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Resumo dos sete Concílios Ecumênicos
1. Nicéia, em 325, formulou a primeira parte do Credo (profissão de Fé) e definiu a
divindade do Filho de Deus.
2. Constantinopla l, em 381, formulou a segunda parte do Credo (profissão de Fé) e
definiu a divindade do Espírito Santo.
3. Éfeso, em 431, definiu a Cristo como o Verbo Encarnado de Deus e a Maria como
Mãe de Deus (Theotócos).
4. Calcedônia, em 451, definiu a Cristo como verdadeiramente Deus e
verdadeiramente Homem (duas naturezas perfeitas) em uma só Pessoa.
5. Constantinopla II, em 553, reafirmou a doutrina sobre a Santíssima Trindade e
sobre o Cristo.
6. Constantinopla III, em 680, afirmou a verdadeira humanidade de Jesus Cristo
insistindo, insistindo na realidade de sua vontade e ação humanas.
7. Nicéia II, em 787, afirmou a veneração dos ícones como expressões verdadeiras da
fé cristã.
A idade Moderna (1453-1789)
A transição do feudalismo para o capitalismo, ou seja, da Idade Média para a
Moderna está relacionada com alguns acontecimentos que ocorreram na Europa a partir
do século XIV.
1. Peste Negra (ou Peste Bubônica) que matou 1/3 da população européia
2. Crise da produção de alimentos consequência da morte de parte da população.
3. Guerra dos Cem anos entre Inglaterra e França.
As principais transformações estão relacionadas com o fortalecimento do comércio,
consequência das cruzadas, o renascimento comercial e urbano e o surgimento da
burguesia no período de declínio dos nobres que perderam suas terras (feudos) para o
Rei absolutista.
A Idade Moderna é o período compreendido entre os anos de 1453 (queda de
Constantinopla) e 1789 (Revolução Francesa). Nesse período aconteceram
transformações sócio-políticas e econômicas que mudaram o curso da história.
Os três movimentos que marcaram o início da Idade Moderna:
Renascimento Cultural
Reforma religiosa
Descobrimentos marítimos
As quatro principais características da Idade Moderna:
Capitalismo comercial
Descoberta e conquista de novos territórios
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A submissão das Américas ao imperialismo europeu
A formação dos Estados nacionais unificados sob o poder do rei absolutista
A Igreja Católica, a instituição mais poderosa da Idade Média perdeu seu poder e
suas ideias e dogmas passaram a ser contestados. A classe principal é a burguesia, que
não tinha terras, mas se enriqueceu e queria deixar de ser vista como pobre, queria
mudanças sociais. A classe principal era a nobreza, que possuía terras (feudos) e,
apoiada pela Igreja, não aceitava mudanças sociais.
O contexto das reformas
O processo de centralização monárquica, em andamento na Europa desde o final
da idade média, tornou tenso o relacionamento entre os reis e a Igreja, até então
detentora de sólido poder temporal. Roma (o Papa) recebia tributos feudais provenientes
das vastas extensões de terra controladas pela Igreja em toda a Europa. Essa pratica foi
cada vez mais questionada pelos monarcas que pagavam.
Ao mesmo tempo, a expansão comercial encontrava alguns obstáculos nas
pregações da Igreja, que condenava a usura (cobrança de juros por empréstimo) e
defendia o “justo preço” das mercadorias. Ou seja, pregava não as leis do comércio, mas
a correta remuneração pelo trabalho exercido. A atividade bancária, por exemplo, ficaria
comprometida na medida em que os empréstimos a juros eram considerados pecado.
Essas situações colocavam a burguesia em uma crise de religiosidade e a sociedade
comercial a questionar posições da Igreja. Um elemento poderoso nessa crise religiosa
foi a desmoralização de parte do clero: abusos e poder excessivo de vários de seus
membros contradiziam as pregações moralizantes da Igreja. Embora condenassem a
usura e desconfiassem do lucro, muitos membros da Igreja praticavam-nos de forma
desenfreada. O comercio de bens eclesiásticos não eram raros na Igreja desde o final da
Idade média. O maior escândalo talvez tenha sido a venda de indulgências. As
indulgencias existiam havia muitos anos no cristianismo, como obras que os fieis
deviam fazer para compensar o mal originado pelos pecados. Entretanto, no final da
idade media esse conceito foi distorcido e as obras foram substituídas por pagamentos a
religiosos (incluindo o Papa). No início do século XVI, a Igreja atravessava uma de suas
piores crises, principalmente por causa dessa corrupção, da falta de instrução e da
libertinagem em que o clero estava mergulhado. Importante lembrar que o clero era
formado, em sua maioria, por indivíduos ricos (que compravam cargos, como os de
bispo ou arcebispo) ou por padres quase sem nenhuma instrução, que abraçavam o
ofício apenas para escapar dos impostos cobrados da população. O alto clero, a começar
pelo papa, explorava a crendice popular praticando a simonia, ou seja, o comércio de
artigos religiosos. Entre os produtos comercializados encontravam-se tíbias do jumento
montado por Jesus quando entrou em Jerusalém, pedaços do manto da Virgem Maria,
frascos contendo ar da gruta de Belém e uma série de outras relíquias falsificadas.
É preciso considerar, que grande parte desse clero corrupto levava uma vida de
luxo e ostentação, desconhecia os fundamentos da doutrina cristã e não tinha instrução
nem preparo suficientes para orientar os fiéis. Vale observar que esse desregramento
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moral não envolvia todo o corpo eclesiástico, já que muitas ordens religiosas e parte do
clero tinham uma conduta austera e mantinham seus votos cristãos de acordo com as
proposições inicias da Igreja.
Indulgências
Indulgência é a remissão, diante de Deus, dos pecados que cometemos, mas que
guardamos a culpa. Ela pode ser parcial ou total, e quem decide isto é Igreja. Somente a
Igreja pode concedê-la, pois recebeu do próprio Cristo esta missão, para favorecer os
filhos e filhas de Deus (Catecismo da Igreja Católica, CIC nº 1471, 1478).
Apesar de ser instrumento de evangelização para a conversão dos pecadores,
durante muito tempo, as Indulgências foram usadas para fins não construtivos. A venda
de Indulgências acabou tornando-se abuso na Idade Média e foi uma das grandes
responsáveis, pela revolta de Lutero. Das 95 teses que fez, pelo menos 6 apontam para o
problema das Indulgências: 1, 4, 8, 27, 50,62...
As pessoas acreditavam que se comprassem indulgências, reduziriam o tempo da
sua estada no Purgatório. Também poderiam comprar Indulgências para aliviar a alma
que já estivesse no Purgatório e, assim, reduzir a “pena" da alma. Alguns chegavam a
acreditar que comprando as indulgências ficariam livres do Inferno e do Purgatório,
entrando direto nos Céus. É como se comprassem “pedacinho de terra lá no Céu”. E
como era alguns padres que as vendiam, achavam-se garantidos. Com isso, as pessoas
praticavam, livremente, todos os pecados, dando mau exemplo, pensavam já estar
salvos, e que sua terra celestial já estava reservada. Houve abusos e muitos.
Nada justifica a venda das indulgências, tanto é que o Papa João Paulo II, por
ocasião da celebração do Ano Jubilar, em 2000, pediu perdão, em nome da Igreja, por
todos os “pecados” cometidos por ela.
Hoje, a Igreja concede Indulgências Plenárias ou Parciais em momentos de
grande importância, visando a evangelização e a conversão dos pecados, sem nenhum
ônus financeiro. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) no nº 1032, diz que “A Igreja
recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitencia em favor dos
defuntos (CIC 429)”. O Papa João Paulo II, na sua Bula Mistério da Encarnação, ensina
que, para receber a Indulgência, o fiel deve se confessar; participar da Missa; fazer
orações em intenção do Papa; Visitar um Santuário, já predeterminado para as
Indulgências; visitar doentes...
O renascimento e a revolução das ideias
O renascimento é uma revolução cultural que tem origem nos modos de vida das
cidades italianas nos séculos XIV e XV e nas transformações no conhecimento que
abrem o mundo para o novo. Essa perspectiva, embora acentuadamente italiana, dá
conta da complexidade de mudanças que ocorreram na passagem da Idade Média para a
Idade Moderna. O renascimento foi considerado uma época de final de um “tempo
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obscuro”, de uma “Idade das Trevas”, em referência à idade média, iniciada com a
decadência do Império Romano do ocidente. Em comparação com a época dos antigos
gregos e romanos, plena de realizações culturais, a Idade Média parecia bastante
pobre... Tal preconceito, contudo, tem sido revisto por autores contemporâneos uma vez
ser inegável a enorme produção cultural patrocinada e orientada pela Igreja Católica
Romana durante a Idade média.
A descoberta da imprensa facilita e promove a circulação de livros tornando-os
mais populares, o que de por si, já é causa do grande desenvolvimento de ideias no
período.
A grande importância da descoberta da imprensa
Em 1455 o alemão Johannes Gutemberg imprimiu 200 Bíblias tipograficamente.
De qualidade superior e muitíssimo mais rápida aos laboriosos e elegantes manuscritos
da época. Essa revolução aumentou incrivelmente a quantidade de livros e de saber em
circulação. Ao longo da história os livros tornaram-se muito comuns, obrigado a
alfabetização das pessoas fosse necessária. Essa invenção foi realmente uma das
revoluções técnicas mais importantes da história da humanidade.
Com o surgimento dos impressos, os livros tornaram-se mais baratos e portáteis,
favorecendo a leitura silenciosa e solitária. Esta orientação para a privacidade integra-se
num movimento mais amplo que seria uma maneira de reivindicação de direitos e
liberdades individuais, cujo surgimento a imprensa estimulou e contribuiu para divulgar.
O barateamento dos livros e a liberdade de acesso aos inscritos e à informação,
juntamente com outras revoluções artísticas do Renascimento, contribuíram de maneira
considerável para a transição de pensamento teocêntrico passando para um modelo
antropocêntrico de pensar.
Reformas religiosas
O homem renascentista começava a ler mais e formar uma opinião cada vez
mais crítica. Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, começaram a discutir e a
pensar sobre as coisas do mundo. Um pensamento baseado na ciência e na busca da
verdade através de experiências e da razão.
Segundo o historiador Jean Delumeau1, são três as principais razões para a
reforma religiosa: a perda da religiosidade que cresce na Igreja Católica, a perda da
espiritualidade em decorrência pela opção do mundo material e a opção do Papado em
obter riquezas para a Igreja. “A tese segundo a qual os reformadores teriam deixado a
Igreja porque estava repleta de devassidões e impurezas é insuficiente”2. A exploração,
que aumentava no campo e na cidade criou uma angústia coletiva que envolvia os
indivíduos de vários níveis culturais e econômicos, a insatisfação era geral e trouxe
consequências como guerras crises etc. Nesse sentido, a Reforma Protestante que se
1 Historiador tido como um dos maiores especialistas sobre o movimento reformista do século XVI.
2 DELUMEAU, Jean. Nascimento e afirmação da Reforma. São Paulo, Pioneira, 1989, p.59.
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avizinha é uma resposta mais do que religiosa a esses apelos. Por outro lado, a Europa
daquela época necessitava de um cristianismo mais popular, mais íntimo, num mundo
de pestes, fome, guerras, superstições e medo. Juntava-se o individualismo que
começava a crescer na mentalidade do povo sedento por uma teologia mais adequada,
de um movimento pela promoção da cristianização que os lideres protestantes souberam
atender. Mesmo assim, a maioria dos reformistas iniciou suas críticas sem intenção de
se afastar da Igreja Católica, tinham vontade de modificar as coisas que consideravam
erradas. Isso tudo gerou uma crise e o Papado tomou o caminho mais fácil, o da
intolerância.
1. Reforma Luterana
Em 1517, um monge agostiniano chamado Martinho Lutero ousou discordar
profundamente da doutrina católica e, em vez de ser queimado vivo como John Huss3 e
outros, conseguiu provocar a maior ruptura já ocorrida no interior da Igreja. Este
movimento iniciado por Lutero ficou conhecido como Reforma Protestante.
Ao contrário da moral católica, a ética protestante, como veremos adiante, irá
valorizar a competitividade e a busca do lucro, ajustando-se, portanto, aos ideais
burgueses daquele momento histórico em que se desenvolvia o capitalismo. Outro fator
da Reforma foi a formação das monarquias nacionais. Durante esse processo, os reis
entenderam que o enorme poder exercido pela Igreja e pelo papa em seus territórios era
um obstáculo ao fortalecimento do governo. Assim, o crescimento do poder nacional
(Rei) esbarrou na força do poder universal (Papa). É preciso frisar, ainda, que a Igreja
vivia principalmente da cobrança dos impostos que arrecadava nos diversos países e
enviava para Roma, fato que os reis passaram a considerar como um prejuízo muito
grande para os seus reinos. As razões de ordem religiosa não foram as únicas para a
Reforma.
Nesse clima de agitação se tomou a Bíblia como ancoradouro: utilizá-la
significava mostrar a distância entre o que era dito pela Igreja Católica e o que estava
nas escrituras (indulgências, purgatório, imagens, culto a relíquias). Com o advento da
imprensa era importante liberar a sua leitura para todos e não apenas para o clero (a
pequena parte do clero que sabia ler). Para isso, foi preciso fazer traduções, pois não
existiam até o momento. Nesse universo compreende-se melhor a aceitação que teve
Lutero, o monge alemão que foi um dos primeiros a contestar fortemente os dogmas da
Igreja Católica. Seguindo o caminho dos humanistas aprofundou-se no conhecimento do
Grego e do hebraico para realizar sua famosa tradução da Bíblia para o alemão.
Afixou na porta da Igreja de Wittenberg as conhecidas 95 teses. As 95 teses de
Martinho Lutero condenavam a venda de indulgências e radicalizava publicamente suas
críticas à Igreja e ao próprio Papa. Em suas teses, condenou o culto às imagens e
revogou o celibato, que descontente com a cobrança de indulgências e perseguições,
acentua a ideia de que só a fé salva e não as obras, exaltando o perdão e o amor ao
3 Foi um pensador e reformador religioso. Ele iniciou um movimento religioso. Os seus seguidores
ficaram conhecidos como os hussitas. A Igreja Católica não perdoou tais rebeliões e ele foi excomungado
em 1410. Condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo.
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próximo sem interesses. Em 1520, o Papa Leão X redigiu uma bula, "Exsurge Domine",
condenando Lutero, exigindo sua retratação e ameaçando-o de excomunhão. Lutero
queimou a Bula em público, agravando a situação. Estabeleceu-se uma verdadeira crise
política, na qual a nobreza alemã dividiu-se, em parte a favor, mas em sua maioria,
contra o Papa. Embora tenha sido contrário ao comércio, Lutero teve grande apoio dos
reis e príncipes da época, pois estes buscavam o enfraquecimento da Igreja, e a sua
divisão colaboraria para o seu enfraquecimento. Embora não fosse a sua ideia inicial
esse apoio dos nobres alemães, interessados em se desvincular da Igreja romana era para
se verem livres dos pagamentos que faziam a Roma. Lutero passa a árdua tarefa de
traduzir a Bíblia para o alemão, com a finalidade de popularizá-la e a desenvolver os
princípios da nova corrente religiosa. Mais tarde em 1530, a confissão de Augsburgo
fundamentou a doutrina luterana4:
1. O principio pela fé, rejeitando o Tomismo.
2. A livre leitura da Bíblia, vista como único dogma da nova religião.
3. A supressão do clero regular, do celibato clerical e das imagens religiosas
(ícones).
4. A manutenção de apenas dois sacramentos: Batismo e Eucaristia.
5. A utilização do alemão, em lugar do Latim, nos cultos religiosos.
6. A negação da transubstanciação, aceitando a consubstanciação (pão e vinho
representam o corpo de Cristo).
7. Submissão da Igreja ao Estado.
Ao subordinar a Igreja ao estado, Lutero atrai a simpatia de grande parte da nobreza
alemã, nem um pouco interessada em questões teológicas ou de conteúdo dogmático,
mas interessadas, como dissemos, em desligar-se de Roma e de suas contribuições. Isso
amplia o apoio à nova doutrina de Lutero.
Lutero foi certamente um homem profundamente religioso, dotado de firme
confiança em Deus, diligente no trabalho e desinteressado de si. A estes dons, porém,
associava-se um temperamento apaixonado, que podia chegar ás raias do doentio; uma
convicção cega de que tinha recebido de Deus a missão de um profeta; uma propensão á
discussão, ao exagero trágico... Deixava-se guiar pelas emoções mais do que pela razão,
principalmente em matéria teológica – o que decorre do princípio luterano de que a fé é
alheia á razão. Ele mesmo dizia que “nenhuma obra boa se faz por sabedoria, mas que
tudo se realiza como que por uma espécie de vertigem ou torpor”.
Infelizmente as boas intenções de Lutero não levaram ao objetivo almejado, pois
dividiram os cristãos e geraram um princípio de divisão até hoje fecundo; o
protestantismo se esfacela em novas e novas comunidades, segundo o princípio
subjetivo estabelecido por Lutero: cada crente é livre para interpretar a Bíblia como lhe
pareça, sem dar atenção a instâncias extrínsecas. A figura de Lutero sempre foi
controversa entre muitos historiadores e estudioso.
As ideias e o movimento de Lutero tiveram seus ecos fora da Alemanha. Vários
reformadores surgiram, partindo todos do mesmo princípio: a única fonte de fé é a
4 Vicentino, Claudio. História geral. Editora Scipione, p.298.
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Bíblia, lida independentemente do magistério da igreja. Entre esses chefes destacam-se:
Ulrico Zwingli (1484-1531), que pregou em Zurich (Suíça) e cujos seguidores sem
demora se agregaram ao Calvinismo. Outro reformador notável foi João Calvino.
2. Reforma calvinista
A reforma protestante de Lutero penetra na suíça a partir de 1529. As reações a nova
doutrina provocou uma violenta guerra civil só apaziguada com a entrada em cena de
João Calvino (1509-1564), que logo divulga suas ideias fundando uma nova corrente
religiosa separa de Lutero.
A presença de Calvino no contexto das reformas religiosas deu a elas um sentido
profundamente revolucionário, especialmente na produção de uma disciplina que fosse
possível associa-la a ao modo de ser acumulador e produtor do sistema capitalista, por
meio da dignificação do trabalho. Na Dinamarca, na Escócia receberam o nome de
presbiterianos, na França por huguenotes, na Inglaterra, eram os puritanos.
O fato mais significativo e que talvez ajude a entender a postura de Calvino e ao seu
posicionamento religioso, adveio da humilhação, na morte de seu pai excomungado pela
Igreja católica, o que marcou seu temperamento e sua personalidade, além de ter
alterado sua visão da Igreja Católica. Manteve a vida católica mesmo após da tragédia
do pai, e não se aproximou dos livros protestantes porque discordava do modo como
tratavam o sacramento da comunhão, e no final de 1533 iniciou seu processo de critica a
doutrina católica por meio da revisão da Bíblia em francês.
Em 1534, renunciou a toda a riqueza terrena, e com as perseguições aos
protestantes resolveu fugir para a Basiléia, a partir daí começou o estudo de uma nova
teologia e ao trabalho de que o protestantismo era o caminho da salvação, porem suas
ideias não foram recebidas de modo tranquilo, então ele apresenta seus ideais em um
texto: “Da instituição cristã”, a obra fez de Calvino um protestante conhecido como o
“segundo patriarca da Reforma”.
Os princípios religiosos e normativos de Calvino
Calvino ensinava, como Lutero, que a Igreja era essencialmente invisível e que
era constituída pelo conjunto de eleitos de quem Deus sabia o nome. Assim a missão da
Igreja antes de tudo era dar a conhecer a palavra reveladora da fé, e por isso podia
dispensar os sacramentos católicos, preservando apenas aqueles que se apresentavam
nas Escrituras. Inspirado em Lutero, Calvino considerava a Bíblia como a única fonte de
revelação e a base de sua religião, dispensando o clero regular. A forma de Calvino ver
o batismo e a eucaristia o colocou também contra a Igreja, para ele os sacramentos
possuíam uma força mágica, mas a questão mais controversa era a da comunhão, pois
Calvino rejeitava a ideia de que o pão e o vinho se transformavam no corpo de e sangue
de Cristo.
O calvinismo expandiu-se rapidamente por toda a Europa, mais até que o
Luteranismo, na medida em que atendia as expectativas espirituais da burguesia. A
experiência política do calvinismo tomou sua forma principal na Inglaterra, onde foi
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introduzida pelo próprio Henrique VIII, a partir do processo de anulação do seu
casamento, como veremos posteriormente5.
Anglicanismo
O movimento reformador chegou á Inglaterra em condições singulares. O
Cristianismo britânico sempre teve suas características próprias, em parte por causa da
sua posição geográfica (a Inglaterra é uma ilha!), as tendências a formar uma Igreja
nacional foram-se acentuando através dos séculos; Jhon Wiclef no século XIV e os
humanistas nos séculos XV e XVI prepararam a via para a aberta revolução religiosa.
Esta se deu realmente no século XVI: a princípio tinha apenas o aspecto de um cisma
sem heresia (cisma devido á ambição pessoal de um rei, sem que o povo participasse da
revolta); só aos poucos é que as ideias protestantes foram entrando na comunidade
britânica.
Henrique VIII, nos primeiros tempos do seu governo, mostrou-se zeloso pela fé
tradicional. Em 1521, contra a obra de Lutero sobre “O Cativeiro babilônico” escreveu
uma “Afirmação dos sete sacramentos”, que lhe valeu do Papa Leão X o título de
“Defensor da fé”. Não obstante, havia de ser arrastado por seus afetos.
Em 1509 Henrique esposou Catarina de Aragão, viúva de seu irmão Artur. Deste
casamento teve vários filhos, dos quais um só – Maria Tudor – ficou em vida. Com o
tempo, Henrique apaixonou-se por uma cortesã: Ana de Boleyn. Por isto procurou
dissolver o seu casamento com Catarina, alegando que fora nulo, porque os nubentes
eram cunhados em primeiro grau. Tal pretexto era falso, porque o Papa Júlio II dera a
Henrique explícita dispensa para se casar com Catarina; somente após 18 anos de vida
conjugal, Henrique trazia á tona esse impedimento. A corte real favorecia os anseios do
rei. A rainha Catarina apelava para a Santa Sé, pedindo justiça. O Papa Clemente VII
resolveu entregar o exame do processo a um tribunal de Roma (julho de 1529).
Em janeiro de 1531 o Papa proibiu a Henrique novas núpcias enquanto a causa
estivesse sob julgamento. O rei, vendo que pouca esperança lhe restava, quis obter a
dissolução do seu casamento da parte da hierarquia da Inglaterra; Thomas Cromwell,
obscuro advogado, que adquirira influência sobre o rei, aconselhava a Henrique que, a
exemplo dos príncipes alemães, se separasse de Roma. O papa Clemente VII resolveu
não atender as súplicas do monarca britânico. O Papa respondeu excomungando o
monarca e finalmente declarando válido o casamento com Catarina. O cisma estava ás
portas. Inconformado com a indiferença papal, Henrique VIII obrigou o Parlamento
britânico a votar uma série de leis que colocavam a Igreja sob o controle do Estado. Em
fevereiro de 1531 uma assembleia do clero, instigada pelo rei, proclamou Henrique
“Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra” com a cláusula “na medida em que a Lei de
Cristo o permite”. Os súditos que não reconhecessem este Ato seriam punidos com a
morte. A grande maioria do clero submeteu-se, talvez porque acostumada ao conceito
de Igreja Nacional e bastante mundanizada. Resistiram, porém, até a morte vários leigos
e clérigos, dos quais se destacam o leigo Tomás Moro e o bispo John Fisher. Muitos
mosteiros foram fechados, relíquias e imagens foram destruídas.
5 5 Vicentino, Claudio. História geral. Editora Scipione, p.301.
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Apesar do cisma e das pressões luteranas, o rei queria conservar íntegra a fé
católica na Inglaterra; combatia tanto a adesão ao Papa quanto as inovações religiosas
do continente.
No ano de 1534, o chamado Ato de Supremacia criou a Igreja Anglicana.
Segundo os ditames da nova Igreja, o rei da Inglaterra teria o poder de nomear os cargos
eclesiásticos e seria considerado o principal mandatário religioso. A partir dessa nova
medida, Henrique VIII casou-se com a jovem Ana Bolena. Além disso, realizou a
expropriação e a venda dos feudos pertencentes aos clérigos católicos. Essa medida fez
com que os nobres, fazendeiros e a burguesia mercantil passassem a exercer maior
influência política.
No governo de Elizabeth I (1533-1603), novas medidas foram tomadas para
reafirmar o poder da Igreja Anglicana. Alguns dos traços do protestantismo foram
incorporados a uma hierarquia e uma tradição litúrgica ainda muito próximas às do
catolicismo. Essa medida visava minimizar a possibilidade de um conflito religioso que
desestabilizasse a sociedade britânica. No seu governo foi assinado o Segundo Ato de
Supremacia, que reafirmou a autonomia religiosa da Inglaterra frente à Igreja Católica.
O que a Igreja romana enfrentou?
Durante o século XVI a Igreja Romana teve de enfrentar objeções as suas
principais ideias e estruturas. Lutero, Calvino e outros questionavam os próprios
alicerces, a base da Igreja católica. Era como se as pessoas fossem compelidas a
repensar o que era exatamente a Igreja de Cristo, no que ela acreditava e como os seus
membros deveriam praticar a fé. Algumas questões fundamentais surgiriam
naturalmente depois dos pontos de partida de Lutero haverem sido apresentados:
1. Quais eram as fontes de autoridade: as escrituras, a tradição, ou ambas?
2. E o que era a tradição? As obras dos Padres da Igreja, os concílios gerais, os
decretos papais ou todas as alternativas?
3. Quantos sacramentos havia, qual o significado de cada um deles e para que fim eles
se destinavam?
4. Quem é que decidia sobre essas questões e em quais argumentos essas decisões
deveriam se basear?
5. Como a Igreja deveria ser administrada e como ela deveria celebrar suas crenças
liturgicamente?
3. Reforma católica
Embora inicialmente, o papado, os cardeais e a cúria simplesmente não tivessem
nenhum interesse em realizar uma verdadeira reforma, pois os membros graduados da
cúria dependiam demasiadamente de irregularidades financeiras, de modo que a
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oposição às reformas estavam firmemente entrincheiradas6. A rápida expansão das
doutrinas protestantes pela Europa gerou uma reação da Igreja, principalmente das
ordens religiosas não ligadas à cúria e que procurou reverter o quadro. As medidas que
foram chamadas de reforma católica visavam fortalecer a Igreja Papal e moralizar todo
o clero.
Seria ingênuo acreditar que a Reforma Católica, ocorre apenas por causa do
surgimento dos protestantes. A reforma teria ocorrido com ou sem o surgimento deles.
A reforma foi uma maneira encontrada pela igreja de se adaptar aos tempos modernos,
com uma nova doutrina, mas que mantivesse as suas tradições. A reforma começa a
tomar rumos de que se deve ir até o rebanho, ou seja, sair de Roma e do papado, mas
para isso era preciso competência e conhecimento na defesa de sua doutrina tão igual a
que os protestantes tinham da sua. Toda essa necessidade de aumento de conhecimento
do clero fez com que os católicos fundassem uma nova ordem religiosa, em 1534 surge
a companhia de Jesus, Jesuítas, que era um modelo a ser seguido pelas outras ordens
religiosas. Esforçam-se em conter o protestantismo por meio do ensino e da expansão da
fé católica. Daí deriva o projeto de catequese indígena na América e nos demais
continentes ode havia colônias europeias7. A companhia tem como iniciador o espanhol
Ignácio de Loyola, um ex-soldado espanhol.
Concílio de Trento (1545-47, 1551-52, 1562-63)
Este foi, talvez, o mais importante Concílio de toda a história, importância esta
que se explica pela problemática que enfrentou (a Reforma protestante) e as soluções
que adotou. Pouco depois de lançar o seu brado de protesto contra a lgreja em 1517,
Lutero apelou para a realização de um Concílio Ecumênico que considerasse os pontos
por ele lançados à Igreja. Todavia este apelo foi ignorado por Leão X e só começou a
encontrar resposta sob o pontificado de Paulo III (1550-55).
Este concílio durou praticamente todo restante do século XVI, ele contou com a
presença de teólogos protestantes pois também queria-se discutir a cisão, tinha também
como intenção fortalecer os quadros da igreja diante do avanço dos protestantes,
unindo-os em uma decisão comum. O resultado deste concílio foi vantajoso para os
católicos, pois recompôs a sua autoridade e deu a impressão de que só eles tinham
direito ao uso da noção de humanidade, colocando os protestantes apenas como
interessados no poder local e a Reforma Protestante como um capitulo do velho
problema em Papado e Império. Os resultados mais positivos foram:
A proibição da venda de indulgências e a criação de escolas para a formação dos
quadros eclesiásticos.
Fortalece mais o poder do Papa tornando a igreja mais centralizada e assim
fazendo com que até mesmo uma simples decisão passe pelo Papado.
6 BELLITO, M. História dos 21 concílios da Igreja. Loyola, 2010, p.137.
7 Leia no final desta apostila, o apêndice “E no Brasil: A Igreja e as missões”.
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A decisão polêmica foi a de reativar o Tribunal do Santo Oficio, isso se torna
polêmico não só pela violência que ele representava mas também por que este
tribunal foi um dos instrumentos mais eficazes do poder absoluto dos reis.
A primeira fase (1545-47) definiu mais uma vez o cânon das S.Escrituras e
declarou a Vulgata latina isenta de erros teológicos.
Abordou as questões discutidas sobre o pecado original, a justificação, os
sacramentos, a residência dos bispos nas respectivas dioceses.
Promulgou longa exposição a cânones sobre a Eucaristia (presença real,
transubstanciação, culto...). Algo de semelhante ocorreu no tocante ao
Sacramento da Penitência (necessidade, partes essenciais, satisfação) e a Unção
dos Enfermos (origem, efeitos, ministro, sujeito...).
Reafirmou as verdades referentes ao S. Sacrifício da Missa, aos sacramentos da
Ordem, do Matrimônio, ao purgatório, e invocação dos santos, as imagens e as
indulgências. Promulgou também resoluções a respeito dos Religiosos e das
monjas. Pela Bula Benedictus Deus (26/01/1564) Pio IV confirmou todos os
textos conciliares, dando por encerrado o Concílio que havia de marcar
profundamente o catolicismo dos tempos modernos.
Ao contrário dos humanistas, que criticaram as instituições religiosas, grande parte
do clero, principalmente ordens religiosas e mendicantes do século XVI tinham por
programa não criticar a outrem, mas emendar a si mesmo;, não mudar as estruturas da
igreja estabelecidas por Cristo, mas reformar os homens detentores de cargos e funções
já que o mal estava principalmente na secularização do clero. Falava-se, antes de tudo,
em reforma do clero. Muito sabiamente dizia o teólogo Egídio de Viterbo na sua
alocução introdutória ao concílio do Latrão V (1512): “Homines per sacra immutari faz
est, non sacra per homines. – Os homens é que devem ser transformados pela religião, e
não a religião pelos homens”.
Assim, nota-se um paralelo entre o século XVI e os séculos XI-XIII: na Idade Média
as forças renovadoras da Igreja não partiram diretamente do Papado, mas de círculos
não pertencentes á hierarquia (as Ordens Mendicantes); também no século XVI o
impulso renovador partiu das comunidades e ordens religiosas dadas á ascese e á
mística (Carmelitas, Jesuítas, Teatinos, Capuchinhos, Barnabitas, Angélicas, Ursulinas,
Somascos...), que com humildade aderiram incondicionalmente á hierarquia e ao
Papado. Só aos poucos este foi entrando na renovação ativa do século XVI, afetado
como estava pelo espírito renascentista e mundano. Até 1530 aproximadamente, Roma
vivia em quase inconsciência dos males que afetavam a Igreja; Leão X, por exemplo,
considerava a tempestade luterana como uma querela entre monges. Somente a partir de
Paulo V (1555-9), o mais severo entre os severos, o Papado se tornou o esteio de
renovação da Igreja. Esta teria por Magna Carta os documentos do concílio de Trento e
como força executora, a Companhia de Jesus.
As origens da renovação católica estão na Itália; o terreno, porém, mais fecundo
em frutos para a Igreja Universal foi a Espanha, que produziu não somente santos, mas
teólogos e doutores, que muito trabalharam pelo bom êxito do Concílio de Trento.
80
O ambiente científico dos séculos XVI/XVII
A ciência progredira muito no séc. XVI; já se apoiava em observações precisas,
levadas a efeito segundo métodos novos, afastando-se das conclusões formuladas de
antemão, sem muito contato com a realidade concreta; como eram as conclusões da
Filosofia e da Física medievais. Enfim, a ciência, dotada de instrumentos de trabalho
cada vez mais esmerados, tendia a se emancipar da fé. A vertigem da inteligência ia -se
apoderando de alguns pensadores, que de maneira mais ou menos confessada chegavam
a lançar um brado de morte a Deus; tal é, por exemplo, a exclamação de Campanella
(1568-1639), frade que chegou a abandonar momentaneamente a sua profissão religiosa
(mas que acabou tranquilamente os seus dias de convento de Saint-Honoré em Paris):
“Alguns cristãos descobriram a imprensa, Colombo descobriu um novo mundo, Galileu
novas estrelas... Acrescentai o uso dos canhões, dos moinhos, das armas de fogo e
todas essas invenções maravilhosas. Os pensadores de ontem eram crianças junto a
nós! Nós somos livres!”
A ciência moderna teve nascimento em meio à chamada Renascença. Antes da
Renascença, a teoria aceita sobre o universo era a de que a Terra permanecia imóvel em
seu centro (geocentrismo), enquanto os planetas e estrelas se moviam em volta dela. Foi
precisamente num ambiente de certa reação contra a fé, reação encabeçada por uma
ciência aparente, que viveu Galileu (1564-1642) célebre astrônomo que foi julgado pela
Igreja de Roma por defender a ideia de que não era a terra o centro do universo até
então conhecido, mas o sol (heliocentrismo). As descobertas da ciência aos poucos
mostraram aos teólogos que a Bíblia não tem a função de ensinar conhecimentos
profanos: passaram então a distinguir e aceitar o que no séc. XVII parecia monstruoso,
isto é, o plano das ciências naturais e o da Bíblia ou da Teologia não estão,
necessariamente em oposição.
As grandes críticas do século XX as posições da Igreja renascentista não levam
em conta que tais posições não foram apenas da Igreja de Roma. Vários teólogos e
autores protestantes, assim como os católicos, tiveram dificuldades em compreender que
a Bíblia não ensina cosmologia... Com efeito, Lutero julgava que as ideias de Galileu
eram ideias de louco, que tornavam confusa a astronomia. Melancton, companheiro de
Lutero, declarava que tal sistema era fantasmagoria e significava a rebordosa das
ciências. Kepler (1581-1630), astrônomo protestante contemporâneo de Galileu, teve
que deixar a sua terra, o Wurttemberg, por causa de suas ideias. Em 1659, o
Superintendente Geral de Wittemberg, Calovius, proclamava altamente que a razão se
deve calar quando a escritura fala; alardeava com prazer que os teólogos protestantes,
até o último, rejeitavam a teoria de que a Terra se move.
Grandes nomes memoráveis da ciência saem dos anos da renascença:
Nicolau Copérnico, filósofo polonês, médico e matemático
Tycho Brahe
João Kepler
Galileu Galilei
Isaac Newton (1642-1727), na Inglaterra. Newton era tanto físico como
astrônomo, mas sua fama principal decorre de sua definitiva exposição da lei da
81
gravidade e da aplicação desta ao movimento dos corpos celestes. De modo
geral, a obra de Newton mostrou que o universo inteiro, incluindo a Terra, é
governado por leis naturais, que podem ser expressas em termos matemáticos. O
mundo, em vez de ser o centro do universo, em vez de obedecer à vontade de um
Deus caprichoso, tornou-se uma máquina, governada por leis que nunca variam.
E o homem, não mais a figura mais importante do universo - o personagem
principal do drama épico da criação, do pecado e da salvação - passou a ser
apenas um transeunte num pequeno planeta a girar em torno de uma estrela de
quarta grandeza.
René Descartes (1596-1650),
Leibniz (1646-1716)
Francis Bacon (1561-1626), com a definição do método científico.
O microscópio, inventado em 1590, o telescópio, por volta de 1608, ambos por
holandeses fabricantes de óculos. Mais ou menos ao mesmo tempo, vieram o
barômetro, o termômetro e o relógio de pêndulo, que possibilitou mais exata
medição do tempo.
Não somente as ciências naturais tiveram avanço, mas também as ciências sociais
que ensaiavam os primeiros passos, em virtude da abertura da Àsia, Àfrica e América.
Isso deu incentivo e muita discussão sobre os povos e culturas não europeus e a certo
número de esforços para chegar a determinadas generalizações novas com relação à
natureza do homem e à solução de seus problemas. No curso desse pensamento, o
conceito predominante sobre a natureza humana mudou-se da antiga concepção cristã
do homem como vil, pecador e vicioso, para uma que o via como dignificado, racional e
capaz de escolher entre o bem e o mal.
Assim, o ideal renascentista do indivíduo esclarecido floresceu na crença
humanitário-racionalista do séc. XVIII, segundo a qual cada indivíduo é, por natureza,
dotado de certos "direitos inalienáveis e que os homens são capazes de pensar e de
governar sua conduta, individual e coletivamente, de acordo com os ditames da
inteligência, ou razão.
O Humanismo
Para a eclosão e ampla difusão do Renascimento como um todo há que se
considerar alguns pontos:
1. O aperfeiçoamento da imprensa, que possibilitou a difusão dos clássicos greco-
romanos, da Bíblia e de outras obras, até então manuseadas apenas pelos
“monges copistas” dentro de Mosteiros e Abadias;
2. A decadência e derrocada de Constantinopla, que provocou um verdadeiro
êxodo de intelectuais bizantinos para a Europa Ocidental;
3. As Grandes Navegações ou Mecanismos de Conquista Colonial, que alargou os
horizontes geográficos e culturais e propiciaram o contato europeu com culturas
completamente distintas, contribuindo para derrubar muitas ideias até então tidas
como verdades absolutas;
82
4. O Mecenato praticado por burgueses ricos, Príncipes e até Papas, interessados
em projetar suas cortes, daí financiarem as atividades do Renascimento Cultural.
O Renascimento foi, de certa forma, a expressão de um movimento humanista nas
Artes, Letras, Filosofia e Ciência, constituindo-se em um prodigioso desabrochar da
vida sob todas as suas formas, que teve de um modo geral suas maiores manifestações
de 1490 a 1560. Vejamos agora as condições vigentes na Europa que facilitaram ou
fomentaram o surgimento do Humanismo e do Renascimento.
A burguesia, enriquecida com o comércio, estava ainda presa a um Modo de
Produção contraditório em tudo e por tudo a seus interesses. Estava presa a valores da
Igreja e da Nobreza medievais; para contestá-los e difundir seus valores, mercadores e
banqueiros, burgueses em geral, promoveram um estilo de Artes, Letras, Religião e
Ciências mais de acordo com suas concepções racionalistas, antropocêntricas e
valorizadoras do acúmulo de riquezas a qualquer custo. A nova ética, a nova moral da
burguesia, pode ser exemplificada com este trecho de Leonardo da Vinci:
“Vede aqueles que podem ser chamados
Simples condutores de comida,
Produtores de estrume, enchedores de latrinas,
Pois deles nada mais se vê no mundo
Nem qualquer virtude se observa no seu trabalho,
Nada deles restando além de latrinas cheias”
Anotações, Leonardo da Vinci
Percebe-se que essa critica estava endereçada àquele que nada mais fazia do que
trabalhar, comer, dormir e, no máximo, reproduzir-se, coisa que outros animais são
capazes de fazer – o que caracteriza o humanismo renascentista. Os renascentistas do
século XVI proclamavam: “Voltai á natureza!”. Isto significava um adeus aos valores
cristãos, que apregoavam a salvação pela cruz e pela renúncia aos apetites desregrados
da natureza.
Como contraponto, a nobreza decadente – tal como o faz hoje a burguesia
decadente – buscava cooptar os intelectuais e artistas do renascimento patrocinando
suas pesquisas e seus trabalhos com vistas a manter o status quo, ou seja, o Absolutismo
Monárquico. Esta tensão durará até o período do Iluminismo que finalmente depõe a
Nobreza e o Clero, entronizando a burguesia endinheirada – se já detinham o poder
econômico e contestavam os dogmas religiosos, o que lhes podia impedir de deter o
poder político?
Como dissemos, o foco inicial do Renascimento foi a Itália, que já dispunha de
prósperas cidades mercantis e para onde chegou a principal leva de intelectuais
bizantinos, entre outros fatores, como maior contato com outras culturas e civilizações
por “projetar-se” no Mar Mediterrâneo e ser na prática o berço da civilização greco-
romana.
83
Não se deve, contudo, separar ou valorizar apenas alguns destes fatores. Devem
ser considerados como um todo! O aspecto econômico, em última instância, é fator
determinante – aqui se enfatizam os interesses mercantis da burguesia em ascenção. O
humanismo que empolgou os primeiros líderes das igrejas reformadas, Zuínglio e
Calvino, foi o extraordinário movimento intelectual que marcou a transição entre a
Idade Média e o período moderno. Uma das características marcantes desse movimento
foi o seu profundo interesse pela antiguidade clássica, o período áureo da civilização
greco-romana. Entre as obras clássicas que atraíam a atenção de muitos estava a Bíblia,
particularmente o Novo Testamento. Isso levou ao surgimento de uma categoria
específica de humanistas bíblicos devotados ao estudo das Escrituras em seus originais
gregos e hebraicos. O maior desses humanistas cristãos foi o célebre Erasmo de Roterdã
(1466-1536), cuja edição crítica do Novo Testamento baseada em textos gregos foi
avidamente estudada e utilizada pelos reformadores suíços. Erasmo teve seus méritos,
não apenas ao editar esse Novo testamento em grego, mas também obras teológicas
gregas da antiguidade. Mas faltava-lhe fé profunda; era relativista; muito concorreu para
a revolução religiosa do protestantismo pela sua ironia mordaz e sua crítica instituições
e personalidades da Igreja.
A Religião na Era da Razão
Fé e Ciência.
"Ainda que a fé esteja acima da razão, nenhuma contradição jamais poderá existir
entre elas. Já que o próprio Deus revelou seus mistérios, comunicando a fé e fazendo
descer no espírito humano a luz da razão, não poderia Ele negar-se a si próprio nem o
verdadeiro contradizer o verdadeiro". (Cc. Vaticano I, DS 3017). "Eis por que a
pesquisa metódica, em todos os domínios do saber, se dirigida de maneira científica
seguindo normas éticas, nunca se oporá à fé: a realidade profana e a da fé têm sua
origem no mesmo Deus. E mais: aquele que se esforça, com perseverança e humildade,
por penetrar o mistério das coisas, ainda que disso não tome conhecimento, estará por
assim dizer conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os seres e os torna aquilo
que são" (constituição pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo atual 36, §2).
Em sua vertente Científica há que destacar-se principalmente o fato de surgir um
poderoso espírito crítico – comum a todos os renascentistas, que rejeitava o “princípio
da autoridade” aristotélico medieval. Agora se buscava empiricamente os fatos
detalhada e acuradamente, com comprovações cientificas. Não bastava mais estar
escrito numa obra genial de Aristóteles para “ser verdade”. Era necessário comprovar
essa “verdade”, o que muitas vezes não ocorria, levando a crises com a Igreja, ainda
poderosa, e sua tão criticada Inquisição, que supliciou muitos dos pioneiros da ciência
em nome da defesa da fé...
Numa época em que as descobertas da ciência iam revendo drasticamente os
conceitos adotados do universo, inevitavelmente os velhos princípios religiosos, como
os postulados da filosofia, teriam também de ser revistos. Prova dessa revisão do
pensamento religioso foi o surgimento do deísmo. Os que aceitavam esse novo conceito
religioso continuavam a acreditar em Deus, mas, para eles, Deus era impessoal, "causa
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primeira" do universo. Uma vez criado o universo e decretadas as "leis naturais" que o
governam, permitira-o que este funcionasse sem ulterior intervenção sua. Nesse
esquema de coisas, o homem era filho da natureza, mas possuía um cérebro capaz de
entender as leis naturais que o regiam. E, pelo exercício de sua razão, podia escolher
entre o bem e o mal. Essa nova ética racionalista expelia a velha concepção religiosa de
não ser o homem capaz de escolher o bem e fazê-lo sem ajuda exterior de Deus. E
também negava a antiga crença de que Deus constantemente interfere no universo
realizando milagres. Era uma concepção paralela aos achados e às implicações da
ciência.
Mais de 400 anos depois, a história deu a volta completa, e Copérnico e Galileu
encontraram um defensor de peso no seio da Igreja Católica - o próprio papa. Em
essência, o que João Paulo II disse na universidade que leva o nome do astrônomo em
Torun, sua cidade natal na Polônia, é que não há contradição entre fé e razão.
João Paulo II foi o papa que mais tem se esforçado para estabelecer um
relacionamento amistoso entre a ciência e a fé - a reabilitação de Copérnico deve ser
vista também como parte desse empenho. Em Torun, no dia 7 de junho de 1999, o papa
defendeu o astrônomo citando sua última encíclica, Fides et Ratio (Fé e Razão).
Falando a estudantes e professores, muitos deles ex-colegas de seu tempo como
professor de filosofia na Polônia, João Paulo II advertiu que desprovida de razão a fé se
arrisca a deixar de ser "uma proposição universal".
«A fé, privada da razão, pôs em maior evidência o sentimento e a experiência,
correndo o risco de deixar de ser uma proposta universal. É ilusório pensar que, tendo
à frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave
perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que
não tiver à frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e a
radicalidade do ser (...) Ao desassombro (parresia) da fé deve corresponder a audácia
da razão» (João Paulo II. Fides et ratio n. 48).
Sempre se considerou escandaloso que a fé se tivesse colocado contra a ciência.
A novidade com João Paulo II é a disposição para reconhecer que houve algo de errado
no comportamento dos doutores da Igreja. Ele remoeu a consciência católica ao se
desculpar, ainda que muitas vezes indiretamente, pelos horrores da escravidão africana,
pelo massacre dos indígenas na América e também pelo próprio silêncio durante o
extermínio dos judeus na II Guerra.
Em todos os casos, a Igreja preferiu pedir desculpas pelos erros individuais dos
católicos, mesmo quando eram membros importantes da hierarquia: "Que outra
instituição tem julgado a si mesma e reconhecido que cometeu falhas?", pondera o
padre João Batista Libânio, professor de teologia em Belo Horizonte.
85
O Iluminismo: Movimento Ideológico do séc. XVIII
Em momento algum entre o princípio do séc. XVI e a última metade do séc.
XVIII, houve qualquer interrupção real no fluxo do desenvolvimento intelectual que
caracterizara a Renascença. Os mesmos rios de secularismo, de humanismo e de
individualismo continuaram a fluir, cada vez mais ampla e profundamente, fornecendo
preparo intelectual ao triunfo da nova fé na razão humana que devia assinalar as
chamadas "Luzes" do séc. XVIII. Como vimos, a moderna ciência experimental e a
corrente intelectual posta em movimento pelas explorações geográficas, marcaram o
começo do sentido moderno de uma comunidade intelectual que abrange o mundo
inteiro.
Os intelectuais da época acusavam de antiquada e ignorante a sociedade, o
governo, a economia, a educação, a religião e afirmavam que os homens se
aperfeiçoavam graças à razão e que, iluminados por ela, poderiam alcançar a
prosperidade e a felicidade. Por isso, insistiam na necessidade de ilustrar-se, educar-se
racionalmente e empregar a razão para descobrir as leis que regem a sociedade e assim
poder solucionar os seus problemas.
Outro dos princípios que sustentavam os iluministas era que a moral e a
educação não podiam ser dirigidas pela Igreja Católica (ou mesmo as Protestantes),
porque seus ensinamentos estavam baseados na fé e não na razão. Este movimento
intelectual desenvolveu-se nos salões da nobreza e burguesia francesas e também nas
academias e museus.
A França foi o centro de irradiação desta nova ideologia, mas as raízes deste
movimento não somente se encontram no século anterior, na filosofia racionalista de
Descartes, mas também nos descobrimentos astronômicos e físicos de Isaac Newton e
outros pensadores. François Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo de
Voltaire, foi um grande escritor, novelista e dramaturgo que ridicularizou, com seu
estilo satírico, tanto a monarquia quanto a sociedade, mas sobretudo a Igreja.
Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, afirmou que o homem é bom por natureza e
a sociedade o corrompe. Para evitar isso, o homem deve voltar ao estado puro em
contato com a natureza, para que ela guie a sua moral. Em sua obra "O Contrato
Social", expôs que a sociedade e o estado surgiram de atos voluntários e livres do
homem e estes, mediante um contrato, delegaram seus direitos a um governo. Desta
afirmação, é possível deduzir que o soberano não é monarca, mas sim a vontade geral
do povo. Anos mais tarde esta teoria seria um dos fundamentos das constituições
democráticas.
As ideias de muitos desses pensadores, escritores e cientistas foram publicadas
na Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências, Artes e Ofícios, que circulou por
toda a Europa durante mais de vinte anos. Esta publicação foi dirigida pelos escritores
Diderot e D"Alembert, e seu ataque às estruturas políticas, econômicas e sociais
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vigentes na Idade Moderna e contribuiu decisivamente para provocar a Revolução
Francesa no final do séc. XVIII.
Idade Contemporânea
A chamada Idade Contemporânea compreende-se da revolução francesa (1789)
até aos dias atuais. Envolve conceitos tão diferentes quanto o grande avanço da técnica,
os conflitos armados de grandes proporções e a Nova Ordem Mundial.
A revolução francesa (1789)
O séc. XVIII foi marcado pelo racionalismo, também chamado “Iluminismo”,
tendência que só aceita as luzes da razão em detrimento da fé e dos valores
transcendentais; entrou em sérios conflitos com a Igreja.
A Revolução Francesa é o desfecho das ondas de desagregação que solapavam a
Igreja e a sociedade desde o século XVI. Em particular, e o termo final de movimento
racionalista que desde 1750 se propagava pela França sob a orientação de Voltaire,
Diderot, d’Alembert, Montesquieu, Rousseau... Em resumo. tal movimento se explica
do seguinte modo:
a) O progresso das ciências, a descoberta de novos continentes nos séculos
XVI/XVII resolveram profundamente as noções de geografia, antropologia,
etnologia... dos homens da época... e passaram a influir também na filosofia dos
mesmos. Estes não souberam de imediato, a fazer a síntese entre os novos dados
da ciência e as perenes verdades do Cristianismo. A mensagem cristã pareceu-
lhes, em parte, ultrapassada ou sujeita a interrogações e dúvidas; daí originou-se
um clima de indiferentismo aos valores cristãos como também de racionalismo
(a razão é o critério supremo), agnosticismo (não podendo conhecer o
transcendental), naturalismo (só vale o que é natural ou aceitável pela razão
natural) e materialismo.
b) O Iluminismo apregoava a luz da razão em lugar do “absolutismo” da fé.
Espalhou-se pela Inglaterra, a Alemanha e a França, preparando nesta a
Revolução de 1789.
c) A Revolução Francesa foi provocada também pelas graves desordens sociais que
afetavam o país. A corte real vivia em luxo extremo; a nobreza era uma classe
privilegiada, que usufruía dos prazeres e festas do palácio régio. Os clérigos,
principalmente os prelados, também eram privilegiados. O povo, porém, sofria
de miséria, acabrunhado por impostos, dos quais as outras classes eram isentas.
As ideias de liberdade que impulsionavam os estados Unidos da América
(independentes), concorriam para disseminar desejos de mudanças na própria
França. –Impunham-se reformas.
Foi então que surgiu uma figura militar jovem e ousado: Napoleão Bonaparte. Pôs-
se a serviço dos revolucionários, que desejavam expandir-se para fora das fronteiras da
87
França e moviam a guerra no exterior. Como general das tropas francesas, Napoleão
tornou-se parte do Estado Pontifício; o Papa Pio VI teve que renunciar a alguns
territórios deste, assim como os manuscritos e obras de arte, obrigando-se ainda a pagar
milhões de francos. Certos tumultos provocados em Roma contra os franceses deram
ocasião a que estes ocupassem a Cidade Eterna; proclamaram a deposição do Papa
como Senhor temporal e a República Romana; as cenas de libertinagem ocorridas em
Paris deram-se também em Roma: na entrada da ponte Sant’angelo foi colocada a
estátua da liberdade calcando aos pés as insígnias papais; despojaram-se igrejas, capelas
e conventos. Pio VI, com seus oitenta anos de idade, foi levado de cidade em cidade.
Fizeram-no atravessar os Alpes e deixaram-no finalmente em Valença, á margem do rio
Ródano, aonde veio a falecer aos 29/08/1799. No fim do mesmo ano, Napoleão
regressou do Egito vitorioso como um novo Alexandre ou César. Deu um golpe de
Estado em Paris aos 09/09/1799, apossando-se do Governo. Napoleão foi eleito
Primeiro Cônsul por dez anos, depois vitalício, de modo que ele se tornava ditador.
Quando Pio VI morreu, a Igreja se via em situação crítica tal como nunca dantes.
Com efeito, a França, a “filha primogênita” caíra na incredulidade; a Itália estava
invadida e convulsionada; a Alemanha, contaminada pelo Iluminismo; a Bélgica,
incorporada á República francesa revolucionária; a Polônia, retalhada por três potencias
vizinhas; a Espanha e Portugal eram governados por Ministros hostis á Igreja; na
Inglaterra e nos países baixos, os católicos eram minorias flutuantes. O Catolicismo
parecia em agonia; ouvia-se dizer que Pio VI tinha sido o último Papa. Na sua morte,
oradores irônicos faziam a oração fúnebre da Igreja com frases blasfematórias. Como
eleger novo Pontífice em ambiente tão agitado e rebelde? Os Cardeais que participariam
da eleição estavam ou prisioneiros ou deportados ou dispersos em liberdade.
Apesar de tudo, o Conclave reuniu-se. Não em Roma ocupada pelos franceses,
mas em Veneza, território que os austríacos e russos haviam conquistado aos franceses.
Após três meses e meio saiu eleito o um monge beneditino, que tomou o nome de Pio
VII (1800-23). O novo Papa era homem profundamente religioso, fervoroso e ao serviço
de Deus e da Igreja.
Quanto a Napoleão, não queria ser um ateu, mas um deísta (isto é, alguém que
segue a religião natural); na Córsega recebera educação católica, que o torna sensível
aos valores religiosos. Podia ter uma capela no palácio, como os reis de outrora, e até
assistir á missa, mas só por conveniência ou por respeito às tradições. Como quer que
seja, desejava um entendimento com a Santa Sé. Percebia que, para fortalecer sua
posição na França, precisava do apoio dos católicos, que continuavam a ser uma força
no país.
O Concílio Vaticano I
O Concílio do Vaticano I foi o acontecimento de maior relevo na história da
Igreja do séc. XIX. Mais de trezentos anos haviam decorrido após a última assembléia
do Concílio de Trento (1563) quando Pio IX em dezembro de 1864, comunicou
secretamente aos cardeais a sua intenção de reunir novo Concílio Ecumênico: os
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tempos, ingratos como eram, o exigiam; era preciso deliberar sobre os remédios a
oferecer-lhes – o que se faria por excelência num Concílio, convidando também os
protestantes e os ortodoxos separados; estes, porém, não compareceram.
A agitação pública aumentou quando em fevereiro de 1869 a revista jesuíta La
Civilta Cattolica anunciou que o Concílio estava para definir a infalibilidade papal. O
mundo não católico imbuído do liberalismo, proclamava-se defensor da liberdade dos
simples fiéis católicos, “subjugados pelo domínio obscuro e obscurantistas dos
eclesiásticos”. Muitos bispos alemães reunidos, enviaram um escrito ao Papa em que
declaravam não julgar oportuna a definição, embora não se opusessem á doutrina;
temiam as reações dos governos e cisões entre os próprios católicos. Em verdade, a
definição desse dogma podia parecer ousadia numa época em que se respirava o
liberalismo. Por fim, promulgou uma Constituição Dogmática dei Filius, unanimemente
aprovada:
1. Existência de um Deus pessoal, livre, Criador de todas as coisas e independente
do mundo criado (contra o materialismo e o panteísmo);
2. Ensina que certas verdades religiosas, como a existência de Deus, “podem ser
conhecidas com certeza pela luz natural da razão humana” (contra o ateísmo e
contra o fideísmo; num século em que a fé cristã era escarnecida pelo
racionalismo, o Concílio defendia a razão!),
3. A Revelação Divina chega até nós mediante tradições orais e Escrituras
Sagradas.
4. Proclama que a fé é uma adesão livre do homem a Deus, que supõe um dom da
graça divina.
5. Define os setores próprios da razão e da fé e lembra que qualquer aparente
desacordo entre a razão e da fé só pode vir de falsa compreensão das
proposições da fé ou das conclusões da razão.
6. Definiu a infalibilidade do Papa e seu primado de jurisdição sobre a Igreja
inteira.
7. A autoridade do Papa foi definida como sendo sumo e imediato poder de
jurisdição sobre toda a igreja, ficando assim condenadas algumas heresias da
época (o galicanismo e Febronianismo).
8. Define como dogma revelado por Deus, que as definições do Romano Pontífice
proferidas ex cathedra, isto é, na qualidade de Mestre da Igreja inteira, em
questões de fé e de moral, gozam de especial assistência do Espírito Santo; são,
pois, infalíveis e irreformáveis por si mesmas, sem necessitar da aprovação da
Igreja.
A importância do Concílio do Vaticano I foi afirmar que a ação do Espírito Santo
levou a Igreja como tal a reafirmar a antiga verdade do primado papal, tanto em matéria
de jurisdição quanto em matéria de doutrina. Numa época de descrença, a fé se afirmava
de maneira corajosa. A própria Igreja parecia como algo transcendente ou como um
sacramento, que o homem recebe de Deus, à diferença de outras sociedades e
instituições.
89
A revolução industrial e a Igreja
No séc. XIX, em virtude da Revolução Industrial e do progresso da técnica, o
cenário europeu se modificou, a ordem sócio-econômica foi transformada, afetando
desastrosamente a classe operária, acarretando graves problemas sociais: as antigas
estruturas foram desmontadas e o surgimento da massa de proletários assalariados
determinou fortes mudanças na organização social, fazendo com que a relação capital-
trabalho se tornasse uma questão decisiva de um modo até então desconhecido. Esse
quadro impôs uma reavaliação do que seria a “justa ordem da coletividade”. Diante das
mazelas provocadas pelo liberalismo individualista então vigente, foi tomando corpo o
socialismo.
Esse quadro mundial deu ensejo, em 1891, à primeira encíclica papal sobre a
questão operária – “Rerum novarum” (coisas novas) – do Papa Leão XIII (1878-1903),
considerado o primeiro documento oficial de Doutrina Social da Igreja (DSI) e seu pilar
fundamental. Leão XIII foi um papa de vanguarda, atento à realidade, dotado de uma
lucidez e um visão para além de seu tempo. A encíclica veio completar outros trabalhos
do Papa durante seu pontificado sempre preocupado em modernizar o pensamento
social da Igreja e da sua hierarquia. A encíclica “Rerum novarum” foi denominada
pelos papas que sucederam Leão XIII de “carta magna” do Magistério Social da Igreja.
A encíclica critica fortemente a falta de princípios éticos e valores morais na
sociedade laica de seu tempo, uma das grandes causas dos problemas sociais. O
documento papal faz referência a alguns princípios que deveriam ser usados na procura
de justiça na vida industrial e sócio-econômica, como, por exemplo, a melhor
distribuição de riqueza, a intervenção do Estado na economia a favor dos mais pobres e
desprotegidos, a caridade do patronato aos trabalhadores. Estabeleceu orientações a
respeito dos direitos e deveres na relação capital e trabalho. O Papa refutou como falsas
as teorias socialistas marxistas e defendeu a propriedade privada, por se tratar de um
direito natural, inerente à realização humana, afirmando categoricamente que o primeiro
fundamento a se estabelecer para os que querem sinceramente o bem do povo é a
inviolabilidade da propriedade particular. Afirma que o homem antecede ao Estado em
valor, dignidade e importância e o antecede também no tempo. Adverte que o fim do
Estado é propiciar o bem comum do homem e de prover-lhe os meios para que possa
alcançar a felicidade. Não é “o homem para o Estado”, mas o Estado é que existe em
função do homem. Muitas de suas afirmações na encíclica opõem-se aos excessos do
capitalismo. Naquele momento histórico, o apoio do Papa a sindicatos e a um salário
decente era visto como radicalmente liberal.
A Encíclica critica a concentração das riquezas nas mãos de poucos e do mau uso
que dela faziam. Propunha o repouso semanal, com a cessação do trabalho no dia do
Senhor; pela fixação da jornada de trabalho; clama por um equilíbrio na exigência do
trabalho da mulher; propõe a disciplina da greve; destaca, ainda, a importância de
associações e corporações, em especial aquelas para defesa dos direitos e interesses os
trabalhadores. Deve o Estado proteger essas sociedades fundadas segundo o direito; mas
não se intrometa no seu governo interior e não toque nas molas íntimas que lhes dão
90
vida. Que os direitos e os deveres dos patrões sejam perfeitamente conciliados com os
direitos e deveres dos operários.
O pontificado de Leão XIII deu início a uma nova forma de relacionamento entre a
Igreja Católica e o mundo moderno. A Igreja passou a empenhar-se a procurar soluções,
à luz do Evangelho e dos ensinamentos cristãos, para os problemas sociais vividos pela
humanidade, numa atuação ad extra, com o olhar e a preocupação postos para fora de
sua estrutura institucional. Os temas e as respectivas reivindicações constantes da
Encíclica soam para nós, hoje, como lugar comum, mas à época, não eram sequer
cogitados como direitos dos trabalhadores. A encíclica Rerum novarum antecipou-se no
estabelecimento dos direitos e deveres do trabalhador e do patronato, influenciando
fortemente a organização jurídico-trabalhista de vários Estados, inclusive a CLT
brasileira.
As encíclicas sociais da Igreja
A essa Encíclica social seguiu-se a Encíclica “Quadragesimo ano”, de Pio XI em
1931, fazendo memória dos 40 anos da “Rerum novarum”. O beato papa João XXIII
promulgou, em 1961, a “Mater et magistra” e em 1963, a “Pacem in Terris”; Paulo VI
promulgou a encíclica “Populorum progressio”, em 1967, e a Carta Apostólica
“Octagesima adveniens”, para celebrar os 80 anos da “Rerum novarum”, em 1971.
De sua parte, João Paulo II não foi menos preocupado com o tema da “questão
social”; publicou três encíclicas ditas sociais: “Laborens exercens” (1981), “Sollicitudo
rei socialis” (1987) e, finalmente “Centesimus annus” em 1991, pouco tempo depois da
queda do Muro de Berlim, símbolo da derrocada do comunismo e da Cortina de Ferro,
fazendo memória da “Rerum novarum”, 100 anos após sua promulgação.
Podemos perceber a importância e o peso da Encíclica de Leão XIII, pela
atenção que lhe deram seus sucessores, através dessas encíclicas sociais. Finalmente, a
Doutrina Social da Igreja foi apresentada de modo sistematizado e orgânico em 2004,
através do “Compêndio da Doutrina Social da Igreja” (leitura obrigatória), fruto do
trabalho do Pontifício Conselho Justiça e Paz.
Em verdade, o pensamento social cristão vai muito além de apresentar uma simples
alternativa ao capitalismo e ao marxismo. A Igreja busca uma profunda unidade, que
provém da Fé em uma salvação integral, da Esperança em uma justiça plena, da
Caridade que torna todos os homens verdadeiramente irmãos em Cristo. (…) A Igreja,
com a sua doutrina social, não entra em questões técnicas e não institui nem propõe
sistemas ou modelos de organização social: isso não faz parte da missão que Cristo lhe
confiou.
No entanto, pela relevância pública do Evangelho e da fé e pelos efeitos perversos
da injustiça, vale dizer, do pecado social, a Igreja não pode ficar indiferente às
vicissitudes sociais: compete e ela anunciar sempre e por toda parte os princípios
91
morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se a respeito de qualquer questão
humana, enquanto o exigirem os direitos fundamentais da pessoa humana.
Dado a importância de grandes pontífices na historia contemporânea, respeitados
internacionalmente, acredito que seja prudente continuar nosso estudo da História da
Igreja a partir deste ponto, focando a vida desses papas e das dificuldades que
enfrentaram em seu tempo. Os quatro primeiros: Leão XIII (1878-1903); Pio X (1903-
14); Bento V (1914-1922); Pio XI (1922-39).
Leão XIII (1878-1903)
Era homem de sólida formação teológica e humanista, que se dedicava ao estudo
de S. Tomas de Aquino e a literatura latina. Passava por “moderado”; na verdade, Leão
XIII foi firme na defesa da verdade e do direito; mas soube também ser ponderado e
conciliador, de modo que se tornou uma das mais brilhantes figuras de sua época, como
se poderá depreender do que será dito adiante; o mundo dava ouvido a esse Papa tão
prestigiado.
Frente ao estado italiano, reafirmou a sentença de Pio IX logo na sua primeira
encíclica (21/04/1879): “O Estado da Igreja é uma instituição indispensável da
Providencia Divina para assegurar o livre exercício da autoridade eclesiástica”. Na
Alemanha Leão XIII teve que enfrentar o Kulturkampf (política antieclesial);
comportou-se tão sabiamente em relação ao Primeiro-Ministro Bismark que este recuou
e até convidou o Pontífice para arbitrar um litígio da Alemanha com a Espanha a
respeito das ilhas Carolinas; a sentença de Leão XIII (1885) foi acatada por ambas as
partes.
Por duas vezes (1888-1903) recebeu a visita do imperador protestante Guilherme
II no Vaticano, ao passo que os príncipes e estadistas católicos a visita de Roma em
forma oficial estava proibida desde 1870. Em 1888 Leão XIII recebeu a visita do rei da
Inglaterra. Em 1895 foi criada a Embaixada da Rússia junto á Santa Sé.
No regime interno da igreja, Leão XIII revelou-se grande pastor e mestre: em
1879 escreveu a encíclica Aeterni Patris, que recomendava S. Tomás de Aquino aos
estudantes de Filosofia e Teologia, numa época de certo desatino filosófico, que
prejudicava a própria teologia (o racionalismo, o fideísmo, o existencialismo...
prejudicavam a penetração mesma das verdades da fé). Em 1891, deu início á serie de
encíclicas papais referentes á questão social, escrevendo a Rerum Novarum. Em 1902
criou a Pontifícia Comissão Bíblica para acompanhar as novas pesquisas exegéticas
empreendidas por pensadores de diversas correntes. Em 1883 abriu aos estudiosos do
mundo inteiro o Arquivo e a Biblioteca do Vaticano, querendo significar que a Igreja
não teme a publicação de sua história. Em 1891 renovou e ampliou o Observatório do
Vaticano, para onde ele se retirava com prazer a fim de trabalhar e repousar. Leão XIII
faleceu com 93 anos de idade, ainda lúcido e enérgico. Fizera do Papado uma potência
moral universal, com a qual deviam contar os estadistas.
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Pio X (1903-14)
Logo no início do seu pontificado anunciou o seu lema: Instaurare omnia in
Christo (Instaurar tudo em Cristo). Propunha a si mesmo três tarefas:
1) conservar em estado puro a doutrina da fé, preservando-a de qualquer
contaminação;
2) estimular a ação social dos católicos, continuando a obra de Leão XIII;
3) intensificar e reorganizar a espiritualidade e a pastoral da Igreja.
Na política externa, seria também o firme defensor dos direitos de Deus e da
Igreja. Foi muito importante a ação de Pio X nos setores da Liturgia e da piedade. Pio X
empreendeu a reforma do Missal e da Liturgia das horas canônicas (Breviário),
impregnando estes livros do espírito de “volta ás fontes” (S. Escritura, escritos dos
antigos Padres da Igreja e documentos de Tradição). Incentivou também a Comunhão
Eucarística frequente ou mesmo cotidiana; determinou que a Primeira Comunhão fosse
ministrada ás crianças desde o uso da razão. Estas medidas públicas e numerosas cartas
particulares deste Papa atestam quanto estimava a vida espiritual e a procura dos meios
de santificação.
No setor doutrinário, o Pontífice teve que enfrentar o Modernismo, que
interpretava toda a mensagem da fé, dando aos seus clássicos vocábulos sentido
totalmente novo; as fórmulas dogmáticas seriam meros e mutáveis símbolos da verdade
religiosa, que, como tal, não poderia ser conhecida. Refutando tais erros, Pio X publicou
a encíclica Pascendi (1907), que caracterizava claramente as exigências da autêntica fé
católica.
Ainda conheceu o início da guerra de 1914-18, que o entristeceu profundamente.
Veio a falecer aos 20/18/1914. Cativara a todos por sua simplicidade, piedade e
meiguice. Foi canonizado em 1954.
Bento XV (1914-1922)
Em plena guerra mundial, foi eleito Papa e escolhido, em grande parte, por causa
da sua experiência nos setores da diplomacia internacional. Parecia ser o homem
indicado para governar a Igreja nas circunstancias do conflito mundial. Era de pequena
estatura, mas piedoso e prudente como também dotado de grande capacidade de
trabalho, de perseverança férrea e notável eloquência.
Conseguiu melhorar a sorte de populações e prisioneiros de guerra, sem
distinção de confissão religiosa ou nacionalista. Protestou veementemente contra meios
bélicos desumanos. Em 1917, dirigiu a todas as nações em guerra, propostas de paz,
procurando aproximar as nações entre si. Após a guerra, colaborou para que, debaixo da
paz das armas, se realizasse a paz das mentes. Estes esforços muito aumentaram o
prestígio da Santa Sé; o número de representações diplomáticas junto a esta subiu de 14
a 25; entre as novas, estava a da França, que sob Pio X separara a Igreja e o Estado e
rompera as relações diplomáticas. O conflito bélico de 1914-18, embora tenha causado
93
dolorosas devastações humanas no plano temporal, ocasionou enorme florescimento da
vida católica (renovação bíblica, litúrgica, teológica, Ação católica...). Bento XV fica na
memória dos homens como um grande Apóstolo da paz de Cristo durante a primeira
guerra mundial.
Pio XI (1922-39) e o Tratado do Latrão
Era bem versado em Bibliotecas, em estudos de história e na diplomacia. Reunia
em si qualidades da prudência, da energia com a confiança em Deus e o otimismo.
Viveu o advento do Fascismo. O ensino da religião tornou-se de novo obrigatório nas
escolas, os clérigos foram dispensados do serviço militar, foi oferecida assistência
religiosa ás Forças Armadas, os crucifixos foram, em parte, recolocados nas escolas, nos
hospitais e tribunais; Igrejas e mosteiros profanados foram, em parte, restituídos, os dias
santos católicos reconhecidos... Benito Mussolini, o chefe do Governo, percebeu a
grande conveniência, política de conciliar a Itália com o Vaticano.
Foi nesse período que foi assinado o Tratado de Latrão. Este reconhecia a
absoluta soberania do Papa sobre a pequena Cidade do Vaticano, que é o Menor de
todos os estados independentes: 0,44km, quando a república de San Marino tem 61km e
a de Andorra 465km. Além da cidade do Vaticano, o Pontífice dispõe de “lugares
extraterritoriais”, como as principais basílicas de Roma, edifícios da Cúria, a Vila de
Castel Gandolfo...
Pio XII (1939-1958)
As boas relações de Pio XI com o Estado Italiano esfriaram muito quando este
adotou princípios do nacional-socialismo (fascismo), especialmente no tocante ao
racismo. O Papa seguinte a Pio XI foi Pio XII, antigo secretário de Estado do falecido
Pontífice. Era homem austero, profundamente religioso, de vasta cultura, perito em
diplomacia e política internacionais, assim como afável e cordial. O seu pontificado
apresenta várias facetas:
1. Os seis primeiros anos foram marcados pela 2º Guerra Mundial (1939-45), que
muitos absorveram Pio XII. Procurou até o último momento (03/09) deter o conflito,
mas a Alemanha e a Itália pouca atenção lhe dispensaram. Pio XII foi acusado de
não haver sido suficientemente enérgico em relação ao nacional-socialismo de Hitler
e foi censurado severamente por não haver defendido os judeus. A este propósito
pode-se observar: Pio XII abrigou no Vaticano, nas igrejas e nos mosteiros de Roma
mais de 5.000 judeus e outros perseguidores políticos, trabalhou discretamente para
evitar mais fortes represálias do nacional-socialismo, que dominava quase a Europa
inteira e podia ter causado ainda maiores danos, se provocado. O Serviço de
Pesquisas e Informações do Vaticano funcionou ativamente em favor dos
prisioneiros de guerra e dispersos, obtendo mais de onze milhões de respostas de
pessoas afastadas. No dia seguinte ao da libertação de Roma, que estava sob o
domínio nazista, o povo acorreu á Praça S. Pedro e aclamou Pio XII como defensor
civitas (defensor da cidade), pelo muito que fizera em prol da preservação de Roma.
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2. Após a guerra, Pio XII procurou assistir aos refugiados, exilados e demais vítimas
mediante grandiosa obra caritativa. Teve, porém, que lamentar os avanços do
comunismo na Europa central e oriental e na China, na Coréia, Vietnã..., em
consequência das quais se formou “a Igreja do silêncio”, os regimes marxistas
tenderam e tendem a fundar “Igrejas nacionais” ou “patrióticas”, que esfacelam o
povo de Deus. Pio XII muito incentivou o trabalho missionário na África, pedindo
compreensão e respeito para as tradições locais na Encíclica Africae Donum (1951).
3. Sob Pio XII, o movimento de “Volta ás fontes” (S. Escritura, Tradição antiga,
Liturgia), desencadeado por Pio X, continuou a se desenvolver. Muitos teólogos
quiseram reabastecer-se através de uso mais frequente e adequado dos textos
bíblicos e patrísticos, dando origem a uma corrente dita “nova Teologia” (Daniélou,
De Lubac, Chenu...), que causou certa estranheza a princípio, mas posteriormente
foi reconhecida como sadia. A piedade dos fiéis tornou-se assim mais nutrida e
solida. Pio XII contribuiu para isto mediante famosas encíclicas: Mediator Dei,
sobre a Liturgia, em 1947; Divino Afflante Spiritu (de leitura obrigatória) sobre a S.
escritura, em 1943 e Mystici Corporis Crhisti, sobre a Igreja e a piedade cristã, em
1943. Assim se preparava a grande revitalização da Teologia e da espiritualidade
católicas que o Concílio do Vaticano II (1962-65) havia de promover.
4. Pio XII declarou o ano de 1954 ano mariano a fim de celebrar o centenário da
proclamação do dogma da Imaculada Conceição. No Ano Santo de 1950, quando
Roma recebeu milhões de peregrinos, o S. Padre definiu o dogma da Assunção de
Maria Santíssima ao céu, cuja intenção foi não somente a de confirmar a antiga
crença dos cristãos, mas também incutir a dignidade do corpo humano, vilipendiado
pelos horrores da guerra e pela libertinagem dos costumes.
Pio XII manifestou sua ampla cultura geral em alocuções e mensagens sobre os mais
diversos temas: medicina, esporte, direito, educação, feminismo, ciências físicas...
Insistiu sobre o valor da pessoa humana e da democracia frente aos Estados totalitários
do seu tempo. O prestígio internacional do Papado subiu a novos índices sob Pio XII.
Disto dão testemunho as homenagens que lhe foram prestadas por ocasião do seu
octogésimo aniversário (1956) e, principalmente, as que receberam após a morte aos 9
de outubro de 1958. Pio XII soube incutir a fidelidade aos princípios da doutrina e da
moral católicas numa época em que o mundo, cansado das ideias que haviam levado a
duas guerras sucessivas, se precipitava no ceticismo, no desespero e na cega procura de
novidades; soube, porém, abrir-se para o futuro, preparando remotamente o Concílio do
Vaticano II com mente larga e acolhedora.
João XXIII (1958-1963)
Após três dias de conclave foi eleito aos 28/10/1958 o Cardeal Ângelo Roncalli,
com o nome de João XXIII e a idade de 77 anos. Diziam todos que seria um Papa de
transição, meio-apagado, entre Pio XII e o futuro Pontífice. João XXIII era conhecido
como um homem bom e cordial, dotado de inteligência e boa experiência na diplomacia
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internacional. Aos poucos, porém, foi-se revelando “o milagre Roncalli” a diversos
títulos.
O principal mérito de João XXIII, o de ter convocado o Concílio do Vaticano II,
a fim de terminar os estudos do Vaticano I, interrompidos prematuramente e atualizar a
disciplina e a vida da Igreja num mundo de rápidas mudanças. Este gesto supunha
coragem e clarividência da parte do Pontífice, que se abria a uma tarefa penosa e longa.
Oito foram às encíclicas de João XXIII, das quais duas tiveram especial
repercussão: Mater et Magistra (mãe e Mestra) e Pacem in Terris, ambas versando
sobre a questão social em termos cada vez mais nítidos. Esta última proclamava como
pilastras da paz internacional: a justiça, a verdade, o amor, a liberdade. Tudo fez para
aproximar os cristãos entre si ou mesmo os homens em comunhão fraterna; por isto
recebeu em visita o chefe da Igreja Presbiteriana da Escócia, os presidentes das
comunidades episcopal e batista dos Estados Unidos, o metropolita Damaskinos e até a
filha e o genro do chefe do Governo da Rússia soviética. Com os judeus quis consolidar
a amizade que nascera entre cristãos e israelitas nos campos de concentração nazista,
onde eram conjuntamente perseguidos; daí o encontro do Papa com o representante
judeu Jules Israel, que redundou em fatos concretos; o Papa se esforçou por fazer
desaparecer dos meios cristãos os resquícios de anti-semitismo.
João XXIII mudou também o estilo do Papado: saía a pé, caminhava pelas ruas
da cidade, visitava sacerdotes, doentes e prisioneiros, mostrando sempre fisionomia
amiga e bem humorada; estes seus traços lhe valeram o apelido de “Papa Buono”.
Falecido em 1963, João XXIII foi lamentado e chorado por milhões de pessoas,
católicos e não católicos.
O Concílio Vaticano II
João XXIII inaugurou o Concílio do Vaticano II aos 11/10/1962; era o 21º da
história. Fora preparado desde 1959 por Comissões diversas, que elaboraram estudos e
textos a ser representados aos conciliares sobre os principais problemas da Igreja
daquela época. Foram convidados, como observadores, representantes dos protestantes,
dos ortodoxos orientais e dos demais cristãos separados. Por ocasião da inauguração do
Concílio, contavam-se dois mil e quinhentos e quarenta participantes; os observadores
não católicos eram cerca de cinquenta inclusive senhoras, como observadoras, a partir
de 1964. Como programa dos trabalhos conciliares, o Papa indicava a tarefa de “tornar a
Igreja presente no mundo e sua mensagem sensível á razão e ao coração do homem
envolvido na revolução técnica do século XX”.
O Concílio decorreu em quatro fases, respectivamente de outubro a dezembro de
1962, 1964 e 1965. Nos intervalos entre essas fases, as Comissões de teólogos
trabalhavam arduamente para atender às sugestões e às diretrizes emanadas dos padres
conciliares.
Após a morte de João XXIII, em junho de 1963, foi-lhe dado por sucessor o
cardeal Giovanni Battista Montini, com o nome de Paulo VI (1963-1978), que
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imediatamente assumiu o encargo de levar adiante os trabalhos conciliares em curso. Os
debates nas sessões do Concílio foram árduos e candentes – o que se explica pelo fato
de que era preciso integrar nas expressões da Igreja, valores modernos sem contradizer
os valores essenciais do passado. Finalmente o Concílio deixou á posteridade:
Quatro Constituições básicas (sobre a Igreja, sobre a relação da Igreja e o
mundo, sobre a Igreja e o mundo moderno, sobre a Revelação Divina e
sobre a Liturgia),
Nove decretos (sobre os Bispos, os Presbíteros, os Leigos, o
Ecumenismo, a Vida Religiosa, as Igrejas Orientais, as Missões, a
Formação dos Clérigos, os Meios de Comunicação Social)
Três Declarações (sobre a liberdade Religiosa, sobre as religiões Não-
Cristãs, sobre a Educação Católica).
Todos esses documentos têm índole pastoral, isto é, visa à vida cristã e a sua
disciplina, em vez de se voltar para definições de fé e de moral. Entre os traços mais
significativos desses textos, salientam-se:
1. A reafirmação da Igreja como sacramento (realidade divino-humana),
estruturado por Pedro e a hierarquia, mas envolvendo a responsabilidade de todo
o povo de Deus.
2. Renovação da Liturgia, a ser celebrada em estilo mais comunitário e acessível
aos fiéis;
3. Abertura para os demais cristãos, numa atitude de diálogo baseado sobre a
verdade e o amor;
4. Reconhecimento de valores contidos nas Religiões Não-Cristãs;
5. Desejo de integrar dentro da cultura católica tudo o que de lícito apresenta o
mundo de hoje (a ciência, o esporte, a política, a economia, os esforços em prol
da paz...).
Paulo VI encerrou o Concílio aos 08/12/1965; dirigindo mensagens a todos os
homens, convidados a colaborar com a Igreja na implantação de uma ordem mais digna
e fraterna neste mundo. As consequências do Concílio foram enormes. A fim de
executar as resoluções do mesmo, Paulo VI criou novos organismos na Igreja: os
Secretariados para a unidade dos Cristãos, para o Diálogo com os Não-Cristãos, para o
Diálogo com os ateus, o Conselho para as Comunicações Sociais, o Conselho para a
Revisão da Liturgia. Além disto, como estipulado, o Papa reuniu (e reúne regularmente)
o Sínodo Mundial dos Bispos (representantes do episcopado do mundo inteiro) para
estudar assuntos da vida da Igreja: a família, a penitencia, o celibato sacerdotal, a
catequese, a evangelização...
Paulo VI esteve em Genebra, na sede do Conselho Mundial das Igrejas, para se
encontrar com os representantes do protestantismo e da ortodoxia oriental. Dignas de
nota são também a Encíclica Populorom Progressio (O Desenvolvimento dos Povos) de
1967, e a Carta Octogésima Adveniens (O Próximo Octogésimo Aniversário) de 1971,
ambas a respeito da questão social e da participação dos cristãos na transformação do
mundo.
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Apêndice
E no Brasil?
A IGREJA E AS MISSÕES
O Padroado
A Igreja no Brasil, durante quase quatro séculos, foi marcada pela instituição do
padroado. Tratava-se de uma estreita ligação do rei de Portugal (e, após a
independência, dos Imperadores do Brasil) com o poder eclesiástico, no sentido de que
aquele teria certos direitos e privilégios, como nomear bispos, conferir benefícios
eclesiásticos ou receber dízimos das Igrejas sob sua jurisdição. A origem do padroado
situa-se na Idade Média, ligada a dois fatores: o sistema feudal e as Ordens Religiosas
militares.
O sistema feudal – Durante a Idade Média, especialmente no séc. X
desenvolveu-se a praxe segundo a qual o Senhor do feudo era o patrono das
Igrejas situadas em seu domínio. Desse modo, os senhores feudais escolhiam os
vigários e curas para as ditas igrejas. No séc. XVI, visto que os reis de Espanha e
Portugal se tinham empenhado na propagação da fé católica nas terras então
descobertas, foram-lhes concedidos pela Santa Sé privilégios semelhantes.
As Ordens Militares - Outro fator que se encontra na origem do padroado
consiste na formação de Ordens Militares, compostas de leigos que seguiam uma
regra de vida aprovada pela Santa Sé. Tendo surgido no tempo das Cruzadas,
muito se desenvolveram na Idade Média. Entre elas, destaca-se a ordem dos
templários, a qual, com o passar do tempo, acumulou muitos bens.
Em 1456 foi outorgado, pelo Papa Calisto III, á Ordem de Cristo, a jurisdição
espiritual nas terras conquistadas (Bula “Inter Coetera”). Com isto o Prior do Convento
de Tomar, da Ordem de Cristo, recebia, sobre as regiões conquistadas, os mesmos
poderes de um bispo em sua diocese.
Em Bula de 1516 o papa Leão X concedeu ao rei de Portugal o Padroado sobre
todas as Igrejas das terras conquistadas. A jurisdição espiritual, porém, era reservada ao
Prior do Convento de Tomar. Muitos, porém, interpretaram erroneamente a Bula papal,
outorgando a prerrogativa da jurisdição espiritual aos reis de Portugal, que possuíam o
titulo de Grão-mestre da Ordem.
O Sistema do padroado, a par desses aspectos negativos, teve também seu saldo
positivo, quando exercido dentro dos limites das Bulas: facilitou a ereção de igrejas;
providenciou a remuneração do clero e dos missionários e a dotação de dioceses,
paróquias, colégios...; favoreceu ainda as missões e a unidade da Igreja nas terras
conquistadas.
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Quando da independência do Brasil, o Papa Leão XII separou de Portugal a
Ordem de Cristo. Permaneceu assim estreitamente unida a Igreja ao Estado no Brasil.
Isto levou as ingerências indevidas do poder civil na Igreja; no tempo do Império, um
dos casos mais graves foi o dos Padres Feijó e Antônio Maia de Moura, apresentados
pela Regência, em 1833, para bispos; a sua indicação não foi aceita pela Santa Sé, visto
terem os referidos padres certas ideias discordes da Igreja. Houve fortes tensões,
chegando um membro da Câmara a propor o desvinculamento da Igreja no Brasil frente
do Vaticano, cuja autoridade se transferiria para o Governo. Esta proposta não foi
aprovada e a questão se resolveu com a renúncia de Pe. Feijó e Pe. Moura à mitra
episcopal, tendo então o Governo apresentado novos nomes.
A evangelização no Brasil Colônia
Os Índios
Ao chegarem os portugueses ao Brasil, aqui encontraram os habitantes nativos,
dispersos pelo território, em vida seminômade e agrupados em diversas tribos. Em sua
religião, possuíam vaga idéia de um Ser Supremo e muito poderoso, a quem chamavam
Tupã; criam também em espíritos bons e maus (o espírito mau era denominado
Anhangá). Algumas tribos cultuavam o Sol (Guaraci) e a Lua (Jaci). Não possuíam
ídolos, templos ou sacerdotes, embora admitissem um feiticeiro ou curandeiro (o Page).
Muitas teorias consideravam os índios seres inferiores, irracionais, incapazes de
autodeterminação e assim destinados a ser dominados. Contra essas teorias lutou a
Igreja, destacando-se nesse contexto o Papa Paulo III (Veritas Ipsa, de 29/5/1537), que
defendia a racionalidade dos indígenas, sua capacidade, por conseguinte, de se abrir á fé
cristã e a abraçar. Porem, sendo seres livres, não poderiam ser obrigados á conversão
nem submetidos á escravidão.
Os jesuítas
A evangelização sistemática dos indígenas começou propriamente com a
chegada dos membros da Companhia de Jesus ao Brasil, a quem se deve de fato o
maior mérito na evangelização neste período. Os primeiros jesuítas chegaram com o
Governador-Geral Tomé de Souza á Bahia em 1549, entre eles o Pe. Manoel da
Nóbrega.
Os primeiros contatos com os indígenas se deram nas aldeias próximas a
Salvador. De início, limitou-se a batizar crianças e adultos em perigo de vida. Pouco
depois se dedicaram a preparar os adultos para o batismo. Seu ensino consistia, segundo
o costume da época, numa breve explicação das verdades fundamentais da fé. Os
maiores problemas, porém, concentraram-se no combate a hábitos arraigados entre os
indígenas, como a antropofagia e a poligamia. Quanto a isto, do catecúmeno adulto era
exigido, para o batismo: não matar seus semelhantes, não comer carne humana, viver
com apenas uma mulher. O costume de mais árduo combate foi a antropofagia, para o
que foram necessários leis proibitivas de Tomé de Souza e Mem de Sá.
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No início de 1550 chegaram mais quatro jesuítas, que se localizaram em S.
Vicente, com sete meninos órfãos que vinham para ajudar na catequese. Em julho de
1553, chegaram ouros sete missionários á Bahia, entre os quais o Ir. José de Anchieta,
mais tarde ordenado sacerdote, e que foi beatificado em 1980, pelo Papa João Paulo II.
O método utilizado pelos jesuítas consistia em contatos diretos com os índios e
na formação de aldeamentos indígenas, com a finalidade de atraí-los para hábitos mais
civilizados e para a fé cristã. Há quem julgue atualmente que os jesuítas teriam imposto
o Cristianismo reprimindo os indígenas e usando a força. Ora, devemos observar em
primeiro lugar que os índios possuíam um caráter belicoso, que os levava a numerosos
ataques aos brancos, o que era duramente punido pela autoridade civil. Por outro lado,
os portugueses agiam muitas vezes somente com o intuito de explorar. Tais abusos
sempre foram condenados pelos missionários, de modo que não lhes podem ser
atribuídos os desmandos da autoridade civil. Se muitas vezes os missionários
aproveitaram da relativa pacificação dos índios, devida á força civil, para estender seu
trabalho de evangelização, isto não significa obrigar á fé e impor o cristianismo á força.
Pelo contrário, era norma da Santa Sé respeitar a liberdade dos ameríndios adultos no
tocante á aceitação ou não da fé cristã.
Em síntese, neste período o trabalho de evangelização foi repleto de dificuldades
e não chegou a ser muito profundo: havia falta de pessoas aptas que conhecessem a
língua e os costumes dos nativos; faltava também apoio mais expressivo (quando não
havia hostilidade) dos colonizadores; além disso, o caráter seminômade das populações
indígenas e as enormes distâncias criaram outros tantos obstáculos.
Carmelitas, beneditinos, franciscanos
O trabalho de catequese, embora entregue principalmente aos jesuítas, contou
ainda com colaboradores. A par dos padres diocesanos e da missão franciscana em
Santa Catarina, vieram estavelmente, após a chegada dos jesuítas, outras Ordens
religiosas, que se fixaram no fim do séc. XVI: carmelitas, beneditinos, franciscanos.
Os Carmelitas foram os primeiros a se fixar após os jesuítas. Chegaram a
Pernambuco, com a expedição de Frutuoso Barbosa, em 1580. Fixaram-se em Olinda.
Outro grupo, chegado pouco mais tarde, dirigiu-se para a capitania de S. Vicente. Não
se dedicaram ás missões indígenas, mas ao trabalho com os brancos.
Os Beneditinos tiveram em 1581 autorizados a fundação de um Mosteiro na
cidade de Salvador, o qual foi elevado a Abadia em 1584. Com as vocações da terra e os
auxílios provenientes de Portugal, foram feito as novas fundações: Rio de Janeiro
(1585), Olinda (1590), Paraíba (1596) e São Paulo (1598). Por serem uma ordem
monástica, não se dedicaram às missões indígenas, mas muito contribuíram para o
aprofundamento doutrinal e espiritual dos habitantes da terra.
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Lançando um olhar panorâmico sobre esta época, podemos ver que o trabalho
dos missionários foi rico de boa vontade e desenvolvido de o meio e o pensamento de
então. Não é correto dizer que a cultura indígena não foi respeitada. A par do controle
árduo, mas necessário, aos costumes indígenas, como a antropologia, a poligamia, as
bebedeiras, houve grande respeito aos valores positivos da cultura indígena e grande
capacidade no tratar com os índios. Por outro lado, nunca houve uso da força para
converter ao Cristianismo. A ação missionária da Igreja no Brasil nessa época tem,
portanto, valioso saldo positivo.
Eis como, em sua visita ao Brasil, o Papa João Paulo II reconheceu o trabalho
missionário:
“Numa carta de 1º de julho de 1560, revelando a sua ânsia de conduzir ao
Senhor os povos deste país, o Padre Anchieta escrevia textualmente: “Por este motivo,
sem nos deixar intimidar pelas calmarias, tempestades, chuvas, correntezas espumantes
e impetuosas dos rios, procuramos sem descanso visitar todas as aldeias e vilas, quer
dos índios, quer dos portugueses; e mesmo de noite acorremos aos doentes,
atravessando florestas tenebrosas, a custo de grandes fadigas, tanto pela aspereza dos
caminhos como pelo mau tempo.”
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Esta pequena apostila não teve a pretensão de abarcar toda a grandiosidade da
Historia da Igreja. Apenas apresentar um pequeno roteiro para aqueles que quiserem se
aprofundar. E, principalmente, mostrar como O Espirito Santo acompanhou o homem
em toda a sua história.
Em cada momento da HISTORIA e em cada lugar onde o homem sofreu e foi
vilipendiado em seu direito e em sua dignidade, a Igreja plantou a cruz de Cristo. Não
apenas como um símbolo de fé, mas também de protesto. Todo homem, e não apenas o
coberto pelas lágrimas ou pelas dores, mas também aquele sob cujos ombros pesa a
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responsabilidade por essas dores e lágrimas, deve ser levado a descobrir o rosto de
Cristo, o Filho encarnado do Pai.
A Igreja nesses dois mil anos levou essa cruz silenciosa por todos os cantos do
mundo. Mostrou que dela pende o Filho de Deus num ato de abandono de toda
divindade e possibilidade de salvar a Si mesmo. Mas também pende um homem vitima
da injustiça e do mal que o mundo é capaz de cometer quando se afasta de Deus.
Na irônica chacota dos fariseus “[...] A outro ele salvou [...] A si mesmo não
pode salvar” (Mc 15,31) existia, sem o saberem, uma verdadeira profissão de fé: “Jesus
não pode salvar a Si mesmo, a fim de poder salvar os outros.” A história da Igreja
coloca Cristo no centro da vida, de tal modo que podemos afirmar: para conhecer a
Deus, é necessário conhecer o homem. Mas para amar Deus é preciso amar o homem.
BIBLIOGRAFIA
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BELLITO, Cristopher. Historia dos concílios da Igreja. São Paulo 2010, Paulus
BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico
DELUMEAU, Jean. Nascimento e afirmação da Reforma. São Paulo, Pioneira, 1989
FORTE. Bruno, A Trindade como história, São Paulo
PIERRARD, Pierre. História da Igreja. Paulinas,
ANSELMO DE CANTUÁRIA. Proslógio. Coleção Os pensadores. Editora Abril
VICENTINO, Claudio. História geral. Editora Scipione
LEÃO XIII Rerum Novarum- Encíclica
PAULO VI Populorom Progressio – Encíclica
JOÃO PAULO II
“Laborens exercens” (1981),
“Sollicitudo rei socialis” (1987)
“Centesimus annus”.
BENTO XV:
Spe Salvi –(sobre a esperança cristã)
Deus Caritas Est;
Caritas in Veritate