Post on 25-Apr-2020
A MATURIDADE DO SISTEMA LEAN:
UM ESTUDO DE CASO EM UMA
PEQUENA E MÉDIA EMPRESA (PME)
DO SEGMENTO DE SAÚDE
Karina Bataglia
kahbataglia@gmail.com
PAULO SERGIO DE ARRUDA IGNACIO
paulo.ignacio@fca.unicamp.br
ALESSANDRO LUCAS DA SILVA
alessandro.silva@fca.unicamp.br
ANTONIO CARLOS PACAGNELLA JUNIOR
antonio.junior@fca.unicamp.br
A globalização e as tecnologias emergentes impactam de forma direta
as indústrias mundialmente fazendo cada vez mais necessário a
utilização de métodos para a melhoria do processo produtivo. Após a
Segunda Guerra, foi desenvolvido o método japonês Toyota de
Produção, introduzindo o conceito Lean Manufacturing, o qual busca a
otimização de recursos básicos, a satisfação do cliente e,
principalmente, a redução dos desperdícios em qualquer processo da
empresa, visto que estes são etapas de não agregação de valor. Depois
de implementado, é de grande importância à mensuração do nível de
maturidade Lean da empresa para atingir os resultados com uma
melhor eficiência, principalmente em PME, onde a implementação
pode exigir o uso dos melhores recursos da empresa. Este projeto de
Iniciação Científica tem como principal objetivo avaliar a maturidade
do sistema Lean Manufacturing de uma PME do segmento da saúde.
Para isso, será estudado seu desempenho no desenvolvimento de
processos Lean, por meio de um estudo de caso, aplicando também os
métodos exploratório-descritivo, através de observações e entrevistas.
Os conhecimentos adquiridos servirão de subsídio para outros
trabalhos, sobre o uso do presente modelo para a medição da
maturidade Lean, no desempenho obtido após sua implementação e em
qual direção devem seguir as ações estratégicas a serem tomadas.
Palavras-chave: Lean Healthcare, Maturidade Lean, hospital, Lean
Thinking
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
1. Introdução
O método Lean Manufacturing surgiu do sistema japonês Toyota de Produção,
denominado TPS (Toyota Production System), desenvolvido pela Toyota Motor Corporation,
após a 2ª Guerra Mundial e tem como propósito minimizar o desperdício e as operações que
não agregam valor ao processo produtivo, através de uma série de atividades de melhoria
(CALADO et al., 2014).
A filosofia Lean busca reduzir desperdícios em qualquer processo da empresa, realizar
a otimização de recursos básicos e estabelecer uma cultura voltada à busca contínua pela
satisfação do cliente, se baseando nos cinco princípios apontados por Womack e Jones
(2004a): Identificar o valor definido pelo cliente; priorizar a cadeia de valor de um produto ou
serviço; controlar e eliminar desperdícios na entrega ao cliente; ativar a produção puxada a
demanda e eliminar as atividades que não agregam valor.
O objetivo geral deste trabalho é avaliar a maturidade do sistema Lean Manufacturing
de uma PME do segmento da saúde, avaliando seu desempenho no desenvolvimento de
processos Lean.
O problema de pesquisa atualmente identificado é o quanto o Lean Manufacturing está
implementado e consolidado na área da saúde em PME. É evidente a dificuldade de
implementar e mensurar o Lean Healthcare uma vez que Lean foi desenvolvido para a
indústria automotiva e seus conceitos de padronização, nivelamento e otimização do fluxo
não necessariamente conseguem ser aplicados na área da saúde necessitando de adaptações.
Logo, fica também evidente que é necessário um tempo suficiente para criar a
experiência necessária em Lean Healthcare e desenvolver um conhecimento aplicável e
consistente atingindo altos níveis de maturidade.
Atualmente a demanda na área da saúde cresce rapidamente e esta demanda relaciona-
se com aumento de expectativas na qualidade do atendimento, número de pacientes que
necessitam de atendimento, diminuição nos tempos de espera e a aplicação de novos
tratamentos que necessitam de um grande investimento financeiro. Ao mesmo tempo, devido
as diversas crises econômicas que o país vem sofrendo, o sistema de Healthcare precisa
enfrentar essa situação com orçamentos restritos o que leva à necessidade de utilização de
recursos escassos de forma mais eficaz e eficiente (HASLE, NIELSEN e EDWARDS, 2016).
As PME na área da saúde estão sempre em busca por soluções para o aumento da
produtividade de seus serviços com a finalidade de assegurar um bom atendimento à
população. Para isso muitos conceitos de gestão operacional são implementados como uma
tentativa para melhoria dos serviços, tais como círculos de qualidade, gestão da qualidade
total, Lean Manufacturing, entre outros (HASLE, NIELSEN e EDWARDS, 2016).
Sendo assim, foi identificado uma oportunidade de ampliar a pesquisa no Lean
Healthcare, a principal justificativa desse trabalho é ampliar o conhecimento da maturidade
das PME na área da saúde, permitindo que essas empresas possam utilizar esse conhecimento
para melhorar a eficiência de seus atendimentos e operações internas.
2. Revisão da literatura
O Lean Thinking pode ser descrito como uma filosofia de produção e um sistema de
qualidade desenvolvida pela corporação Toyota através do conjunto de elementos da
produção em massa e artesanal. Essa filosofia tem como seu principal foco a padronização
para que estoques sejam eliminados e processos melhorados (JOOSTEN e BONGERS e
JANSSEN, 2009).
Com o tempo, várias ferramentas e métodos foram desenvolvidos para serem
aplicados na indústria começando pela automotiva, ramo de atuação da Toyota, e passando
mais tarde a ser adaptada para a indústria manufatureira e de serviços. Hines, Holweg e Rich
(2004) demonstram essa evolução do Lean Thinking através dos estágios de aprendizado
organizacional, como ilustrado no Quadro 1.
Quadro 1- Evolução do Lean Thinking
A evolução do pensamento Lean Thinking permitiu, a partir do ano 2000, adaptar
algumas técnicas inserindo o Lean no setor de serviços através da aplicação dos métodos nas
atividades operacionais e estratégias mais focadas no gerenciamento. Abdi, Shavarini e
Hoseini (2006) argumentam que o uso do Lean Thinking em serviços requer uma
customização comportamental demandada pelo consumidor final ao determinar a proposta de
valor fazendo com que a entrega do serviço esteja alinhada com a demanda e se atinja altos
níveis de eficiência.
A aplicação Lean visa eliminar todas as fontes de desperdício visto que são etapas de não
agregação de valor e despendem o uso desnecessário de recursos humanos e materiais,
criando custos diretos e indiretos além de custos administrativos. O processo de eliminação
destes desperdícios, segundo Monden (2012), está retratado na Figura 1 abaixo.
Figura 1 – Fluxograma do processo de eliminação de desperdício para redução de custo
Fonte: Adaptado de SCHEEL et. al, 2016.
Quando se trata de PME, uma implementação eficiente das práticas Lean passa a ser
um desafio, pois pode exigir altos investimentos, dedicação dos melhores recursos e
treinamento de muitos empregados da empresa (DORA,2014; ACHANGA et al., 2006;
SANCHEZ e PEREZ, 2001).
Kumar and Antony (2008) fizeram uma pesquisa em 64 PME localizadas no Reino
Unido a fim de realizar uma comparação entre as diferentes práticas de gerenciamento da
qualidade. Em seus estudos, 26,5% das empresas adotaram o Lean Manufacturing e nelas
foram identificadas diversas barreiras que as impediam de atingir o sucesso tais como falta de
conhecimento; de treinamento; disponibilidade de recursos; resistência interna; e baixa
participação dos funcionários.
2.1 Lean healthcare
O sistema de saúde vem enfrentando diversos desafios relacionados ao aumento de
demanda pelos seus serviços, as práticas de instituições dessa área estão cada vez mais
orientadas pelas necessidades dos pacientes, aumento do número de clientes que necessitam
de atendimento e das expectativas em relação a qualidade dos serviços.
Hastle et al. (2016) afirma que o lean pode contribuir para o desenvolvimento dos
hospitais, mas ainda precisa ser reconstruído de uma maneira a se integrar com os principais
tratamentos e processos deste setor focando, principalmente, no paciente e considerando a
integração do valor operacional do lean com o valor clínico e experimental além de incluir as
interações profissionais e sociais nestes ambientes para que tenha sucesso ao ser
implementado.
Com melhor entendimento e maior facilidade de adaptação nota-se um crescente
número de estudos publicados sobre Lean Healthcare em cadeias de laboratórios, hospitais,
departamentos ambulatoriais, centros e salas de operações, departamento de enfermagem e em
procedimentos cirúrgicos (FILLINGHAM, 2007; RADNOR, 2010). Esses estudos mostram
que Lean Healthcare reduz tempos de esperas, melhora a qualidade do atendimento, aumenta
a produtividade e eficiência, permite uma capacidade de expansão sem a necessidade de
espaço adicional e aumenta a utilização das salas cirúrgicas.
A maioria das implementações lean no sistema healthcare começa com o uso dos
instrumentos lean customizados para os aspectos operacionais do sistema de entrega de
cuidados a saúde. A princípio, faz-se a diferenciação entre atividades que agregam valor das
que não que agregam sendo a análise do paciente em processamento uma técnica usada para
facilitar a identificação, segundo Kujala et al. (2006). Nessa análise a jornada do paciente no
sistema de saúde é analisado baseado em categorias apresentadas no Quadro 2 facilitando
identificar atividades que não agregam valor para eliminação de desperdício.
Quadro 2 – Separação de tempos de agregação e não agregação de valor
Fonte: Adaptado de Joosten e Bongers e Janssen, 2009
Entretanto, quando se trata do sistema healthcare faz-se necessário incluir também
análises de aspectos sócio técnicos para que as melhorias não sejam apenas pontuais e sim
alcançadas no sistema como um todo. Segundo Joosten et al. (2009) e Berwick (2003), um
exemplo de um avanço sócio técnico está relacionado à percepção dos gerentes em relação
aos seus trabalhos, ou seja, identificarem que suas atividades não são diretamente
relacionadas a estruturar melhorias para o sistema healthcare.
Joosten et al. (2009) e Berwick (2003) afirmam que as dificuldades relacionadas ao
alcance da melhoria no sistema como um todo através do Lean Thinking aparecem em sua
implementação. Pesquisas voltadas a dinâmica sócio técnica em organizações lean são
carentes, principalmente quando se trata da área da saúde, pois há muitas pesquisas abordando
aspectos operacionais e sua relação com a performance que é possível atingir com lean mas
estudos que mostram a sua aplicação em healthcare são limitados.
Muito dessa escassez de estudos voltados a aplicação lean healthcare e sua
imaturidade neste setor deve-se ao tempo relativamente pequeno da presença do lean em
hospitais quando comparado a indústria automobilística. Entretanto, a imaturidade do lean
não se trata apenas do tempo presente nos setores da saúde e do acúmulo de experiência
prática, mas também da escassez de desenvolvimento de ferramentas e métodos adequados ás
necessidades especiais destes setores (HASTLE et al., 2016).
3. Método
O presente projeto trata-se de um estudo de caso único. Segundo Yin (2015, pg 02)
“estudo de caso é a investigação de um fenômeno contemporâneo em seu contexto no mundo
real, especialmente quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto puderem não estar
claramente evidentes”. A configuração do estudo, apesar de não seguir uma sequência rígida,
é definida por uma ordem que consiste em: formulação do problema ou das questões de
pesquisa, definição das unidades-caso, seleção dos casos, elaboração do protocolo, coleta de
dados, análise e interpretação dos dados e elaboração do relatório (Figura 2) (GIL, 2010).
O estudo de caso de acordo com Marconi e Lakatos (2011, pg 276) é um
“levantamento com mais profundidade de determinado caso ou grupo humano sob todos os
seus aspectos. Entretanto, é limitado, pois se restringe ao caso que estuda, ou seja, um único
caso, não podendo ser generalizado”. Nesse método obtêm-se tanto dados quantitativos
quanto qualitativos, cabendo ao pesquisador classificar as relações entre as propriedades do
ambiente, relatando assim, o desenvolvimento de um caráter interpretativo no que se refere
aos dados obtidos (GIL, 2010).
Figura 2 – Metodologia do estudo de caso
Fonte: Adaptado de YIN, 2013 pg 49
A aplicação da pesquisa será pela combinação dos estudos exploratório-descritivos,
nos quais envolverão a contextualização do objeto e fonte de informação variada, advinda de
observação e entrevistas, além da descrição do comportamento do sistema ou problema
modelado. Para Markoni e Lakatos (2011) e Gil (2010), é importante definir uma série de
aspectos para que a inter-relação entre pesquisador e entrevistado atinja maior eficácia, como
o interesse, a utilidade, o objetivo, as condições da entrevista e o compromisso do anonimato.
Em conjunto com a revisão da literatura, para a definição e planejamento do estudo de
caso, com a auxilio do softwre VOSviewer foi possível mapear os artigos contidos na base de
dados para entender como os estudos se relacionam e quais relações são relevantes nos artigos
publicados. O Vos Viewer é uma ferramenta usada para criação de mapas baseados em dados
na rede ou de uma base de dados construídos por quem está usando. As relações podem ser
construídas com base em publicações científicas, pesquisadores, organizações de pesquisas,
países, palavras-chave ou algum termo específico.
Para o presente estudo foi construído o mapa a seguir baseado nas palavras chaves dos
artigos que compõe o banco de dados. Nota-se que a maior concentração se dá no healthcare
relacionando-se diretamente com os focos dessa pesquisa.
Figura 4 – Mapa de conexões VOSviewer
Após o desenvolvimento da teoria, iniciou-se a seleção do caso e planejamento da
coleta determinando o foco da pesquisa na realização de coleta de dados, com o apoio de um
roteiro de entrevista seguindo um modelo adaptado de Scheel et al. (2016), baseado na norma
SAE J4001 (1999) e Lucato et al. (2005), e adaptado para a área da saúde baseado em
Kaltenbrunner et al. (2017) para que seja possível medir a maturidade Lean na empresa. A
entrevista é composta por 59 questões contempladas dentro dos seguintes elementos, descritos
na Tabela 3.
Tabela 3- Elementos para composição do roteiro de entrevistas para o estudo de caso
As respostas contemplam 4 níveis das melhores práticas, portanto, devem ser dadas de 0 a
3.
Tabela 4 - Níveis para avaliação dos componentes
Concluído a etapa de definição e planejamento, iniciou-se a preparação, coleta e
análise dos dados conduzindo o estudo de caso na empresa escolhida, e o desenvolvimento de
um relatório com os resultados seguindo a técnica de Lucato, Maestrelli e Vieira Jr. (2006) a
seguir.
A medição do nível de maturidade Lean é baseada na adaptação da técnica de Lucato,
Maestrelli e Vieira Jr. (2006) que desenvolveram o Grau de Aderência à Norma para cada
elemento da norma SAE J4000, assim como o Grau de Enxugamento da organização,
definidos pelas Equações 1 e 2 , respectivamente, devido ao fato de existir limitação das
normas SAE pois elas não permitem definir o grau de enxugamento de cada um dos
elementos de implementação do Lean, assim como da empresa como um todo, uma vez que
cada componente invariavelmente será classificado em níveis diferentes.
Sendo “e” um elemento qualquer e “p" o número de elementos considerados na
comparação.
Além disso, para analisar o grau de relacionamento entre os itens do roteiro de
entrevista foram dimensionados os coeficientes de correlação, podendo estar entre -1 e +1
inclusive. Tem-se um relacionamento forte entre duas variáveis quando valores altos de uma
variável estão relacionados com os valores altos ou baixos da outra variável, entretanto,
quando temos valores altos de uma variável relacionados com os valores altos e baixos da
outra variável, temos um relacionamento fraco entre as variáveis (LIRA, 2004). Sendo assim,
realizou-se uma análise de correlação com o auxílio do software Excel considerando uma
correlação forte coeficientes acima de 0,7.
4. Desenvolvimento
4.1 Cultura lean na empresa
O hospital em questão começou a adotar medidas relacionadas a cultura Lean em 2017
buscando uma melhoria em seus processos. Desde então foram realizadas várias ações
visando uma maior produtividade e controle antes, durante e após as cirurgias, e um melhor
preparo de seus funcionários.
Pode-se citar como exemplo destas ações a compra de relógios de parede para melhor
controle do tempo de cirurgia e outros tempos relevantes; a revisão dos kits da farmácia;
equipe exclusiva para higienização do Centro Cirúrgico (CC) ; troca dos computadores com
softwares mais recentes; reuniões com equipe do CC; reunião com enfermeiros; implantação
de sessões de orientações individuais; 807 horas de treinamentos; substituição e adequação
dos instrumentais cirúrgicos; adequação da sala de recebimento dos instrumentais;
implantação do controle de inventário; uso do 5S para organização do inventário.
Além dessas medidas implementadas com foco na melhoria contínua, foram mapeadas
diversas outras demandas para que os processos do Centro Cirúrgico atinjam níveis maiores
de maturidade. Após a aplicação das ações no CC do hospital, tornou-se evidente os
benefícios conquistados com adoção da cultura Lean, trazendo um controle melhor dos
tempos e processos operacionais, além de melhor capacitação de seus funcionários e uso do
espaço disponível.
4.3 Resultados
Conforme a tabela 4 e os níveis de cada elemento obtidos na entrevista, calculou-se a
mediana do nível de cada pergunta e somaram-se as respectivas pontuações dentro dos
elementos como demonstrado a seguir.
Tabela 5 - Resultados das entrevistas
Para calcular o grau de enxugamento (“g”), baseados nas equações 1 e 2 e nas
informações fornecidas na Tabela 6, obteve-se os seguintes graus de enxugamento.
Tabela 6 - Grau de enxugamento e de aderência dos elementos
Por fim, na tabela 7 encontram-se os resultados da análise referentes aos 1.711
coeficientes de correlação encontrados para entender melhor como os elementos e seus
componentes estão relacionados entre si.
Tabela 7 - Correlação entre os elementos
4.4 Discussão
O cenário ideal, onde uma empresa pode ser considerada totalmente madura no Lean,
teríamos a maior pontuação possível em cada elemento, ou seja, todos os componentes teriam
um nível de pontuação 3 e o grau de enxugamento total de 100% indicando uma aderência
completa das melhores práticas do Lean.
A empresa analisada em questão obteve um grau de aderência 77,7% estando 22%
abaixo do cenário ideal. Não é possível afirmar se este é um nível de maturidade aceitável
para a área da saúde pois não há uma base de dados para realizar comparações. Sendo assim,
segue o parecer geral dos elementos considerando os resultados obtidos e as informações
coletadas sobre as práticas Lean foram implementadas na empresa.
Apesar de não haver uma base para comparação, os graus de enxugamento
encontrados em cada elemento se apresentam com valores elevados indicando um bom nível
de maturidade Lean na organização. Estes altos índices de maturidade podem se dar pelo fato
dos indivíduos que responderam às perguntas não terem conhecimento do que é ser maduro
em Lean, visto que as implantações de práticas relacionadas a manufatura enxuta são recentes
na organização.
Analisando os coeficientes de correlação, nota-se uma maior concentração de
quantidade de índices acima de 0,7 entre os componentes do sexto elemento. Estes são um
dos mais relacionados entre si indicando que se um dos componentes tende a aumentar outros
componentes também tendem a aumentar. Entre eles estão presentes os maiores índices de
correlação (+ 0,91) entre os componentes 45 e 52 e, 53 e 58. Entretanto, quando se avalia
percentualmente nota-se que o quarto elemento tem 50% dos seus coeficientes acima de 0,7
seguido de 17,6% do sexto elemento.
O terceiro e quinto elemento são os elementos cujos componentes menos se
correlacionam entre os componentes do elemento que pertencem pois não possuem nenhum
índice de correlação acima de 0,7. Apesar do quinto elemento ter uma baixa correlação entre
seus componentes, 17,9% dos coeficientes de correlação entre seus componentes e os
componentes do quarto elemento estão acima de 0,7 indicando uma relação entre eles.
5. Conclusão
O presente estudo de caso permite classificar uma empresa da área da saúde em
relação a maturidade do Lean Manufacturing, sendo possível medir qual o nível de aderência
das melhores práticas da cultura Lean em 6 diferentes âmbitos. Através dele identifica-se os
pontos fortes e as deficiências da empresa escolhida, sendo possível apontar quais
componentes devem ser melhorados dentro da organização para uma melhoria contínua até o
atingimento da situação ideal onde a aderência é de 100%.
O hospital analisado obteve um nível de maturidade abaixo de 70% apenas nos
elementos 4 e 5, indicando ser as áreas mais deficientes dentro da organização, e uma
aderência total de 77,7%.
Analisando a correlação entre todos os elementos tem-se: (1) os componentes do
quarto elemento são os que tem uma maior relação positiva; (2) a segunda maior relação de é
entre componentes do quarto com o quinto elemento de 17,9%; (3) a terceira maior relação é
de 17,6% entre componentes do sexto elemento; (4) todas as outras relações estão abaixo de
12,5%.
Apesar do bom resultado de nível de maturidade, ressalta-se que o método aplicado
neste estudo não foi aplicado em outras organizações do mesmo setor e não foram
encontrados resultados de níveis de maturidade de Lean Manufacturing na área da saúde para
realizar uma comparação. Além disso, os altos índices de maturidade podem estar
relacionados ao pouco conhecimento dos entrevistados do que é ser maduro em Lean.
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