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FACULDADE DE CINCIAS MDICAS DE LISBOA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
DISSERTAO DE MESTRADO EM SADE E ENVELHECIMENTO
A DIABETES MELLITUS COMO DETERMINANTE EM SADE E
ENVELHECIMENTO: O CONHECIMENTO DO DIABTICO E A
PRESENA DE COMPLICAES DA DOENA
Discente:
Snia Cristina Tavares Csar Gomes
Lisboa
Janeiro de 2011
FACULDADE DE CINCIAS MDICAS DE LISBOA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
DISSERTAO DE MESTRADO EM SADE E ENVELHECIMENTO
A DIABETES MELLITUS COMO DETERMINANTE EM SADE E
ENVELHECIMENTO: O CONHECIMENTO DO DIABTICO E
A PRESENA DE COMPLICAES DA DOENA
Tese submetida como requisito parcial
para obteno do grau de Mestre em
Sade e Envelhecimento.
Docente Orientadora:
Doutora Maria Amlia Silveira Botelho
Discente:
Snia Cristina Tavares Csar Gomes
Lisboa
Janeiro de 2011
AGRADECIMENTOS
Para a elaborao do presente estudo contriburam diversas pessoas, sem as quais no
teria sido possvel ou teria sido mais difcil a sua concretizao, nas condies e no tempo
de que dispunha. Por este motivo, tendo em conta os mais elementares princpios de
reconhecimento e gratido, expresso os meus agradecimentos:
Professora Doutora Maria Amlia Botelho, que com toda a sua dedicao,
disponibilidade e profissionalismo me acompanhou e ajudou nesta importante
caminhada;
Enfermeira Ana Rocha do Hospital Dia de Diabetologia, pelo seu apoio, pela
pertinncia das suas observaes e sugestes oportunas;
Ao Doutor Barros pela sua disponibilidade na recolha de elementos nos processos
clnicos;
s pessoas idosas e seus familiares que acederam colaborar nas entrevistas;
Aos meus pais, pelas palavras meigas de compreenso e incentivo para continuar e
por me escutarem sempre que precisava;
Ao meu marido pela compreenso, apoio e afecto com que me envolveu nos
perodos de trabalho mais intenso e de maior tenso.
NDICE
RESUMO .............................................................................................................................. 7
ABSTRACT .......................................................................................................................... 8
INTRODUO ...................................................................................................................... 9
1- PROCESSO DE ENVELHECIMENTO: PERSPECTIVAS E PROBLEMTICA ...............11
1.1 CONCEITOS RELACIONADOS COM O ENVELHECIMENTO ...................................11
1.2 TEORIAS EXPLICATIVAS DO ENVELHECIMENTO ..................................................13
1.3 - ENVELHECIMENTO DEMOGRFICO NO MUNDO ....................................................15
1.4 ENVELHECIMENTO DEMOGRFICO EM PORTUGAL .............................................17
1.5 CARACTERIZAO DO CONCELHO DO BARREIRO...............................................20
1.6 ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO ......................................20
1.6.1 - ALTERAES BIOLGICAS NO ENVELHECIMENTO ...........................................21
1.6.2 - ALTERAES PSICOLGICAS NO ENVELHECIMENTO.......................................23
1.6.3 - ALTERAES SOCIAIS NO ENVELHECIMENTO ...................................................24
1.7 SADE, DOENA E ENVELHECIMENTO ...................................................................25
1.8 A DIABETES MELLITUS COMO DOENA CRNICA ................................................27
1.9 APRESENTAO CLNICA DA DIABETES ................................................................28
1.10 -EPIDEMIOLOGIA DA DIABETES ...............................................................................29
1.11 - COMPLICAES DA DIABETES ..............................................................................30
1.12- TRATAMENTO DA DIABETES ...................................................................................32
1.13- A DIABETES E A EDUCAO PARA A SADE ........................................................34
2 METODOLOGIA ............................................................................................................37
2.1 - CARACTERIZAO E SELECO DO LOCAL DE ESTUDO ....................................37
2.2 TIPO DE ESTUDO ......................................................................................................38
2.3 HIPTESES DE ESTUDO ..........................................................................................39
2.4 TCNICAS DE RECOLHA DE DADOS .......................................................................39
2.4.1 - POPULAO/ AMOSTRA ........................................................................................39
2.4.2 QUESTES TICAS ................................................................................................39
2.4.3 INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS ...........................................................40
2.4.5 PROCEDIMENTOS ..................................................................................................42
2.5 TRATAMENTO E ANLISE DOS DADOS ..................................................................42
3 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS ..............................................44
3.1 ESTATSTICA DESCRITIVA .......................................................................................44
3.2 ESTATSTICA ANALTICA ..........................................................................................68
3.3 DISCUSSO DE RESULTADOS ................................................................................69
CONCLUSO ......................................................................................................................79
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................81
ANEXO I - PEDIDO DE AUTORIZAO S AUTORAS DA ESCALA DKQ 24 ..............86
ANEXO II - PEDIDO DE AUTORIZAO PARA REALIZAO DO QUESTIONRIO ......87
ANEXO III - CONSENTIMENTO INFORMADO....................................................................88
ANEXO IV - QUESTIONRIO ..............................................................................................89
SIGLAS
ADN- cido desoxirribonucleico
AVC- Acidente Vascular Cerebral
DM- Diabetes Mellitus
DMID Diabetes Mellitus Insulinodependente
DMNID- Diabetes Mellitus no Insulinodependente
DGS- Direco Geral de Sade
DKQ Diabetes Knowledge Questionnaire
EPE Empresa Pblico Empresarial
EUA Estados Unidos da Amrica
HTA Hipertenso arterial
ICPC International Classification of Primary Care
IMC ndice de Massa Corporal
INE Instituto Nacional de Estatstica
ISCED International Standart Classification of Education
MMMSE Mini Mental State Examination
NUTSS Nomenclaturas de Unidades Territoriais para fins estatsticos
OMS Organizao Mundial de Sade
PTGO- Prova de Tolerncia Glicose Oral
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
RESUMO
O aumento da longevidade humana um facto prevalente na actualidade mas, a requerer
grandes esforos na promoo da sade e preveno de doenas, estando, ainda, as
pessoas idosas sob riscos elevados de desenvolver doenas medida que envelhecem.
Assim, importante o contributo dos prprios indivduos no sentido minorar estes riscos e
retardar a evoluo e agudizaes das doenas uma vez manifestadas. Nesse sentido, o
objectivo geral deste estudo descrever de que modo os conhecimentos do diabtico,
podem estar relacionados com a presena de complicaes da doena.
Realizmos um estudo exploratrio descritivo, no Hospital Nossa Senhora do Rosrio E.P.E,
em pessoas idosas residentes no concelho do Barreiro que frequentaram o Hospital Dia de
Diabetologia, aps as consultas mdicas e de enfermagem.
O mtodo utilizado para a seleco da amostra foi a amostragem no probabilstica por
convenincia (n=50). O instrumento utilizado na colheita de dados foi um questionrio,
aplicado sob a forma de inqurito, para colheita de dados scio-demogrficos, sade em
geral, estado mental, dados sobre a diabetes e comorbilidades. Os dados foram tratados
informaticamente, recorrendo ao programa estatstico S.P.S.S. e a anlise de contedo.
Os resultados obtidos demonstraram que os participantes possuam conhecimentos sobre a
sua doena. Verificmos que os inquiridos que j tiveram complicaes devido diabetes
responderam correctamente questo acerca da medicao ser mais importante que a
dieta e o exerccio fsico para controlar a diabetes, do que os que nunca tiveram
complicaes devido diabetes, que responderam incorrectamente ou desconheciam a
resposta questo.
Palavras-chave: Pessoas idosas, Conhecimento, Diabetes Mellitus, Complicaes.
ABSTRACT
The increase in human longevity is a fact prevalent nowadays, but to require great efforts on
health promotion and disease prevention and is also in the elderly high risk of developing
illnesses as they age.
It is therefore important contribution of the individuals themselves towards mitigating these
risks and delaying the development and exacerbations of disease once manifested. Thus,
the general purpose of this study is to describe how the knowledge of diabetes, may be
related to complications of the disease.
We conducted an exploratory study in the Hospital Nossa Senhora do Rosario EPE, in
elderly people living in the county of Barry, who attended the hospital Diabetes Day, after the
medical and nursing care.
The method used for the sampling was not probabilistic by convenience sampling (n = 50).
The instrument used for data collection was a questionnaire applied in the form of survey to
collect socio-demographic data, general health, mental state, data on diabetes and
comorbidities. The data were processed by computer, using the SPSS and content analysis.
The results showed that participants had knowledge about their disease. We found that
respondents who have had complications due to diabetes responded correctly to questions
about the medication is more important than diet and exercise to control diabetes than those
who never had complications due to diabetes, who answered incorrectly or did not know the
answer the question.
Keywords: Elderly People, Knowledge, Diabetes Mellitus, Complications.
INTRODUO
Uma boa sade essencial para que as pessoas mais idosas possam manter uma
qualidade de vida aceitvel e possam continuar a assegurar os seus contributos na
sociedade, uma vez que pessoas idosas activas e saudveis, para alm de se manterem
autnomas, constituem um importante recurso para as suas famlias e comunidades (DGS,
2004).
Promover um envelhecimento saudvel diz respeito a mltiplos sectores, que envolvem
nomeadamente a sade, a educao, a segurana social, a economia, a justia, o
planeamento e desenvolvimento rural e urbano, a habitao, os transportes, o turismo, as
novas tecnologias e a cultura.
A realidade mostra-nos, no entanto, que os ltimos anos de vida so muitas vezes
acompanhados, apesar dos enormes progressos da medicina nas ltimas dcadas, por
aumento das situaes de doena e de incapacidade (DGS, 2004).
As doenas no transmissveis e de evoluo prolongada, fruto das suas caractersticas
insidiosas, incapacitantes e tendentes para a cronicidade, tornam-se as principais causas de
morbilidade e mortalidade das pessoas idosas, com enormes custos individuais, familiares e
sociais (DGS, 2004).
A diabetes mellitus (DM) uma doena metablica e crnica que afecta um grande nmero
de pessoas. Pela sua morbilidade elevada, implica um grande investimento em cuidados de
sade e mudanas profundas nos estilos de vida (Grilo, Sousa e McIntyre, 2008).
Dados epidemiolgicos recentes demonstram um aumento desta patologia em todos os
pases, falando-se mesmo em pandemia (Associao Protectora dos Diabticos de Portugal,
2001 citada por Sousa, Peixoto e Martins, 2008).
Calcula-se que em Portugal existam 300 000 pessoas com o diagnstico de diabetes
mellitus (DGS, 2002 citado por Sousa, Peixoto e Martins, 2008), pelo que o Ministrio da
Sade adoptou medidas especficas, inseridas na actualidade do pensamento europeu e na
revoluo da poltica de sade da OMS, atravs da criao do Programa Nacional de
Preveno e Controlo da Diabetes. Esse programa prope medidas aos vrios nveis de
preveno (primria, secundria e terciria) e sugere a necessidade de formao dirigida s
pessoas idosas com diabetes mellitus (DGS, 2008).
Essas medidas pretendiam que o indivduo fosse cada vez mais o gestor da sua prpria
sade, tomando decises de forma autnoma e responsvel (Grilo, Sousa e McIntyre,
2008). A educao para a sade permite ao individuo adquirir conhecimentos de si mesmo e
daquilo que o rodeia, podendo exercer mudanas nesse ambiente e na sua prpria conduta
(Costa e Lopez, 1998 citados por Grilo, Sousa e McIntyre, 2008).
A diabetes mellitus est frequentemente associada a maus hbitos alimentares, falta de
exerccio fsico, obesidade e aumento do stress e o seu tratamento complexo (Polonsky,
1993 citado por Sousa, Peixoto e Martins, 2008).
Perante uma doena, o indivduo tem que aprender determinadas competncias que lhe
permitam lidar no dia-a-dia com os sintomas e limitaes que esta possa causar, para que
isso acontea, torna-se necessrio que os mesmos possuam o conhecimento adequado
acerca da sua sade e doena (OMS, 2002).
Assim, o objectivo geral deste estudo , descrever de que modo os conhecimentos do
diabtico, podem estar relacionados com a presena de complicaes da doena.
Delinemos os seguintes objectivos especficos, em relao a uma amostra de pessoas
idosas diabticas:
Caracterizar o seu estado biolgico, mental e social;
Analisar a integrao da gesto do regime teraputico na sua vida diria;
Identificar os seus conhecimentos sobre a diabetes mellitus;
Determinar se existiram complicaes da diabetes mellitus;
Determinar, face s complicaes, quais os recursos procurados;
Determinar se o seu conhecimento estava relacionado com o tipo de complicao da
diabetes mellitus.
O trabalho encontra-se dividido em duas partes. Na primeira parte apresentado o suporte
terico ao tema, focando conceitos, teorias, aspectos demogrficos e aspectos
biopsicossociais do envelhecimento, passando tambm pela abordagem diabetes mellitus.
Na segunda parte, procedemos exposio dos aspectos metodolgicos com a descrio
dos resultados, a sua discusso e finalmente a concluso, tecendo algumas consideraes
que possam motivar para a reflexo dos profissionais empenhados em colaborar com a
pessoa idosa diabtica.
1- PROCESSO DE ENVELHECIMENTO: PERSPECTIVAS E PROBLEMTICA
Desde os primrdios que o Homem se preocupou com o envelhecimento, encarando-o de
diversas formas. Alguns autores caracterizam-no como uma diminuio das capacidades;
outros consideram-no como um perodo de crescente vulnerabilidade e com maior
dependncia; outros, ainda, vem a velhice como o ponto mais alto da sabedoria, bom
senso e serenidade.
1.1 CONCEITOS RELACIONADOS COM O ENVELHECIMENTO
Segundo Freitas et al (2002) citados por Catita (2008) o envelhecimento (processo), a
velhice (fase da vida) e o velho ou idoso (resultado final) constituem um conjunto cujos
componentes esto intimamente relacionados.
Para Johnson (2002) citada por Catita (2008) o envelhecimento deriva do latim veclus,
vetulusm velho, cujo sufixo mento designa aco, significando literalmente um produto da
aco de envelhecer. Refere-se ao processo amplo e complexo que ocorre desde o
nascimento at morte, podendo ser encarado em termos individuais (velhice) e colectivos
(envelhecimento demogrfico).
O envelhecimento primrio refere-se ao processo de senescncia normal onde as
qualidades necessrias vida e sobrevivncia modificam-se e so substitudas por outras.
A senescncia um processo multifactorial que arrasta uma deteriorao fisiolgica do
organismo. um fenmeno normal, universal, intimamente ligado ao processo de
diferenciao e de crescimento. A senescncia no , pois, uma doena, mas pode levar a
uma quantidade de afeces porque se caracteriza pela reduo da reserva fisiolgica e
funcional dos rgos e sistemas (Berger e Mailloux-Poireier, 1995:126).
O envelhecimento secundrio ou patolgico est relacionado com as mudanas causadas
por doenas dependentes da idade. O avano da idade acarreta o aumento da exposio a
factores de risco desencadeantes de doenas, como por exemplo, doenas
cardiovasculares, cerebrais e certos tipos de carcinomas causados, em parte, por
mecanismos genticos ou por factores ambientais e estilos de vida (Mo, 2004 citado por
Catita, 2008).
Segundo Birren e Schroots (1996:10) citados por Fonseca (2006:73) O envelhecimento
tercirio refere-se s mudanas que sucedem de forma precipitada na velhice, o que sugere
a possibilidade de existncia de um envelhecimento rpido, ocorrendo num dado momento
da velhice e que precede imediatamente a morte.
O envelhecimento activo o processo de optimizao das oportunidades de sade,
participao e segurana, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida medida que as
pessoas ficam mais velhas (OMS, 2005).
Entende-se por qualidade de vida a percepo que o indivduo tem da sua posio de vida
dentro do contexto da sua cultura e do sistema de valores de onde vive, em relao aos
seus objectivos, expectativas, padres e preocupaes. um conceito muito amplo que
incorpora de uma maneira complexa a sade fsica de uma pessoa, o seu estado
psicolgico, o seu nvel de dependncia, as suas relaes sociais, crenas e a sua relao
com caractersticas proeminentes no meio ambiente (OMS, 2005).
Para Santos (2002) no fcil definir com exactido velhice, existindo trs conceitos a
considerar: o da idade cronolgica, que corresponde idade oficial, dada pelo bilhete de
identidade; o da idade biolgica que corresponde ao estado orgnico e funcional dos
diferentes rgos, aparelhos e sistemas e o da idade psicolgica, que pode no depender
da idade nem do estado orgnico.
Envelhecer representa um declnio das funes dos diversos rgos que tende a ser linear
ao longo do tempo. No entanto, envelhecer no tem apenas um sentido biolgico, pois
acompanhado por alteraes psicolgicas e sociais, que so em larga medida influenciadas
pelas vivncias do indivduo. Envelhecer significa, tambm a possibilidade de viver de uma
forma mais plena, sem constrangimentos e submisso a horrios, a esquemas de trabalho e
a presses prprias do dia-a-dia, concretizando projectos definidos para essa fase da vida
(Linhares e Cunha, 1998).
De acordo com Serra (2006), no uso quotidiano envelhecer significa ficar com mais idade e
esse facto s verdico durante a fase de desenvolvimento ou de crescimento do ser
humano, em que no ocorre declnio no vigor do indivduo. Uma criana ou um adolescente
acrescentam, com a passagem do tempo, mais idade que j tm. Mas no envelhecem
num sentido biolgico, pois vo crescendo em idade e em vigor fsico e psquico. O declnio
s comea a correr quando o ser humano atinge a maturidade, na vida adulta.
Segundo Pal (1991) citado por Cordeiro (1999), pode-se considerar trs tipos de idades,
todas elas podendo ser maiores ou menores do que a idade cronolgica dos sujeitos. A
idade cronolgica, medida pelas capacidades funcionais e vitais e pelo limite de vida dos
sistemas orgnicos, que vo perdendo a sua capacidade adaptativa e de auto regulao. A
idade social, que se refere aos papis e hbitos que o indivduo assume na sociedade e na
medida em que mostra os comportamentos esperados pela sua cultura, num processo
dinmico de envelhecimento e a idade psicolgica, que se refere s capacidades
comportamentais do individuo em se adaptar ao meio. A idade psicolgica, influenciada
pelos factores biolgicos e sociais, mas envolve capacidades como a memria, a
aprendizagem, a inteligncia, as habilidades, os sentimentos, as motivaes e as emoes,
para exercer controlo comportamental e auto-regulao.
A avaliao do envelhecimento humano com base na idade cronolgica foi defendida por
Costa e McCrae (1988) citados por Rendas (2001) durante a dcada de 80 por tratar-se
dum parmetro fcil de medir, fivel e segundo os autor democrtico porque comum a
ricos e pobres, homens e mulheres, bem como aos indivduos sos e doentes.
Rowe e Kahn (1987) citados por Rendas (2001) consideravam a existncia de trs padres
diferentes de envelhecimento:
Envelhecimento bem sucedido (successful) em que os parmetros avaliados se
encontram nos escales mais elevados encontrados na populao adulta no idosa;
Envelhecimento habitual (usual) em que os parmetros se encontram prximos
dos valores mdios da populao adulta no idosa;
Envelhecimento mal sucedido (unsuccefull) em que os valores encontrados so
inferiores aos da faixa etria mais jovem e que esto geralmente associados a
doenas.
A velhice um fenmeno natural, mas leva a um aumento da fragilidade e da
vulnerabilidade. Qualquer agresso, ainda que mnima, integridade do indivduo, corre o
risco de provocar um desequilbrio global e eventualmente irreparvel (Ermida, 1999).
De acordo com Ahmed, Mandel e Fain (2007) fragilidade uma sndrome biolgica bastante
comum nas pessoas idosas, identificada pela diminuio da reserva em mltiplos sistemas
orgnicos. Pode ser iniciada por doena, falta de actividade, ingesto nutricional inadequada
e/ou stress.
A prtica comum de designar como velhas as pessoas a partir dos 65 anos comeou na
Alemanha nos anos 80 do sculo passado, quando Otto Von Bismarck escolheu 65 como a
idade inicial para certos benefcios da segurana social. Se essa idade ou uma idade
semelhante deve continuar a ser o padro qualificador, uma vez que tantas pessoas vivem
at esse ponto e o ultrapassam, matria de acesso debate entre polticos (Spar e La Rue,
1998).
1.2 TEORIAS EXPLICATIVAS DO ENVELHECIMENTO
Com o intensificar das pesquisas sobre o envelhecimento, surgiram vrias teorias
explicativas. Berger e Mailloux-Poireier (1995) salientam as seguintes:
Teoria imunitria segundo esta teoria, o sistema imunitrio deixaria de
reconhecer as clulas do prprio organismo, comeando a gerar anticorpos
contra si prprio; esta teoria que sustenta a afirmao da existncia de um
relgio biolgico interno, que determinaria a caducidade do sistema.
Teoria gentica segundo esta teoria, o envelhecimento uma etapa do
desenvolvimento, geneticamente programado.
Teoria do erro na sntese proteica esta teoria defende que a ocorrncia de
erros na sntese proteica leva existncia de molculas de ADN incompetentes
para desempenhar o seu papel e que, por isso, deixam de funcionar.
Teoria do desgaste segundo este modelo, o organismo humano comporta-se
como uma mquina, cujos componentes se deterioram com o uso, levando a
deficits de funcionamento e paragem.
Teoria dos radicais livres atribui o envelhecimento celular ao permanente e
nefasto efeito dos radicais livres de oxignio sobre a clula, originando
deficincias ao nvel do ADN.
Teoria neuro-endcrina salienta que o sistema endcrino est programado
para desenvolver hormonas que tm efeitos de envelhecimento sobre o sistema
neurolgico.
Embora todas estas teorias tentem explicar porque ocorre a morte celular, nenhuma oferece
uma explicao total e universalmente aceite sobre o processo de envelhecimento. No
entanto, podemos afirmar que existe concordncia de todos os autores consultados em que
o processo de envelhecimento universal em relao a todos os seres da mesma espcie,
intrnseco ao organismo, progressivo e cumulativo, nocivo ao organismo como um todo e
est associado a uma maior mortalidade e morbilidade (Phipps et al, 1995).
Pinto e Botelho (2007) agrupam as teorias interpretativas das causas do envelhecimento em
teorias estocsticas e deterministas. As teorias estocsticas defendem que o
envelhecimento uma consequncia de leses sucessivas que vo conduzir ao desgaste e
disfuno celular e morte, traduzidas pelas expresses de desgaste e ruptura. As
teorias deterministas defendem que o envelhecimento uma consequncia directa do
programa gentico, sendo o genoma um tipo de relgio molecular.
Posteriormente surgem outras teorias explicativas, das quais se destacam:
A teoria ecolgica proposta por Birren (1995) citado por Sequeira (2007), em que o
processo de envelhecimento resulta da interaco entre um determinado patrimnio
gentico e o ambiente a que se encontra exposto;
A teoria gerodinmica, que explica o processo de envelhecimento, tendo por base a
teoria geral dos sistemas, em que a dinmica do envelhecimento constitui um
processo que resulta de uma srie finita de mudanas levando a uma maior
desordem e a estruturas ordenadas de maior diferenciao (Schroots, 1995 citado
por Sequeira, 2007).
As teorias do desenvolvimento, segundo Baltes e Smith (1999) citados por Sequeira
(2007), explicam as mudanas relacionadas com a idade, numa perspectiva de ciclo
de vida de acordo com as diferentes anlises interdisciplinares. Constata-se uma
elevada inter-relao entre o funcionamento sensorial e o funcionamento cognitivo.
1.3 - ENVELHECIMENTO DEMOGRFICO NO MUNDO
Segundo Fernandes (1997:34) o envelhecimento demogrfico uma realidade nova na
histria das populaes das sociedades industrializadas e as projeces indicam, com
alguma certeza que, no mundo civilizado a tendncia para o envelhecimento acentuada.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatstica (2002) o envelhecimento pode ser
analisado sob duas grandes perspectivas:
Individualmente, o envelhecimento assenta na maior longevidade dos indivduos, ou
seja, o aumento da esperana mdia de vida.
O envelhecimento demogrfico, por seu turno, define-se pelo aumento da proporo
das pessoas idosas na populao total. Esse aumento consegue-se em detrimento
da populao jovem, e/ou em detrimento da populao em idade activa.
O que no passado, no muito longnquo, era privilgio de apenas alguns, passou a ser uma
oportunidade de um nmero crescente de pessoas em todo o mundo.
Marino et al (1999) citados por Vaz (2008) refere que o envelhecimento da populao
mundial um facto incontestvel e vem ocorrendo tanto nos pases desenvolvidos como
naqueles em desenvolvimento.
O fenmeno do envelhecimento resulta da transio demogrfica, normalmente definida
como a passagem de um modelo demogrfico de fecundidade e mortalidade elevados para
um modelo em que ambos os fenmenos atingem nveis baixos, originando o estreitamento
da base da pirmide de idades, com reduo de efectivos populacionais jovens e o
alargamento do topo, com acrscimo de efectivos populacionais idosos (INE, 2002).
Quando se fala em populao mundial frequente associar ao conceito o fenmeno
conhecido como exploso demogrfica do terceiro mundo de tal forma foi um acontecimento
marcante ao longo de toda a segunda metade do sculo XX (Fernandes, 2008).
Para a autora supra citada a primeira exploso demogrfica ocorreu nos finais do sculo XIX
e incios do sculo XX nos pases desenvolvidos, nomeadamente na Europa, sendo a
responsvel pelo povoamento do continente americano, Austrlia e Nova Zelndia, entre
outras zonas do mundo que apresentavam na poca baixas densidades populacionais. Os
espaos mais vazios absorveram os excessos provenientes do crescimento da populao
provenientes do crescimento da populao europeia.
No inicio da segunda metade do sculo XX, aps a Segunda Guerra Mundial, iniciou-se um
perodo de declnio rpido e acentuado da mortalidade nos pases em desenvolvimento,
sendo esse processo de descida de mortalidade atribudo utilizao massiva de
procedimentos clnicos eficazes na luta contra doenas infecciosas e parasitrias, que
matavam em todas as idades. Os ganhos em esperana de vida foram significativos logo
desde o inicio e o crescimento populacional acelerado (Fernandes, 2008).
Para Nunes (2005) tambm foram as questes demogrficas surgidas na segunda metade
do sculo XX que vieram provocar alteraes na estrutura social, poltica e sanitria das
populaes:
Na vertente demogrfica, surgiu no sculo passado, uma descida significativa da
mortalidade infantil e um maior controlo das doenas infecciosas, que tiveram como
principal consequncia um aumento rpido e consistente da esperana mdia de
vida;
Na vertente poltica, surgiram no sculo XIX, os movimentos cientficos, polticos,
bem como os movimentos higienistas, que lutavam pelas alteraes das condies
de vida da populao, tendo como principal consequncia a reduo da taxa de
mortalidade. Contudo foi na segunda metade do sculo XX e com a reconstruo da
Europa aps a II Guerra Mundial, que se lanaram as bases do Estado Providncia e
um compromisso dos vrios governos para promoverem o bem-estar da populao,
fazendo com que as questes de sade passassem a fazer parte das prioridades
governamentais nas democracias liberais;
Na vertente mdica, os avanos da Medicina e o crescimento dos cuidados de sade
prestados s populaes, com a consequente reduo das taxas de mortalidade,
foram factores que contriburam para melhorar a qualidade de vida dos indivduos,
reduzindo algumas das sequelas associadas doena crnica e agudizada.
Na vertente social e cultural, houve um grande desenvolvimento na melhoria das
condies materiais de vida com o aumento dos salrios, a melhoria da habitao, o
aumento dos nveis de escolaridade, a democratizao do acesso cultura. Estas
alteraes tiveram consequncias importantes a nvel da preveno da doena e da
valorizao da sade.
Jamais a humanidade conheceu to grandes transformaes como as que ocorreram na
segunda metade do sculo: crescimento fenomenal da populao (passou de 2,5 bilies em
1950 para 6 bilies em 2000), uma desigual distribuio populacional no planeta, grandes
concentraes urbanas e alterao dos padres de vida da maioria da populao
(Schoumaker et al, 2004 citados por Fernandes, 2008).
Para Fernandes (2008:41) O final do sculo XX representa o ponto de viragem em grande
parte dos pases em desenvolvimento, ou seja, o declnio da fecundidade j se afirmou e os
efeitos comeam a sentir-se na reduo dos mais jovens e o crescimento absoluto e relativo
dos mais velhos. Se o sculo XX foi o sculo do crescimento populacional, o sculo XXI vai
ser o sculo do envelhecimento global.
1.4 ENVELHECIMENTO DEMOGRFICO EM PORTUGAL
Nos prximos 50 anos Portugal poder continuar com cerca de 10 milhes de residentes,
mas manter-se- a tendncia do envelhecimento demogrfico, projectando-se que em 2060
residam no territrio nacional cerca de 3 pessoas idosas por cada jovem (INE, 2009).
Dinis (1997) citado por Vaz (2008) refere que as alteraes na estrutura etria da populao
portuguesa, traduzem-se fundamentalmente pelo aumento da populao, que resulta:
Da diminuio constante da taxa de natalidade em que as geraes deixam de ser
substitudas numericamente e o lugar dos adultos e dos velhos aumenta no total.
Do aumento significativo da esperana de vida, resultante das melhores condies
sociais e tecnolgicas, dos progressos da medicina preventiva, curativa e
reabilitadora.
Segundo o Instituto Nacional de Estatstica (2002), em Portugal, as alteraes na estrutura
demogrfica esto bem patentes na comparao das pirmides de idades em 1960 e 2000,
que se podem observar na Fig.1.
FIG.1 PIRMIDE DE IDADES, PORTUGAL 1960 - 2000
Entre 1960 e 2000 a proporo de jovens (0-14 anos) diminuiu de cerca de 37% para 30%.
Segundo a hiptese mdia de projeco de populao mundial das Naes Unidas, a
proporo de jovens continuar a diminuir, para atingir os 21% do total da populao em
2050. Ao contrrio, a proporo da populao mundial com 65 ou mais anos regista uma
tendncia crescente, aumentando de 5,3% para 6,9% do total da populao, entre 1960 e
2000, e para 15,6% em 2050, segundo as mesmas hipteses de projeco. De referir ainda
que o ritmo de crescimento da populao idosa quatro vezes superior ao da populao
jovem (INE, 2002).
Em consequncia das diferentes dinmicas regionais, e semelhana do que se verifica no
Mundo, tambm no territrio nacional a distribuio da populao idosa no homognea
(Fig.2).
FIG.2 DISTRIBUIO DA POPULAO IDOSA EM PORTUGAL E NAS REGIES AUTNOMAS DOS
AORES E DA MADEIRA
Fonte: INE / DME, Servio de Geoinformao
Numa repartio por NUTS II (Nomenclaturas de Unidades Territoriais para Fins
Estatsticos) e tendo em conta os resultados provisrios dos Censos 2001, verifica-se que o
Norte detinha a mais baixa percentagem de idosos no Continente. A maior importncia
relativa de idosos pertencia ao Alentejo, seguido do Algarve e do Centro, deixando
transparecer uma faixa litoral bastante menos envelhecida. s Regies Autnomas dos
Aores e da Madeira pertenciam os menores nveis de envelhecimento do pas, ou seja, as
zonas geogrficas com nveis de fecundidade mais elevados (INE, 2002).
Entre 1960 e 2001 o fenmeno do envelhecimento demogrfico traduziu-se por um
decrscimo de cerca de 36% na populao jovem e um incremento de 140% da populao
idosa. A proporo da populao idosa, que representava 8,0% do total da populao em
1960, mais que duplicou, passando para 16,4% em 12 de Maro de 2001, data do ltimo
Recenseamento da Populao. Em valores absolutos, a populao idosa aumentou quase
um milho de indivduos, passando de 708 570, em 1960, para 1 702 120, em 2001, dos
quais 715 073 homens e 987 047 mulheres (INE, 2002).
Considerando, por outro lado, os dados do Inqurito ao Emprego de 2001, determinaram-se
os nveis de instruo da populao idosa com base nas categorias da International
Standard Classification of Education (ISCED) utilizada pelas Naes Unidas. Pode verificar-
se que mais de metade da populao com 65 e mais anos (55,1%) no tinha qualquer nvel
de instruo, enquadrando-se no nvel 0 do ISCED. Essa proporo era superior no caso
das mulheres (64,7% contra 41,3% dos homens). Em segundo lugar surgia o nvel 1 detido
por 37% dos indivduos idosos, com um peso relativo superior no caso dos homens (48,0%
contra 29,3% das mulheres). Os nveis 2 a 6 do ISCED somavam apenas 7,9% da
populao idosa, correspondendo a 3,4% os que detinham o nvel 2 e a 2,4% os que
detinham os nveis 5 e 6 (INE, 2002).
De acordo com o INE (2002) as estimativas com base nos resultados provisrios dos
Censos 2001 revelaram que em 32,5% das famlias clssicas residia pelo menos um idoso e
as famlias constitudas apenas por idosos representavam 17,5% do total das famlias. Entre
1991 e 2001 a proporo de famlias clssicas com idosos (incluindo as famlias com idosos
e outros e as de s idosos) aumentou cerca de 23%, passando de 30,8% para 32,5%. Pode
verificar-se, contudo, que enquanto as compostas por idosos e outros viram a sua
importncia relativa diminuir ligeiramente, as compostas apenas por idosos aumentaram
cerca de 36% no perodo intercensitrio. De referir ainda que do total de famlias s de
idosos a grande maioria so constitudas por apenas um idoso (50,5%) e por dois idosos
(48,1%).
Os resultados do Inqurito ao Emprego de 2001 revelaram que a maioria da populao
idosa era inactiva (81%), representando cerca de 74% na populao masculina e 86% na
feminina (INE, 2002).
1.5 CARACTERIZAO DO CONCELHO DO BARREIRO
Com uma rea de 31,6 Km2, o Barreiro tem, de acordo com os Censos de 2001, 79.012
habitantes residentes. Integrado no distrito de Setbal, o concelho do Barreiro, pertence
designada rea Metropolitana de Lisboa, localiza-se na margem Sul do Esturio do Rio
Tejo.
Alto do Seixalinho, Barreiro, Verderena, Coina, Lavradio, Santo Andr, Santo Antnio da
Charneca e Palhais so as oito freguesias que constituem o concelho do Barreiro. Esta
cidade apresenta uma posio estratgica enquanto banhada pelo Tejo e apoiada por um
importante terminal rodo-ferro-fluvial. Situa-se a cerca de 40 km de Lisboa, ligando esta
cidade pela Ponte 25 de Abril ou pela Ponte Vasco da Gama, e a cerca de 35 km de
Setbal, capital do distrito, cujo acesso mais destacado pela auto-estrada A2 (Cmara
Municipal do Barreiro, 2010).
Dentro de um distrito com uma populao relativamente jovem, em termos comparativos
com valores mdios do Continente, o Concelho do Barreiro apresenta uma relao de
dependncia total cifrada em 34,4 e a das pessoas idosas em 19,4. Em relao ao ndice
actual de envelhecimento (129,2) verificou-se um crescimento significativo quando
comparado com os resultados de anos anteriores, 33,8 em 1981 e 60,2 e 1991. As classes
mais jovens esto muito contradas, acusando os baixos nveis de natalidade que entretanto
se comearam a observar. O progressivo envelhecimento do concelho parece inevitvel
(Cmara Municipal do Barreiro, 2010).
Em traos gerais pode-se dizer que o Concelho do Barreiro experimentou at ao final da
dcada de setenta, um rpido crescimento demogrfico e que, desde ento a populao
registou um crescimento moderado.
1.6 ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO
De acordo com Schroots e Birrem (1980) citados por Cordeiro (1999), o envelhecimento tem
trs componentes:
O processo de envelhecimento biolgico, que resulta da vulnerabilidade crescente e
de uma maior probabilidade de morrer, a que se chama senescncia;
O envelhecimento psicolgico, definido pela auto-regulao do indivduo no campo
das foras, pelo tomar decises e opes, adaptando-se ao processo de
senescncia e envelhecimento. O crescimento e o envelhecimento nunca so o
produto exclusivo de um nico conjunto de determinantes, mas a consequncia da
nossa base filogentica, a nossa hereditariedade nica, o meio fsico e social, no
qual estas predisposies genticas se exprimem e no caso do homem, ainda o
efeito do pensamento e escolha;
Um envelhecimento social, relativo aos papis sociais apropriados s expectativas
da sociedade para este nvel etrio.
Quando se fala de processo de envelhecimento, estamos implicitamente a falar em
modificaes de carcter orgnico e funcional, uma vez que so essencialmente essas que
ditam a longevidade. No entanto, o envelhecimento no deve ser apenas entendido como
um acontecimento biolgico, uma vez que as suas repercusses se sentem tambm a nvel
psicossocial (Ermida, 1999). Alm disso, todos os factores ambientais, internos, externos,
biolgicos, psicolgicos e sociais, interferem com o processo de envelhecimento (Phipps et
al, 1995).
1.6.1 - ALTERAES BIOLGICAS NO ENVELHECIMENTO
De acordo com Berger e Mailloux-Poireier (1995) o processo de envelhecimento d-se a
todos os nveis de funcionamento: celular, tecidular, orgnico e sistmico.
Ao nvel celular, as clulas no se dividem indefinidamente e a sua capacidade
mittica (de se dividir) decresce com a idade, ao envelhecer perdem certos elementos como
o ADN, aumentam a percentagem de tecidos gordos e fibrosos. O ncleo celular altera-se,
parecendo perder a sua funo gentica, o que impede a multiplicao celular e a reparao
dos tecidos. O seu nmero diminui 30% entre os vinte e os setenta anos (Berger e Mailloux-
Poireier, 1995).
Para os mesmos autores acima citados a nvel tecidular, o aparecimento de rugas liga-se
modificao das gorduras subcutneas e perda de elasticidade da pele, causada pelo
aumento de protenas fibrosas. Todos os msculos do organismo, em especial os do tronco
e das extremidades atrofiam-se com o tempo, o que leva uma deteriorao do tnus
muscular. As articulaes sofrem mudanas, os ligamentos calcificam-se, ossificam e as
articulaes tornam-se mais pequenas porque as superfcies articulares so erodidas.
A reduo da altura tambm um fenmeno a atribuir ao envelhecimento, na
realidade, consiste no encolher da coluna vertebral (de 1,2 a 5 cm) causada por um
estreitamento das vrtebras dorso lombares (Berger e Mailloux-Poireier, 1995).
As glndulas sebceas tornam-se menos activas e lubrificam menos a pele, o que a
torna seca e quebradia. As glndulas sudorparas tambm se atrofiam e modificam o
processo o processo de controlo da temperatura corporal por sudao. Na pele ocorre uma
hipertrofia das clulas de pigmentao e o aparecimento de manchas coloridas na
epiderme. H um embranquecimento e palidez da pele, causada pela perda de capilares e
de melancitos, secura e descamao da pele (Berger e Mailloux-Poireier, 1995).
Ao envelhecer os plos tornam-se mais raros e caem pouco a pouco, exceptuando na cara.
A perda de cabelo vai-se acelerando medida que se envelhece, os cabelos tornam-se
menos espessos, menos fortes e com menos volume e vo acinzentando progressivamente.
A reduo das clulas e a perda das reservas fisiolgicas atinge todos os rgos, mesmo
que no se verifique o mesmo ritmo para todos, o resultado o mesmo: as funes
deterioram-se (Berger e Mailloux-Poireier, 1995).
Spar e La Rue (1998) esquematizam as principais alteraes anatmicas e funcionais dos
principais sistemas orgnicos, associadas ao envelhecimento da seguinte forma:
O sistema cardiovascular v-se confrontado com uma menor eficcia do corao,
com o endurecimento e estreitamento das artrias, o que implica um menor
rendimento cardaco.
O sistema respiratrio perde elasticidade e diminui a capacidade ventilatria.
O sistema renal menos eficiente a eliminar as toxinas e outras substncias, perde a
capacidade de esvaziamento da bexiga, no qual se verifica uma diminuio da
elasticidade e perda da massa renal (Sequeira, 2007).
O sistema gastrointestinal menos eficiente na absoro dos nutrientes, diminui a
eficincia da eliminao e verifica-se atrofia da mucosa gstrica.
O sistema msculo-esqueltico apresenta uma reduo da massa muscular e ssea,
perda de elasticidade das articulaes e perda da fora muscular.
O sistema nervoso apresenta degenerescncia neurofibrilar de neurnios,
acumulao de placas senis e perda de neurnios.
Para Serra (2006) quando a pessoa envelhece os cinco sentidos declinam em acuidade
(viso, audio, olfacto, paladar e tacto).
As alteraes visuais so caracterizadas pela diminuio da acomodao, da acuidade, da
sensibilidade s cores e da percepo em profundidade. Segundo Nadol (1993) citado por
Serra (2006) o declnio da audio determinado por factores genticos e pela exposio
que ocorreu ao longo da vida ao rudo excessivo e a substncias ototxicas. Devido a esse
facto a pessoa vai perdendo a percepo s frequncias elevadas, a capacidade de
localizar sinais sonoros, de discriminar a origem de sons diferentes e tem dificuldade em
compreender o discurso das outras pessoas.
De acordo com Serra (2006) as pessoas idosas apresentam igualmente um declnio do
olfacto e paladar. A presena do olfacto tem uma acentuada relevncia para qualquer
pessoa e contribui para apreciar a comida e bebida. A pessoa idosa apresenta ainda uma
atrofia das papilas gustativas, o que determina uma percepo reduzida do gosto das
substncias doces e salgadas. Alm disso revelam uma diminuio da salivao, que
impede que os alimentos se espalhem pela boca, o que reduz a percepo do sabor.
No que respeita ao tacto, Sturgis et al (1987) citados por Serra (2006) comprovam que em
associao com a idade, se altera a percepo dos estmulos dolorosos. Essas alteraes
podem levar a queimaduras com gua quente ou objectos aquecidos e facilitam a ocorrncia
de quedas quando o indivduo muda de plano quando caminha ou tem de subir degraus
(Serra, 2006).
Importa salientar que nem todas as pessoas envelhecem da mesma maneira (a variao da
diferenciao dos indivduos aumenta com a idade), nem os rgos ou sistemas
envelhecem simultaneamente (Cabete, 2005).
1.6.2 - ALTERAES PSICOLGICAS NO ENVELHECIMENTO
As alteraes corporais na pessoa idosa tm repercusses psicolgicas, que se traduzem
na mudana de atitudes e comportamentos, pois o envelhecimento um processo dinmico
e complexo (Sequeira, 2007).
Para o mesmo autor, do ponto de vista psicolgico, avalia-se o equilbrio entre as limitaes
e as potencialidades do indivduo de modo a minimizar as perdas associadas ao processo
de envelhecimento. O envelhecimento psicolgico depende de factores patolgicos,
genticos, ambientais, do contexto sociocultural em que se encontra inserido e de forma
como cada um organiza e vivncia o seu projecto de vida.
Numa perspectiva do envelhecimento ao longo da vida, na qual a qualidade de vida assume
uma importncia vital, a satisfao e/ou bem-estar psicolgico esto associados ao
envelhecimento bem sucedido (Neri, 1999 citado por Sequeira, 2007).
De acordo com o autor anteriormente citado a qualidade de vida e o bem-estar psicolgico
incluem dimenses como a satisfao pessoal (sentido e significado de existncia), as
emoes, a sensibilidade, os sentimentos e os desejos de acordo com a subjectividade de
cada pessoa singular.
Para Frank e Rodrigues (2006) a sade mental indispensvel para o bem-estar geral do
indivduo e da sociedade. dada porm menos ateno aos transtornos mentais em
comparao com a sade fsica, apesar de se projectar um aumento do nmero de
indivduos portadores de transtornos mentais.
Para Salgueiro (2007) do ponto de vista das perturbaes da sade mental nas pessoas
idosas, a depresso aquela que surge com maior frequncia. A pessoa idosa est numa
situao de perdas contnuas, por vezes diminuio do suporte scio-familiar, perdas do
estatuto profissional e at econmico, algum declnio fsico, constituem factores que podem
contribuir para o aparecimento de estados depressivos.
Por existirem dificuldades na avaliao da depresso em pessoas idosas, tanto devidas ao
seu modo de apresentao, como interaces com doenas fsicas e limitaes funcionais,
ou a perturbaes demenciais, foram desenvolvidas escalas especficas para este grupo
etrio. Uma das escalas especficas a Geriatric Depression Scale, de trinta itens
(Yesavage et al, 1983 citado por Botelho, 1999).
A prevalncia de perturbaes cognitivas aumenta com a idade, sabendo-se que a
demncia ligeira ou moderada pode passar despercebida se no for especificamente
avaliada (Garcia et al, 1981; Beck, 1982; Teresi e Holmes, 1997 citados por Botelho, 1999).
Um dos variados testes que permite fazer a deteco de perturbao cognitiva o Mini
Mental State Examination (Folstein et al, 1975 citado por Botelho, 1999). Esse teste consiste
numa avaliao estruturada de algumas funes cognitivas, tais como: orientao temporal
e espacial, memria de reteno e de evocao, ateno e clculo, actividades ligadas
linguagem, e praxia construtiva bidimensional, perfazendo um conjunto de trinta requisitos,
com pontuao entre 0 e 1. O ponto de corte habitualmente utilizado para a presena de
demncia, a transio dos 23 para os 24 pontos (Botelho, 1999).
1.6.3 - ALTERAES SOCIAIS NO ENVELHECIMENTO
O crescimento significativo do envelhecimento da populao recita presentemente, tema
obrigatrio, na reflexo cientfica dos aspectos sociais do envelhecimento (Moura, 2006).
Os esteretipos alusivos velhice concebem por vezes a ideia de que esta fase da vida
meramente assinalada pelo declnio absoluto e progressivo da pessoa idosa, em que as
doenas das pessoas so conotadas como, naturais e prprias da idade, ignorando as
implicaes sociais (Moura, 2006).
Para Fernandes (1997) as pessoas idosas, enquanto esteretipo socialmente produzido e
facilmente reconhecvel, enquadram uma categoria de indivduos, cujas propriedades,
relativamente homogneas, so normalmente identificadas com isolamento, solido,
doena, pobreza e mesmo excluso social.
Presentemente ainda domina a viso tradicional da pessoa idosa, enquanto, algum intil,
isolado, em declnio biolgico e mental, marcado por um tempo linear, com necessidade de
cuidados presentes de sade e na grande maioria das vezes, dependente fisicamente e
economicamente, perfazendo de algum modo a imagem estereotipada da sociedade em
relao pessoa idosa (Moura, 2006).
Berger e Mailloux-Poireier (1995) identificam sete esteretipos a respeito das pessoas
idosas: a pessoa idosa vista como uma pessoa doente, infeliz, improdutivo, necessitado de
ajuda, conservador, igual a todos os outros velhos e isolado.
Na sociedade actual, o envelhecimento est de modo geral associado a alteraes
significativas no mbito da participao activa da pessoa idosa. As pessoas idosas, nesta
fase do ciclo de vida, so alvo de alteraes de forma substancial ao nvel dos papis a
desempenhar, no seio familiar, laboral e ocupacional, verificando-se uma tendncia para a
diminuio de forma progressiva, de acordo com a idade (Sequeira, 2007).
Relativamente sua participao social, tendem a participar em redes sociais mais
pequenas e a diminuir os contactos inter-sociais. Apesar de se circunscreverem a um palco
mais reduzido, as pessoas idosas so socialmente activas, de preferncia com a famlia e
com um grupo restrito de amigos.
Com o envelhecimento algumas pessoas significativas (familiares, amigos, companheiros)
vo desaparecendo, pelo que necessrio reorganizar as redes de apoio informal, de forma
a manter a independncia e a participao social, pois as redes de apoio so indispensveis
para a sade mental e envelhecimento ptimo (Sequeira, 2007).
1.7 SADE, DOENA E ENVELHECIMENTO
As alteraes da idade nem sempre so previsveis e resultam no s do envelhecimento,
mas tambm da doena, do meio envolvente e de outras caractersticas pessoais (Berger e
Mailloux-Poireier, 1995).
Na opinio de Ribeiro (1998) citado por Cordeiro (1999) definir sade no fcil, pois este
conceito provm dos antecedentes, do meio sociocultural ou dos percursos de cada
indivduo. Nos ltimos vinte anos tem-se assistido a uma evoluo da operacionalizao do
conceito. Actualmente estar com sade no significa apenas no estar doente.
A sade segundo Cordeiro (1999), no pode ser entendida a partir da perspectiva
patognica privilegiada pelo modelo mdico tradicional. Em vez disso, prope um modelo,
que denomina de salutognico, ou seja orientado para a sade, em vez de orientado para a
patologia. Insiste mais nos aspectos positivos de um corpo e de um esprito libertos, a par
de um desenvolvimento pessoal. O homem saudvel descreve-se como algum que se
sente bem na sua pele, que pode fazer o que deseja e gosta, desenvolvendo plenamente o
seu potencial. Face aos mltiplos agentes de stress, o homem tenta manter o equilbrio e
satisfazer as suas necessidades.
A maioria das pessoas idosas goza de sade fsica, mental e social, sendo totalmente
independentes mesmo quando atingem idades bastantes avanadas (Hall et al, 1997).
Neste contexto a sade pode ser vista como um objectivo por si ou como um meio. Um nvel
elevado de sade permite disponibilizar mais energia para as actividades de vida diria e
faze-lo durante mais tempo. Mais sade, poder influenciar directamente toda a experincia
de vida, incluindo tanto a percepo de bem-estar, essencial para ter sade, como o prprio
estado de doena fsica (Cordeiro, 1999).
De acordo com Cordeiro (1999), a sade inclui vrias dimenses: dimenses subjectivas e
dimenses objectivas. Defende que a sade abrange quatro dimenses, cada uma delas
incluindo vrias reas que devem coexistir equilibradamente: a sade emocional, que inclui
gesto do stress e os cuidados com as crises emocionais; sade social, abrangendo
relaes com amigos, famlia e comunidade; a sade intelectual, que abrange a educao, o
desenvolvimento da carreira e a realizao intelectual; a sade espiritual, que abrange
aspectos como o amor, a esperana, os objectivos e o controlo do abuso de substncias.
Goldberg e Dab (1987) citados por Cabete (2005) referem que, para avaliar a sade,
desenvolveram-se trs abordagens principais: uma abordagem que recorre percepo do
indivduo, uma abordagem funcional, onde o acento colocado na capacidade para o
indivduo realizar as suas tarefas sociais e exercer o seu papel social e uma abordagem
baseada no conceito de adaptao ao meio ambiente.
H dois aspectos que devem ser considerados na avaliao do estado de sade das
pessoas idosas: o objectivo e o subjectivo. O aspecto objectivo trata de problemas reais de
sade e da frequncia do seu aparecimento nas pessoas idosas. O aspecto subjectivo tem
como finalidade a percepo da pessoa sobre o seu estado de sade (Cordeiro, 1999).
O significado de estar bem de sade muito varivel entre a populao idosa, isto ,
podemo-nos encontrar com indivduos que subestimam as suas capacidades,
menosprezando sinais e sintomas por considerarem que os seus problemas so devidos
idade ou com pessoas idosas que se preocupam em excesso com o mnimo problema
(Cabete, 2005).
Segundo Berger e Mailloux-Poireier (1995) as pessoas que se julgam doentes, procedem
como doentes, mesmo na ausncia de sinais clnicos reais e as que se julgam com sade
agem como pessoas saudveis. De igual modo as pessoas que so tratadas como se
fossem doentes adoptam comportamentos de doente.
De acordo com Cordeiro (1999) a velhice um processo diferencial. Para realar as
caractersticas gerais do envelhecimento, preciso ter em conta os grupos de idade. Apesar
da longevidade ter aumentado muito, perigoso colocar todas as pessoas de idade
avanada em p de igualdade, generalizando as manifestaes de envelhecimento.
Cada pessoa dever ser avaliada cuidadosamente, a partir de critrios especficos ligados,
sobretudo, capacidade de adaptao ao meio, isto , aos esforos que cada um
desenvolve para se adaptar de maneira satisfatria evoluindo num contnuo de sade
(Cordeiro, 1999).
importante ter a noo de que a separao entre envelhecimento e doena difcil, se
no impossvel, uma vez que so processos que cursam em simultneo e com influncias
mtuas (Pinto e Botelho, 2007).
Para Coutinho (1980) doena o processo mrbido definido que acompanhado de um
certo nmero de manifestaes mais ou menos constantes tendo uma etiologia, uma
patogenia, uma patologia e uma teraputica mais ou menos definidas e que pode evoluir
rapidamente (doena aguda) ou lenta e prolongadamente (doena crnica).
Os problemas de sade das pessoas idosas so sobretudo crnicos, segundo Hart (1997)
citado por Sequeira (2007), a maioria das pessoas com mais de 65 anos tem pelo menos
uma doena crnica, sendo frequente que tenha duas ou mais. Alm disso algumas
patologias, ao estarem associadas ao processo de envelhecimento so, muitas vezes,
erradamente confundidas com ele.
1.8 A DIABETES MELLITUS COMO DOENA CRNICA
A diabetes mellitus caracterizada por hiperglicmia persistente e essa hiperglicmia
devida falta de insulina ou resistncia a essa hormona, isto , existe resistncia aco
da insulina (Azevedo, 2002).
Tambm Lisboa e Duarte (2002) tentaram definir a diabetes, de acordo com os autores o
aspecto que caracteriza a diabetes como sndrome a existncia de uma hiperglicmia
crnica, sendo esta responsvel ao longo do tempo, pelo aparecimento das leses dos
rgos alvo. A hiperglicmia resulta de uma deficiente insulino-secreo relativa ou
absoluta, associada a graus variveis de insulino-resistncia, que leva no s perturbao
do metabolismo glucdico como tambm dos lpidos e protenas.
Para os autores anteriormente citados em termos etiopatognicos a diabetes uma
sndrome complexa representando um grupo heterogneo de doenas.
Como houve necessidade de uniformizar a classificao dos vrios tipos de anomalias da
glicose, que se registam na prtica clnica, um grupo de trabalho internacional, sob o
patrocnio do National Diabetes Data Group do National Institute of Health desenvolveu em
1979, um sistema de classificao. Este sistema distinguia claramente, diabetes mellitus
insulinodependente (DMID) de diabetes mellitus no-insulinodependente (DMNID) tendo
sido aceite pela Organizao Mundial de Sade (Cassmeyer, 1995).
Os termos diabetes insulinodependente e diabetes mellitus no insulinodependente no so
mais recomendados, porque deles resultaram a classificao dos doentes com base no
tratamento da sua diabetes, em vez da etiologia subjacente. O uso de nmeros romanos
(tipo I e tipo II) para diferenciar entre os dois tipos foi trocado para tipo 1 e tipo 2 para reduzir
a confuso (Expert Committee on the Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus, 1998
citado por Smeltzer e Bare, 2002).
A classificao adoptada pela Direco Geral da Sade (2002), estabelece quatro tipos
clnicos definidos pela sua etiologia:
Diabetes tipo 1 Resulta da destruio das clulas do pncreas, com insulinopenia
absoluta. Esta destruio pode resultar de um mecanismo auto-imune, diabetes tipo
1 Auto-Imune, embora alguns casos no seja possvel documentar a existncia do
processo imune e no sendo reconhecida data outra causa, denomina-se diabetes
tipo 1 Idioptica. A insulinoterapia indispensvel para assegurar a sobrevivncia.
Ocorre em qualquer idade, mas a maioria dos casos detectada em pessoas com
menos de 30 anos, com um pico de incidncia entre 10-12 anos no sexo feminino e
12-14 anos no masculino.
Diabetes tipo 2 Forma mais frequente de diabetes, ocorre frequentemente por
insulinorresistncia, com insulinopenia relativa, ou por um defeito secretor
predominante, coexistindo, frequentemente ambas as alteraes.
Diabetes Gestacional Define-se pela existncia de uma Prova de Tolerncia
Glicose Oral (PTGO), com resultados superiores ao valor de referncia,
documentada pela primeira vez durante a gravidez. Na gravidez normal, as
hormonas produzidas a nvel placentrio, interferem com a aco da insulina, em
cerca de 2 a 5% das gestantes a necessidade de aumento de produo de insulina,
pelas clulas do pncreas, no consegue ser satisfeito.
Outros tipos especficos de Diabetes Situaes em que a diabetes consequncia
de um processo etiopatognico identificado, como doena pancretica, sndromes
hormonais, drogas que interferem na secreo ou inibem a aco da insulina, entre
outros.
1.9 APRESENTAO CLNICA DA DIABETES
A diabetes pode apresentar-se na pessoa idosa de vrias maneiras. Umas vezes no h
qualquer sintomatologia clnica e atravs de anlises feitas por rotina que ela se
diagnostica. Outras vezes h um quadro clnico tpico que chama a ateno para este
diagnstico cansao, emagrecimento, xerostomia, ou at polidipsia, poliria ou polifagia.
Noutros casos no h o quadro de diabetes, mas algumas manifestaes isoladas ou em
associaes vrias, que alertam para essa hiptese diagnstica, como por exemplo
balanites, vulvovaginites ou infeces urinrias de repetio, uma monoparesia ou uma
polineuropatia, entre outros (Sagreira, 2002).
Para a mesma autora em certos casos a diabetes torna-se manifesta no decurso de uma
intercorrncia grave, como um enfarte do miocrdio ou um acidente vascular cerebral,
apresentando-se, ento sob a forma de cetoacidose. Quase exclusivamente na pessoa
idosa, ainda se manifesta, com alguma frequncia sob a forma de uma grave
hiperosmolaridade, principalmente no decurso de uma doena infecciosa.
1.10 -EPIDEMIOLOGIA DA DIABETES
A diabetes mellitus apresenta variaes de incidncia e prevalncia nas vrias regies do
mundo, com um crescimento progressivo em todas elas, sendo que a sua maior prevalncia
se situar no grupo etrio acima dos 45 anos. (DGS, 2008:7)
Define-se prevalncia de uma doena como o nmero de casos existentes numa
determinada populao, num determinado momento, sendo habitualmente medida como
uma percentagem. difcil estimar a prevalncia da diabetes mellitus, pois sendo esta
muitas vezes assintomtica, o nmero de casos conhecidos numa populao pode no
corresponder prevalncia real da doena (Duarte, 2002a).
Os nmeros referentes prevalncia da diabetes mellitus so muito variados, consoante a
metodologia empregue e os grupos tnicos e etrios estudados
Na raa caucasiana, calcula-se que nos EUA a prevalncia de diabetes mellitus acima dos
35 anos atinja os 8,1%. Na Europa, estes nmeros so menores (4-6%), mas mesmo em
pases sanitariamente evoludos, como no Reino Unido, habitual existir por cada diabtico
conhecido um outro por diagnosticar, como o comprovam diversos rastreios (Duarte, 2002a).
Para Orchard, Laporte e Dorman (1998) citados por Bastos (2004) a prevalncia de diabetes
mellitus nos EUA varia entre 6% nos indivduos de raa caucasiana e 10% nos indivduos de
raa negra, parecendo variar inversamente com o status econmico. O aumento mais
acentuado da doena est a acontecer nas sociedades em que ocorrem as maiores
modificaes no tipo de dieta consumida, reduo da actividade fsica, aumento das
pessoas com excesso de peso. Esse fenmeno parece estar associado com dois factores:
quando aumentam as fontes de recursos alimentares numa populao, aumenta o peso dos
indivduos e consequentemente o nmero de casos de diabetes; o aumento do nvel
econmico de uma populao conduz a uma reduo do nvel de actividade fsica, pelo
menos na relativa actividade laboral.
Para Duarte (2002a) frequente considerar-se que existam perto de 500 000 diabticos em
Portugal o que corresponde a uma prevalncia de 4 a 5% da populao. De acordo com o
relatrio anual do Observatrio Nacional da Diabetes (2009) a prevalncia da diabetes em
2008 era de 11,7% da populao portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os
79 anos, o que correspondia a um total de cerca de 905 mil indivduos.
Verificou-se a existncia de uma correlao directa entre o incremento da prevalncia da
diabetes e o envelhecimento dos indivduos.
Saliente-se o facto de mais de um quarto da populao portuguesa integrada no escalo
etrio dos 60-79 anos ter diabetes (Observatrio Nacional de Diabetes, 2009).
Outra medida epidemiolgica fundamental a incidncia que se pode definir como o nmero
de novos casos de uma doena ocorrendo numa determinada populao num determinado
espao de tempo (Duarte, 2002a).
A incidncia da diabetes mellitus tem vindo a aumentar nos seus principais subtipos 1 e 2,
para os quais factores genticos e ambientais, como a obesidade e o sedentarismo, tm
concorrido nestas ltimas dcadas, apesar da maior ateno no diagnstico precoce e dos
avanos teraputicos farmacolgicos entretanto alcanados (DGS, 2008).
A forma mais comum de apresentao da diabetes mellitus a diabetes do tipo 2, qual
correspondem cerca de 90 a 95% das situaes de diabetes. Dados epidemiolgicos de
diversos locais do mundo, apontam para uma prevalncia da diabetes mellitus tipo 2, de 3 a
10% na maioria dos pases com uma incidncia sempre em crescendo, e que nalguns povos
(ndios asiticos e americanos; povos do Pacfico) tem vindo a atingir propores
epidmicas (Duarte, 2002a).
Para o autor em cima citado a incidncia e a prevalncia da diabetes mellitus tipo 2
aumentam com a idade e na sua etiopatogenia esto implicados factores genticos, ainda
no definitivamente esclarecidos e hbitos de vida/alimentares errados.
De acordo com a DGS (2002) citada por Bastos (2004) a taxa de incidncia estimada, entre
1992-1999, foi de 270,3 por cem mil habitantes, sendo relevante que nas classes etrias
inferiores a 65 anos, as taxas mais elevadas so no sexo masculino, verificando-se o
inverso nas idades acima dos 65 anos. Registou-se um dos mais importantes acrscimos
como causa de morte na ltima dcada em Portugal, sendo a taxa de mortalidade
padronizada para a idade, em 1999, de 25,0 por cem mil habitantes, superior no sexo
masculino (26,4) relativamente ao feminino (23,8).
Estima-se que sejam diagnosticados anualmente em Portugal, entre 500 e 700 novos casos
de diabetes por 100 000 habitantes. De acordo com o INS; INE-DGS, citados pelo
Observatrio Nacional de Diabetes (2009) a taxa de incidncia global da populao total em
2005/06 eram de 718 novos casos por 100 000 habitantes. Por sua vez, de acordo com
Mdicos Sentinela, citado pelo Observatrio Nacional de Diabetes (2009) a taxa de
incidncia global da populao total eram de 511 novos casos por 100 000 habitantes.
1.11 - COMPLICAES DA DIABETES
A Assembleia Geral das Naes Unidas reconheceu que a diabetes uma doena crnica,
debilitante, dispendiosa, associada a complicaes graves, o que representa grandes riscos
para as famlias, para os Estados Membros e para o mundo inteiro (DGS, 2008).
As repercusses clnicas das alteraes metablicas dividem-se em complicaes agudas e
crnicas ou tardias. As complicaes agudas da diabetes so, essencialmente, as situaes
de coma por cetoacidose, coma hiperosmolar e hipoglicmia (Bastos, 2004; Gallego e
Caldeira, 2007).
A hipoglicmia pode resultar de um esforo fsico intenso, da omisso de uma refeio, da
sua rejeio atravs de vmito, mas por vezes acontece sem causa aparente.
Frequentemente reconhecida pelos sintomas autnomos como sudorese, nervosismo,
tremor e apetite. Durante o sono pode provocar hipersudorese, pesadelos e cefaleias.
Quando no revertida, esta situao pode tomar consequncias graves, surgindo sintomas
do sistema nervoso central, como confuso, comportamentos anormal, perda de
conscincia, convulses e coma (Foster, 1998). Se o doente estiver consciente, esta
situao ultrapassada pela ingesto de acar ou de uma bebida aucarada.
O coma hiperosmolar um sndrome de desidratao profunda, que surge como
consequncia de uma hiperglicmia persistente em que o doente incapaz de ingerir a
quantidade de lquidos necessria para compensar a perda urinria. S grave quando a
reduo do volume suficiente para reduzir o dbito urinrio. Clinicamente os doentes
apresentam hiperglicmia elevada, hiperosmolaridade, depleco do volume e sinais do
SNC, que podem ir desde sonolncia ao coma (Bastos, 2004).
Com o aumento da esperana de vida da pessoa com diabetes, surgem as complicaes
tardias ou crnicas seno houver cuidados especficos, nomeadamente na preveno dos
mesmos. As complicaes so resultado de um mau controlo metablico e atingem as
artrias e o sistema nervoso perifrico.
As complicaes tardias da Diabetes provocam elevada morbilidade e mortalidade (Foster,
1998):
Anomalias circulatrias: aterosclerose, claudicao intermitente, gangrena nos
membros inferiores e, nos homens impotncia orgnica de causa vascular,
arteriopatia coronrias, AVC e enfarte do miocrdio;
Retinopatia e/ou maculopatia diabtica uma causa importante de cegueira, a
retinopatia pode ser dividida em duas grandes categorias: simples ou proliferativa. A
sua frequncia parece variar em funo da idade de inicio e da durao da doena.
O seu tratamento a fotocoagulao;
Nefropatia diabtica: esta pode progredir silenciosamente durante anos e evoluir com
hiperfuno, isto , aumentando a taxa de filtrao glomerular, seguindo-se o
aparecimento de microalbuminuria. Um controlo rigoroso da glicmia, nessa fase,
pode ainda reverter a situao. O estdio seguinte a macroalbuminuria, com
declnio da funo renal. No h tratamento especfico e a progresso da doena
acelerada pela hipertenso arterial;
Neuropatia diabtica: o quadro mais comum a polineuropatia perifrica, cujos
sintomas incluem alterao da sensibilidade, parastesias, hiperestesias intensas e a
dor. A neuropatia autnoma pode manifestar-se de diversas formas nomeadamente
sob a forma de hipotenso ortosttica, alteraes gastrointestinais, reteno ou
incontinncia urinria, problemas cardio-vasculares e impotncia sexual;
lceras do p diabtico: Habitualmente resultam da combinao de duas situaes;
a neuropatia que conduz frequentemente a uma distribuio anormal da presso e
alterao da sensibilidade, e a doena vascular com comprometimento da
circulao, contribuindo para o aparecimento das lceras e para dificultar a sua
cicatrizao. A infeco uma complicao frequente, no sendo pouco comum a
evoluo para gangrena e amputao.
Disfuno sexual: um problema frequente podendo manifestar-se no homem como
impotncia sexual ou na mulher com dfice de lubrificao e incapacidade de atingir
o orgasmo (Valongo et al, 2004).
1.12- TRATAMENTO DA DIABETES
O tratamento da diabetes, quer no tipo 2 quer no tipo 1, no tem como objectivo apenas o
bem-estar e a integrao familiar e social do diabtico, mas tambm a preveno de
complicaes agudas e tardias (Valongo et al, 2004; Sagreira, 2002).
Para Bastos (2004) o tratamento da diabetes, depende do estdio da doena e dos
objectivos delineados, podendo incluir teraputica farmacolgica (insulina e/ou
antidiabticos orais), teraputica nutricional, exerccio fsico, monitorizao da glicmia e
educao para o autocuidado, por esse motivo a equipa que acompanha o diabtico deve
ser multidisciplinar. Todo o plano teraputico deve ser individualizado e concebido em
negociao entre o diabtico, a famlia e a equipa de sade.
A abordagem teraputica no caso da diabetes mellitus tem sido progressivamente
aperfeioada, graas ao desenvolvimento de novas pesquisas e ao fabrico de novos
medicamentos e instrumentos modernos no controlo metablico da doena.
De acordo com Valongo et al (2004) existem diferentes grupos de frmacos com diferentes
aces:
As biguanidas, que no actuam no pncreas mas sim noutros rgos, facilitando a
aco da insulina que se encontra em circulao (combatem a insulinorresistncia).
Deste grupo s uma substncia utilizada a Metformina. Existe comercializada
quer como medicamento genrico quer como medicamento de marca com os nomes
de Glucophage, Stagid, Risidon 850 mg e Risidon 1000 mg.
As sulfonilureias actuam directamente no pncreas estimulando a produo de
insulina. So comercializadas como medicamento genrico e como medicamento de
marca com os nomes de glibenclamida - Daonil e Euglucon; glibornuride - Glutrid;
gliclazida - Diamicron; glipizida - Glibenese e Minidiab, e glimepirida Glimial.
Duas outras substncias de investigao no sendo da famlia das sulfonilureias,
actuam tambm para aumentar a secreo de insulina: a nateglinide - Starlix - e a
repaglinide - Prandin ou Novonorm.
Os inibidores das -glucosidases actuam atrasando a absoro dos acares no
intestino, que permite atenuar a descida do acar no sangue aps a refeio. Est
comercializada a acarbose - Glucobay.
Os autores anteriormente citados ressalvam que por vezes necessrio tomar comprimidos
de diferentes famlias para obter melhor controlo, comeando a aparecer comprimidos que
j tm associaes de medicamentos um exemplo o Glucovance (associao de
glibenclamida e metformina).
Por vezes torna-se necessrio a administrao de insulina. Para Duarte (2002b) na aco
das insulinas tem de se considerar o inicio da aco (o tempo que a insulina demora a
comear a actuar, depois de injectada); o pico mximo (perodo de tempo em que a insulina
actua com maior actividade); durao de aco (tempo que a insulina actua no organismo).
De acordo com Valongo et al (2004) e Duarte (2002b) dispomos de diferentes tipos de
insulina:
Insulina de aco rpida, cujos nomes comerciais so: Insulina Actrapid; Insulina
Isuhuman Rapid; Insulina Humulin Regular. A Insulina Humalog tem uma durao de
aco mais curta que as anteriores.
Insulina de aco intermdia, cujos nomes comerciais so: Insulina Insulatard;
Insulina Isuhuman Basal; Insulina Humulin NPH.
Insulina com zinco, cujos nomes comerciais so: Insulina Monotard; Insulina Humulin
Lenta.
Insulina de aco lenta, cujos nomes comerciais so: Insulina Ultratard; Insulina
Humulin Ultralent; Lantus.
Insulinas pr misturadas de insulina de aco rpida e de aco intermdia NPH. As
concentraes variam entre 10% e 50% de insulina rpida e 90% e 50% de aco
intermdia. Os nomes comerciais so: Insulina Mixtard 10 e Insulina Humulin M1;
Insulina Mixtard 20 e Insulina Humulin M2; Insulina Isuhuman Comb 25; Insulina
Mixtard 30 e Insulina Humulin M3; Insulina Mixtard 40 e Insulina Humulin M4;
Insulina Mixtard 50.
Para a American Diabetes Association (2003) citada por Bastos (2004), o plano teraputico,
para alm da teraputica farmacolgica, inclui vrios aspectos:
A automonitorizao da glicmia: faz parte integrante do plano teraputico, na maior
parte das situaes. Permite pessoa avaliar a resposta ao regime teraputico, em
funo dos objectivos e adequar a alimentao, o exerccio fsico e at ajustar a
medicao.
Teraputica nutricional: fundamental a instituio de um plano alimentar
individualizado, de acordo com avaliao nutricional do paciente e os objectivos
definidos. A gesto do plano alimentar deve fazer parte integrante do plano
educacional, para que o diabtico possua os conhecimentos e as competncias que
lhe permitam gerir este tipo de autocuidado. A flexibilidade e o uso de alimentos
comuns so um factor de primordial importncia, tanto para o diabtico como para a
famlia e deve ter presente os gostos pessoais, estilos de vida, hbitos alimentares,
consideraes culturais, tnicas e financeiras, tendo em vista facilitar a adeso.
Actividade fsica: o exerccio regular tem mostrado melhorar o controlo da glicose
sangunea, reduzir os factores de risco cardiovascular, contribuir para a perda de
peso e aumentar o bem-estar. A actividade fsica pode variar desde actividades de
lazer, recreativas at competio. Pode ser integrado na actividade diria, como
subir escadas, jardinagem. A forma mais simples e segura de efectuar actividade
continua caminhar. O exerccio fsico pode ser aerbio (marcha rpida, corrida,
ciclismo ou natao) ou anaerbio (andar e golfe) devendo ser realizado durante 20
a 30 minutos, pelo menos trs vezes por semana.
Preveno e Controlo das Complicaes da Diabetes: Controlo da tenso arterial,
dos valores lipidmicos e hbitos tabgicos.
1.13- A DIABETES E A EDUCAO PARA A SADE
Educar significa o treino da prtica do comportamento que, com o tempo, se tornar
habitual. A criao do hbito assim o objectivo da educao. O ensino de novos
conhecimentos faz parte integrante da educao, mas no a sua essncia. A essncia da
educao o treino do comportamento at criao do hbito (Caldeira, 2002).
Para o mesmo autor anteriormente citado, muitos diabticos bem-educados, bem tratados
com uma prtica correcta, tm muitos poucos conhecimentos tericos, enquanto outros,
com bons e por vezes, bastante profundos, conhecimentos sobre a fisiopatologia da
diabetes, andam mal tratados por no terem alterado o seu comportamento, com a
aquisio de novos hbitos necessrios.
Para Gallego (1997) a maioria das doenas crnicas, necessita da responsabilizao do
doente, e apoio da sua famlia, para uma preveno e tratamento eficazes. Neste
pressuposto para alm de um diagnstico clnico correcto da doena, a importncia de:
1. Conhecer a imagem do idoso como individuo no seu meio social;
2. Conhecer a representao da doena crnica para o doente e sua famlia;
3. Negociar previamente a definio de objectivos de tratamento;
4. Conhecer em cada momento o locus de controlo;
5. Ensinar e treinar de forma contnua, adaptada e coerente com prioridades,
definidas em relao ao problema e s capacidades do doente, tudo isso
permitindo centrar, no doente a informao e o treino teraputicos para o
autocontrole e tratamento dos seus problemas.
O tipo de ensino pode ser individual ou em grupo, sendo o predomnio de uma ou outra
forma, determinado pela capacidade individual do educador e pelo objectivo de ensino: o
ensino elementar aps o diagnstico assim como a avaliao sempre individual, de forma
a adaptar-se s necessidades do doente e famlia, enquanto o de grupo pode enriquecer o
ensino de temas comuns, ao mesmo tempo que promove a relao com os outros e a
partilha de problemas comuns (Gallego, 1997).
A forma como o conhecimento e informao so transmitidos decisiva no processo
educacional. A educao tradicional visiona o paciente como um receptculo de
conhecimento, ou de informao, proveniente dos diversos elementos da equipa de sade,
assenta numa metodologia didctica, centrada na informao e nos conhecimentos dos
tcnicos de sade, sem interaco ou participao activa do interlocutor. A metodologia
colaborativa implica a participao activa da pessoa, centrando-se no na doena em si,
mas na individualidade e pessoalidade, nos objectivos prprios mutuamente acordados
(American Diabetes Association, 2003 citado por Bastos, 2004).
Para Gallego (1997) a informao deve ser administrada em pequenas doses e com
linguagem simples, a fim de obter o maior grau de reteno. O contedo deve ser
cuidadosamente escolhido, no mais que o estritamente necessrio, e a durao nunca
ultrapassar os 35 minutos. A estratgia de desenhar uma lista de temas onde se anotam as
datas de informao facilita a avaliao e a necessidade de reconsolidar informao tem-se
revelado til para quem o utiliza. O material de apoio, a utilizar, deve ser cuidadosamente
seleccionado, de forma a adequar-se ao tema e sobretudo aos pacientes. Os folhetos
informativos podem ser entregues famlia dos que no os podem consultar (analfabetos
e/ou com alteraes visuais), de preferncia sempre com o seu conhecimento. A utilizao
de jogos deve ter em conta a menor capacidade de abstraco do idoso, pelo que se deve
utilizar preferencialmente material facilmente reconhecido.
A atitude do educador fundamental. Sem confundir amabilidade com paternalismo, deve
respeitar os conhecimentos, a cultura e a experincia dos doentes. A acessibilidade interior
deve dar a entender que nada mais importante do que estar ali para apoiar reflectindo-se
num ambiente calmo e acolhedor (Gallego, 1997).
Tambm Bastos (2004) nos diz que o perceber a histria natural da doena facilita o
processo de deciso sobre os comportamentos a adoptar. A educao conducente a estilos
de vida mais saudveis um aspecto comum e abrangente aos trs nveis de preveno;
promover o exerccio fsico, hbitos alimentares saudveis e a procura dos servios de
sade so objectivos da preveno primria que devendo ser dirigida populao em geral,
no mbito da promoo da sade, ter junto da populao susceptvel efeito sobre a
diminuio da incidncia. A vigilncia das pessoas susceptveis, permitir um diagnstico
mais precoce e a adopo de um regime teraputico, antes do aparecimento de
sintomatologia, reduzindo a probabilidade das consequncias. Na pessoa com diabetes, a
educao e vigilncia devem ser focalizadas na preveno e reduo das complicaes.
Alguns estudos sobre a relao entre conhecimento e adeso apontam no sentido de no
existir associao significativa (Chan e Molassiotis, 1999 citados por Bastos, 2004), ou seja
o conhecimento por si no garantia de modificao de comportamento.
2 METODOLOGIA
2.1 - CARACTERIZAO E SELECO DO LOCAL DE ESTUDO
O campo para investigao seleccionado por ns foi o Hospital Dia de Diabetologia do
Hospital Nossa Senhora do Rosrio, no Barreiro.
Esta instituio, datada de 18 de Janeiro de 1959, ento denominada, Hospital Nossa
Senhora do Rosrio foi dirigida pela Santa Casa da Misericrdia, durante cerca de 30 anos.
Com uma estrutura pequena e pouco diferenciada, com cerca de 115 camas.
No dia 17 de Setembro de 1985, foi inaugurado o actual edifcio, com mais especialidades e
cerca de 500 camas, passando ento a designar-se Hospital Distrital do Barreiro. S em
Setembro de 1995, por despacho do Ministro da Sade, publicado no Dirio da Repblica II
Srie n218, de 20 de Setembro, e em aluso Santa padroeira desta localidade, readquire
a sua primeira designao, Hospital Nossa Senhora do Rosrio.
Em Dezembro de 2002, o Decreto-Lei n299/2002 transformou a instituio numa sociedade
annima de capitais exclusivamente pblicos. Trs anos mais tarde, o Decreto-Lei
n223/2005 faz a instituio uma entidade pblica empresarial, adquirindo a actual
designao, Hospital Nossa Senhora do Rosrio EPE.
Presentemente, como organizao prestadora de cuidados diferenciados, est classificado
como Hospital Distrital Geral, possui 35 valncias clnicas, prestando assistncia ao nvel do
Internamento, Consulta Externa, Urgncia, Hospital de Dia, Assistncia Domiciliria e
assegura praticamente todos os meios complementares de diagnstico e teraputica da
decorrentes.
Encontra-se localizado na Avenida Movimento das Foras Armadas, na freguesia do Alto do
Seixalinho, no Barreiro, numa rea limtrofe da cidade onde confluem vrias vias de acesso,
sendo assim grande a sua acessibilidade fsica. A rea ocupada pelo edifcio de 18.450m2,
sendo a sua rea total de 104.000m2.
Com uma rea de influncia que engloba os concelhos do Barreiro, Moita, Montijo e
Alcochete, a instituio serve uma populao de cerca de 200 mil habitantes, de acordo com
o Censo de 2001.
O Hospital Nossa Senhora do Rosrio E.P.E tem como misso assegurar os cuidados de
sade ao nvel de educao, promoo, preveno, tratamento e reabilitao garantindo a
qualidade e a equidade aos cidados numa perspectiva de eficincia e melhoria contnua, a
satisfao dos utentes, dos profissionais e da comunidade, respeitando o ambiente e
potenciando sinergias com outras instituies.
O Hospital Dia de Diabetologia encontra-se localizado fisicamente nas consultas externas,
funcionando de 2 a 6 feira das 9h00 s 16h00. constitudo fisicamente por trs reas
distintas: dois gabinetes de atendimento mdico e um gabinete de enfermagem.
Ao Hospital Dia de Diabetologia podem recorrer todos os diabticos encaminhados pelo seu
mdico de famlia dos centros de sade das diferentes freguesias do Barreiro e os
diabticos encaminhados pelos mdicos do servio de urgncia e dos servios de
internamento do Hospital Nossa Senhora do Rosrio E.P.E aquando da alta hospitalar.
A seleco do Hospital Dia de Diabetologia do Hospital Nossa Senhora do Rosrio E.P.E,
Barreiro como campo para a investigao foi feita de forma intencional, com base no
conhecimento local e da cultura organizacional da instituio e sobretudo na eventual
utilizao dos resultados do estudo na melhoria da qualidade dos cuidados prestados s
pessoas idosas e pela proximidade geogrfica relativamente nossa rea de residncia.
2.2 TIPO DE ESTUDO
Para o estudo que pretendemos realizar descrever de que modo os conhecimentos da
pessoa idosa diabtica, podem estar relacionados com a presena de complicaes da
doena, considerou-se pertinente utilizar o mtodo no experimental.
Refere Vilelas (2009) que, o mtodo no experimental usado em estudos em que o
pesquisador deseja construir o quadro de um fenmeno ou explorar acontecimentos,
pessoas ou situaes medida que eles ocorrem naturalmente.
Classificmos o nosso estudo de exploratrio e descritivo, pois segundo Vilelas (2009) o
estudo exploratrio consiste na explorao de domnios da investigao pouco conhecidos
ou desenvolvidos, ou seja, com o objectivo de obter maior conhecimento de um fenmeno e
descobrir relaes entre as variveis. Segundo o mesmo autor, o estudo descritivo
descreve uma realidade, o investigador acerca-se da realidade procurando descrever e
documentar como so os fenmenos que nela acontecem, em que no existe nenhum tipo
de manipulao de variveis, ou seja, o objectivo descrever um fenmeno a partir da
observao, no procurando explic-lo, usando geralmente questionrios ou observao
estruturada.
Para Fortin (2000) os dois mtodos de investigao, que permitem conhecer a realidade e
produzir conhecimento so: o mtodo quantitativo e o mtodo qualitativo. O primeiro mtodo
est, essencialmente associado investigao experimental e tem como objectivos
estabelecer relaes entre variveis e estudar relaes de causa efeito. O segundo mtodo,
um mtodo mais explicativo, cuja finalidade o desenvolvimento do conhecimento, com
interpretao e descrio de fenmenos muito ligados essncia da experincia humana.
2.3 HIPTESES DE ESTUDO
A reviso da literatura, a nossa experincia e vivncia profissional, de estreito e frequente
contacto com as pessoas idosas, levaram-nos a reflectir sobre a temtica em questo,
levando elaborao de algumas hipteses de estudo:
Ser que a pessoa idosa diabtica com conhecimentos sobre a diabetes tem
presente desequilbrios da doena?
Ser que a pessoa idosa diabtica com conhecimentos sobre a diabetes no tem
presente desequilbrios da doena?
Ser que a pessoa idosa sem conhecimentos sobre a diabetes tem presente
desequilbrios da doena diabtica?
Ser que a pessoa idosa sem conhecimentos sobre a diabetes no tem