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A ANÁLISE DO DISCURSO DOS GÊNEROS JORNALÍSTICOS: A ENTREVISTA E SEU ESTUDO NO MEIO ESCOLAR.
Adrieli Gouveia1 (Uni-FACEF) Orientadora: Profª. Dra. Ana Lúcia Furquim Campos-Toscano (Uni-FACEF)
Introdução
De acordo com os PCN, a entrevista aparece como instrumento
de trabalho, tanto na linguagem escrita e oral dos gêneros privilegiados para a
prática de escuta e leitura de textos quanto na prática de produção de textos
orais e escritos.
Ainda segundo os PCN, o trabalho com entrevistas poderia ser
feito quanto à forma, ensinando ao aluno que o gênero entrevista se estrutura
com perguntas e respostas que são redigidas na íntegra. Já seguindo a
perspectiva bakhtiniana, o estudo deveria evidenciar o processo de sua
produção, ou seja, as relações dialógicas e a sua contextualização sócio-
histórico-cultural.
Além do mais, quando se trata de adolescentes, é preciso
considerar seu comportamento e o conjunto de valores que atuam como forma
de identidade. Tudo isso implica no tipo de linguagem por eles usada como
incorporação e criação de modismos, vocabulário específico e formas de
expressão. Fatores como esses são, frequentemente, encontrados em
entrevistas de revistas destinadas a esse tipo de grupo social, pois a oralidade
é transcrita, muitas vezes, de forma integral.
Nas revistas voltadas a esse público, pela perspectiva bakhtiniana
sobre gêneros do discurso podemos dizer que, o conteúdo temático, a
construção composicional e, principalmente, o estilo estão todos voltados para
os jovens. É por meio do estilo que se presumirá a compreensão responsiva
1 Aluna regularmente matriculada no 5º semestre do Curso de Letras – Noturno e bolsista de Iniciação Científica pelo PIBIC – CNPq.
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ativa do enunciado, ou seja, o estilo do enunciado depende do outro e é
determinado de acordo com a imagem que o enunciador tem do interlocutor,
como na escolha dos recursos linguísticos e, no caso do discurso midiático, no
emprego de cores e na veiculação de anúncios publicitários, tudo é feito de
maneira a ser visto pelo jovem como parte de sua identidade.
Buscamos, assim, refletir sobre essa prática educativa no que se
refere às atividades de escuta e de leitura de textos orais e escritos objetivando
encontrar marcas da oralidade como forma de constituição de identidade do
sujeito entrevistado e na relação intersubjetiva entre enunciador/enunciatário
em um determinado contexto sócio-histórico-cultural. Assim sendo, analisamos
um artigo da revista Atrevida, de setembro de 2008, observando como é
construída a identidade do público ao qual se destina levando-se em conta sua
situação de produção e os valores sociais enunciados.
1 Propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais s obre práticas de
linguagem
De acordo com os PCN, o discurso se manifesta linguisticamente
por meio de textos, sendo um produto de uma atividade humana oral ou escrita
que apresenta uma sequência verbal constituída de relações que se
estabelecem pela coesão e coerência. Todo texto se organiza a partir de um
gênero que é escolhido de acordo com as intenções comunicativas. Na esteira
de Mikhail Bakhtin sobre gêneros do discurso, os PCN informam que, os
gêneros são caracterizados por três elementos: conteúdo temático, construção
composicional e estilo. Devido às variedades textuais, afirma-se que é
necessário tornar a noção de gênero como objeto de ensino enfatizando sua
diversidade e organização:
[...] A compreensão oral e escrita, bem como a produção oral e escrita de textos pertencentes a diversos gêneros, supõem o desenvolvimento de diversas capacidades que devem ser enfocadas nas situações de ensino. É preciso abandonar a crença na existência de um gênero prototípico que permitiria ensinar todos os gêneros em circulação social (BRASIL, 1998, p. 24).
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Para os PCN, a existência de um vasto número de gêneros torna
impossível seu ensino de maneira totalizada. Portanto, afirma ser necessário
priorizar os gêneros merecedores de uma abordagem mais profunda como os
que dizem respeito aos usos públicos da linguagem que contribuem para a
participação plena na sociedade:
[...] Os textos a serem selecionados são aqueles que, por suas características e usos, podem favorecer a reflexão crítica, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como a fruição estética dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participação numa sociedade letrada. (BRASIL, 1998, p. 24)
Os PCN dividem as práticas de linguagem em prática de escuta
de textos orais e leitura de textos escritos, selecionando a entrevista nas duas
práticas. No âmbito dos textos orais, pressupõe-se que os alunos já disponham
de uma competência discursiva e linguística, por isso a escola tem usado essa
modalidade somente para tratamento de conteúdos diversos. Entretanto os
PCN propõem uma construção de conhecimento por meio da oralidade. Não se
estuda a linguagem oral em si, ela é tratada como uma modalidade que permite
a troca de informações, confronto de opiniões, negociações dos sentidos e
avaliação dos processos pedagógicos em que estão inseridas. Para os PCN, a
capacidade de interpretar e produzir textos é entendida como a de ler e
escrever, isso pode ser notado em textos escritos adequados a principiantes
que são, em sua maioria, fragmentos. Tenta-se aproximar os textos aos alunos
enquanto se deveria fazer o contrário. Na perspectiva dos PCN, é de se
esperar que o escritor iniciante redija seus textos iniciais com grande influência
da oralidade.
Segundo os PCN, são colocadas duas razões para que a fala não
se misture com a escrita: a primeira é a de que ninguém escreve como fala. A
segunda é a de que existem regras estabelecidas para o sistema da escrita
como padrões de correção de todas as formas linguísticas. Esse último
fenômeno se associa à gramática tradicional que desconsidera qualquer
variação linguística que não respeite a norma padrão.
As variações são próprias das línguas humanas e sempre
existirão. O uso de uma ou de outra forma de expressão depende de fatores
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geográficos, socioeconômicos, de faixa etária, de gênero (sexo), da relação
entre os falantes e do contexto de fala. Embora esses fatores sejam
apresentados nos PCN, podemos levar a uma interpretação diferente como a
de que os gêneros não são puros e, dentro desse contexto, a escrita e a
oralidade podem aparecer lado a lado como os gêneros primários, que são
oriundos da comunicação cotidiana, presentes nos secundários, mais
complexos. Os Parâmetros Curriculares não privilegiam os gêneros como uma
maneira de enunciar valores, ideologias, vozes sociais e a relação com o outro,
mas sim, com a valorização da forma e com finalidade escolar, como afirma
Fiorin (2006, p. 60):
[...] Depois que os Parâmetros Curriculares Nacionais estabeleceram que o ensino de Português fosse feito com base nos gêneros, apareceram muitos livros didáticos que vêem o gênero como um conjunto de propriedades formais a que o texto deve obedecer. O gênero é, assim, um produto, e seu ensino torna-se, então, normativo. Sob a aparência de uma revolução no ensino de Português está-se dentro da mesma perspectiva normativa com que se ensinava gramática.
De acordo com os PCN, o ensino de norma padrão nas escolas
se dá pelo fato de que não tem sentido ensinar aos alunos o que eles já
sabem, pois a aula é o espaço para o desenvolvimento intelectual e linguístico
dos alunos. Isso significa aprender a manipular textos escritos variados e
adequar o registro oral às situações interlocutivas, o que implica o uso de
padrões mais próximos da escrita.
Os conteúdos de Língua Portuguesa articulam-se entre o uso das
linguagens oral e escrita e a reflexão sobre língua e linguagem. Em função
desses eixos, os conteúdos são organizados em “Prática de escrita e de leitura
de textos” e “Prática de produção de textos orais e escritos”. Essa seleção de
textos refere-se à prática de produção de textos e à análise linguística,
oferecendo modelos para serem seguidos como forma de sofisticação.
Os PCN propõem um trabalho com os gêneros jornalísticos em
sala de aula. Entretanto, tendo como base os gêneros do discurso do ponto de
vista de Mikhail Bakhtin2 pode-se notar que os gêneros não ocorrem de
2 Não nos interessamos, aqui, em discutir a autoria dos textos dos integrantes do Círculo de Bakhtin, composto por estudiosos e artistas como Bakhtin, Volochinov, Medviédiev e outros.
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maneira pura. Portanto, oralidade e escrita podem aparecer lado a lado dentro
de um mesmo enunciado. Existem também, como já mencionamos, elementos
que compõem os gêneros como: conteúdo temático, estilo e estrutura
composicional que são escolhidos de acordo com o enunciatário e a atividade
responsiva que se espera. Na escolha desses aspectos estão incluídas as
vozes sociais e as ideologias pretendidas, como podemos verificar no próximo
item quando discutimos as reflexões bakhtinianas sobre gêneros do discurso.
2 Os gêneros do discurso na perspectiva bakhtiniana
Os PCN valorizam o aspecto formal do texto, o que difere da
perspectiva bakhtiniana, pois, para o filósofo russo, são os gêneros que
determinam um enunciado que atende às finalidades de diferentes esferas das
atividades humanas. Por estar intimamente ligado ao enunciado, o estilo
funciona como um elemento do gênero e reflete a individualidade de quem fala.
Assim, as escolhas linguísticas estão voltadas para a intenção do enunciador
perante seu interlocutor.
Ao refletir sobre os gêneros discursivos, Bakhtin (2000) não teve
a pretensão de fazer um catálogo de todos os gêneros com a descrição de
cada um, pelo contrário, dada à variedade dos gêneros, virtude das
inesgotáveis atividades humanas, há uma complexidade e uma possibilidade
de alterações e ampliações. Nesse contexto, a escolha de gêneros a serem
priorizados não é adequada e pertinente pela perspectiva dos estudos
bakhtinianos. À medida que as esferas das atividades se desenvolvem e ficam
mais complexas, existem gêneros que desaparecem, gêneros que surgem,
outros se diferenciam e existem aqueles que ainda ganham novo sentido.
Para Bakhtin (2000), os gêneros são meios de apreender a
realidade. Mesmo que uma pessoa domine bem uma língua, sentirá dificuldade
ao participar de uma determinada esfera se não tiver o controle dos gêneros
que essa prática humana requer.
Os gêneros discursivos possibilitam a combinação entre as
formas oral e escrita. Essa relação entre gêneros é a melhor maneira para se
entender a formulação de que a produção da linguagem não está restrita ao
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plano verbal. A interação que possuímos com o cinema, programas de
televisão e formatos digitais se deve ao conhecimento adquirido por meio da
literatura, diálogos e outros gêneros da esfera secundária. No sentido de que
todo discurso é construído de forma a obter uma resposta, os gêneros
constituem-se em função das necessidades culturais e apresentam-se como
respostas às formações em curso. Assim, quando um diálogo entra para um
texto jornalístico, por exemplo, ele perde sua relação com o contexto da
comunicação primária e ganha lugar no contexto da comunicação escrita.
3 Os adolescentes e a busca pela identidade
Segundo Gracioli (2006), o termo adolescência foi adotado da
psicologia e psicanálise e relaciona essa fase à mudança da personalidade, da
mente e do corpo do ser humano para que este passe à vida adulta. A
juventude é um período vital que caracteriza um conjunto de reações
psicológicas que se ligam às transformações fisiológicas. Já a concepção do
jovem como categoria social é algo mais elaborado, pois recupera aspectos
biológicos e psicológicos situando-os na trajetória da inserção do jovem na
sociedade.
Em seus estudos, Gracioli (2006) mostra que foi entre 1870 e
1900 que o caminho para o descobrimento da juventude foi preparado e
difundida a idéia de que era necessário que os “jovens fossem jovens”. Mas foi
somente na metade do século XX que o conceito de adolescência se
democratizou separando os jovens dos adultos. No entanto, esse
descobrimento foi ambíguo, pois, de um lado, houve uma conquista e, de outro,
a revelação de um caráter conflitivo.
Para Gracioli (2006), o desenvolvimento dos meios de
comunicação possibilitou a popularização de uma cultura juvenil global com
uma linguagem diferenciada e universal e uma identidade que superava os
limites da comunidade. No que diz respeito ao âmbito social, houve uma
mudança de usos e costumes que superou o puritanismo dando lugar ao
liberalismo.
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Segundo Gracioli (2006), a concepção mais precisa de jovem foi
elaborada por Carles Feixa ao afirmar que a condição do jovem se estabelece
pelo tipo de organização social adotada pelo homem e se define como
construção cultural através do contexto e do momento histórico. A juventude é
construída através do social e formulada por circunstâncias econômicas,
sociais e políticas que estão sujeitas a modificações ao longo do tempo. Desse
modo, as relações entre as gerações estão sujeitas a alterações em diferentes
tempos e espaços sociais. A juventude pode ser definida como uma categoria
social e não apenas como uma faixa etária limitada. É um grupo caracterizado
pela diversidade.
De acordo com Papalia (2006), a principal tarefa da adolescência
é o confronto da própria identidade com uma confusão de identidades de
maneira a obter um adulto com um papel valorizado pela sociedade. Os
adolescentes usam outras pessoas como modelo, suas buscas consistem em
utilizar informações anteriores para formar uma nova estrutura. Nessa busca de
identidade, eles almejam afirmar e organizar suas habilidades, necessidades,
interesses e desejos que possam ser transportados para um contexto social. A
intolerância, um marco do ambiente social do jovem, funciona como uma
defesa contra a confusão de identidade.
De acordo com Moran (1992), os meios de comunicação
respondem à sensibilidade dos jovens, pois são dinâmicos, rápidos e capazes
de tocar o sentimento, a afetividade e, por último, a razão. A maior atração se
dá pela mistura das linguagens visual, falada, de movimento, musical e a
escrita em um mesmo contexto, de forma agradável, rápida e sintética. Existe,
também, uma mistura de assuntos e conteúdos como, por exemplo, notícia,
humor, imaginação, lazer, realidade, concreto, abstrato, presente, passado e
futuro. Esses meios se adaptam ao ritmo dos jovens. A ficção e a informação
são transformadas em espetáculos que mexem com os sentimentos e emoções
dos jovens por encontrar alguma resposta ao que esses procuram, mesmo que
de forma inconsciente.
Apesar de todos os problemas e diferenças que os jovens
apresentam em relação à vida, os estudos de Abramo (2005) apontam que
ainda existe um grau de positividade, ou seja, há mais coisas boas do que ruins
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em ser jovem. Em sua grande maioria, os jovens encontram-se satisfeitos com
sua saúde, aparência física, capacidade de tomar decisões, família, amizades,
relações afetivas, com a maneira que ocupam seu tempo livre e com suas
condições materiais. Dois tópicos são apontados, unanimemente, como os
principais para tornarem a adolescência uma fase positiva: a pouca carga de
responsabilidade e a possibilidade de se divertir mais. No que diz respeito aos
aspectos negativos estão: a convivência com riscos, a falta de liberdade e de
emprego. No que diz respeito ao trabalho, a situação ainda divide os jovens
deixando a maioria insatisfeita.
Segundo estudos de Abramo (2005), para a maioria dos jovens,
enquanto o melhor da juventude é aproveitar a vida, a mesma termina quando
começam as responsabilidades com filhos e família. Não existe, portanto, uma
noção de idade, ou seja, essa fase da vida é definida pela responsabilidade,
quanto menor for, mais se está vivendo a juventude e, quando as
responsabilidades aumentam, é porque a vida adulta está se iniciando.
4 Entrevista: PCN versus teoria bakhtiniana
A revista Atrevida apresenta, com frequência, artigos que
aconselham os adolescentes a enfrentar as dificuldades dessa fase, como os
namoros, as paqueras e desentendimentos familiares, o que configura um
conteúdo temático voltado para os valores sociais desse grupo. Também,
muitas vezes, essas sugestões são seguidas de depoimentos de adolescentes,
com a indicação dos nomes, idade e local, evidenciando, assim, um discurso
veridictório, ou seja, ao apresentar essas referências, o discurso veiculado pela
revista se aproxima da realidade. Os depoimentos apresentam marcas de
oralidade e pressupõem a realização de uma entrevista realizada anteriormente
à produção do artigo.
A seguir, apresentamos o artigo “Eu amo meu ídolo!”, veiculado
na edição de setembro de 2008. Segundo Medina (1995), essa forma de
entrevista que temos é chamada de entrevista diálogo, pois se trata de uma
busca em comum. Procura-se uma verdade que pode dizer respeito à pessoa
ou ao problema do entrevistado. A característica mais marcante da entrevista,
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no âmbito jornalístico, é a segmentação em que o adolescente, por exemplo,
ganha títulos e tratamentos específicos.
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No início do artigo, a “chamada” para a matéria já configura a
identidade juvenil:
Quem é realmente apaixonada por um famoso sabe o quanto é barra sofrer por alguém com quem não se pode ter contato sempre. Além de tudo, as fãs mais dedicadas ainda têm que agüentar brincadeiras dos amigos e até dos próprios pais. É o seu caso? Então, saiba como enfrentar tudo isso numa boa (ATREVIDA, setembro 2008, p. 74).
No discurso do enunciador, podemos perceber fortes marcas da
oralidade através dos termos “barra” e “numa boa” que são utilizados de forma
a obter uma atitude responsiva dos jovens. A interrogação “É o seu caso?”
também contribui para uma identificação, pois se não for o caso pelo qual a
leitora está passando, ela não precisará ler o artigo, mas como essa é uma
fase em que os jovens estão buscando pela formação de sua identidade, é
pouco provável que alguma adolescente não se sinta atraída por essa
“chamada”:
[...] E não é a toa que se apaixonar por um famoso é comum na adolescência. É muito fácil se apaixonar por um ídolo. Como não conhecemos a pessoa, projetamos nela nossos sonhos e desejos. O famoso acaba virando o menino ideal [...] (ATREVIDA, setembro 2008, p. 74).
Todas as jovens sofrem ou já sofreram por um amor platônico. Os
temas são todos elaborados a partir de algo em comum entre os jovens a fim
de se obter o resultado esperado: as vendas da revista. Na fase de
descobertas, o amor é uma delas e, para suprir essa necessidade, muitas
meninas acabam procurando dar esse sentimento a pessoas em que existe
uma possibilidade muito remota de dar certo. Mas à medida que vão crescendo
e amadurecendo, sentem necessidade de receber esse amor também e é
nesse ponto que o ídolo é trocado por meninos comuns.
Os depoimentos das garotas dão um aspecto mais verídico ao
artigo, pois estão expondo seus sentimentos, ou seja, qualquer pessoa pode
desenvolver esse tipo de sentimento por um artista. Por meio desses
depoimentos também podemos verificar as vozes sociais que configuram o
artigo, são jovens entre 14 e 16 anos de idade que possuem uma classe social
que lhes permite viajar e comprar vários objetos relacionados a seu ídolo e que
buscam qualquer tipo de informação sobre ele, por isso são atentas aos meios
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de comunicação, principalmente internet, que lhes proporcionam maiores
informações.
“Sei que parece infantil amar alguém que eu nunca vi, mas não simplesmente ignorar o que sinto”. A frase, da Lahana Cristo, de 14 anos, bem poderia estar na boca de milhares de adolescentes. Há dois anos ela dedica boa parte dos seus dias ao baixista Bryan Donahue, da banda Boys Like Girls [...] (ATREVIDA, setembro 2008, p. 74). “Entro no fotolog do Tavares todos os dias. Adoro as coisas que ele escreve! Ele é o cara ideal! Para me atrair, o menino precisa ser parecido com ele”. Parece que Luíse Ribeiro Macedo, de 16 anos já está em outro estágio daquele amor platônico [...] (ATREVIDA, setembro 2008, p. 75). “Sou viciada em Catch Side. Passo boa parte do meu tempo pesquisando sobre o grupo e baixando vídeos. Minhas amigas ficam arretadas comigo porque eu só sei falar do Kaká, vocalista da banda. Mas o que eu posso fazer?” o que mais incomoda Mariana Matos Gonçalves, de 14 anos, não é nem o fato de que sua paixão não seja correspondida [...] (ATREVIDA, setembro 2008, p. 75). “Faço as maiores loucuras pelos meus ídolos! Já assisti a mais de 20 shows do COM, largo tudo, pego ônibus e vou! Uma vez, entreguei uma prova correndo e viajei duas horas para chegar a tempo de ver o finzinho de uma apresentação”. Gabriela Raabe, de 16 anos, não mede esforços quando o objetivo é chegar mais perto da sua banda preferida [...] (ATREVIDA, setembro 2008, p. 76).
Os depoimentos são marcados por aspas, isso mostra que é a
fala de outra pessoa que não a do enunciador, ou seja, a fala das pessoas
entrevistadas para a produção da matéria. Percebemos marcas da oralidade
como, por exemplo, “arretadas” que, além de representar um gíria também
serve de marcação regional, pois essa palavra é usada somente em algumas
regiões do Brasil. A veracidade do artigo é obtida através dos nomes e da
idade das garotas logo após o depoimento: “Gabriela Raabe, de 16 anos”.
Esses depoimentos são comentados por uma psicoterapeuta o que funciona
como uma solução, dada por uma profissional, para os problemas das leitoras.
O discurso da psicoterapeuta é um discurso de autoridade, pois se trata de
uma pessoa cuja voz tem autoridade, inclusive profissional, para discutir esses
problemas.
Segundo Medina (1995), no contexto dos estudos jornalísticos, a
entrevista funciona como interação social e quebra de isolamentos grupais,
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individuais e sociais. Serve também como pluralizadora de vozes e como uma
distribuição democrática da informação, seu fim é o inter-relacionamento
humano. Os participantes da entrevista se interagem, modificam, revelam,
crescem no conhecimento do mundo e deles próprios. Nesse discurso
veiculado na revista, por exemplo, é possível verificar que o enunciador, em
seu intuito discursivo de se aproximar dos valores sociais dos jovens, expõe
atitudes, medos e inseguranças das adolescentes em relação aos namoros e
“ficadas”. Configura-se, assim, a identidade dos adolescentes enunciada por
uma revista que expõe a voz juvenil para obter a aceitação desse grupo social.
Conclusão
Os PCN entendem que se deve trabalhar os gêneros do discurso
e sugerem alguns como os jornalísticos. Eles citam a entrevista como um texto
possível para se trabalhar em sala de aula, mas propõem as modalidades
escrita e oral separadamente.
Ao refletir sobre o diálogo como forma de comunicação, Bakhtin
(2000) valorizou esferas da linguagem que não estão nos limites de um único
meio. Assim, os gêneros discursivos são realizações das interações produzidas
na esfera da comunicação verbal e, por essa perspectiva, há de se levar em
consideração os valores sociais dos sujeitos da comunicação, o que evidencia
uma concepção de linguagem e sua relação com o social, diferentemente dos
PCN que tratam o estudo dos gêneros de maneira escolarizada, ou seja, como
uma classificação, muitas vezes, voltadas para a leitura e a escrita por meio de
modelos.
Também, pela análise feita, verificamos que a oralidade e a
escrita podem ocorrer lado a lado dentro de um mesmo texto. Isso se
comprova pelo conteúdo temático, a estrutura composicional e o estilo que,
criados de forma a atender a demanda de um determinado grupo social,
funcionam para a constituição de um gênero, no caso artigos de revistas
destinadas a adolescentes. Revela-se, desse modo, a identidade desses
jovens, ou seja, seus valores sociais, suas inseguranças, desejos e suas ações
numa época em que as relações amorosas são marcadas pela efemeridade e
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pelas sensações prazerosas e momentâneas que o contato físico pode
proporcionar.
Gêneros, escolhas verbo-visuais, intenções comunicativas, entre
outros fatores, tudo está inter-relacionado. Portanto, a exclusão ou omissão de
um desses fatores, como, em alguns momentos, apresentam os PCN,
descaracteriza as reflexões bakhtinianas.
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Referências
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