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A RECAPITULAÇÃO
Expressões pesquisadas:
- Recapitulação
- Recapitular
RESUMO DAS CITAÇÕES (livros e páginas):
1 – A Erva do Diabo -
2 – Uma Estranha Realidade -
3 – Viagem a Ixtlan -
4 – Porta para o Infinito -
5 – O Segundo Circulo do Poder -
6 – O Presente da Águia 227-228-228-229-230
7 – O Fogo Interior -
8 – O Poder do Silêncio 129-187
9 – A Arte de Sonhar 166-167-168
10 – Passes mágicos 99-112 a 125
11 – A Roda do Tempo 11-230
12 – O Lado Ativo do Infinito 180-183-184-186-186-199-208-219-295
13 – Encontros com o Nagual 72-78-79-79-80-80-82-83-83-85-95-104-157-173-237
Considerações:
Recapitular é uma atividade especializada dos espreitadores pela qual suas rotinas de vida e relacionamento são
impiedosamente expostas. A componente da socialização em nossas vidas, ao fixar o ponto de aglutinação numa posição
específica, nos torna padronizados e monotonamente repetitivos no nosso relacionamento com as pessoas e com o mundo
que nos cerca.. É um círculo vicioso sem fim. A recapitulação traz isso à tona e inicia gradualmente o processo de
transformação.
Já que é um trabalho “para a vida inteira e mais além”, a recapitulação exige no início muita energia, determinação e
paciência. Nossa tendência é sempre adiar, procurar uma ocasião mais propícia para iniciar a prática, mas o Nagual deixa
claro que o melhor momento para começar é agora..
Ele diz abaixo que “a totalidade de um caminho se resume em seu primeiro passo. Isso significa que as condições ideais são
aqui e agora".
Se atentarmos para o fato de que através da recapitulação o espreitador engendra um meio de atender uma exigência
inexorável do ”mar escuro da consciência” dando a ele as experiências pessoais reivindicadas e espertamente ficando com
a vida (consciência), não há dúvida de que essa é a atividade mais importante de nossas vidas, ou seja, manter a sua
consciência individual em evolução mesmo sem o organismo humano.
Com a passagem dos anos, o inevitável sentimento de urgência que sutilmente começa a aparecer, vai deixar claro que não
estamos atendendo nesta vida a nossa mais alta vocação e potencialidade de “ser humano” que é levar nossa consciência
ao infinito.
A recapitulação é uma oportunidade e como tal não deve ser ignorada ou subestimada, pois é um privilégio ter tido nesta
existência contato com tal ensinamento.
Citações
Nota:
Diferentemente dos dois primeiros, o presente estudo usou como primeira citação o trecho inteiro da introdução dos
passes mágicos referentes ao tema recapitulação no livro Passes Mágicos (págs. 112 a 118). A razão disso é que o trecho
reproduz o tema de forma clara e didática, e esclarece de pronto muitas dúvidas que nós aprendizes temos apresentado
sobre o assunto, quando tomamos o contato inicial com ele. Na seqüência, as demais citações dos outros livros vão apenas
enfatizar, aprimorar e dar um colorido ao entendimento deste núcleo básico apresentado.
• A Recapitulação
“De acordo com o que Dom Juan ensinava a seus discípulos, a recapitulação era uma técnica descoberta pelos feiticeiros do
antigo México e usada por todos os xamãs praticantes dali por diante, de examinar e reviver todas as experiências de suas
vidas para alcançar dois objetivos transcendentais:
- o objetivo abstrato de cumprir um código universal que exige que a consciência seja abandonada no momento da morte
e
- o objetivo extremamente pragmático de adquirir fluidez perceptiva.
Ele dizia que a formulação do primeiro objetivo era o resultado de observações que os feiticeiros fizeram através da sua
capacidade de ver a energia diretamente como ela flui no universo. Eles tinham visto que no universo existe uma força
gigantesca, um imenso conglomerado de campos de energia que eles chamaram a águia ou o mar escuro da consciência
Eles observaram que o mar escuro da consciência é a força que empresta consciência a todos os seres vivos, do vírus ao
homem. Acreditavam que a força empresta consciência a um ser recém-nascido e que este ser aumenta aquela consciência
através das suas experiências de vida até um momento em que a força exige sua devolução.
No entendimento dos feiticeiros, todos os seres vivos morrem porque são forçados a devolverem a consciência que lhes foi
emprestada. Através das eras, os feiticeiros têm entendido que não existe nenhuma maneira do que o homem moderno
chama de o nosso modo linear de pensamento explicar um fenômeno como esse, porque, para uma linha de raciocínio de
causa e efeito, não há como explicar por que e como a consciência é emprestada e depois retomada. Os feiticeiros do
antigo México viam isso como um fato energético do universo, um fato que não pode ser explicado em termos de causa e
efeito ou em termos de um propósito que pudesse ser determinado a priori.
Os feiticeiros da linhagem de Dom Juan acreditavam que recapitular significava dar ao mar escuro da consciência o que ele
estava buscando: as suas experiências de vida. Entretanto acreditavam que, através da recapitulação, poderiam adquirir
um grau de controle que lhes permitiria separar as experiências de vida da sua força vital. Para eles, as duas não estavam
insoluvelmente entrelaçadas; só estavam unidas circunstancialmente.
Esses feiticeiros afirmavam que o mar escuro da consciência não quer tirar a vida dos seres humanos; só quer as
experiências de vida. A falta de disciplina nos seres humanos os impede de separar as duas forças e,
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no final, eles perdem suas vidas, onde se esperava que perdessem apenas a força das experiências de vida. Os feiticeiros
viam a recapitulação como o procedimento através do qual eles poderiam dar ao mar escuro da consciência um substituto
para as suas vidas. Eles abriam mão das suas experiências de vida relatando-as, mas retinham a sua força vital.
Quando examinadas em termos dos conceitos lineares do nosso mundo ocidental, as alegações perceptivas dos feiticeiros
não fazem absolutamente nenhum sentido. A civilização ocidental tem estado em contato com os xamãs do Novo Mundo
há quinhentos anos e nunca houve, por parte dos acadêmicos, uma tentativa genuína de formular um discurso filosófico
sério baseado nas declarações feitas pelos xamãs. Por exemplo, para qualquer membro do mundo ocidental, a
recapitulação pode parecer coerente com a psicanálise, algo na linha de um procedimento psicológico, uma espécie de
técnica de auto-ajuda. Nada poderia estar mais distante da verdade.
De acordo com Dom Juan Matus, o homem sempre perde por negligência. No caso das premissas da feitiçaria, ele
acreditava que o homem ocidental está perdendo uma tremenda oportunidade para intensificar a sua consciência e que a
maneira como o homem ocidental se relaciona com o universo, a vida e a consciência é apenas uma entre múltiplas
opções.
Para os xamãs praticantes, recapitular significava dar a uma força incompreensível - o mar escuro da consciência - a própria
coisa que ela parecia estar procurando: as suas experiências de vida, isto é, a consciência que eles ampliaram através
daquelas próprias experiências de vida. Já que provavelmente Dom Juan não poderia me explicar esses fenômenos em
termos de lógica clássica, ele dizia que tudo o que os feiticeiros podiam desejar fazer era realizar a façanha de reter sua
força vital sem saber como isso era feito. Também dizia que havia milhares de feiticeiros que tinham conseguido fazer isso.
Tinham conservado a sua força vital após terem dado ao mar escuro da consciência a força das suas experiências de vida.
Para Dom Juan, isso significava que esses feiticeiros não morreram no sentido usual como entendemos a morte, mas
transcenderam-na retendo sua força vital e desaparecendo da face da terra, embarcando em uma viagem definitiva de
percepção.
A crença dos xamãs da linhagem de Dom Juan era que, quando a morte acontece dessa forma, todo o nosso ser
transforma-se em energia, um tipo especial de energia que conserva a marca da nossa individualidade. Dom Juan tentava
explicar isso em um sentido metafórico dizendo que nós somos compostos de um número de nações unitárias: a nação dos
pulmões, a nação do coração, a nação do estômago,
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a nação dos rins e assim por diante. Às vezes cada uma dessas nações funciona independentemente das outras, mas no
momento da morte todas elas são unificadas em uma única entidade. Os feiticeiros da linhagem de Dom Juan chamavam
esse estado de liberdade total. Para os feiticeiros, a morte é uma unificadora e não uma exterminadora, como ela o é para
o homem comum.
- Esse estado é a imortalidade, Dom Juan? - perguntei.
- Isso de modo algum é a imortalidade - respondeu ele. - É simplesmente a entrada em um processo evolucionário, usando
o único meio para a evolução que o homem tem à sua disposição: a consciência. Os feiticeiros da minha linhagem estavam
convencidos de que, biologicamente, o homem não poderia evoluir mais; conseqüentemente, consideravam a consciência
do homem o único meio para evoluir. No momento de morrer os feiticeiros não são aniquilados pela morte, mas
transformados em seres inorgânicos: seres que têm consciência, mas não um organismo. Para eles, serem transformados
em um ser inorgânico era evolução e isso significava que um novo tipo indescritível de consciência lhes era emprestado,
uma consciência que permaneceria por verdadeiramente milhões de anos, mas que algum dia também precisaria ser
devolvida ao doador: o mar escuro da consciência.
Uma das descobertas mais importantes dos xamãs da linhagem de Dom Juan foi que, como todas as outras coisas no
universo, o nosso mundo é uma combinação de duas forças opostas e ao mesmo tempo complementares. Uma dessas
forças é o mundo que conhecemos, que os feiticeiros chamavam o mundo dos seres orgânicos. A outra força é algo que
eles chamavam o mundo dos seres inorgânicos.
- O mundo dos seres inorgânicos - dizia Dom Juan - é povoado por seres que possuem consciência, mas não um organismo.
Eles são conglomerados de campos de energia, exatamente como nós o somos. Aos olhos de um vidente, em vez de seres
luminosos, como os seres humanos o são, eles são bastante opacos. Não são configurações energéticas arredondadas, mas
sim alongadas, como uma vela. Em essência, são conglomerados de campos de energia que, assim como nós, têm coesão e
limites. São mantidos unidos pela mesma força aglutinadora que mantém os nossos campos de energia unidos.
- Onde fica esse mundo inorgânico, Dom Juan? - perguntei.
- É o nosso mundo gêmeo - respondeu ele. - Ocupa o mesmo tempo e o mesmo espaço que o nosso mundo, mas o tipo de
consciência do nosso mundo é tão diferente do tipo de consciência do mundo inorgânico que nós nunca notamos a
presença dos seres inorgânicos, embora eles notem a nossa.
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Os seres inorgânicos são seres humanos que evoluíram? perguntei.
- Absolutamente não! - exclamou ele. - Os seres inorgânicos do nosso mundo gêmeo têm sido intrinsecamente inorgânicos
desde o início, do mesmo modo como temos sido sempre intrinsecamente seres orgânicos, também desde o início. Eles são
seres cuja consciência pode evoluir exatamente como a nossa, e sem dúvida o faz, mas não tenho nenhum conhecimento
direto de como isso acontece. Entretanto o que sei é que um ser humano cuja consciência evoluiu é um ser inorgânico
brilhante, luminescente e arredondado de um tipo especial.
Dom Juan me deu uma série de descrições desse processo evolucionário, que eu sempre assumi como metáforas poéticas.
Eu escolhia a que me agradava mais, que era a da liberdade total. Imaginava um ser humano que entra em liberdade total
como sendo o ser mais corajoso, mais imaginativo possível. Dom Juan dizia que eu não estava fantasiando absolutamente
nada - que, para entrar em liberdade total, um ser humano deve invocar o seu lado sublime que, dizia ele, os seres
humanos têm mas que nunca lhes ocorre usar.
Dom Juan descrevia o segundo, o objetivo pragmático da recapitulação, como a aquisição de fluidez. O fundamento lógico
dos feiticeiros por trás disso tinha a ver com um dos assuntos mais evasivos da feitiçaria: o ponto de aglutinação, um ponto
de intensa luminosidade, do tamanho de uma bola de tênis, perceptível quando os feiticeiros vêem um ser humano como
um conglomerado de campos de energia.
Feiticeiros como Dom Juan vêem que trilhões de campos de energia na forma de filamentos de luz vindos de todo o
universo convergem ao ponto de aglutinação e o atravessam. Essa confluência de filamentos dá ao ponto de aglutinação a
sua luminosidade. O ponto de aglutinação possibilita que um ser humano perceba aqueles trilhões de filamentos de energia
transformando-os em dados sensoriais. Depois o ponto de aglutinação interpreta esses dados como o mundo da vida
cotidiana, isto é, em termos da socialização e do potencial humano.
Recapitular é reviver todas ou quase todas as experiências que tivemos e, fazendo isso, deslocar o ponto de aglutinação,
ligeiramente ou bastante, impelindo-o pela força da memória a adotar a posição que tinha quando o acontecimento que
está sendo recapitulado ocorreu. Esse ato de ir de um lado para o outro de posições anteriores à atual proporciona aos
xamãs praticantes a fluidez necessária para suportarem diferenças extraordinárias em suas viagens pelo infinito. Para os
praticantes da Tensegridade, a recapitulação proporciona a fluidez
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necessária para suportarem diferenças que não fazem parte, de modo algum, de sua cognição habitual.
Como um procedimento formal, a recapitulação era feita nos tempos antigos recordando-se de cada pessoa que os
praticantes conheciam e de cada experiência em que tomaram parte. Dom Juan sugeria que, no meu caso, que é o caso do
homem moderno, eu fizesse uma lista por escrito de todas as pessoas que eu tinha conhecido em minha vida, como um
estratagema mnemônico. Uma vez que eu tivesse escrito a lista, ele continuaria a me dizer como usá-la. Eu precisava pegar
a primeira pessoa da minha lista, que retrocedia no tempo do presente até a época da minha primeiríssima experiência de
vida, e, na minha memória, estabelecer a minha última interação com aquela primeira pessoa. Essa ação é chamada de
organizar o acontecimento a ser recapitulado.
Uma detalhada recordação de minúcias é requerida como o meio apropriado de afiar a capacidade de lembrar. Essa
recordação envolve obter todos os detalhes físicos pertinentes, tal como o ambiente no qual o acontecimento recordado
ocorreu. Uma vez que o acontecimento está organizado, a pessoa deve realmente entrar no local em si, prestando especial
atenção a quaisquer configurações físicas relevantes. Por exemplo, se a interação aconteceu em um escritório, o que deve
ser lembrado é o chão, as portas, as paredes, os quadros, as janelas, as mesas, os objetos sobre as mesas, todas as coisas
que poderiam ter sido observadas em um relance e depois esquecidas.
Como um procedimento formal, a recapitulação deve começar pelo relato minucioso de acontecimentos que acabaram de
ocorrer. Dessa forma, a primazia da experiência tem precedência. Alguma coisa que acabou de ocorrer é algo que a pessoa
pode se lembrar com grande precisão. Os feiticeiros sempre confiaram no fato de que os seres humanos são capazes de
armazenar informações detalhadas das quais não estão conscientes e de que aquele detalhe é o que o mar escuro da
consciência procura.
A verdadeira recapitulação do acontecimento requer que a pessoa respire profundamente, abanando a cabeça, por assim
dizer, muito lenta e delicadamente, de um lado para o outro, começando por qualquer que seja o lado, esquerdo ou direito.
Esse abano da cabeça era feito tantas vezes quantas fossem necessárias, enquanto a pessoa se lembrava de todos os
detalhes acessíveis. Dom Juan dizia que os feiticeiros falavam sobre esse ato como inalar todos os sentimentos que a
pessoa teve no acontecimento sendo recordado e expelir todos os humores indesejáveis e os sentimentos irrelevantes que
permaneceram nela.
Os feiticeiros acreditam que o mistério da recapitulação reside no ato de inalar e exalar. Uma vez que a respiração é uma
função de
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manutenção da vida, os feiticeiros têm certeza de que através dela a pessoa também pode entregar ao mar escuro da
consciência o fac-símile das suas experiências de vida. Quando eu pressionava Dom Juan por uma explicação racional sobre
essa idéia, sua posição era que coisas como a recapitulação só podiam ser experimentadas e não explicadas. Ele dizia que
no ato de fazer a pessoa pode encontrar a libertação e que explicar isso era dissipar nossa energia em esforços infrutíferos.
Seu convite era coerente com todas as coisas relacionadas ao seu conhecimento: o convite para entrar em ação.
Na recapitulação, a lista de nomes é usada como um estratagema mnemônico que impele a memória em uma viagem
inconcebível. A posição dos feiticeiros a esse respeito é que relembrar acontecimentos que acabaram de ocorrer prepara o
solo para a recordação de acontecimentos mais distantes no tempo com a mesma clareza e proximidade. Recordar
experiências desse modo é revivê-las e extrair dessa recordação um ímpeto extraordinário que é capaz de despertar a
energia dispersada dos nossos centros de vitalidade e fazê-la retornar para eles. Os feiticeiros se referem a essa
redistribuição de energia que a recapitulação causa como obter fluidez após dar ao mar escuro da consciência o que ele
está procurando.
Em um nível mais mundano, a recapitulação proporciona aos praticantes a capacidade de examinar a repetição em suas
vidas. A recapitulação pode convencê-los, além de qualquer sombra de dúvida, de que todos nós estamos à mercê de
forças que definitivamente não fazem nenhum sentido, embora à primeira vista pareçam perfeitamente razoáveis; como,
por exemplo, ficar à mercê do galanteio. Parece que para algumas pessoas o galanteio é a busca de toda uma existência.
Pessoalmente, tenho ouvido falar de pessoas com idade avançada cujo único ideal era encontrar uma companhia perfeita e
cuja aspiração era terem talvez um ano de felicidade no amor.
Dom Juan Matus costumava me dizer, sob meus veementes protestos, que o problema era que ninguém queria realmente
amar alguém, mas que cada um de nós queria ser amado. Ele dizia que para nós essa obsessão pelo galanteio, tomado pelo
significado visível, era a coisa mais natural do mundo. Ouvir um homem ou uma mulher de 75 anos dizer que ainda está à
procura de um companheiro perfeito é uma afirmação de algo idealista, romântico e belo. No entanto, examinar essa
obsessão no contexto das repetições intermináveis de uma existência faz com que ela apareça como realmente é: algo
grotesco.
Dom Juan me assegurava que, se alguma mudança comportamental está para ser realizada, precisa ser feita através da
recapitulação, já que
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ela é o único veículo que pode intensificar a consciência liberando a pessoa das exigências não expressas da socialização,
que são tão automáticas, tão desvalorizadas, que não são sequer notadas sob condições normais e muito menos
examinadas.
O verdadeiro ato de recapitular é um empreendimento de toda uma vida. Demora anos para esgotar a lista de pessoas,
especialmente para aqueles que conheceram e interagiram com milhares de indivíduos. Essa lista é aumentada pela
lembrança de acontecimentos impessoais nos quais nenhuma pessoa está envolvida, mas que precisam ser examinados
porque de algum modo estão relacionados à pessoa sendo recapitulada.
Dom Juan afirmava que o que os feiticeiros do antigo México procuravam avidamente ao recapitularem era a lembrança
da. interação porque, na interação, residem os efeitos profundos da socialização, que eles lutavam para superar por
quaisquer meios disponíveis.
Passes Mágicos, págs. 112 a 118
• “Florinda riu, descrevendo o choque que teve. O velho a tinha levado a uma participação ativa na sua própria cura. Além
do mais, com o pretexto da exigência da curandeira, ele a colocava dentro do engradado diariamente durante seis horas
pelo menos, a fim de que ela realizasse uma tarefa específica a que ele dava o nome de "recapitulação".
O Presente da Águia, pág. 227
• “Por isso seu benfeitor teve de se mudar para outra região do México e ela teve de ficar escondida na casa dele durante
anos; essa situação favoreceu Florinda, pois ela tinha de realizar a tarefa de "recapitular" e necessitava de absoluto silêncio
e solidão.
Explicou que a recapitulação é o ponto forte dos espreitadores, como o corpo sonhador é o ponto forte dos sonhadores.
Consistia em recordar sua vida até os mínimos detalhes. Para isso seu benfeitor lhe tinha dado aquele engradado como um
instrumento e um símbolo. Era um instrumento que lhe permitia aprender a se concentrar, pois tinha de se sentar lá
durante anos até que toda sua vida tivesse passado diante dos seus olhos. E era um símbolo dos estreitos limites da nossa
pessoa. Seu benfeitor lhe disse que quando terminasse a recapitulação quebrasse o engradado para simbolizar que não
mais mantinha as limitações da sua pessoa. “
O Presente da Águia, pág. 228
• “Florinda me deu então os fundamentos da recapitulação. Disse que o primeiro estágio é um breve relato de todos os
incidentes da nossa vida, que se apresentam de uma maneira óbvia para exame.
O segundo estágio é uma recordação mais detalhada, que sistematicamente vai desde a época anterior ao espreitador ter
se sentado dentro do engradado, e teoricamente se estende ao momento do nascimento.
Ela me assegurou que uma recapitulação perfeita pode mudar um guerreiro tanto, se não mais, quanto o controle total do
corpo sonhador. Nesse particular, o sonho e a espreita têm a mesma finalidade, entrar na terceira atenção. É importante,
entretanto, que o guerreiro saiba e pratique os dois. Disse que para a mulher há configurações diferentes do corpo
luminoso para se aperfeiçoar em uma ou em outra. Os homens, ao contrário, podem realizar os dois com facilidade, mas ao
mesmo tempo não podem nunca chegar ao grau de eficiência que as mulheres atingem em cada arte.”
O Presente da Águia, pág. 228
• “Florinda explicou que o elemento-chave na recapitulação é a respiração. Respirar para ela era uma mágica, por ser uma
função que produz a vida. Disse que essa recordação é fácil se se consegue reduzir a área de estímulo em volta do corpo.
Por isso existia o engradado; a partir daí a respiração produz memórias cada vez mais profundas. Teoricamente, os
espreitadores têm de se lembrar de cada sentimento que tiveram na vida, e esse processo se inicia com uma respiração. Ela
me avisou que o que estava me ensinando eram apenas preliminares, que mais tarde, em condições diferentes, me
ensinaria as complexidades do processo.
Florinda disse que seu benfeitor lhe orientou a escrever uma 1ista de acontecimentos a serem revividos. Falou que a
técnica se iniciava com uma respirada inicial. Os espreitadores começam com o queixo sobre o ombro direito e lentamente
inspiram à medida que viram a cabeça num ângulo de cento e oitenta graus. A respirada termina no ombro esquerdo. Uma
vez terminada a inspiração, a cabeça volta a ficar relaxada. Eles expiram olhando para a frente.
O espreitador então pega o primeiro acontecimento da lista e se concentra, até que todos os sentimentos que nele se
encerram tenham sido recontados. Enquanto se lembram dos sentimentos que tiveram durante o acontecimento
recordado, inspiram lentamente, movendo a cabeça do ombro direito para o esquerdo. A função dessa respiração é
restaurar energia. Florinda disse que o corpo luminoso está constantemente criando filamentos semelhantes a teias de
aranha, que são projetados para fora da massa luminosa, impulsionados por qualquer tipo de emoções. Portanto, cada
situação de interação ou cada situação que envolve sentimentos é potencialmente drenada para o corpo luminoso.
Respirando da direita para a esquerda enquanto se lembram de um sentimento, os espreitadores, através da mágica da
respiração, pegam os filamentos que foram deixados para trás. A próxima respirada imediata é da esquerda para a direita e
é uma expiração. Com ela os espreitadores soltam os filamentos deixados neles por outros corpos luminosos envolvidos no
acontecimento que está sendo recordado.
Ela declarou que essas eram as preliminares essenciais da espreita que todos os membros do seu grupo tinham passado
como introdução a exercícios mais apurados da arte. Sem fazer os exercícios preliminares para recuperar os filamentos
deixados no mundo, e particularmente para desprezar os que os outros deixaram neles, não há possibilidade de manipular
a loucura controlada, pois esses filamentos estranhos são a base da capacidade ilimitada de auto-importância de uma
pessoa. Para exercitar a loucura controlado, já que ela não visa a enganar ou punir as pessoas ou se sentir superior a elas,
tem-se de ser capaz de rir de si próprio. Florinda disse que um dos resultados de uma recapitulação detalhada é a graça de
se ver face a face com a repetição monótona da auto-estima de alguém, que está no cerne de toda a interação humana.
Ela enfatizou que o regulamento definia a espreita e o sonho como artes, portanto, a serem representadas. Disse que a
natureza produtora de vida da respiração é também o que dá sua capacidade de limpeza. É essa capacidade que faz da
recapitulação uma questão prática.”
O Presente da Águia, pág. 229
• “Disse que seu benfeitor considerava as três técnicas básicas da espreita - o engradado, a lista de acontecimentos a serem
recapitulados, e a respiração do espreitador - como sendo as tarefas talvez mais importantes de um guerreiro. Ele achava
que uma recapitulação profunda era o meio mais eficiente para se perder a forma humana. Portanto, seria fácil para os
espreitadores, depois de recapitularem suas vidas, fazer uso de todos os não fazeres do seu eu, tais como apagar sua
história pessoal, perder a auto-importância, quebrar as rotinas, e assim por diante.”
O Presente da Águia, pág. 230
• “- Recordar não é o mesmo que relembrar - continuou. - Relembrar é ditado pelo tipo de pensamento cotidiano,
enquanto recordar é ditado pelo movimento do ponto de aglutinação. Uma recapitulação de suas vidas, que os feiticeiros
fazem, é a chave para mover seus pontos de aglutinação. Os feiticeiros começam sua recapitulação pensando, relembrando
os atos mais importantes de suas vidas. Após apenas pensar a respeito deles, movem-se então para estar realmente no
local do evento. Quando conseguem fazer isso, estar no local do evento, foi porque moveram com sucesso seu ponto de
aglutinação ao lugar preciso onde estava quando o evento teve lugar. Trazer de volta o evento total por meio do
movimento do ponto de aglutinação é conhecido como a recordação dos feiticeiros.
Olhou para mim por um instante, como se tentando assegurar-se de que eu estava escutando.
- Nossos pontos de aglutinação estão constantemente se movendo, movimentos imperceptíveis. Os feiticeiros acreditam
que, para fazer seus pontos de aglutinação se moverem a pontos precisos, devemos empenhar por intento. Uma vez que
não há maneira de saber o que é o intento, os feiticeiros deixam que seus olhos o chamem.
- Tudo isso é de fato incompreensível para mim - retruquei.”
O Poder do Silêncio, pág. 129
• “Morri naquele campo. Senti minha consciência fluindo para fora de mim e dirigindo-se na direção da Águia. Mas como
eu havia recapitulado impecavelmente minha vida, a Águia não me devorou a consciência. A Águia cuspiu-me para fora.
Porque meu corpo estava morto no campo, ela não me deixou seguir diretamente para a liberdade. Era como se me
dissesse para voltar e tentar outra vez.”
O Poder do Silêncio, pág. 187
• “. Eu chegara ao ponto de ter medo de dormir nos dias em que sabia que teria aquele sonho.
- Você ainda não está verdadeiramente pronto para fundir sua realidade de sonho com sua realidade cotidiana. Precisa
recapitular mais a sua vida.
- Mas eu já fiz toda a recapitulação possível - protestei.
- Venho recapitulando há anos. Não há mais nada que eu possa lembrar sobre minha vida.
- Deve haver muito mais - ele disse, inflexível. – De outro modo não acordaria gritando.
Não gostei da idéia de ter de recapitular outra vez. Eu tinha feito isso, e acreditava que fizera tão bem que não precisaria
nunca mais tocar no assunto.
- A recapitulação de nossa vida nunca termina, não importa que tenhamos recapitulado direito - disse Dom Juan. - O motivo
das pessoas comuns não terem vontade própria nos sonhos é nunca terem recapitulado, e suas vidas ficam cheias até a
borda de emoções como lembranças, esperanças, medos etc. etc.
"Os feiticeiros, por outro lado, são relativamente livres de emoções pesadas e opressivas, por causa da recapitulação. E se
alguma coisa faz com que eles fiquem bloqueados, como está acontecendo com você, a suposição é que ainda existe
alguma coisa neles que não está suficientemente clara.”
- Recapitular é um negócio envolvente demais, Dom Juan.
- Talvez exista alguma outra coisa que eu possa fazer.
- Não, não existe. Recapitular e sonhar andam lado a lado. À medida que regurgitamos nossas vidas nós ficamos mais e
mais leves.
Dom Juan me dera instruções detalhadas e explícitas sobre a recapitulação. Consistia em reviver a totalidade das
experiências de vida lembrando-se de cada detalhe possível. Ele via a recapitulação como o fator essencial na redefinição e
reestruturação da energia do sonhador.
- A recapitulação liberta a energia aprisionada dentro de nós, e sem essa energia liberada o sonhar não é possível.”
A Arte do Sonhar, pág. 166
• “Anos antes Dom Juan me levara a fazer uma lista de todas as pessoas que conhecera na vida, começando no presente.
Ele me ajudou a arrumar a lista de modo ordenado, separando-a por áreas de atividade, como os empregos que eu tivera,
as escolas onde estudara. Em seguida guiou-me para ir, sem qualquer desvio, da primeira pessoa em minha lista até a
última, revivendo cada uma das interações que eu tivera com elas.
Explicou que a recapitulação de um evento começa com a mente arrumando tudo que tem a ver com o que está sendo
recapitulado. Arrumar significa reconstruir o evento, peça por peça, começando pela lembrança dos detalhes físicos ao
redor, e em seguida passando à pessoa com quem compartilhamos a interação, e em seguida para nós mesmos; para o
exame de nossos sentimentos.
Dom Juan me ensinou que a recapitulação é realizada junto com uma respiração natural e rítmica. São feitas longas
expirações enquanto a cabeça se move devagar e suavemente da direita para a esquerda; e são tomadas longas inalações
quando a cabeça se move da esquerda para a direita. Ele chamava de "arejar o evento", esse ato de mover a cabeça de um
lado para o outro. A mente examina o evento do princípio ao fim, enquanto o corpo ventila tudo em que a mente se
concentra.
Dom Juan disse que os feiticeiros da antigüidade, os inventores da recapitulação, viam a respiração como um ato mágico,
vivificante, e usavam-na como um veículo de magia; a expiração era usada para ejetar a energia estranha deixada neles
enquanto a interação era recapitulada, e a inalação servia para recuperar a energia que eles tinham deixado para trás
durante a interação.
Devido ao meus estudos acadêmicos eu tomei a recapitulação como o processo de analisar a própria vida. Mas Dom Juan
insistiu que havia mais coisa envolvida do que uma psicanálise intelectual. Ele postulava a recapitulação como uma
manobra dos feiticeiros para induzir um deslocamento minúsculo, porém firme, do ponto de aglutinação. Disse que, sob o
impacto de rever sentimentos e ações do passado, o ponto de aglutinação fica indo e voltando do posicionamento atual
para o que ele ocupava quando aconteceu o evento que está sendo recapitulado.”
A Arte do Sonhar, pág. 167
• “Dom Juan afirmava que o raciocínio dos feiticeiros antigos, para explicar a recapitulação, era sua convicção de que existe
uma inconcebível força de dissolução no universo, que faz os organismos viverem emprestando-lhes consciência. A mesma
força também faz os organismos morrerem, para extrair deles a mesma consciência emprestada, que os organismos
aprimoraram através de suas experiências de vida. Dom Juan explicou o raciocínio dos feiticeiros antigos. Eles acreditavam
que, como essa força estava atrás de nossa experiência de vida, era de suprema importância o fato de que ela poderia se
satisfazer com um fac-símile de nossa experiência de vida: a recapitulação. Ao receber o que deseja, a força de dissolução
deixa os feiticeiros livres para expandir sua capacidade de perceber e de chegar com ela aos confins do tempo e do espaço.
Quando comecei a recapitular de novo tive a grande surpresa de ver meus treinamentos de sonhar suspensos
automaticamente. Perguntei a Dom Juan sobre esse recesso indesejado.
- O sonhar exige toda a energia disponível - respondeu ele. - Se houver uma preocupação profunda em sua vida, não existe
possibilidade de sonhar.
- Mas eu já estive profundamente preocupado antes, e meus treinamentos nunca se interromperam.
- Pode ser então que, toda vez que você achou que estava preocupado, estivesse apenas egomaniacamente perturbado -
ele disse rindo. - Para os feiticeiros, estar preocupado significa que todas as nossas fontes de energia foram utilizadas. Essa
é a primeira vez que você envolve a totalidade de suas fontes de energia. No resto do tempo, mesmo quando recapitulou
antes, você não estava completamente absorvido.
Dessa vez Dom Juan me deu outro padrão de recapitulação. Eu deveria construir um quebra-cabeça recapitulando, sem
qualquer ordem, diferentes fatos de minha vida.
- Mas vai ser uma confusão - protestei.
- Não, não vai - ele assegurou. - Será uma confusão se você deixar sua mesquinharia escolher os eventos a serem
recapitulados. Em vez disso deixe o espírito decidir. Silencie, e em seguida vá até o evento que o espírito escolher.
Os resultados desse padrão de recapitulação foram chocantes em muitos níveis. Achei impressionante descobrir que, toda
vez que silenciava meus pensamentos, uma força que parecia independente lançava-me de imediato numa lembrança
detalhada de algum evento de minha vida. Mas foi ainda mais impressionante descobrir que daquilo resultava uma
configuração bastante ordenada. O que imaginei que seria caótico acabou mostrando-se extremamente eficaz.
Perguntei a Dom Juan por que ele não me fizera recapitular daquele jeito desde o início. Ele respondeu que existem dois
ciclos básicos para a recapitulação: o primeiro era chamado de formalidade e rigidez, e o segundo de fluidez.
Eu não tinha a menor idéia de como minha recapitulação seria diferente. A capacidade de concentração, que eu adquirira
através dos treinamentos de sonhar, permitiu-me examinar minha vida numa profundidade que nunca imaginaria possível.
Demorei mais de um ano para ver e rever tudo que podia sobre minhas experiências. No final precisei concordar com Dom
Juan: eu tinha uma imensidão de emoções escondidas tão profundamente a ponto de se tornarem virtualmente
inacessíveis.”
A Arte do Sonhar, pág. 168
• “Tudo que esses feiticeiros faziam girava em torno de cinco preocupações:
- primeira, os passes mágicos;
- segunda, o centro energético no corpo humano chamado de centro para decisões;
- terceira, a recapitulação - as maneiras para aumentar o campo de ação da consciência humana;
- quarta, sonhar, a arte genuína de romper os parâmetros da percepção normal;
- quinta, o silêncio interior - o estágio da percepção humana do qual esses feiticeiros empreendiam cada uma das suas
consecuções perceptivas.
Essa seqüência das cinco preocupações foi um conjunto moldado na compreensão que aqueles feiticeiros tinham do
mundo ao seu redor.
De acordo com o que Dom Juan ensinava, uma das descobertas estarrecedoras daqueles xamãs foi a existência no universo
de uma força aglutinadora que une campos de energia em unidades concretas e funcionais. Os feiticeiros que descobriram
a existência dessa força descreveram-na como uma vibração ou condição vibratória que permeia grupos de campos de
energia e os mantém unidos.
Em termos desse conjunto de cinco preocupações dos xamãs do antigo México, os passes mágicos preenchem a função da
condição vibratória da qual falavam os xamãs. Quando aqueles feiticeiros juntaram essa seqüência xamanística das cinco
preocupações, copiaram
O padrão da energia que lhes era revelado quando eles eram capazes de ver a energia como ela flui no universo. A força de
ligação eram os passes mágicos. Os passes mágicos eram a unidade que permeava as quatro unidades restantes e as
agrupava em um único todo funcional.”
Passes Mágicos, pág. 99
• “OS PASSES MÁGICOS PARA A RECAPITULAÇÃO
A recapitulação afeta algo que Dom Juan chamava de corpo energético. Ele explicava formalmente o corpo energético
como um conglomerado de campos de energia que são a imagem espelhada dos campos de energia que constituem o
corpo humano quando ele é visto diretamente como energia. Dizia que no caso dos feiticeiros o corpo físico e o corpo
energético são uma única unidade. Os passes mágicos para a recapitulação trazem o corpo energético para o corpo físico, o
que é essencial para navegar no desconhecido:
13. Forjando o Tronco do Corpo Energético
14. Esbofeteando o Corpo Energético
15. Estendendo Lateralmente o Corpo Energético
16. Estabelecendo o Núcleo do Corpo Energético
17. Forjando os Calcanhares e as Panturrilhas do
18. Forjando os Joelhos do Corpo Energético
19. Forjando as Coxas do Corpo Energético
20. Despertando a História Pessoal Tomando-a Flexível
21. Despertando a História Pessoal Batendo Repetidamente com o Calcanhar no Chão
22. Despertando a História Pessoal Sustentando o Calcanhar no Chão
23. As Asas da Recapitulação
24. A Janela da Recapitulação
25. As Cinco Respirações Profundas
26. Extraindo Energia dos Pés”
Passes Mágicos, págs.118 a 125
• “No mundo dos xamãs, perceber a energia de tal maneira é o primeiro passo obrigatório para uma visão mais livre, mais
abrangente, de um sistema diferente de conhecimento. Para provocar em mim a resposta de ver, Dom Juan utilizou outras
estranhas unidades de cognição. Uma das mais importantes chamava-se recapitulação, que consistia em um escrutínio
sistemático da própria vida, segmento por segmento, um exame feito não à luz da crítica e da descoberta de falhas, mas à
luz de um esforço para entender a própria vida e mudar o seu curso. O argumento de Dom Juan era que, uma vez que o
praticante visse sua vida da maneira distanciada que a recapitulação exige, não havia mais a possibilidade de voltar à
mesma vida.”
A Roda do Tempo, pág. 11
• “Para Dom Juan Matus, recapitular significava reviver e remanejar tudo de nossa vida numa única ação. Ele nunca se
preocupou com as minúcias das elaboradas variações daquela antiga técnica. Florinda, por sua parte, tinha uma
meticulosidade totalmente diferente. Ela gastava meses treinando-me em aspectos da recapitulação que até hoje sou
incapaz de explicar.
- É a vastidão do guerreiro o que você está experimentando - ela explicou. - As técnicas estão aí. Grande coisa. O que é de
suprema importância é o homem que as usa e seu desejo de ir até o fim com elas.”
A Roda do Tempo, pág. 230
• “- A premissa dos feiticeiros é que para se introduzir algo, precisa-se de espaço para colocá-lo - disse ele. - Se você estiver
cheio até a borda com itens da vida cotidiana, não há espaço para nada novo. Esse espaço precisa ser construído. Percebe o
que eu quero dizer? Os feiticeiros dos tempos antigos acreditavam que a recapitulação da sua vida abria esse espaço. Ela
faz isso e muito mais, claro.
“A maneira como os feiticeiros realizam a recapitulação é muito formal. Consiste em fazer uma lista de todas as pessoas
que conheceram, desde o presente até o início de suas vidas. Uma vez feita essa lista, pegam a primeira pessoa dela e
lembram-se de tudo o que puderem sobre essa pessoa. E quero dizer tudo, cada detalhe. É melhor recapitular do presente
para o passado, porque as memórias do presente estão frescas e dessa maneira a capacidade de lembrar é afiada. O que os
praticantes fazem é lembrar e respirar. Inspiram lenta e deliberadamente, girando a cabeça da direita para a esquerda,
num balanço quase imperceptível, e expiram da mesma forma?
Disse que o inspirar e o expirar devem ser naturais; se forem rápidos demais, uma pessoa entraria no que se chama de
respiração cansativa: respirações que depois precisam de respirações lentas a fim de acalmar os músculos.
- E o que devo fazer, Dom Juan, com tudo isso? - perguntei. - Comece a fazer a sua lista hoje - disse ele. - Divida-a por anos,
por ocupações, organize-a da maneira que quiser, porém faça-a em seqüência, com a pessoa mais recente primeiro e
terminando com a sua mãe e o seu pai. Depois, lembre-se de tudo sobre elas. Não há mais nada para se fazer além disso. A
medida que você pratica, perceberá o que está fazendo.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 180
• “- O poder da recapitulação - disse Dom Juan - é que revolve todo o lixo das nossas vidas e o traz para a superfície.
Depois Dom Juan delineou as complexidades da consciência e percepção, que eram as bases da recapitulação. Começou
dizendo que ia apresentar um conjunto de conceitos que sob nenhuma condição deveriam ser tomados como teorias de
feiticeiros, porque era um conjunto formulado pelos xamãs do México antigo como um resultado de ver a energia
diretamente enquanto ela flui no universo. Ele me preveniu que iria me apresentar as unidades desse conjunto sem
qualquer tentativa de classificá-las ou categorizá-las por qualquer padrão predeterminado.
- Não estou interessado em classificações - continuou ele. - Você tem classificado tudo na sua vida. Agora vai ser forçado a
ficar longe das classificações. Outro dia, quando lhe perguntei se sabia alguma coisa sobre nuvens, você me deu os nomes
de todas as nuvens e o percentual de umidade que se deve esperar de cada uma delas. Foi um verdadeiro meteorologista.
Porém, quando lhe perguntei se sabia o que poderia fazer pessoalmente com as nuvens, não teve a menor idéia do que eu
estava falando.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 183
• “Explicou que os feiticeiros do México antigo viram que o universo como um todo é composto de campos energéticos na
forma de filamentos luminosos. Viram milhões deles, onde quer que se virassem para ver. Também viram que esses
campos energéticos se organizam em correntes de fibras luminosas, fluxos que são constantes, forças perenes no universo,
e que a corrente ou o fluxo de filamentos que está relacionado com a recapitulação foi chamado por esses feiticeiros o mar
escuro da consciência, e também a Águia.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 184
• “- Os feiticeiros acreditam - Dom Juan continuou - que à medida que recapitulamos as nossas vidas, todo o entulho, como
lhe disse, chega à superfície. Percebemos as nossas inconsistências, nossas repetições, mas algo em nós coloca uma
tremenda resistência para recapitularmos. Os feiticeiros dizem que o caminho fica livre somente depois de uma revolução
gigantesca, depois de aparecer na nossa tela da memória um evento que mexe com as nossas bases com uma clareza de
detalhes aterrorizadora. É o evento que nos arrasta para o momento exato em que o vivemos. Os feiticeiros chamam
aquele evento de condutor, porque daí em diante cada evento que mencionamos é revivido, não meramente lembrado.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 186
• "Caminhar é sempre algo que precipita as memórias. Os feiticeiros do México antigo acreditavam que tudo o que vivemos
armazenamos como uma sensação na parte posterior de nossas pernas. Consideravam a parte posterior das nossas pernas
como o armazém da história pessoal do homem. Portanto, vamos agora caminhar nas montanhas.
Caminhamos até quase escurecer.
- Acho que já o fiz caminhar longe o suficiente - Dom Juan disse, quando voltamos para a sua casa - para que já esteja
pronto para começar essa manobra dos feiticeiros de encontrar um condutor: um evento na sua vida que você lembrará
com tal clareza que servirá como holofote para iluminar todo o resto da sua recapitulação com a mesma clareza, ou com
clareza comparável. Faça o que os feiticeiros chamam de recapitulando peças de um quebra-cabeça. Alguma coisa o levará
a se lembrar do evento que servirá como o seu condutor.
Dando-me um último aviso, me deixou só.
- Dedique a isso o seu melhor - disse ele. - Faça o seu melhor.
Fiquei extremamente silencioso por um momento, talvez devido ao silêncio à minha volta. Experimentei então uma
vibração, um tipo de solavanco em meu peito. Tive dificuldade em respirar, mas de repente algo abriu caminho em meu
peito, permitindo que eu respirasse profundamente, e uma visão total de um evento esquecido de minha infância irrompeu
em minha memória, como se tivesse ficado preso e de repente fosse libertado.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 186
• “A claridade do condutor trouxe um novo ímpeto para a minha recapitulação. Uma nova disposição substituiu a antiga.
Dali em diante, comecei a relembrar eventos de minha vida com uma clareza enlouquecedora. Era exatamente como se
uma barreira tivesse sido construída dentro de mim, que me manteve rigidamente preso a lembranças pobres e
embaçadas, e o condutor a derrubou.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 199
• “- Há uma opção secreta para a recapitulação - disse Dom Juan. - Assim como lhe disse que há uma opção secreta para
morrer, uma opção que somente os feiticeiros fazem. No caso de morrer, a opção secreta é que os seres humanos podem
reter a sua força vital e renunciar somente à sua consciência, o produto de suas vidas. No caso da recapitulação, a opção
secreta que somente os feiticeiros fazem é escolher intensificar as suas mentes verdadeiras.
A memória inquietante de suas recordações só poderia vir de sua mente verdadeira. A outra mente que todos temos e
compartilhamos, eu diria, é um modelo barato: um poder econômico, o mesmo tamanho serve para todos. Porém, esse é
um assunto que discutiremos mais tarde. O que está em jogo agora é o advento de uma força desintegradora. Mas não a
força que o está desintegrando, não é isso que quero dizer. Ela está desintegrando o que os feiticeiros chamam de
instalação forânea, que existe em você e em todo o ser humano. O efeito da força que está surgindo em você, que está
desintegrando a instalação forânea, é que puxa os feiticeiros para fora da sintaxe delas."
O Lado Ativo do Infinito, pág. 208
• “- As circunstâncias a sua volta fizeram com que fosse possível para você ter mais energia - continuou ele. - Você começou
a recapitulação de sua vida; olhou para seus amigos pela primeira vez como se estivessem numa vitrine; chegou ao seu
ponto de ruptura, completamente sozinho, levado pelas suas próprias necessidades; se desfez do seu negócio; e acima de
tudo acumulou suficiente silêncio interior. Tudo isso fez com que fosse possível para você fazer essa viagem através do mar
escuro da consciência.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 219
• “Dom Juan tinha incutido um axioma de feiticeiros em mim: "Os guerreiros-viajantes pagam elegantemente,
generosamente e com inigualável facilidade cada favor, cada serviço prestado a eles. Dessa maneira, livram-se do peso de
estar endividados."
Tinha pago, ou estava em processo de pagar, a todos que me
honraram com seus cuidados ou preocupações. Tinha recapitulado minha vida a tal ponto que não deixara nem uma pedra
sem tocar. Naquela época, acreditava verdadeiramente que não devia nada a ninguém. Expressei minhas crenças e
hesitações para Dom Juan.
Dom Juan disse que com certeza eu tinha recapitulado minha vida minuciosamente, mas acrescentou que eu estava longe
de estar livre de dívidas.
- E os seus fantasmas? - continuou ele. - Aqueles que não pode mais tocar?
Ele sabia o que estava falando. Durante minha recapitulação, contei-lhe cada incidente de minha vida. Das centenas de
incidentes que lhe relatei, ele isolara três como exemplos de dívidas que contraí no início de minha vida, e somado a isso
minha dívida para com a pessoa que tinha sido fundamental para que eu o encontrasse. Agradeci ao meu amigo
profusamente, e tive a sensação de que algo lá fora reconheceu os meus agradecimentos. Os outros três permaneceram
histórias de minha vida, histórias de pessoas que me deram um presente inconcebível, a quem eu nunca agradecera”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 295
• "Percebam o que vocês têm e não o desperdicem! O sexo é dinheiro, dinheiro vivo! Nosso destino cósmico é expandir a
consciência, por isso fomos dotados com uma porção do poder criativo da águia. O sexo foi feito para ensonhar".
Afirmou que, teoricamente, o intercâmbio sexual dos casais não tem porque afetar a disponibilidade luminosa de cada um
dos participantes, já que o homem toma da mulher tanto quanto ela toma dele. E o resultado é um equilíbrio neutro. Em
todo caso, o indesejável da operação é que a energia se mistura, razão pela qual são gerados laços de dependência que
restringe nossa liberdade e que exigem longos anos de recapitulação para serem desfeitos.”
Encontros com o Nagual, pág. 72
• “Em uma determinada ocasião, comentou que apesar da drenagem de energia a que a interação social nos expõem,
todos nós temos uma opção, pois a característica lacrada de nossa constituição luminosa nos permite reiniciar
continuamente do zero para recuperar nossa totalidade.
"Nunca é tarde afirmou. Enquanto nós estivermos vivos, sempre há um modo de conquistar qualquer tipo de bloqueio. O
melhor modo para recuperar as fibras luminosas que temos dissipado é chamando de regresso à nossa energia. A parte
mais importante é dar o primeiro passo. Para esses que estão interessados na economia e recuperação da energia, o único
caminho aberto é a recapitulação.”
Encontros com o Nagual, pág. 78
• "Os compromissos emocionais que contraímos com as pessoas são como investimentos feitos ao longo do caminho. É
preciso ser muito insensato para deixar nosso patrimônio jogado por aí!
"A única forma através da qual podemos estar completos de novo é recolhendo esse investimento, reconciliando-nos com
nossa energia e dissipando a carga dos sentimentos. O melhor método que os bruxos descobriram para isto, é recordando
os eventos de nossa história pessoal até a sua completa digestão. A recapitulação nos ajuda a sair do passado e nos insere
no agora.
"Não podemos evitar o fato de termos nascido como resultado de sexo aborrecido, e nem ter investido a maioria de nossa
luminosidade em fazer filhos ou manter relações extenuantes. Mas nós podemos recapitular; isso cancela o efeito
energético desses atos.”
Encontros com o Nagual, pág. 79
• "Recapitular é espreitar nossas rotinas, submetendo-a a um escrutínio sistemático e impiedoso. É a atividade que nos
permite visualizar nossa vida como totalidade e não como uma sucessão eventual de momentos. Porém, e ainda que isto
possa parecer estranho, só os bruxos recapitulam como norma; o resto das pessoas apenas o faz por casualidade.”
Encontros com o Nagual, pág. 79
• “Em outra conferência, Carlos se referiu à estagnação luminosa que descreveu como uma fixação de nossa atenção que
bloqueia o fluxo da energia. Ele disse que isto acontece quando nós nos recusamos a enfrentar os fatos e nos escondemos
atrás de ações evasivas. E também quando deixamos assuntos pendentes ou contraímos compromissos que nos amarram.
A conseqüência da estagnação é que a pessoa deixa de ser ela mesma. Ao ficar pressionada pela cadeia de decisões pela
qual foi tomada durante sua vida, já não pode agir de um modo deliberado e se emaranha nas circunstâncias. Esta situação
pode chegar ao ponto de se transformar em uma doença mental ou física, e só se pode resolver isso através da
recapitulação.”
Encontros com o Nagual, pág. 80
• “Sustentou que, em essência, recapitular consiste em fazer uma lista das feridas causadas por nossas interações. O passo
seguinte é viajar de retorno ao momento quando aconteceram os fatos para absorver de volta o que nos pertence e
devolver o alheio.
"O guerreiro começa a rebobinar seu dia. Reconstrói as conversações, decifra os significados, recorda os rostos e os nomes,
procura matizes, insinuações, disseca as reações emocionais próprias e das outras pessoas. Não deixa nada ao acaso, agarra
as lembranças do dia uma por uma e as limpa através da respiração.
"Também examina capítulos e categorias completas de sua vida. Por exemplo, as namoradas que teve, as casas onde viveu,
escolas, lugares de trabalho, amigos e inimigos, brigas e momentos felizes, e assim por diante. O ideal é atacar a tarefa por
ordem cronológica, da memória mais recente até a mais distante que for possível evocar. Mas, para começar, é mais fácil
fazê-lo por tópicos.
"Uma forma muito rentável do exercício, acessível a todos nós, é a recapitulação fortuita. Se vocês perceberem, nós
estamos constantemente recapitulando. Todas as recordações que conformam nosso diálogo interno podem ser
classificadas como tal. Porém, nós os evocamos de forma involuntária. Em vez de os observar em silêncio, nós os julgamos,
interagimos visceralmente com eles. Isso é lamentável. Um guerreiro tira proveito da oportunidade, porque essas
recordações, aparentemente ao acaso, são avisos de nosso lado silencioso".
Mostrou que para recapitular não são necessárias condições especiais. A pessoa pode tentar o exercício em qualquer
momento e lugar em que se sinta animado a fazê-lo.
"Os guerreiros recapitulam quando vão caminhando, no banheiro, ao trabalhar ou ao comer, quando for possível! O
importante é fazê-lo".
Acrescentou que não há uma posição definida. O único requisito é estar confortável, de forma que o corpo físico não
demande atenção nem interfira com as recordações.”
Encontros com o Nagual, pág. 80
• "A recapitulação parte de dentro e se sustenta sozinha. É uma questão de silenciar a mente e então nosso corpo
energético toma o controle, fazendo o que para ele é uma delícia fazer. Você se sente bem, confortado; longe de dar
trabalho, o deixa descansado. Seu corpo percebe isso como uma ducha inefável de energia.
"Mas você deve ter a atitude correta. Não confunda o exercício com uma questão psicológica. Se o que você necessita são
interpretações, vá até o psiquiatra! Ele dirá o que fazer para que você continue sendo o idiota que é. E menos ainda você
deveria andar atrás de uma lição. As histórias com moral só existem nos contos para crianças.
A recapitulação é uma forma especializada de espreita e vocês devem empreender isto com um alto sentido de estratégia.
Trata-se de entender e pôr em ordem nossas existências, vendo-as tal e qual são, sem remorsos, repreensões ou
felicitações, com desapego total e um ânimo leve, até de humor, porque nada em nossa história é mais importante que
nada e todas as relações, afinal, são efêmeras.
"O importante é começar, porque a energia que nós recuperamos desde o primeiro intento nos dará forças para continuar
recapitulando aspectos mais e mais intrincados de
nossas vidas. Primeiro, é necessário começar pelo investimento mais forte que são os sentimentos mais desgarrados.
Depois seguimos por aquelas memórias tão profundas que nós já acreditávamos esquecidas, mas que estão ali.”
Encontros com o Nagual, pág. 82
• "No princípio, recapitular pode nos dar algum trabalho, porque nossa mente não está acostumada à disciplina. Mas,
depois de fechar as feridas mais dolorosas, a energia se reconhece a si mesma e nós vamos ficando viciados no exercício.
Dessa maneira, cada partícula de luz que recuperamos nos ajuda a ganhar mais.
"No momento em que vocês se disponham a desemaranhar voluntariamente o enredo das suas histórias pessoais, estarão
dando o passo decisivo".
"No momento em que vocês se disponham a desemaranhar voluntariamente o enredo das suas histórias pessoais, estarão
dando o passo decisivo".
Respondendo a outra pergunta, ele disse que a recapitulação não tem fim, deve durar até o final de nossos dias e mais
adiante.
"Eu estiro minhas fibras ao rememorar cada noite o que ocorreu durante o dia. Assim, minha lista de eventos se mantém
atualizada. Mas uma vez por ano eu realizo um exercício mais completo e total, para o qual eu me distancio de tudo
durante várias semanas".
Encontros com o Nagual, pág. 83
• “Outras das perguntas que lhe fizeram foi concernente aos efeitos da recapitulação sobre a consciência.
Sustentou que o exercício tem dois efeitos principais.
"De imediato, corta nosso diálogo interno. Quando um guerreiro consegue parar seu diálogo está estreitando relações com
sua energia. Isso o libera da obrigação da memória e da carga dos sentimentos, e deixa um resíduo energético que pode ser
investido no aumento das fronteiras da percepção. O guerreiro começa a apreciar a coisa genuína, não a interpretação.
Pela primeira vez, faz contato com o consenso dos bruxos que é a descrição de uma realidade inconcebivelmente
integrada.
"É normal que um guerreiro nesta fase ria à toa, porque a energia provê alegria. Graças à recapitulação, está contente,
transbordante, salta como um menino. Por outro lado, começa a ser uma pessoa temível, já que, ao ter intacta sua
luminosidade e sua vida limpa, as decisões já não serão um obstáculo para ele. Vai decidir o que seja necessário no
momento em que queira e isso assusta aos outros.
"Também é aqui que se requer do guerreiro uma dose extra de sobriedade e sensatez, porque do contrário ele correrá
riscos desnecessários, pondo em perigo a segurança dele e de outros.
"Outro efeito da recapitulação é que funciona como um convite ao espirito para que venha e faça morada conosco. Dito em
outros termos, relembrar nosso passado é o método mais efetivo para unificar os corpos físico e energético que estiveram
separados durante anos".
Continuou dizendo que o bruxo que logra recompactar o mais grosso de sua energia está em condições de se propor uma
proeza perceptual: intentar uma cópia de sua experiência vital para enganar a morte.
"Tal é o objetivo final da recapitulação: criar um duplo e se preparar para ir. Não é necessário ser um bruxo para entender a
importância de tudo isso. Morrer em dívida é uma forma lamentável de morrer. Por outro lado, ter um duplo para oferecer
à águia é a garantia de seguir adiante.”
Encontros com o Nagual, pág. 83
• “Em outra de suas conversas, referiu-se a um método desenhado pelos novos videntes que pode ajudar no exercício da
recapitulação.
Afirmou:
"Uma das tarefas dos bruxos é analisar constantemente as insinuações do espírito. Para isto, eles costumam elaborar um
livro de eventos memoráveis, um mapa das ocasiões em que o espirito interveio em suas vidas, obrigando-lhes a tomarem
decisões de um modo voluntário ou involuntário".
Explicou que a vantagem desta técnica é que, ao escrever, nós nos desapegamos um mínimo das coisas e conseguimos
focalizá-las com mais objetividade.
"Não se trata de descrever nossa rotina diária, mas de estar atentos aos raros momentos em que o intento se manifesta.
Essas são conjunturas mágicas, porque produzem mudanças e nos põem diante do sentido de nossa existência".
A pedidos, apresentou alguns exemplos de eventos desse tipo.
"Embora os sinais do espirito sejam um assunto do mais pessoal, há eventos comuns que em geral marcam a vida das
pessoas, como nascer, escolher uma carreira, entrelaçar o destino com o de outra pessoa ou ter filhos. Também as doenças
e acidentes graves, porque eles estabelecem uma ligação com a morte. Para aqueles que têm a fortuna de achar um
conduto do espírito sob a forma de um nagual, este é sem dúvidas o evento mais memorável de todos.”
Encontros com o Nagual, pág. 85
• "Porém, o método favorito dos guerreiros é a recapitulação. A recapitulação para a mente de um modo natural.
"O principal combustível de nossos pensamentos são os assuntos pendentes, as expectativas e a defesa do ego. É muito
difícil de achar uma pessoa cujo diálogo interno seja sincero; o comum é que nós dissimulemos nossas frustrações indo até
o extremo oposto. Deste modo, o conteúdo de nossa mente se torna uma ode ao eu.
"Recapitular acaba com tudo isso. Depois de um tempo de esforço contínuo, algo cristaliza aí dentro. O diálogo habitual fica
incoerente, incômodo; não existe outro remédio senão pará-lo.
"É normal que um aprendiz nesta fase se depare com um fogo cruzado. Por um lado, está a homogeneização do seu ponto
de aglutinação; e por outro, uns enormes parênteses de silêncio que se metem em sua mente, fragmentando-a.
"Quando se esgota a inércia do diálogo interno, o mundo se refaz novamente. A onda de energia se sente como um
insuportável vazio que se abre debaixo dos pés. Por tal motivo, o guerreiro pode passar anos de instabilidade mental. A
única coisa que o conforta em tal situação é manter claro o propósito do seu caminho e não perder, de nenhuma maneira,
sua perspectiva de liberdade. Um guerreiro impecável jamais perde a sensatez.”
Encontros com o Nagual, pág. 95
• “Como vai sua recapitulação?"
A pergunta dele me pegou desprevenido. Respondi que ainda não havia intentado o exercício porque estava esperando
para ter condições favoráveis em minha casa.
Lançou-me um olhar muito sério, quase de repreensão, e comentou que, para os bruxos, a totalidade de um caminho se
resume em seu primeiro passo.
"Isso significa que as condições ideais são aqui e agora".
Encontros com o Nagual, pág. 104
• "Os bruxos manipulam a mente forasteira tornando-se caçadores de energia. É com essa finalidade que minhas
companheiras e eu desenhamos para as massas os exercícios de tensegridade que têm a virtude de nos libertar da mente
do voador.
"Nesse sentido, o bruxo é um oportunista. Aproveita o empurrão que lhe deram e diz a seu captores: 'Obrigado por tudo,
nos vemos por aí! O acordo que vocês fizeram foi com meus antepassados, não comigo!'. Ao recapitular sua vida,
literalmente está tirando a comida da boca do voador. É como se você chegasse à uma loja e devolvesse o produto ao
negociante, exigindo-lhe: 'Devolva-me o dinheiro!'. Os inorgânicos não gostam disso, mas não podem fazer nada.
"Nossa vantagem é que somos dispensáveis, há muita comida por aí! Uma posição de alerta total, que não é outra coisa
senão disciplina, cria tais condições em nossa atenção que nós deixamos de ser saborosos para esses seres. Em tal caso,
eles dão meia volta e nos deixam tranqüilos".
Encontros com o Nagual, pág. 157
• "Considerando que há duas formas de viver e de morrer, há também dois tipos de pessoas: aqueles que pensam que são
imortais e aqueles que já estão mortos. Os primeiros guardam esperanças, os últimos não. Um guerreiro é alguém que sabe
que o tempo dele já terminou, mas continua lutando, porque essa é sua natureza. Se você olhar nos olhos dele,
contemplará o vazio".
"Então, em que consiste realmente a alternativa do bruxo?".
"Há uma única forma na qual o homem pode se adiantar ao seu fim: através da manipulação de sua energia. Esse trabalho
consiste de ensonho, espreita e recapitulação. As três técnicas se fundem em um mesmo resultado: o complemento do
corpo energético.
"Em um sentido geral, a duração de nossa existência depende em grande medida de como tratamos nossa energia. Nós
deixamos a vida por assim dizer 'grudada' nos assuntos diários, vamos nos desgastando nas coisas que vemos e tocamos, e
por isso morremos. Mas se nós chamarmos de volta toda essa força vital através da recapitulação, a morte já não poderá
ser a mesma, porque teremos nossa totalidade.”
Encontros com o Nagual, pág. 173
• “Tanto o sonho como a recapitulação torna possível a criação do "duplo" energético, uma entidade praticamente
indestrutível, capaz de atuar por conta própria.
Um dos descobrimentos mais relevantes dos videntes toltecas, foi que os seres humanos possuem uma configuração
luminosa ou campo de energia ao redor de nosso corpo físico. Eles também viram que algum poucos vinham com uma
configuração especial dividida em duas partes. A estes chamaram naguais, quer dizer, "pessoas duplicadas". Por sua
particular conformação, o nagual tem maiores recursos do que a maioria das pessoas. Eles também viram que, por causa de
sua duplicidade e excepcional energia, eles são líderes naturais.”
Encontros com o Nagual, pág. 237
A RECAPITULAÇÃO 1
A Travessia das Feiticeiras - Taisha Abelar - Ed. Nova Era
Índice das Páginas: 62, 63, 66, 67, 75, 76, 80, 81, 83, 85, 91, 109, 116, 117, 118, 121, 122, 137, 138, 155, 156, 157, 203, 206,
276.
[Clara Grau]
A recapitulação é o ato de trazer de volta a energia que já despendemos em ações passadas. Ela inclui recordar todas as
pessoas que conhecemos, todos os lugares que vimos e todos os sentimentos que tivemos em toda nossa vida - começando
pelo presente e voltando às lembranças mais antigas - para então purifica-las com a vassoura da respiração. Instruiu-me
para inspirar pelo nariz quando ela virasse minha cabeça para a esquerda e expirasse quando ela a virasse para a direita.
Em seguida, eu devia virar a cabeça para a esquerda e a direita em um único movimento, sem respirar. Explicou ser esta
uma misteriosa maneira de respirar e a chave para a recapitulação, pois a inspiração nos permite puxar a energia perdida
de volta, e a expiração nos permite expelir a energia estranha e indesejável, acumulada em nós através da interação com
nossos semelhantes. Para viver e interagir precisamos de energia. Normalmente a energia despendida nos é retirada para
sempre. Não fosse a recapitulação, jamais teríamos a oportunidade de nos renovarmos. Recapitular nossas vidas e varrer
nosso passado com a respiração funcionam como uma unidade. Quando fizer a recapitulação, tente sentir alguns
filamentos longos distendendo-se, e que partem da parte média de seu corpo. Alinhe então o movimento de giro de sua
cabeça com o movimento desses filamentos impalpáveis. Eles são os condutores que trarão de volta a energia que você
deixou para trás. Para recuperarmos nossa força e unidade, precisamos liberar nossa energia aprisionada no mundo e puxa-
la de volta para nós. Durante a recapitulação, nós estendemos esses filamentos de energia preguiçosos através do espaço e
do tempo, até as pessoas, locais e acontecimentos que vamos examinar. Como resultado, podemos retornar a cada
momento de nossas vidas e agira como se realmente estivéssemos lá. Fazer uma lista de todas as pessoas que havia
conhecido, iniciando pelo presente e retrocedendo até minhas primeiras lembranças. É parte necessária da recapitulação.
A lista é uma matriz à qual a mente pode fixar-se. Explicou então que o estágio inicial da recapitulação compõe-se de duas
coisas. A primeira é a lista, e a segunda é criar a cena. Criar a cena consiste em visualizar todos os detalhes relativos aos
acontecimentos que vão ser lembrados. Quando tiver todos os elementos no lugar, use a vassoura da respiração; o
movimento de sua cabeça é como um leque que agita tudo nessa cena. Se você lembrar de um quarto, por exemplo,
respire nas paredes, no teto, na mobília, nas pessoas que visualizar. E não pare até ter absorvido a última porção de energia
que você deixou para trás. Seu corpo lhe dirá quando chegar o momento de acabar. Lembre-se, tenha a intenção de
inspirar a energia que você deixou na cena que estiver recapitulando, e expirar a energia alheia lançada em você pelas
pessoas.
[Clara Grau]
Devemos iniciar a recapitulação concentrando nossa atenção em nossa atividade sexual passada. Grande parte de nossa
energia fica aprisionada aí. Por isso temos que liberar essas memórias em primeiro lugar. Início da manhã e o fim da tarde
eram as horas mais propícias para iniciar um empreendimento tão amplo. Pegue a primeira pessoa da sua lista e trabalhe
sua lembrança para recordar tudo que vivenciou com essa pessoa, desde o momento em que vocês se conheceram até a
última vez em que se encontraram. Ou, se você preferir, você pode trabalhar ao inverso, partindo da última vez que
encontrou essa pessoa até o primeiro encontro.
[Taisha]
De posse da lista, eu ia a caverna todos os dias. A princípio a recapitulação foi bastante difícil. Eu não conseguia me
concentrar, pois me apavorava vasculhar o passado. Minha mente vagava daquilo que eu considerava um fato traumático
para o próximo, ou eu simplesmente repousava ou devaneava. Contudo, algum tempo depois, intrigou-me a clareza e os
detalhes que minhas recordações iam adquirindo. Comecei inclusive a ser mais objetiva em relação à experiência que
sempre considerara tabu. Surpreendentemente, também me sentia cada vez mais forte e otimista. Às vezes, quando
respirava, era como se a energia estivesse voltando para meu corpo, tornando meus músculos ativos e volumosos. Envolvi-
me tanto com a recapitulação que não precisei de um mês inteiro para comprovar sua eficácia.
[Clara Grau]
Existe uma maneira de mudar. Chama-se recapitulação. Uma recapitulação completa e profunda nos permite tomar
consciência daquilo que queremos mudar, possibilitando-nos ver nossas vidas sem ilusão. Ela nos proporciona uma pausa
momentânea, na qual podemos optar por aceitar nosso comportamento habitual ou modifica-lo, tendo a intenção de
eliminá-lo antes que ele nos aprisione por completo. Para mudarmos, precisamos satisfazer três condições. Primeiro, temos
que enunciar em voz alta nossa decisão de mudar, para que o intento nos ouça. Segundo, temos que direcionar nossa
percepção por determinado período de tempo: não podemos simplesmente começar alguma coisa e abandoná-la tão logo
nos sentimos desencorajados. Terceiro, temos de visualizar o resultado de nossos atos com uma sensação de completo
desapego. Isso significa que não podemos nos envolver com a idéia de sucesso ou fracasso. Siga essas três etapas e você
poderá mudar quaisquer sentimentos e desejos em você. À medida que você der continuidade a recapitulação, a entrada
na esfera onde a humanidade não é importante lhe irá aparecer. Este será o convite para você atravessar o olho do dragão.
É o que chamamos de vôo abstrato. Na verdade, ele implica a travessia de enorme abismo para chegar a uma esfera que
não pode ser descrita porque o homem não é a sua medida. A finalidade da recapitulação é romper com pressupostos
básicos que aceitamos ao longo de nossas vidas. Enquanto não forem rompidos, não poderemos impedir que o poder da
recordação obscureça nossa percepção. O mundo é uma enorme tela de lembranças; se determinadas pressuposições são
rompidas, o poder da recordação não é apenas controlado, mas até mesmo cancelado.
[Taisha lembra que quando pequena via as sombras se movendo]
Nunca ficar de sapatos enquanto estivesse recapitulando, pois comprimindo os pés, a circulação energética é interrompida.
[Taisha]
Movi a cabeça da direita para a esquerda, inspirando a energia que ainda estava irremediavelmente presa no auditório.
Quando virei a cabeça novamente para a direita, expirei todo o constrangimento e autopiedade que havia tomado conta de
mim. Movimentei a cabeça repetidamente, realizando uma respiração de varredura após a outra, até que todo o turbilhão
emocional foi liberado. Então virei a cabeça da direita para a esquerda e voltei sem respirar rompendo dessa maneira todos
os laços com aquele momento específico de meu passado. [recapitulação da pratica de karatê]
[Clara Grau]
Seu inventário está mudando muito natural e harmoniosamente. Não se preocupe demais. Simplesmente concentre-se na
recapitulação, e todo o resto virá por si mesmo. As pessoas que criaram a recapitulação viveram há centenas, senão
milhares, de anos. Você não deve, portanto, considerar este milenar processo de renovação como uma psicanálise
moderna. A recapitulação é um ato mágico, no qual o intento e a respiração representam um papel fundamental. Respirar
concentra energia e promove sua circulação. Ela é então conduzida pelo intento preestabelecido da recapitulação, que é
libertar-nos de nossas amarras biológicas e sociais. O intento da recapitulação é uma dádiva que nos é concedida por
aqueles videntes da antiguidade que criaram esse método e transmitiram-no a seus ancestrais. Cada pessoa que realiza a
recapitulação precisa acrescentar seu próprio intento, mas este intento é simplesmente o desejo ou a necessidade de fazer
a recapitulação. O intento de seu resultado final, que é a liberdade total, foi estabelecido pelos videntes da antiguidade. E
como foi estabelecida independentemente de nós, constitui uma dádiva inestimável. A recapitulação revela-nos uma faceta
crucial de nosso ser: a possibilidade de, por um instante, pouco antes de mergulharmos em qualquer ato, avaliar
acuradamente seu resultado, nossas chances, motivações e expectativas. Este conhecimento nunca é conveniente ou
satisfatório para nós, por isso nós suprimimos imediatamente. Esse momento de conhecimento direto foi chamado de O
VIDENTE pelas pessoas que formularam pela primeira vez a recapitulação, pois ele nos permite ver diretamente as coisas
com olhos límpidos. No entanto, não obstante a clareza e a precisão das avaliações do vidente, nunca prestamos atenção a
ele, nem lhe damos a oportunidade de se fazer ouvido. Com a contínua repressão, paralisamos seu crescimento e o
impedimos de desenvolver todo o seu potencial. Ao final, o vidente dentro de nós se enche de amargura e ódio. Os sábios
da antiguidade que inventaram a recapitulação acreditavam que, como nunca paramos de reprimir o vidente, ele
finalmente nos destrói. Mas esses sábios também nos asseguraram que, por meio da recapitulação, podemos permitir ao
vidente crescer e desenvolver-se como deveria ocorrer originalmente. A finalidade da recapitulação é assegurar ao vidente
a liberdade de ver. Dando-lhe espaço, podemos deliberadamente transformar o vidente em uma força que é ao mesmo
tempo misteriosa e eficaz, uma força que eventualmente nos conduzirá até a liberdade, em vez de nos matar. Por esta
razão peço-lhe sempre para relatar o que descobriu através de sua recapitulação. Você deve trazer o vidente até a
superfície e dar-lhe a oportunidade de falar e dizer o que está vendo.
[Taisha]
Sabia perfeitamente bem que existe algo dentro de mim que sempre sabe o que é o quê. Sempre soube que eu reprimia
sua capacidade de aconselhamento, pois o que ele me diz em geral é contrário àquilo que espero ou quero ouvir. A única
ocasião em que invoquei a orientação do vidente dói quando contemplei o horizonte sul e busquei seu auxílio
deliberadamente, embora jamais tivesse conseguido explicar porque fizera aquilo.
[Clara Grau]
Para nos esvaziarmos temos de mergulhar em um estado de recapitulação profunda e permitir que a energia flua através
de nós livremente. Apenas na quietude podemos conceder ao vidente pleno domínio, ou a energia impessoal do universo
pode transformar-se na própria força pessoal do intento. Quando nos esvaziamos suficientemente de nosso inventário
obsoleto e obstaculizante, recebemos a energia que se acumula naturalmente; quando uma quantidade suficiente se
aglutina, ela se transforma em poder. Qualquer coisa pode anunciar sua presença: um ruído alto, uma voz suave, um
pensamento que não é nosso, uma onda inesperada de vigor e bem-estar. Não faz diferença se o poder desce sobre nós em
estado de vigília ou em estado onírico; ele é igualmente válido em ambos os casos, sendo o último, contudo, mais
impalpável e poderoso. Aquilo que experimentamos na vigília, em termos de poder, deve ser colocado em prática nos
sonhos e todo poder que vivenciamos nos sonhos deve ser usado enquanto estamos acordados. O que realmente importa é
estarmos consciente, estejamos nós acordados ou adormecidos. O que importa é estar consciente. Quando crianças
freqüentemente fazemos promessas e depois ficamos presos a elas, embora não consigamos mais nos lembrar de que as
fizemos. Ela disse que existem momentos na vida de cada pessoa, sobretudo na tenra infância, nos quais queremos tanto
alguma coisa que automaticamente fixamos todo nosso intento nesse alvo que, uma vez fixado, permanece o mesmo até
realizarmos nosso desejo. Votos, juramentos e promessas aprisionam nosso intento de tal modo que, a partir deles, nossos
atos, sentimentos e pensamentos são sistematicamente direcionados para a realização ou manutenção desses
compromissos, não importa se lembramos ou não que os fizemos. Rever, durante a recapitulação, todas as promessas que
já se tenha feito na vida, especialmente aquelas feitas às pressas, fruto do desconhecimento ou de julgamento errôneo,
pois, a menos que se retire o intento das mesmas, este intento jamais poderá surgir para expressar-se livremente no
presente.
[Dom Juan]
Inspirar profundamente, girando suavemente a cabeça para a esquerda. Então expirar até o fim, girando bem suave a
cabeça para a direita. Por último, girar a cabeça do ombro direito até o esquerdo e de volta para o direito sem respirar,
voltando depois ao centro. Quando expirar, jogue fora todos os pensamentos e sentimentos que estiver revendo. Não fique
apenas girando a cabeça com os músculos do pescoço. Conduza-a com as linhas de energia invisíveis de seu abdômen.
Estimular essas linhas a sair é uma das tarefas da recapitulação. Bem abaixo do umbigo há um centro de poder
fundamental e que todos os movimentos do corpo, incluindo a respiração, tinham de envolver esse ponto energético.
Sincronizar o ritmo da respiração com o movimento da cabeça, de modo que juntos eles estimulem as linhas energéticas
invisíveis do abdômen ampliar-se rumo ao infinito. Essas linhas invisíveis são parte do corpo sutil, o duplo. Quanto mais
energia você estimula com a manipulação dessas linhas, mais forte se torna o duplo. O corpo físico é um revestimento, um
recipiente. Quando crianças, tínhamos plena consciência de nosso duplo; à medida que fomos crescendo, aprendemos a
valorizar cada vez mais o lado físico e menos o etérico. O corpo sutil é uma massa de energia. Temos consciência apenas de
seu revestimento externo e sólido. Nós nos tornamos conscientes de nosso lado etérico permitindo que nosso intento volte
até ele. Nosso corpo físico está inseparavelmente ligado a sua contraparte etérea, mas eu este elo tem sido toldado por
nossos pensamentos e sentimentos. Para transferir a percepção de nossa aparência concreta para sua contraparte fluida,
precisamos em primeiro lugar dissolver a barreira que separa os dois aspectos de nosso ser. A recapitulação ajuda a
dissolver nossas preconcepções, mas é preciso habilidade e concentração para alcançar o duplo. É perigoso liberar a
energia aprisionada dentro de nós, pois o duplo é vulnerável e pode prejudicar-se facilmente durante o processo de
mudança de nossa percepção para ele. Você pode criar uma abertura na rede etérica e perder grandes quantidades de
energia. Energia preciosa, necessária para manutenção de um certo nível de clareza e controle em sua vida. A rede etérica é
a luminosidade que envolve o corpo físico. Esta rede de energia é feita em pedaços durante a vida cotidiana. Grandes
porções se perdem ou se entrelaçam nas faixas de energia de outras pessoas. Se uma pessoa perde excessivamente a força
vital, ela adoece ou morre. A respiração atua nos níveis físico e etérico. Ela repara qualquer dano existente na rede etérica e
a mantém forte e maleável. É isso o que se faz na recapitulação. Retirando filamentos de energia da rede etérica, os quais
se perderam ou emaranharam em conseqüência da vida cotidiana. Você estará trazendo de volta tudo o que dispersou ao
longo dos anos e em milhares de lugares.
[Nélida Abelar]
A respiração purificadora realizada durante a recapitulação acabará permitindo recordar tudo o que já se fez, incluindo os
sonhos. O futuro não existe. É tempo de você perceber isso. E quando concluir a recapitulação e apagar completamente o
passado, tudo que restará será o presente. Então você saberá que o presente é apenas um instante, nada mais.
[Taisha]
Sentada sobre um galho robusto, as costas apoiadas no tronco da árvore, minha recapitulação assumiu um tom
completamente diferente. Eu conseguia recordar os menores detalhes das experiências de minha vida, sem medo de
qualquer envolvimento emocional inferior. Eu ria a plenos pulmões de coisas que outrora tinham sido traumas profundos
para mim. Minhas obsessões não mais despertavam autopiedade. Enxergava tudo sob uma perspectiva diferente, não
como a pessoa urbana que sempre fora, mas como o habitante de árvore despreocupada e livre que eu me tornara.
A Recapitulação 2
Recapitular é uma atividade especializada dos espreitadores pela qual suas rotinas de vida e relacionamento são
impiedosamente expostas. A componente da socialização em nossas vidas, ao fixar o ponto de aglutinação numa posição
específica, nos torna padronizados e monotonamente repetitivos no nosso relacionamento com as pessoas e com o mundo
que nos cerca.. É um círculo vicioso sem fim. A recapitulação traz isso à tona e inicia gradualmente o processo de
transformação.
Já que é um trabalho “para a vida inteira e mais além”, a recapitulação exige no início muita energia, determinação e
paciência. Nossa tendência é sempre adiar, procurar uma ocasião mais propícia para iniciar a prática, mas o Nagual deixa
claro que o melhor momento para começar é agora..
Ele diz abaixo que “a totalidade de um caminho se resume em seu primeiro passo. Isso significa que as condições ideais são
aqui e agora".
Se atentarmos para o fato de que através da recapitulação o espreitador engendra um meio de atender uma exigência
inexorável do ”mar escuro da consciência” dando a ele as experiências pessoais reivindicadas e espertamente ficando com
a vida (consciência), não há dúvida de que essa é a atividade mais importante de nossas vidas, ou seja, manter a sua
consciência individual em evolução mesmo sem o organismo humano.
Com a passagem dos anos, o inevitável sentimento de urgência que sutilmente começa a aparecer, vai deixar claro que não
estamos atendendo nesta vida a nossa mais alta vocação e potencialidade de “ser humano” que é levar nossa consciência
ao infinito.
A recapitulação é uma oportunidade e como tal não deve ser ignorada ou subestimada, pois é um privilégio ter tido nesta
existência contato com tal ensinamento.
De acordo com o que Dom Juan ensinava a seus discípulos, a recapitulação era uma técnica descoberta pelos feiticeiros do
antigo México e usada por todos os xamãs praticantes dali por diante, de examinar e reviver todas as experiências de suas
vidas para alcançar dois objetivos transcendentais:
- o objetivo abstrato de cumprir um código universal que exige que a consciência seja abandonada no momento da morte e
- o objetivo extremamente pragmático de adquirir fluidez perceptiva.
Ele dizia que a formulação do primeiro objetivo era o resultado de observações que os feiticeiros fizeram através da sua
capacidade de ver a energia diretamente como ela flui no universo. Eles tinham visto que no universo existe uma força
gigantesca, um imenso conglomerado de campos de energia que eles chamaram a águia ou o mar escuro da consciência
Eles observaram que o mar escuro da consciência é a força que empresta consciência a todos os seres vivos, do vírus ao
homem. Acreditavam que a força empresta consciência a um ser recém-nascido e que este ser aumenta aquela consciência
através das suas experiências de vida até um momento em que a força exige sua devolução.
No entendimento dos feiticeiros, todos os seres vivos morrem porque são forçados a devolverem a consciência que lhes foi
emprestada. Através das eras, os feiticeiros têm entendido que não existe nenhuma maneira do que o homem moderno
chama de o nosso modo linear de pensamento explicar um fenômeno como esse, porque, para uma linha de raciocínio de
causa e efeito, não há como explicar por que e como a consciência é emprestada e depois retomada. Os feiticeiros do
antigo México viam isso como um fato energético do universo, um fato que não pode ser explicado em termos de causa e
efeito ou em termos de um propósito que pudesse ser determinado a priori.
Os feiticeiros da linhagem de Dom Juan acreditavam que recapitular significava dar ao mar escuro da consciência o que ele
estava buscando: as suas experiências de vida. Entretanto acreditavam que, através da recapitulação, poderiam adquirir
um grau de controle que lhes permitiria separar as experiências de vida da sua força vital. Para eles, as duas não estavam
insoluvelmente entrelaçadas; só estavam unidas circunstancialmente.
Esses feiticeiros afirmavam que o mar escuro da consciência não quer tirar a vida dos seres humanos; só quer as
experiências de vida. A falta de disciplina nos seres humanos os impede de separar as duas forças e, no final, eles perdem
suas vidas, onde se esperava que perdessem apenas a força das experiências de vida. Os feiticeiros viam a recapitulação
como o procedimento através do qual eles poderiam dar ao mar escuro da consciência um substituto para as suas vidas.
Eles abriam mão das suas experiências de vida relatando-as, mas retinham a sua força vital.
Quando examinadas em termos dos conceitos lineares do nosso mundo ocidental, as alegações perceptivas dos feiticeiros
não fazem absolutamente nenhum sentido. A civilização ocidental tem estado em contato com os xamãs do Novo Mundo
há quinhentos anos e nunca houve, por parte dos acadêmicos, uma tentativa genuína de formular um discurso filosófico
sério baseado nas declarações feitas pelos xamãs. Por exemplo, para qualquer membro do mundo ocidental, a
recapitulação pode parecer coerente com a psicanálise, algo na linha de um procedimento psicológico, uma espécie de
técnica de auto-ajuda. Nada poderia estar mais distante da verdade.
De acordo com Dom Juan Matus, o homem sempre perde por negligência. No caso das premissas da feitiçaria, ele
acreditava que o homem ocidental está perdendo uma tremenda oportunidade para intensificar a sua consciência e que a
maneira como o homem ocidental se relaciona com o universo, a vida e a consciência é apenas uma entre múltiplas
opções.
Para os xamãs praticantes, recapitular significava dar a uma força incompreensível - o mar escuro da consciência - a própria
coisa que ela parecia estar procurando: as suas experiências de vida, isto é, a consciência que eles ampliaram através
daquelas próprias experiências de vida. Já que provavelmente Dom Juan não poderia me explicar esses fenômenos em
termos de lógica clássica, ele dizia que tudo o que os feiticeiros podiam desejar fazer era realizar a façanha de reter sua
força vital sem saber como isso era feito. Também dizia que havia milhares de feiticeiros que tinham conseguido fazer isso.
Tinham conservado a sua força vital após terem dado ao mar escuro da consciência a força das suas experiências de vida.
Para Dom Juan, isso significava que esses feiticeiros não morreram no sentido usual como entendemos a morte, mas
transcenderam-na retendo sua força vital e desaparecendo da face da terra, embarcando em uma viagem definitiva de
percepção.
A crença dos xamãs da linhagem de Dom Juan era que, quando a morte acontece dessa forma, todo o nosso ser
transforma-se em energia, um tipo especial de energia que conserva a marca da nossa individualidade. Dom Juan tentava
explicar isso em um sentido metafórico dizendo que nós somos compostos de um número de nações unitárias: a nação dos
pulmões, a nação do coração, a nação do estômago, a nação dos rins e assim por diante. Às vezes cada uma dessas nações
funciona independentemente das outras, mas no momento da morte todas elas são unificadas em uma única entidade. Os
feiticeiros da linhagem de Dom Juan chamavam esse estado de liberdade total. Para os feiticeiros, a morte é uma
unificadora e não uma exterminadora, como ela o é para o homem comum.
- Esse estado é a imortalidade, Dom Juan? - perguntei.
- Isso de modo algum é a imortalidade - respondeu ele. - É simplesmente a entrada em um processo evolucionário, usando
o único meio para a evolução que o homem tem à sua disposição: a consciência. Os feiticeiros da minha linhagem estavam
convencidos de que, biologicamente, o homem não poderia evoluir mais; conseqüentemente, consideravam a consciência
do homem o único meio para evoluir. No momento de morrer os feiticeiros não são aniquilados pela morte, mas
transformados em seres inorgânicos: seres que têm consciência, mas não um organismo. Para eles, serem transformados
em um ser inorgânico era evolução e isso significava que um novo tipo indescritível de consciência lhes era emprestado,
uma consciência que permaneceria por verdadeiramente milhões de anos, mas que algum dia também precisaria ser
devolvida ao doador: o mar escuro da consciência.
Uma das descobertas mais importantes dos xamãs da linhagem de Dom Juan foi que, como todas as outras coisas no
universo, o nosso mundo é uma combinação de duas forças opostas e ao mesmo tempo complementares. Uma dessas
forças é o mundo que conhecemos, que os feiticeiros chamavam o mundo dos seres orgânicos. A outra força é algo que
eles chamavam o mundo dos seres inorgânicos.
- O mundo dos seres inorgânicos - dizia Dom Juan - é povoado por seres que possuem consciência, mas não um organismo.
Eles são conglomerados de campos de energia, exatamente como nós o somos. Aos olhos de um vidente, em vez de seres
luminosos, como os seres humanos o são, eles são bastante opacos. Não são configurações energéticas arredondadas, mas
sim alongadas, como uma vela. Em essência, são conglomerados de campos de energia que, assim como nós, têm coesão e
limites. São mantidos unidos pela mesma força aglutinadora que mantém os nossos campos de energia unidos.
- Onde fica esse mundo inorgânico, Dom Juan? - perguntei.
- É o nosso mundo gêmeo - respondeu ele. - Ocupa o mesmo tempo e o mesmo espaço que o nosso mundo, mas o tipo de
consciência do nosso mundo é tão diferente do tipo de consciência do mundo inorgânico que nós nunca notamos a
presença dos seres inorgânicos, embora eles notem a nossa.
Os seres inorgânicos são seres humanos que evoluíram? perguntei.
- Absolutamente não! - exclamou ele. - Os seres inorgânicos do nosso mundo gêmeo têm sido intrinsecamente inorgânicos
desde o início, do mesmo modo como temos sido sempre intrinsecamente seres orgânicos, também desde o início. Eles são
seres cuja consciência pode evoluir exatamente como a nossa, e sem dúvida o faz, mas não tenho nenhum conhecimento
direto de como isso acontece. Entretanto o que sei é que um ser humano cuja consciência evoluiu é um ser inorgânico
brilhante, luminescente e arredondado de um tipo especial.
Dom Juan me deu uma série de descrições desse processo evolucionário, que eu sempre assumi como metáforas poéticas.
Eu escolhia a que me agradava mais, que era a da liberdade total. Imaginava um ser humano que entra em liberdade total
como sendo o ser mais corajoso, mais imaginativo possível. Dom Juan dizia que eu não estava fantasiando absolutamente
nada - que, para entrar em liberdade total, um ser humano deve invocar o seu lado sublime que, dizia ele, os seres
humanos têm mas que nunca lhes ocorre usar.
Dom Juan descrevia o segundo, o objetivo pragmático da recapitulação, como a aquisição de fluidez. O fundamento lógico
dos feiticeiros por trás disso tinha a ver com um dos assuntos mais evasivos da feitiçaria: o ponto de aglutinação, um ponto
de intensa luminosidade, do tamanho de uma bola de tênis, perceptível quando os feiticeiros vêem um ser humano como
um conglomerado de campos de energia.
Feiticeiros como Dom Juan vêem que trilhões de campos de energia na forma de filamentos de luz vindos de todo o
universo convergem ao ponto de aglutinação e o atravessam. Essa confluência de filamentos dá ao ponto de aglutinação a
sua luminosidade. O ponto de aglutinação possibilita que um ser humano perceba aqueles trilhões de filamentos de energia
transformando-os em dados sensoriais. Depois o ponto de aglutinação interpreta esses dados como o mundo da vida
cotidiana, isto é, em termos da socialização e do potencial humano.
Recapitular é reviver todas ou quase todas as experiências que tivemos e, fazendo isso, deslocar o ponto de aglutinação,
ligeiramente ou bastante, impelindo-o pela força da memória a adotar a posição que tinha quando o acontecimento que
está sendo recapitulado ocorreu. Esse ato de ir de um lado para o outro de posições anteriores à atual proporciona aos
xamãs praticantes a fluidez necessária para suportarem diferenças extraordinárias em suas viagens pelo infinito. Para os
praticantes da Tensegridade, a recapitulação proporciona a fluidez necessária para suportarem diferenças que não fazem
parte, de modo algum, de sua cognição habitual.
Como um procedimento formal, a recapitulação era feita nos tempos antigos recordando-se de cada pessoa que os
praticantes conheciam e de cada experiência em que tomaram parte. Dom Juan sugeria que, no meu caso, que é o caso do
homem moderno, eu fizesse uma lista por escrito de todas as pessoas que eu tinha conhecido em minha vida, como um
estratagema mnemônico. Uma vez que eu tivesse escrito a lista, ele continuaria a me dizer como usá-la. Eu precisava pegar
a primeira pessoa da minha lista, que retrocedia no tempo do presente até a época da minha primeiríssima experiência de
vida, e, na minha memória, estabelecer a minha última interação com aquela primeira pessoa. Essa ação é chamada de
organizar o acontecimento a ser recapitulado.
Uma detalhada recordação de minúcias é requerida como o meio apropriado de afiar a capacidade de lembrar. Essa
recordação envolve obter todos os detalhes físicos pertinentes, tal como o ambiente no qual o acontecimento recordado
ocorreu. Uma vez que o acontecimento está organizado, a pessoa deve realmente entrar no local em si, prestando especial
atenção a quaisquer configurações físicas relevantes. Por exemplo, se a interação aconteceu em um escritório, o que deve
ser lembrado é o chão, as portas, as paredes, os quadros, as janelas, as mesas, os objetos sobre as mesas, todas as coisas
que poderiam ter sido observadas em um relance e depois esquecidas.
Como um procedimento formal, a recapitulação deve começar pelo relato minucioso de acontecimentos que acabaram de
ocorrer. Dessa forma, a primazia da experiência tem precedência. Alguma coisa que acabou de ocorrer é algo que a pessoa
pode se lembrar com grande precisão. Os feiticeiros sempre confiaram no fato de que os seres humanos são capazes de
armazenar informações detalhadas das quais não estão conscientes e de que aquele detalhe é o que o mar escuro da
consciência procura.
A verdadeira recapitulação do acontecimento requer que a pessoa respire profundamente, abanando a cabeça, por assim
dizer, muito lenta e delicadamente, de um lado para o outro, começando por qualquer que seja o lado, esquerdo ou direito.
Esse abano da cabeça era feito tantas vezes quantas fossem necessárias, enquanto a pessoa se lembrava de todos os
detalhes acessíveis. Dom Juan dizia que os feiticeiros falavam sobre esse ato como inalar todos os sentimentos que a
pessoa teve no acontecimento sendo recordado e expelir todos os humores indesejáveis e os sentimentos irrelevantes que
permaneceram nela.
Os feiticeiros acreditam que o mistério da recapitulação reside no ato de inalar e exalar. Uma vez que a respiração é uma
função de manutenção da vida, os feiticeiros têm certeza de que através dela a pessoa também pode entregar ao mar
escuro da consciência o fac-símile das suas experiências de vida. Quando eu pressionava Dom Juan por uma explicação
racional sobre essa idéia, sua posição era que coisas como a recapitulação só podiam ser experimentadas e não explicadas.
Ele dizia que no ato de fazer a pessoa pode encontrar a libertação e que explicar isso era dissipar nossa energia em esforços
infrutíferos. Seu convite era coerente com todas as coisas relacionadas ao seu conhecimento: o convite para entrar em
ação.
Na recapitulação, a lista de nomes é usada como um estratagema mnemônico que impele a memória em uma viagem
inconcebível. A posição dos feiticeiros a esse respeito é que relembrar acontecimentos que acabaram de ocorrer prepara o
solo para a recordação de acontecimentos mais distantes no tempo com a mesma clareza e proximidade. Recordar
experiências desse modo é revivê-las e extrair dessa recordação um ímpeto extraordinário que é capaz de despertar a
energia dispersada dos nossos centros de vitalidade e fazê-la retornar para eles. Os feiticeiros se referem a essa
redistribuição de energia que a recapitulação causa como obter fluidez após dar ao mar escuro da consciência o que ele
está procurando.
Em um nível mais mundano, a recapitulação proporciona aos praticantes a capacidade de examinar a repetição em suas
vidas. A recapitulação pode convencê-los, além de qualquer sombra de dúvida, de que todos nós estamos à mercê de
forças que definitivamente não fazem nenhum sentido, embora à primeira vista pareçam perfeitamente razoáveis; como,
por exemplo, ficar à mercê do galanteio. Parece que para algumas pessoas o galanteio é a busca de toda uma existência.
Pessoalmente, tenho ouvido falar de pessoas com idade avançada cujo único ideal era encontrar uma companhia perfeita e
cuja aspiração era terem talvez um ano de felicidade no amor.
Dom Juan Matus costumava me dizer, sob meus veementes protestos, que o problema era que ninguém queria realmente
amar alguém, mas que cada um de nós queria ser amado. Ele dizia que para nós essa obsessão pelo galanteio, tomado pelo
significado visível, era a coisa mais natural do mundo. Ouvir um homem ou uma mulher de 75 anos dizer que ainda está à
procura de um companheiro perfeito é uma afirmação de algo idealista, romântico e belo. No entanto, examinar essa
obsessão no contexto das repetições intermináveis de uma existência faz com que ela apareça como realmente é: algo
grotesco.
Dom Juan me assegurava que, se alguma mudança comportamental está para ser realizada, precisa ser feita através da
recapitulação, já que ela é o único veículo que pode intensificar a consciência liberando a pessoa das exigências não
expressas da socialização, que são tão automáticas, tão desvalorizadas, que não são sequer notadas sob condições normais
e muito menos examinadas.
O verdadeiro ato de recapitular é um empreendimento de toda uma vida. Demora anos para esgotar a lista de pessoas,
especialmente para aqueles que conheceram e interagiram com milhares de indivíduos. Essa lista é aumentada pela
lembrança de acontecimentos impessoais nos quais nenhuma pessoa está envolvida, mas que precisam ser examinados
porque de algum modo estão relacionados à pessoa sendo recapitulada.
Dom Juan afirmava que o que os feiticeiros do antigo México procuravam avidamente ao recapitularem era a lembrança
da. interação porque, na interação, residem os efeitos profundos da socialização, que eles lutavam para superar por
quaisquer meios disponíveis.
Passes Mágicos, págs. 112 a 118
· Florinda riu, descrevendo o choque que teve. O velho a tinha levado a uma participação ativa na sua própria cura. Além do
mais, com o pretexto da exigência da curandeira, ele a colocava dentro do engradado diariamente durante seis horas pelo
menos, a fim de que ela realizasse uma tarefa específica a que ele dava o nome de "recapitulação".
O Presente da Águia, pág. 227
· Por isso seu benfeitor teve de se mudar para outra região do México e ela teve de ficar escondida na casa dele durante
anos; essa situação favoreceu Florinda, pois ela tinha de realizar a tarefa de "recapitular" e necessitava de absoluto silêncio
e solidão.
Explicou que a recapitulação é o ponto forte dos espreitadores, como o corpo sonhador é o ponto forte dos sonhadores.
Consistia em recordar sua vida até os mínimos detalhes. Para isso seu benfeitor lhe tinha dado aquele engradado como um
instrumento e um símbolo. Era um instrumento que lhe permitia aprender a se concentrar, pois tinha de se sentar lá
durante anos até que toda sua vida tivesse passado diante dos seus olhos. E era um símbolo dos estreitos limites da nossa
pessoa. Seu benfeitor lhe disse que quando terminasse a recapitulação quebrasse o engradado para simbolizar que não
mais mantinha as limitações da sua pessoa.
O Presente da Águia, pág. 228
· Florinda me deu então os fundamentos da recapitulação. Disse que o primeiro estágio é um breve relato de todos os
incidentes da nossa vida, que se apresentam de uma maneira óbvia para exame.
O segundo estágio é uma recordação mais detalhada, que sistematicamente vai desde a época anterior ao espreitador ter
se sentado dentro do engradado, e teoricamente se estende ao momento do nascimento.
Ela me assegurou que uma recapitulação perfeita pode mudar um guerreiro tanto, se não mais, quanto o controle total do
corpo sonhador. Nesse particular, o sonho e a espreita têm a mesma finalidade, entrar na terceira atenção. É importante,
entretanto, que o guerreiro saiba e pratique os dois. Disse que para a mulher há configurações diferentes do corpo
luminoso para se aperfeiçoar em uma ou em outra. Os homens, ao contrário, podem realizar os dois com facilidade, mas ao
mesmo tempo não podem nunca chegar ao grau de eficiência que as mulheres atingem em cada arte.
O Presente da Águia, pág. 228
· Florinda explicou que o elemento-chave na recapitulação é a respiração. Respirar para ela era uma mágica, por ser uma
função que produz a vida. Disse que essa recordação é fácil se se consegue reduzir a área de estímulo em volta do corpo.
Por isso existia o engradado; a partir daí a respiração produz memórias cada vez mais profundas. Teoricamente, os
espreitadores têm de se lembrar de cada sentimento que tiveram na vida, e esse processo se inicia com uma respiração. Ela
me avisou que o que estava me ensinando eram apenas preliminares, que mais tarde, em condições diferentes, me
ensinaria as complexidades do processo.
Florinda disse que seu benfeitor lhe orientou a escrever uma 1ista de acontecimentos a serem revividos. Falou que a
técnica se iniciava com uma respirada inicial. Os espreitadores começam com o queixo sobre o ombro direito e lentamente
inspiram à medida que viram a cabeça num ângulo de cento e oitenta graus. A respirada termina no ombro esquerdo. Uma
vez terminada a inspiração, a cabeça volta a ficar relaxada. Eles expiram olhando para a frente.
O espreitador então pega o primeiro acontecimento da lista e se concentra, até que todos os sentimentos que nele se
encerram tenham sido recontados. Enquanto se lembram dos sentimentos que tiveram durante o acontecimento
recordado, inspiram lentamente, movendo a cabeça do ombro direito para o esquerdo. A função dessa respiração é
restaurar energia. Florinda disse que o corpo luminoso está constantemente criando filamentos semelhantes a teias de
aranha, que são projetados para fora da massa luminosa, impulsionados por qualquer tipo de emoções. Portanto, cada
situação de interação ou cada situação que envolve sentimentos é potencialmente drenada para o corpo luminoso.
Respirando da direita para a esquerda enquanto se lembram de um sentimento, os espreitadores, através da mágica da
respiração, pegam os filamentos que foram deixados para trás. A próxima respirada imediata é da esquerda para a direita e
é uma expiração. Com ela os espreitadores soltam os filamentos deixados neles por outros corpos luminosos envolvidos no
acontecimento que está sendo recordado.
Ela declarou que essas eram as preliminares essenciais da espreita que todos os membros do seu grupo tinham passado
como introdução a exercícios mais apurados da arte. Sem fazer os exercícios preliminares para recuperar os filamentos
deixados no mundo, e particularmente para desprezar os que os outros deixaram neles, não há possibilidade de manipular
a loucura controlada, pois esses filamentos estranhos são a base da capacidade ilimitada de auto-importância de uma
pessoa. Para exercitar a loucura controlado, já que ela não visa a enganar ou punir as pessoas ou se sentir superior a elas,
tem-se de ser capaz de rir de si próprio. Florinda disse que um dos resultados de uma recapitulação detalhada é a graça de
se ver face a face com a repetição monótona da auto-estima de alguém, que está no cerne de toda a interação humana.
Ela enfatizou que o regulamento definia a espreita e o sonho como artes, portanto, a serem representadas. Disse que a
natureza produtora de vida da respiração é também o que dá sua capacidade de limpeza. É essa capacidade que faz da
recapitulação uma questão prática.
O Presente da Águia, pág. 229
· “Disse que seu benfeitor considerava as três técnicas básicas da espreita - o engradado, a lista de acontecimentos a serem
recapitulados, e a respiração do espreitador - como sendo as tarefas talvez mais importantes de um guerreiro. Ele achava
que uma recapitulação profunda era o meio mais eficiente para se perder a forma humana. Portanto, seria fácil para os
espreitadores, depois de recapitularem suas vidas, fazer uso de todos os não fazeres do seu eu, tais como apagar sua
história pessoal, perder a auto-importância, quebrar as rotinas, e assim por diante.”
O Presente da Águia, pág. 230
· - Recordar não é o mesmo que relembrar - continuou. - Relembrar é ditado pelo tipo de pensamento cotidiano, enquanto
recordar é ditado pelo movimento do ponto de aglutinação. Uma recapitulação de suas vidas, que os feiticeiros fazem, é a
chave para mover seus pontos de aglutinação. Os feiticeiros começam sua recapitulação pensando, relembrando os atos
mais importantes de suas vidas. Após apenas pensar a respeito deles, movem-se então para estar realmente no local do
evento. Quando conseguem fazer isso, estar no local do evento, foi porque moveram com sucesso seu ponto de
aglutinação ao lugar preciso onde estava quando o evento teve lugar. Trazer de volta o evento total por meio do
movimento do ponto de aglutinação é conhecido como a recordação dos feiticeiros.
Olhou para mim por um instante, como se tentando assegurar-se de que eu estava escutando.
- Nossos pontos de aglutinação estão constantemente se movendo, movimentos imperceptíveis. Os feiticeiros acreditam
que, para fazer seus pontos de aglutinação se moverem a pontos precisos, devemos empenhar por intento. Uma vez que
não há maneira de saber o que é o intento, os feiticeiros deixam que seus olhos o chamem.
- Tudo isso é de fato incompreensível para mim - retruquei.
O Poder do Silêncio, pág. 129
· Morri naquele campo. Senti minha consciência fluindo para fora de mim e dirigindo-se na direção da Águia. Mas como eu
havia recapitulado impecavelmente minha vida, a Águia não me devorou a consciência. A Águia cuspiu-me para fora. Por-
que meu corpo estava morto no campo, ela não me deixou seguir diretamente para a liberdade. Era como se me dissesse
para voltar e tentar outra vez.”
O Poder do Silêncio, pág. 187
· Eu chegara ao ponto de ter medo de dormir nos dias em que sabia que teria aquele sonho.
- Você ainda não está verdadeiramente pronto para fundir sua realidade de sonho com sua realidade cotidiana. Precisa
recapitular mais a sua vida.
- Mas eu já fiz toda a recapitulação possível - protestei.
- Venho recapitulando há anos. Não há mais nada que eu possa lembrar sobre minha vida.
- Deve haver muito mais - ele disse, inflexível. – De outro modo não acordaria gritando.
Não gostei da idéia de ter de recapitular outra vez. Eu tinha feito isso, e acreditava que fizera tão bem que não precisaria
nunca mais tocar no assunto.
- A recapitulação de nossa vida nunca termina, não importa que tenhamos recapitulado direito - disse Dom Juan. - O motivo
das pessoas comuns não terem vontade própria nos sonhos é nunca terem recapitulado, e suas vidas ficam cheias até a
borda de emoções como lembranças, esperanças, medos etc. etc.
"Os feiticeiros, por outro lado, são relativamente livres de emoções pesadas e opressivas, por causa da recapitulação. E se
alguma coisa faz com que eles fiquem bloqueados, como está acontecendo com você, a suposição é que ainda existe
alguma coisa neles que não está suficientemente clara.”
- Recapitular é um negócio envolvente demais, Dom Juan.
- Talvez exista alguma outra coisa que eu possa fazer.
- Não, não existe. Recapitular e sonhar andam lado a lado. À medida que regurgitamos nossas vidas nós ficamos mais e
mais leves.
Dom Juan me dera instruções detalhadas e explícitas sobre a recapitulação. Consistia em reviver a totalidade das
experiências de vida lembrando-se de cada detalhe possível. Ele via a recapitulação como o fator essencial na redefinição e
reestruturação da energia do sonhador.
- A recapitulação liberta a energia aprisionada dentro de nós, e sem essa energia liberada o sonhar não é possível.
A Arte do Sonhar, pág. 166
· Anos antes Dom Juan me levara a fazer uma lista de todas as pessoas que conhecera na vida, começando no presente. Ele
me ajudou a arrumar a lista de modo ordenado, separando-a por áreas de atividade, como os empregos que eu tivera, as
escolas onde estudara. Em seguida guiou-me para ir, sem qualquer desvio, da primeira pessoa em minha lista até a última,
revivendo cada uma das interações que eu tivera com elas.
Explicou que a recapitulação de um evento começa com a mente arrumando tudo que tem a ver com o que está sendo
recapitulado. Arrumar significa reconstruir o evento, peça por peça, começando pela lembrança dos detalhes físicos ao
redor, e em seguida passando à pessoa com quem compartilhamos a interação, e em seguida para nós mesmos; para o
exame de nossos sentimentos.
Dom Juan me ensinou que a recapitulação é realizada junto com uma respiração natural e rítmica. São feitas longas
expirações enquanto a cabeça se move devagar e suavemente da direita para a esquerda; e são tomadas longas inalações
quando a cabeça se move da esquerda para a direita. Ele chamava de "arejar o evento", esse ato de mover a cabeça de um
lado para o outro. A mente examina o evento do princípio ao fim, enquanto o corpo ventila tudo em que a mente se
concentra.
Dom Juan disse que os feiticeiros da antigüidade, os inventores da recapitulação, viam a respiração como um ato mágico,
vivificante, e usavam-na como um veículo de magia; a expiração era usada para ejetar a energia estranha deixada neles
enquanto a interação era recapitulada, e a inalação servia para recuperar a energia que eles tinham deixado para trás
durante a interação.
Devido ao meus estudos acadêmicos eu tomei a recapitulação como o processo de analisar a própria vida. Mas Dom Juan
insistiu que havia mais coisa envolvida do que uma psicanálise intelectual. Ele postulava a recapitulação como uma
manobra dos feiticeiros para induzir um deslocamento minúsculo, porém firme, do ponto de aglutinação. Disse que, sob o
impacto de rever sentimentos e ações do passado, o ponto de aglutinação fica indo e voltando do posicionamento atual
para o que ele ocupava quando aconteceu o evento que está sendo recapitulado.”
A Arte do Sonhar, pág. 167
· Dom Juan afirmava que o raciocínio dos feiticeiros antigos, para explicar a recapitulação, era sua convicção de que existe
uma inconcebível força de dissolução no universo, que faz os organismos viverem emprestando-lhes consciência. A mesma
força também faz os organismos morrerem, para extrair deles a mesma consciência emprestada, que os organismos
aprimoraram através de suas experiências de vida. Dom Juan explicou o raciocínio dos feiticeiros antigos. Eles acreditavam
que, como essa força estava atrás de nossa experiência de vida, era de suprema importância o fato de que ela poderia se
satisfazer com um fac-símile de nossa experiência de vida: a recapitulação. Ao receber o que deseja, a força de dissolução
deixa os feiticeiros livres para expandir sua capacidade de perceber e de chegar com ela aos confins do tempo e do espaço.
Quando comecei a recapitular de novo tive a grande surpresa de ver meus treinamentos de sonhar suspensos
automaticamente. Perguntei a Dom Juan sobre esse recesso indesejado.
- O sonhar exige toda a energia disponível - respondeu ele. - Se houver uma preocupação profunda em sua vida, não existe
possibilidade de sonhar.
- Mas eu já estive profundamente preocupado antes, e meus treinamentos nunca se interromperam.
- Pode ser então que, toda vez que você achou que estava preocupado, estivesse apenas egomaniacamente perturbado -
ele disse rindo. - Para os feiticeiros, estar preocupado significa que todas as nossas fontes de energia foram utilizadas. Essa
é a primeira vez que você envolve a totalidade de suas fontes de energia. No resto do tempo, mesmo quando recapitulou
antes, você não estava completamente absorvido.
Dessa vez Dom Juan me deu outro padrão de recapitulação. Eu deveria construir um quebra-cabeça recapitulando, sem
qualquer ordem, diferentes fatos de minha vida.
- Mas vai ser uma confusão - protestei.
- Não, não vai - ele assegurou. - Será uma confusão se você deixar sua mesquinharia escolher os eventos a serem
recapitulados. Em vez disso deixe o espírito decidir. Silencie, e em seguida vá até o evento que o espírito escolher.
Os resultados desse padrão de recapitulação foram chocantes em muitos níveis. Achei impressionante descobrir que, toda
vez que silenciava meus pensamentos, uma força que parecia independente lançava-me de imediato numa lembrança
detalhada de algum evento de minha vida. Mas foi ainda mais impressionante descobrir que daquilo resultava uma
configuração bastante ordenada. O que imaginei que seria caótico acabou mostrando-se extremamente eficaz.
Perguntei a Dom Juan por que ele não me fizera recapitular daquele jeito desde o início. Ele respondeu que existem dois
ciclos básicos para a recapitulação: o primeiro era chamado de formalidade e rigidez, e o segundo de fluidez.
Eu não tinha a menor idéia de como minha recapitulação seria diferente. A capacidade de concentração, que eu adquirira
através dos treinamentos de sonhar, permitiu-me examinar minha vida numa profundidade que nunca imaginaria possível.
Demorei mais de um ano para ver e rever tudo que podia sobre minhas experiências. No final precisei concordar com Dom
Juan: eu tinha uma imensidão de emoções escondidas tão profundamente a ponto de se tornarem virtualmente
inacessíveis.
A Arte do Sonhar, pág. 168
· Tudo que esses feiticeiros faziam girava em torno de cinco preocupações:
- primeira, os passes mágicos;
- segunda, o centro energético no corpo humano chamado de centro para decisões;
- terceira, a recapitulação - as maneiras para aumentar o campo de ação da consciência humana;
- quarta, sonhar, a arte genuína de romper os parâmetros da percepção normal;
- quinta, o silêncio interior - o estágio da percepção humana do qual esses feiticeiros empreendiam cada uma das suas
consecuções perceptivas.
Essa seqüência das cinco preocupações foi um conjunto moldado na compreensão que aqueles feiticeiros tinham do
mundo ao seu redor.
De acordo com o que Dom Juan ensinava, uma das descobertas estarrecedoras daqueles xamãs foi a existência no universo
de uma força aglutinadora que une campos de energia em unidades concretas e funcionais. Os feiticeiros que descobriram
a existência dessa força descreveram-na como uma vibração ou condição vibratória que permeia grupos de campos de
energia e os mantém unidos.
Em termos desse conjunto de cinco preocupações dos xamãs do antigo México, os passes mágicos preenchem a função da
condição vibratória da qual falavam os xamãs. Quando aqueles feiticeiros juntaram essa seqüência xamanística das cinco
preocupações, copiaram
O padrão da energia que lhes era revelado quando eles eram capazes de ver a energia como ela flui no universo. A força de
ligação eram os passes mágicos. Os passes mágicos eram a unidade que permeava as quatro unidades restantes e as
agrupava em um único todo funcional.”
Passes Mágicos, pág. 99
· OS PASSES MÁGICOS PARA A RECAPITULAÇÃO
A recapitulação afeta algo que Dom Juan chamava de corpo energético. Ele explicava formalmente o corpo energético
como um conglomerado de campos de energia que são a imagem espelhada dos campos de energia que constituem o
corpo humano quando ele é visto diretamente como energia. Dizia que no caso dos feiticeiros o corpo físico e o corpo
energético são uma única unidade. Os passes mágicos para a recapitulação trazem o corpo energético para o corpo físico, o
que é essencial para navegar no desconhecido:
13. Forjando o Tronco do Corpo Energético
14. Esbofeteando o Corpo Energético
15. Estendendo Lateralmente o Corpo Energético
16. Estabelecendo o Núcleo do Corpo Energético
17. Forjando os Calcanhares e as Panturrilhas do
18. Forjando os Joelhos do Corpo Energético
19. Forjando as Coxas do Corpo Energético
20. Despertando a História Pessoal Tomando-a Flexível
21. Despertando a História Pessoal Batendo Repetidamente com o Calcanhar no Chão
22. Despertando a História Pessoal Sustentando o Calcanhar no Chão
23. As Asas da Recapitulação
24. A Janela da Recapitulação
25. As Cinco Respirações Profundas
26. Extraindo Energia dos Pés
Passes Mágicos, págs.118 a 125
· “No mundo dos xamãs, perceber a energia de tal maneira é o primeiro passo obrigatório para uma visão mais livre, mais
abrangente, de um sistema diferente de conhecimento. Para provocar em mim a resposta de ver, Dom Juan utilizou outras
estranhas unidades de cognição. Uma das mais importantes chamava-se recapitulação, que consistia em um escrutínio
sistemático da própria vida, segmento por segmento, um exame feito não à luz da crítica e da descoberta de falhas, mas à
luz de um esforço para entender a própria vida e mudar o seu curso. O argumento de Dom Juan era que, uma vez que o
praticante visse sua vida da maneira distanciada que a recapitulação exige, não havia mais a possibilidade de voltar à
mesma vida.”
A Roda do Tempo, pág. 11
· Para Dom Juan Matus, recapitular significava reviver e remanejar tudo de nossa vida numa única ação. Ele nunca se
preocupou com as minúcias das elaboradas variações daquela antiga técnica. Florinda, por sua parte, tinha uma
meticulosidade totalmente diferente. Ela gastava meses treinando-me em aspectos da recapitulação que até hoje sou
incapaz de explicar.
- É a vastidão do guerreiro o que você está experimentando - ela explicou. - As técnicas estão aí. Grande coisa. O que é de
suprema importância é o homem que as usa e seu desejo de ir até o fim com elas.
A Roda do Tempo, pág. 230
· - A premissa dos feiticeiros é que para se introduzir algo, precisa-se de espaço para colocá-lo - disse ele. - Se você estiver
cheio até a borda com itens da vida cotidiana, não há espaço para nada novo. Esse espaço precisa ser construído. Percebe o
que eu quero dizer? Os feiticeiros dos tempos antigos acreditavam que a recapitulação da sua vida abria esse espaço. Ela
faz isso e muito mais, claro.
A maneira como os feiticeiros realizam a recapitulação é muito formal. Consiste em fazer uma lista de todas as pessoas que
conheceram, desde o presente até o início de suas vidas. Uma vez feita essa lista, pegam a primeira pessoa dela e lembram-
se de tudo o que puderem sobre essa pessoa. E quero dizer tudo, cada detalhe. É melhor recapitular do presente para o
passado, porque as memórias do presente estão frescas e dessa maneira a capacidade de lembrar é afiada. O que os
praticantes fazem é lembrar e respirar. Inspiram lenta e deliberadamente, girando a cabeça da direita para a esquerda,
num balanço quase imperceptível, e expiram da mesma forma?
Disse que o inspirar e o expirar devem ser naturais; se forem rápidos demais, uma pessoa entraria no que se chama de
respiração cansativa: respirações que depois precisam de respirações lentas a fim de acalmar os músculos.
- E o que devo fazer, Dom Juan, com tudo isso? - perguntei. - Comece a fazer a sua lista hoje - disse ele. - Divida-a por anos,
por ocupações, organize-a da maneira que quiser, porém faça-a em seqüência, com a pessoa mais recente primeiro e
terminando com a sua mãe e o seu pai. Depois, lembre-se de tudo sobre elas. Não há mais nada para se fazer além disso. A
medida que você pratica, perceberá o que está fazendo.
O Lado Ativo do Infinito, pág. 180
· - O poder da recapitulação - disse Dom Juan - é que revolve todo o lixo das nossas vidas e o traz para a superfície.
Depois Dom Juan delineou as complexidades da consciência e percepção, que eram as bases da recapitulação. Começou
dizendo que ia apresentar um conjunto de conceitos que sob nenhuma condição deveriam ser tomados como teorias de
feiticeiros, porque era um conjunto formulado pelos xamãs do México antigo como um resultado de ver a energia
diretamente enquanto ela flui no universo. Ele me preveniu que iria me apresentar as unidades desse conjunto sem
qualquer tentativa de classificá-las ou categorizá-las por qualquer padrão predeterminado.
- Não estou interessado em classificações - continuou ele. - Você tem classificado tudo na sua vida. Agora vai ser forçado a
ficar longe das classificações. Outro dia, quando lhe perguntei se sabia alguma coisa sobre nuvens, você me deu os nomes
de todas as nuvens e o percentual de umidade que se deve esperar de cada uma delas. Foi um verdadeiro meteorologista.
Porém, quando lhe perguntei se sabia o que poderia fazer pessoalmente com as nuvens, não teve a menor idéia do que eu
estava falando.
O Lado Ativo do Infinito, pág. 183
· “Explicou que os feiticeiros do México antigo viram que o universo como um todo é composto de campos energéticos na
forma de filamentos luminosos. Viram milhões deles, onde quer que se virassem para ver. Também viram que esses
campos energéticos se organizam em correntes de fibras luminosas, fluxos que são constantes, forças perenes no universo,
e que a corrente ou o fluxo de filamentos que está relacionado com a recapitulação foi chamado por esses feiticeiros o mar
escuro da consciência, e também a Águia.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 184
· “- Os feiticeiros acreditam - Dom Juan continuou - que à medida que recapitulamos as nossas vidas, todo o entulho, como
lhe disse, chega à superfície. Percebemos as nossas inconsistências, nossas repetições, mas algo em nós coloca uma
tremenda resistência para recapitularmos. Os feiticeiros dizem que o caminho fica livre somente depois de uma revolução
gigantesca, depois de aparecer na nossa tela da memória um evento que mexe com as nossas bases com uma clareza de
detalhes aterrorizadora. É o evento que nos arrasta para o momento exato em que o vivemos. Os feiticeiros chamam
aquele evento de condutor, porque daí em diante cada evento que mencionamos é revivido, não meramente lembrado.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 186
· Caminhar é sempre algo que precipita as memórias. Os feiticeiros do México antigo acreditavam que tudo o que vivemos
armazenamos como uma sensação na parte posterior de nossas pernas. Consideravam a parte posterior das nossas pernas
como o armazém da história pessoal do homem. Portanto, vamos agora caminhar nas montanhas.
Caminhamos até quase escurecer.
- Acho que já o fiz caminhar longe o suficiente - Dom Juan disse, quando voltamos para a sua casa - para que já esteja
pronto para começar essa manobra dos feiticeiros de encontrar um condutor: um evento na sua vida que você lembrará
com tal clareza que servirá como holofote para iluminar todo o resto da sua recapitulação com a mesma clareza, ou com
clareza comparável. Faça o que os feiticeiros chamam de recapitulando peças de um quebra-cabeça. Alguma coisa o levará
a se lembrar do evento que servirá como o seu condutor.
Dando-me um último aviso, me deixou só.
- Dedique a isso o seu melhor - disse ele. - Faça o seu melhor.
Fiquei extremamente silencioso por um momento, talvez devido ao silêncio à minha volta. Experimentei então uma vibra-
ção, um tipo de solavanco em meu peito. Tive dificuldade em respirar, mas de repente algo abriu caminho em meu peito,
permitindo que eu respirasse profundamente, e uma visão total de um evento esquecido de minha infância irrompeu em
minha memória, como se tivesse ficado preso e de repente fosse libertado.
O Lado Ativo do Infinito, pág. 186
· “A claridade do condutor trouxe um novo ímpeto para a minha recapitulação. Uma nova disposição substituiu a antiga.
Dali em diante, comecei a relembrar eventos de minha vida com uma clareza enlouquecedora. Era exatamente como se
uma barreira tivesse sido construída dentro de mim, que me manteve rigidamente preso a lembranças pobres e
embaçadas, e o condutor a derrubou.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 199
· - Há uma opção secreta para a recapitulação - disse Dom Juan. - Assim como lhe disse que há uma opção secreta para
morrer, uma opção que somente os feiticeiros fazem. No caso de morrer, a opção secreta é que os seres humanos podem
reter a sua força vital e renunciar somente à sua consciência, o produto de suas vidas. No caso da recapitulação, a opção
secreta que somente os feiticeiros fazem é escolher intensificar as suas mentes verdadeiras.
A memória inquietante de suas recordações só poderia vir de sua mente verdadeira. A outra mente que todos temos e
compartilhamos, eu diria, é um modelo barato: um poder econômico, o mesmo tamanho serve para todos. Porém, esse é
um assunto que discutiremos mais tarde. O que está em jogo agora é o advento de uma força desintegradora. Mas não a
força que o está desintegrando, não é isso que quero dizer. Ela está desintegrando o que os feiticeiros chamam de
instalação forânea, que existe em você e em todo o ser humano. O efeito da força que está surgindo em você, que está
desintegrando a instalação forânea, é que puxa os feiticeiros para fora da sintaxe delas.
O Lado Ativo do Infinito, pág. 208
· “- As circunstâncias a sua volta fizeram com que fosse possível para você ter mais energia - continuou ele. - Você começou
a recapitulação de sua vida; olhou para seus amigos pela primeira vez como se estivessem numa vitrine; chegou ao seu
ponto de ruptura, completamente sozinho, levado pelas suas próprias necessidades; se desfez do seu negócio; e acima de
tudo acumulou suficiente silêncio interior. Tudo isso fez com que fosse possível para você fazer essa viagem através do mar
escuro da consciência.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 219
· “Dom Juan tinha incutido um axioma de feiticeiros em mim: "Os guerreiros-viajantes pagam elegantemente, genero-
samente e com inigualável facilidade cada favor, cada serviço prestado a eles. Dessa maneira, livram-se do peso de estar
endividados."
Tinha pago, ou estava em processo de pagar, a todos que me
honraram com seus cuidados ou preocupações. Tinha recapitulado minha vida a tal ponto que não deixara nem uma pedra
sem tocar. Naquela época, acreditava verdadeiramente que não devia nada a ninguém. Expressei minhas crenças e
hesitações para Dom Juan.
Dom Juan disse que com certeza eu tinha recapitulado minha vida minuciosamente, mas acrescentou que eu estava longe
de estar livre de dívidas.
- E os seus fantasmas? - continuou ele. - Aqueles que não pode mais tocar?
Ele sabia o que estava falando. Durante minha recapitulação, contei-lhe cada incidente de minha vida. Das centenas de inci-
dentes que lhe relatei, ele isolara três como exemplos de dívidas que contraí no início de minha vida, e somado a isso
minha dívida para com a pessoa que tinha sido fundamental para que eu o encontrasse. Agradeci ao meu amigo
profusamente, e tive a sensação de que algo lá fora reconheceu os meus agradecimentos. Os outros três permaneceram
histórias de minha vida, histórias de pessoas que me deram um presente inconcebível, a quem eu nunca agradecera.
O Lado Ativo do Infinito, pág. 295
· "Percebam o que vocês têm e não o desperdicem! O sexo é dinheiro, dinheiro vivo! Nosso destino cósmico é expandir a
consciência, por isso fomos dotados com uma porção do poder criativo da águia. O sexo foi feito para ensonhar".
Afirmou que, teoricamente, o intercâmbio sexual dos casais não tem porque afetar a disponibilidade luminosa de cada um
dos participantes, já que o homem toma da mulher tanto quanto ela toma dele. E o resultado é um equilíbrio neutro. Em
todo caso, o indesejável da operação é que a energia se mistura, razão pela qual são gerados laços de dependência que
restringe nossa liberdade e que exigem longos anos de recapitulação para serem desfeitos.”
Encontros com o Nagual, pág. 72
· Em uma determinada ocasião, comentou que apesar da drenagem de energia a que a interação social nos expõem, todos
nós temos uma opção, pois a característica lacrada de nossa constituição luminosa nos permite reiniciar continuamente do
zero para recuperar nossa totalidade.
"Nunca é tarde afirmou. Enquanto nós estivermos vivos, sempre há um modo de conquistar qualquer tipo de bloqueio. O
melhor modo para recuperar as fibras luminosas que temos dissipado é chamando de regresso à nossa energia. A parte
mais importante é dar o primeiro passo. Para esses que estão interessados na economia e recuperação da energia, o único
caminho aberto é a recapitulação.”
Encontros com o Nagual, pág. 78
· Os compromissos emocionais que contraímos com as pessoas são como investimentos feitos ao longo do caminho. É
preciso ser muito insensato para deixar nosso patrimônio jogado por aí!
A única forma através da qual podemos estar completos de novo é recolhendo esse investimento, reconciliando-nos com
nossa energia e dissipando a carga dos sentimentos. O melhor método que os bruxos descobriram para isto, é recordando
os eventos de nossa história pessoal até a sua completa digestão. A recapitulação nos ajuda a sair do passado e nos insere
no agora.
"Não podemos evitar o fato de termos nascido como resultado de sexo aborrecido, e nem ter investido a maioria de nossa
luminosidade em fazer filhos ou manter relações extenuantes. Mas nós podemos recapitular; isso cancela o efeito
energético desses atos.”
Encontros com o Nagual, pág. 79
· "Recapitular é espreitar nossas rotinas, submetendo-a a um escrutínio sistemático e impiedoso. É a atividade que nos
permite visualizar nossa vida como totalidade e não como uma sucessão eventual de momentos. Porém, e ainda que isto
possa parecer estranho, só os bruxos recapitulam como norma; o resto das pessoas apenas o faz por casualidade.”
Encontros com o Nagual, pág. 79
· Em outra conferência, Carlos se referiu à estagnação luminosa que descreveu como uma fixação de nossa atenção que
bloqueia o fluxo da energia. Ele disse que isto acontece quando nós nos recusamos a enfrentar os fatos e nos escondemos
atrás de ações evasivas. E também quando deixamos assuntos pendentes ou contraímos compromissos que nos amarram.
A conseqüência da estagnação é que a pessoa deixa de ser ela mesma. Ao ficar pressionada pela cadeia de decisões pela
qual foi tomada durante sua vida, já não pode agir de um modo deliberado e se emaranha nas circunstâncias. Esta situação
pode chegar ao ponto de se transformar em uma doença mental ou física, e só se pode resolver isso através da
recapitulação.
Encontros com o Nagual, pág. 80
· Sustentou que, em essência, recapitular consiste em fazer uma lista das feridas causadas por nossas interações. O passo
seguinte é viajar de retorno ao momento quando aconteceram os fatos para absorver de volta o que nos pertence e
devolver o alheio.
O guerreiro começa a rebobinar seu dia. Reconstrói as conversações, decifra os significados, recorda os rostos e os nomes,
procura matizes, insinuações, disseca as reações emocionais próprias e das outras pessoas. Não deixa nada ao acaso, agarra
as lembranças do dia uma por uma e as limpa através da respiração.
Também examina capítulos e categorias completas de sua vida. Por exemplo, as namoradas que teve, as casas onde viveu,
escolas, lugares de trabalho, amigos e inimigos, brigas e momentos felizes, e assim por diante. O ideal é atacar a tarefa por
ordem cronológica, da memória mais recente até a mais distante que for possível evocar. Mas, para começar, é mais fácil
fazê-lo por tópicos.
"Uma forma muito rentável do exercício, acessível a todos nós, é a recapitulação fortuita. Se vocês perceberem, nós
estamos constantemente recapitulando. Todas as recordações que conformam nosso diálogo interno podem ser
classificadas como tal. Porém, nós os evocamos de forma involuntária. Em vez de os observar em silêncio, nós os julgamos,
interagimos visceralmente com eles. Isso é lamentável. Um guerreiro tira proveito da oportunidade, porque essas
recordações, aparentemente ao acaso, são avisos de nosso lado silencioso".
Mostrou que para recapitular não são necessárias condições especiais. A pessoa pode tentar o exercício em qualquer
momento e lugar em que se sinta animado a fazê-lo.
"Os guerreiros recapitulam quando vão caminhando, no banheiro, ao trabalhar ou ao comer, quando for possível! O
importante é fazê-lo".
Acrescentou que não há uma posição definida. O único requisito é estar confortável, de forma que o corpo físico não
demande atenção nem interfira com as recordações.
Encontros com o Nagual, pág. 80
· A recapitulação parte de dentro e se sustenta sozinha. É uma questão de silenciar a mente e então nosso corpo energético
toma o controle, fazendo o que para ele é uma delícia fazer. Você se sente bem, confortado; longe de dar trabalho, o deixa
descansado. Seu corpo percebe isso como uma ducha inefável de energia.
Mas você deve ter a atitude correta. Não confunda o exercício com uma questão psicológica. Se o que você necessita são
interpretações, vá até o psiquiatra! Ele dirá o que fazer para que você continue sendo o idiota que é. E menos ainda você
deveria andar atrás de uma lição. As histórias com moral só existem nos contos para crianças.
A recapitulação é uma forma especializada de espreita e vocês devem empreender isto com um alto sentido de estratégia.
Trata-se de entender e pôr em ordem nossas existências, vendo-as tal e qual são, sem remorsos, repreensões ou
felicitações, com desapego total e um ânimo leve, até de humor, porque nada em nossa história é mais importante que
nada e todas as relações, afinal, são efêmeras.
O importante é começar, porque a energia que nós recuperamos desde o primeiro intento nos dará forças para continuar
recapitulando aspectos mais e mais intrincados de nossas vidas. Primeiro, é necessário começar pelo investimento mais
forte que são os sentimentos mais desgarrados. Depois seguimos por aquelas memórias tão profundas que nós já
acreditávamos esquecidas, mas que estão ali.
Encontros com o Nagual, pág. 82
· No princípio, recapitular pode nos dar algum trabalho, porque nossa mente não está acostumada à disciplina. Mas, depois
de fechar as feridas mais dolorosas, a energia se reconhece a si mesma e nós vamos ficando viciados no exercício. Dessa
maneira, cada partícula de luz que recuperamos nos ajuda a ganhar mais.
"No momento em que vocês se disponham a desemaranhar voluntariamente o enredo das suas histórias pessoais, estarão
dando o passo decisivo".
"No momento em que vocês se disponham a desemaranhar voluntariamente o enredo das suas histórias pessoais, estarão
dando o passo decisivo".
Respondendo a outra pergunta, ele disse que a recapitulação não tem fim, deve durar até o final de nossos dias e mais
adiante.
"Eu estiro minhas fibras ao rememorar cada noite o que ocorreu durante o dia. Assim, minha lista de eventos se mantém
atualizada. Mas uma vez por ano eu realizo um exercício mais completo e total, para o qual eu me distancio de tudo
durante várias semanas".
Encontros com o Nagual, pág. 83
· Outras das perguntas que lhe fizeram foram concernentes aos efeitos da recapitulação sobre a consciência.
Sustentou que o exercício tem dois efeitos principais.
De imediato, corta nosso diálogo interno. Quando um guerreiro consegue parar seu diálogo está estreitando relações com
sua energia. Isso o libera da obrigação da memória e da carga dos sentimentos, e deixa um resíduo energético que pode ser
investido no aumento das fronteiras da percepção. O guerreiro começa a apreciar a coisa genuína, não a interpretação.
Pela primeira vez, faz contato com o consenso dos bruxos que é a descrição de uma realidade inconcebivelmente
integrada.
É normal que um guerreiro nesta fase ria à toa, porque a energia provê alegria. Graças à recapitulação, está contente,
transbordante, salta como um menino. Por outro lado, começa a ser uma pessoa temível, já que, ao ter intacta sua
luminosidade e sua vida limpa, as decisões já não serão um obstáculo para ele. Vai decidir o que seja necessário no
momento em que queira e isso assusta aos outros.
Também é aqui que se requer do guerreiro uma dose extra de sobriedade e sensatez, porque do contrário ele correrá riscos
desnecessários, pondo em perigo a segurança dele e de outros.
"Outro efeito da recapitulação é que funciona como um convite ao espirito para que venha e faça morada conosco. Dito em
outros termos, relembrar nosso passado é o método mais efetivo para unificar os corpos físico e energético que estiveram
separados durante anos".
Continuou dizendo que o bruxo que logra recompactar o mais grosso de sua energia está em condições de se propor uma
proeza perceptual: intentar uma cópia de sua experiência vital para enganar a morte.
"Tal é o objetivo final da recapitulação: criar um duplo e se preparar para ir. Não é necessário ser um bruxo para entender a
importância de tudo isso. Morrer em dívida é uma forma lamentável de morrer. Por outro lado, ter um duplo para oferecer
à águia é a garantia de seguir adiante.”
Encontros com o Nagual, pág. 83
· Em outra de suas conversas, referiu-se a um método desenhado pelos novos videntes que pode ajudar no exercício da
recapitulação.
Afirmou:
"Uma das tarefas dos bruxos é analisar constantemente as insinuações do espírito. Para isto, eles costumam elaborar um
livro de eventos memoráveis, um mapa das ocasiões em que o espirito interveio em suas vidas, obrigando-lhes a tomarem
decisões de um modo voluntário ou involuntário".
Explicou que a vantagem desta técnica é que, ao escrever, nós nos desapegamos um mínimo das coisas e conseguimos
focalizá-las com mais objetividade.
"Não se trata de descrever nossa rotina diária, mas de estar atentos aos raros momentos em que o intento se manifesta.
Essas são conjunturas mágicas, porque produzem mudanças e nos põem diante do sentido de nossa existência".
A pedidos, apresentou alguns exemplos de eventos desse tipo.
"Embora os sinais do espirito sejam um assunto do mais pessoal, há eventos comuns que em geral marcam a vida das
pessoas, como nascer, escolher uma carreira, entrelaçar o destino com o de outra pessoa ou ter filhos. Também as doenças
e acidentes graves, porque eles estabelecem uma ligação com a morte. Para aqueles que têm a fortuna de achar um
conduto do espírito sob a forma de um nagual, este é sem dúvidas o evento mais memorável de todos.”
Encontros com o Nagual, pág. 85
· Porém, o método favorito dos guerreiros é a recapitulação. A recapitulação para a mente de um modo natural.
O principal combustível de nossos pensamentos são os assuntos pendentes, as expectativas e a defesa do ego. É muito
difícil de achar uma pessoa cujo diálogo interno seja sincero; o comum é que nós dissimulemos nossas frustrações indo até
o extremo oposto. Deste modo, o conteúdo de nossa mente se torna uma ode ao eu.
Recapitular acaba com tudo isso. Depois de um tempo de esforço contínuo, algo cristaliza aí dentro. O diálogo habitual fica
incoerente, incômodo; não existe outro remédio senão pará-lo.
É normal que um aprendiz nesta fase se depare com um fogo cruzado. Por um lado, está a homogeneização do seu ponto
de aglutinação; e por outro, uns enormes parênteses de silêncio que se metem em sua mente, fragmentando-a.
Quando se esgota a inércia do diálogo interno, o mundo se refaz novamente. A onda de energia se sente como um
insuportável vazio que se abre debaixo dos pés. Por tal motivo, o guerreiro pode passar anos de instabilidade mental. A
única coisa que o conforta em tal situação é manter claro o propósito do seu caminho e não perder, de nenhuma maneira,
sua perspectiva de liberdade. Um guerreiro impecável jamais perde a sensatez.
Encontros com o Nagual, pág. 95
· Como vai sua recapitulação?
A pergunta dele me pegou desprevenido. Respondi que ainda não havia intentado o exercício porque estava esperando
para ter condições favoráveis em minha casa.
Lançou-me um olhar muito sério, quase de repreensão, e comentou que, para os bruxos, a totalidade de um caminho se
resume em seu primeiro passo.
"Isso significa que as condições ideais são aqui e agora".
Encontros com o Nagual, pág. 104
· Os bruxos manipulam a mente forasteira tornando-se caçadores de energia. É com essa finalidade que minhas
companheiras e eu desenhamos para as massas os exercícios de tensegridade que têm a virtude de nos libertar da mente
do voador.
Nesse sentido, o bruxo é um oportunista. Aproveita o empurrão que lhe deram e diz a seu captores: 'Obrigado por tudo,
nos vemos por aí! O acordo que vocês fizeram foi com meus antepassados, não comigo!'. Ao recapitular sua vida,
literalmente está tirando a comida da boca do voador. É como se você chegasse à uma loja e devolvesse o produto ao
negociante, exigindo-lhe: 'Devolva-me o dinheiro!'. Os inorgânicos não gostam disso, mas não podem fazer nada.
Nossa vantagem é que somos dispensáveis, há muita comida por aí! Uma posição de alerta total, que não é outra coisa
senão disciplina, cria tais condições em nossa atenção que nós deixamos de ser saborosos para esses seres. Em tal caso,
eles dão meia volta e nos deixam tranqüilos.
Encontros com o Nagual, pág. 157
· Considerando que há duas formas de viver e de morrer, há também dois tipos de pessoas: aqueles que pensam que são
imortais e aqueles que já estão mortos. Os primeiros guardam esperanças, os últimos não. Um guerreiro é alguém que sabe
que o tempo dele já terminou, mas continua lutando, porque essa é sua natureza. Se você olhar nos olhos dele,
contemplará o vazio".
Então, em que consiste realmente a alternativa do bruxo?".
Há uma única forma na qual o homem pode se adiantar ao seu fim: através da manipulação de sua energia. Esse trabalho
consiste de ensonho, espreita e recapitulação. As três técnicas se fundem em um mesmo resultado: o complemento do
corpo energético.
Em um sentido geral, a duração de nossa existência depende em grande medida de como tratamos nossa energia. Nós
deixamos a vida por assim dizer 'grudada' nos assuntos diários, vamos nos desgastando nas coisas que vemos e tocamos, e
por isso morremos. Mas se nós chamarmos de volta toda essa força vital através da recapitulação, a morte já não poderá
ser a mesma, porque teremos nossa totalidade.
Encontros com o Nagual, pág. 173
· Tanto o sonho como a recapitulação torna possível a criação do "duplo" energético, uma entidade praticamente
indestrutível, capaz de atuar por conta própria.
Um dos descobrimentos mais relevantes dos videntes toltecas, foi que os seres humanos possuem uma configuração
luminosa ou campo de energia ao redor de nosso corpo físico. Eles também viram que algum poucos vinham com uma
configuração especial dividida em duas partes. A estes chamaram naguais, quer dizer, "pessoas duplicadas". Por sua
particular conformação, o nagual tem maiores recursos do que a maioria das pessoas. Eles também viram que, por causa de
sua duplicidade e excepcional energia, eles são líderes naturais.
Encontros com o Nagual, pág. 237