Post on 25-Jul-2015
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A pequena gigante do kart
por Renato J. Lopes
em Esporte e Aventura
Quem vê a pequena Thaline Mariana Zanella Chicoski, 17 anos, talvez não saiba, mas ela não é tão frágil
quanto parece. Sua aparência de menina, suas longas madeixas louras, olhos azuis e sorriso singelo
escondem uma fera do kart, que deixa muito marmanjo comendo poeira em provas por todo o Brasil.
Foi paixão à primeira vista. O pai havia comprado um kart para o irmão e não queria deixá-la
experimentar. Era perigoso, ela ainda era pequena, era frágil. Mas de tanto ela insistir, o pai deixou
Thaline dar umas voltinhas, e a partir daí, já não havia volta. “Andei e na hora me identifiquei”, afirmou.
Hoje Thaline briga pelo seu espaço no circuito do Kart nacional, território predominantemente de
homens, o que aumenta ainda mais os desafios. “A cada corrida percebo que preciso superar meuslimites. É uma paixão pela velocidade, pelo autocontrole e pelo domínio, que me entusiasma a cada dia
buscar vencer as dificuldades enfrentadas, em um esporte praticado em sua maioria por pilotos do gêneromasculino”, ressaltou.
A primeira corrida e outras conquistas
A primeira corrida em eventos oficiais aconteceu dois meses depois de ela ter começado a andar. Foi no
fim de 2010, durante a última etapa da Copa Paraná de Kart, que aconteceu em Campo Mourão.“Acostumada com a pista, fui incentivada pelo pessoal do kartódromo a participar da etapa final da Copa
Paraná. Foi minha primeira corrida. Uma experiência inesquecível”, lembrou.
E Thaline não fez feio. Durante os treinos ela andava na frente, porém, no dia da corrida choveu muito e,
como ela nunca havia treinado na chuva, a falta de experiência pesou. “Não tinha nenhuma noção, fiz a
maior bagunça, algumas rodadas e tentativas de ultrapassagens. Mesmo assim consegui um lugar no
pódio, conquistando um troféu de quarto lugar. Meu primeiro troféu!”, comemorou.
Depois da primeira conquista, ela continuou a treinar, se esforçar e participar de torneios regionais,
estaduais e nacionais. Em 2011 ela participou da Copa Paraná e Campeonato Paranaense na categoria
de motores Honda quatro tempos, cujos títulos ela conquistou, o que garantiu a participação na Copa das
Confederações em 2012, realizada em Vitória-ES, onde conseguiu o nono lugar. No segundo semestre
de 2012, ela também participou do Campeonato Nova Schin, realizado na Arena Schincariol, em Itu-SP,com o apoio da fabricante de chassis, Mega Kart e Cuca Preparações, terminando em sexto lugar na
classificação geral.
Já em 2013, ela mudou de categoria, participando agora de campeonatos com motores dois tempos, comapoio da fabricante de motores KTT. E já na primeira corrida, ela se destacou, ficando em quarto lugar,
na primeira etapa do campeonato Sul Brasileiro, realizado em Farroupilha-RS, no mês de maio.
Treinamento e patrocínio
No Kartismo, assim como em todo esporte, o treinamento é fundamental, além de dedicação e
determinação. Tanto que os pilotos que mais se destacam são os que treinam regularmente e participamde competições quase todos os fins de semana. Como os custos de treinamento são altos, Thaline acaba
não treinando com a frequência necessária, por falta de apoio. Atualmente ela conta com o apoio daTecno Tools, que é a fabricante de motores KTT, uma empresa genuinamente brasileira e que, apesar de
bem pouco tempo no mercado, quebrou o domínio dos motores importados.
Moda e Estilo
Como ainda não dá para viver apenas do esporte, Thaline se dedica a uma outra profissão. Desde o
início do ano, ela cursa Bacharelado em Moda, em Maringá, na Unicesumar, e divide seu tempo entre asduas atividades que têm muito em comum. “A moda está presente no design do carro, nos modelos de
vestimentas e acessórios automobilísticos, nas pinturas artísticas nos capacetes, etc”, destacou. Como amoda está intimamente ligada ao automobilismo, ela pretende conciliar a profissão com a paixão.
E como piloto, é preciso ter estilo? “Claro. Além de estilo, ter perfil de piloto, postura e disciplina. O
estilo está na coragem de acelerar e frear dentro de uma curva. É preciso ter estilo para superar limitessem errar”, disse.
Assédio e preconceito
A piloto afirmou sofrer com preconceito e assédio no meio do automobilismo, pois a presença femininaem um espaço até então predominantemente masculino já gerou diferentes manifestações. “Normalmente
quando retiro o capacete e as luvas, as pessoas demonstram-se surpresas ao se depararem com uma facefeminina de unhas pintadas, mas sempre fui tratada com muito respeito e carinho pelo pessoal, tanto que
fiz muitas amizades”, ressaltou. Segundo Thaline, muitos admiram a coragem e torcem pelo considerado“sexo mais frágil”, mas para ela, isso não existe. “Para mim, na pista não existe lado, vence quem for o
melhor e sei que com muita determinação e dedicação posso ser a melhor. Por outro lado, vivencioatitudes preconceituosas por parte dos homens. Imagina perder para uma mulher?”, destacou.
Futuro
Como toda jovem, Thaline tem seus próprios sonhos, que, no caso dela, é ingressar na Fórmula Indy. E
para que isso aconteça, é necessário passar por outras categorias inferiores do automobilismo nacional.
“Assim eu vou adquirir experiência e bagagem de forma gradativa, mas para isso acontecer, é necessário
um bom patrocinador”, lamentou ela.