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VI Seminário Latino Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
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A Cartografia Geomorfológica em Áreas Litorâneas: Uma discussão das
possibilidades e dificuldades no cenário brasileiro.
Cenira Maria Lupinacci da Cunha
Professora Doutora – Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento
– Laboratório de Geomorfologia – UNESP (Universidade Estadual Paulista) – Campus
de Rio Claro (SP/Brasil). E-mail: cenira@rc.unesp.br
Tissiana de Almeida de Souza
Mestranda em Geografia – Departamento de Planejamento Territorial e
Geoprocessamento – Laboratório de Geomorfologia – UNESP Rio Claro (SP/Brasil). E-
mail: tissisouza@yahoo.com.br.
Introdução
No Brasil, as regiões litorâneas foram as primeiras áreas ocupadas durante a
colonização e, no dias atuais, apresentam elevados índices de urbanização. Aliado a
este fato, considera-se que tais ambientes agregam elevado grau de suscetibilidade
ambiental devido às suas características intrínsecas, tais como propriedades
litológicas, hidrológicas, geomorfológicas, climáticas e biogeográficas. É neste contexto
que se insere a região litorânea do estado de São Paulo, onde a intensa atividade
turística, associada a sua fragilidade, gera um alto grau de alteração causada pelas
atividades antrópicas. Assim, é de suma importância analisar a qualidade ambiental
deste setor do estado. Para tal análise, os aspectos geomorfológicos são essenciais por
constituírem o substrato físico sobre o qual tais atividades atuam. Desse modo, a
representação cartográfica do relevo pode fornecer dados sobre as condições locais para
ocupação ou, ainda, em caso de ocupação já efetiva, pode auxiliar na identificação de
áreas potencialmente problemáticas no futuro.
Griffits e Abraham (2008) afirmam que os mapas geomorfológicos têm especial
importância para os estudos de planejamento ambiental, pois permitem compreender a
distribuição espacial dos processos atuais e pretéritos que são responsáveis pelas formas
de relevo das paisagens contemporâneas. Assim, a representação cartográfica do relevo
pode fornecer dados sobre as condições locais para ocupação ou, ainda, em caso de
ocupação já efetiva, pode auxiliar na identificação de áreas potencialmente
problemáticas no futuro.
Constatada a importância da cartografia para os estudos do relevo, convém enfatizar
que há dificuldades intrínsecas à realização de mapeamentos deste elemento da
Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais
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paisagem principalmente em um país de escala continental como o Brasil. Uma das
dificuldades iniciais a se considerar refere-se ao fato de tratar-se de um processo
cartográfico no qual se representa um atributo, por definição tridimensional, dispondo-se
de apenas duas dimensões. Neste sentido, procura-se suprir tal deficiência através de
símbolos e tramas, cujo processo de escolha constitui-se em uma dificuldade a parte,
visto que um dos princípios básicos da cartografia é a rapidez e eficiência na comunicação
dos fenômenos mapeados.
Dessa forma, a cartografia geomorfológica constitui-se em um tipo de mapeamento
cuja complexidade é inerente ao próprio objeto de representação. O relevo apresenta
uma diversidade de formas e de gênese as quais são geradas por complicados
mecanismos que atuam no presente e que atuaram no passado. Dessa forma, segundo
Ross (1991, p. 17) “...interpretar o relevo não é simplesmente saber identificar padrões
de formas ou tipos de vertentes e vales, não é simplesmente saber descrever o
comportamento geométrico das formas, mas saber identificá-las e correlacioná-las com
os processos atuais e pretéritos, responsáveis por tais modelados, e com isso estabelecer
não só a gênese mas também sua cronologia, ainda que relativa”. Portanto, uma
cartografia geomorfológica eficiente deve indicar todos estes elementos levantados
como essenciais para o entendimento do relevo. Segundo Fairbridge (1968), uma
classificação genética e cronológica do relevo permite identificar formas ativas e
processos operantes, possibilitando avaliar as conseqüências da interferência antrópica
sobre tais áreas.
Assim, o objetivo da pesquisa desenvolvida sobre este tema foi discutir procedimentos
técnicos propostos por diversos autores para a cartografia das feições geomorfológicas
das áreas litorâneas e, a partir desta análise, apontar aqueles mais convenientes de
acordo com a escala e com as feições existentes na área da pesquisa. Para isso foram
realizados mapeamentos geomorfológicos da área litorânea sul do estado de São Paulo,
na escala de 1:250.000, utilizando-se de imagens orbitais, cartas topográficas e
mapeamentos geológicos existentes. Os resultados obtidos com a análise comparativa
destes diversos mapeamentos, cada um destes orientado por determinados autores,
alguns considerados clássicos no cenário brasileiro, apontam para a necessidade de
adaptação destas diversas concepções de acordo com as peculiaridades da área e o
objetivo do mapeamento a ser realizado.
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Área de Estudo
A área de estudo localiza-se na região sudeste brasileira, no setor sul do litoral do
estado de São Paulo, entre as coordenadas 24°/25°S e 47°/48°W (Figura 1). As feições
geomorfológicas atualmente presentes no litoral paulista relacionam-se à origem da
Serra do Mar, escarpa de falha retrabalhada durante a abertura do Atlântico, e aos
movimentos glacio-iso-eustáticos, ocorridos durante o Quaternário, em toda a costa
brasileira, que deram origem as bacias sedimentares locais.
Figura 1 – Localização da área de estudo.
Organização: Tissiana de Almeida de Souza, 2007
Técnicas Cartográficas
Para atingir o objetivo desta pesquisa foi realizada uma revisão bibliográfica sobre
técnicas de mapeamento geomorfológico em áreas litorâneas. Dessa revisão, foram
selecionadas duas concepções principais a serem testadas, a saber: Nunes, Ribeiro e
Almeida (1994) e Argento (1995). A seguir apresenta-se sucintamente a proposta de cada
um destes autores e as técnicas utilizadas para a construção das cartas geomorfológicas.
As cartas geomorfológicas foram confeccionadas a partir da interpretação de imagens
orbitais do satélite LANDSAT 7, Banda 4, em preto e branco, passagem de 2000, das
Folhas Topográficas São Paulo e Iguape (Instituto Geográfico e Geológico de São Paulo
1954), dos dados geológicos das Folhas Iguape e Cananéia (Suguio & Martin 1978) e
levantamentos bibliográficos.
Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais
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A interpretação desses dados permitiu a identificação de feições geomorfológicas
relacionadas às áreas de sedimentação – cordões litorâneos, borda de terraços marinhos,
dunas e meandros abandonados (marcas de paleodrenagem) – e áreas cristalinas – linhas
de cumeada, escarpa de linha de falha, falésias rochosas e morros isolados.
A técnica de mapeamento proposta por Nunes, Ribeiro e Almeida (1994) originou-se
dos procedimentos técnicos usados pelo Projeto RADAMBRASIL para a elaboração de
mapas geomorfológicos.
O primeiro procedimento foi delimitar a área de estudo em dois setores: cristalino e
sedimentar. Nesta etapa, as zonas cristalinas foram subdivididas em 105 unidades
menores, de acordo com a textura do relevo (Figura 2). A diferença de tonalidade dos
terrenos e as drenagens possibilitaram a separação das unidades.
Figura 2: Divisão do setor cristalino em unidades, de acordo com a textura do relevo.
O próximo passo foi o cálculo da densidade de drenagem para cada uma das unidades,
através da quantificação da distância entre os cursos d’água presentes nestas unidades.
Somaram-se os valores das distâncias e tirou-se uma média que representa a textura da
densidade de drenagem. Em seguida, calculou-se o aprofundamento da drenagem com
base em cartas topográficas e mapas geológicos usados nas etapas anteriores. Após a
obtenção dos valores foi construída uma tabela (Tabela 1), que indica a textura do relevo
em cada unidade:
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INTENSIDADE DE
APROFUNDAMENTO DA
DRENAGEM
TEXTURA DA DENSIDADE DE DRENAGEM
MUITO
FINA
(<400m)
FINA
(400 a
600m)
MÉDIA
(601 a
800 m )
GROSSEIRA
(801 a
1000m)
MUITO
GROSSEIRA
(≥ 1000m)
MUITO FRACA (≤ 100m) 5.1 4.1 3.1 2.1 1.1
FRACA (101 a 200m) 5.2 4.2 3.2 2.2 1.2
MEDIANA (201 a 500m) 5.3 4.3 3.3 2.3 1.3
FORTE (501 a 1000m) 5.4 4.4 3.4 2.4 1.4
MUITO FORTE (≥ 1001m) 5.5 4.5 3.5 2.5 1.5
Tabela 1: Textura da densidade de drenagem e aprofundamento da drenagem para a área de
estudo.
Além dessas informações, cada unidade do setor cristalino foi classificada ainda de
acordo com o nível de dissecação: a) Dc (Dissecação homogênea com feições de topo em
colinas): formas de relevo com topo convexo, vales pouco aprofundados e vertentes de
declividade suave; e, b) Da (Dissecação homogênea de feições de topo aguçado): topos
estreitos e alongados, vales encaixados e vertentes de declividade acentuada (Nunes,
Ribeiro & Almeida, 1994).
Já no setor com predomínio de sedimentação, a identificação dos modelados de
acumulação se deu através da interpretação das imagens de satélite, dos dados
geológicos e levantamentos bibliográficos. Foram constatados os seguintes modelados
(Quadro 1):
TIPOS DE MODELADO LETRAS-
SÍMBOLO
Acumulação de planície marinha Am
Acumulação de terraço marinho Atm
Acumulação fluvial Aptf
Acumulação flúvio-marinha Afm
Acumulação coluvial Ac Quadro 1: Tipos de modelado de acumulação presentes na área de estudo e letras-símbolo
correspondentes.
O próximo processo foi a inserção dos símbolos. Nas áreas serranas foram utilizadas as
simbologias para linha de cumeada e escarpa de falha. Já nas áreas com predominância
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de acumulação sedimentar, foram usados os símbolos para dunas, cordões litorâneos,
borda de terraço marinho e marcas de paleodrenagem. A simbologia de borda de terraço
marinho foi inserida somente nos locais onde a diferenciação de patamares era nítida, ou
seja, onde a passagem do terraço marinho para os modelados de acumulação fluvial, de
acumulação flúviomarinha e de planície marinha eram bem demarcados na imagem
orbital. Para os setores onde rochas cristalinas atingem diretamente o mar, utilizou-se o
símbolo de falésias vivas, representando falésias rochosas. O último procedimento foi a
confecção da legenda, baseada nos padrões de legenda para mapas geomorfológicos do
Projeto RADAMBRASIL.
A técnica de mapeamento proposta por Argento (1995) baseia-se na identificação das
formas de relevo de acordo com macro, meso e micro-escalas. Este estudo enquadra-se
na macro-escala e utiliza a legenda do Projeto RADAMBRASIL (1982) compilada pelo
autor citado.
Argento (1995) admite três níveis de identificação das formas de relevo para macro-
escalas. No primeiro nível, a área de estudo foi dividida em duas zonas: depósitos
sedimentares e cadeias cristalinas. Essa divisão se deu através da análise das imagens
orbitais aliada à interpretação dos mapas geológicos elaborados por Suguio e Martin
(1978).
O segundo nível de identificação leva em consideração as formas resultantes e os
processos geradores. Para os depósitos sedimentares, foram identificados os seguintes
modelados de acumulação: planície e terraço fluvial, depósito flúviomarinho, depósito
marinho e terraço marinho. Estes modelados foram identificados pela diferença de
tonalidade dos terrenos nas imagens orbitais e por dados das cartas geológicas de Suguio
e Martin (1978).
Houve generalização das áreas de planície fluvial (várzea) e terraço fluvial, que na
proposta de Argento (1995) encontram-se separados. A junção desses modelados de
acumulação ocorreu em razão da escala de trabalho, pois não foi possível visualizar a
diferenciação de patamares entre esses terrenos. Suas transições não são nítidas nas
imagens.
Dentro das cadeias cristalinas, no segundo nível de detalhamento, identificou-se a
escarpa e o reverso de serra. Os modelados de dissecação fluvial e de dissecação por
controle fluvial foram generalizados, já que podem ocorrer na área de estudo, mas não
são identificados nas imagens devido à escala de trabalho. A escarpa e o reverso de serra
compreendem uma área de grande extensão, obtidos através da interpretação das
imagens orbitais e dos dados das cartas geológicas de Suguio e Martin (1978).
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O terceiro nível de identificação se deu em função de informações complementares.
Dentro de depósitos sedimentares, os modelados de acumulação de planície e terraço
fluvial englobam drenagens e marcas de paleodrenagem. As drenagens foram obtidas
através da digitalização das cartas topográficas São Paulo e Iguape (Instituto Geográfico e
Geológico do Estado de São Paulo 1954) e complementadas com a interpretação das
imagens de satélite. As marcas de paleodrenagem foram encontradas através da
interpretação das imagens de satélite e dos dados geológicos dos mapas em escala
1:100.000 (Suguio & Martin 1978). Para os depósitos flúvio-marinhos não foram
mapeadas informações complementares. Para os depósitos marinhos, identificaram-se
dunas e cordões litorâneos. As informações sobre as dunas foram obtidas através dos
dados geológicos e da bibliografia, já que não são visíveis nas imagens orbitais. Os
cordões litorâneos foram reconhecidos através interpretação das imagens orbitais e
complementados com dados dos mapas geológicos de Suguio e Martin (1978). Para os
terraços marinhos foi reconhecida a borda de terraço marinho, que ocorre na transição
para os seguintes modelados de acumulação: planície marinha, planície e terraço fluvial e
planície e terraço flúvio-marinho.
No terceiro nível de identificação das cadeias cristalinas foram mapeadas escarpa de
linha de falha e linhas de cumeada, através da interpretação das imagens orbitais. Nas
áreas onde os esporões atingem o mar, no contato direto com as águas oceânicas, foram
encontradas falésias rochosas, também identificadas através da interpretação das
imagens orbitais.
Foram adaptados da legenda em função das formas resultantes para meso-escalas
(1:50.000), no primeiro nível de detalhamento, para a cadeia cristalina, colúvio e morros
isolados, que foram inseridos no terceiro nível de detalhamento para macro-escalas. A
presença de colúvio foi identificada através dos mapas geológicos de Suguio e Martin
(1978). A interpretação das imagens orbitais e dos dados geológicos (Suguio & Martin
1978) permitiram a identificação dos morros isolados.
Foram inseridas as letras-símbolos para o mapa baseado na técnica de Argento: Am
indica acumulação de planície marinha; Atm, acumulação de terraço marinho; Aptf
significa acumulação de planície e terraço fluvial e Afm, acumulação flúviomarinha. Para
o terceiro nível de identificação, colúvio é representado pela letra Ac.
Argento (1995) não propôs cores para o mapeamento. O exemplo de mapeamento
dado pelo autor apresenta preenchimentos. Portanto, o mapa final baseado em sua
técnica não apresenta cores. A legenda não é igual à apresentada por Nunes, Ribeiro e
Almeida (1994), que em sua técnica de mapeamento, que segue os mesmos padrões do
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Projeto RADAMBRASIL. A legenda proposta por Argento (1995) foi adaptada de forma
que o leitor possa entender como a técnica de mapeamento se dá em três níveis de
identificação para macro-escalas.
Resultados
Após a elaboração dos mapas geomorfológicos baseados nas técnicas de Nunes,
Ribeiro e Almeida (1994, Figura 3) e Argento (1995, Figura 4) realizaram-se análises sobre
a aplicação dos procedimentos técnicos para a cartografia das feições geomorfológicas da
área de estudo, buscando examinar a eficácia na transmissão das informações mapeadas.
Enfatizam-se aqui as diferentes concepções sobre a representação da litologia, dos
modelados e das legendas visto que a comparação entre os sistemas de simbologias é
possível o leitor realizar a partir da comparação entre as figuras apresentadas.
Cada técnica estudada apresenta uma concepção diferente para identificar os tipos de
modelados. Ao abordar a questão dos tipos de modelados presentes na área de estudo,
verifica-se a predominância de dois tipos de modelados: os de acumulação e os de
dissecação. Tais conjuntos mantêm estreita relação com a litologia. Assim, na construção
dos mapas geomorfológicos, fatores de extrema importância são o uso das cores, dos
preenchimentos que indicam a litologia e das letras-símbolos que identificam o
modelado.
A adaptação das cores para o mapa baseado na técnica de Nunes, Ribeiro e Almeida
(1994) foi feita através da leitura de um mapa geomorfológico do Projeto RADAMBRASIL,
já que o autor não apresenta uma proposta para preenchimento da litologia. A graduação
de cores propostas transmite a idéia de profundidade e mudança de altitude, não sendo
necessário o uso de letras-símbolos que identificam os modelados de acumulação.
Entretanto, as áreas serranas e morros isolados ficaram com preenchimento branco, não
havendo diferenciação entre os modelados de dissecação com topos em colinas (Dc) e os
de dissecação com topos aguçados (Da). Para a diferenciação destas unidades, o uso de
letras-símbolos torna-se extremamente necessário.
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Figura 3 – Fragmento do mapa geomorfológico elaborado segundo Nunes, Ribeiro e Almeida (1994)
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Figura 4 – Fragmento do mapa geomorfológico elaborado segundo Argento (1995).
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A proposta de um mapa em preto e branco feita por Argento (1995) é benéfica devido
aos menores custos financeiros em relação aos mapas coloridos. Os preenchimentos em
preto e branco são mais difíceis de serem visualizados em pequenas unidades e as letras-
símbolos tornam-se imprescindíveis para a sua identificação. Nas áreas cristalinas não
ocorre o uso de letras símbolos, pois, como será explicado mais adiante, os modelados de
dissecação fluvial e por controle fluvial foram generalizados em razão da utilização de
uma escala de pouco detalhe.
Quando se trata das áreas cristalinas (setores serranos e morros isolados), Nunes,
Ribeiro e Almeida (1994) propõe o cálculo da morfometria das fácies de dissecação. Na
fase de identificação das fácies de dissecação, não foi possível dividir a área cristalina em
setores muito pequenos, em razão da escala de trabalho, sendo necessário generalizar
muitas áreas. Sem a generalização, as unidades ficariam pequenas demais, inviabilizando
o cálculo da densidade e do aprofundamento da drenagem. Houve a necessidade de
cartas topográficas mais detalhadas para algumas unidades que não apresentavam
curvas de nível na base cartográfica, o que gerou mais dificuldades para poder chegar aos
cálculos de densidade e aprofundamento da drenagem.
A proposta de Argento (1995) para a elaboração da legenda para macro-escalas prevê
a existência do modelado de dissecação, subdividido em: dissecação fluvial (não obedece
a controle estrutural) e dissecação por controle fluvial. No entanto, apesar da
interpretação das imagens orbitais, a escala de pouco detalhe não permitiu que houvesse
diferenciação entre os modelados de dissecação.
A legenda do mapa geomorfológico baseado na técnica de Nunes, Ribeiro e Almeida
(1994) tem como suporte a legenda do Projeto RADAMBRASIL. Esta legenda se diferencia
pela descrição dos tipos de modelados presentes na área mapeada, bem como o cálculo
das morfometrias das fácies de dissecação.
A legenda proposta por Argento (1995), notificando as formas de relevo por níveis de
identificação possibilitou o mapeamento de certo número de formas. A escala de
trabalho não permitiu o mapeamento de grande número de feições, que talvez em uma
escala com mais detalhes, estivessem nítidas na imagem.
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Considerações Finais
A técnica de Nunes, Ribeiro e Almeida (1994), compilada do Projeto RADAMBRASIL,
apropriada para a escala de 1:250.000, é uma fonte confiável de consulta para a
realização de mapeamentos geomorfológicos. Seu diferencial é o cálculo da morfometria
da fácies de dissecação.
A proposta de Argento (1995) é interessante de ser utilizada, pois sua linha de
raciocínio em macro, meso e micro-escalas procura realizar um mapeamento compatível
com as possibilidades cartográficas do mapa a ser produzido. Assim, considera-se que as
duas propostas analisadas são importantes e a adaptação destas às condições
geomorfológicas locais garante produtos cartográficos de qualidade.
Agradecimentos
À FAPESP pelo financiamento da pesquisa – Processo 2008/10965-51430.
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Bibliografia
Argento, M. S. F. 1995, ‘Mapeamento Geomorfológico’ in Geomorfologia: uma
atualização de bases e conceitos. 2 ed. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro.
Griffiths, J. S. & Abraham, R. J. G. 2001, ‘The development of land surface evaluation for
engineering practice’, Engineering Geology Special Publications, v.18, p. 3-9.
Gustavsson, M; Kolstrup, E. & Seijmonsbergen, A. C. 2006, ‘A new symbol-and-GIS based
detailed geomorphological mapping system: Renewal of a scientific discipline for
understanding landscape development’, Geomorphology, n. 77, p. 90–111.
Instituto Geográfico e Geológico do Estado de São Paulo 1954. Folha Topográfica de
Iguape, São Paulo.
Instituto Geográfico e Geológico do Estado de São Paulo 1954. Folha Topográfica de São
Paulo, São Paulo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais 2000. LANDSAT TM7. São José dos Campos.
Nunes, B. A., Ribeiro, M. I. C. & Almeida, V. J. 1994, Manual Técnico de Geomorfologia.
IBGE, Rio de Janeiro.
Ross, J. L. S. 1991, Geomorfologia: Ambiente e planejamento, Contexto, São Paulo.
Suguio, K. & Martin, L. 1978, Mapas geológicos do litoral paulista: Cananéia e Iguape,
DAEE/USP/FAPESP, São Paulo.