Post on 15-Feb-2021
Índice
Nota Editorial — Sinais deste
nosso tempo.
Jorge Bento.
Objectivos de realização, clima
motivacional e ansiedade no Futebol:
Um estudo com jogadores do
escalão de Escolas.
Simão Coroa, Cláudia Dias, Júlio Garganta,
Nuno Corte-Real, António Manuel Fonseca.
As representações pedagógicas
de treinadores desportivos
de jovens: Três estudos de caso
no Basquetebol.
Valmor Ramos, Amândio Graça, Juarez Vieira
do Nascimento, Rudney da Silva.
Análise exploratória
e confirmatória à estrutura factorial da
versão portuguesa do Self-Perception
Profile for Adolescents (SPPAp).
António Manuel Fonseca, Cláudia Dias,
Nuno Corte-Real, Anabela Pereira, Robert Brustad.
9
16
33
50
67
84
96
111
Porque equacionam os jovens abandonar
a prática desportiva? Estudo realizado
com crianças e jovens, com idades
compreendidas entre os 10 e os 18 anos,
das regiões Norte, Centro e Sul de Portugal
Cláudia Dias, Nuno Corte-Real, Luís Catita,
André Barreiros, Robert Brustad, António Manuel Fonseca.
Caracterização da prática desportiva
de voleibolistas portugueses em função
do nível de expertise e do género.
Patrícia Coutinho, Carolina Hax, Isabel Mesquita.
Agregação familiar nos níveis e padrões
de atividade física. Uma revisão breve
do estado da arte.
Thayse Gomes, Fernanda Santos, Raquel Chaves,
Rui Garganta, André Seabra, José Maia.
A propósito da prática desportiva
e dos estilos de vida dos adolescentes...
Nuno Corte-Real.
2011/2
Corpo editorial da rpCd
Director Jorge Olímpio Bento (UNIVERSIDADE DO PORTO)
conselho eDitorial Adroaldo Gaya (UNIVERSIDADE FEDERAL RIO GRANDE SUL, BRASIL) António Prista (UNIVERSIDADE PEDAGóGICA, MOçAMBIqUE) Eckhard Meinberg (UNIVERSIDADE DESPORTO COLóNIA, ALEMANHA) Gaston Beunen (UNIVERSIDADE CATóLICA LOVAINA, BéLGICA) Go Tani (UNIVERSIDADE SãO PAULO, BRASIL) Ian Franks (UNIVERSIDADE DE BRITISH COLUMBIA, CANADá) João Abrantes (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA, PORTUGAL) Jorge Mota (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Alberto Duarte (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Michael Sagiv (INSTITUTO WINGATE, ISRAEL) Neville Owen (UNIVERSIDADE DE qUEENSLAND, AUSTRáLIA) Rafael Martín Acero (UNIVERSIDADE DA CORUNHA, ESPANHA) Robert Brustad (UNIVERSIDADE DE NORTHERN COLORADO, USA) Robert M. Malina (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE TARLETON, USA)
eDitor chefe António Manuel Fonseca (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
eDitores associaDos Amândio Graça (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) António Ascensão (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) João Paulo Vilas Boas (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Oliveira (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)José Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Júlio Garganta (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Olga Vasconcelos (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Rui Garcia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
consultores Alberto Amadio (UNIVERSIDADE SãO PAULO) Alfredo Faria Júnior (UNIVERSIDADE ESTADO RIO JANEIRO) Almir Liberato Silva (UNIVERSIDADE DO AMAzONAS) Anthony Sargeant (UNIVERSIDADE DE MANCHESTER) António José Silva (UNIVERSIDADE TRáS-OS-MONTES E ALTO DOURO) António Roberto da Rocha Santos (UNIV. FEDERAL PERNAMBUCO) Carlos Balbinotti (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) Carlos Carvalho (INSTITUTO SUPERIOR DA MAIA) Carlos Neto (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Cláudio Gil Araújo (UNIVERSIDADE FEDERAL RIO JANEIRO) Dartagnan P. Guedes (UNIVERSIDADE ESTADUAL LONDRINA) Duarte Freitas (UNIVERSIDADE DA MADEIRA) Eduardo Kokubun (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO) Eunice Lebre (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Francisco Alves (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Francisco Camiña Fernandez (UNIVERSIDADE DA CORUNHA) Francisco Carreiro da Costa (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA)Francisco Martins Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL PARAíBA) Glória Balagué (UNIVERSIDADE CHICAGO) Gustavo Pires (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Hans-Joachim Appell (UNIVERSIDADE DESPORTO COLóNIA) Helena Santa Clara (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Hugo Lovisolo (UNIVERSIDADE GAMA FILHO) Isabel Fragoso (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Jaime Sampaio (UNIVERSIDADE DE TRáS-OS-MONTES E ALTO DOURO)Jean Francis Gréhaigne (UNIVERSIDADE DE BESANçON) Jens Bangsbo (UNIVERSIDADE DE COPENHAGA) João Barreiros (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) José A. Barela (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)José Alves (ESCOLA SUPERIOR DE DESPORTO DE RIO MAIOR) José Luis Soidán (UNIVERSIDADE DE VIGO) José Manuel Constantino (UNIVERSIDADE LUSóFONA) José Vasconcelos Raposo (UNIV. TRáS-OS-MONTES ALTO DOURO)Juarez Nascimento (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA) Jürgen Weineck (UNIVERSIDADE ERLANGEN) Lamartine Pereira da Costa (UNIVERSIDADE GAMA FILHO) Lilian Teresa Bucken Gobbi (UNIV. ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)Luis Mochizuki (UNIVERSIDADE SãO PAULO) Luís Sardinha (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Luiz Cláudio Stanganelli (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA)Manoel Costa (UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO) Manuel João Coelho e Silva (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) Manuel Patrício (UNIVERSIDADE DE éVORA) Manuela Hasse (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Marco Túlio de Mello (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SãO PAULO) Margarida Espanha (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Margarida Matos (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Maria José Mosquera González (INEF GALIzA) Markus Nahas (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA) Mauricio Murad (UNIVERS. ESTADO RIO DE JANEIRO E UNIVERSO)Ovídio Costa (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
Pablo Greco (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS) Paula Mota (UNIVERSIDADE DE TRáS-OS-MONTES E ALTO DOURO) Paulo Farinatti (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO) Paulo Machado (UNIVERSIDADE MINHO) Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA) Ricardo Petersen (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) Sidónio Serpa (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Silvana Göllner (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) Valdir Barbanti (UNIVERSIDADE SãO PAULO) Víctor da Fonseca (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA) Víctor Lopes (INSTITUTO POLITéCNICO BRAGANçA) Víctor Matsudo (CELAFISCS) Wojtek Chodzko-zajko (UNIVERS. ILLINOIS URBANA-CHAMPAIGN)
FiCha téCniCa da rpCd
revista portuguesa de Ciências do desporto publicação quadrimestral da Faculdade de desporto da Universidade do porto [ISSN 1645-0523]
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COM AUTORIzAçãO ESCRITA DO DIRECTOR.
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REVISTA PORTUGUESA DE CIêNCIAS DO DESPORTO faculdade de Desporto da universidade do Porto rua Dr. Plácido costa, 91 4200.450 Porto — Portugal tel: +351—225074700; fax: +351—225500689 www.fade.up.pt expediente@fade.up.pt
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A rpCd TEM O APOIO DA FCt
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TECNOLOGIA, INOVAçãO DO qUADRO
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normas de pUbliCação na rpCd
tiPos De PublicaçãoINVESTIGAçãO ORIGINAL
RPCD publica artigos originais relativos a todas as áreas das ciências do desporto;
REVISõES DA INVESTIGAçãO
A RPCD publica artigos de síntese da literatura que contribuam para a generalização do conhecimento em ciências do desporto. Artigos de meta-análise e revisões críticas de literatura são dois possíveis modelos de publicação. Porém, este tipo de publicação só estará aberto a especialistas convidados pela RPCD.
COMENTáRIOS
Comentários sobre artigos originais e sobre revisões da investigação são, não só publicáveis, como são francamente encorajados pelo corpo editorial;
ESTUDOS DE CASO
A RPCD publica estudos de caso que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto. O controlo rigoroso da metodologia é aqui um parâmetro determinante.
ENSAIOS
A RPCD convidará especialistas a escreverem ensaios, ou seja, reflexões profundas sobre determinados temas, sínteses de múltiplas abordagens próprias, onde à argumentação científica, filosófica ou de outra natureza se adiciona uma forte componente literária.
REVISõES DE PUBLICAçõES
A RPCD tem uma secção onde são apresentadas revisões de obras ou artigos publicados e que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto.
regras gerais De PublicaçãoOs artigos submetidos à RPCD deverão conter dados originais, teóricos ou experimentais, na área das ciências do desporto. A parte substancial do artigo não deverá ter sido publicada em mais nenhum local. Se parte do artigo foi já apresentada publicamente deverá ser feita referência a esse facto na secção de Agradecimentos.Os artigos submetidos à RPCD serão, numa primeira fase, avaliados pelo editor-chefe e terão como critérios iniciais de aceitação: normas de publicação, relação do tópico tratado com as ciências do desporto e mérito científico. Depois desta análise, o artigo, se for considerado previamente aceite, será avaliado por 2 “referees” independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. A aceitação de um e a rejeição de outro obrigará a uma 3ª consulta.
PreParação Dos ManuscritosASPECTOS GERAIS
Cada artigo deverá ser acompanhado por uma carta de rosto que deverá conter:
— Título do artigo e nomes dos autores; — Declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.
FORMATO:
— Os manuscritos deverão ser escritos em papel A4 com 3 cm de margem, letra 12 com duplo espaço e não exceder 20 páginas; — As páginas deverão ser numeradas sequencialmente, sendo a página de título a nº1.
DIMENSõES E ESTILO: — Os artigos deverão ser o mais sucintos possível; A especulação deverá ser apenas utilizada quando os dados o permitem e a literatura não confirma; — Os artigos serão rejeitados quando escritos em português ou inglês de fraca qualidade linguística;
— As abreviaturas deverão ser as referidas internacionalmente.
PáGINA DE TíTULO:
— A página de título deverá conter a seguinte informação: — Especificação do tipo de trabalho (cf. Tipos de publicação); — Título conciso mas suficientemente informativo; — Nomes dos autores, com a primeira e a inicial média (não incluir graus académicos) — “Running head” concisa não excedendo os 45 caracteres; — Nome e local da instituição onde o trabalho foi realizado; - Nome e morada do autor para onde toda a correspondência deverá ser enviada, incluindo endereço de e-mail
PáGINA DE RESUMO:
— Resumo deverá ser informativo e não deverá referir-se ao texto do artigo; — Se o artigo for em português o resumo deverá ser feito em português e em inglês — Deve incluir os resultados mais importantes que suportem as conclusões do trabalho; — Deverão ser incluídas 3 a 6 palavras-chave; — Não deverão ser utilizadas abreviaturas; — O resumo não deverá exceder as 200 palavras.
INTRODUçãO:
— Deverá ser suficientemente compreensível, explicitando claramente o objectivo do trabalho e relevando a importância do estudo face ao estado actual do conhecimento; — A revisão da literatura não deverá ser exaustiva.
MATERIAL E MéTODOS:
— Nesta secção deverá ser incluída toda a informação que permite aos leitores realizarem um trabalho com a mesma metodologia sem contactarem os autores; — Os métodos deverão ser ajustados ao objectivo do estudo; deverão ser replicáveis e com elevado grau de fidelidade; — quando utilizados humanos deverá ser indicado que os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínquia
de 1975); — quando utilizados animais deverão ser utilizados todos os princípios éticos de experimentação animal e, se possível, deverão ser submetidos a uma comissão de ética; — Todas as drogas e químicos utilizados deverão ser designados pelos nomes genéricos, princípios activos, dosagem e dosagem; — A confidencialidade dos sujeitos deverá ser estritamente mantida; — Os métodos estatísticos utilizados deverão ser cuidadosamente referidos.
RESULTADOS:
— Os resultados deverão apenas conter os dados que sejam relevantes para a discussão; — Os resultados só deverão aparecer uma vez no texto: ou em quadro ou em figura; — O texto só deverá servir para relevar os dados mais relevantes e nunca duplicar informação; — A relevância dos resultados deverá ser suficientemente expressa; — Unidades, quantidades e fórmulas deverão ser utilizados pelo Sistema Internacional (SI units). — Todas as medidas deverão ser referidas em unidades métricas.
DISCUSSãO:
— Os dados novos e os aspectos mais importantes do estudo deverão ser relevados de forma clara e concisa; — Não deverão ser repetidos os resultados já apresentados; — A relevância dos dados deverá ser referida e a comparação com outros estudos deverá ser estimulada; — As especulações não suportadas pelos métodos estatísticos não deverão ser evitadas; — Sempre que possível, deverão ser incluídas recomendações; — A discussão deverá ser completada com um parágrafo final onde são realçadas as principais conclusões do estudo.
AGRADECIMENTOS:
— Se o artigo tiver sido parcialmente apresentado publicamente deverá aqui ser referido o facto; — qualquer apoio financeiro deverá ser referido.
REFERêNCIAS
— As referências deverão ser citadas no texto por número e compiladas alfabeticamente e ordenadas numericamente; — Os nomes das revistas deverão ser abreviados conforme normas internacionais (ex: Index Medicus); — Todos os autores deverão ser nomeados (não utilizar et al.) — Apenas artigos ou obras em situação de “in press” poderão ser citados. Dados não publicados deverão ser utilizados só em casos excepcionais sendo assinalados como “dados não publicados”; — Utilização de um número elevado de resumos ou de artigos não “peer-reviewed” será uma condição de não aceitação;
ExEMPLOS DE REFERêNCIAS:
ARTIGO DE REVISTA
1 Pincivero DM, Lephart SM, Karunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. Int J Sports Med 18: 113-117 LIVRO COMPLETO Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London: Academic Press Inc. Ltd. CAPíTULO DE UM LIVRO Balon TW (1999). Integrative biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURAS
— Figuras e ilustrações deverão ser utilizadas quando auxiliam na melhor compreensão do texto; — As figuras deverão ser numeradas em numeração árabe na sequência em que aparecem no texto; - As figuras deverão ser impressas em folhas separadas daquelas contendo o corpo de texto do manuscrito. No ficheiro informático em processador de texto, as figuras deverão também ser colocadas separadas do corpo de texto nas páginas finais do
manuscrito e apenas uma única figura por página; — As figuras e ilustrações deverão ser submetidas com excelente qualidade gráfico, a preto e branco e com a qualidade necessária para serem reproduzidas ou reduzidas nas suas dimensões; — As fotos de equipamento ou sujeitos deverão ser evitadas.qUADROS
— Os quadros deverão ser utilizados para apresentar os principais resultados da investigação. — Deverão ser acompanhados de um título curto; — Os quadros deverão ser apresentados com as mesmas regras das referidas para as legendas e figuras; — Uma nota de rodapé do quadro deverá ser utilizada para explicar as abreviaturas utilizadas no quadro.
subMissão Dos Manuscritos— A submissão de artigos para à RPCD poderá ser efectuada por via postal, através do envio de 1 exemplar do manuscrito em versão impressa em papel, acompanhada de versão gravada em suporte informático (CD-ROM ou DVD) contendo o artigo em processador de texto Microsoft Word (*.doc). - Os artigos poderão igualmente ser submetidos via e-mail, anexando o ficheiro contendo o manuscrito em processador de texto Microsoft Word (*.doc) e a declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.
ENDEREçOS PARA ENVIO
DE ARTIGOS
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa,Porto Portugal(+351) 914 200 450e-mail: rpcd@fade.up.pt
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Working Materials (ManuscriPts)ORIGINAL INVESTIGATION
The PJSS publishes original papers related to all areas of Sport Sciences.
REVIEWS OF THE LITERATURE
(STATE OF THE ART PAPERS): State of the art papers or critical literature reviews are published if, and only if, they contribute to the generalization of knowledge. Meta-analytic papers or general reviews are possible modes from contributing authors. This type of publication is open only to invited authors.
COMMENTARIES: Commentaries about published papers or literature reviews are highly recommended by the editorial board and accepted.
CASE STUDIES: Highly relevant case studies are favoured by the editorial board if they contribute to specific knowledge within the framework of Sport Sciences research. The meticulous control of research methodology is a fundamental issue in terms of paper acceptance.
ESSAyS: The PJSS shall invite highly regarded specialists to write essays or careful and deep thinking about several themes of the sport sciences mainly related to philosophy and/or strong argumentation in sociology or psychology.
BOOK REVIEWS: the PJSS has a section for book reviews.
general Publication rules: All papers submitted to the PJSS are obliged to have original data, theoretical or experimental, within the realm of Sport Sciences. It is mandatory that the submitted paper has not yet been published elsewhere. If a minor part of the paper was previously published, it has to be stated explicitly in the acknowledgments section.
All papers are first evaluated by the editor in chief, and shall have as initial criteria for acceptance the following: fulfilment of all norms, clear relationship to Sport Sciences, and scientific merit. After this first screening, and if the paper is firstly accepted, two independent referees shall evaluate its content in a
“double blind” fashion. A third referee shall be considered if the previous two are not in agreement about the quality of the paper.After the referees receive the manuscripts, it is hoped that their reviews are posted to the editor in chief in no longer than a month.
ManuscriPt PreParation GENERAL ASPECTS:
The first page of the manuscript has to contain: — Title and author(s) name(s) — Declaration that the paper has never been published
FORMAT:
— All manuscripts are to be typed in A4 paper, with margins of 3 cm, using Times New Roman style size 12 with double space, and having no more than 20 pages in length. — Pages are to be numbered sequentially, with the title page as n.1.
SIzE AND STyLE:
— Papers are to be written in a very precise and clear language. No place is allowed for speculation without the boundaries of available data. — If manuscripts are highly confused and written in a very poor Portuguese or English they are immediately rejected by the editor in chief. — All abbreviations are to be used according to international rules of the specific field.
TITLE PAGE:
— Title page has to contain the following information: — Specification of type of manuscript (but see working materials-manuscripts). — Brief and highly informative title. — Author(s) name(s) with first and middle
names (do not write academic degrees) — Running head with no more than 45 letters. — Name and place of the academic institutions. — Name, address, Fax number and email of the person to whom the proof is to be sent.
ABSTRACT PAGE:
— The abstract has to be very precise and contain no more than 200 words, including objectives, design, main results and conclusions. It has to be intelligible without reference to the rest of the paper. — Portuguese and English abstracts are mandatory. — Include 3 to 6 key words. — Do not use abbreviations.
INTRODUCTION:
— Has to be highly comprehensible, stating clearly the purpose(s) of the manuscript, and presenting the importance of the work. — Literature review included is not expected to be exhaustive.
MATERIAL AND METHODS:
— Include all necessary information for the replication of the work without any further information from authors. — All applied methods are expected to be reliable and highly adjusted to the problem. — If humans are to be used as sampling units in experimental or non-experimental research it is expected that all procedures follow Helsinki Declaration of Human Rights related to research. — When using animals all ethical principals related to animal experimentation are to be respected, and when possible submitted to an ethical committee. — All drugs and chemicals used are to be designated by their general names, active principles and dosage. — Confidentiality of subjects is to be maintained. — All statistical methods used are to be precisely and carefully stated.
RESULTS:
— Do provide only relevant results that are useful for discussion. — Results appear only once in Tables or Figures. — Do not duplicate
information, and present only the most relevant results. — Importance of main results is to be explicitly stated. — Units, quantities and formulas are to be expressed according to the International System (SI units). — Use only metric units.
DISCUSSION:
— New information coming from data analysis should be presented clearly. — Do no repeat results. — Data relevancy should be compared to existing information from previous research. — Do not speculate, otherwise carefully supported, in a way, by insights from your data analysis. — Final discussion should be summarized in its major points.
ACKNOWLEDGEMENTS:
— If the paper has been partly presented elsewhere, do provide such information. — Any financial support should be mentioned.
REFERENCES:
— Cited references are to be numbered in the text, and alphabetically listed. — Journals´ names are to be cited according to general abbreviations (ex: Index Medicus). — Please write the names of all authors (do not use et al.). — Only published or “in press” papers should be cited. Very rarely are accepted “non published data”. — If non-reviewed papers are cited may cause the rejection of the paper.
ExAMPLES:
PEER-REVIEW PAPER
1 Pincivero DM, Lephart SM, Kurunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. In J Sports Med 18:113-117COMPLETE BOOK Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London:Academic Press Inc. Ltd.BOOK CHAPTER Balon TW (1999). Integrative
biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURES
— Figures and illustrations should be used only for a better understanding of the main text. — Use sequence arabic numbers for all Figures. — Each Figure is to be presented in a separated sheet with a short and precise title. — In the back of each Figure do provide information regarding the author and title of the paper. Use a pencil to write this information. — All Figures and illustrations should have excellent graphic quality I black and white. — Avoid photos from equipments and human subjects.TABLES — Tables should be utilized to present relevant numerical data information. — Each table should have a very precise and short title. — Tables should be presented within the same rules as Legends and Figures. — Tables´ footnotes should be used only to describe abbreviations used.
ManuscriPt subMission The manuscript submission could be made by post sending one hard copy of the article together with an electronic version [Microsoft Word (*.doc)] on CD-ROM or DVD. Manuscripts could also be submitted via e-mail attaching an electronic file version [Microsoft Word (*.doc)] together with the declaration that the paper has never been previously published.
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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, Porto Portugal(+351) 914 200 450e-mail: rpcd@fade.up.pt
nota editorial
Sinais deste
nosso tempo
1. a mitologia grega proclama que os humanos se distinguem dos outros seres por cultivarem
a terra, viverem do seu esforçado labor e por terem lei. porém quando olhamos para as figuras
‘notáveis’, esta marca é cada vez mais rara e difícil de encontrar. ao invés, proliferam os enzo-
neiros, espertalhões e vigaristas, oportunistas e trapaceiros. movem-se como o peixe na água,
driblam com todo o descaramento, tranquilidade e desfaçatez os normativos legais e a obrigação
de ganhar o pão com o suor do rosto (um mandamento estipulado por deus e registado na bíblia!).
sobejam as mensagens, provas e revelações, trazidas por hermes (igual e cumulativa-
mente deus dos comerciantes, jornalistas e ladrões!), de que, pouco a pouco, se instala e
expande impunemente uma conjuração para o crime de colarinho branco, organizado e
praticado, de modo obsceno e insolente, sem quaisquer rebates de consciência ou receio
de violar e enfrentar o quadro jurídico constitucionalmente instituído. este vai ainda sub-
sistindo no papel, mas assemelha-se progressivamente a um castiçal e ornamento ou a
uma peça de museu; a sua observância e aplicação prática vão caindo em desuso ou então
destinam-se quase exclusivamente às pessoas dotadas de apurada sensibilidade ética e
moral, às que não têm notoriedade pública ou não dispõem de meios para contratar instru-
mentos, expedientes e agentes de exploração, ludíbrio e distorção das leis.
de resto o sistema judicial encarrega-se — não poucas vezes e salvo exceções que sur-
preendem pela crescente raridade — de lançar achas para a fogueira da falta de transpa-
rência e da acusação de não ser isento e equitativo para todos, mas antes cego, surdo e
mudo para os abusos e desmandos dos omnipotentes e mediáticos, ateando assim as já
altas labaredas do descrédito e da desconfiança.
eJorge olímpio bento 1
1 Diretor da revista Portuguesa de ciências do Desporto
É preciso que lutemos pela lei como pelas muralhas da cidade.
heráclito, cerca De 544 — 484 a.c.
9 — RPcd 11 (2): 9-15
2. a máxima de platão (“a verdade é a beleza no seu máximo esplendor”) vê-se substituída
por estoutra: “a verdade oficial, oficiosa e pública é a mentira no seu máximo despudor”.
Com efeito a mentira instalou-se, tornou-se rotina compulsiva e vem constituindo a base,
o fuste e o capitel do sistema político e financeiro, apesar de a verdade continuar límpida e
cristalina, estar bem à nossa frente e ser nítida à vista desarmada como o sol do meio-dia.
no entanto parece inútil denunciar a primeira e afirmar a segunda. até porque quem a isso
se atreve é apontado a dedo como conservador e retrógrado (ou coisa pior) e gerador de pro-
blemas, é objecto de escárnio, de riso, insulto e maus-olhados; humilhado, desmoralizado e
intimidado é coagido a encolher-se e recuar para o canto da depreciação e do desdém.
Como resultado desta evolução, a descrença, a depressão e a resignação tomam conta
de nós: indignar-se com o quê e denunciar para quê? Fazer o quê, a não ser assistir atónito
ao estendal de imoralidade, fechar os olhos, sacudir os ombros, endurecer a consciência
e cruzar os braços?
em suma, olhamos para cima e vemos um deserto de gente honrada. ser honesto requer
hoje uma grande ousadia e exige uma heroicidade acima dos mortais comuns e manifes-
tamente fora de moda. por este andar, não tarda nada a ser considerado aberração, um
anacronismo e um grave destrambelhamento, próprio de lunáticos e doidos varridos, care-
cidos de internamento urgente.
3. a democracia desfigura-se e degenera; é cada vez mais uma miragem e já nem sequer
virtual é, como se isso fosse o seu destino inexorável e não houvesse possibilidades para a
reabilitar e aperfeiçoar. sentimo-nos frustrados e impotentes e alijamos esta obrigação e
responsabilidade, perante o paulatino alargamento do fosso entre os discursos e as inten-
ções propaladas e as obras e constatações registadas. a veracidade dos factos não conta
para nada; o que vale são as versões falsificadas da realidade, ardilosamente mistificadas,
difundidas e impingidas.
obviamente a corrupção já existia na ditadura; não é uma invenção da democracia. mas
aumentou com esta e não é exagerado afirmar que se tornou uma das traves-mestras do
regime em que vivemos.
o que foi que nos aconteceu?
presenciamos e tomamos conhecimento de acontecimentos que nos aviltam, agridem,
ofendem e envergonham e não reagimos. as tropelias e pulhices sucedem-se e não têm
consequências, nem nós as exigimos. as evidências são mais que muitas, mas não são
tidas em consideração, nem geram ações de indignação e protesto. é como se não nos
incomodassem e molestassem ou tivéssemos a convicção da inutilidade de assumirmos
os nossos deveres cívicos. Calamos e engolimos, como se nada fosse, até porque o olho da
censura, mais ou menos velada, está sempre à espreita para nos meter medo; e a vinda de
represálias não se faz rogada.
11 — RPcd 11 (2)
estamos sendo anestesiados de muitas e sofisticadas maneiras; o desinteresse apode-
ra-se de nós e já nada nos choca, por mais escabroso que seja. é isto normal? é uma
fatalidade nacional?
Como foi possível chegarmos a este patamar da mais densa escuridão e omissão cívica e
moral? Como é que as nossas lideranças em tantos e tantos campos se deixaram enlear nes-
ta teia? Que estômago é o nosso para conseguirmos suportar tanta gangrena e iniquidade?
os intestinos do país e do sistema político que o rege decompõem-se e cheiram a po-
dridão. a vergonha e o decoro ausentam-se para parte incerta. os valores, os princípios e
as noções do dever perderam o pio. a ética está sendo enterrada como um indigente: sem
choro nem velas. e a um grande número de pessoas isto tanto se lhe dá como se lhe deu;
apenas lhe interessam o bem-estar individual e o lema do salve-se quem puder. Às favas,
malvas ou urtigas manda-se o bem coletivo e social e o imperativo de cuidar dele. o apagão
da cidadania alastra a passos largos. o estado omite-se, anula-se e rende-se às corpora-
ções dos poderosos e incensados. as autoridades incumbidas de zelar pelo cumprimento
e primado da lei agem como se a sua função se tivesse invertido, contribuindo assim para
a promoção da desmoralização.
enfim, o país precisa, como de pão para a boca, de uma comprida e forte régua cívica e moral.
4. todos os dias ficam conhecidas novas tramóias, são reveladas contas suspeitas no
estrangeiro, vemos figurões impávidos e serenos a exibir sinais de gorda riqueza, a
acumular fortuna pela calada da noite, nos labirintos das manhãs e no crepúsculo das
tardes. há fartos indícios de que o país se transformou numa plataforma de negócios
sórdidos e é generoso alfobre de uma vasta súcia de sabichões em montar escuras e
intrincadas redes de operações e sucatas, com extensos e nebulosos tentáculos, difí-
ceis de deslindar. os nomes e os dados são divulgados, nada acontece; os canais de
televisão e as páginas dos jornais abrem-se de par em par para que os nobres barões
nos inundem com a negação do óbvio. todos se dizem vítimas de cabalas, clamam por
inocência e, por cima, ainda proferem ameaças e vinganças. sempre se acham inocen-
tes ou vítimas do mundo, fazendo juras de inocência e licitude. de remorsos na alma e
de vergonha na cara não se descortina o mais leve rasto.
Figuras graúdas da advocacia e reluzentes escritórios de advogados auferem proventos
gigantescos, especializando-se em novos ramos do florescente negócio dos pareceres e
servindo de umbrela aos famosos e endinheirados.
Vale tudo para desacreditar, denegrir, fragilizar, hostilizar, intimidar e transpor o espírito,
a letra e o território da legalidade. o manancial de advertências, avisos e recados, intimi-
dações e pressões, ‘influências’, ‘conselhos’ e ‘recomendações’ jorra donde menos seria de
esperar, incorrendo — com todo o à-vontade e sem tirar nem pôr — no crime de corrupção
sob a forma tentada.
e
a cada dia que passa decrescem os meios para desnudar a hipocrisia e a falácia de
pessoas dotadas da arte e do poder de contar com agentes e máquinas de fabricação e
propaganda de uma imagem de reputação acima de qualquer suspeita.
5. Quase tudo o que é delito grave é esquecido, arquivado, empacotado ou sujeito a delon-
gas e remetido para as calendas gregas, acabando por prescrever. a lei parece regula-
mentada para proteger a imoralidade. Jornalistas e formadores de opinião, ciosos da de-
ontologia da função, ou são ‘dispensados’, saneados e vilipendiados ou sentem-se inúteis,
pois a indignação tornou-se dispensável e supérflua. o que se pensa e diz não se escreve;
e o que se escreve não usufrui de contexto favorável para se fincar, sustentar e medrar,
enquanto a mentira vive num regabofe, engorda e sofre metamorfose. a anorexia ética e
moral vive um clima de galopante expansão.
sempre que a verdade eclode e é escrita ou dita em público, os figurões visados reagem
como felinos acossados e com um inimaginável arsenal de astúcias, máscaras e ardis.
Quando algum nome sonante cai no laço e é chamado à pedra por um juiz, este é rotula-
do de ‘exibicionista’ e sedento de mediatismo. e corre o risco de ser malquisto e preterido
nalguma avaliação e promoção.
para cúmulo apregoa-se, alto e bom som, que vivemos num estado de direito. ah!, se ele
fosse mesmo a sério, os diversos tipos de trafulhice e tramóia, de agitação e chantagem, de
conluio e manobrismo, de jornalismo encomendado e de modo de ser ‘jornalista’ pombo-
-correio ou pau-mandado não disporiam do ar viciado e opiáceo que tanto gostam de respirar
e exalar; não contariam com o descaso e os favores do deus da (in)justiça, nem lhes valeriam
os embustes de hermes para escapar ao banco da assunção de responsabilidades.
6. mas… não haverá esperança de escapar a este plano inclinado para o abismo cívico e
moral? não é lícito cultivar o otimismo e, em nome dele e da necessidade de o possuir e
cultivar, acreditar que a esta onda avassaladora de aldrabice, ladinice, falsidade e hipocri-
sia se seguirá um mar extenso e regenerador da autenticidade e verdade?
a esperança, por si só, sem ser fecundada pela vontade e pelas ações e posições correspon-
dentes, está longe de ser um amparo, um consolo, uma vantagem, um remédio ou bom presen-
te para o desejado futuro. ao invés, pode ser inclusive uma desgraça e uma tensão negativa,
geradoras de demissão e indiferença, em face da gritante ausência de alternativa. pode ser
uma espera em vão e, assim, é continuar carente, é desejar o que não se tem e não se vê como
alcançar, é prolongar o estado de insatisfação e infelicidade. Confiar apenas na esperança é,
pois, equipará-la à fé ou religião. ora, diz o velho platão, a crença é o oposto do conhecimento.
por outras palavras, a esperança constitui mais um mal do que um bem. Julgo que esta
nuvem espessa paira sobre a vida do nosso país, a ponto de não ser perceptível se ainda há
alguma esperança. Com efeito é pertinente perguntar se é significativo o número dos que
13 — RPcd 11 (2)
não se calam, entregam e rendem perante a avalanche de desvario que ameaça soterrar
definitivamente o modo de vida estribado na tradição do trabalho sério e honrado. ainda
têm voz, capacidade e oportunidade de intervir no espaço público as pessoas amantes da
ética e da decência e com vergonha na cara? serão capazes de aguentar as campanhas de
calúnia, desconsideração e desmoralização do mais abjeto, sórdido e vil calibre?
7. esta evocação é de sabor amargo e contém desabafos formulados com a tinta do aze-
dume. reconheço que a aspereza e o ar carregado e sisudo não são de bom augúrio nem a
maneira mais recomendável para seguir em frente, nesta conjuntura de labutas, trabalhos
e canseiras. todavia há razões que arrastam o ânimo para um desvão, sim, pouco aconse-
lhável, porém inevitável, nesta fase iníqua do campeonato.
sucede que, nos últimos tempos, os sinais de mau funcionamento do fígado e da bílis são
inequívocos: mau hálito, boca a saber a papel de música, preguiça intestinal, dificuldades
em dormir, herpes e outras afecções cutâneas etc. em circunstâncias normais não daria
para perceber de imediato as causas destas manifestações, tanto mais que me tenho pre-
ocupado em adoptar e seguir a preceito um estilo de vida sensato e saudável: exercício cor-
poral quanto baste, abundância de saladas e frutas, corte no álcool e nos doces, ingestão
frequente de líquidos, cultivo do convívio familiar, prática sexual ajustada à idade, leitura
de livros de filosofia atinentes à condução de uma existência em harmonia com o cosmos,
à consolidação de um pensamento ampliado, a uma visão alargada e compreensiva do
mundo e dos seres que o povoam etc.
Como quer que seja, o mal-estar da bílis e do fígado não é de geração espontânea. basta pen-
sar um pouco para concluir que talvez tenha muito a ver com a contemplação do entorno, com
a leitura dos jornais e com o consumo acrescido da televisão e com o que isso avivou em mim.
realmente não há maneira, faz muito tempo, de cessarem as notícias de uma escabrosa
atualidade feita de incêndios e incendiários, ludíbrios e mistificações, vigarices e manipu-
lações, cinzas e vítimas, aldrabões e vilões nos mais distintos sectores.
8. para não meter a foice em seara alheia e manter os pés fincados no terreno caseiro,
convido o leitor a examinar o largo campo do ensino superior com todo o incessante cortejo
de reformas, de regimes jurídicos, regulamentos e demonstrações de nepotismo, tentando
a todo o custo destruir a matriz da Universidade e a paixão pela docência e impor transfor-
mações estatutárias e institucionais ao arrepio dos princípios e dimensões humanistas e
iluministas fundadores da missão universitária.
Quem é que ousou denunciar e questionar a insanidade dos centralistas, burocra-
tas e fanáticos da gestão que sobrepõem esta e os seus ditames à atividade-fim da
Universidade e, deste jeito, a colocam em lugar cimeiro e a missão tradicional em
lugar último?
e
Quem é que reagiu, na altura própria e visando impedir os irreparáveis danos e es-
tragos, à operação cosmética que envolveu o famigerado e fraudulento ‘processo de
bolonha’, urdida para vender gato por lebre, tratando todo mundo como se fosse um
bando de asnos e mentecaptos?
Quem é que levantou a caneta e a voz contra os fervorosos paladinos e ilusionistas, con-
tra o arrasamento da espiritualidade e erudição, contra o abastardamento do pensamento
e o atentado a uma sólida formação de base ocasionados por essa medida dolosa da luci-
dez e sensatez?
Como é que a razão foi torpedeada e tanta gente se deixou levar na enxurrada do popu-
lismo e da intrujice? onde estavam as ordens profissionais, algumas finalmente tão des-
pertas, enquanto a demência avançava?
agora é tarde e inês é morta! se os académicos e toda a multidão de entidades
com obrigação de ponderar e agir responsavelmente puseram na boca o adesivo da
cobardia, se preferiram, por manifesto calculismo, comodismo, oportunismo ou de-
missionismo — do tipo: não me comprometas! —, comportar-se como ingénuos, de-
satentos e distraídos e fazer ouvidos de mercador, se pactuaram e foram ativa ou
passivamente coniventes e cúmplices com a insidiosa lavagem ao cérebro da opinião
pública, se aceitam participar na perversão do cerne da sua profissão e converter-se
em servidores das enganosas estratégias e engenharias estatísticas, o que é que se
pode legitimamente esperar das outras pessoas?!
não restam dúvidas de que, sob o ponto de vista dos interesses em alta, as universidades
cumprem, com luzidia proficiência e excelência, a nova missão que, de há uns tempos para
cá, alguns dos magníficos líderes reitorais orgulhosamente proclamam e alegremente as-
sumem. prescindiram de entender a instituição universitária como lugar de estudo, forma-
ção, investigação e reflexão ao serviço das causas da sociedade e humanidade. atrai-os
sobretudo a vinculação ao mercado, a suprema ambição de fornecer mão-de-obra alta-
mente qualificada em ingenuidade e docilidade acrítica ao mundo empresarial, político e
afim. os graus ‘à bolonhesa’ dão a ideia perfeita do câmbio operado na visão das finalida-
des da Universidade.
Como se isto não bastasse, o pior do futebol está de volta e revigorado: à parte a confu-
são, o caos, a sujeira e a chafurdice dos bastidores e dos seus mandantes, intoxicadores,
agitadores, subalternos, avençados, filhos e enteados, os canais televisivos regurgitam
de programas e painéis prenhes de regougadores peritos em açular o bando e acordar
nele os mais arcaicos e agressivos instintos. o circo reabriu e vai ficar e durar, para que
a ‘democracia’ vigente siga avante, impávida e triunfante. enquanto o povo amedrontado,
anestesiado apático, manipulado e alienado tudo engole; e o esclarecido abafa, em silêncio
e resignação, o seu sacrifício e dor.
15 — RPcd 11 (2)
9. sei que este texto é enfadonho, repetitivo, recorrente, desnecessário e vão, porquanto não
vai além do óbvio. por isso as dúvidas e perguntas do leitor são legítimas. será o escrito moti-
vado por algum sentimento especial? não morará no meu subconsciente algum despeito ou
inveja? no capítulo pessoal não viso ninguém em particular. desejo sempre que as entidades
e pessoas colham frutos abundantes, multiplicados e céleres do que plantam ou semeiam,
que nada demore ou falte aos méritos e virtudes da sua ação e comportamento.
mesmo assim não podia deixar de escrever estas linhas. Quanto mais não seja, para
desagravar a consciência das minhas obrigações e para abrir as pesadas comportas da
inquietude e do desassossego.
todavia no plano superior e indeclinável do civismo o sentimento é de outro jaez, dado o
funcionamento do nosso sistema político e dos proeminentes atores das suas ramificações
e congregações. a existência da vasta e intocável estirpe de trafulhas, tartufos e mentiro-
sos está corroendo e dissolvendo a nossa estrutura e postura cívica, ética e moral. está a
contaminar-nos e, por via disso, a tornar-nos cínicos, falsos e hipócritas nos pensamentos
e nas palavras, nas congeminações e nos atos. a linguagem que circula e se impõe no
quotidiano vai criando uma realidade condizente. sem darmos por isso, tropeçamos nela a
toda a hora, como quem dá topadas nas pedras do caminho e não presta grande atenção.
as palavras vão sendo esvaziadas de sentido. está surgindo e ganhando foros de acei-
tação e validade um estranho e inquietante idioma, uma ‘novilíngua’ prenhe de um léxico
assaz predatório e transformador.
o vocabulário corrente serve para nos habituar e conformar a um novo modelo de indiví-
duo e a um novo ideal ‘educativo’: o dos sujeitos libertos de quaisquer controlos, desafios,
freios, padrões, temores, inquietações e inibições civilizacionais e morais; abertos, flexí-
veis, disponíveis e competentes para a falcatrua, a farsa, a insinceridade, a incoerência, a
ordinarice e o embuste, sem o mínimo indício de escrúpulos, de decoro e vergonha.
o aquém-homem surge na linha do horizonte, impante de arrogância, empáfia, verniz e
vaidade, suscitando admiração, adulação, bajulação, aplauso e reconhecimento.
o céu é de quem o ganha e o mundo de quem mais arrebanha — reza o ditado aprendido
de minha mãe. a vida está para os arrivistas, espertos, oportunistas e sandeus. eis a nova
elite inspiradora da conduta dos demais! eis o resultado e o marco altaneiros do avanço
e progresso das reformas operadas nos nossos dias. bem hajam os ídolos, donos e fabri-
cantes deste tempo!
a avaliação de Camões permanece atualizada: portugal, uma terra que é mãe de vilões
ruins e madrasta de homens honrados.
e
Objectivos de realização,
clima motivacional
e ansiedade no Futebol:
um estudo com jogadores
do escalão de escolas.
PalavRaS chave:
Motivação. ansiedade. crianças. futebol.
resumo
o objectivo deste estudo foi analisar as relações entre os objectivos de realização, o
clima motivacional (na equipa e parental) e o traço de ansiedade em futebolistas do es-
calão de escolas. participaram neste estudo 126 atletas do sexo masculino, com idades
compreendidas entre os 8 e os 11 anos (9.77 0.91). os instrumentos utilizados foram
as versões portuguesas do Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire, do Perceived
Motivational Climate in Sport Questionnaire, do Parent-Initiated Motivational Climate
Questionnaire-2 e da Sport Anxiety Scale. os resultados revelaram que os atletas eram
mais orientados para a tarefa do que para o ego e que o clima motivacional percepciona-
do junto da equipa e dos pais era orientado essencialmente para a aprendizagem. adicio-
nalmente, níveis mais elevados de ansiedade estavam associados a uma maior orienta-
ção para o ego e climas motivacionais voltados para o rendimento e/ ou que enfatizavam
os erros ou o sucesso sem esforço.
autOReS:
simão coroa 1
cláudia Dias 1
Júlio garganta 1
nuno corte-real 1
antónio Manuel fonseca 1
1 cifi2D, faculdade de Desporto universidade do Porto, Portugal
correspondência: simão coroa. rua Marquês de Pombal, 490, 4785-173 trofa, Portugal
(simaocoroa@hotmail.com)
01achievement goals, motivational climate
and anxiety in soccer: a study with players
from soccer schools.
AbstrAct
the aim of the present study was to analyze the relationship between
young soccer players’ goal orientations, perceived and parent-initiated
motivational climates, and trait anxiety. one-hundred and twenty-six
male soccer players, aged between 8 and 11 years old (9,77 0,91)
completed the portuguese versions of the task and ego orientation in
sport Questionnaire, the perceived motivational Climate in sport Ques-
tionnaire, the parent-initiated motivational Climate Questionnaire-2,
and of the sport anxiety scale. results showed that athletes were
more task-oriented than ego-orientated, and perceived mainly a learn-
ing/ enjoyment climate (both regarding their teams and their parents).
additionally, higher levels of anxiety were associated with a stronger
ego-orientation and with motivational climates which emphasized per-
formance, worry conductive and/ or success without effort.
Key wORdS:
Motivation. anxiety. children. soccer.
17 — RPcd 11 (2): 16-32
intROduçãO
o futebol, com quase 200 mil jogadores profissionais e 240 milhões de jogadores amado-
res, a maioria jovens e adolescentes, é actualmente o desporto mais popular no mundo (31, 55). para as crianças e jovens, a prática de uma modalidade desta natureza torna-se
extremamente positiva porque constitui uma oportunidade de desenvolvimento de compe-
tências, procura da excelência e superação (11), podendo a vertente competitiva ser estru-
turante para a sua formação e desenvolvimento, desde que organizada de forma adequada
e ajustada às suas condições e características (32). todavia, o que se constata frequente-
mente é que essa organização não é a encontrada nas competições desportivas de crian-
ças e jovens, verificando-se pressões e expectativas excessivas, centradas unicamente na
obtenção da vitória e do sucesso (51).
neste contexto, a ansiedade pode ser encarada como um fenómeno perturbador no de-
sempenho dos atletas desde idades muito precoces (7), estando o seu surgimento muitas ve-
zes associado a factores relacionados com os adultos significativos, especialmente os pais
e os treinadores (8). paralelamente, diversas investigações têm igualmente procurado rela-
cionar os objectivos de realização com a ansiedade (28, 38), considerando-se que o impacto do
clima motivacional percebido também poderá estar na origem da ansiedade competitiva (59).
obJeCtiVos de realização,
Clima motiVaCional e ansiedade
de acordo com a teoria dos objectivos de realização, os sujeitos avaliam a sua competência
e interpretam o seu sucesso de diferentes formas, existindo na literatura diversas concep-
tualizações que procuram estruturar essas interpretações. no entanto, a nomenclatura de
nicholls (35) pode ser considerada como uma das mais utilizadas em estudos realizados no
contexto desportivo (12, 24). ainda segundo nicholls, os indivíduos são influenciados pelas
suas crenças, as quais guiam as suas tomadas de decisão e comportamentos em contex-
tos de realização (45, 56), podendo orientar-se para a tarefa (os níveis de habilidade são auto-
-avaliados e dependentes da aprendizagem e do esforço despendido) ou para o ego (refe-
renciando normativamente a habilidade, encarada como capacidade e não como resultado
do treino) (35). por outras palavras, enquanto para alguns o sucesso é ser melhor que antes,
para outros o sucesso é ser melhor que os outros (20). de uma forma geral, as investigações
que se debruçaram sobre os objectivos de realização dos atletas reconheceram também
valores superiores de orientação para a tarefa em comparação com a orientação para o
ego (e.g., 36, 39, 52, 57, 60), revelando inclusivamente uma associação positiva entre orientação
para a tarefa e maior esforço e satisfação na prática das respectivas modalidades (29, 46).
importa porém salientar que apesar dos objectivos de realização poderem ser vistos
preferencialmente como estáveis, estão sujeitos a alterar-se em função da informação ob-
19 — RPcd 11 (2)
01tida em determinado contexto ou processo de socialização (15, 45). essas diferenças são in-
fluenciadas por aspectos situacionais (41, 42, 49, 61) geralmente procedentes do envolvimento
criado por outros significativos (e.g., pais, treinadores, pares), e podem estar na origem da
percepção, por parte dos atletas, de determinado ambiente ou clima motivacional (13, 14). de
forma semelhante aos objectivos de realização, o clima motivacional pode ser orientado
para o ego (ou rendimento) ou para a tarefa (ou mestria) (1). Um clima orientado para o ego
alimenta a comparação normativa, competição interpessoal e rivalidade entre elementos
da equipa, adoptando a punição face aos erros e valorizando os que melhor desempenha-
rem a tarefa. Já um clima orientado para a tarefa promove a cooperação e entreajuda en-
tre os elementos da equipa, enfatizando o papel desempenhado por todos, a aprendizagem
e a melhoria pessoal dos elementos da equipa (33, 54). estudos no domínio da psicologia da
educação revelaram a importância de um clima motivacional orientado para a tarefa, quer
no contexto escolar quer no desportivo, sendo que a promoção de tal clima promove não
só o prazer e o divertimento como também melhora e desenvolve as percepções de com-
petência pessoal e a motivação intrínseca dos indivíduos (9).
por outro lado, em função da personalidade e carga afectiva que cada jogador coloca
na competição, as vivências desportivas podem provocar reacções emocionais negativas,
como a ansiedade (3). esta carga afectiva refere-se, segundo boyd e mi-sook (4), aos ob-
jectivos de realização. de facto, vários estudos (e.g., 27, 37, 62) têm mostrado que um sujeito
orientado para o ego tende a aplicar uma carga afectiva negativa na prática desportiva
e que esse facto promove elevados níveis de ansiedade cognitiva e somática; em con-
traste, pressão, ansiedade cognitiva ou preocupação pré-competitiva têm uma relação
negativa com orientação para a tarefa. na mesma linha, nicholls (34) constatou que uma
orientação para a tarefa e um clima orientado para a mestria estariam associados a res-
postas como comprometimento e persistência na obtenção de resultados, enquanto uma
orientação para o ego e um clima motivacional orientado para o rendimento estariam
relacionados com falta de esforço, comprometimento e persistência na realização de
uma tarefa. este descomprometimento era visível, segundo o autor, na ênfase exagera-
da na competitividade, em detrimento do desenvolvimento das capacidades. Com estes
dados, nicholls acabou por especular que estas respostas motivacionais negativas po-
deriam levar a um aumento da ansiedade. Centrando-se também no clima motivacional
percepcionado no seio da equipa, Vazou, ntoumanis e duda (58) referiram que atletas que
percepcionavam, da parte dos pares, um clima orientado para a tarefa, manifestaram
altos índices de esforço e gosto pela tarefa, enquanto os atletas que percepcionaram
um clima direccionado para o ego manifestaram altos níveis de ansiedade competitiva.
o papel dos pais na partiCipação
desportiVa dos seUs Filhos
numa perspectiva mais global, podemos considerar que os pais, como principais agentes de
socialização dos filhos (2, 5, 25), desempenham um papel fundamental na sua participação e su-
cesso no desporto (2, 64, 65). anderson e colaboradores (2), por exemplo, identificaram uma corre-
lação positiva entre o apoio parental e a satisfação dos filhos na prática desportiva e scanlan
e lewthwaite (48) concluíram que uma percepção positiva do envolvimento dos pais, bem como
uma grande satisfação dos mesmos, estavam associadas a um maior prazer na prática des-
portiva em jovens praticantes de luta. elogios e compreensão por parte dos pais foram ainda
associados a carreiras desportivas de sucesso entre jovens desportistas de elite (64).
paralelamente, existem evidências de que as orientações dos filhos são significativamente
semelhantes às dos seus pais (16), não parecendo subsistir também grandes dúvidas de que o
clima motivacional parental se pode constituir como determinante na participação desportiva
dos atletas e do prazer retirado dessa participação. assume-se que o clima motivacional que
cada indivíduo percebe existir num determinado meio mais não é do que a percepção dos
objectivos situacionais desse contexto (18). Com efeito, pelos feedbacks, instruções e recom-
pensas fornecidas, os outros significativos expõem as suas concepções de habilidade e ob-
jectivos preferidos e, assim, estabelecem um clima motivacional (psicológico) (1). no caso dos
jovens atletas, quer os pais, quer os membros do grupo em que estes estão inseridos, podem
influenciar o clima motivacional percebido: se os pais, a maioria dos membros, ou os líderes
do grupo, são orientados para a tarefa, o clima será direccionado nesse sentido; o contrário
poderá acontecer se esses elementos estiverem orientados para o ego (45).
todavia, embora os pais possam desempenhar um papel muito positivo na carreira des-
portiva dos filhos (64), parecem também existir algumas evidências dos efeitos menos po-
sitivos do envolvimento parental a este nível. Com efeito, uma elevada pressão parental é
muitas vezes apontada como um factor preponderante no abandono da prática desportiva (26), na promoção do stress (30) ou no aumento de ansiedade competitiva (2). a este propósito
refira-se que, num estudo realizado por shields, bredemeier, lavoi e power (50) com pais
de atletas norte-americanos, 14% admitiram terem gritado ou injuriado o árbitro e 13%
assumiram terem criticado assertivamente os filhos durante a prática desportiva dos mes-
mos; entre os jovens, 15% confessaram que os seus pais se zangavam quando não tinham
um bom desempenho. paralelamente, orlick e botterill (40) estudaram 60 jovens atletas
que abandonaram a prática de vários desportos, verificando que 31% das desistências se
deveram a um exagero da ênfase na competição por parte dos pais. por último, pierce e
stratton (44) constataram que as maiores preocupações sentidas por 62% de 543 jovens
desportistas com idades compreendidas entre os 10 e os 17 anos eram “não jogar bem”
e “cometer erros”; contudo, a preocupação com o que os pais diriam também foi um fac-
21 — RPcd 11 (2)
01tor extremamente valorizado (11%). assim, encontram-se perfeitamente enquadradas as conclusões de White, duda e hart (63), que referem que os jovens que experimentam uma
participação forçada e percepcionam uma avaliação negativa por parte dos pais relatam
níveis de ansiedade mais elevados relativamente à participação e competição desportiva.
Já aqueles que sentem os pais como indutores de satisfação e prazer na prática parecem
ser influenciados para uma vinculação sustentada na actividade (6).
a presente inVestigação
a presente investigação procurou analisar as relações entre objectivos de realização, cli-
ma motivacional percebido e clima motivacional parental e ansiedade, em futebolistas do
escalão de escolas. este estudo constitui-se como relevante porque se, por um lado, o en-
volvimento de crianças e jovens na prática desportiva, designadamente no futebol, é cada
vez maior em número e mais precoce em idade, por outro lado, há uma escassez de inves-
tigações no âmbito dos objectivos de realização, clima motivacional e ansiedade nas faixas
etárias mais baixas do futebol, uma modalidade em que o investimento e envolvimento
parental (e muitas vezes a pressão) são claramente superiores aos verificados noutras
faixas etárias e modalidades.
MateRial e MÉtOdOS
partiCipantes
participaram neste estudo 126 jogadores de futebol do sexo masculino, com idades com-
preendidas entre os 8 e os 11 anos (9.77 0.91), que competiam no Campeonato distrital
de Futebol de sete (escalão de escolas), da associação de Futebol do porto (portugal). os
anos de prática dos atletas variavam entre um e oito (3.03 1.59).
instrUmentos
para a avaliação dos objectivos de realização dos jovens relativamente à sua prática
desportiva foi utilizado o teosQp, que é a versão traduzida e adaptada para português
por Fonseca (19) do Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire (17). o teosQp é
constituído por 13 afirmações relativas ao sucesso no desporto, as quais se agrupam
em duas dimensões que reflectem diferentes orientações para a prática desportiva: (a)
orientação para o ego (seis itens; e.g., “sinto-me com mais sucesso no futebol quando
sou o único que consegue executar as técnicas.”); e (b) orientação para a tarefa (sete
itens; e.g., “sinto-me com mais sucesso no futebol quando trabalho realmente bastan-
te.”). os sujeitos indicam a sua concordância relativamente ao modo como cada uma
das afirmações se aplica a si numa escala tipo likert de 5 pontos (1= discordo total-
mente a 5= concordo totalmente). na presente investigação, o teosQp revelou valores
elevados de consistência interna (α tarefa = .83; α ego = .84).
para avaliar o clima motivacional percebido utilizou-se o pmCsQp (21), que é a versão por-
tuguesa do Perceived Motivational Climate in Sport Questionnaire (49). este questionário
tem como função avaliar as percepções dos desportistas sobre o clima motivacional
da sua equipa, caracterizando-o em relação a duas orientações (clima orientado para
a mestria e clima orientado para o rendimento). para tal, é constituído por 19 itens que
descrevem situações relativas ao clima motivacional percepcionado pelos atletas nos
seus treinos, em três dimensões: (a) mestria (nove itens; e.g., “nos meus treinos, os
atletas aprendem coisas novas e ficam satisfeitos por isso.”); (b) rendimento (seis itens;
e.g., “nos meus treinos, os atletas tentam fazer melhor que os outros.”); e (c) Ênfase nos
erros (quatro itens; e.g., “nos meus treinos, os atletas têm medo de cometer erros."). os
sujeitos indicam a sua concordância relativamente ao modo como cada uma das afir-
mações se aplica a si numa escala tipo likert de 5 pontos (1= discordo totalmente a 5=
concordo totalmente). na presente investigação, o pmCsQp revelou valores aceitáveis de
consistência interna (α tarefa = .78; α rendimento = .74; α Ênfase nos erros = .75).
para a avaliação da percepção do clima motivacional parental utilizou-se o pimCQ—2p,
que é a versão portuguesa (22, 47) do Parent-Initiated Motivational Climate Questionnai-
re-2 (63). este instrumento é constituído por um total de 36 afirmações, referentes ao
que o pai (18 itens) e a mãe (18 itens) pensam acerca da actividade desportiva do atle-
ta. estes itens avaliam três dimensões: (a) prazer na aprendizagem (nove itens; e.g.,
“Fica mais satisfeito quando eu aprendo algo novo.”), (b) Ênfase nos erros (cinco itens;
e.g., “Faz-me sentir medo de cometer erros.”) e sucesso sem esforço (quatro itens; e.g.,
“diz que é importante para mim ganhar sem ter muito trabalho.”). os sujeitos indicam a
sua concordância relativamente ao modo como cada uma das afirmações se aplica a si
numa escala tipo likert de 5 pontos (1= discordo totalmente a 5= concordo totalmente).
na presente investigação, o pimCQ-2p revelou valores elevados de consistência interna,
tanto relativamente ao pai (α prazer na aprendizagem = .83; α Ênfase nos erros = .80; α sucesso sem esforço =
.84), como à mãe (α prazer na aprendizagem = .85; α Ênfase nos erros = .86; α sucesso sem esforço = .86).
para medir o traço de ansiedade competitiva foi utilizada a escala de ansiedade no des-
porto (ead), versão traduzida e adaptada por Cruz e Viana (10) da Sport Anxiety Scale, um
instrumento de avaliação multidimensional do traço de ansiedade desenvolvido por smi-
th, smoll e schutz (53). a ead é uma escala que pretende medir diferenças individuais no
traço da ansiedade somática e em duas dimensões do traço de ansiedade cognitiva: pre-
ocupação e perturbação da concentração. a versão utilizada neste estudo engloba um
total de 21 itens, distribuídos por três subescalas: (a) ansiedade somática (nove itens;
23 — RPcd 11 (2)
01e.g., “sinto-me nervoso.”); (b) preocupação (sete itens; e.g., “tenho dúvidas acerca de mim próprio.”); e (c) perturbação da Concentração (cinco itens; e.g., “muitas vezes, quan-
do estou a competir, não presto atenção ao que se está a passar.”). os sujeitos indicam
a sua concordância relativamente ao modo como cada uma das afirmações se aplica a
si numa escala tipo likert de 4 pontos (1= nunca a 4= quase sempre). os scores de cada
subescala foram obtidos adicionando os valores atribuídos a cada um dos respectivos
itens, podendo também obter-se um score total do traço de ansiedade competitiva, re-
sultante do somatório dos scores das três subescalas. na presente investigação, a ead
revelou valores elevados de consistência interna (α preocupação = .83; α perturbação da Concentração =
.86; α ansiedade somática = .88).
por último, pedimos aos atletas que preenchessem um pequeno questionário com dados
biográficos (e.g., idade) e desportivos (e.g., anos de prática da modalidade).
proCedimentos
os questionários foram aplicados no decorrer da época 2008/ 2009, após autorização
dos treinadores das diferentes equipas. todavia, considerando as idades dos atletas en-
volvidos no presente estudo, optou-se por realizar uma pré-aplicação dos questionários
a três atletas, no sentido de apurar eventuais dificuldades relacionadas com a compre-
ensão e preenchimento dos mesmos. não tendo sido detectados problemas a este ní-
vel realizou-se, no início de uma sessão de treino, a aplicação propriamente dita. antes
do preenchimento dos questionários, foi explicado o objectivo do estudo, solicitando-se
sinceridade nas respostas e garantindo-se o anonimato e confidencialidade dos dados
recolhidos. Finalmente, importa salientar que o presente estudo foi realizado no âmbito
de um projecto de investigação aprovado pelo laboratório de psicologia do desporto da
Faculdade de desporto da Universidade do porto (portugal).
análise estatístiCa
para a análise estatística dos dados foi utilizado o programa estatístico Statistical Package
for Social Sciences (spss; versão 17.0). o nível de significância foi estabelecido em 5% (43).
os procedimentos estatísticos incluíram: (a) estatísticas descritivas, (b) correlação linear
de pearson, e (c) análise de variância (one way ANOVA) e teste de comparações múltiplas
de scheffé. as estatísticas descritivas (médias e desvios-padrão [dp]) visaram conhecer
aspectos gerais das diferentes distribuições de valores. através da correlação de pearson
procurou-se medir o grau de correlação entre os objectivos de realização, climas motivacio-
nais e o traço de ansiedade. Finalmente, a análise de variância (one way ANOVA) foi utilizada
para analisar a existência de diferenças nos climas motivacionais e/ ou nos objectivos de
realização de atletas com diferentes níveis de ansiedade: baixo traço ansiedade (bta; n=38),
moderado traço de ansiedade (mta; n=41) e elevado traço de ansiedade (eta; n=40).
ReSultadOS
na Quadro 1 são apresentadas as estatísticas descritivas de todas as variáveis envolvidas
no estudo. Como se pode verificar, os objectivos de realização dos atletas direccionavam-
-se mais para a tarefa do que para o ego. Concomitantemente, o clima motivacional per-
cepcionado no seio da equipa parecia ser direccionado para a mestria, em detrimento do
rendimento ou da ênfase nos erros. relativamente ao pai e à mãe, os atletas percepcio-
navam um clima mais voltado para a aprendizagem do que para a valorização do erro e
do sucesso sem esforço. no que respeita ao traço de ansiedade, saliente-se o facto de os
níveis de ansiedade somática serem mais elevados do que os níveis de ansiedade cognitiva.
QuaDro 1 — Objectivos de realização, clima motivacional e ansiedade competitiva
dos jogadores de futebol (estatísticas descritivas da amostra total).
média dp mínimo máximo
obJeCtiVos de realização
tarefa 4.32 0.61 2.00 5.00
ego 2.61 0.89 1.00 5.00
Clima motiVaCional perCebido (eQUipa)
mestria 4.36 0.55 1.89 5.00
rendimento 3.28 0.87 1.00 5.00
ênfase nos erros 3.72 0.89 1.75 5.00
Clima motiVaCional parental
pai
aprendizagem 4.27 0.64 2.56 5.00
ênfase nos erros 2.74 1.12 1.00 5.00
sucesso sem esforço 2.84 1.33 1.00 5.00
mãe
aprendizagem 4.28 0.68 1.78 5.00
ênfase nos erros 2.76 1.19 1.00 5.00
sucesso sem esforço 2.84 1.33 1.00 5.00
ansiedade traço
ansiedade somática 20.38 7.15 9.00 36.00
ans. cognitivapreocupação 16.75 5.16 7.00 28.00
perturbação da concentração 10.69 4.19 5.00 20.00
score total de ansiedade 47.83 15.54 23.00 84.00
25 — RPcd 11 (2)
01de seguida, foi analisada a correlação entre objectivos de realização e climas motivacionais percepcionados pelos atletas com o traço de ansiedade (Quadro 2). os resultados revela-
ram uma associação negativa entre a orientação para a tarefa e as diferentes dimensões
da ansiedade. em contraste, a orientação para o ego estava positivamente correlacionada
com a ansiedade (nas suas diferentes dimensões). relativamente ao clima motivacional
percebido junto da equipa, os resultados revelaram uma associação negativa entre a per-
cepção de um clima orientado para a mestria e as diferentes dimensões de ansiedade. Já
a percepção de um clima orientado para o ego estava positivamente correlacionada com a
ansiedade. Quanto ao clima motivacional parental, os resultados revelaram uma associa-
ção negativa entre a percepção de um clima orientado para a aprendizagem e as diferentes
dimensões de ansiedade. em contraste, as percepções de climas orientados para o erro
e para o sucesso sem esforço estavam positivamente correlacionadas com a ansiedade.
QuaDro 2 — Correlações entre objectivos de realização, clima motivacional e
traço de ansiedade.
ansiedade somátiCa
ansiedade CognitiVasCore total ansiedade
preocupação pert. concent.
Objectivos de realização
tarefa -0.23 * -0.25 ** -0.26 ** -0.26 **
ego 0.30 ** 0.32 ** 0.31 ** 0.33 **
Clima motivacional (equipa)
mestria -0.05 0.00 -0.05 -0.04
rendimento 0.43 ** 0.40 ** 0.46 ** 0.45 **
ênfase nos erros 0.25 ** 0.24 ** 0.18 * 0.24 **
Clima motivacional parental (pai)
aprendizagem -0.19 * -0.10 -0.18 -0.17
erro 0.55 ** 0.46 ** 0.56 ** 0.56 **
sucesso sem esforço 0.36 ** 0.26 ** 0.40 ** 0.36 **
Clima motivacional parental (mãe)
aprendizagem -0.09 -0.06 -0.16 -0.11
erro 0.54 ** 0.43 ** 0.60 ** 0.55 **
sucesso sem esforço 0.42 ** 0.27 ** 0.47 ** 0.41 **
* p < 0.05; ** p < 0.01
por último, procurando aprofundar a relação entre as variáveis em análise, analisou-se
a existência de diferenças nos climas motivacionais e/ ou nos objectivos de realização
de atletas com distintos níveis de ansiedade traço (baixo, médio e elevado). Como se
pode verificar no Quadro 3, foram encontradas diferenças significativas no que respeita
à orientação para a tarefa e para o ego, assim como no clima motivacional orientado
para o rendimento, sendo que os atletas com níveis de ansiedade mais baixos eram mais
orientados para a tarefa que aqueles com um traço médio de ansiedade; adicionalmente,
os atletas com elevados níveis de ansiedade eram mais orientados para o ego e percep-
cionavam um clima motivacional mais voltado para o rendimento do que os atletas com
ansiedade traço mais baixa.
no que respeita à percepção do clima motivacional parental, só foram encontradas dife-
renças significativas ao nível da ênfase nos erros e da valorização do sucesso sem esforço.
de uma forma geral, os atletas que exibiam níveis mais elevados de traço de ansiedade
percebiam que os seus pais e/ ou mães promoviam um clima motivacional mais orientado
para os erros e para a valorização do sucesso sem esforço, do que os atletas com níveis de
ansiedade mais baixos.
QuaDro 3 — Objectivos de realização e clima motivacional em função do traço
de ansiedade.
ansiedade média dp F p
obJeCtiVos de realização
tarefa
BTA 4.54* 0.54
4.01 .02MTA 4.20* 0.63
ETA 4.24 0.59
ego
BTA 2.34* 0.95
6.79 .00MTA 2.52 0.86
ETA 3.02* 0.75
Clima motiVaCional (eQUipa)
mestria
BTA 4.43 0.56
0.50 .61MTA 4.33 0,46
ETA 4.32 0.59
rendimento
BTA 2.91* 0.99
13.69 .00MTA 3.11 0.60
ETA 3.80* 0.74
ênfase nos erros
BTA 3.50 1.01
2.11 .13MTA 3.75 0.87
ETA 3.91 0.81
Clima motiVaCional parental (pai)
aprendizagem
BTA 4.47 0.54
2.94 .06MTA 4.20 0.64
ETA 4.12 0.68
27 — RPcd 11 (2)
01ansiedade média dp F p
erros
BTA 2.10* 0.96
18.64 .00MTA 2.55 0.95
ETA 3.45* 1.05
sucesso sem esforço
BTA 2.40* 1.14
5.46 .01MTA 2.67 1.26
ETA 3.27* 1,15
Clima motiVaCional parental (mãe)
aprendizagem
BTA 4.42 0.71
1.23 .30MTA 4.28 0.60
ETA 4.18 0.71
erros
BTA 2.18* 1.22
17.52 .00MTA 2.48 0.95
ETA 3.53* 1.01
sucesso sem esforço
BTA 2.40* 1.27
10.03 .00MTA 2.55** 1,32
ETA 3,56*/ ** 1,16
*/ ** grupos cujas médias diferem significativamente (teste post hoc de Scheffe)
diScuSSãO e cOncluSÕeS
o presente estudo procurou analisar as relações entre objectivos de realização, clima mo-
tivacional parental e da equipa e ansiedade em futebolistas do escalão de escolas, compre-
endendo assim uma faixa etária escassamente estudada e na qual a influência parental se
pode fazer sentir de forma preponderante.
Um primeiro aspecto que importa realçar diz respeito ao facto de os atletas que integraram
a amostra deste estudo se orientarem preferencialmente para a tarefa e não para o ego, con-
firmando os dados de diversos estudos realizados em diferentes modalidades e níveis com-
petitivos (e.g., 36, 39, 52, 57, 60). por outras palavras, do ponto de vista cognitivo os atletas pareciam
orientar-se de forma mais intensa para a demonstração de competências relativamente a si
mesmos do que para a comparação dos seus níveis de performance com os dos seus pares.
assim, considerando que diversos investigadores (e.g., 29, 46) associam a orientação para a tarefa
a um maior esforço e satisfação na prática das respectivas modalidades, os resultados obti-
dos parecem revelar-se vantajosos em termos motivacionais para a prática do futebol, suge-
rindo que este pode ser um bom meio para o desenvolvimento de competências, procura da
excelência e superação (11). por outro lado, ainda que a competição no futebol se caracterize
pela comparação e confrontação de competências, sendo assim natural, e porventura bené-
fico, que os atletas apresentassem valores elevados de orientação para o ego (23), verificou-se
que a ansiedade estava associada positivamente à orientação para o ego e negativamente
à orientação para a tarefa. estes resultados parecem ser consistentes com vários estudos
realizados anteriormente, os quais, para além de terem encontrado uma relação negativa en-
tre pressão, ansiedade cognitiva ou preocupação pré-competitiva e orientação para a tarefa,
sugeriram que um sujeito orientado para o ego tende a aplicar uma carga afectiva negativa
na prática desportiva, um facto que parece promover elevados níveis de ansiedade cognitiva
e somática (27, 37, 63). de ressalvar ainda que, no presente estudo, foram encontradas diferen-
ças nas orientações motivacionais entre atletas com diferentes níveis de ansiedade, as quais
parecem confirmar os resultados anteriores; isto é, que níveis mais elevados de ansiedade
estarão efectivamente associados a uma maior orientação para o ego, enquanto níveis mais
baixos de ansiedade estão relacionados com uma maior orientação para a tarefa.
Quanto ao clima motivacional percepcionado na equipa, a análise dos resultados revelou
que este se direccionava primordialmente para a mestria, em detrimento do rendimen-
to. estes resultados são positivos, uma vez que existem evidências de que a percepção
de um clima de mestria está associada a padrões motivacionais adaptáveis e respostas
afectivas positivas (37). na mesma linha, na presente investigação também pareceu existir
uma relação negativa entre um clima orientado para a mestria e a ansiedade. além dis-
so, numa investigação de Vazou, ntoumanis e duda (58), constatou-se que os atletas que
percepcionavam, no seio do grupo, um clima orientado para a tarefa, manifestavam altos
índices de esforço e gosto pela prática. paralelamente, a correlação positiva encontrada
entre a ansiedade e um clima motivacional orientado para o rendimento e/ ou para os erros
também é consistente com a investigação de Vazou e colaboradores (58), tendo os autores
encontrado uma relação idêntica entre estas variáveis.
Quanto ao clima motivacional parental, os resultados parecem ser semelhantes aos ve-
rificados na equipa, na medida em que os atletas percepcionavam, relativamente aos pais,
um clima motivacional mais orientado para a aprendizagem do que para os erros ou para
o sucesso sem esforço. além disso, surgiram evidências de uma relação negativa entre o
traço de ansiedade competitiva e um clima motivacional parental orientado para a aprendi-
zagem. estes dados parecem ser positivos e corroboram a literatura existente, pois parece
ser claramente aceite que a presença de um clima orientado para a tarefa proporciona
prazer, divertimento, melhoria e desenvolvimento de percepções de competência pessoal
e motivação intrínseca dos indivíduos (2, 9, 48). numa perspectiva mais global, saliente-se que
diversos autores defendem que os pais podem desempenhar um papel positivo na carreira
desportiva dos filhos (e.g., 2, 48, 64), sendo o seu apoio fundamental para a participação e suces-
so dos mesmos no desporto (2, 65). porém, como referimos anteriormente, não obstante os
aspectos positivos do envolvimento parental na participação desportiva dos atletas, a ver-
dade é que muitas vezes este envolvimento tem efeitos adversos (2, 26, 30), podendo consti-
tuir-se como uma pressão excessiva e gerando elevados níveis de ansiedade. o facto de, na
29 — RPcd 11 (2)
01presente investigação, níveis mais elevados de traço de ansiedade estarem associados a um clima motivacional parental que enfatizava o erro e o sucesso sem esforço — relações
evidentes não só nas análises correlacionais, mas também na comparação de atletas com
diferentes níveis de ansiedade — não só corroboram estas afirmações, mas também são
consistentes com diversos estudos que reconhecem uma relação entre a pressão exerci-
da pelos pais e a presença de ansiedade competitiva (2, 48). neste contexto, os resultados
do presente estudo sugerem que procurar incentivar os pais a promoverem um clima de
aprendizagem, em vez de se centrarem unicamente no sucesso ou nos erros dos seus fi-
lhos, pode ser um óptimo ponto de partida para uma participação desportiva positiva.
em suma, a investigação realizada permitiu evidenciar a importância que um clima moti-
vacional orientado para a tarefa, responsável pela modelagem de objectivos de realização
concordantes (ver 15, 45), pode ter ao nível do traço de ansiedade em crianças que estão a ini-
ciar a prática desportiva, designadamente o futebol. todavia, em termos futuros, constitui-
-se naturalmente como urgente que se continue a perspectivar o desenvolvimento dos
jogadores de futebol como um caminho que disseque todas as variáveis que o possam
perturbar. a formação de um jogador de futebol é um continuum e há vários factores que
podem, ou não, promover um desenvolvimento salutar do futebolista. neste contexto, no
âmbito da psicologia do desporto, a ansiedade surge apenas como um dos factores que in-
fluenciam o rendimento. neste estudo, optámos por estudar a relação entre os objectivos
de realização, o clima motivacional e o traço de ansiedade em jogadores do escalão de es-
colas. será que nos escalões de infantis, iniciados, juvenis e juniores se verificariam estes
resultados? o treinador, em comparação com os pais e colegas de equipa, promoverá um
clima motivacional distinto? em clubes de maior dimensão, haverá maiores ou menores
níveis de ansiedade? o nível competitivo é, por si só, um factor indutor de ansiedade? e de
que forma é que os pais, colegas e treinadores interagem com os atletas, em termos do
clima motivacional que é gerado? adicionalmente, há outras áreas, no domínio da psicolo-
gia do desporto, cuja relação com a ansiedade competitiva é merecedora de atenção (e.g.,
competência percebida, coesão de grupo). pensamos assim ter contribuído para a com-
preensão de uma pequena parte do “problema”, perspectivando para um futuro próximo
novos “espantos” que contribuam para o desenvolvimento dos jovens que praticam futebol.
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