A Ilusao do Objeto

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A pesquisa acadêmica deve evitar a ilusão do objeto, ou seja, quando o pesquisador se deixa levar por atributos do objeto e imagina que o todo pode ser tomado pelo particular. A metodologia da pesquisa deve evitar a ilusão do objeto.

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A ilusão do objeto

Os perigos de se deixar levar pelo objeto em pesquisa

Por Armando Levy

O objeto

A Internet

O que é a Internet?

Comunicação em rede

Interconexão

Informação on line

Conhecimento on line

Acesso ao conhecimento

Canal de relacionamento

Comunidade virtual

Manuel Castells

“A reapropriação por parte da sociedade do fruto de sua criatividade conta agora com meios poderosos: Internet, redes globais de comunicação, acesso à informação em código aberto, processos de cooperação múltipla, comunicação móvel, multimodal e ubíqua. E tudo isso a serviço de interesses e valores que são debatidos, modificados e decididos com autonomia crescente pelos atores sociais”.

Inovação, liberdade e poder na era da informação, in MORAES, D. (ORG), Sociedade Midiatizada, Rio de Janeiro: MAUAD X, 2006

Pierre Lévy“Num futuro não muito distante, as fronteiras territoriais serão abolidas e ninguém mais vai precisar de líderes. A democracia estará disseminada pelo globo, e a humanidade viverá sob um único governo planetário. Tudo graças à rede mundial de computadores, a Internet. Os que têm acesso à Internet estão conectados com a inteligência coletiva, todos os conhecimentos possíveis e todas as pessoas, todos os grupos de discussão. É algo vivo e muito democrático.”

Cibercultura, 1996 Editora 34

Você? Concordo, a Internet está mudando o mundo e vai mudá-lo ainda mais

Discordo, a rede não basta para provocar mudanças Pessoal da FEI

Setembro de 2008

O que é (mesmo) a Internet?

Antes de ser veículo de comunicação, a Internet é uma tecnologia

Sua estrutura técnica coloca a Internet como “tecnologia cibernética”

O que é “cibernética”? Norbert Wiener

− Termo “cibernética” deriva do grego “kubernetes”

− Significa “governador”, “piloto”, “condutor”

− Foi criada para definir sistemas criados para “atingir seus objetivos ou alvos”

− Mísseis

Título original do livro dizia: “Cibernética: controle e comunicação no animal e na máquina”

A Internet é cibernética?

Criada pelo Departamento de Estado dos EUA, comunicação em rede via Internet foi planejada para sobreviver a ataque nuclear

Transmissão da informação é programada para atingir seu objetivo, independente dos caminhos a seguir

Rede aberta ou controlada?

Estes dois modos de encarar a Internet permitem visões antagônicas a seu respeito

Duas visões

Impacto da comunicação em rede na sociedade e organizações empresariais tem sido observado através de duas visões antagônicas

Os eufóricos Os pessimistas

A rede como fator deintegração global

A rede como fator dedominação

Cláudio Katz“Os confrontos que o uso da comunicação em rede torna evidentes entre indivíduos e empresas são, ao mesmo tempo, diferentes e originários do mesmo obstáculo estrutural que marca a vida das companhias desde sua origem: a ausência de uma verdadeira descentralização, de um verdadeiro questionamento da estrutura piramidal do poder informacional, malgrado as recomposições – cada vez mais sistemáticas – do trabalho operacional”.

Mito y realidad de la revolucion informatica, Economia Política das Tecnologias da Informação e Comunicaçào (EPTIC), em www.eptic.he.com.br2001

A técnica e o capitalismo“O que não se diz é que o terreno no qual a técnica conquista seu poder sobre a sociedade é o poder que os economicamente mais fortes exercem sobre a sociedade. A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria dominação. Ela é o caráter compulsivo da sociedade alienada de si mesma. O automóveis, as bombas e o cinema mantêm coeso o todo e chega o momento em que seu elemento nivelador mostra sua força na própria injustiça à qual servia".

“Dialética do esclarecimento”, de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.

ADORNO, T.

HORKHEIMER, M.

Como olhar a Internet?

Castells

Adorno

HorkheimerPierre Levy ?

A Internet e as empresas Entrevistas pessoais, em profundidade, com

os responsáveis pela gestão das redes de

comunicação de empresas

Objetivos:

− Compreender a normatização, regulamentação e aspectos sociotécnicos do uso de Internet por parte dos funcionários de empresas brasileiras e multinacionais com operação no Brasil

− Relevância da comunicação em rede para o negócio da empresa

Quais empresas?

Embora tivessem concordado em participar, não foi possível entrevistar os responsáveis pelas áreas de comunicação em rede da Atento do Brasil e da Ford do Brasil antes do prazo final das entrevistas.

CETIC No início de 2007 o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC), do Comitê Gestor da Internet no Brasil, divulgou uma pesquisa quantitativa sobre usos de Internet em ambientes empresarial e doméstico no Brasil.

A pesquisa ouviu mais de 2.500 empresas acerca de diferentes aspectos do uso de Internet, inclusive políticas de controle e adoção de sistemas de segurança, como o firewall.

Desta pesquisa aproveitamos as seguintes informações:

Empresas que usam a Internet

Empregados com acesso à Internet

Empresas com políticas de restrição de acesso a sites

Domicílios com acesso à Internet

Local de acesso individual à Internet

Suporte teóricoPara compreender o fenômeno da Internet nas empresas, buscamos fundamentar teoricamente três vértices que se reúnem nos processos de comunicação em rede:

Empresas

Internet

Indivíduos

A Internet nas empresas é a convergência de três vértices: empresas, Internet e pessoas

O que são empresas?− Essência no controle e nas normas

Weber Tragtemberg Marx Hassard Ianni Foucault Mészáros Chanlat Kumar

O panóptico de Bentham, apontado por Foucault, sintetiza a essência do que é a organização empresarial

O que é Internet?− Essência cibernética, voltada para o

controle Ellul Castells Levy Wakeford Wiener McLuhan Innis Costa Orozco Martín-Barbero A Internet é um sistema cibernético, que

permite o controle do fluxo de informação a partir de parâmetros programáveis. Exemplo: FIREWALL

O que é o indivíduo?− Essência aberta, voltada para a evolução

Horkheimer Marx Jung Hall Shaff Sartre Engels Chanlat Antunes Berger Ellul Dejours

Marx:O ser humano é, essencialmente,

movimento:

1. Tem necessidades2. Age para satisfazer essas

necessidades (trabalho)3. Muda o mundo

4. É modificado pelo mundo5. Passa a ter novas

necessidades

Hipóteses1. As tecnologias de comunicação em rede, no âmbito das empresas, servem essencialmente ao poder, são usadas principalmente em atividades operacionais e dirigidas à obtenção do lucro, da mesma forma como são usadas todas as demais máquinas e equipamentos no universo da produção capitalista.

2. As características libertárias da Internet, que se expressam através dos conteúdos colocados à disposição dos usuários, pouco penetram o universo das empresas, que usam sistemas de monitoração para controlar os fluxos de informação em um movimento coerente com sua característica mais marcante, ou seja, o controle através da normatização.

Análise dos dados - 1Aspectos sócio técnicos do uso de Internet nas empresas

A - Usuários de computador em relação a total de funcionáriosB -Usuários de Internet em relação a total de funcionáriosC - Usuários de Internet em relação a total de usuários de computador(1) Este dado não foi informado pelo gestor de segurança da informação da empresa e foi estimado a partir de conversas com funcionários

Análise dos dados - 2Empresas que normatizam o uso de Internet

Análise dos dados - 3

Sites e conteúdos bloqueados sistemicamente

Análise dos dados - 4

Razões para as normas

Evidenciar que o uso da Internet está condicionado ao trabalho, à função do profissional.

Norma exclui funcionários de atividades produtivas, braçais, não intelectuais, da possibilidade de acesso à Internet.

Normas de uso de Internet nas empresas mantêm

intocada a divisão do trabalho entre os que pensam e os que

produzem

Análise dos dados - 5

Razões para os bloqueios

As empresas justificam os bloqueios alegando que, sem eles, os funcionários não acatam as normas.

O caráter cibernético da Internet permite, pela primeira

na história da humanidade, transformar NORMA em FATO,

evitando deixar para o individuo a decisão sobre

acatar ou não a lei.

Análise dos dados - 6

Pesquisa CETIC – A mesma lógica

(*) Entre empresas com 500 empregados ou mais, este índice atinge 87%.

Análise dos dados - 7

Houve casos de punições por uso “inadequado” da Internet?

Entre as 18 empresas consultadas, 16 relataram casos de punições (de advertências verbais até demissões).

A despeito da existência de

tentativas de burlar os bloqueios, o

sistema permite detectar estes

movimentos e punir os responsáveis

Análise dos dados - 8Acesso remotoA preocupação das empresas com

segurança parece inibir o avanço do

trabalho à distância. Isso se torna evidente

quando notamos que, na maioria dos casos,

o acesso remoto só é possível através de

computadores (normalmente notebooks)

previamente configurados pela área de

tecnologia da companhia e de uso restrito

aos ocupantes de determinados cargos

(normalmente diretivos).

O trabalho à distância abre brechas de “segurança” que

as empresas não estão dispostas a correr

Análise dos dados - 9Importância da Internet

A Internet é muito importante para ao menos 17

das 18 empresas consultadas. Para algumas, a

Internet viabiliza o próprio negócio, tornando-se

assim fator de sobrevivência.

Apenas uma empresa, do segmento industrial,

disse que a relação com clientes se dá através de

outro canal – telefone – daí a Internet ter

importância “relativa”.

Empresas consideram a Internet muito relevante para seus negócios como

canal de venda e relacionamento com

clientes, parceiros ou fornecedores

Análise dos dados - 10Local de acesso à Internet – CETICPara a maioria dos que trabalham, o local de acesso à Internet é a residência

Análise dos dados - 11Normas da IBM

IBM tem manual de normas.

Esse manual, distribuído a todo recém-contratado, trata de oito temas:

1) Computador

2) Licença de software

3) Ferramenta de Segurança da Estação de Trabalho (Workstation)

4) Prática da mesa limpa

5) Senhas

6) Auto-defesa na web

7) Acesso à rede IBM

8) Dicas adicionais

Análise dos dados - 12Normas da IBM

“Os equipamentos IBM devem ser utilizados para fins de

negócio IBM, autorizados pela Gerência”.

Trata-se de uma norma padrão e comum a todas as empresas

consultadas e determina com muita objetividade os usos

possíveis para as ferramentas de comunicação da empresa.

Ainda nesse item, chama a atenção uma outra norma, que

determina:

“Todos os documentos criados, arquivados ou comunicados

através dos equipamentos são propriedade da IBM e podem

ser auditados”.

“As tecnologias impõem

as relações de poder”,

Adorno e Horkheimer

Conclusões - 1

O uso da comunicação em rede pelas empresas serve ao poder e

é dirigido à maximização do lucro, assim como todas as demais

máquinas e equipamentos utilizados na produção industrial

capitalista.

Não é possível constatar que a comunicação em rede tenha

mudado as relações econômicas e políticas da sociedade a ponto

de configurar uma nova era de igualdade de relações.

Conclusões - 2

A vocação normativa e regulatória das empresas

segue intacta.

A determinação com que as empresas vigiam e

controlam as informações que os funcionários

podem acessar e trafegar pela rede revela que até

mesmo os conteúdos, a faceta mais libertária da

tecnologia cibernética, pouco penetram os muros da

empresa, obrigando os empregados a buscarem um

acesso menos controlado fora do trabalho ou, em

alguns casos, a tentar burlar os mecanismos de

controle com todos os riscos que esse tipo de

atitude acarreta como advertências e demissões.

O FIREWALL é o novo panóptico. Mas ao invés

de difundir a sensação de que tudo se vê, o

sistema controla de fato todas as informações

que fluem entre a organização e o mundo

exterior

Conclusões - 3

A despeito de um potencial revolucionário de realização ainda incerta,

as tecnologias de comunicação em rede estão sendo apropriadas pelas

empresas segundo a mesma razão instrumental que marca o capitalismo

e que se traduz em uma crescente alienação do indivíduo em relação às

decisões e aos frutos do trabalho.

O caráter “ordenador” dessas tecnologias torna-se evidente quando

constatamos que elas podem, através de certa programação, separar

indivíduos, hierarquizar o acesso à informação, controlar o tempo de

cada um na rede e fiscalizar todo tipo de informação enviada ou

recebida.

Conclusões - 4Os confrontos que o uso da comunicação em rede torna evidentes entre

indivíduos e empresas são, ao mesmo tempo, diferentes e originários do

mesmo obstáculo estrutural que marca a vida das companhias desde sua

origem: a ausência de uma verdadeira descentralização, de um

verdadeiro questionamento da estrutura piramidal do poder

informacional, malgrado as recomposições – cada vez mais sistemáticas

– do trabalho operacional.

A despeito de um potencial descentralizador, as técnicas de

comunicação em rede não têm o poder de alterar a configuração

política e econômica da sociedade.

Conclusões - 5

Não é possível falar em superação das teses

da Escola de Frankfurt, que ainda

qualificam, de modo contundente, os

modos como as tecnologias são usadas

pelos meios de produção capitalistas com o

objetivo de submeter as pessoas e

maximizar os lucros.“As tecnologias impõem

as relações de poder”,

Adorno e Horkheimer

Conclusão - 6 As tentativas de burlar os

sistemas de bloqueio implementados pelas empresas não parecem ser atos conscientes de rebeldia política, contra a censura, mas apenas gestos de alienação e escapismo face a uma rotina de trabalho brutalizante, cada vez mais dominada por sistemas informacionais

A ilusão do objeto

Palestra de Armando Levy

− armando@epress.com.br

Semana de Administração

FEI Setembro de 2008