e
mulheres.
Neste trabalho procuraremos, apesar dos três diferentes perfis individuais, caracterizar o
que estes pedidos têm em comum com relação a sua formulação, que estão dirigidos e às
estratégias de atenuação e intensificação usadas, que podem ser relevantes para demonstrar o
ethos do espanhol peninsular de mais confiança descrito por Kerbrat-Orecchioni (2005, 2006),
Albela Marco (2005) e Haverkate (2004), bem como a relação do ethos feminino do espanhol
com elementos masculinos e femininos, e em relações funcionais pessoais e transacionais, ou
seja, como uma mulher contemporânea (retratada em filmes de Almódovar) se relaciona com
homens e com mulheres, em relações pessoais e relações transacionais através dos pedidos?
A seguir procuraremos sistematizar de maneira quantitativa e qualitativa o contexto de
uso das formulações de pedidos em cada categoria verbal ou nominal, começando pelo
imperativo.
3.1 IMPERATIVO:
Como já foi assinalado por inúmeros estudos, a sociedade espanhola tem preferência
pelo uso do imperativo na elaboração de seus atos diretivos. Segundo Placencia e García
(2007), há uma tolerância para o uso do imperativo e uma tendência a usar menos
mitigadores, pois se deseja reforçar a imagem de autonomia. A seguir faremos uma análise
do imperativo nas formulações de pedidos, verificando se houve formulações atenuadas,
intensificadas ou sem nenhum recurso estratégico.
Temos ao todo um total de 113 ocorrências de formulações de pedidos com Imperativo,
ou seja, 62% do total dos pedidos. Desse total, 70% foram formulados com polaridade
positiva e 30% com polaridade negativa; verificamos que esses tipos de formulação podem
estar relacionados aos tipos de pedidos, o imperativo afirmativo se utiliza para pedir objetos
(exemplo 04) e para uma ação (exemplo 05) e o imperativo negativo para mudança de
comportamento do interlocutor (exemplo 06):
(04) Raimunda – Paula: “Anda, cariño, dame un vaso de água.”
(05) Raimunda – Paula: “Paula, cuelga ese teléfono ahora mismo.”
(06)Pepa – Candela: “Candela, no seas borde, que están en mi casa.”
Um total de 13% foram formulados com usted, ou seja, com mais distância interpessoal, e
85% foram formulados com tú e 2% com o plural vosotros, ou seja, 87% dos casos são de
menos distância interpessoal, como se vê na tabela 5.
Tabela 5: Total 113 de formulações de pedidos com Imperativos
FORMAS DE TRATAMENTO IMPERATIVO AFIRMATIVO IMPERATIVO NEGATIVO TOTAL
TÚ 72 25 96(85%)
USTED 07 07 15(13%)
VOSOTROS - 02 02(2%)
TOTAL 79(70%) 34(30%) 113(100%)
Vemos que do total de formulações de pedidos em imperativo, a grande maioria das
ocorrências se deram com interlocutores que apresentam menor distância interpessoal, isso
pode se explicar pela coloquialidade prevista nos filmes de Almódovar.
Tabela 6: Total de 113 Formulações de pedidos com Imperativos encontrados em nosso corpus
FORMAS DE
TRATAMENTO
IMPERATIVO AFIRMATIVO IMPERATIVO NEGATIVO TOTAL
TÚ
Déjame (5)
Vete (5)
Dame (4)
Dime (4)
Dile (4)
Deja de (3)
Ponte (3)
Suéltame (3)
Ven (3)
Cierra (2)
Échame (2)
Sírveles (1)
Tranquilízate (1)
Suelta (1)
Diles (1)
Tómate (1)
No seas (4)
No le digas (2)
No te quedes (1)
No me preguntes (1)
No lo cojas (1)
No dejes (1)
No me mires (1)
No te atraques (1)
No me mientas (1)
No me llames (1)
No insistas (1)
No empieces (1)
No me confundas (1)
No te rías (1)
Tú no sabes nada (1)
No te canses (1)
No te compliques (1)
No digas (1)
No me vengas (1)
No puedes (1)
No empieces (1)
97(85%)
USTED
Vaya (1) Búsquelas (1)
Perdone (1) Quédese(1)
Llévenos (1)
Dígale (1)
Siga (1)
No me grite (1)
No se preocupe (1)
No le haga caso(1)
No se acerque (1)
No le diga (1)
No le diga (1)
No pierda (1)
14(13%)
VOSOTROS
-
No cojáis (1)
No abráis (1)
02(2%)
TOTAL 79(70%) 34(30%) 113(100%)
As formulações de pedidos com imperativo direcionadas a interlocutores mais próximos
tú e vosotros ocorreram com todos os tipos de pedidos: ação, objeto e mudança de
comportamento (sendo que nas sequências dirigidas a vosotros houve somente a utilização do
imperativo como ação, recomendação), o que sugere que a proximidade da relação favoreça
esses tipos de formulações devido a confiança, proximidade entre os participantes da
interação. Já nas sequências direcionadas a interlocutores com mais distância representada
pela forma de tratamento usted, observamos o uso imperativo relacionado a ação e a mudança
de comportamento, o que pode demonstrar que a distância interpessoal não intimida a
formulação de um pedido com imperativo, ratificando alguns estudos sobre a sociedade
espanhola, de que é voltada para a relação de confiança.
As variáveis extralingüísticas selecionadas para nossa análise foram: gênero dos
interlocutores (masculino e feminino) e relações funcionais (pessoal e transacional),
Léete (1)
Tráeme (1)
Llámame (1)
Espera (1)
Procura (1)
Prepárate (1)
Entra (1)
Siéntate (1)
Márcamelo (1)
Dale (1)
Disimula (1)
Quita (1)
Vuelve (1)
Enseñame (1)
Cógelo (1)
Acompañame (1)
Cuelga (1)
Sé (1)
Sube (1)
Échale (1)
Asómate (1)
Ayúdame (1)
Mírame (1)
Descansa (1)
Dinos (1)
Cómete (1)
Traémelos (1)
Pasa (1)
Quedátela (1)
buscaremos estabelecer se estas variáveis favorecem ou não as escolhas por determinadas
formulações de pedidos.
Tabela 7: Total de 113 formulações de pedidos com imperativo divididos por gênero.
GÊNERO DO
INTERLOCUTOR
PEDIDOS COM IMPERATIVO PEDIDOS SEM IMPERATIVO TOTAL DOS PEDIDOS
HOMEM 44 (60%) 30 (40%) 74 (100%)
MULHER 69 (62%) 41 (38%) 110 (100%)
TOTAL 113 71 184
Tabela 8: Total de 113 formulações de pedidos com imperativo divididos por relação funcional.
RELAÇÃO
FUNCIONAL
PEDIDOS COM IMPERATIVO PEDIDOS SEM IMPERATIVO TOTAL DOS PEDIDOS
PESSOAL 98 (65%) 53 (35%) 151 (100%)
TRANSACIONAL 15 (45%) 18 (55%) 33 (100%)
TOTAL 113 71 184
Como se observa na tabela 7, de um total de 74 formulações de pedidos direcionadas a
homens, 44 (60%) foram com imperativo e de um total de 110 formulações de pedidos
direcionados a mulheres, 69 (62%) foram com imperativo, o que demonstra que a diferença
de gênero não influencia na formulação de pedidos com imperativo. Já na tabela 8, observa-
se que de um total 151 formulações de pedidos em relação pessoal, 98 (65%) se formula com
imperativo e de um total de 33 formulações em relação transacional, 15 (46%) foram
elaboradas com imperativo, o que pode demonstrar que as relações pessoais favorecem o uso
desse tipo de formulação.
Em nossa análise verificamos também se essas formulações de pedidos com imperativo
apareceram atenuadas, intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. A seguir podemos
visualizar como foi distribuído o total de formulações de pedidos com imperativo com esses
recursos de atenuação, intensificação e sem nenhuma dessas estratégias, divididos por gênero
e relação funcional.
Tabela 9: Total de 113 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem
estratégias de atenuação e intensificação.
ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVOS
ZERO 93 (51%) 59 (52%)
ATENUAÇÃO 65 (35%) 40 (35%)
INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) 14 (13%)
TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 113 (100%)
Verificamos na tabela 09 que de um total de 184 pedidos, 113 (62%) foram com
imperativos, desse total de 113 formulações de pedidos com imperativo, 59 (52%) foram sem
estratégias de atenuação ou intensificação, 40 (35%) foram atenuados e 14 (13%) foram com
estratégias de intensificação.
Como já mencionamos anteriormente, na sociedade espanhola existe uma preferência pelo
uso do imperativo, pois como já disse Haverkate (2004) a sociedade espanhola é uma
sociedade voltada para a confiança, a solidariedade, a redução da liberdade de ação do
interlocutor inerente na ilocução do imperativo demonstraria essa confiança por parte do
falante, fortalecendo os laços sociais, sendo assim o uso do imperativo sem a utilização de
recursos estratégicos de atenuação ou intensificação seria suficiente para conseguir o que se
deseja, já para as formulações que apresentaram atenuações, a explicação pode estar no tipo
de pedido que talvez ofereça uma ameaça à imagem do falante, havendo assim a necessidade
de uma atenuação.
3.1.1 IMPERATIVOS SEM ATENUAÇÃO OU INTENSIFICAÇÃO:
De um total de 113 formulações de pedidos com imperativo, encontramos 59
formuladas sem estratégias de atenuação ou intensificação. A seguir analisaremos as
formulações dos pedidos com imperativo sem esses recursos citados, divididos por variáveis
extralingüísticas como gênero e relação funcional.
Tabela 10: Total de 59 formulações de pedidos sem estratégias de atenuação e intensificação divididas por
gênero.
GÊNERO DO
INTERLOCUTOR
ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO
HOMEM 28(64%) 16 (36%) 44 (100%)
MULHER 31(45%) 38 (55%) 69 (100%)
TOTAL 59 54 113
Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com
imperativos sem estratégias de atenuação ou intensificação foram proporcionalmente maior
que nas relações com mulheres. Vimos que do total de 28 das formulações direcionadas a
homens, 23 deles se tratam de pedidos de ação e 05 de pedidos de mudança de
comportamento (ver quadro 13 dos anexos), o que pode sugerir que esses tipos de pedido
favoreçam, esse tipo de formulação quando dirigidos a homens ou que o interlocutor
masculino talvez favoreça a relação de confiança ou que para esse tipo de interlocutor haja a
necessidade de preservar a imagem de afiliação. Já nas 31 formulações de pedidos
direcionados a mulheres, 24 foram de pedidos de ação, 05 de pedidos de mudança de
comportamento e 02 de pedidos de objeto (ver quadro 01 dos anexos), o que reforça a
hipótese de que esse tipo de pedido favoreça esse tipo de formulação.
Podemos confirmar tal hipótese nas sequências de Pepa com Carlos e o taxista, em que
Carlos é filho de seu amante e ela deseja aproximar-se dele e o taxista é um admirador de seu
trabalho e sempre lhe presta serviço, nesses casos, Pepa precisa preservar sua imagem de
afiliação.
(07) Pepa – taxista: “No le diga a su novia que me ha visto llorar.”
(08) Rebeca – Eduardo “No puedes hacerlo ahora que está resuelto”
(09) Pepa – Carlos: “No me mientas tú también.”
Nos exemplos (07) e (08) observa-se as formulações de pedido de ação direcionados
a homens e no exemplo (09) formulação de pedido de mudança de comportamento.
(10) Raimunda – Paula: “Dale un beso”
(11) Rebeca –Becky: “No digas tonterías, no fuiste la única”
(12) Raimunda – Sole: “Dame un vaso de água”
Já nas formulações direcionadas a mulheres, observa-se exemplo (10) como pedido de
ação, o exemplo (11) como pedido de mudança de comportamento e o exemplo (12) como
pedido de objeto.
A seguir veremos como ocorreram as formulações de pedidos com imperativo sem
estratégias de atenuação ou intensificação nas relações funcionais pessoais e transacionais.
Tabela 11: Total de 59 formulações de pedidos sem estratégias de atenuação e intensificação divididas por
relação funcional.
RELAÇÃO
FUNCIONAL
ESTRATÉGIA:
ZERO
OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO
PESSOAL 49 (50%) 49 (50%) 98 (100%)
TRANSACIONAL 10 (66%) 05 (34%) 15 (100%)
TOTAL 59 54 113
Nas formulações de pedidos com imperativo direcionadas as relações funcionais,
verificamos que houve uma frequência proporcionalmente maior de imperativos sem
atenuação ou intensificação nas relações transacionais de que as pessoais. De todas as
formulações de pedidos nas relações transacionais, 09 foram elaboradas como pedidos de
ação e apenas 01 como pedido de mudança de comportamento, o que pode demonstrar que
mesmo em relações que representem uma assimetria ou distância interpessoal há uma
tolerância para o uso do imperativo não atenuado ou intensificado nesse tipo de pedido, o que
pode confirmar que a sociedade espanhola é uma sociedade voltada para a confiança, a
solidariedade. Nas relações pessoais verificamos que os pedidos de ação ocorreram em maior
frequência com esse tipo de formulação, de um total de 49 de formulações de pedidos, 37
ocorreram como pedidos de ação, 10 ocorreram como pedidos de mudança de
comportamento e 02 como pedidos de objeto.
3.1.2 IMPERATIVOS COM ATENUAÇÃO
Segundo Briz (2005: 56), a atenuação é uma operação lingüística estratégica de
minimização do que é dito e do ponto de vista, sendo assim, está vinculada à atividade
argumentativa e de negociação do acordo, que é o fim de toda conversação. Portanto, pode-se
dizer que a atenuação seria um “reforço” na formulação do pedido com imperativo para
conseguir o que se deseja, já que somente a ilocução do imperativo não seria suficiente.
Levantamos de um total de 40 formulações de pedidos com imperativo para homens,
33% foi atenuado e no total de 69 pedidos com imperativo para mulheres, 38% foi atenuado,
como se vê na tabela 12.
Tabela 12: Total de 40 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.
GÊNERO DO
INTERLOCUTOR
ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO
HOMEM 14 (33%) 30 (67%) 44 (100%)
MULHER 26 (38%) 43 (62%) 69 (100%)
TOTAL 40 72 113
Nas formulações de pedidos com imperativo atenuado aparece nas relações com
mulheres uma maior frequência dessas estratégias, que proporcionalmente com homens.
Vimos que esse tipo de formulação apareceu nos pedidos de ação e mudança de
comportamento (ver quadros 2 e 14 em anexos). Esse resultado sugere duas hipóteses: 1) o
interlocutor feminino pode favorecer o uso de formulações de pedidos com imperativo
atenuado ou 2) o tipo de pedido (nesses casos, pedido de ação e de mudança de
comportamento) direcionado a mulheres favorece esse tipo de formulação.
Tabela 13:Total de 40 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por relação funcional.
RELAÇÃO
FUNCIONAL
ESTRATÉGIA:
ATENUAÇÃO
OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO
PESSOAL 35 (35%) 63 (65%) 98 (100%)
TRANSACIONAL 05 (34%) 10 (66%) 15 (100%)
TOTAL 40 73 113
No que diz respeito às relações funcionais, verificamos que houve uma pequena
diferença, na relação pessoal ocorreu uma frequência proporcionalmente maior de imperativos
com atenuação que nas relações transacionais. A maior frequência das formulações foi
elaborada para os pedidos de ação com maior possibilidade de rejeição (26 formulações no
total), a segunda maior frequência foram pedidos de mudança de comportamento (12
formulações no total), que pode ameaçar a imagem do falante, seguido de pedido de objeto
(02 formulações no total). Nas relações transacionais, o índice de frequência foi o mesmo,
com exceção para o pedido de objeto que não ocorreu nesse tipo de relação. Tal resultado
pode sugerir que tanto numa relação assimétrica e distante, quanto numa relação simétrica e
próxima, esses tipos de pedido podem ameaçar à imagem do falante (ver quadros 2 e 14 em
anexos).
(13) Pepa – taxista: “Por favor, aunque no les persiga, llévenos al aeropuerto. Que tenemos que llegar.”
(14) Raimunda – cineasta: “Anda, vete a tomarte algo, que estoy trabajando”
(15) Pepa – Carlos: “Y aunque yo pueda ser tu madrasta no me llames de usted.”
No (13) há um exemplo de formulação como pedido de ação, trata-se de uma situação
em que o pedido tem grande possibilidade de rejeição, portanto a atenuação pode funcionar
como uma forma de diminuir a força ilocutiva e deixá-lo mais persuasivo. O mesmo ocorre
no exemplo (14) em que pedido de mudança de comportamento pode ameaçar a imagem do
falante, já que se trata de uma relação distante. No exemplo (15), além de não desejar que sua
imagem seja ameaçada, há a necessidade de aproximação, de aumentar a confiança.
- Mais de uma atenuação por pedido:
Do total de 113 formulações de pedidos com imperativo, houve a ocorrência de 41
formulações de pedidos atenuadas, sendo que nessas 40 formulações, observamos ao todo 55
estratégias de atenuação, o que quer dizer que há formulações com estratégias de atenuações
sobrepostas, ou seja, o mesmo pedido é realizado com mais de uma estratégia de atenuação,
em 12 formulações listadas a seguir 7:
a) Duas estratégias de atenuação por pedido:
(16) Pepa – Candela: “Espera hija que no será tan urgente.”
(17) Pepa – taxista: “Por favor, aunque no les persiga llévenos al aeropuerto. Que tenemos que llegar.”
(18) Pepa – taxista: “Vaya deprisita que tenemos que llegar antes de ellos.”
(19) Raimunda – Paula: “Anda, cariño dame un vaso de água.”
(20) Raimunda – Sole: “Quedatela, yo voy a hacer unos recalces y cuando termine vuelvo cuando pueda
¿eh?
(21) Raimunda – Paula: “Anda, no seas perezosa chiquitita que yo te ayudo”
(22) Raimunda – cineasta: “Anda, vete a tomarte algo que estoy trabajando”
7 Vemos que nos exemplos há 12 formulações de pedidos com imperativo, todas elas apresentam mais de uma estratégia
de atenuação, isto é, 16 estratégias a mais que as já presentes nas formulações (40+16=56).
(23) Rebeca – Letal: “Oye, ven a ayudarme a bajar, no ves que tengo tacones y me puedo romper
un tobillo.”
(24) Raimunda – Paco: “Ay Paco déjame.”
(25) Raimunda – Paco: “Ay Paco no seas pesado.”
b) Três ou mais estratégias de atenuação por pedido:
(26) Raimunda – Paco: “Ay Paco, déjame estoy molida y mañana tengo que madrugar.”
(27) Pepa – Lucía: “Por favor señora, no me grite que acabo de sufrir un desmayo.”
Observamos que o aumento do uso de estratégias de atenuação em uma formulação de
pedido pode estar relacionado com o tipo de pedido e a situação em que o pedido será
formulado. Esse tipo de formulação de pedido ocorreu em situação de conflito e quando o
custo do pedido é alto. O exemplo (26) é o que apresenta maior carga de atenuação (4 no
total), o excesso de atenuação pode estar no tipo de pedido: rejeição ao marido, o que pode
gerar um conflito na relação, a atenuação surge como forma de evitar ou minimizar esse
conflito. No exemplo (27) Pepa elabora um pedido com o uso do imperativo, e utiliza três
recursos de atenuação: marcador conversacional (por favor), forma de tratamento nominal
(señora) e justificativa (que acabo de sufrir un desmayo), o que torna o pedido com uma
carga muito grande de atenuação. Tal atitude pode ser justificada pelo tipo de pedido: pedido
de ação a um interlocutor que apresenta uma relação antagônica com o falante (conflito), o
que pode demonstrar que em relações desse tipo haja a necessidade do falante em diminuir a
força ilocutiva de seu ato e preservar sua imagem de afiliação para conseguir seu objetivo. O
mesmo ocorre nos exemplos (23), (24) e (25). Já nos demais exemplos, a alta frequência das
atenuações pode estar relacionada com o custo do pedido. No exemplo (20), Raimunda
deseja que sua irmã cuide de sua filha enquanto esteja fora, e isso atrapalharia a rotina de sua
irmã que vive sozinha, sendo assim, o pedido pode apresentar uma grande possibilidade de
rejeição e seria necessário aumentar seu nível de persuasão.
- Tipos de estratégias de atenuação nos pedidos:
Consideramos como elementos atenuadores para a análise desse tipo de formulação de
pedido os seguintes recursos: a justificativa, a forma de tratamento nominal, o marcador
conversacional e os modalizadores adverbiais.
Tabela 14: Total de 56 estratégias de atenuação classificados e por formulação pragmalinguistica
ATENUAÇÃO TOTAL
JUSTIFICATIVA 20 (36%)
FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 19 (34%)
MARCADOR CONVERSACIONAL 16 (28%)
MODALIZADOR ADVERBIAL 01 (2%)
TOTAL 56 (100%)
A justificativa foi a estratégia mais frequente para as formulações de pedidos com
imperativo com 20 ocorrências. Ela pode ser vista como uma estratégia de atenuação
“preparatória”, isto é, prepara o “ambiente” para elaboração do ato (anteposta à formulação de
pedido), ou pode ser também uma necessidade de explicar o pedido (posposta a formulação de
pedido) ao interlocutor pela formulação do pedido. Verificamos que do total de 20
ocorrências, 18 ocorreram com justificativas pospostas à formulação de pedidos com
imperativo e o pedido de ação favoreceu esse uso, vimos ainda que quase todas foram
introduzidas por que, es que.
(28) Pepa – Carlos: “Ven, acompañame. Es que éste no funciona y estoy esperando una llamada de tu
padre.”
(29) Raimunda – Paula: “Vete a cambiar que te va a coger una pulmonía”
O fato da maioria das justificativas virem pospostas, parece corroborar a imagem de
“diretividade” na imagem do ethos do espanhol peninsular, pois há a elaboração do
imperativo antes da atenuação.
As formas de tratamento nominal foram a segunda estratégias de atenuação com
maior número de frequência nas sequências conversacionais analisadas das três personagens
com 19 ocorrências. Em nossa análise apareceram as seguintes formas de tratamento nominal:
para referir-se as relações familiares (mamá, hija); para referir-se a pessoas não familiares
(señora); para referir-se a pessoas amigas e com expressão de afeto (cariño,chiquitita, mujer)
e nomes pessoais (Paco, Sole etc).
(30) Rebeca – Becky: “Mamá, deja de montármelas.”
(31) Pepa – Candela: “Candela, tráeme algo de beber.”
(32) Raimunda – Sole: “Sole, no empieces voy a ver quien es...
Verificamos que do total de 19 ocorrências dessas estratégias, 15 ocorreram antes da
formulação do pedido, o sugere que a forma de tratamento nominal pode funcionar como um
“amortecedor” para a formulação de um pedido, a fim de minimizar sua força ilocutiva, como
listado nos exemplos (30), (31) e (32). Três estratégias ocorreram pospostas ao pedido.
(33) Raimunda – Paula: “Anda, no seas perezosa chiquitita que yo te ayudo.”
(34) Raimunda – Inés: “Anda, traémelos a casa ¡cariño!”
(35) Raimunda – Agustina: “Siéntate mujer.”
Todas as formulações nos exemplos acima ocorreram como formas carinhosas de
tratamento para reforçar os pedidos.
Outra categoria com grande ocorrência foi o marcador conversacional com 16
ocorrências. Encontramos em nosso corpus os seguintes marcadores conversacionais: por
favor, oye, por Dios, anda, pues, venga, que apareceram antepostos ao pedido, talvez como
forma preparatória para o pedido, , ¿eh? e ¿vale?, os dois únicos que apareceram pospostos ao
pedido, talvez como forma de reiterá-lo, já que está em forma interrogativa.
(36) Pepa – taxista: “Por favor, aunque no les persiga llévenos al aeropuerto. Que tenemos que llegar.”
(37) Raimunda – Emilio: “Venga dime cuánto tengo que pagar del alquiler del mes y te lo mando.”
(38) Raimunda – Sole: “Quedatela, yo voy a hacer unos recalces y cuando termine vuelvo cuando pueda
¿eh?
Nos exemplos (36) e (37), observa-se as estratégias antepostas ao pedido como forma
de preparatória, no exemplo (38) a estratégia aparece posposta ao pedido como forma de
reforçar o pedido.
O modalizador adverbial foi uma estratégia que apareceu somente uma única vez,
trata-se da sequência conversacional entre Pepa e o taxista que por coincidência, sempre lhe
presta serviço, a relação é marcada pela distância social e pela assimetria, o que justifica o uso
da forma de tratamento usted entendida na forma imperativa vaya.
(39) Pepa – taxista: “Vaya deprisita que tenemos que llegar antes de ellos.”
O uso do diminutivo de base adverbial atenuou o pedido em situação transacional,
apareceu como forma de “amortecer” a força ilocutiva do imperativo.
3.1.3 IMPERATIVOS COM INTENSIFICAÇÃO:
Segundo Briz ( apud Albelda Marco, 2005:95), a intensificação é uma categoría
pragmática, relacionada com a atividade retórica do falante, que a emprega com um propósito
determinado “reforçar a verdade do que é expresso e para fazer valer sua intenção de fala”.
Verificamos que a intensificação como estratégia apareceu em menor frequência que a
atenuação, nas tabelas a seguir veremos como ocorreram esas formulações a partir das
variáveis extralingüísticas de gênero e relação funcional.
Tabela 15: Total de 14 formulações de pedidos com estratégias de intensificação divididas por gênero.
GÊNERO DO
INTERLOCUTOR
ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO
HOMEM 02 (5%) 42 (95%) 44 (100%)
MULHER 12 (17%) 56 (83%) 69 (100%)
TOTAL 14 99 113
A intensificação foi a estratégia que apareceu em menor frequência em ambos os
casos, porém nas relações com mulheres foi proporcionalmente maior que nas relações com
homens, verificamos que o pedido de ação e de mudança de comportamento favoreceram
esse tipo de formulação, além da relação de poder, pois a maioria das intensificações ocorreu
em sequências de mãe e filha (Raimunda e Paula) o que pode sugerir que a intensificação
pode aparecer como um marcador da posição social do falante (interlocutor com + poder para
interlocutor com – poder), além disso, o interlocutor feminino pode representar também uma
ameaça maior à imagen de autonomia do falante, havendo a necessidade de intensificar o
pedido em determinadas situações.
(40) Pepa – Lucía: “Váyase a la mierda usted también, pero digale que me llame”
No exemplo (40), quando Pepa é agredida verbalmente por Lucía, ela intensifica seu
pedido com um insulto, demonstrando que não há preocupação de sua parte em atenuar o tom
de seu ato apesar da distância interpessoal entre ambas, o que pode demonstrar o desejo em
reforçar a imagem de autonomia.
(41) Pepa – Candela: “Candela no seas borde están en mi casa.”
No exemplo (41), o pedido é intensificado com uma forma de tratamento nominal
(Candela), porém o que determina a intensificação é o microato observado nessa sequência
(recriminação, ou seja, a oralização negativa explícita). Nesse exemplo, a intensificação
aparece para demonstrar o grande descontentamento com a atitude do outro e reforçar o
desejo na mudança desse comportamento.
Tabela 16:Total de 14 formulações de pedidos com estratégias intensificação divididas por relação funcional.
RELAÇÃO
FUNCIONAL
ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IMPERATIVO
PESSOAL 14 (14%) 84(86%) 98 (100%)
TRANSACIONAL 00 (0%) 15 (100%) 15 (100%)
TOTAL 14 96 113
Verificamos em nossa análise que no pedidos com imperativo as estratégias de
intensificação apareceram somente nas relações funcionais pessoais, o que pode significar que
em relações que podem representar assimetria ou maior distancia interpessoal, esse tipo de
formulação não seria adequado.
- Mais de uma estratégia de atenuação por pedido:
Observamos que do total de 113 formulações de pedidos com imperativo, houve a
ocorrência de 14 formulações intensificadas, sendo que nessas 14 formulações, apareceram 17
estratégias de intensificação, o que quer dizer que há formulações com estratégias
sobrepostas, ou seja, com mais de uma estratégia de intensificação, como se pode ver nos
exemplo abaixo:
(42) Pepa – Candela: “Candela no seas borde están en mi casa.”
(43) Raimunda – Paula: “Paula, vete arreglando que en media hora empezará a llegar la gente.”
(44) Raimunda – Paula: “Paula, cuelga ese teléfono ahora mismo.”
Vemos que nos exemplos acima há 03 formulações de pedidos com imperativos, todas
elas apresentam mais de uma estratégia de intensificação, isto é, 03 estratégias a mais do que
as já presentes nas formulações. Todas as sobreposições de estratégias intensificadas
ocorreram em relação filial, isto é, com alto grau de intimidade em que o falante exerce sobre
seu interlocutor uma relação de poder.
- Tipos de estratégias de intensificação nos pedidos:
Encontramos em nossa análise algumas categorias de natureza verbal e nominal que
representam esses recursos estratégicos, são elas: justificativa, forma de tratamento nominal,
marcador conversacional, insulto e recriminação. Os exemplos dessas categorías serão
mostrados a seguir.
Tabela 17: Total de 17 estratégias de intensificação classificados por formulação pragmalinguistica
INTENSIFICAÇÃO TOTAL
FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 08(42%)
MARCADOR CONVERSACIONAL 05(37%)
INSULTO 02(11%)
JUSTIFICATIVA 01(5%)
APRECIAÇÃO NEGATIVA 01(5%)
TOTAL 17(100%)
As formas de tratamento nominal foram as estratégias de intensificação com maior
número de frequência nas sequências conversacionais analisadas das três personagens com 08
ocorrências. Em nossa análise, apareceu somente a seguinte forma de tratamento nominal:
nomes pessoais (Paula, Sole, Candela). Do total de 08 ocorreências, 06 ocorreram antepostas
e 02, pospostas.
(45) Raimunda – Paula: “Paula, cuelga ese teléfono ahora mismo”
(46) Raimunda – Paula: “Sí, vuelve a tu habitación, Paula”
No exemplo (45), observa-se a estratégia anteposta. A entoação do nome antes do
pedido já intensifica a força ilocutiva do pedido. As formulações pospostas, como no
exemplo (46), também reforça o pedido.
Os marcadores conversacionais foram a segunda forma mais utilizada para
intensificação, entre elas estão: anda e ¿eh?.
(47) Pepa – Candela: “Anda, entra, que he estado fuera toda la noche.”
(48) Raimunda – Paula: “Sé cariñosa con la tía ¿eh?
A forma anda ocorreu anteposta em todas as formulações, o que sugeres a intenção de
abertura do pedido e a forma ¿eh? ocorreu posposta como forma de reiterar o pedido.
A justificativa teve uma única ocorrência na sequência conversacional de Raimunda
com Paula, como tentativa de reforçar o pedido. A estratégia aparece posposta ao pedido de
ação, introduzida pelo elemento “que”.
(49) Raimunda – Paula: “Paula/ vete arreglando que en media hora empezará a llegar la gente”
O insulto e a apreciação negativa ocorreram em uma única formulação cada uma.
(50) Pepa – Lucía: “Váyase a la mierda usted también, pero digale que me llame”
(51) Pepa – Candela: “Candela no seas borde están en mi casa.”
O insulto aparece anteposto ao pedido, pois se trata de uma resposta ao insulto formulada
anteriormente pelo destinatário, o que pode marcar um reforço na imagem de autonomia do
falante como visto no exemplo (50). A apreciação negativa, exemplo (51), representa a
oralização negativa explícita marcada pela relação de + poder.
Em síntese:
As formulações de pedidos mais frequentes no espanhol peninsular ocorreram com
o imperativo.
As formulações de pedidos com imperativos sem estratégias de atenuação ou
intensificação foram as mais frequentes, confirmando a tolerância da sociedade
espanhola pelo uso do imperativo, demonstrando que é uma sociedade voltada
para a confiança. Esse tipo de formulação apareceu com mais frequência nas
relações com homens com pedidos de ação e nas relações transacionais também
com pedidos de ação, o que demonstra que os pedidos de ação para homens
favoreçam esse tipo de formulação, assim como, a assimetria das relações
transacionais não interfere na elaboração do imperativo como pedido.
As formulações atenuadas foram a segunda mais frequente e apareceram em tipos
de pedidos que podem apresentar mais ameaça à imagem (mudança de
comportamento e pedidos de ação). Nas relações com mulheres ocorreram em
maior frequência, talvez pelos tipos de pedidos direcionados a elas: pedidos de
ação e de mudança de comportamento, ou porque esse tipo de interlocutor seja
mais ameaçador. Nas relações funcionais, não houve considerável diferença nas
relações pessoais e transacionais, a maioria dos tipos de pedidos apresentava
grande possibilidade de rejeição ou um custo alto. Observamos que nos pedidos
que possam gerar conflitos ou que apresentem um alto custo, houve a necessidade
de aumentar as estratégias de atenuação, portanto, um mesmo pedido apresentou
mais de uma estratégia para aumentar seu tom persuasivo. As estratégias de
atenuação mais frequentes foram a justificativa posposta à formulação de pedido e
as formas de tratamento nominal anteposta à formulação de pedido. A terceira
estratégia mais frequente foi o marcador conversacional: por favor, oye, por Dios,
anda, pues, venga, que apareceram antepostos ao pedido, talvez como forma
preparatória para o pedido, , ¿eh? e ¿vale?, os dois únicos que apareceram
pospostos ao pedido, talvez como forma de reiterá-lo, já que está em forma
interrogativa. O modalizador adverbial ocorreu uma única vez em forma de
diminutivo que atenuou o pedido em situação transacional e apareceu como forma
de “amortecer” a força ilocutiva do imperativo.
Nas formulações intensificadas, a maior frequência foi direcionada a mulheres
(11%) que com homens (3%), nos casos com homens trata-se de relação de casal
com pedidos de mudança de comportamento. Todas as ocorrências dessas
estratégias foram nas relações pessoais, o que pode demonstrar que a
intensificação esteja relacionada com a aproximação interpessoal, sendo assim nas
relações assimétricas como as transacionais não sejam adequadas, por apresentar
um certo grau de distância interpessoal. A estratégia de intensificação mais
frequente foi a forma de tratamento nominal, 08 ocorreram anteposta, pois a
entoação do nome antes do pedido já intensifica a força ilocutiva do pedido, e 02
formulações pospostas como forma de reforçar o pedido. A segunda estratégia
mais freqüente foi o marcador conversacional, a forma anda ocorreu anteposta em
todas as formulações, o que sugere a intenção de abertura do pedido e a forma
¿eh? ocorreu posposta como forma de reiterar o pedido. A justificativa ocorreu
uma única vez, a estratégia aparece posposta ao pedido de ação, introduzida pelo
elemento que. O insulto e a apreciação negativa também apareceram uma única
vez cada um. O insulto aparece anteposto ao pedido, o que pode marcar um
reforço na imagem de autonomia do falante e a apreciação negativa representa a
oralização negativa explícita marcada pela relação de + poder.
A seguir analisaremos os pedidos formulados com o presente do indicativo.
3.2 PRESENTE DO INDICATIVO:
O presente do indicativo foi a segunda categoria mais frequente em nossa análise,
temos ao todo um total de 27 ocorrências de formulações de pedidos com presente do
indicativo, ou seja, 15% do total dos pedidos. Desse total 97% foram formulados com
polaridade positiva e 3% com polaridade negativa; 12% foram formulados com usted, isto é,
com mais distância interpessoal e 27% foram formulados com tu, isto é, com menos distância
interpessoal, e 58% com a 1ª pessoa singular e plural yo/nosotros como se vê na tabela 18.
Tabela 18: Total de 26 formulações de pedidos com presente do indicativo
FORMAS DE TRATAMENTO PRESENTE AFIRMATIVO PRESENTE NEGATIVO TOTAL
TÚ 06 01 07(30%)
USTED 03 - 03(11%)
YO/NOSOTROS 17 - 17(59%)
TOTAL 26 (96%) 01 (4%) 27(100%)
Tabela 19: Formulações de pedidos com presente do indicativo encontrados em nosso corpus
FORMAS DE
TRATAMENTO
PRESENTE AFIRMATIVO
PRESENTE NEGATIVO
TOTAL
TÚ
O me lo marcas tú (1)
Te callas (1)
Ahora sólo puedes escucharme (1)
Arreglas el telefono (1)
Me los vendes a mí (1)
Si tú te vas (1)
Tú no puedes moverte (1)
07
USTED Me pone (2)
Me da (1)
03
YO/
NOSOTROS
Tengo que hablar con... (3)
Necesito un... (2)
Tengo que verte (1)
Ahora lo hablamos (1)
Luego preparamos el equipaje (1)
Conduzco yo (1)
Quiero que me cortes (1)
Que te dejo la Paula (1)
Tengo un montón de ropa por planchar (1)
Mañana te los doy (1)
Vengo a alquilarlo (1)
Quiero alquilarlo (1)
Tengo un montón por planchar (1)
Tengo que planchar la ropa (1)
17
TOTAL 26 01 27
As formulações de pedidos com presente do indicativo afirmativo ocorreram quase que
em sua totalidade, talvez porque a maioria das formulações tenha como tipo de pedido uma
ação (Arreglas el telefono) ou demonstre a necessidade do falante pela ação do interlocutor a seu
favor , pedido de objeto (Quiero que me cortes), enquanto que as formulações com o presente do
indicativo negativo ocorreu uma única vez. Nas formulações em que o falante se coloca na
ação, isto é, em primeira pessoa foram dominantes em relação às formulações com tú e usted,
o que pode aumentar a força ilocutiva do pedido, já que o falante demonstra sua necessidade
pela ação do outro e coloca seu interlocutor numa situação de obrigação da execução do ato,
sendo assim essa forma pode representar uma diretividade. A seguir analisaremos os
contextos favorecedores e inibidores desse repertório de formulações com presente do
indicativo, considerando os procedimentos de atenuação e intensificação, tendo como fatores
de variação o gênero e a relação funcional dos interlocutores.
Tabela 20: Total de 27 formulações de pedidos com presente do indicativo divididos por gênero.
GÊNERO TOTAL DOS PEDIDOS COM
PRESENTE
PEDIDOS SEM PRESENTE TOTAL DOS PEDIDOS
HOMEM 10 (14%) 64 (86%) 74 (100%)
MULHER 17 (16%) 93 (84%) 110 (100%)
TOTAL 27 157 184
Tabela 21: Total de 27 formulações de pedidos com presente do indicativo divididos por relação funcional.
RELAÇÃO
FUNCIONAL
TOTAL DOS PEDIDOS
COM PRESENTE
PEDIDOS SEM PRESENTE TOTAL DOS PEDIDOS
PESSOAL 22 (15%) 129 (85%) 151 (100%)
TRANSACIONAL 05 (15%) 28 (85%) 33 (100%)
TOTAL 27 157 184
Como se observa na tabela 20, de um total de 74 formulações de pedidos direcionadas a
homens, 10 (14%) foram com presente do indicativo e de um total de 110 formulações de
pedidos direcionados a mulheres, 17 (16%) foram com presente do indicativo, o que
demonstra que a diferença de gênero não influencia na formulação de pedidos com presente
do indicativo, assim como nas relações funcionais, pois como visto na tabela 21, de um total
151 formulações de pedidos em relação pessoal, 21 (15%) se formula com presente do
indicativo e de um total de 33 formulações em relação transacional, 05 (15%) foram
elaboradas com presente do indicativo.
Em nossa análise verificamos também se essas formulações de pedidos com presente do
indicativo apareceram atenuadas, intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. A
seguir podemos visualizar como foi distribuído o total de formulações de pedidos com
presente do indicativo com esses recursos de atenuação, intensificação e sem nenhuma dessas
estratégias.
Tabela 22: Total de 27 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem
estratégias de atenuação e intensificação.
ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE
ZERO 93 (51%) 13 (50%)
ATENUAÇÃO 65 (35%) 09 (31%)
INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) 05 (19%)
TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 27 (100%)
Verificamos na tabela 22 que de um total de 184 pedidos, 27 (15%) foram com
presente do indicativo, desse total de 27 formulações de pedidos com presente do indicativo,
13 (50%) foram sem estratégias de atenuação ou intensificação, 09 (31%) foram atenuados e
05 (19%) foram com estratégias de intensificação. Como vimos anteriormente o presente do
indicativo sugere uma diretividade nas formulações de pedidos, e a sociedade espanhola
aceita bem os atos mais diretos, pois é uma sociedade voltada para a confiança, o que talvez
explique o uso desse tipo de formulação sem estratégias de atenuação ou intensificação como
maior frequência nas formulações de pedidos com presente do indicativo.
3.2.1 PRESENTE DO INDICATIVO SEM ATENUAÇÃO OU INTENSIFICAÇÃO:
De um total de 27 formulações de pedidos com presente do indicativo, encontramos 13
formulações elaboradas sem estratégias de atenuação ou intensificação. A seguir analisaremos
as formulações dos pedidos com presente do indicativo sem recursos de atenuação ou
intensificação, divididos por gênero e relação funcional.
Tabela 23: Total de 13 formulações de pedidos com presente do indicativo sem estratégias de atenuação e
intensificação divididas por gênero.
GÊNERO DO
INTERLOCUTOR
ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE
HOMEM 07 (70%) 03(30%) 10 (100%)
MULHER 06 (38%) 11 (63%) 17 (100%)
TOTAL 13 14 27
Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com presente
do indicativo sem estratégias de atenuação ou intensificação foram proporcionalmente maior
que nas relações com mulheres. Do total de 07 pedidos sem estratégias direcionados a
homens, 05 foram de pedido de objeto e do total de 06 pedidos sem estratégias direcionados
a mulheres, 03 foram também de pedidos de objeto (ver quadros 04 e 15 em anexos), o que
pode demonstrar que esse tipo de pedido favoreça esse tipo de formulação em ambos os
gêneros, embora nas relações com mulheres não tenham aparecido em grande frequência.
Tabela 24: Total de 13 formulações de pedidos com presente do indicativo sem estratégias de atenuação e
intensificação divididas por relação funcional.
RELAÇÃO
FUNCIONAL
ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE
PESSOAL 09 (45%) 12(55%) 21 (100%)
TRANSACIONAL 04 (67%) 02 (33%) 06 (100%)
TOTAL 13 14 27
Já nas relações funcionais, verificamos que esse tipo de formulação para pedido
ocorreu proporcionalmente em maior frequência nas relações transacionais. Observamos que
esse tipo de formulação apareceu com mais frequência nas relações de prestação de serviço
(vendedor/cliente) com pedidos de objeto. Esse tipo de relação favorece esse tipo de pedido,
sendo assim, as relações transacionais de prestação de serviço podem favorecer a elaboração
dos pedidos de objeto com presente do indicativo.
3.2.2 PRESENTE DO INDICATIVO COM ATENUAÇÃO
Como já foi afirmado por Briz (2005: 56), a atenuação é uma operação lingüística
estratégica de minimização do que é dito e do ponto de vista. O que pode determinar o uso
desse tipo de estratégia é o contexto comunicativo em que há a formulação do ato de fala.
De um total de 27 formulações com presente do indicativo, levantamos de um total de
08 formulações de pedidos com presente do indicativo atenuados, 10% para homens e 44%
para mulheres, como se vê na tabela 25.
Tabela 25: Total de 09 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.
GÊNERO ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE
HOMEM 01 (10%) 09(90%) 10 (100%)
MULHER 08 (44%) 09 (56%) 17 (100%)
TOTAL 09 18 27
Verificamos que nas formulações com presente do indicativo, os pedidos atenuados
direcionados a mulheres foram mais frequente, a maioria deles foi pedido de ação com alto
custo, ou seja, com grande possibilidade de rejeição (ver exemplos abaixo e quadro 5 em
anexos), o que pode sugerir que com esse tipo de pedido, as formulações precisam ser
elaboradas com “reforços” de atenuações.
(52) Pepa – Lucía: “Perdone que la moleste, es que tengo que hablar urgentemente con él.”
(53) Raimunda – Sole: “Que te dejo la Paula es que tengo que ir al hospital, Agustina está (( )) tiene
câncer”
(54) Raimunda – Regina: “Yo necesito como un kilo y médio tengo que hacer comida para treinta”
No exemplo (52), Pepa elabora um pedido a Lucía com grande possibilidade rejeição,
dessa maneira, usa como estratégia um microato (pedido de desculpas) para atenuar o ato,
Kerbrat-Orecchioni (2006) denomina esse tipo de estratégia como “desarmadores”, pelos
quais se antecipa uma possível reação negativa do destinatário do ato, e se tenta neutralizá-lo.
Nos exemplos (53) e (54) observa-se o uso de recursos de atenuação, nesses casos a
justificativa, surge como “desarmadores” para minimizar a possibilidade de rejeição dos
pedidos. Como já foi comentado o pedido é um ato elaborado para benefício do próprio
falante, sendo assim o maior objetivo do falante quando elabora esse tipo de ato é evitar
possíveis rejeições, para isso precisa reforçar sua imagem de afiliação.
Tabela 26:Total de 09 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por relação funcional.
RELAÇÃO
FUNCIONAL
ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM PRESENTE
PESSOAL 08 (35%) 13(65%) 21 (100%)
TRANSACIONAL 01 (17%) 05 (83%) 06 (100%)
TOTAL 09 18 27
Verificamos que nas relações funcionais, as formulações atenuadas aparecem em maior
frequência nas relações pessoais. Assim como as formulações direcionadas a mulheres, as
formulações direcionadas a interlocutores na relação de mais proximidade e simetria foram de
pedidos de ação, que apresentam grande possibilidade de rejeição, o que também pode
justificar a grande frequência de atenuações nesse tipo de relação.
- Tipos de estratégias de atenuação nos pedidos:
Encontramos em nossa análise algumas categorias de natureza verbal e nominal que
representam esses recursos estratégicos, são elas: justificativa, forma de tratamento nominal,
marcador conversacional, pedidos de desculpas e elogio. Não encontramos nenhum pedido
com presente do indicativo com mais de uma estratégia de atenuação.
Tabela 27: Total de 09 estratégias de atenuação classificados por formulação pragmalinguistica
ATENUAÇÃO TOTAL
MARCADOR CONVERSACIONAL 03(38%)
JUSTIFICATIVA 02(26%)
FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 02(12%)
PEDIDO DE DESCULPAS 01(12%)
APRECIAÇÃO POSITIVA 01(12%)
TOTAL 09(100%)
O marcador conversacional (38%) foi a estratégia de maior destaque nas
formulações de pedidos com presente do indicativo atenuado, encontramos em nosso corpus
os seguintes marcadores: bueno e mira. Todas essas estratégias ocorreram pospostas ao
pedido, funcionando como elementos preparatórios. Abaixo mostraremos um exemplo de
formulação com marcador conversacional.
(55) Raimunda _ Regina: “Bueno, mañana te los doy ¡ayúdame mujer!”
(56) Raimunda _ Regina: “Mira, en el camino te lo explico en el momento necesitamos meter (( )) en la
furgoneta.”
Nos exemplos acima, observa-se que o falante utiliza um marcador conversacional
para introduzir o pedido, talvez como forma de reduzir a força do ato.
A justificativa foi a segunda estratégia preferida para as formulações de pedidos com
presente do indicativo com 25%. Ela apareceu posposta em todos esses tipos de formulações,
como um “reforço” no pedido para deixá-lo menos recusável.
(57) Raimunda – Sole: “Que te dejo la Paula es que tengo que ir al hospital, Agustina está (( )) tiene
câncer”
Observa-se que a justificativa aparece para minimizar o alto custo do pedido, já que
Raimunda deseja que sua irmã fique com sua filha enquanto está fora.
A única forma de tratamento nominal foi representada pelo nome pessoal (Sole), que
aparece anteposto ao pedido, como forma de preparar o pedido.
(58) Raimunda – Sole: “Sole, tengo un montón de ropa por planchar”
O pedido de desculpas e o apreciação positiva foram estratégias que apareceram
antepostas ao pedido, como forma de preparação para a formulação do ato.
(59) Corretor – Pepa: “¿Y el ático como le va?”
Pepa – corretor: “Oh que maravilloso, pero vengo a alquilarlo.”
(60) Pepa – Lucía: “Perdone que la moleste, es que tengo que hablar urgentemente con él.”
No exemplo (59), o elogio funciona para qualificar o objeto que não se deseja mais. No
exemplo (60), trata-se de uma relação antagônica, que pode gerar algum tipo de conflito, o
pedido de desculpas anteposto funciona como minimizador do grau de imposição do pedido.
A seguir veremos a análise das formulações de pedidos com presente do indicativo com
estratégias de intensificação.
3.2.3 PRESENTE DO INDICATIVO COM INTENSIFICAÇÃO:
Verificamos que a intensificação como estratégia apareceu quase em igual frequência
que a atenuação, num total de 05 formulações de pedidos com presente do indicativo
intensificado, a seguir veremos como ocorreram essas formulações a partir das variáveis
extralinguísticas de gênero e relação funcional, como se vê nas tabelas abaixo.
Tabela 28: Total de 05 formulações de pedidos com estratégias de intensificação, divididas por gênero.
GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM PRESENTE
HOMEM 02 (20%) 08(80%) 10 (100%)
MULHER 03 (19%) 14 (81%) 17 (100%)
TOTAL 05 22 27
Tabela 29: Total de 05 formulações de pedidos com estratégias de intensificação, divididas por relação
funcional.
RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM PRESENTE
PESSOAL 04 (20%) 17(80%) 21 (100%)
TRANSACIONAL 01 (17%) 05 (83%) 06 (100%)
TOTAL 05 21 27
Verificamos que as formulações com intensificações foram equilibradas nas relações
com mulheres e com homens e também nas relações funcionais pessoais e transacionais. Nas
relações com mulheres houve maior frequência dos pedidos de mudança de
comportamento e nas relações com homens que os pedidos de ação foram os mais
frequentes. Já nas relações funcionais, houve maior frequência de pedidos de mudança de
comportamento e pedidos de ação em ambas as relações (pessoal e transacional). Os
pedidos de mudança de comportamento foram intensificados em todos os casos como
forma de ameaça e recriminação para reforçar a posição de + poder e os pedidos de ação
foram intensificados como forma de aumentar a necessidade do pedido, a fim de deixá-lo
menos recusável.
- Tipos de estratégias de intensificação nos pedidos:
Encontramos em nossa análise algumas categorias de natureza verbal e nominal que
representam esses recursos estratégicos, são elas: forma de tratamento nominal, marcador
conversacional, modalizador adverbial, apelo e ameaça. De um total de 05 formulações de
pedidos com presente do indicativo intensificados, encontramos 09 estratégias de
intensificação, o que demonstra que há formulações com mais de uma estratégia de
intensificação, isto é, 04 estratégias sobrepostas.
- Mais de uma estratégia por pedido:
a) Duas estratégias de intensificação:
(61) Pepa – Iván: “Ivan tengo que hablar urgentemente contigo de algo.”
Observa-se no exemplo (61) que a segunda intensificação (urgentemente) aparece para
intensificar a necessidade da execução do pedido que Pepa faz a Iván num periodo de ruptura
de relação dos dois.
b) Três ou mais estratégias de intensificação:
(62) Pepa – Candela: “Oye/ te callas o te doy dos bofetadas ¿eh?/ Venga
Observa-se no exemplo acima a ocorrência de 04 estratégias de intensificação no mesmo
pedido. Trata-se de uma relação entre amigas, no qual a personagem Pepa mais velha e
experiente exerce o papel de protetora para Candela, e a ameça como estratégia de
intensificação reforça o pedido de mudança de comportamento, a fim de evitar a suspeita
sobre Candela, já que se trata de um momento de extrema tensão em que os policiais
procuram por terroristas.
Tabela 30: Total de 09 estratégias de intensificação classificados por formulação pragmalinguistica
INTENSIFICAÇÃO TOTAL
MARCADOR CONVERSACIONAL 03(34%)
MODALIZADOR ADVERBIAL 02(22%)
AMEAÇA 02(22%)
FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 01(11%)
CAPTAÇÃO DA BENEVOLÊNCIA 01(11%)
TOTAL 09(100%)
Os marcadores conversacionais foram as estratégias de intensificação com maior
número de frequência nas sequências conversacionais analisadas de Pepa 33% de ocorrências,
entre elas estão: ¿eh?, venga, apareceram pospostos ao pedido reiterando o seu grau de
imposição, e oye, que apareceu anteposto ao pedido e sua entoação aumentou também o grau
de imposição do pedido.
(63) Pepa – Candela: “Oye, te callas o te doy dos bofetadas ¿eh? Venga”
Os modalizadores adverbiais foram a segunda forma mais utilizada para
intensificação Em nossa análise apareceu somente a seguinte forma de modalizador adverbial:
urgentemente.
(64) Pepa – Iván: “Tengo que verte urgentemente para hablar de una cosa contigo.”
(65) Pepa – Lucía: “Perdone que la moleste, es que tengo que hablar urgentemente con él.”
As estratégias apareceram pospostas ao pedido como forma de intensificar a
necessidade do pedido e deixá-lo menos recusável.
A forma de tratamento nominal teve uma única ocorrência na sequência
conversacional de Pepa com Iván no inicio do pedido.
(66) Pepa – Iván: “Ivan, tengo que hablar urgentemente contigo de algo.”
A forma de tratamento nominal aparece anteposta ao pedido como forma de chamar a
atenção para o pedido.
O captação da benevolência e a ameaça surgiram em menor frequência. A ameaça
apareceu na sequência de Pepa e Candela e Pepa e recepcionista, e o apelo na sequencia de
Raimunda e Regina.
(67) Pepa – Candela: “Oye, te callas o te doy dos bofetadas ¿eh? Venga.”
(68) Pepa – recepcionista: “O me lo marcas tú, o llamo desde la calle. Me están
esperando en el estudio, tú verás.”
(69) Raimunda _ Regina: “Bueno, mañana te los doy ¡ayúdame mujer!”
Nos exemplos (67) e (68), a ameaça aparece posposta ao pedido. Trata-se da relação
entre Pepa e Candela, que é uma relação simétrica, mas que se assume quase assimétrica por
ser maternal e entre Pepa e a recepcionista, relação assumidamente assimétrica, ambas
representam relações de + poder para – poder, e a ameaça como estratégia de intensificação
marca essa relação. No exemplo (69), o apelo aparece posposto como forma de intensificar a
necessidade do pedido.
Em síntese:
O presente do indicativo foi o segundo tipo de formulação mais frequente.
Nas formulações de pedidos com presente do indicativo sem estratégias de atenuação
ou intensificação, a maior frequência foi direcionada a homens, a maioria dos pedidos
foi para os pedidos de objeto, o que pode demonstrar que esse tipo de pedido favoreça
a elaboração desse tipo de pedido quando dirigidos a homens. Já nas relações
funcionais, verificamos que esse tipo de formulação para pedido ocorreu
proporcionalmente em maior frequência nas relações transacionais, o que sugere que a
assimetria que pode estar presente nas relações transacionais, principalmente de
prestação de serviço, pode favorecer o uso desse tipo de formulação em pedidos de
objeto.
Verificamos que nas formulações com presente do indicativo, os pedidos atenuados
direcionados a mulheres foram mais frequente, a maioria deles foi pedido de ação que
apresentam um alto custo, o que pode sugerir que com esse tipo de pedido direcionado
a mulheres, as formulações precisam ser elaboradas com “reforços” de atenuações. Já
nas relações funcionais, as formulações atenuadas aparecem em maior frequência nas
relações pessoais, que apresentaram pedidos de ação também com grande
possibilidade de rejeição, o que também pode justificar a grande frequência de
atenuações nesse tipo de relação e com esse tipo de pedido. As estratégias mais
frequentes foram os marcadores conversacionais que ocorreram pospostos ao pedido
como elementos preparatórios, seguido das justificativas que pospostas como forma de
minimizar o alto custo do pedido, as estratégias menos frequentes foram as formas de
tratamento nominal que apareceram antepostas como elementos preparatórios, o
pedido de desculpas e a apreciação positva que ocorreram antepostos como
minimizadores do grau de imposição dos pedidos.
Verificamos que as formulações com intensificações foram em 03 casos dirigidas a
mulheres e em 02 casos a homens (em ambos trata-se de relação de casal
intensificando o pedido de mudança de comportamento: cantada). Dos 05 casos 04 se
dão em relações funcionais pessoais e apenas 01 em transacional: neste caso a mulher
recepcionista / telefonista com quem Pepa trabalha há anos e com quem já estabeleceu
uma relação de confiança, tanto pelos anos de convivência, quanto pelo fato de ambas
serem mulheres, ou pelo tipo de pedido de ação solicitado (assunto com homens,
confidencial, esfera do privado), o que assinalaria mais uma vez que a intensificação
está relacionada com o ethos de confiança. Os pedidos de mudança de
comportamento foram intensificados em todos os casos como forma de ameaça e
recriminação para reforçar a posição de + poder e os pedidos de ação foram
intensificados como forma de aumentar a necessidade do pedido, a fim de deixá-lo
menos recusável. As estratégias mais frequentes foram os marcadores conversacionais
que apareceram antepostos e pospostos ao pedido reiterando o seu grau de imposição,
seguidos dos modalizadores adverbiais que apareceram pospostas ao pedido como
forma de intensificar a necessidade do pedido e deixá-lo menos recusável, a forma de
tratamento nominal que aparece anteposta ao pedido como forma de chamar a atenção
para o pedido e a ameaça para marcar a relação de poder e o apelo que aparece
posposto como forma de intensificar a necessidade do pedido.
3.3 ENUNCIADOS INTERROGATIVOS:
A partir de diversos estudos sobre atos de fala verificaram-se que os enunciados
interrogativos podem ser considerados formulações indiretas, pois há o apagamento do
conteúdo literal (pergunta) em proveito do conteúdo derivado (pedido) que se torna prioritário
(Kerbrat-Orecchion, 2005: 56), dessa forma os colocam como formulações menos impositivas,
preferidas em situações que se desejam preservar a imagem, pois oferece ao interlocutor a
opotunidade de executar ou não a ação. Em nossa análise verificaremos em quais contextos
são mais frequentes e se realmente são utilizados como formulações com efeito atenuador.
Temos ao todo um total de 21 ocorrências de formulações de pedidos com enunciados
interrogativos, ou seja, 11% do total dos pedidos. Desse total 16 (81%) foram formulados
com polaridade positiva e 05 (19%) com polaridade negativa; 04 (19%) foram formulados
com usted, 13(62%) foram formulados com tú e 01 (5%) com vosotros, e 03 (14%) com a
primeira pessoa, como se vê na Tabela 31.
Tabela 31: Total de 21 formulações de pedidos com enunciados interrogativos
FORMAS DE TRATAMENTO INTERROGATIVO AFIRMATIVO INTERROGATIVO NEGATIVO TOTAL
TÚ 10 03 13(62%)
USTED 02 02 04(19%)
YO 03 - 03(14%)
VOSOTROS 01 - 01(5%)
TOTAL 16 (77%) 05 (23%) 21(100%)
Tabela 32: 21 Formulações de pedidos com enunciados interrogativos encontrados em nosso corpus
FORMAS DE
TRATAMENTO
ENUNCIADOS INTERROGATIVOS AFIRMATIVOS
ENUNCIADOS INT. NEGATIVOS
TOTAL
TÚ
¿Me pones con este número? (1)
¿Me pones dos kilos más? (1)
¿Tú sabes arreglar un teléfono? (1)
¿Nos puedes traer unos calmantes de la cocina? (1)
¿Me subes la cremallera? (1)
¿Te importa quedarte hasta que yo vuelva? (1)
¿ Te importa que se quede esta noche contigo? (1)
¿Y dulces? (1)
¿Me las puedes vender? (1)
¿Podrías prestarme cien euros? (1)
¿Por qué no la acercas? (1)
¿No te has traído unas
morcillas y unos tortillos? (1)
¿No has traído nada? (1)
13(62%)
USTED
¿Tiene fuego? (1)
¿Me da un cigarillo? (1)
¿No tendrá un colirio por
casualidad? (1)
¿Por qué no se sienta aquí y me
interroga cómodamente? (1)
04(19%)
YO ¿Puedo sentarme? (1)
¿Puedo fumar? (1)
¿Puedo hacer una llamada? (1)
-
03(14%)
VOSOTROS ¿Me podéis ayudar con esto? (1)
- 01(5%)
TOTAL 16 (77%) 05 (23%) 21 (100%)
As formulações de pedidos com enunciados interrogativos afirmativos ocorreram com
mais frequência que nos negativos, porém em ambos os casos tais formulações oferecem a
oportunidade ao interlocutor em rejeitar ou não a execução do pedido (exemplo 70) assim
como as formulações dirigidas a interlocutores com mais proximidade foram dominantes em
relação às formulações com interlocutores de relação mais distante. Nas formulações
elaboradas em primeira pessoa o pedido aparece como um pedido de permissão para a
execução do ato, o que aumenta ainda mais o efeito atenuador do pedido (exemplo 71).
(70) Pepa – Carlos: ¿Nos puedes traer unos calmantes de la cocina?
(71) Pepa – Paulina: ¿Puedo sentarme?
A seguir analisaremos os contextos favorecedores e inibidores desse repertório de
formulações com enunciados interrogativos, considerando os procedimentos de atenuação e
intensificação, tendo como fatores de variação o gênero (masculino e feminino) e a relação
funcional (pessoal e transacional) dos interlocutores.
Tabela 33: Total de 21 formulações de pedidos com enunciados interrogativos divididos por gênero.
GÊNERO PEDIDOS COM INTERROGATIVOS SEM INTERROGATIVOS TOTAL DOS PEDIDOS
HOMEM 10 (14%) 64 (86%) 74 (100%)
MULHER 11 (10%) 99 (90%) 110 (100%)
TOTAL 21 163 184
Tabela 34: Total de 21 formulações de pedidos com enunciados interrogativos divididos por relação funcional.
RELAÇÃO FUNCIONAL PEDIDOS COM INTERROGATIVOS SEM INTERROGATIVOS TOTAL DOS PEDIDOS
PESSOAL 12 (8%) 139 (92%) 151 (100%)
TRANSACIONAL 09 (27%) 24 (73%) 33 (100%)
TOTAL 21 163 184
Como se observa na tabela 33, de um total de 74 formulações de pedidos direcionadas a
homens, 10 (14%) foram com enunciados interrogativos e de um total de 110 formulações de
pedidos direcionados a mulheres, 11 (10%) foram com enunciados interrogativos, apesar de
os pedidos com esse tipo de formulação terem sido um pouco mais frequente quando
direcionados a homens, a diferença não foi muito grande o que demonstra que o gênero não
influencia na formulação de pedidos com enunciados interrogativos. Em ambos, os tipos de
pedidos foram para pedidos de ação e pedidos de objeto, não encontramos nenhuma
formulação para pedido de mudança de comportamento com enunciados interrogativos. Já na
tabela 34, observa-se que de um total de 151 formulações de pedidos em relação pessoal, 12
(8%) se formula com enunciados interrogativos e de um total de 33 formulações em relação
transacional, 09 (27%) foram elaboradas com enunciados interrogativos, o que pode
demonstrar que as relações transacionais favorecem o uso desse tipo de formulação, talvez
pelo efeito atenuador que esse tipo de formulação pode apresentar. Observamos que nesse
tipo de relação houve maior frequência para os pedidos de objeto e pedidos de permissão
para fazer algo.
(72) Raimunda – verdureiro: “¿Me pones dos kilos más?”
(73) Pepa – corretor: “¿Puedo hacer una llamada?
Observa-se no caso (72) um exemplo de pedido de objeto em que o tom interrogativo
proporciona ao destinatário liberdade de escolha o que minimiza o grau de imposição do ato.
No exemplo (73) há um pedido de permissão para executar uma ação.
Em nossa análise verificamos também se essas formulações de pedidos com enunciados
interrogativos apareceram atenuadas, intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. A
seguir podemos visualizar como foi distribuído o total de formulações de pedidos com
enunciados interrogativos com esses recursos de atenuação, intensificação e sem nenhuma
dessas estratégias, divididos por gênero e relação funcional.
Tabela 35: Total de 21 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem
estratégias de atenuação e intensificação.
ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM ENUNCIADOS INTERROGATIVOS
ZERO 93 (51%) 08 (38%)
ATENUAÇÃO 65 (35%) 13 (62%)
INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) -
TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 21 (100%)
Verificamos na tabela 35 que de um total de 184 pedidos, 21(11%) foram com
enunciados interrogativos, desse total de 21 formulações de pedidos com enunciados
interrogativos, 08 (38%) foram sem estratégias de atenuação ou intensificação e 13 (62%)
foram com estratégias de atenuação. Formulações desse tipo podem apresentar um efeito
atenuador por apresentarem uma indiretividade, vimos na tabela acima que os pedidos com
enunciados interrogativos foram formulados em maior frequência com estratégias de
atenuação, isso talvez se explique pelo tipo de pedido que foi elaborado, um pedido com um
grande grau de imposição ou com grande possibilidade de rejeição pode necessitar de cargas
maiorias de atenuação para serem aceitos e executados.
A seguir veremos como essas formulações ocorreram sem estratégias de atenuação ou
intensificação de acordo com variáveis extralinguísticas de gênero e relação funcional.
3.3.1 ENUNCIADOS INTERROGATIVOS SEM ATENUAÇÃO OU
INTENSIFICAÇÃO:
Verificamos que os enunciados interrogativos apareceram como a terceira forma mais
frequente para formulações de pedidos, de um total de 21 formulações de pedidos com
enunciados interrogativos, encontramos 08 formuladas sem estratégias de atenuação ou
intensificação. A seguir analisaremos as formulações dos pedidos com enunciados
interrogativos sem esses recursos citados, divididos por variáveis extralingüísticas como
gênero e relação funcional.
Tabela 36: Total de 08 formulações de pedidos com enunciados interrogativos sem estratégias de atenuação e
intensificação divididas por gênero.
GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM INTERROGATIVOS
HOMEM 07 (70%) 03 (30%) 10 (100%)
MULHER 01 (9%) 10 (91%) 11 (100%)
TOTAL 08 13 21
Tabela 37: Total de 08 formulações de pedidos com enunciados interrogativos sem estratégias de atenuação e
intensificação divididas por relação funcional.
RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM INTERROGATIVOS
PESSOAL 03 (25%) 09 (75%) 12 (100%)
TRANSACIONAL 05 (56%) 04 (44%) 09 (100%)
TOTAL 08 13 21
Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com
enunciados interrogativos sem estratégias de atenuação ou intensificação foram
proporcionalmente maior que nas relações com mulheres, assim como nas relações funcionais
transacionais, talvez o tom indireto desse tipo de formulação tenha sido adequado para as
situações em que ocorreram, eles foram formulados com maior frequência para pedidos de
ação nas formulações direcionadas a homens nas sequências conversacionais entre Pepa e
Carlos (filho de seu amante com quem ainda não tinha proximidade) e para pedidos de
objeto em relações transacionais, isto é, situação de maior distância interpessoal e assimetria,
o que pode justificar o uso de formulação mais indireta, favorecendo assim a imagem de
afiliação do falante no momento da execução do pedido.
3.3.2 ENUNCIADOS INTERROGATIVOS COM ATENUAÇÃO
Levantamos de um total de 44 formulações de pedidos com imperativo para homens,
36% foi atenuado e no total de 69 pedidos com enunciados interrogativos para mulheres, 42%
foi atenuado, como se vê na tabela 38.
Tabela 38: Total de 13 formulações de pedidos com enunciados interrogativos com estratégias de atenuação,
divididas por gênero.
GÊNERO ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM INTERROGATIVOS
HOMEM 03 (30%) 07 (70%) 10 (100%)
MULHER 10 (91%) 01 (9%) 11 (100%)
TOTAL 13 08 21
Nas formulações de pedidos com enunciados interrogativos atenuados aparecem nas
relações com mulheres uma maior frequência dessas estratégias, que proporcionalmente com
homens. A maior frequência desse tipo de formulação ocorreu para os pedidos de objeto,
talvez o conteúdo do pedido para interlocutores do mesmo sexo estimule o uso de mais
recursos para deixá-lo menos recusável.
(74) Raimunda – Regina: “Tengo que hacer comida para treinta personas, oye ¿podrías prestarme cien
euros?”
Observa-se na formulação do pedido de Raimunda a Regina, exemplo (74) o uso de
uma justificativa antecedente ao pedido, o que atenua o seu tom, assim como a escolha pela
pergunta como estratégia para o pedido, o que oferece liberdade de escolha por parte do
ouvinte, dessa maneira o falante transfere para o seu interlocutor a responsabilidade para a
decisão, podendo diminuir a possibilidade de rejeição e diminuir o risco a sua imagem, já que
o pedido de Raimunda é um pedido com grande possibilidade de rejeição já que inclui
dinheiro.
Tabela 39: Total de 13 formulações de pedidos com enunciados interrogativos com estratégias de atenuação,
divididas por relação funcional.
RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: ATENUAÇÃO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM IINTERROGATIVOS
PESSOAL 09 (75%) 03 (25%) 12
TRANSACIONAL 04 (44%) 05 (56%) 09
TOTAL 13 08 21
No que diz respeito às relações funcionais, observa-se que nas relações pessoais esse
tipo de formulação foi proporcionalmente maior que nas relações transacionais, e os pedidos
de objeto foram mais frequentes, o que pode significar que na simetria das relações os
pedidos podem ter maior chance de rejeição, o que pode requerer um reforço para diminuir a
possibilidade de recusa do pedido.
- Mais de uma atenuação por pedido:
Verificamos que no total de 13 formulações de pedidos com enunciados interrogativos
apareceu o total de 15 estratégias de atenuação, o que demonstra que houve formulações com
mais de uma estratégia de atenuação.
a) Duas estratégias de atenuação no mesmo pedido:
(75) Raimunda – Regina: “Tengo que hacer comida para treinta personas, oye ¿podrías prestarme cien
euros?”
(76) Raimunda – Regina: “Oye ¿me podéis ayudar con esto? Lo colocaría yo/ pero no puedo sola.”
Nos exemplos (75) e (76) vemos que as estratégias de atenuação foram reforçadas por
outros dois mais recursos atenuadores. No exemplo (75), a formulação do pedido foi
atenuado pela justificativa anteposta ao pedido e ainda um marcador conversacional, o
excesso de atenuação presente nessa formulação pode ser explicado pelo tipo de pedido
(pedido de objeto: dinheiro), que pode prejudicar a imagem do falante e ainda pode apresentar
grande possibilidade de rejeição. No exemplo (76), o pedido é formulado com um marcador
conversacional anteposto e recebe o reforço de uma justificativa posposta, talvez como forma
de deixar o pedido menos recusável.
- Tipos de estratégias de atenuação nos pedidos:
Consideramos como elementos atenuadores para a análise desse tipo de formulação de
pedido os seguintes recursos: a justificativa, a forma de tratamento nominal, o marcador
conversacional.
Tabela 40: Total de 15 estratégias de atenuação classificados por personagem e por formulação
pragmalinguistica
Encontramos em nossa análise algumas categorias de natureza verbal e nominal que
representam esses recursos estratégicos, são elas: justificativa, forma de tratamento nominal e
marcador conversacional.
Os marcadores conversacionais apareceram com maior frequência, entre eles
destacamos: oye, oiga, que apareceram antepostos ao pedido como elementos preparatórios e
por favor, que apareceu posposto ao pedido a fim de minimizar a força ilocutiva do ato.
Abaixo mostraremos um exemplo de formulação com marcador conversacional.
(77) Raimunda – Regina: “Oye ¿me podéis ayudar con esto?”
(78) Pepa - recepcionista: “¿Me pones con este número, por favor?”
Vemos no exemplo (77) que o marcador conversacional anteposto serviu para preparar
o pedido e no exemplo (78) aparece posposto para atenuar o tom do ato.
A justificativa foi a segunda estratégia preferida para as formulações de pedidos com
enunciados interrogativos.
(79) Raimunda – Regina: “Tengo que hacer comida para treinta personas, oye ¿podrías prestarme cien
euros?”
(80) Pepa – Paulina: “¿Puedo fumar? Es que tengo unas ganas”
Observa-se no exemplo (79) um caso de justificativa anteposta ao pedido, que aparece
como “desarmador”, já que se trata de um pedido com alto custo. No exemplo (80), a
justificativa aparece posposta ao pedido de permissão como forma de dar uma satisfação ao
destinatário.
ATENUAÇÃO TOTAL
MARCADOR CONVERSACIONAL 08(53%)
JUSTIFICATIVA 06(40%)
FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 01(7%)
TOTAL 15(100%)
A forma de tratamento nominal foi a terceira a estratégia de atenuação, no entanto
apresentou somente uma ocorrência: nomes pessoais (Sole).
(81) Raimunda – Sole: “Sole ¿te importa que se quede esta noche contigo?”
Esse tipo de estratégia geralmente aparece anteposto ao pedido como forma
preparatória à formulação do ato.
A seguir analisaremos as formulações de pedidos com frases nominais.
Em síntese:
As formulações de pedidos com enunciados interrogativos foram a terceira mais
freqüentes.
Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com
enunciados interrogativos sem estratégias de atenuação ou intensificação foram
proporcionalmente maior que nas relações com mulheres, assim como nas
relações funcionais transacionais, talvez o tom indireto desse tipo de formulação
tenha sido adequado para as situações em que ocorreram, eles foram formulados
com maior frequência para pedidos de ação e para pedidos de objeto em
relações transacionais, isto é, situação de maior distância interpessoal e assimetria,
o que pode justificar o uso de formulação mais indireta, favorecendo assim a
imagem de afiliação do falante no momento da execução do pedido.
Nas formulações de pedidos com enunciados interrogativos atenuados aparecem
nas relações com mulheres uma maior frequência dessas estratégias, que
proporcionalmente com homens. A maior frequência desse tipo de formulação
ocorreu para os pedidos de objeto, talvez o conteúdo do pedido para
interlocutores do mesmo sexo estimule o uso de mais recursos para deixá-lo
menos recusável.
3.4 FRASES NOMINAIS
Verificamos em nosso corpus poucos casos de frases nominais, um total de 10
ocorrências de formulações de pedidos com frases nominais, ou seja, 5% do total dos pedidos,
se trata de situações ritualizadas, em que os interlocutores têm claro, apesar da omissão da
forma verbal, qual é o objetivo do pedido. A seguir na tabela 41 apresentaremos o repertório
dessas formulações.
Tabela 41: Total de 10 Formulações de pedidos com frases nominais encontrados em nosso corpus
PEDIDOS COM FORMAS NOMINAIS
Ya está (1)
Por Dios (1)
Ni una palabra(1)
Castellana 31 (1)
Todos para dentro (1)
Tú dentro (1)
Que no (1)
Mejor mañana (1)
Un pico (1)
Una pala (1)
As variáveis extralingüísticas selecionadas para nossa análise foram: gênero dos
interlocutores (masculino e feminino) e relações funcionais (pessoal e transacional),
buscaremos estabelecer se estas variáveis favorecem ou não as escolhas por determinadas
formulações de pedidos.
Tabela 42: Total de 10 formulações de pedidos com frases nominais divididos por gênero.
GÊNERO PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS PEDIDOS SEM FRASES NOMINAIS TOTAL DOS PEDIDOS
HOMEM 07 (9%) 67 (91%) 74 (100%)
MULHER 03 (3%) 107 (97%) 110 (100%)
TOTAL 10 174 184
Tabela 43: Total de 10 formulações de pedidos com frases nominais divididos por relação funcional.
RELAÇÃO FUNCIONAL PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS SEM FRASES NOMINAIS TOTAL DOS PEDIDOS
PESSOAL 07 (5%) 144 (95%) 151 (100%)
TRANSACIONAL 03 (9%) 30 (91%) 33 (100%)
TOTAL 113 71 184
Como se observa na tabela 42, de um total de 74 formulações de pedidos direcionadas a
homens, 07 (9%) foram com frases nominais e de um total de 110 formulações de pedidos
direcionados a mulheres, 03 (3%) foram com frases nominais, o que demonstra que a
diferença de gênero pode exercer influência na formulação de pedidos com frases nominais.
Os tipos de pedidos que influenciaram esse tipo de formulação foram os de mudança de
comportamento, que foram elaborados com tom de recriminação, pode-se dizer que pedidos
de mudança de comportamento com tom de recriminação direcionados a homens favoreça
esse tipo de formulação. Já na tabela 43, observa-se que de um total 151 formulações de
pedidos em relação pessoal, 07 (5%) se formula com frases nominais e de um total de 33
formulações em relação transacional, 03 (9%) foram elaboradas com frases nominais, o que
pode demonstrar que as relações transacionais favorecem o uso desse tipo de formulação com
pedido de objeto, pois se trata de situações ritualizadas dentro da relação de prestação de
serviço em que os interlocutores têm claro essa troca comunicativa.
Em nossa análise verificamos também se essas formulações de pedidos com frases
nominais apareceram atenuadas, intensificadas, ou sem atenuação ou intensificação. A seguir
podemos visualizar como foi distribuído o total de formulações de pedidos com frases
nominais com esses recursos de atenuação, intensificação e sem nenhuma dessas estratégias.
Tabela 44: Total de 10 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem
estratégias de atenuação e intensificação.
ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS
ZERO 93 (51%) 03 (30%)
ATENUAÇÃO 65 (35%) 02 (20%)
INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) 05 (50%)
TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 10 (100%)
Verificamos na tabela 44 que de um total de 184 pedidos, 10 (5%) foram com frases
nominais, desse total de 10 formulações de pedidos com frases nominais, 03 (30%) foram
sem estratégias de atenuação ou intensificação, 02 (20%) foram atenuados e 05 (50%) foram
com estratégias de intensificação. A estratégia de intensificação em um pedido de mudança
de comportamento pode reforçar ainda mais o tom recriminador do ato, o que pode ter
favorecido a maior incidência desse tipo de estratégia com esse tipo de formulação.
A seguir verificaremos como ocorreram as formulações dos pedidos com frases
nominais sem estratégias de atenuação ou intensificação.
3.4.1 FRASES NOMINAIS SEM ATENUAÇÃO OU INTENSIFICAÇÃO:
Em nossa análise observamos que esse tipo de formulação foi a quarta de maior
frequência. Verificaremos a seguir como foi a influência do gênero e das relações funcionais
interpessoais nas formulações desses pedidos.
Tabela 45: Total de 03 formulações de pedidos sem estratégias de atenuação e intensificação divididas por
gênero.
GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS
HOMEM 03 (43%) 04 (57%) 07 (100%)
MULHER 00 (0%) 03 (100%) 03 (100%)
TOTAL 03 07 10
Tabela 46: Total de 10 formulações de pedidos sem estratégias de atenuação e intensificação divididas por
relação funcional.
RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: ZERO OUTRAS TOTAL DOS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS
PESSOAL 00 (0%) 07 (100%) 07 (100%)
TRANSACIONAL 03 (100%) - 03 (100%)
TOTAL 03 07 10
Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com frases
nominais sem estratégias de atenuação ou intensificação foram mais frequentes que com
mulheres e todas (100%) ocorreram em relações transacionais, já que nesse tipo de relação
(prestação de serviço) o pedido pode ser feito com referência somente ao objeto que o falante
deseja e que o ouvinte detém.
(82) Raimunda – vendedor: “¡Ah!/ y un pico”
(83) Raimunda – vendedor: “Y una pala”
(84) Pepa – taxista: “Castellana 31.”
Nos exemplos acima, observa-se que as formulações representam pedidos ritualizados
em prestação de serviço, não há a necessidade de utilizar uma forma verbal para demonstrar a
ação do pedido, sendo assim, pode-se dizer que em relações transacionais esse tipo de
formulação já está ritualizado.
3.4.2 FRASES NOMINAIS COM ATENUAÇÃO
Como mencionamos, as frases nominais apresentam a ilocução do pedido elíptica em
seu contexto, sendo assim a atenuação reduziria muito a força ilocutiva desse ato. A seguir
verificaremos que contextos tendem a favorecer a utilização da atenuação como estratégia.
Tabela 47: Total de 02 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.
GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA:ATENUAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS
HOMEM 02 (29%) 05 (71%) 07 (100%)
MULHER 00 (0%) 03 (100%) 03 (100%)
TOTAL 02 08 10
Tabela 48: Total de 02 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.
RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA ATENUAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS
PESSOAL 02 (29%) 05 (71%) 07 (100%)
TRANSACIONAL 00 (0%) 03 (100%) 03 (100%)
TOTAL 02 184 10
Verificamos que todas as formulações de pedidos com frases nominais atenuados
ocorreram direcionadas a homens e em relações pessoais para pedido de mudança de
comportamento. Se trata da sequência entre Rebeca e Letal, seu amigo travesti que a
molesta sexualmente.
(85) Rebeca – Letal: “ Bueno anda Letal ya está...”
O constrangimento da situação inesperada com um amigo pode ter influenciado o uso
de diversos recursos atenuadores, já que se trata de uma recriminação.
- Tipos de estratégias de atenuação nos pedidos:
Tabela 49: Total de 03 estratégias de atenuação classificados por formulação pragmalinguistica
ATENUAÇÃO TOTAL
MARCADOR CONVERSACIONAL 02(67%)
FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 01(33%)
TOTAL 03(100%)
Verificamos que no total de 10 formulações de pedidos com frases nominais apareceu o total
de 03 estratégias de atenuação, todas nas formulações da personagem Rebeca. Encontramos
em nossa análise algumas categorias de natureza nominal que representam esses recursos
estratégicos, são elas: forma de tratamento nominal e marcador conversacional.
Os marcadores conversacionais apareceram com maior frequência, entre eles
destacamos: anda e Bueno. Abaixo mostraremos um exemplo de formulação com marcador
conversacional.
(86) Rebeca – Letal: “ Bueno anda Letal ya está.”
Todos ocorreram antepostos ao pedido como forma de preparar o pedido, já que se
trata de uma recriminação que aumenta a força ilocutiva do ato.
A forma de tratamento nominal foi a segunda estratégia de atenuação, no entanto
apresentou somente uma ocorrência: nomes pessoais (Letal).
(87) Rebeca – Letal: “Letal ya está”.
Assim como os marcadores conversacionais, as formas de tratamento nominais
também aparecem como preparatório para minimizar a força ilocutiva do pedido.
A seguir analisaremos os pedidos com frases nominais com recursos estratégicos de
intensificação.
3.4.3 FRASES NOMINAIS COM INTENSIFICAÇÃO
Como mencionamos, as frases nominais apresentam a ilocução do pedido elíptica em
seu contexto, a intensificação apareceria como forma de “reforçar” a ilocução desse ato. A
seguir verificaremos que contextos tendem a favorecer a utilização da intensificação como
estratégia.
Tabela 50: Total de 05 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.
GÊNERO DO INTERLOCUTOR ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS
HOMEM 02 (29%) 05 (71%) 07 (100%)
MULHER 03 (100%) - 03 (100%)
TOTAL 05 05 10
Tabela 51: Total de 05 formulações de pedidos com estratégias de atenuação, divididas por gênero.
RELAÇÃO FUNCIONAL ESTRATÉGIA: INTENSIFICAÇÃO OUTRAS PEDIDOS COM FRASES NOMINAIS
PESSOAL 05 (71%) 02 (29%) 07 (100%)
TRANSACIONAL - 03 (100%) 03 (100%)
TOTAL 05 05 10
Verificamos que houve uma maior frequência dessa formulação direcionadas a
mulheres e todas em relações pessoais. Observamos que em todas as sequências
conversacionais com mulheres a intensificação aparece com tom de recriminação nos pedidos
de mudança de comportamento, a intensificação reforça a força ilocutiva do pedido e
relações com proximidade com mulheres pode favorecer a elaboração de pedidos de mudança
de comportamento quando formulados com frases nominais talvez para reforçar a imagem de
autonomia.
(88) Pepa – Candela: “Tú dentro, venga”.
(89) Raimunda – Regina: “Pero esto, ni una palabra ¿eh?”
Os enunciados nominais dentro e ni una palabra, assumem o valor de intensificações
reforçam a força ilocutiva das formulações e assumem um valor de recriminação.
Nas formulações direcionadas a homens a intensificação assume também um tom de
recriminação, mas também de apelo, o que sugere que em situações de pedidos de mudança
de comportamento direcionados a homens, a recriminação talvez precise ser mais apelativa.
(90) Rebeca – Eduardo “Oye que no, que no insistas”
(91) Raimunda – Emilio: “Emilio, por Dios”
No pedido elaborado na sequência conversacional (90) Eduardo, amante de Rebeca
insiste em ter relações sexuais com ela, e ela recrimina sua atitude. No exemplo (91) o pedido
é intensificado pelo apelo e pela forma de tratamento nominal (Emilio), que reforça a força
ilocutiva do ato.
- Tipos de estratégias de intensificação nos pedidos:
Tabela 52: Total de 05 estratégias de intensificação classificados por personagem e por formulação
pragmalinguistica
ATENUAÇÃO TOTAL
MARCADOR CONVERSACIONAL 03(60%)
FORMA DE TRATAMENTO NOMINAL 01(20%)
CAPTAÇÃO DA BENEVOLÊNCIA 01(20%)
TOTAL 05(100%)
Verificamos que no total de 10 formulações de pedidos com frases nominais apareceu
o total de 05 estratégias de atenuação. Encontramos em nossa análise algumas categorias de
natureza nominal que representam esses recursos estratégicos, são elas: forma de tratamento
nominal, marcador conversacional e o apelo.
Os marcadores conversacionais apareceram com maior frequência, entre eles
destacamos: oye, anteposto ao pedido como estratégia para aumentar a força ilocutiva do ato,
venga e ¿eh? que apareceram pospostos ao pedido também para a força ilocutiva do pedido.
Abaixo mostraremos um exemplo de formulação com marcador conversacional.
(92) Raimunda – Regina: “Pero esto, ni una palabra ¿eh?”
(93) Pepa – Candela: “Tú dentro, venga”
(94) Rebeca – Eduardo “Oye que no, que no insistas”
Observa-se que o marcador conversacional anteposto, intensifica mais o pedido, pois
sinaliza com antecedência ao ouvinte a recriminação.
A forma de tratamento nominal e a captação da benevolência foram a segunda
estratégia de intensificação, no entanto apresentaram somente uma ocorrência cada um.
(95) Raimunda – Emilio: “Emilio, por Dios”
A forma de tratamento nominal apareceu anteposta ao pedido, a entoação da forma de
tratamento nominal demonstra o tom do pedido e a sua anteposição com tom intensificado
sinaliza ao ouvinte o tom do pedido, o que aumenta sua força ilocutiva.
Em síntese:
Verificamos que nas relações com homens, as formulações de pedidos com
frases nominais sem estratégias de atenuação ou intensificação foram mais
frequentes que com mulheres e todas (100%) ocorreram em relações
transacionais, em pedidos de objeto, já que nesse tipo de relação (prestação de
serviço) o pedido pode ser ritualizado, feito com referência somente ao objeto
que o falante deseja e que o ouvinte detém.
Nos pedidos com frases nominais atenuados, verificamos que todas as
formulações ocorreram direcionadas a homens e em relações pessoais. Trata-
se de uma situação constrangedora de pedido de mudança de comportamento
em que a atenuação aparece para reduzir a força ilocutiva do ato. As
estratégias de atenuação mais freqüente foram os marcadores conversacionais
que ocorreram antepostos ao pedido como forma de prepará-lo, já que se trata
de uma recriminação que aumenta a força ilocutiva do ato e as formas de
tratamento nominais que também aparecem como preparatório para minimizar
a força ilocutiva do pedido.
Nos pedidos com estratégias de intensificação houve uma maior frequência
dessa formulação direcionadas a mulheres em pedidos de mudança de
comportamento, todas em relações pessoais, o que reforça o ethos de
confiança. Observamos que em todas as sequências conversacionais com
mulheres a intensificação aparece com tom de apreciação negativa, o que
reforça a imagem de autonomia. As estratégias de intensificação que
ocorreram foram os marcadores conversacionais que apareceram com maior
frequência para aumentar a força ilocutiva do pedido e a forma de tratamento
nominal que apareceu anteposta ao pedido, sua anteposição com tom
intensificado sinaliza ao ouvinte o tom do pedido, o que aumenta sua força
ilocutiva.
3.5 OUTROS TEMPOS VERBAIS
Verificamos em nosso corpus um total de 12 formulações de pedidos com outras
formas verbais (condicional, futuro composto e presente do subjuntivo, pretérito perfeito e
imperfeito). Por apresentarem uma baixa frequência de formulações, realizamos uma análise
qualitativa dos dados, no entanto seguem abaixo informações quantitativas de como
sucederam essas formulações com recursos de atenuação e intensificação, tendo como fatores
de variação o gênero e a relação funcional dos interlocutores.
Tabela 53: Total de 12 formulações de pedidos com outras formas verbais, divididas por gênero.
GÊNERO PEDIDOS COM OUTROS PEDIDOS SEM OUTROS TOTAL DOS PEDIDOS
HOMEM 02 (3%) 72 (97%) 74 (100%)
MULHER 10 (9%) 100 (91%) 110 (100%)
TOTAL 12 172 184
Tabela 54: Total de 12 formulações de pedidos com outras formas verbais, divididas por relações funcionais.
RELAÇÃO FUNCIONAL PEDIDOS COM OUTROS PEDIDOS SEM OUTROS TOTAL DOS PEDIDOS
PESSOAL 11 (7%) 140 (93%) 151 (100%)
TRANSACIONAL 01 (3%) 32 (97%) 33 (100%)
TOTAL 12 172 184
Tabela 55: Total de 12 formulações de pedidos classificados por estratégias de atenuação, intensificação e sem
estratégias de atenuação e intensificação.
ESTRATÉGIAS TOTAL DOS PEDIDOS TOTAL DOS PEDIDOS COM OUTROS
ZERO 93 (51%) 08 (66%)
ATENUAÇÃO 65 (35%) 02 (17%)
INTENSIFICAÇÃO 26 (14%) 02 (17%)
TOTAL DOS PEDIDOS 184 (100%) 12 (100%)
A seguir seguem as análises qualitativas dessas outras formas verbais, que serão
analisadas em dois grupos diferentes. Agrupamos na análise as formas condicionais por
apresentarem um valor de posterioridade ou probabilidade, e as formas em pretérito por
representarem uma anterioridade de tempo verbal.
3.5.1 CONDICIONAL, FUTURO COMPOSTO E PRESENTE DO SUBJUNTIVO
Optamos pela análise dessas três categorias em conjunto, porque elas têm um valor de
posterioridade ou probabilidade, sendo de considerável relevância que sejam analisadas
juntas. Verificamos em nosso corpus um total de 10 ocorrências de formulações de pedidos
com condicional, presente do subjuntivo e futuro simples e composto, ou seja, juntas elas
representam 6% do total dos pedidos. A seguir na tabela 49 apresentaremos o repertório
dessas formulações.
Tabela 56: Total de 10 formulações de pedidos com condicional, futuro composto e presente do subjuntivo
FORMAS DE TRATAMENTO IMPERATIVO AFIRMATIVO IMPERATIVO NEGATIVO TOTAL
YO 05 (45%) - 05(45%)
NOSOTROS 05 (55%) - 05(55%)
TOTAL 10 (100%) - 10(100%)
Tabela 57: Total de10 Formulações de pedidos condicional, futuro e composto e presente do subjuntivo com
encontrados em nosso corpus
FORMAS DE
TRATAMENTO
ENUNCIADOS AFIRMATIVOS ENUNCIADOS NEGATIVOS TOTAL
YO Me gustaría... (3)
El puerco me vendría muy bien (1)
Te voy a pagar como cualquier cliente (1)
- 05(45%)
NOSOTROS Es urgente que hablemos (1)
Vamos a arreglarnos (1)
Vamos a regar... (1)
... y a darle una vuelta (1)
Vamos a quitar (1)
- 05(55%)
TOTAL 10 (100%) - 10(100%)
Todas as formulações de pedidos com condicional, futuro composto e presente do
subjuntivo ocorreram com enunciados afirmativos e todas em primeira pessoa tanto singular
quanto plural. Vemos que a maioria das formulações com primeira pessoa do singular foram
para pedido de objeto, em que o falante demonstra o desejo da execução da ação em
benefício dele próprio, nesse caso houve uma preferência pelo uso da condicional, já as
formulações em primeira pessoa plural foram para pedido de ação, o falante se coloca junto
com o ouvinte na execução da ação, nesse caso houve uma preferência pelo uso da futuro
composto. A seguir faremos uma análise qualitativa dessas formulações demonstrando os
contextos favorecedores e inibidores desse repertório de formulações com condicional,
presente do subjuntivo e futuro composto, considerando os procedimentos de atenuação e
intensificação, tendo como fatores de variação o gênero e a relação funcional dos
interlocutores.
Nas formulações com condicional que encontramos há uma demonstração por parte do
falante em deixar claro seu desejo com a elaboração do enunciado, de acordo com Orozco
(2010), independente da forma verbal empregada o falante realiza o pedido priorizando a sua
demanda e não levando em consideração a habilidade do ouvinte. Sendo assim, esse tipo de
formulação pode ameaçar a imagem de afiliação do falante, já que está centrada no falante, o
que pode explicar sua baixa frequência nas formulações de pedido.
(96) Raimunda – Regina: “El puerco me vendría muy bien, te la compro”
(97) Raimunda – Sole: “Es que Paco viene esta noche a casa, quiere que hablemos, me gustaría estar sola”
(98) Rebeca – Becky: “Si no te importa me gustaría verte y abrazarte y decirte que te quiero, es que todavía
estamos a tiempo te adoro como siempre, tu pequeña Rebeca”
(99) Rebeca – Becky: “Nadie te está culpando y me gustaría que te limitaras a hablar con el señor juez, es
él que te está interrogando no yo.”
Vemos que todas as formulações com condicional foram direcionadas a mulheres em
relações funcionais pessoais, a relação simétrica e próxima pode favorecer esse tipo de
formulação, assim como o tipo de pedido. No exemplo (96), vemos um pedido de objeto em
que Raimunda demonstra que o objeto é muito importante para ela, nos exemplos (97) e (98),
que são pedidos de ação, as formulações apareceram atenuadas com justificativas antepostas
e pospostas, o que diminui o grau de imposição do ato, talvez porque esse tipo de pedido em
determinadas situações podem apresentar grande possibilidade de rejeição ou ainda podem
apresentar uma ameaça muito grande à imagem de afiliação do falante. No exemplo (99), há
um pedido de mudança de comportamento em que Rebeca demonstra que não deseja que
Becky lhe dirija a palavra, essa recriminação é intensificada com a justificativa posposta que
reforça o desejo do pedido.
Nas formulações com futuro composto encontramos em 03 casos (de 04 no total), em
que o falante se coloca junto ao ouvinte na execução da ação, o que pode diminuir o grau de
imposição do pedido.
(100) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales, luego preparamos el
equipaje.”
(101) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales, luego preparamos el
equipaje.”
(102) Raimunda – Paula: “Ahora vamos a arreglarnos ¿qué ganamos quedandonos aquí?”
(103) Raimunda – Regina: “No, pero te voy a pagar como cualquier cliente”
Nas formulações com futuro composto, verificamos que assim como nas condicionais,
todas elas foram direcionadas a mulheres em relações funcionais pessoais, o que sugere que
relações simétricas e próximas favorecem esse tipo de formulação em pedidos de ação. Nos
exemplos (100), (101) e (102), o falante executa a ação do pedido junto com seu destinatário,
o que pode preservar sua imagem de afiliação. No exemplo (103), o uso do futuro composto
aparece no pedido objeto como forma de compromisso com o destinatário, a fim de deixar o
pedido menos recusável, já que o seu custo é alto.
Verificamos que a formulação com presente do subjuntivo pode aparecer como forma
menos impositiva de pedido, sendo assim o falante pode utilizar uma estratégia de
intensificação para aumentar a força ilocutiva a fim de demonstrar no enunciado sua
necessidade e urgência do pedido.
(104) Pepa – Iván: “Iván, es urgente que hablemos de ello antes de irte de viaje.”
No exemplo (104), trata-se de uma relação simétrica e próxima de casal, porém
conflituosa, a formulação de pedido de ação poderia adquirir um tom menos impositivo com
a utilização do presente do subjuntivo, mas poderia frustrar o objetivo do falante em ter seu
desejo atendido, sendo assim Pepa o intensifica com a forma de tratamento nominal (Iván).
A seguir analisaremos as formulações de pedidos com pretéritos.
3.5.2 PRETÉRITOS
Levantamos dados de formulações de pedidos tanto com pretérito perfeito quanto
imperfeito, porém analisaremos estes casos em conjunto por considerar que essas categorias
representam uma anterioridade de tempo verbal. Verificamos em nosso corpus um total de 02
ocorrências de formulações de pedidos com pretéritos, 1% do total dos pedidos. A seguir na
tabela 46 apresentaremos o repertório dessas formulações.
Tabela 58: Total de 02 formulações de pedidos com pretéritos
FORMAS DE TRATAMENTO IMPERATIVO AFIRMATIVO IMPERATIVO NEGATIVO TOTAL
YO 02 (100%) - 02(100%)
TOTAL 02 (100%) - 02(100%)
Tabela 59: Total de 02 Formulações de pedidos com pretéritos encontrados em nosso corpus
FORMAS DE
TRATAMENTO
ENUNCIADOS AFIRMATIVOS
ENUNCIADOS NEGATIVOS
TOTAL
YO Trabajé toda la tarde (1)
Necesitaba una furgoneta (1)
- 02(100%)
TOTAL 02 (100%) - 02(100%)
Todas as formulações de pedidos com pretéritos ocorreram com enunciados afirmativos
e em primeira pessoa, a ação foi centralizada no falante, o que diminui o tom impositivo do
ato, Chodowroska-Pilch (1998, apud Orozco, 2010) diz que estas estruturas têm um alto grau
de codificação para marcar a polidez, sendo assim, o uso desse tipo de formulação pode
caracterizar a preservação da imagem de afiliação. A seguir analisaremos os contextos
favorecedores e inibidores desse repertório de formulações com pretéritos, tendo como fatores
de variação o gênero e a relação funcional dos interlocutores.
(105) Raimunda – vendedor: “Necesitaba una furgoneta de alquiler.”
(106) Raimunda – Sole: “Sole, tengo un montón de ropa por planchar y trabajé toda la tarde en el aeropuerto.”
No exemplo (105), trata-se de uma sequência conversacional direcionada a homem em
relação transacional, ou seja, relação assimétrica e distante, levando em consideração o que
foi afirmado por Chodowroska-Pilch (1998, apud Orozco, 2010) sobre a codificação desse
tipo de formulação para marcar a polidez, pode-se dizer que esse tipo de relação favoreça a
elaboração do pedido de objeto dessa maneira como forma de preservar a imagem de
afiliação. Já no exemplo (106), há o uso do pretérito em forma de justificativa, como um
pedido de ação para a não continuidade da interação, ou seja, esse tipo de formulação ocorreu
como forma atenuada para uma rejeição ao ouvinte.
Em síntese:
Vemos que todas as formulações com condicional foram em relação simétrica
e próxima e todas direcionadas a mulheres com pedido de objeto e pedidos de
ação atenuados com justificativas antepostas e pospostas, o que diminui o grau
de imposição do ato, talvez porque esse tipo de pedido em determinadas
situações podem apresentar grande possibilidade de rejeição ou ainda podem
apresentar uma ameaça muito grande à imagem de afiliação do falante.
Nas formulações com futuro composto, verificamos que assim como nas
condicionais, todas elas foram direcionadas a mulheres em relações funcionais
pessoais, o que sugere que relações simétricas e próximas favoreçam esse tipo
de formulação em pedidos de ação, verificamos também que com esse tipo de
formulação o falante executa a ação do pedido junto com o ouvinte, o que pode
preservar sua imagem de afiliação.
Na formulação com presente do subjuntivo, verifica-se a preferência por uma
formulação menos impositiva, para preservar a imagem de afiliação do falante,
pois se trata de uma relação simétrica e próxima, porém conflituosa e uma
formulação de pedido de ação com um tom mais impositivo poderia frustrar o
objetivo do falante em ter seu desejo atendido.
Todas as formulações de pedidos com pretéritos foram direcionadas a homem
e mulher em relações pessoais e transacionais e ocorreram com enunciados
afirmativos e em primeira pessoa, a ação foi centralizada no falante, o que
diminui o tom impositivo do ato, Chodowroska-Pilch (1998, apud Orozco,
2010) diz que estas estruturas têm um alto grau de codificação para marcar a
polidez, sendo assim, o uso desse tipo de formulação pode caracterizar a
preservação da imagem de afiliação.
CONCLUSÃO
O resultado da análise nos dá pistas importantes sobre as formulações de pedidos em
espanhol, especificamente o espanhol peninsular, observamos que nos pedidos há uma
tendência muito grande em elaborá-los com o uso da forma verbal em imperativo, o que
confirma estudos anteriores que dizem que a sociedade espanhola peninsular tende a ser mais
direta como forma de reforçar seus laços sociais, construindo um ethos de confiança,
observamos também que houve maior utilização de recursos atenuadores nos pedidos de ação
quando estes apresentam um alto custo para o interlocutor e nos pedidos de mudança de
comportamento, principalmente quando direcionados a mulheres o que pode sugerir que
interlocutores do mesmo sexo favoreçam um maior esforço de preservação de face com a
minimização da força ilocutiva do ato com esse tipo de pedido. Nas relações transacionais
houve maior frequência de pedidos de objeto, o que já se esperava pela situação de prestação
de serviço que geralmente existe nesse tipo de relação, as formulações mais frequentes para
esse tipo de pedido foram as mais indiretas, pois algumas atenuam o grau de imposição do
pedido e outras já estão ritualizadas nesse tipo de relação. No que diz respeito às
intensificações, verificamos que os pedidos de ação e de mudança de comportamento também
foram intensificados, principalmente em relações pessoais de mais poder para menos poder
(relações assimétricas), o que demonstra que nesse tipo de relação a intensificação do pedido
surge para reforçar a força ilocutiva do ato e marcar as relações de poder e a imagem de
autonomia. Tais atitudes podem confirmar que cada sociedade demonstra seu ethos através
de seu comportamento linguístico e de como estabelece suas relações interpessoais, que pode
ser representado pela formulação de atos de fala. A maneira como se produz esses atos dentro
de determinados contextos comunicativos é muito relevante para afirmar o ethos de uma
sociedade.
Neste trabalho tivemos as seguintes hipóteses:
Os atos de pedidos e seus contextos de interação podem dar-nos pistas do perfil
comunicativo, isto é, do ethos feminino espanhol, que acreditamos ser o ethos de
confiança, já que esse tipo de ato tende a caracterizar as relações com maior
aproximação interpessoal.
A preferência da sociedade espanhola peninsular pela diretividade nas formulações de
pedidos, o que reforça a hipótese do ethos de confiança.
A atenuação ocorre para minimizar a força ilocutiva do pedido que tenha um alto
custo para o interlocutor, e a intensificação aparece para intensificar a força ilocutiva
do pedido, principalmente em relações de + poder para – poder, o que reforça a
imagem de autonomia do falante.
A partir desse estudo podemos ter pistas de que na sociedade espanhola peninsular há
uma tolerância pela diretividade corroborando alguns estudos que afirmam que o ethos da
sociedade espanhola peninsular é voltado para a valorização da imagem de afiliação, há uma
preferência por um ethos de proximidade, o que seria uma demonstração de confiança e de
fortalecimento dos laços de amizade e familiaridade, preservando assim esse tipo de imagem.
Verifica-se ainda nesse trabalho a contrariedade de conceitos estabelecidos por alguns
teóricos, principalmente aos conceitos de Brown e Levinson sobre face positiva e negativa
defendida pelos autores, pois essas categorias não incorporam significados de como deve ser
especificamente a imagem social. Verificamos que um indivíduo deseja ver-se e ser visto
como parte do grupo (afiliação), o que o converte em algo dependente de um contexto
sociocultural.
Apesar de todas as análises serem feitas a partir de discursos ficcionais, pode-se
considerar tais resultados pertinentes, pois embora sejam encenações há elementos que
remetem a um discurso voltado para a realidade das práticas lingüísticas quotidianas (Quaglio,
2009). Segundo Richardson (2010) os diálogos audiovisuais são mediados e
representacionais , sendo que para Iglesias Recuero (2002) o texto dramático evoca a
oralidade e apresenta uma imediatez comunicativa, há um destinatário cujo emissor lhe dirige
palavras que costumam ser elaboradas a partir de seu comportamento ou por algum elemento
do contexto de situação compartilhada, e que são emitidos com a intenção de provocar uma
reação nesse destinatário. E ainda, segundo Maingueneau (1996) os seres ficcionais assumem
posições simbólicas de sujeitos comunicantes que acionam sujeitos enunciadores para atingir
sujeitos interpretantes.
Dessa maneira acreditamos que essa pesquisa poderá colaborar para os trabalhos
voltados aos estudos da linguagem e aos estudos interculturais, pois demonstra a manifestação
de um perfil comunicativo de personagens fílmicos que podem dar pistas sobre o perfil
comunicativo da sociedade espanhola peninsular a partir da elaboração de determinados atos
de fala e a preferência por alguns recursos estratégicos.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBELDA MARCO, Marta. El refuerzo de la imagen social en conversaciones coloquiales
en español peninsular. In: Estudios de la (des)cortesia em español. Buenos Aires, Dunken,
2005
ALVES, Carla Aires. Aspectos da ilocução na integração verbal em contexto pedagógico. In:
Revista portuguesa de educação, vol. 15, nº 001. Universidade do Minho, Braga, Portugal,
2002.
ALVES, Carolina Assunção e. Narradores de Javé: uma análise semiolinguística do
discurso fílmico. Dissertação de mestrado, UFMG, Belo Horizonte, 2006.
AMOSSY, Ruth. Imagens de si no discurso: a construção do ethos, São Paulo, Contexto,
2005.
ARNDT, Horst & JANNEY, Richard W. Politeness revisited: cross-modal supportive
strategies. In: IRAL: International Review of applied linguistics in language teaching, vol.
23, págs.: 281-300. Disponível em:
www.reference- global.com/doi/abs/10.1515/iral.1985.23.1-4. Acesso em: 04 nov. 2009.
AUSTIN, John L. How to do things with words. Harvard University Press, 1975.
BLUM-KULKA, S., House, J. & Kasper, G. (eds.). Cross-cultural pragmatics: Requests
and apologies. Norwood: Ablex, 1989.
BORETTI, Susana H. Cortesía, imagen social y contextos socioculturales en la variedad del
español de Rosario, Argentina. In: Actas del primer coloquio del programa EDICE,
Universidad de Estocolmo, 2002. Disponível em: www.edice.org. Acesso em: 02 nov. 2009.
BRANT, A. Retratos do feminino. Mulher de película – o feminino no cinema, Minas
Gerais, vol. 1, n. 1, jun. 2009. Disponível em:
www.fafich.ufmg/mulherdepelicula/revista. Acesso em: 13 nov. 2009.
BRAVO, Diana. Estudios de la (des)cortesía en español. Buenos Aires, Dunken, 2005.
BRAVO, Diana & BRIZ, Antonio. Pragmática sociocultural: estudios sobre el discurso
de cortesía en español. Barcelona, Ariel, 2004.
BRIZ, Antonio. La conversación coloquial. In: El español coloquial en la conversación.
Barcelona, Ariel, 1998.
BRIZ, Antonio. Eficacia, imagen social e imagem de cortesia. In: Estudios de la
(des)cortesia em español. Buenos Aires, Dunken, 2005
BROWN, Penelope & LEVINSON, Stephen. Politeness: some Universals in Language
Usage. In: Questions and Politeness, strategies in Social Interaction. Cambridge, Cambridge
University Press, 1987.
CULPEPER, J. BOUSFIELD, D.; WICHMANN, A. Impoliteness revisited: with special
reference to dynamic and prosodic aspects. Journal of Pragmatics 35 (10 – 11): 1545 –
1579, 2003.
DE SALTO ALTO. Tacones lejanos. Direção de: Pedro Almodóvar. El deseo S.A. e Ciby
2000. Espanha. 1991. Top tape. VHS (113 min.), colorido.
ESCANDELL VIDAL, M. Victoria. Introducción a la pragmática. Barcelona, Ariel, 1996.
______ . Politeness: A relevant issue for relevance theory. Revista Alicantina de estudios
ingleses 11, Madrid, UNED, 1995. Disponível em: www.edice.org. Acesso em: 15 out.
2009.
______ . Cortesía, fórmulas convencionales y estratégicas indirectas. Revista española de
Lingüística, 25, 1, 1995. Disponível em: www.edice.org. Acesso em: 15 out. 2009
EVANS, Peter William. Mulheres a beira de um ataque de nervos, Rio de Janeiro, Rocco,
1999.
GALLARDO PAÚLS, Beatriz. Comentario de textos conversacionales: de la teoría al
comentario. Madrid, Arco libros, 1998.
GOFFMAN, Erving. Interaction ritual. Essays on Face to face. Nova York, Anchor/
Doubleday, 1967.
GRICE, Paul. Logic and Conversation. In: Studies in the way of words. Cambridge, Harvard
University Press, 1989.
HAUGH, Michael. The discursive challenge to politeness research: An interactional
alternative. Journal of Politeness Research. Language, behavior, culture. Mouton de
Gruyter vol. 2. n 2, jul. 2006.
HAVERKATE, Henk. El análisis de la cortesía comunicativa: categorización
pragmalinguística de la cultura española. In: Actas del primer coloquio del programa
EDICE, 2002, Universidad de Estocolmo. Disponível em: www.edice.org. Acesso em: 19
fev. 2011.
HERNÁNDEZ FLORES, N. Cortesia y contextos socioculturales en la conversación española
de familiares y amigos. In: Actas del primer coloquio del programa EDICE, 2002,
Universidad de Estocolmo. Disponível em: www.edice.org. Acesso em: 02 nov. 2009.
IGLESIAS RECUERO, Silvia. Oralidad, diálogo y contexto en la lírica tradicional.
Madrid, Visor libros, 2002.
KERBRAT-ORECCHIONI, Catherine. Les interactions verbales. Paris: Éditions Armand
Colin ,1994.
______. Os atos de linguagem no discurso. Niterói, ed. UFF, 2005.
______. Análise da conversação: princípios e métodos. São Paulo, parábola editorial,
2006.
LAKOFF, R. Tolmach. The limits of politeness: therapeutic and courtroom discourse.
Multilingua – Journal of cross-cultural and interlanguage comunication, Mouton de
Gruyter, vol. 8 n. 2, p. 101-129, 1989.
LEVINSON, Stephen. Pragmática. São Paulo, Matins Fontes, 2007.
MAINGUENEAU, D. Pragmática para o discurso literário. São Paulo, Martins
Fontes,1996.
MARIANO, L. Da margem ao centro. Mulher de película – o feminino no cinema, Minas
Gerais, vol. 1, n. 1, jun. 2009. Disponível em:
www.fafich.ufmg/mulherdepelicula/revista. Acesso em: 13 nov. 2009.
MARQUEZ REITER, Rosina. A contrastive study of indirecteness in Spanish: evidence from
Uruguayan and peninsular Spanish. Pragmatics. Vol. 12 n2, Wilrijk, IPra, 2002.
MARTINS, C. A. Indeterminação do significado nos estudos sócio-pragmáticos:
Divergências teórico-metodológicas. D.E.L.T.A. Vol 18 n1, São Paulo, EDUC, 2002.
METZ, Christian. A significação no cinema. São Paulo, Perspectiva, 2010.
MILLS, Sara. Gender and politeness. Cambridge, Cambridge University Press, 2003.
MONTEIRO, Flavia A. Agradecimentos e Desculpas em português brasileiro e em
espanhol: um estudo comparado de polidez a partir de roteiros cinematográficos
contemporâneos. Dissertação de mestrado em Língua Espanhola – Curso de Pósgraduação
em Letras Neolatinas, Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdades de Letras, 2008.
MORENO FERNÁNDEZ, F. Interacción comunicativa y cortesía. In: Principios de
sociolingüística y sociología del lenguaje. Barcelona, Ariel, 1998.
MORISAKI, S. E GUDYKUNST,W. Face in Japan and the United States. In: Ting-Toomey
,Stella (Ed),The Challenge of facework, New York, State Uniersity of New York press, p. 47-
93, 1994.
MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS. Mujeres al borde de un ataque de
nervios. Direção de: Pedro Almodóvar. El deseo S.A. Espanha. 1988. Manaus: Videolar
S.A., 2002. DVD (89 min.), colorido.
OLIVEIRA, M.do C.L. Polidez, uma estratégia de dissimulação. Análise de cartas de
pedido de empresas brasileiras. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: PUC, 1992.
__________. A organização de preferência em cartas de pedido de empresas estatais
brasileiras. In: Revista de Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada.
D.E.L.T.A. Vol. 12 – n 2, São Paulo, Educ, 1996.
OROZCO, María Leonor. Estudio sociolinguístico de la cortesia em tratamientos y
peticiones. Datos de Guadalajara. Tese de doutorado em Linguística, Cidade do México,
Colegio Del México, 2010.
PACHECO, R. F. O ato de discordância em contexto argumentativo do espanhol,
dissertação de mestardo, PUC, Rio de Janeiro, 2008.
POMERANTZ, A. Agreeing and disgreeing with assessments: some features of preferred /
dispreferred turn shapes. In: ATKINSON and HERITAGE (ed.). Structures social action,
Cambridge University Press, 1984.
POMERANTZ, A. & FEHR, B. J. Conversation Analysis: an approach to the study of social
action as sens making practices. In: VAN DIJK (ed). Discource as Social Interaction,
London: Sage, 1999.
PLACENCIA, M. E. & GARCÍA, C. Research on politeness in the Spanish – speaking
world. Lawrence Erlbaum Associates, Nova Jersey, 2007.
QUAGLIO, Paulo. Television dialogue: the sitcom Friends vs. Natural conversation.
John Benjamins publishing company, 2010.
REYES, Graciela. El abecé de la pragmática. Madrid, Arco libros, 1998.
RIBEIRO, Branca Telles. Sociolingüística interacional: antropologia, lingüística e
sociologia em análise do discurso / Organizado por Branca Telles Ribeiro e Pedro M.
Garcez. Porto Alegre, AGE editora, 1998.
RICHARDSON, Kay. Television dramatic dialogue: a sociolinguistic study. Oxford
University Press USA, 2010.
RIGATUSO, Elizabeth M. “¿De vos, de tú, de usted?” Gramática y variación: hacia uma
reinterpretación de los pronombres de tratamiento en español bonaerense. In: Rebollo Couto,
Santos Lopes (org.), editota UFF, 2011, p. 387-410.
RODRIGUES, A. L. Almodóvar e a feminilidade: entrevista. Minas Gerais: Revista
eletrônica mulher de película – o feminino no cinema. Jun. 2009. Disponível em:
www.fafich.ufmg/mulherdepelicula/revista. Acesso em: 13 nov. 2009. Entrevista concedida
a: Mariana Congo.
SEARLE, John R. Os actos de fala. Coimbra, Livraria Almedina, 1984.
______. Expressão e significado: estudo sobre a teoria dos atos de fala. São Paulo,
Martins Fontes, 2002.
SOUZA, Jair de Oliveira. Estratégias de cortesia nos atos de discurso diretivos
impositivos em “locuras de Isidoro. Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, Letras/UFRJ,
2006.
STRAUSS, Frederic. Conversas com Almodóvar, Rio de Janeiro, Zahar, 2008.
TRACY, K. & BARATZ, S. The case for case studies of facework. In: TING-TOOMEY,S.
(ed) The challenge of facework. State University of New York Press, 1994.
TROSBORG, A. Interlanguage pragmatics, Mouton de Gruyter, the hauge, 1995.
VAN DIJK, Teun A. Texto y contexto: semántica y pragmática del discurso. Madrid,
ediciones cátedra, 1980.
VOLVER. Direção de: Pedro Almodóvar. El deseo S.A. Espanha. 2006. Manaus: videolar,
2007. DVD (121 min.), colorido.
WIERZBICKA, A. Different cultures, different languages, different speech acts: polish vs.
English. Journal of Pragmatics 9, p. 145-178, 1985.
XIE. Ofer. Controversies about politeness. In: Marcelo Dascal & Han-liang Chang.
Traditions of Controversy. Amsterdam/Philadelphia, John Benjamins, 2007.
YULE, George. Pragmatics, Oxford, University Press, 1996.
ANEXOS:
110 PEDIDOS dirigidos a mulheres:
Relação
funcional
Imperativo Presente Interrogativo Frase nominal Futuro Condicional Pretérito perfeito
Pessoal 67 16 08 03 05 04 01
Transacional 02 01 03
TOTAL 69 17 11 03 05 04 01
IMPERATIVO: 69 pedidos
Relação funcional pessoal:
(1) Pepa – Candela: “Pues ahora me lo cuentas/ vete preparando el café.”
(2) Pepa – Candela: “Candela sírveles un poco de café.”
(3) Pepa – Candela: “Tranquilízate Candela/ ven/ paca.”
(4) Pepa – Candela: “Tranquilízate Candela/ ven/ paca.”
(5) Pepa – Candela: “Sí/ pues léete las instrucciones/ hija.”
(6) Pepa – Candela: “Candela/ tráeme algo de beber.”
(7) Pepa – Candela: “Candela/ no seas borde// están en mi casa.”
(8) Pepa – Candela: “Candela/ deja de comportarte como una niña frente a los señores policías.”
(9) Pepa – Candela: “Salgo en este momento// llámame después.”
(10) Pepa – Candela: “Espera/ hija que no será tan urgente.”
(11) Pepa – Candela: “Procura no perderlo de nuevo/ no tengo zapatos de tu número.”
(12) Pepa – Candela: “Sí/// prepárate que nos vamos de viaje.”
(13) Pepa – Candela: “Anda entra// Que he estado fuera toda la noche.”
(14) Pepa – Lucía: “Deja de apuntarme.”
(15) Pepa – Lucía: “Por favor señora/ no me grite que acabo de sufrir un desmayo.”
(16) Pepa – Lucía: “Oye/ te callas o te doy dos bofetadas ¿eh?/ Venga/ ¡disimula!”
(17) Pepa – Lucía: “Váyase a la mierda usted también, pero digale que me llame”
(18) Rebeca –Becky: “Ven vamos a quitarnos del medio.”
(19) Rebeca –Becky: “enséñame tú.”
(20) Rebeca –Becky: “No digas tonterías/ no fuiste la única”
(21) Rebeca – Becky: “Mamá/ deja de montármelas/...
(22) Rebeca –Becky: ... deja de montarmelas”
(23) Rebeca –Becky: “Mamá/ ya estoy en la calle/ perdoname por la escena de ayer”
(24) Rebeca –Becky: “No seas morbosa/ mamá”
(25) Rebeca –Becky: “sí no te preocupes mamá te lo contaré todo/...
(26) Rebeca –Becky: ... no te canses”
(27) Raimunda – Paula: “Dale un beso”
(28) Raimunda – Paula: “vete a cambiar que te va a coger una pulmonía”
(29) Raimunda – Paula: “No lo cojas/ será una de tus amigas...
(30) Raimunda – Paula: ... cójalo... (00:20:15)
(31) Raimunda – Paula:... y dile que no puedes hablar/ que no son horas de llamar”
(32) Raimunda – Paula: “Dile que estoy ocupada”
(33) Raimunda – Paula: “si te pregunta algo de Paco/ tú no sabes nada”
(34) Raimunda – Paula: “Sube tú/ que yo tengo prisa...
(35) Raimunda – Paula: ... dale eso a tu tia”
(36) Raimunda – Paula: “Anda/ cariño/ dame un vaso de água”
(37) Raimunda – Paula: “anda/ no seas perezosa chiquitita que yo te ayudo” (38) Raimunda – Paula: “Échale piedras al jarrón/ que cae/ Paula”
(39) Raimunda – Paula: “Sí/// vuelve a tu habitación/ Paula”
(40) Raimunda – Paula: “Paula/ vete arreglando que en media hora empezará a llegar la gente”
(41) Raimunda – Paula: “Paula/ cuelga ese teléfono ahora mismo”
(42) Raimunda – Paula: “Sé cariñosa con la tía ¿eh?...
(43) Raimunda – Paula: ... no te rías en su cara”
(44) Raimunda – Paula: “Anda/ ponte bien...
(45) Raimunda – Paula: ... cierra esa pierna/ coño”
(46) Raimunda – Sole: “No empieces a dar la prisa”
(47) Raimunda – Sole: “Pues/ diles que me acaban de operarla vesícola/ cualquier cosa/ mira iré cuanto
antes/ pero hoy me es remotamente imposible”
(48) Raimunda – Sole: “Ven/ tómate un ansieldítico/ yo me voy a tomar otro también/ y mañana por la
mañana te vas/ ¿vale?”
(49) Raimunda – Sole: “quedatela/ yo voy a hacer unos recalces y cuando termine vuelvo cuando pueda/
¿eh?
(50) Raimunda – Sole: “dame un vaso de água”
(51) Raimunda – Sole: “Sole/ asómate”
(52) Raimunda – Sole: “Sole/ no empieces// voy a ver quien es/... (53) Raimunda – Sole e Paula:... quiten el plato y los cubiertos de mamá” (54) Raimunda – Sole: “Sole/ mírame/// ¿hay más cosas que yo debería saber?”
(55) Raimunda – Regina: “ponte algo cómodo/ te espero en la terraza”
(56) Raimunda – Regina: “Descansa un rato/ que echo la tierra” (57) Raimunda – Regina: “tú eres la experta en transporte/ dime donde”
(58) Raimunda – Regina: “De aquí no veo/ ¿eh?/ dinos tu”
(59) Raimunda – Inés: “cómete dos/ tres/ cuatro/ pero...
(60) Raimunda Inés: ... no te atraques/ que te conozco...
(61) Raimunda – Inés: ... anda/ traémelos a casa/ ¡cariño!”
(62) Raimunda – Agustina: “Dime en qué hospital estás que yo me paso ahí hoy mismo”
(63) Raimunda – Agustina: “Dile a tu hermana que no me gusta la televisión”
(64) Raimunda – Agustina: “Pasa...
(65) Raimunda – Agustina: ... no te quedes ahí”
(66) Raimunda – Agustina: “pero no me preguntes disparates”
(67) Raimunda – Agustina: “Siéntate/ mujer”
Relação funcional transacional:
(68) Pepa – Paulina: “No se preocupe la entretendré sólo unos minutos.”
(69) Pepa - recepcionista: “¿Me pones con este número, por favor?”
Recepcionista- Pepa: “No tienes derecho a hacer esto”
Pepa – recepcionista: “No importa, márcamelo.”
Quadro 1:
Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:
A: pessoal
1- Pepa – Candela: “Pues ahora me lo cuentas/ vete preparando el café.”
14- Pepa – Lucía: “Deja de apuntarme.”
18- Rebeca –Becky: “Ven vamos a quitarnos del medio.”
19- Rebeca –Becky: “enséñame tú.”
20- Rebeca –Becky: “No digas tonterías/ no fuiste la única”
22- Rebeca –Becky: ... deja de montarmelas”
26- Rebeca –Becky: ... no te canses”
27- Raimunda – Paula: “Dale un beso”
28- Raimunda – Paula: “vete a cambiar que te va a coger una pulmonía” (00:20:15)
29- Raimunda – Paula: “No lo cojas/ será una de tus amigas...
30- Raimunda – Paula: ... cójalo...
31- Raimunda – Paula:... y dile que no puedes hablar/ que no son horas de llamar”
32- Raimunda – Paula: “Dile que estoy ocupada”
33- Raimunda – Paula: “si te pregunta algo de Paco/ tú no sabes nada”
34- Raimunda – Paula: “Sube tú/ que yo tengo prisa...
35- Raimunda – Paula: ... dale eso a tu tia”
43- Raimunda – Paula: ... no te rías en su cara”
46- Raimunda – Sole: “No empieces a dar la prisa”
50- Raimunda – Sole: “dame un vaso de água”
53- Raimunda – Sole e Paula:... quiten el plato y los cubiertos de mamá” 55- Raimunda – Regina: “ponte algo cómodo/ te espero en la terraza”
56- Raimunda – Regina: “Descansa un rato/ que echo la tierra” 57-Raimunda – Regina: “tú eres la experta en transporte/ dime donde”
59- Raimunda – Inés: “cómete dos/ tres/ cuatro/ pero...
60- Raimunda Inés: ... no te atraques/ que te conozco...
62- Raimunda – Agustina: “Dime en qué hospital estás que yo me paso ahí hoy mismo”
63- Raimunda – Agustina: “Dile a tu hermana que no me gusta la televisión”
64- Raimunda – Agustina: “Pasa...
65- Raimunda – Agustina: ... no te quedes ahí”
66- Raimunda – Agustina: “pero no me preguntes disparates”
............................................................................................................................................... ...........
B: transacional
69- Pepa – recepcionista: “No importa, márcamelo.”
Quadro 2:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Formas de tratamento
nominais
A: pessoal
1- “Candela”
2- “Candela”
5- “Hija”
6- “Candela”
10- “hija”
21- “mamá”
23- “mamá”
24 - “Mamá”
25- “mamá”
36- “cariño dame un vaso de
água”
37-“anda/ no seas perezosa
chiquitita que yo te ayudo”
50-“ Sole/ asómate”
60-“anda/ traémelos a
casa/¡cariño!”
66- “Siéntate/Mujer”
7- “Candela”
8- “Candela”
38- “Échale piedras al jarrón/
que cae/ Paula”
39-“vuelve a tu habitación
Paula”
40- “Paula vete arreglando que
en media hora empezará a llegar
la gente “
41 – “Paula/ cuelga ese teléfono
ahora mismo”
51-“ Sole/ no empieces// voy a
ver quien es/...”
53-“ Sole/ mírame”
B: transacional
15-“señora”
Justificativas
A: pessoal
9- “Salgo en este momento”
10- “que no será tan urgente”
11- “no tengo zapatos de tu número”
12- “que nos vamos de viaje”
13- “Que he estado fuera toda la
noche”
15- “que acabo de sufrir un
desmayo”
28- ““vete a cambiar que te va a
coger una pulmonía”
34- “Sube tú/ que yo tengo prisa...”
49- “quedatela yo voy a hacer unos
recalces y cuando termine vuelvo
cuando pueda”
56-“ tú eres la experta en transporte/
dime donde”
40- “Paula/ vete arreglando que
en media hora empezará a llegar
la gente”
B: transacional 68- “la entretendré sólo unos
minutos”
Marcadores 15- “Por favor”
34- “Anda traémelos a casa/¡cariño”
13- “Anda”
42- Sé cariñosa con la tía¿eh?...
conversacionais
A: pessoal
36- “Anda dame un vaso de água”
37- “Anda no seas perezosa
chiquitita que yo te ayudo”
47- “Pues diles que me acaban de
operarla vesícola/ cualquier cosa/
mira iré cuanto antes/ pero hoy me es
remotamente imposible”
48- “Ven”/ tómate un ansieldítico/
yo me voy a tomar otro también/ y
mañana por la mañana te vas/
¿vale?”
49- quedatela/ yo voy a hacer unos
recalces y cuando termine vuelvo
cuando pueda/¿eh?
44-“ Anda ponte bien...”
Quadro 3:
Atenuadores ou intensificadores Pragmáticos (microatos):
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Insulto
A: pessoal
17- “Váyase a la mierda usted
también”
45- “coño”
Recriminação
A: pessoal
7- “no seas borde”
PRESENTE DO INDICATIVO: 17 pedidos
relação funcional pessoal:
(04) Pepa – Candela: “Oye/ te callas o te doy dos bofetadas ¿eh?/ Venga/
(05) Pepa – Candela: “Bueno/ pues ahora lo hablamos.” (06) Pepa – Candela: “Tú no puedes moverte de aqui.”
(07) Pepa – Lucía: “Perdone que la moleste/Es que tengo que hablar urgentemente con él.” (08) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales/ luego
preparamos el equipaje.” (09) Rebeca – Becky: “Ahora sólo puedes escucharme”
(10) Raimunda – Sole: “Conduzco yo”
(11) Raimunda – Sole: “quiero que me cortes el pelo”
(12) Raimunda – Sole: “Que te dejo la Paula es que tengo que ir al hospital/ Agustina está (( ))/ tiene
câncer” (1:11:38)
(13) Raimunda – Sole: “Sole/ tengo un (( )) de ropa por planchar y trabajé toda la tarde en el
aeropuerto” (00:20:15)
(14) Raimunda _ Regina: “necesito un favor tuyo esta noche”
(15) Raimunda _ Regina: “bueno/ mañana te los doy/ ¡ayuudame mujer!”
(16) Raimunda _ Regina: “Mira/ en el camino te lo explico/ en el momento necesitamos meter (( )) en
la furgoneta” (1:20:31)
(17) Raimunda _ Regina: “yo necesito como un kilo y médio tengo que hacer comida para treinta”
(18) Raimunda – Inés: “me los vende a mí/ que me vienen muy bien”
(19) Raimunda – Sole: Sole/ tengo que planchar la ropa/ llaámame después.
relação funcional transacional:
(20) Pepa - recepcionista: “O me lo marcas tú, o llamo desde la calle. Me están esperando en el
estudio, tú verás” Recepcionista/ Pepa: “Uy sí, sí, sí, perdón, perdón. Servidora está aquí para eso. El café puede
esperar”
Quadro 4:
Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:
Quadro 5:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Marcadores
conversacionais
A: pessoal
3- “Bueno”
12- “bueno/ mañana te los doy/
¡ayuudame mujer!”
13- “Mira/ en el camino te lo explico/ en
el momento necesitamos meter (( )) en la
furgoneta”
1-“Oye”/
1-“¿eh?”
1-venga
Advérbio de modo
A: pessoal
4- “urgentemente”
Justificativa
A: pessoal
9- “Que te dejo la Paula es que tengo que
ir al hospital/ Agustina está (( ))/ tiene
câncer”
14- “yo necesito como un kilo y médio
tengo que hacer comida para treinta”
Forma de
tratamento nominal
4- “Sole/ tengo un (( )) de ropa por
planchar”
16- Sole/ tengo que planchar la ropa/
A: pessoal
1- Pepa – Candela: “Tú no puedes moverte de aqui.”
5- Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales/
luego preparamos el equipaje.” 6- Rebeca – Becky: “Ahora sólo puedes escucharme”
7- Raimunda – Sole: “Conduzco yo”
8- Raimunda – Sole: “quiero que me cortes el pelo”
12- Raimunda _ Regina: “necesito un favor tuyo esta noche”
A: pessoal llaámame después
Quadro 6:
Atenuadores ou intensificadores Pragmáticos (microatos):
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Ameaça
A: pessoal
1- “o te doy dos bofetadas”
B: transacional 6- “tu verás”
Pedido de desculpas
A: pessoal
5- “Perdone que la moleste”
ENUNCIADOS INTERROGATIVOS: 11 pedidos
Relação funcional pessoal:
(1) Raimunda – Sole: “Oye/ ¿Por qué no la acercas?”
(2) Raimunda – Sole: “Sole/¿ te importa que se quede esta noche contigo?”
(3) Raimunda – Inés: “oye/ ¿no te has traído unas morcillas y unos tortillos?”
(4) Raimunda – Inés: “oye/ ¿y dulces?...
(5) Raimunda – Inés:...oye/ ¿no has traído nada?”
(6) Raimunda – Inés : “¿me las puedes vender? / te las pago mañana”
(7) Raimunda – Regina: “tengo que hacer comida para treinta personas// oye/ ¿podrías prestarme
cien euros?”
(8) Raimunda – Regina: “oye/ ¿me podéis ayudar con esto? Lo colocaría yo/ pero no puedo sola”
relação funcional transacional:
(09) Pepa – Paulina: “¿Puedo sentarme?”
(10) Pepa – Paulina: “¿Puedo fumar? Es que tengo unas ganas”
(11) Pepa - recepcionista: “¿Me pones con este número, por favor?”
Quadro 7:
Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:
B: transacional
9- Pepa – Paulina: “¿Puedo sentarme?”
Quadro 8:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Justificativa
A: pessoal
6- 6- te las pago mañana”
7- 7- “tengo que hacer comida para
treinta personas// oye/ ¿podrías
prestarme cien euros?”
8- 8- “oye/ ¿me podéis ayudar con
esto? Lo colocaría yo/ pero no puedo
sola”
Marcador conversacional
A: pessoal
1- “Oye/ ¿Por qué no la acercas?”
3- “oye/ ¿no te has traído unas
morcillas y unos tortillos?”
4- “oye/ ¿y dulces?...
5-oye/ ¿no has traído nada?”
7- oye/ ¿podrías prestarme cien
euros?”
9- 8- “oye/ ¿me podéis ayudar con
esto? Lo colocaría yo/ pero no puedo
sola”
Forma nominal
A: pessoal
2- “Sole/¿ te importa que se quede esta
noche contigo?”
Quadro 9:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Justificativa
B: transacional
10- “Es que tengo unas ganas”
Marcador
conversacional
11-“Por favor”
B: transacional
FRASES NOMINAIS: 03 pedidos
Relação funcional pessoal:
(1) Pepa – Candela: “¡Todos para dentro!/ ¡para dentro/ venga!”
(2) Pepa – Candela: “Tú dentro/ venga.”
(3) Raimunda – Regina: “pero esto/ ni una palabra ¿eh?” (1:20:31)
Quadro 10:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Marcadores
conversacionais
A: pessoal
3- “pero esto/ ni una palabra ¿eh?”
1-“venga”
1- “Todos para dentro”
1- “ para dentro”
2- “venga”
FUTURO: 04 pedidos
Relação funcional pessoal
(1) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales/luego preparamos el
equipaje.”
(2) Pepa – Candela: “Vamos a regar un poco y a darle una vuelta a los animales/ luego preparamos el
equipaje.”
(3) Raimunda – Paula: “ahora vamos a arreglarnos/ ¿qué ganamos quedandonos aquí?”
(4) Raimunda – Regina: “No/ pero te voy a pagar como cualquier cliente”
CONDICIONAL: 04 pedidos
Relação funcional pessoal
(1) Raimunda – Sole: “es que Paco viene esta noche a casa/ quiere que hablemos/ me gustaría estar
sola”
(2) Raimunda – Regina: “el puerco me vendría muy bien/ te la compro”
(3) Rebeca – Becky: “si no te importa me gustaría verte/ y abrazarte y decirte que te quiero/ es que
todavía estamos a tiempo/ te adoro como siempre/ tu pequeña Rebeca”
(4) Rebeca – Becky: “Nadie te está culpando/ y me gustaría que te limitaras a hablar con el señor juez/
es él que te está interrogando no yo”
Quadro 11:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Justificativa
A: pessoal
1- “es que Paco viene esta noche a casa/
quiere que hablemos/ me gustaría estar
sola”
PRETÉRITO PERFEITO: 01 pedido
Relação funcional pessoal
(1) Raimunda – Sole: “Sole/ tengo un montón de ropa por planchar y trabajé toda la tarde en el
aeropuerto”
Quadro 12:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Forma de tratamento nominal
A: pessoal
1- Sole
74 PEDIDOS dirigidos a homens:
Relação
funcional
Imperativo Presente Interrogativo Frase nominal Presente
subj.
Pretérito
imperfeito
Pessoal 31 05 04 05 01
Transacional 13 05 06 03 01
TOTAL 44 10 10 08 01 01
IMPERATIVO: 44 pedidos
Relação funcional pessoal:
(1) Pepa – Iván: “Déjame un recado en el contestador diciéndome donde y cuando// Ahora mismo
me voy a la calle buscarte/ Adiós.”
(2) Pepa – Iván: “Déjame dicho en el contestador donde y cuándo/ adiós.”
(3) Iván – Pepa: “Pepa/ ¿te encuentras bien?”
Pepa – Iván: “Quita.”
(4) Pepa – Carlos: “Échame una mano.”
(5) Pepa – Carlos: “No dejes que se asome a la terraza.”
(6) Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y
voy a deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no
abráis la puerta.”
(7) Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y
voy a deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no
abráis la puerta.”
(8) Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y
voy a deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no
abráis la puerta.”
(9) Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y
voy a deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no
abráis la puerta.”
(10) Pepa – Carlos: “No me mientas tú también.”
(11) Pepa – Carlos: “Y aunque yo pueda ser tu madrasta no me llames de usted.”
(12) Pepa – Carlos: “Ven, acompañame/// Es que éste no funciona y estoy esperando una llamada de
tu padre.”
(13) Pepa – Carlos: “Ven, acompañame/// Es que éste no funciona y estoy esperando una llamada de
tu padre.”
(14) Rebeca – Letal: “De verdad/ no te compliques la vida conmigo”
(15) Rebeca – Letal: “no/ anda/ suelta/ el vestido...
(16) Rebeca – Letal: ...anda suéltame...
(17) Rebeca – Letal:... suéltame”
(18) Rebeca – Letal: “Anda sueltame...
(19) Rebeca – Letal:... oye/ ven a ayudarme a bajar/ no ves que tengo tacones y me puedo
romper un tobillo”
(20) Rebeca – Eduardo: “Dame una tragada”
(21) Rebeca – Eduardo “No me vengas con casarse”
(22) Rebeca – Eduardo “No puedes hacerlo ahora que está resuelto”
(23) Rebeca – Eduardo “Oye que no/ que no insistas”
(24) Rebeca – Eduardo “Letal/ por Dios no me confundas más”
(25) Rebeca – Eduardo “Ponte la barba// como voy a follar con el ... de coco que tengo”
(26) Raimunda – Paco: “Ay Paco/ déjame”
(27) Raimunda – Paco: “Ay Paco/ no seas pesado”
(28) Raimunda – Paco: “Ay Paco/ déjame estoy molida/ y mañana tengo que madrugar”
(29) Raimunda – Emilio: “tú dame las llaves/ ya ((me las arreglaré))”
(30) Raimunda – Emilio: “Venga dime/ cuánto tengo que pagar del alquiler del mes/ y te lo mando/
pero...
(31) Raimunda – Emilio:... dame unos dias”
relação funcional transacional:
(32) Pepa – taxista: “Siga a ese taxi.”
(33) Pepa – taxista: “Lo que quiero es que no pierda de vista aquel taxi.” (00:21:40)
(34) Pepa – taxista: “No le diga a su novia que me ha visto llorar.”
(35) Pepa – taxista: “Vaya deprisita que tenemos que llegar antes de ellos.”
(36) Raimunda – cineasta: “échame una mano”
(37) Raimunda – cineasta: “Ayúdame”
(38) Raimunda – cineasta: “¡Quédese ahí...
(39) Raimunda – cineasta: ... no se acerque!”
(40) Raimunda – cineasta: “no me mires así que me pones nerviosa”
(41) Raimunda – cineasta: “Anda/ vete a tomarte algo/ que estoy trabajando”
(42) Pepa – taxista: “Por favor/ aunque no les persiga/ llévenos al aeropuerto/ Que tenemos que
llegar.”
(43) Pepa – policial: “No le haga caso/ la pobre no rige.”
(44) Rebeca – Juiz: “Búsquelas”
Quadro 13:
Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:
A: pessoal
1- Pepa – Iván: “Déjame un recado en el contestador diciéndome donde y cuando// Ahora mismo me voy a la
calle buscarte/ Adiós.”
2- Pepa – Iván: “Déjame dicho en el contestador donde y cuándo/ adiós.”
3- Pepa – Iván: “Quita.”
4- Pepa – Carlos: “Échame una mano.”
5- Pepa – Carlos: “No dejes que se asome a la terraza.”
6- Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y voy a
deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no abráis la puerta.”
7- Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y voy a
deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no abráis la puerta.”
8- Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y voy a
deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no abráis la puerta.”
9- Pepa – Carlos: “Dile// que no espero nada de él/ que lo único que me queda suyo es esta maleta/ y voy a
deshacerme de ella ahora mismo// no/ mejor que no le digas nada/no cojáis el teléfono/ y no abráis la puerta.”
10- Pepa – Carlos: “No me mientas tú también.”
14- Rebeca – Letal: “De verdad/ no te compliques la vida conmigo”
17- Rebeca – Letal:... suéltame”
19- Rebeca – Letal:... ven a ayudarme a bajar/ no ves que tengo tacones y me puedo romper un
tobillo”
20- Rebeca – Eduardo: “Dame una tragada”
21- Rebeca – Eduardo “No me vengas con casarse”
22- Rebeca – Eduardo “No puedes hacerlo ahora que está resuelto”
29- Raimunda – Emilio: “tú dame las llaves/ ya ((me las arreglaré))”
30- Raimunda – Emilio: “dime/ cuánto tengo que pagar del alquiler del mes/ y te lo mando/ pero...
31- Raimunda – Emilio:... dame unos dias”
..............................................................................................................................................................
B: transacional
32- Pepa – taxista: “Siga a ese taxi.”
33- Pepa – taxista: “Lo que quiero es que no pierda de vista aquel taxi.”
34- Pepa – taxista: “No le diga a su novia que me ha visto llorar.”
36- Raimunda – cineasta: “échame una mano”
37- Raimunda – cineasta: “Ayúdame”
38- Raimunda – cineasta: “¡Quédese ahí...
39- Raimunda – cineasta: ... no se acerque
43- Pepa – policial: “No le haga caso/ la pobre no rige.”
44- Rebeca – Juiz: “Búsquelas”
Quadro 14:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Justificativa
A: pessoal
11- “aunque yo pueda ser tu
madrasta”
12 “Es que éste no funciona y
estoy esperando una llamada de
tu padre.”
25- “Ponte la barba// como voy
a follar con el ... de coco que
tengo”
28- “Ay Paco/ déjame estoy
molida/ y mañana tengo que
madrugar”
B: transacional 41- “Anda/ vete a tomarte algo/
que estoy trabajando”
42- “que tenemos que llegar
ante de ellos”
Marcador conversacional
A: pessoal
19-“oye/ ven a ayudame a
bajar
23- “Oye que no/ que no
insistas”
24- “Letal/ por Dios no me
confundas más”
26- “Ay Paco/ déjame”
27- “Ay Paco/ no seas pesado”
28- “Ay Paco/ déjame estoy
molida/ y mañana tengo que
madrugar”
30- “Venga dime/ cuánto tengo
que pagar del alquiler del mes/ y
te lo mando/ pero...
15- “no/ anda/ suelta/ el
vestido...
16- ...anda suéltame...
B: transacional 41- “Anda/ vete a tomarte algo/
que estoy trabajando”
42-“por favor”
Advérbio de modo
B: transacional
35- “deprisita”
Forma de tratamento
nominal
A: pessoal
24- “Letal/ por Dios no me
confundas más”
26- “Ay Paco/ déjame”
27- “Ay Paco/ no seas pesado”
28- “Ay Paco/ déjame estoy
molida/ y mañana tengo que
madrugar”
PRESENTE DO INDICATIVO: 10 pedidos
relação funcional pessoal:
(1) Pepa – Iván: “Tengo que verte urgentemente para hablar de una cosa contigo.”
(2) Pepa – Iván: “Ivan/ tengo que hablar urgentemente contigo de algo.”
(3) Pepa – Carlos: “Y de paso arreglas el telefono.”
(4) Pepa – Carlos: “¿Por qué no me llama?// tengo que hablar con él.”
(5) Raimunda – Emilio: “Si me das cinco minutos/ te lo explico”
relação funcional transacional:
(6) Corretor – Pepa: “¿Y el ático como Le va?”
Pepa – corretor: “Oh que maravilloso, pero vengo a alquilarlo.
(7) Pepa – corretor: “Qué bien porque también quiero alquilar otro para mí”
(8) Raimunda – vendedor: “Me da ocho metros de cuerda para tender de
plástico/ y cinta para Embalar”
(9) Raimunda – verdureiro: “Me pone ocho kilos”
(10) Raimunda – verdureiro: “Me pone dos kilos”
Quadro 15:
Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:
Quadro 16:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Advérbio de modo
A: pessoal
1-“urgentemente”
2- “urgentemente”
Forma tratamento nominal
A: pessoal
2- “Iván”
A: pessoal
2- Pepa – Carlos: “Y de paso arreglas el telefono.”
3- Pepa – Carlos: “¿Por qué no me llama?// tengo que hablar con él.”
4- Raimunda – Emilio: “Si me das cinco minutos/ te lo explico”
................................................................................................................................................ ............
B: transacional
8- Pepa – corretor: “Qué bien porque también quiero alquilar otro para mí”
9- Raimunda – vendedor: “Me da ocho metros de cuerda para tender de plástico/ y cinta para Embalar”
10- Raimunda – verdureiro: “Me pone ocho kilos”
11- Raimunda – verdureiro: “Me pone dos kilos”
Elogio
B: transacional
6- Oh que maravilloso
ENUNCIADOS INTERROGATIVOS: 10 pedidos
relação funcional pessoal:
(1) Pepa – Carlos: “¿Tú sabes arreglar un teléfono?”
(2) Pepa – Carlos: “¿Nos puedes traer unos calmantes de la cocina?”
(3) Pepa – Carlos: “¿Me subes la cremallera?”
(4) Pepa – Carlos: “¿Te importa quedarte hasta que yo vuelva? Somos demasiadas mujeres
para un ático tan grande.”
relação funcional transacional:
(5) Pepa – taxista: “¿No tendrá un colirio por casualidad?”
(6) Pepa – policial: “¿Por qué no se sienta aquí y me interroga cómodamente? Es que me va a dar
tortícolis.”
(7) Pepa – corretor: “¿Puedo hacer una llamada?
(8) Raimunda – verdureiro: “¿Me pones dos kilos más?”
(9) Rebeca – Juiz: “¿Tiene fuego?”
(10) Rebeca – Juiz: “Oiga ¿me da un cigarillo?”
Quadro 17:
Formulações sem estratégias de atenuação ou intensificação:
A: pessoal
1- Pepa – Carlos: “¿Tú sabes arreglar un teléfono?”
2- Pepa – Carlos: “¿Nos puedes traer unos calmantes de la cocina?”
3- Pepa – Carlos: “¿Me subes la cremallera?”
............................................................................................................
B: transacional
5- Pepa – taxista: “¿No tendrá un colirio por casualidad?”
7- Pepa – corretor: “¿Puedo hacer una llamada?
8- Raimunda – verdureiro: “¿Me pones dos kilos más?”
9- Rebeca – Juiz: “¿Tiene fuego?”
Quadro 18:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Justificativa
A: pessoal
4- “Somos demasiadas mujeres
para un ático tan grande.”
Quadro 19:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Justificativa
B: transacional
6- Es que me va a dar
tortícolis.”
Marcador conversacional
B: transacional
10- “Oiga ¿me da un
cigarillo?”
FRASES NOMINAIS: 08 pedidos
Relação funcional pessoal (1) Rebeca – Letal: “ Bueno anda Letal ya está...
(2) Rebeca – Eduardo “Oye que no/ que no insistas”
(3) Raimunda – Emilio: “Emilio/ por Dios”
(4) Rebeca – Letal: “Ahora no/ estoy ocupada/ mejor mañana”
Relação funcional transacional
(5) Pepa – taxista: “Castellana 31.”
(6) Raimunda – vendedor: “¡Ah!/ y un pico...
(7) Raimunda – vendedor:... y una pala”
Quadro 20:
Atenuadores ou intensificadores Pragmalinguisticos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Marcador conversacional
A: pessoal
1- “ Bueno anda Letal ya está
1- “ Bueno anda Letal ya está
3- “Oye que no/ que no insistas”
Forma de tratamento
nominal
A: pessoal
1- “ Bueno anda Letal ya está
4- “Emilio/ por Dios”
Justificativa
B: transacional
5- “Ahora no/ estoy ocupada mejor
mañana”
QUADRO 21:
Atenuadores ou intensificadores microatos:
ATENUAÇÃO INTENSIFICAÇÃO
Apelo
A: pessoal
4- “Emilio/ por Dios”
PRESENTE DO SUBJUNTIVO: 01 pedido
Relação funcional pessoal
(1) Pepa – Iván: “Es urgente que hablemos de ello antes de irte de viaje.”
PRETÉRITO IMPERFEITO: 01 pedido
Relação funcional transacional
(1) Raimunda – vendedor: “necesitaba una furgoneta de alquiler”