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Sala Temática 03: Formação do Educador, Trabalho Docente e Práticas Pedagógicas
1 Estudante de Doutorado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – São Carlos- SP - Brasil; Docente do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP – Campus Matão – SP - Brasil. E-mail:
julianabarrettodetoledo@gmail.com 2Professora Doutora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia, LES/ESALQ/USP – Piracicaba – SP –
Brasil; Docente do Programa de Pós-Graduação em Química da UFSCar – São Carlos- SP - Brasil. E-mail:
rosebelly.esalq@usp.br
A Formação do Educador em Química no Contexto da Educação Inclusiva: Produção
do Conhecimento no Brasil
Juliana Barretto de Toledo1, Rosebelly Nunes Marques2.
Resumo
O trabalho objetiva mapear, por meio da metodologia da Revisão Sistemática, a produção
científica brasileira acerca da Formação do Educador de Química sob a perspectiva da
Educação Inclusiva, mostrando através da Análise de Conteúdo, como a Química tem
dialogado com este paradigma. Como o direito à educação não se configura apenas pelo
acesso, concretizado na matrícula do aluno junto a escola, se torna imprescindível que esse
educando tenha sua permanência, participação e aprendizagem asseguradas ao longo de sua
vida acadêmica. As buscas por artigos nas bases de dados da SciELO e Portal CAPES foram
realizadas através de protocolo pré-estabelecido. Dos 193 artigos encontrados, somente 12
apresentavam dimensionamento amostral adequado. Isto sugere que as políticas públicas
para inclusão, apesar da exigência legal, ainda não conseguiram atingir a formação de
professores e que os avanços resultantes das pesquisas contrastam com a diversidade que
caracteriza a Educação Química no Brasil, que ainda requer mais investigação. Palavras-Chave: Formação de Professores de Química. Educação Inclusiva. Revisão Sistemática.
The Training of Educators in Chemistry in Inclusive Education Context: Production of
the Knowledge in Brazil
Juliana Barretto de Toledo1, Rosebelly Nunes Marques2.
Abstract
The study aims to map, through the Systematic Review methodology, the Brazilian scientific
production on Educator Training in Chemistry from the perspective of Inclusive Education,
showing through Content Analysis, how Chemistry has conferred with this paradigm. As the
right to education is not only configures the access, achieved in enrollment of students at the
school, it is essential that this student has their stay, participation and learning insured
throughout his academic life. Searches for articles in the SciELO databases and Portal CAPES
were held by pre-established protocol. Of the 193 articles found, only 12 had adequate
sampling strategy. This suggests that public policies for inclusion, despite the legal
requirement, yet failed to reach the training of teachers and that advances resulting from
research contrast with the diversity that characterizes Chemistry Education in Brazil, which
still requires further research.
Key-words: Chemistry Teacher Training. Inclusive Education. Systematic Review.
Introdução
A Educação Inclusiva (EI) advém de um questionamento à estrutura segregativa
reproduzida historicamente nos sistemas de ensino (Exclusão e Integração), respeitando o
contexto social, a capacidade e as possibilidades de desenvolvimento de todos os alunos.
Tratando a escola como comunidade educativa, defende um ambiente de aprendizagem
diferenciado e de qualidade para todos os estudantes, reconhece as diferenças e trabalha com
elas para o desenvolvimento, dando-lhes um sentido (BATALHA, 2009, p. 1066).
Sob a perspectiva dos Direitos Humanos, é evidente que todos os estudantes precisam
ter as mesmas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento de suas capacidades para,
dessa forma, alcançarem a independência social e econômica e se harmonizarem com a vida
em sociedade. Sendo assim, as mesmas oportunidades oferecidas pela sociedade aos
estudantes sem deficiência devem se estender aos estudantes com deficiência.
A escola que se conhece nos dias de hoje como instituição, objetiva tornar acessíveis os
conhecimentos e saberes considerados fundamentais para a sociedade, funcionando como
elemento de preparação para a atuação no universo do trabalho e da política. No intuito de
inserir social e culturalmente os alunos às comunidades em que vivem, é papel da escola
também ser um elemento desencadeador de ações e práticas éticas. A escola, para tornar-se
inclusiva, precisa
(..) formar seus professores e equipe de gestão, bem como rever as formas de
interação vigentes entre todos os segmentos que a compõem e que nela
interferem. Isto implica em avaliar e redesenhar sua estrutura, organização,
projeto político-pedagógico, recursos didáticos, práticas avaliativas,
metodologias e estratégias de ensino. (GLAT, et al., 2007, p.344).
A EI não significa apenas matricular o aluno com deficiência em escola regular
somente para o desenvolvimento de sua socialização, mas, sim, proporcionar o ingresso e
permanência do aluno na escola com aproveitamento acadêmico, que só ocorrerá se houver
atenção às peculiaridades de aprendizagem dos envolvidos, como aponta Rodrigues (2006).
A proposta pedagógica da EI passa claramente pela oferta de oportunidades
de aprendizagem diversificada aos alunos. Se a “diferença é comum a todos”
e assumimos a classe como heterogênea, é importante responder a essa
heterogeneidade em termos de estratégias de aprendizagem. (RODRIGUES,
2006, p.311).
Este paradigma foi referendado por tratados internacionais, como a Conferência
Mundial de Educação para Todos, ocorrida em Jomtien, em 1990, a Conferência Mundial
sobre Necessidades Educativas Especiais, que ocorreu em Salamanca, em 1994 e pela
Convenção da Guatemala, em 1999.
No Brasil, essas convenções causaram grande impacto, visto que nosso país se fez
representar em todas essas frentes de debate, fazendo crescer, nos últimos anos, os discursos
em prol da EI. Entretanto, apesar do discurso de “inclusão” ter sido iniciado nos anos que
antecederam e que sucederam essas convenções, somente em 2002 a formação inicial do
professor, mediador da inclusão, foi pensada sob a égide desse paradigma e tornada
obrigatória (BRASIL, 2002).
A instituição da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de
formação de professores em 2002 (regulamentada em 2005) e a aprovação de diretriz e
normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as
modalidades de ensino brasileiro em 2003, sugerem que a inserção de alunos com deficiências
ou outros comprometimentos no cotidiano das escolas brasileiras ocorria não sob o modelo da
EI, mas sim sob o modelo educacional da Integração Escolar, onde esses alunos são
matriculados nas classes comuns, na medida em que demonstrem condições para acompanhar
a turma, recebendo (ou não) apoio especializado paralelamente.
Contudo, pode-se dizer que a EI, como movimento histórico brasileiro, foi consolidada
somente em 2008, através da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva.
O ensino de Química é obrigatório a partir do 9o ano do Ensino Fundamental, bem
como nas três séries do Ensino Médio que o sucedem. Como atividade humana, a
compreensão dos conceitos, linguagens e métodos próprios da Química servem para ampliar a
interpretação do mundo e consequente exercício da cidadania, que se relaciona historicamente
com o desenvolvimento e com a vida em sociedade.
A importância do estudo de Ciências deve-se ao fato de possibilitar ao aluno o
desenvolvimento de uma visão crítica sobre a realidade que o cerca, podendo, assim, utilizar
seu conhecimento adquirido no cotidiano, analisar diferentes situações e ter condições para a
tomada de decisões na determinação de sua qualidade de vida (CACHAPUZ et al., 2005).
Descrição do trabalho desenvolvido
Este trabalho objetiva, por meio da metodologia da Revisão Sistemática (RS), mapear
e analisar a produção científica brasileira acerca da educação inclusiva articulada com a
formação dos professores de Química (inicial e continuada), e, através da Análise de
Conteúdo (AC), permitir a identificação e a sistematização dos temas já estudados, apontando
as implicações destes estudos para as necessidades futuras de pesquisa na área.
A formação de professores é um tema bastante presente na literatura científica, o que
referencia a sua relevância e, possivelmente, a sua inesgotável discussão no que se refere às
análises necessárias destes aspectos, contribuindo para uma política global de formação e
consequente valorização dos professores.
A análise da produção científica, tema recorrente em todas as áreas de conhecimento,
também é de suma importância, pois através de trabalhos desse tipo é possível conhecer óticas
metodológicas e linhas de argumentação, para que outros aspectos teóricos emerjam e
contribuam na compreensão da realidade.
As RS têm como objetivo apresentar uma avaliação criteriosa a respeito de um tópico
de pesquisa, fazendo uso de uma metodologia de revisão que seja rigorosa e que permita
auditagem. Visam a produzir uma síntese que seja completa (em relação ao critério definido)
e imparcial, seguindo um processo bem definido (KITCHENHAM, 2004; PAI et al., 2004).
As buscas através das máquinas da SciELO – Scientific Eletronic Library Online
(Biblioteca Científica Eletrônica em Linha) e do Portal de Periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (www. periodicos.capes.gov.br)
foram realizadas através de um protocolo pré-estabelecido, onde somente seriam aceitos
artigos que tinham como foco a Formação do Educador de Química (Inicial e Continuada) no
contexto da EI. A seleção dos trabalhos acadêmicos seguiu estratégia sugerida por Dyba et al.
(2007), envolvendo os seguintes passos: busca em bases de dados eletrônicas; exclusão dos
estudos com base no título; exclusão dos estudos com base no resumo; obtenção dos estudos
primários para avaliá-los criticamente após leitura integral.
Os seguintes descritores e boleanos foram utilizados para padronização e organização
da busca: “Formação de Professores de Química”, “Formação de professores” AND
Química, “Educação Inclusiva” AND Química e “Educação Inclusiva” AND Ciências.
Convém ressaltar que a string de busca foi refinada, em função da eliminação de mais de 99%
dos artigos, em ambas as bases de dados selecionadas, no caso da escolha por descritores mais
amplos, como “Formação de Professores” ou “Educação Inclusiva”.
Na seleção e reflexão acerca dos dados coletados foi utilizada a metodologia da AC
(BARDIN, 2011) com a finalidade de superar a incerteza sobre a leitura feita do objeto de
estudo, tornando-a válida e generalizável, bem como para buscar o enriquecimento da leitura
ao aprofundar a compreensão do significado do assunto que é tratado.
Resultados obtidos
A primeira fase da pesquisa (leitura dos títulos e de abstracts) foi realizada usando a
máquina de busca do Portal de Periódicos da CAPES. A busca avançada e por ordem de
relevância utilizando o descritor “Formação de Professores de Química” resultou em 10
artigos, dos quais somente 1 aceito. O descritor “Formação de professores” AND Química
resultou em 82 artigos, sendo 4 aceitos. O descritor “Educação Inclusiva” AND Química
resultou em 6 artigos, sendo somente 2 aceitos. O descritor “Educação Inclusiva” AND
Ciências resultou em 33 artigos dos quais 5 foram aceitos. Após leitura integral dos trabalhos
selecionados, 7 artigos foram selecionados para análise. Os critérios de exclusão se basearam
no fato da repetição de dados já obtidos ou pela ausência de relações intrínsecas entre Ensino
de Química e Educação Inclusiva.
A pesquisa usando a máquina de busca da SciELO, envolveu os mesmos descritores e
boleanos usados anteriormente. A busca avançada e por ordem de relevância utilizando o
descritor “Formação de Professores de Química” resultou em 8 artigos, dos quais somente
1 aceito. O descritor “Formação de professores” AND Química resultou em 41 artigos,
sendo 2 aceitos. O descritor “Educação Inclusiva” AND Química resultou em 3 artigos,
sendo somente 1 aceito. O descritor “Educação Inclusiva” AND Ciências resultou em 10
artigos dos quais 3 foram aceitos. Após leitura integral dos trabalhos selecionados, 5 artigos
foram selecionados para análise. Os critérios de exclusão dos artigos foram os mesmos da
busca realizada no Portal CAPES.
A Tabela 1 mostra uma síntese dos resultados obtidos através dos portais CAPES (7
artigos) e SciELO (5 artigos).
Tabela 1. Artigos aceitos após Revisão Sistemática e Análise de Conteúdo
AUTORES ANO PERIÓDICO FILIAÇÃO CONTRIBUIÇÃO
Santos e Barbosa 2009 Enseñanza de las Ciencias Prefeitura do Rio de
Janeiro/UERJ
Formação Continuada
Procópio et al 2010 Enseñanza de las Ciencias UFG Formação Inicial e
Continuada
Vilela-Ribeiro e
Benite
2010 Ciência & Educação, Bauru UFG Formação Continuada
Benite et al. 2011 Química. Nova UFG Formação Inicial e
Continuada
Vilela-Ribeiro e
Benite
2011 Acta Scientiarum UFG Formação Inicial
Soares et al 2012 Espaço Plural UFG Formação Inicial
Oliveira, Melo e
Benite
2012 Revista Electrónica De Investigación En
Educación En Ciencias
UFG Formação Continuada
Regiani e Mol 2013 Ciência & Educação, Bauru UFAC/UnB Formação Inicial e
Continuada
Vilela-Ribeiro e
Benite
2013 Ciência & Educação, Bauru UFG Formação Inicial
Mesquita e Soares 2014 Química. Nova UFG Formação Inicial
Oliveira e Benite 2015 Ciência & Educação, Bauru UFG Formação Continuada
Pereira et al 2015 Ciência & Educação, Bauru UFG Formação Inicial e
Continuada
Descrição dos Estudos Selecionados
Santos e Barbosa (2009) demonstram o exemplo de uma professora de Ciências sem
especialização no ensino a alunos com deficiência visual que consegue criar um ambiente
propício à inclusão na sala de aula regular. Contudo, acreditam que o investimento na
formação continuada de todos os professores é de extrema importância para efetuar de forma
plena a inclusão desses alunos nas classes regulares.
Procópio et al (2010) analisaram as interações discursivas entre um grupo de
professores em ciências como estratégia de formação inicial e continuada numa rede
colaborativa, constituída por pesquisadores da Rede Goiana de Pesquisa em Educação
Especial/Inclusiva (RPEI) composta por professores formadores o Instituto de Química,
alunos de graduação em ciências e matemática e alunos do Mestrado em Educação em
Ciências e Matemática (UFG), do Doutorado em Química da UFG, Coordenação de Ensino
Especial – Secretaria de Estado e de Educação de Goiás, Núcleo de Atividades e Altas
Habilidades do Estado de Goiás e Associação de Surdos de Goiás, tendo como foco as altas
habilidades e superdotação.
O trabalho de Vilela-Ribeiro e Benite (2010) consistiu nas percepções sobre educação
inclusiva dos professores formadores de um curso de licenciatura em Química de uma
Instituição de Ensino Superior (IES) pública de Goiás, constatando que os professores não se
sentem, ainda, preparados para a inclusão, e que precisam adequar sua ótica acerca da EI.
Benite et al (2011) tratam em seu artigo uma atividade de discussão e reflexão dos
conteúdos científicos, abordando temas relacionados à educação inclusiva, à educação em
Ciências/Química e formação de conceitos científicos/químicos, promovendo a troca de
informações e experiências cotidianas através da articulação entre teoria e prática, através da
rede de colaboração descrita no trabalho de Procópio et al.
Vilela-Ribeiro e Benite (2011) analisaram os PPCs dos cursos de formação inicial de
professores em Ciências (Biologia, Física, Matemática e Química) de uma Instituição de
Ensino Superior pública em Jataí –GO, tendo como foco a noção de EI e a maneira como ela
está sendo abordada. Constataram que nenhum tipo de referência à formação para diversidade
constava nos documentos dos cursos pesquisados, bem como nenhuma disciplina ou
referência bibliográfica que tratava do assunto.
Soares et al (2012) relatam e discutem a maneira como foi idealizada e como realizam
a formação de professores nos cursos de licenciatura em Química da UFG – Campus Goiânia.
Através da formação pela pesquisa inclusive em EI a partir de redes de instituições e pessoas,
descrevem suas principais investigações em ensino de Química no intuito de formar um
licenciado crítico e reflexivo.
O objetivo do trabalho de Oliveira, Melo e Benite (2012) é analisar a produção de
narrativas de intérprete de Libras e professores de Ciências que atuam na sala de aula
inclusiva. Os resultados demonstram a falta de domínio de uma linguagem estabelecida como
principal obstáculo na educação de deficientes auditivos.
Regiani e Mol (2013) falam em seu artigo sobre a inclusão de alunos deficientes
visuais em cursos superiores de Química. A maioria dos docentes de um curso onde havia
uma licencianda cega apontou a carência de materiais didáticos e o despreparo para a
interação com as necessidades específicas como causa principal da dificuldade na formação
da discente.
Em outro trabalho, Vilela-Ribeiro e Benite (2013) analisaram concepções sobre
alfabetização científica e temas de EI nos discursos de professores formadores de Ciências,
em uma instituição de Ensino Superior em Jataí-GO. Os professores dessa instituição
compreendem a alfabetização científica como fundamental para todos os cidadãos
aprenderem ciência.
Mesquita e Soares (2014) discorrem sobre um dos grupos de alunos do curso de
licenciatura em Química da UFG, no espaço do estágio, desenvolveram uma pesquisa que
apresentou estatísticas de inclusão nas escolas estaduais da cidade de Trindade, região
metropolitana de Goiânia e trouxeram materiais feitos com bolas de isopor para simular
modelos atômicos para estudantes com baixa visão. Os licenciandos apontaram, ainda, a
questão da formação para a educação inclusiva no contexto universitário, que deixa a desejar
em termos de conhecimento profissional sobre educação para a diversidade, mesmo sendo
essa uma orientação legal.
O artigo de Oliveira e Benite (2015), bastante semelhante ao de trabalho de Oliveira,
Melo e Benite (2012), analisam a produção de narrativas de professores e intérpretes de
Libras sobre a aula de ciências para surdos. Os resultados apontaram que o bilinguismo ainda
não permeia a sala de aula inclusiva, e que a barreira linguística é a maior dificuldade
encontrada no aprendizado de ciências pelos alunos surdos.
Pereira et al (2015) apresenta uma pesquisa participante que objetivou apresentar o
cenário da formação de professores de ciências na perspectiva da EI utilizando interações
discursivas produzidas em reuniões de uma rede de pesquisa no estado de Goiás. Os
resultados permitiram analisar a política de educação inclusiva no estado de Goiás e refletir na
contribuição do ensino de Ciências para a formação de cidadãos na escola inclusiva.
Conclusões
Em síntese, a construção de uma sociedade que não somente reconheça a diversidade
como condição humana, mas que, sobretudo, promova condições plenas para o
desenvolvimento das potencialidades de todos os seres humanos, em sua singularidade é um
desejo emanado por tratados internacionais, ratificados pelo Brasil. Como o direito à
educação não se configura apenas pelo acesso, concretizado na matrícula do aluno junto a
escola, se torna imprescindível que esse educando tenha sua participação e aprendizagem
asseguradas ao longo de sua vida acadêmica.
A grande maioria dos artigos analisados (83,33%) é fruto de um trabalho sistemático
junto a professores de Ciências/Química que vem sendo feito, desde 2006, no Laboratório de
Pesquisas em Educação em Química e Inclusão – LPEQI da Universidade Federal de Goiás, a
UFG, como uma forma de aproximação sociedade/escola/ universidade por meio de ações na
formação inicial e continuada de professores de Química (PROCÓPIO et al, 2010, VILELA-
RIBEIRO E BENITE, 2010, 2013; SOARES et al, 2012; OLIVEIRA, MELO E BENITE,
2012; MESQUITA E SOARES, 2014; OLIVEIRA E BENITE, 2015; PEREIRA et al, 2015).
A formação que a UFG procura ministrar aos licenciandos, através da pesquisa, contribui para
serem mais éticos, reflexivos e responsáveis em suas ações (SOARES et al, 2012). As redes
contribuem para a construção constante da sociedade posicionando a informação como
elemento aglutinador, materializada em ações coletivas solidárias. A evolução das redes
sociais acontece rapidamente, articuladas de acordo com a ampla disponibilidade do sistema
de informação (PROCÓPIO et al, 2010).
A análise dos trabalhos apontou que a EI seja em nível fundamental, médio ou
superior requer a reconstrução do sistema de ensino, com superação de várias barreiras
pedagógicas e de crenças do professor (VILELA-RIBEIRO E BENITE, 2010; REGIANI E
MOL, 2013).
A complexidade de ensinar ciências em salas de aulas inclusivas é evidenciada pela
falta de preparo dos professores e das escolas em transpor a linguagem científica para as
pessoas com distintas necessidades de aprendizagem. (OLIVEIRA, MELO E BENITE, 2012;
REGIANI E MOL, 2013; OLIVEIRA E BENITE, 2015).
O ensino de Ciências para surdos representa um desafio, pois utilizam uma língua
distinta da do professor, requerendo um intérprete de Libras para ter acesso ao corpo de
conhecimentos mediados por ele (OLIVEIRA, MELO E BENITE, 2012; OLIVEIRA E
BENITE, 2015).
Todo o professor pode e deve trabalhar com a EI, valorizando a diversidade como
elemento enriquecedor do desenvolvimento social e pessoal, bem como do processo ensino-
aprendizagem. As estratégias de ação pensadas para os estudantes com deficiências
contribuem para todos os estudantes da sala de aula em que estes se encontram (SANTOS E
BARBOSA, 2009; REGIANI E MOL, 2013; VILELA-RIBEIRO E BENITE, 2013).
Este trabalho demonstrou, por meio da metodologia da RS, que a temática da
formação do educador de Química sob a perspectiva da EI em seus aspectos conceituais,
práticos e epistemológicos, é uma temática que, pós Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da EI (2008) tem despertado o interesse não só do meio acadêmico, mas
também da comunidade envolvida nas questões da educação. Contudo, a produção do
conhecimento dessa área ainda não é expressiva, representando apenas 6,21% do montante de
artigos relacionados à formação de professores de Química, apesar da exigência legal.
Concorda-se com Tiballi (2003) na afirmação que não deva existir uma “educação
inclusiva”, pois não devem existir excluídos na escola, mas, sobretudo, pessoas com
diferentes necessidades de aprendizagem que requerem um professor bem preparado.
Todavia, apesar do esforço dos pesquisadores nacionais, especialmente os
pesquisadores goianos, que vêm aumentando a produção científica na área, limitações
técnicas como a falta de disciplinas específicas teórico-práticas em cursos de Licenciatura em
Química e as carências nos trabalhos de formação continuada de professores, entre outros
problemas, nos fazem refletir se os objetivos básicos que norteiam o ensino de Química na
perspectiva da EI estão sendo atingidos. Os avanços resultantes dos trabalhos realizados
contrastam com a diversidade que caracteriza a educação brasileira, que ainda requer muita
investigação.
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