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QUE ABALARAM O MUN
1001 DIAS QUE ABALARAM O MUNDO
EDITOR GERAL PETER FURTADO PREFÁCIO MICHAEL WOOD
O H i r o s h i m a , 6 d e a g o s t o d e 1945 ,8h15 . S E X T A N T E
Sumário
Prefácio
Introdução
índice por país
Big Bang-1 d.C.
1-999
'//////////////////////^ 1000-1499
y//////////////////M^^^ 1500-1699
1700-1899
1900-1949
^///////////////^^ atuais
Glossário
índice geral
Créditos das fotos
Colaboradores
Agradecimentos
Prefácio Por Michael Wood, historiador e apresentador de televisão
Em 2007, tive a sorte de conseguir uma carona para o Curdistão iraquiano com uma patrulha americana que partia de Mossul. Meu objetivo era fazer uma investigação histórica. O calor do verão se apresentou ao raiar do dia, e em pouco tempo já estávamos sufocados dentro de nossos coletes blindados na cabine de um transporte de tropas abarrotado. Atravessamos o rio Tigre e pouco depois passamos pelas ruínas dos portões de Nínive, com suas lembranças do Antigo Testamento e de reis assírios, de medos e persas "abatendo-se qual um lobo sobre o rebanho". Conforme descíamos a antiga estrada para a Babilônia, era possível ver à nossa volta as diferentes camadas da história iraquiana -greco-assíria, cristã, muçulmana - com lembranças de batalhas, dos assírios aos mongóis, e hoje, talvez igualmente desastrosa, da operação Iraque 1 ivre. Enquanto eu espiava pelo posto de observação do veículo, me vi pensando que, para estar realmente viva, a História precisa ser sempre Aqui e Agora.
Depois de Mossul, um grande maciço brota da planície: é Jabal Maqlub, ou "montanha de cabeça para baixo", conhecida pelos cristãos iraquianos como Alfaf ou "a colina dos mil santos". Mais tarde no mesmo dia, subimos ao topo e deparamos com uma vista espetacular das montanhas do Curdistão. Abaixo de onde estávamos, no meio de uma vasta planície, ao lado de um leito seco de riacho, havia um morro de encosta íngreme. Hoje chamado de Tel Gomei, esse morro já abrigou uma cidade antiga batizada em homenagem à montanha sobre a qual estávamos pisando: Gaugamela, ou "Lombo de Camelo". Estávamos olhando para o local da maior batalha de Alexandre, onde - como depois alegaram os gregos -49 mil gregos derrotaram quase um milhão de homens liderados pelo imperador persa Dario. A batalha transformou Alexandre em "Senhor da Ásia", e o mundo nunca mais seria o mesmo. A data era 1"de outubro de 331 a.C
Quando eu era estudante, no fim da década de 1960, a noção convencional era a de que os grandes acontecimentos, assim como o papel do indivíduo na História, eram supervalorizados; "os dias que abalaram o mundo" eram um conceito redundante. Os historiadores de esquerda, em especial, insistiam que o que de fato constituía a História eram forças mais profundas - movimentos sociais, proletários. Um pouco mais tarde, o grande livro de Fernand Braudel sobre o Mediterrâneo nos ensinou (de maneira mais convincente, a meu ver) que a História existe em-diferentes níveis: embaixo de tudo fica a longuedurée
da paisagem e do clima, na qual se encaixam os padrões arraigados e de longo prazo da vida humana; por cima desta se sobrepõem a ascensão e a queda das civilizações; e somente no terceiro nívei é que existe a histoire événernentielle - os "simples acontecimentos", esses vaga-lumes de vida breve que iluminam por um instante a superfície da História. Tenho certeza de que Braudel está certo. Apesar
disso, me parece também indiscutível que pessoas como Alexandre e dias como
o da Batalha de Gaugamela realmente mudaram o mundo.
É isso que torna esta compilação tão fascinante. A idéia é simples: uma
lista de 1.001 dos momentos mais importantes da história da humanidade. Não
apenas acontecimentos, mas idéias, invenções, criações artísticas. Para mim,
muitos relatos deste livro lembram minhas viagens pela História ao longo dos
anos: as caronas que peguei quando era estudante até o salto da bota italiana
para encontrar a Canas de Aníbal, ou pela costa sul da Turquia até Isso. Em Alésia,
durante as férias da faculdade, lembro-me de descobrir, para meu espanto, que
ainda se podiam distinguir tênues vestígios das imensas trincheiras com as quais
Júlio César primeiro cercou Vercingetórix para em seguida sufocá-lo. Lembro-me
também de passear pelos subúrbios em ruínas da Cidade do Méxk o à procura
de indícios físicos (ou mesmo tradições orais) da queda da cidade em 1520-1521,
que Adam Sinith considerava o acontecimento mais importante da História
e que marcou o início da conquista espanhola da Mesoamérica.
Outro aspecto intrigante são os sincronismos históricos que surgem neste
livro. Considerem por exemplo aquilo que Karl laspers denominou Era do i ixo.
A idéia de que Buda, Confúcio, Lao Tsé, os primeiros filósofos gregos e alguns
dos profetas do Antigo Testamento possam todos ter vivido na mesma época: o
significado disso para a história do pensamento humano ainda é foco de acirrados
debates. Outros sincronismos revelados nestas páginas não são menos notáveis.
No século VII, o curso de duas religiões foi radicalmente alterado: o profeta Maomé
morreu (em 632 d.C); exércitos árabes muçulmanos saíram da península Arábica
para mudar o curso da História; e Hsuan Tsang chegou à Caxemira para uma das
maiores missões culturais - levar de volta à China os principais textos do budismo,
religião que tinha então, provavelmente, o maior número de adeptos no mundo.
Trata-se, é claro, de uma lista para a nossa época. Daqui a uma ou duas
gerações, os historiadores talvez revejam esta lista e descubram tendências que
nós não detectamos: quem sabe encontrem precursores de sua própria época
que nós hoje ainda não conseguimos ver. Mas não é justamente isso, afinal de
contas, que constitui o eterno fascínio da História? Ela nunca é estática; está
sempre mudando, e, como descobri naquela tarde no Lombo de Camelo no
norte do Iraque, em seus aspectos mais fascinantes ela é sempre Aqui e Agora. E
é esse o atrativo deste belo e instigante livro.
Introdução Por Peter Furtado, editor geral
Todos os dias, em todos os lugares do mundo, coisas acontecem. Pessoas com
pram e vendem, constróem e destroem, brigam e negociam, vivem e morrem,
de formas grandiosas ou simplórias, sendo cada ação um acontecimento dis
tinto. E o mundo vai se transformando pouco a pouco, na maioria das vezes de
forma imperceptível, mas algumas vezes de maneira dramática.
Todos os dias, em todos os lugares do mundo, as pessoas olham para essa
massa caótica de acontecimentos e tentam narrar alguns deles, organizá-los em
padrões, dizer quais são mais ou menos importantes. Olham para esse emara
nhado de acontecimentos e tentam encontrar neles - ou então atribuir-lhes -
um significado, usá-los para construir histórias, trazê-los à atenção de outros a
quem possam interessar. Um dos resultados disso é o jornal impresso ou o no
ticiário da TV, que ordenam, priorizam e explicam uma proporção minúscula da
massa de eventos, de modo a informar, educar e entreter os outros.
A tarefa de impor ordem ao caos não é simples e nunca é concluída de forma
completa ou totalmente satisfatória. Talvez um repórter descubra apenas parte da
verdade; talvez algum detalhe crucial fique escondido ou passe despercebido; tal
vez os vínculos - o significado - sejam abrangentes ou intricados demais para que
se possa entendê-los; talvez a história se mostre indigesta do ponto de vista das
idéias preconcebidas em relação ao que deveria acontecer e por isso seja ignorada
ou suprimida. Assim dispomos de vários repórteres, cada qual trabalhando de sua
perspectiva distinta, enquanto nós, consumidores, separamos e escolhemos a ver
são dos acontecimentos do dia que nos pareça mais cômoda ou útil.
Um aspecto-chave da busca por significado é desemaranhar as correntes de
causa e efeito, procurar vínculos entre fatos que estão acontecendo no presente
e aqueles relatados no passado. Essa busca logo leva algumas pessoas a retro
ceder cada vez mais no tempo, tentando descobrir não apenas o que aconteceu
de fato, mas delimitar esses vínculos, identificar cuidadosamente a forma como
um acontecimento influenciou o outro. O resultado disso é a História.
Entre historiadores, a causalidade sempre foi motivo de controvérsia. É óbvio
que o mundo se transforma, mas como exatamente? Há quem enfatize as forças
subjacentes, as tendências econômicas, culturais ou intelectuais que originam os
grandes padrões de mudança nos quais todos os acontecimentos menores se
encaixam; ao passo que outros preferem ressaltar a contingência e os efeitos do
acaso, da personalidade e do erro humano. A maior guerra européia, em meados
do século XX, foi conseqüência de tensões e tendências que já vinham de muitas
décadas ou foi produto da visão de mundo de um único homem? O simples fato
de enunciar essa pergunta demonstra como a escolha é falsa: não se trata de um
ou de outro, mas sim de ambos.
Um dos prazeres de se examinar o drama humano do passado é per
ceber o quanto ele é abrangente e o quanto muitos de seus aspectos são
memoráveis. Toda a vida humana está ali. E, se a História oferece o maior
de todos os palcos, muitos dos personagens que nele se destacam são pes
soas extraordinárias. Sejam eles monstros, heróis ou fracassos completos em
situações além de suas capacidades, os protagonistas do passado, com todas
as suas ambições e defeitos, proporcionam um espetáculo que ultrapassa
a imaginação até mesmo de nossos maiores dramaturgos. Se observarmos
seus dramas, as histórias de seus atos podem permanecer em nossa mente
pelo resto da vida.
Í.001 dias que abalaram o mundo apresenta uma série de cenas extraídas
desse imenso drama. A série começa bem no início - na verdade, antes da Histó
ria, antes da criação da Terra - e vai até o século XXI. Ela abrange o mundo inteiro.
Abarca alguns dos fatos mais importantes que se desenrolaram, e outros um
tanto triviais, cujo interesse está na forma como se introduziram na consciência
popular e ali permaneceram.
Antigamente, as crianças eram obrigadas a decorar os nomes dos reis e rai
nhas da Inglaterra, dos presidentes dos Estados Unidos, ou de todos os explora
dores dos novos continentes. Muitas vezes, também sabiam de cor as datas de
acontecimentos famosos, de modo que bastava alguém dizer "1776" ou "1789"
para elas já entenderem que a pessoa estava se referindo à Declaração de Inde
pendência Americana ou à Revolução Francesa. Essa prática educativa já não é
mais tão comum nos dias de hoje, e muita gente reclama que o conhecimento
desses nomes e datas do passado se perdeu. Datas memoráveis têm diversas
vantagens. Elas funcionam como uma espécie de atalho para os grandes acon
tecimentos históricos e se organizam naturalmente em ordem cronológica. M e
morizar datas, portanto, dá uma noção do que vem antes e do que vem depois.
Isso é diferente de causa e efeito, mas ajuda a formar a "visão de conjunto" do
passado, em que se podem inserir conhecimentos mais detalhados sobre tópi
cos específicos.
Este livro apresenta mil dessas datas, mais uma para dar sorte, oferecendo
assim uma espécie de "visão de conjunto". Não é uma visão perfeita ou com
pleta - na verdade, mais do que um quadro a óleo emoldurado, trata-se de um
desenho do tipo "ligue os pontos". Esse desenho, porém, tem forma definida e,
se você tentar juntar os pontos e descobrir os padrões que existem ali, terá uma
noção de como o mundo mudou. E, caso fique intrigado o suficiente para querer
colorir alguns detalhes e pesquisar os acontecimentos que mais o marcarem,
nesse caso o livro terá cumprido bem a sua função.
Você não precisa começar do início e ler o livro de cabo a rabo. Cada item é independente e apresenta, dentro das óbvias limitações de espaço, um vislumbre do drama ocorrido no dia em questão, onde se passou, por que motivo e quais foram suas implicações. Assim, você pode mergulhar no livro, ler sobre coisas das quais nunca tinha ouvido falar e emergir com o instantâneo de um momento-chave do tempo. Mas é preciso reconhecer que, seja qual for a abrangência dos itens, é praticamente impossível contemplar, em um livro como este, tudo o que poderia ser dito sobre o passado. O que tentamos fazer foi selecionar acontecimentos memoráveis e lhes dar um contexto e uma conseqüência. Embora qualquer acontecimento pudesse ser incluído, limitamo-nos àqueles ocorridos e m um único dia ou que pelo menos atingiram seu clímax nesse dia.
Os indícios históricos podem ser incompletos, sobretudo no que diz respeito ao passado mais remoto, de modo que nem sempre é possível ter certeza de em que dia exato de que mês exato um acontecimento específico ocorreu. Algumas vezes, mesmo para os acontecimentos mais famosos de toda a His-tória, há controvérsias quanto à data em que teriam ocorrido - o nascimento de Jesus é um exemplo disso. A falta de exatidão não significa que esses acontecimentos não sejam verídicos, portanto nós os incluímos. A confusão pode resultar também dos muitos sistemas diferentes de calendário usados mundo afora na época ou das diferentes formas de narrar. Até algumas centenas de anos atrás, e m termos oficiais ou jurídicos, o ano não começava no dia I a de janeiro como hoje, mas sim em 25 de março (Dia da Anunciação do Senhor ou da Anunciação a Nossa Senhora), de modo que um acontecimento que podemos pensar ter ocorrido, digamos, no dia 30 de janeiro de 1649 (a execução do rei Carlos I por Oliver Cromwell) era datado pelo povo da época no dia 30 de janeiro de 1648. Da mesma forma, a mudança de calendário justifica que Lenin e os bolcheviques tenham batizado sua tomada de poder revolucionária na Rússia de "Revolução de Outubro", pois segundo eles a tomada definitiva do Palácio de Inverno ocorreu em 25 de outubro, embora hoje em dia se diga que foi no dia 7 de novembro de 1917.
Como é impossível conhecer cada detalhe de tudo que aconteceu no passado, algumas vezes é mais importante saber o que as pessoas achavam que tinha acontecido. Muitas vezes, por diversos motivos, aceitaram-se histórias de eventos ocorridos antigamente que hoje parecem bastante improváveis, ou mesmo impossíveis. Alguns historiadores preferem ignorar essas ocorrências e se concentrar no que de fato aconteceu. Às vezes, porém, a crença em si, por mais estranha que seja, é importante, porque leva aqueles que nela acreditam
a atos notáveis que impactam a vida de muitos. Assim, a história dos fatos que eles pensam ter ocorrido também faz parte da História - contanto que deixemos claro que a crença t ambém faz parte da História, e não apenas o aconteci mento. É por isso que se poderão encontrar no livro alguns acontecimentos - , por exemplo, a "Criação do Mundo" em outubro de 4004 a.C. - que nenhum historiador moderno poderia alegar com seriedade terem ocorrido de verdade. O fato de pessoas inteligentes um dia terem acreditado que sim, e que isso tenha afetado seriamente as decisões que essas pessoas tomaram em relação à própria vida, é motivo suficiente para sua inclusão. A maioria dessas datas, como a fundação de Roma por Rômulo em 21 de abril de 753 a.C, depois de ele e seu gêmeo Remo terem sido criados por uma loba, está relacionada a mitologias há muito extintas, mas ainda assim são datas que desempenharam um papel importante na história das culturas a elas relacionadas.
As histórias aqui apresentadas são tanto políticas, dinásticas e militares - a matéria-prima da História, dirão alguns - quanto culturais, tecnológi cas e científicas. Embora comecemos na Pré-história, nossa ênfase está nos últimos 150 anos. I lá vários motivos para isso. Um deles é que, antes do desenvolvimento dos impérios ocidentais e da conseqüente globalização da História, apenas uns poucos acontecimentos ultrapassavam as fronteiras das terras onde ocorriam. Apesar de esses fatos terem sido incluídos, muitas outras ocorrências fascinantes, mas essencialmente locais, foram deixadas de fora. A partir do século XIX, acontecimentos de uma parte do mundo passaram a afetar outras partes distantes com freqüência muito maior, dal a ênfase nos dois séculos mais recentes. Outro motivo é que a História simplesmente se acelerou nos últimos dois séculos: mais coisas aconteceram mais depressa do que aconteciam na Idade Média, digamos, ou pelo menos ocorreram mais coisas relatadas em detalhe e cujas implicações e raízes po dem ser identificadas. À medida que as mudanças se aceleraram, os dias que abalaram o mundo também se tornaram mais freqüentes.
Nenhuma escolha de 1.001 dias que abalaram o mundo poderia ser definitiva, e eu espero - mais ainda, torço para isso - que esta seleção seja questionada. Espero também, no entanto, que o leitor encontre relatos que o surpreendam e interessem. Isso tudo é bom. A História nunca é definitiva. Se você não discordar dela em alguns momentos e se ela não o surpreender ocasionalmente, é sinal de que alguma coisa está errada. Ou ela foi mal apresentada ou você acha que já sabe tudo que há para saber sobre a vida. A História é um diálogo entre todos nós - escritores, leitores, estudiosos, cidadãos - e toda ela está aberta a discussões. Então vamos discuti-la.
H Á 13.700.000.000 DE A N O S
0 universo surge de uma explosão O Big Bang é o início do universo.
O Uma ilustração conceituai da explosão, feita por computador, mostra a expansão de gás e matéria que iria se tornar o nosso universo.
Não houve nenhum bang - tenha sido ele grande, big,
ou pequeno -, já que o som não dispunha de um meio no qual pudesse se propagar. Foi o início do tempo, do espaço, da matéria, da energia, de todas as coisas - tudo criado inexplicavelmente a partir de uma "singularidade" onde nada disso existia antes. Nos anos 1960, cientistas detectaram o eco do Big Bang na forma de uma radiação de fundo vinda do espaço. Eles forneceram uma explicação teórica do que deve ter acontecido no primeiríssimo segundo de existência do universo, quando ainda era minúsculo e extraordinariamente quente: ocorreu uma súbita expansão, e a matéria passou da diminuta escala quântica para a de um cosmos pequeno, mas em expansão. Grandes quantidades de matéria e antimaté-ria foram criadas e quase todas se aniquilaram, restando
apenas uma pequena quantidade de matéria. À medida que o universo esfriou e seus imensos níveis de energia diminuíram, partículas subatômicas se juntaram. Foram necessários mais 380 mil anos para as temperaturas caírem o suficiente a ponto de elétrons e prótons se unirem para produzir átomos.
Grandes nuvens de hidrogênio se acumularam, formando massas ainda mais densas que se compactaram devido à força da gravidade até os átomos de hidrogênio do centro se fundirem e se transformarem em hélio, liberando uma energia que os levou a se acenderem na forma de estrelas. Quando algumas delas explodiram, tornando-se supernovas, criaram-se átomos ainda mais pesados, que formaram a matéria-prima do universo atuai. P F
H Á 65.000.000 DE A N O S
A aniquildção dos dinossauros A colisão de um asteróide com a Terra explicaria a extinção dos animais pré-históricos?
O A fronteira K/T, uma camada preta entre as rochas cretácea eterciária, é constituída de material liberado pelo impacto de um asteróldi'.
Depois de dominar a Terra por mais de 100 milhões
d e anos, os dinossauros morreram subi tamente 65
milhões de anos atrás. Igual dest ino t iveram os
amonites, a maioria dos répteis marinhos, certas
espécies de plâncton e marsupiais. Porém, mamí
feros pequenos e primitivos sobreviveram, assim
c o m o aves, insetos, lagartos e anfíbios. Em a lgu
mas partes do mundo , a maioria das plantas t a m
b é m foi extinta.
O que terá acontecido? As teorias mais prová
veis sugerem um ou vários impactos importantes
de asteróides que poder iam ter derretido a crosta
terrestre, causando graves perturbações a tmos
féricas e gerando imensos tsunamis e incêndios,
seguidos por uma queda drástica d o nível do mar.
Um dos locais associados a esse f enômeno fli 8 próximo à costa do Yucatán, alvo do impacto de um asteróide de 10 qui lômetros de diâmetro,
No entanto, não está claro por que alguns gru pos de animais foram aniquilados enquanto outP i] sobreviveram. Animais menores e capazes de se esconder debaixo da terra foram menos afetados do que os grandes habitantes da superfície, e ,is espécies que nadavam livremente sofreram m a r . do que as criaturas que se al imentavam no fundo do mar. Mas a sobrevivência das aves sugere q u e as perturbações atmosféricas podem ter sido bai tante breves. P F
4004 A C . 22 DE O U T U B R O 2575 A.C.
Faça-se a luz! 0 bispo de Armagh examina a Bíblia para identificar a data da criação.
"No princípio Deus criou o céu e a terra." As primei-
ras palavras do Livro do Gênesis marcaram o início
da história para milhões de cristãos e judeus por
muitos milênios - mas quando foi esse início? A n
tes do século XVIII, quando pesquisas geológicas
( omeçaram a sugerir que a Terra tinha muitos mi
lhões de anos de idade, a melhor informação que
as pessoas t inham a seu dispor eram as muitas g e
rações mencionadas na própria Bíblia. Usando essas
gerações e a duração da vida de alguns patriarcas
(muitas vezes extraordinariamente extensa), cru-
zando-as com os ciclos astronômicos e com o que
s e conhecia da história médio-oriental e egípcia,
Limes Ussher, bispo da cidade irlandesa de Armagh,
calculou em 1658 que "o início" ocorreu no cair da
1 mite de sábado, 22 de outubro, cerca de 4.004 anos
antes do nascimento de Jesus.
Ussher supôs que, quando a noite e o dia foram i liados, deviam ter duração equivalente, o que apontava para uma data próxima ao equinócio. Supôs tam-I i i ; m que para que Adão e Eva tivessem o que comer leiia de ser época da colheita no Jardim do Éden. A d,iti escolhida por Ussher foi incluída na margem de muitas Bíblias impressas do início do século XVIII até meados do século XX, tornando-se famosa.
Ussher não foi o único estudioso de sua época a lazer um cálculo assim. Alguns anos antes, o vice-' iltOl honorário de Cambridge, John Lightfoot, havia
i alculado que o céu e a terra t inham sido criados em seiembro de 3929 a.C. Antes dele, outros estudios o 1 . , c o m o Beda, o Veneráve l , Mar t inho Lutero e lohannes Kepler, já haviam feito cálculos compl i cados para chegar a conclusões parecidas, mas ne nhum deles obteve a mesma-aceitação universal da i fi la de criação de Ussher. P F
Conclusão da Pirâmide A Grande Pirâmide de Gizé abriga a tumba do rei Quéops.
A pirâmide de Quéops é a única das Sete Maravilhas
do Mundo Antigo que sobrevive até hoje. Construída
em 2575 a.C, ela abriga o túmulo de Quéops, faraó
que reinou durante 23 anos sobre o Alto e o Baixo
Egito. Poucos registros de seu reinado chegaram até
nós, mas algumas inscrições sugerem que ele travou
combates tanto ao sul, na Núbia, quando ao norte,
em Canaã. Apesar da escassez de informações, sua
reputação resistiu ao passar dos milênios. Quéops é
lembrado como um rei cruel, determinado a alcançar
dois importantes objetivos: assegurar a sobrevivência
de sua dinastia depois do filho Quéfren e garantir
a própria imortalidade por meio da construção da
Grande Pirâmide de Gizé, maior monumento do m u n
do antigo. O historiador grego Heródoto alegava que
Quéops havia forçado a filha a se prostituir de modo
a angariar fundos para sua pirâmide.
Os problemas logísticos criados por tão imensa
construção - de 146m de altura e formada por cerca
de 2,3 milhões de blocos de pedra -, em um tempo
relativamente curto, eram espantosos. No entanto,
foram claramente superados. O projeto simples da
construção, incomum no Egito por não ser coberta de
inscrições ou preces, vem fascinando os observado
res há muitos milênios. Recentemente, a exploração
dos estreitos corredores da estrutura usando câmeras
acopladas a robôs sugeriu que a pirâmide foi construí
da em alinhamento com a constelação de Órion, para
permitir que a alma do rei viajasse até as estrelas.
Ao lado da pirâmide havia um barco fúnebre de
43m de comprimento, no qual o rei foi levado para o
lugar de seu descanso final, e tumbas menores para os
membros de sua família - algo inédito na época. P F
O A célebre esfinge de Gizé e, ao fundo, a Grande Pirâmide.
2334 A.C. 1760 A.C.
Sargão assume o Império Sargão derrota dois reis e se torna o primeiro governante da Mesopotâmia.
Em 2334 a.C, Sargão tornou-se o primeiro imperador tia história do mundo. De origem humilde - criado por um jardineiro -, acabou alcançando o prestigioso cargo de portador do cálice de Ur-Zababa, rei da cidade mesopotâmia de Kish. Mais tarde, Sargão travou unia guerra contra Lugalzagesi, poderoso rei de Uruk, e ao derrotá-lo tornou-se imperador da Mesopotâmia.
0 novo imperador estendeu seu domínio por toda
a região e comandou campanhas militares que se esten
deram até a costa do Líbano e a Anatólia, a oeste. Sargão,
( i ijo nome significa "rei por direito", estabeleceu sua ca-
''Agora qualquer rei que quiser ser chamado de meu igual, que vá aonde eu fui." S a r g ã o , i m p e r a d o r da M e s o p o t â m i a
pitai em Acad, cidade nas margens do Eufrates que jamais foi encontrada. Ele imediatamente implantou uma grande burocracia, que assumiu o papel de atividade econômica mais importante nas cidades-templo da an-liga Suméria. Estradas foram construídas, e inventou-se um sistema postal usando selos reais. Também foi feita uma tentativa de recensear a população.
Durante os 56 anos de seu reinado, o acadiano, uma língua semítica, tornou-se a língua oficial da M e sopotâmia. Sargão enfrentou revoltas freqüentes, primeiro lideradas por Lugalzagesi, depois por cidades-estado individuais. Por volta do fim de seu reinado, Acad foi sitiada, mas quando Sargão morreu, em 2279 a.C, ele pôde deixar, para os filhos, seu império, que ainda resistiu 150 anos antes de sucumbir à anarquia interna. P F
Código de Hamurábi Hamurábi estabelece suas 282 leis, criando um sistema jurídico duradouro.
A principal contribuição à civilização de Hamurábi, rei da Babilônia a partir de 1782 a.C, foi o estabelecimento de um código de 282 leis em 1760 a.C. Escrito na língua acadiana em uma esteia, ou coluna de basalto, ficava exposto em um local proeminente da cidade. As leis nele inscritas detalhavam punições para ofensas específicas (muitas envolviam a pena de morte). Violência à parte, elas representam princípios jurídicos duradouros, como a importância das provas, a pressuposição de inocência e a necessidade de se evitar a justiça arbitrária. No alto da esteia há uma ilustração do rei recebendo as leis do deus Shamash. Talvez não seja o primeiro código jurídico, mas é o mais completo a ter sobrevivido.
Criou-se um sistema de juizes profissionais, e foi concedido ao rei o direito de apelação - embora até mesmo dele se exigisse um comportamento condi zente com o código de justiça de inspiração divina e, portanto, imutável. Vinganças tribais ou consuetudi-nárias não eram aceitáveis. Estabeleceu-se o direito de propriedade e um sistema de contratos, bem como os direitos dos senhores sobre os escravos e dos proprietários sobre os inquilinos. Também criou-se um direito matrimonial, e o casamento passou a ser tratado principalmente e m termos contratuais.
Além de estabelecer um código de leis, Hamurábi fortaleceu seu reino tanto do ponto de vista mi litar quanto do econômico. Até ele herdar o trono, a Babilônia era apenas mais um dos muitos pequenos Estados mesopotâmios em conflito. Depois de repelir um ataque dos elamitas, Hamurábi conquistou a poderosa cidade rival de Larsa para criar seu império no sul da Mesopotâmia em 1763 a.C. P F
O Uma tabuleta de pedra gravada mostra um fragmento do código
de Hamurábi, escrito em caracteres cuneiformes, c. 1760 a.C.
CERCA DE 1620 A.C.
Uma explosão vulcânica atinge Thera O Mediterrâneo Oriental sofre um dos piores desastres naturais do mundo.
O Ânforas semi-enterradas em pedra-pomes e escórias da
erupção vulcânica na ilha de Thera.
"Em um dia e uma noite de infortúnio... a ilha de Atlântida... desapareceu." Timeu, d e P l a t ã o , c. 360 a.C.
A erupção vulcânica na pequena ilha de Thera, ou Santorini, no mar Egeu, não tem registro e m ne nhuma literatura conhecida, e os cientistas ainda d e batem se ela de fato ocorreu (em algum momento entre 1650 e 1550 a.C, sendo 1620 ou pouco depois a data triais comumen le estimada), mus suas ondas de choque foram sentidas por todo o Mediterrâneo Oriental. A provável segunda maior erupção vulcânica da história humana - soltou quatro vezes mais fumaça e cinzas na atmosfera do que o Krakatoa e m 1883 e cobriu o solo marinho com uma camada de até 80m de pedra-pomes por um raio de muitos quilômetros - aparentemente provocou um imenso tsunami responsável por uma destruição de proporções catastróficas na civilização minoana, ao norte de Creta, que jamais se recuperou. A explosão também abriu na própria Thera uma enorme depressão vulcânica, e enterrou a cidade de Akrotiri.
Registros egípcios não sugerem que o acontecimento tenha tido impacto significativo no vale do Nilo. Embora alguns estudiosos tenham argumentado que as pragas bíblicas que assolaram o Egito pudessem estar relacionadas com as conseqüências da explosão, a maioria considera que o êxodo dos judeus do Egito ocorreu muitos séculos depois. Existem, no entanto, sugestões de que condições climáticas pouco habituais ocorridas na China na época possam estar relacionadas à explosão. Alguns estudiosos chegaram até a relacionar Thera com o desaparecimento da lendária ilha de Atlântida.
A partir de 1967, escavações em Akrotiri revelaram afrescos notáveis, indicando vínculos comerciais e culturais com o Egito, Creta e o Levante. Não foram encontrados vestígios humanos, o que sugere que os habitantes tiveram tempo suficiente para fugir, ao contrário dos de Pompéia. P F
O faraó venera o deus do disco solar Aton Amenófis funda Amarna e reformula as regras da sucessão real egípcia.
Os reis do antigo Egito, conhecidos a partir da déc i ma oitava dinastia como faraós, identificavam-se universalmente com o deus supremo Amon, o Oculto, e com Rá, o deus-sol. No quinto ano de seu reinado, Amenófis IV desprezou os antigos deuses em favor de sua própria divindade individual e mudou o próprio nome para "Aquele que Serve a Aton".
Akenaton fundou sua capital e m Amarna, no deserto, estabeleceu um sacerdócio próprio, e criou, junto com a esposa Nefertiti, um estilo original de arte naturalista no qual o rei era retratado com um físico estranho, de traços alongados e barriga saliente, diferente de qualquer outro monarca egípcio. Isso levou alguns estudiosos a sugerir - com base e m poucos indícios suplementares - que o faraó sofria de diversas doenças. 0 templo de Aton era aberto para deixar o sol entrar, e o rei escreveu um hino em homenagem a seu deus que foi comparado à literatura monoteísta contemporânea, como por exemplo os salmos judaicos.
A mudança e m relação à o rdem estabelecida foi dramática. A nova religião provocou forte o p o sição no Egito, e Akenaton revelou-se incapaz de proteger seu império no Or iente Méd io d e incursões de hititas anatólios e outros povos. Depois de sua morte, seu filho reinou por um breve período c o m o Tutancaton antes de ser forçado a mudar seu n o m e e sua fé de volta para as formas tradicionais, v i rando então Tutancâmon. Embora tenha sido um governante pouco d igno de nota sob outros aspectos, Tutancâmon tomar-se-ia o mais célebre de todos os faraós graças ao fato de sua tumba ter sido a única (até onde se sabe) a sobreviver intacta até a época moderna. P F
ti. .."J ílfl
mi.
O Um relevo gravado mostra Akenaton e sua famílm vcm-t
Aton, o disco solar (c. 1350 a.C).
"Pássaros saúdam o seu ka, e todos os rebanhos se agitam." H i n o a A t o n , insc r i ção , t u m b a d e A y
1279 A.C.
Ramsés II é coroado no Egito É o início de um dos reinados mais longos e importantes da história do mundo.
O O que restou das colossais estátuas de Ramsés II no templo
construído por - e dedicado a - ele em Abu Simbel.
"Ataquei todos os países sozinho... já que meus carros haviam me abandonado." A n a i s d e R a m s é s II
Ramsés II iniciou seu longo reinado e m 1279 a.C, de pois da morte do fundador da décima nona dinastia, Seti I, que havia restaurado a importância comercial e o poder egípcio em todo o Levante, criando o mais extenso império do antigo Egito. Ramsés deu con tinuidade ao trabalho de Seti, travando contra os hiti-tas, e m 1275 a.C e m Kadesh, na Síria, nas fronteiras do império, uma batalha renomada, embora de resul tado duvidoso, que definiu os limites de poder dos dois Estados e foi descrita em detalhes nos muros do templo funerário do faraó em Tebas, conhecido como Ramesseum.
Mais tarde em seu reinado, Ramsés teve de e n frentar o poder crescente dos assírios. Ele t a m b é m deu início a uma série de vastos e arquitetonicamente interessantes projetos de construção e m Luxor, Karnak, Ábidos e Abu Simbel. Neste último local, mandou erguer um templo escavado na ro cha supostamente dedicado ao deus Amon-Rá, mas que era precedido por duas estátuas de 20 metros de altura do próprio Ramsés sentado. Em 1959, quando a represa de Assuã foi construída no Nilo, a e levação do nível do lago Nasser encobriu o local do templo, e todo o complexo de Abu Simbel, assim c o m o suas estátuas, foi transferido para um terreno mais e levado.
O corpo mumif icado de Ramsés II foi descoberto e m Deir el-Bahri na década de 1880, e nos anos 1970 finalmente foram realizados os trabalhos de preservação necessários, possibilitando às civilizações modernas um vis lumbre notável dos traços desse rei ruivo, f is icamente imponente e de nariz adunco. P F
Moisés conduz seu povo para fora do Egito Moisés conduz os judeus para longe do cativeiro através do mar dos Juncos.
Embora a data exata seja motivo de freqüentes con trovérsias, foi provavelmente no início do reinado de Seti I que o povo hebreu de Canaã, sofrendo com a fome, migrou para o Egito, onde foi escravizado. Há indícios de que os hebreus tenham de fato trabalhado na cidade de Píton, no delta do Nilo, conforme descrito na Bíblia.
Segundo o livro do Êxodo, um menino hebreu, Moisés, foi criado como egípcio na casa do rei. No entanto, depois de descobrir suas verdadeiras origens e de perceber os maus-tratos sofridos pelos hebreus, Moisés decidiu, e m 1250 a.C, conduzir seu povo para longe do cativeiro. Na companhia do irmão, Aarão, ele desafiou o novo faraó Ramsés a deixá-los partir. Quando o faraó recusou, os dois tentaram algumas demonstrações mágicas para mostrar que eram protegidos pelos deuses, e então, segundo a Bíblia, o reino foi assolado por uma série de pragas (talvez resultado de uma cheia excepcionalmente forte do Nilo). A praga final foi a morte dos primogênitos de todos os lares do reino, exceto aqueles que os hebreus t i vessem marcado com um sinal feito com o sangue de um cordeiro sacrificado, o que significava que a praga divina "passaria por cima" da casa. Esse acontecimento foi considerado um sinal da primeira grande intervenção divina da história judaica e é comemorado todos os anos no festival do Pessach.
Depois disso, Moisés incentivou milhares de hebreus a se mudarem para o deserto do leste. O faraó enviou numerosos soldados em seu encalço, mas Moisés guiou seu povo através dos pântanos do mar dos Juncos (muitas vezes equivocadamente identificado c o m o o próprio mar Vermelho), onde os carros de guerra egípcios atolaram. Seguro no monte Sinai, Moi sés estabeleceu a lei judaica antes de todos retornarem para a terra de Canaã, após 40 anos de exílio. P F
O Nesta ilustração do século XIV os judeus deixam o Egito, lldfl
rados por Moisés e perseguidos pelo faraó e por sua cavalai l.i
"E o Senhor... tornou o mar seco, e as águas foram partidas." Ê x o d o , 14:21
Ji Fa alega ter recebido um mandado dos céus A dinastia Zhou torna-se a mais longeva de qualquer Estado importante da China.
O Retrato sem data e anônimo do imperador Wu , hoje
conservado no Museu do Palácio Nacional de Taiwan.
"Governar um país grande é como cozinhar um peixe pequeno." L a o Tsé , Tao Te Ching, s é cu l o V I a .C.
Os Zhou, antiga tribo nômade instalada na região do rio Wei , subiram ao poder em 1122 a.C, quando seu líder Ji Fa derrotou em batalha o último representante da dinastia Shang, Dixin, e estabeleceu uma nova capital perto de Xi'an. A China havia sido unificada pelos Shang no início do segundo milênio a.C, mas Ji Fa tachou o governo Shang de corrupto, argumentando que Dixin havia se tornado cruel e despótico, mais preocupado com a construção de magníficos jardins do que com o bem-estar do povo. Além disso, afirmou que os Shang não tinham mais justificativas para governar, enquanto a sua própria legitimidade como líder provinha de um Mandado dos Céus, conceito que durou milênios na história chinesa. Seu período de go verno como Filho dos Céus, sob a denominação real de Wu , e os primeiros anos da dinastia eram lembrados como uma idade de ouro da história da China.
W u criou um Estado poderoso, que inicialmente governou por meio das cidades, mas se desenvolveu graças a linhagens feudais, com grandes extensões de terras doadas aos nobres em troca de vassalagem - al gumas dessas terras acabaram virando reinos separados e independentes. A agricultura, a vida urbana e a religião continuaram a prosperar, e o sistema de escrita se desenvolveu. No início, a nova dinastia preservou a continuidade cultural com os Shang: à medida que iam fundando novas cidades, os Zhou introduziam populações e ofícios artesanais dos Shang, incluindo trabalhos de alta qualidade com o bronze.
Os Zhou governaram a partir de Xi'an até 771 a.C. quando, depois de serem derrotados e pilhados por bárbaros vindos do norte, a capital foi transferida para Loyang. Depois disso, o poder do Estado declinou, inaugurando o Período dos Estados Combatentes, mas paradoxalmente esses foram anos de grande de senvolvimento na cultura, filosofia e arte chinesas. P F
Davi torna-se rei de Israel Histórias bíblicas indicam que o rei Davi unificou os reinos de Israel e da Judéia.
I )epois da derrota de Israel para os filisteus, que mataram Saul, primeiro rei de Israel, e seu filho Jônatas, Davi foi proclamado rei e m sua região natal da J u déia. Ele então conquistou a cidade de Jerusalém, na Cananéia, e fez dela sua capital, levando para lá a Arca da Aliança sagrada dos judeus. Nos anos seguintes, expandiu o poder de Israel para o norte até a Síria, unindo os reinos de Israel e da Judéia.
Quando era um jovem pastor, Davi havia matado, i om sua funda, o campeão de seus inimigos, Golias. Depois de fazer amizade com Jônatas, fora acolhido na casa de Saul, mas afastara-se de lá pelo comportamento cada vez mais instável do rei. Davi então tor-i lou-se mercenário a soldo dos filisteus, embora tenha evitado a batalha na qual estes mataram Saul.
Apesar de suas fraquezas humanas, Davi é apresentado na Bíblia como um monarca eleito por Deus, cujos atos militares e políticos - bem como suas atividades espirituais (diz-se que ele compôs muitos dos salmos) - são expressões de sua reação aos desejos de Deus. Seu filho Salomão expandiu a influência de Israel no Oriente Médio. Os judeus acreditavam que os reis de Israel e o Messias viriam dos descendentes de Davi. Este ocupa um lugar importante nas tradições judaica, cristã e muçulmana.
Além da Bíblia, são poucos os indícios históricos sólidos da existência de Davi. "A casa d e Davi" é mencionada em uma inscrição aramaica de cerca de 850 a.C, e e m 2005 uma arqueóloga descobriu em Jerusalém restos do que alega ter sido o seu palácio, embora isso seja contestado por outros estudiosos. Os historiadores ainda debatem se é provável a Judéia da Idade do Bronze ter tido um controle real tão unificado quanto o apresentado nas histórias bíblicas, provavelmente escritas no final do século VII d.C. P F
O Pintura do século XV mostrando Davi e Golias, atribuíd.i .11 >
artista renascentista italiano Andréa Mantegna.
"Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre." P r o m e s s a d e J a v é a D a v i ; 2 S a m u e l 7:16
959 A.C. 814 A.C.
A construção do templo Salomão conclui o templo de Jerusalém iniciado por seu pai, Davi.
Depois de ter feito de Jerusalém sua capital, Davi planejou a construção de um templo em homenagem a Javé e para isso comprou um terreno dos je-buseus, hoje o monte do Templo. Ele juntou material para a construção, incluindo grandes quantidades de ouro e prata, mas coube a seu filho, Salomão, c o m pletar o trabalho. Hiram, rei fenício de Tiro, disponibilizou pedra, cedro, ouro e bronze, e emprestou seus melhores artesãos e operários, recebendo e m troca a área e m volta da Galiléia.
O templo, que tinha 29m de comprimento e 9m de largura, levou sete anos para ser concluído. Foi consagrado um ano mais tarde, em uma cerimônia durante o ano-novo que durou sete dias, e foi então que a Arca da Aliança - receptáculo sagrado das ta-buletas onde estavam os Dez Mandamentos - foi instalada no Santo dos Santos, uma sala na qual só o alto sacerdote podia entrar uma vez por ano, no Yom Kippur. O interior da sala era todo recoberto de ouro, e a Arca da Aliança, ladeada por dois querubins esculpidos em madeira de oliveira. Antes do Santo dos Santos havia o Lugar Santo, com altares para sacrifício. Duas enormes colunas de bronze ladeavam a porta principal. A água para os banhos rituais vinha de cisternas subterrâneas.
O templo foi saqueado muitas vezes ao longo dos séculos seguintes e destruído pelo rei Nabu-codonosor II em 586 a.C. U m segundo templo foi construído e m 551 a.C, e destruído pelos romanos e m 70. Nunca foram encontrados restos incontestes do templo de Salomão, e até mesmo sua localização exata no monte do Templo é incerta. P F
O Um manuscrito com iluminuras do século XV mostra a
construção do Templo de Salomão em Jerusalém.
Dido funda Cartago Cartago tem a localização ideal para o controle do Mediterrâneo Central.
Segundo a lenda - mais conhecida graças ao é| Eneida, do poeta romano Virgílio -, Cartago foi Fun
dada após a Guerra de Tróia por Dido (princesa fenl
cia t ambém conhecida como Elissa). Dido era I
mais velha de Pigmalião, rei de Tiro, que matou marido da irmã e forçou-a a fugir para o oeste.
Quando chegou ao golfo de Túnis, em 814 a Dido pediu aos berberes que ali viviam que II» • < li sem apenas a quantidade de terra que uma pele (li • boi pudesse cobrir, mas em seguida cortou a pele i 'ii i tiras finas, o que lhe permitiu cercar uma colina Intel ra. Dido fundou a cidade nessa colina e goven i "u a até a chegada do príncipe troiano Enéias. Os dol! se apaixonaram, mas Enéias teve de seguir v i aqrm até a Itália, onde seus descendentes Rômulo e Reuu > iriam fundar Roma. Abalada, Dido amaldiçoou 11 n ilas e condenou o povo dele e o seu próprio a uma n ilml zade eterna antes de se matar.
Não existem indícios reais dessa história, e OS mal! antigos vestígios arqueológicos de Cartago têm 100 anos a mais do que a data tradicional de sua fundaçâl > A cidade foi construída em uma península coln 'i ia i Ir colinas baixas, com um lago mais atrás. O local cia d r fácil defesa, e apenas uma estreita faixa de terra Ir ia va a península ao continente. Cartago, grande rival' I'1
Roma pelo controle do Mediterrâneo Central, servia de entreposto para os fenícios da costa do I lUinn, comerciantes que desde o século X a.C. per< ninam i • Mediterrâneo Oriental. A colônia fenícia no litoral I li II te da África, perto da Túnis moderna, acabaria In am f i maior do que sua cidade-mãe, Tiro.
Ao final do século VI a.C, Roma e Cartago lutavam pelo controle da Sicília e da Sardenha, e a guerra i 'i iin as cidades continuou deforma intermitente a l e 146 B J . quando Roma destruiu completamente a rival P F
776 A.C. J U L H O
Mais rápido, mais alto, mais forte Soo realizados os primeiros Jogos Olímpicos de que se tem registro, e a tradição de organizá-los a cada quatro anos, acompanhados de uma trégua, dura mais de mil anos.
O A personificação da Vitória entregando uma coroa de louros
a um atleta, retratada em uma antiga ânfora grega.
"Para ser vitorioso nos Jogos Olímpicos, é preciso se entregar por inteiro." E p í t e t o , s é c u l o II d .C.
Segundo um mito grego, foi Zeus quem deu início aos Jogos Olímpicos para celebrar sua vitória sobre o pai, Cronos. Embora se tenha certeza de que os Jogos já eram organizados regularmente muito antes do primeiro registro em 776 a.C, o historiador Pausânias afirma que foi o rei (fito quem "organizou os Jogos e m Olímpia e restabeleceu o festival e a trégua olímpicos, após uma interrupção de duração incerta. Nessa época, a Grécia estava dilacerada por lutas internas e pela peste, e (fito pediu ao deus de Delfos para libertá-la desses males. As pitonisas ordenaram que o próprio ífito e os habitantes de Élis reiniciassem os Jogos".
Os Jogos foram organizados a cada quatro anos de 776 a.C. até 394 d.C, quando foram abolidos pelo imperador cristão bizantino Teodósio, que os con siderava um resquício anacrônico da época pagã. Tão importantes eram os Jogos que os gregos usavam-nos para contar os anos. Eles aconteciam na cidade de Olímpia, no Peloponeso, em um estádio para mais de 40 mil pessoas, e eram sobretudo um festival religioso e m homenagem a Zeus, quando era declarada uma trégua para que todos os homens de íngua grega pudessem comparecer.
No início havia uma única modalidade, o Stadion, uma corrida de 200m - uma volta pela pista do estádio. Em 776 a.C, o vencedor foi um cozinheiro chamado Coroebus. Sua recompensa foi apenas um galho de macieira, embora campeões olímpicos gregos posteriores de uma lista cada vez mais extensa de modalidades tenham sido laureados com coroas de oliveira e recebido grandes recompensas f inanceiras. Embora os historiadores menc ionem que os atletas gregos compet iam nus, a nudez, na verdade, só foi introduzida em 720 a.C, em parte como celebração do corpo humano. P F
753 A C . 21 DE ABR IL
A fundação de Roma Gêmeos brigam, e Rômulo se torna o primeiro rei de Roma.
'apostamente, a história de Roma tem suas raízes na
lenda segundo a qual os gêmeos Rômulo e Remo de
cidiram fundar uma cidade em uma colina com vista
para o rio Tibre. Quando estavam traçando suas fron-
ii 'iras, os irmãos começaram a brigar para decidir qual
dos dois seria o rei, briga que só terminou depois de
Rômulo matar Remo com um violento golpe na cabeça.
Rômulo tornou-se assim o primeiro rei de Roma e deu à
( idade o nome pelo qual ela é conhecida até hoje.
A história, claro, é uma lenda. Acreditava-se que
Rômulo e Remo fossem filhos de Marte, deus da guer-
ra. Sua mãe teria sido uma sacerdotisa chamada Réia
Silvia, descendente de Enéias, que fugira da cidade de
I róia após sua destruição pelos gregos. Segundoa len-
i L i , os meninos foram abandonados na floresta pouco
depois de nascerem por ordem do tio-avô Amúlio, um
rei local que temia que os sobrinhos-netos viessem a
depô-lo. Os bebês foram salvos por uma loba, que os
amamentou como se fossem seus filhotes.
Com o tempo, os gêmeos tornaram-se adultos,
depuseram e assassinaram Amúlio e puseram o avô
Numitor, o rei legítimo, de volta no trono. Precisa
vam, então, de uma cidade só sua para governar e,
segundo a tradição, escolheram um local perto de
i >nde haviam sido abandonados, no alto do Palatino,
uma das sete colinas de Roma.
Os romanos acreditavam que a fundação da ci
dade datasse de 21 de abril de 753 a.C, e seu calen
dário começava nesse dia. Com o passar dos séculos,
eles conservaram e embelezaram o mito de Rô
mulo e Remo. Quando, cerca de 700 anos mais tarde,
o historiador Tito Lívio escreveu sua grande história
tle Roma, ele utilizou essas lendas para mostrar que
a cidade sempre tivera reservado para si um destino
grandioso. P F
745 A.C.
No caminho da guerra Tiglath-Pileser III sobe ao trono assírio e cria um Estado unificado.
Os assírios, que segundo o poeta Byron "abatiam
se qual um lobo sobre o rebanho", dominai, im o
Oriente Médio por muitos séculos. Descritos U M M M
um dos povos mais cruéis e belicosos da Históii.i,
massacravam populações inteiras ou destruíam de
l iberadamente tribos e seus vínculos locais. I m \5
a.C, Tiglath-Pileser III, da Assíria, subiu ao poder e pas
sou ,1 dominai a Analólia.a Síria e Israel. Exp.iin liu •., -u
império conquistando e isolando Estados menuic , ,
forçando-os a lhe pagar tributos, e isolou o Iq i tn
comercial e militarmente no Levante.
"E eu levei o seu povo e todos os seus pertences para a Assíria..." Dos Anais de Guerra de Tiglath-Pileser
Tiglath-Pileser, conhec ido na Bíblia como h i l ,
um dos maiores líderes militares da história mundial
estabeleceu um Estado unificado com 80 goveri adores
de províncias, que se reportavam diretamente a ele, seu
rei. Em 728a.C,Ukin-zerda Babilônia se rebelou, l e v . n h li
Tiglath-Pileser a derrotá-lo e a assumir o trono babilônio,
Mesmo depois de sua morte, dois anos mais t,u< lc, <>
domínio e a agressão assírios continuaram. Rglatl
Pileser, ou seu sucessor Salmanasar, foi o res| -i >
pelo exílio dos judeus para a Babilônia em 722 a.C.
Os baixos-relevos e murais de Nimrud, capita
de Tiglath-Pileser, mostram um formidável exén ItO
de infantaria portando armas de ferro numa époi . t
em que a maioria dos exércitos ainda usava < > !>
Tiglath-Pileser tinha as mais sofisticadas máquin.r, < l<
cerco do mundo. P F
597 A.C . 16 DE M A R Ç O
Os judeus são exilados Nabucodonosor bane os judeus para a Babilônia após capturar Jerusalém.
Nabucodonosor II, rei caldeu da Babilônia, na Meso potâmia, a partir de 605 a.C, atacou a Judéia e cap turou Jerusalém e m 597 a.C. Ele vinha travando uma vigorosa campanha militar no Levante, mas, depois de uma grave derrota diante dos egípc ios e m 601 a.C, perdeu o controle de alguns de seus Esta-dos-vassalos e decidiu retaliar. Conforme o costume da época, exilou o rei, Jehoiachin, assim como cerca de 10 mil judeus para a Babilônia.
Dez anos depois, os judeus remanescentes se re
belaram contra o reinado de Zedequias, e os caldeus
"Junto aos rios da Babilônia, ali nos assentamos e choramos ao nos lembrarmos de Sião..." Sa lmo 137
deram início a outro violento ataque, destruindo o
templo dos judeus. Nabucodonosor mandou mais
milhares de judeus para o exílio, onde estes permane
ceram - o que era incomum para a época - como um
grupo coeso, preservando sua identidade cultural até
que lhes fosse permitido voltar para casa, em 539 a.C.
O período do exílio revelou-se ao mesmo tempo
traumático e formador para os judeus. Seu Deus, Javé,
havia prometido mantê-los na Judéia, portanto era
preciso encontrar uma explicação para o fato de ele ter
permitido seu exílio. Esta foi desenvolvida pelos profe
tas Jeremias e Ezequiel, que argumentaram, antes da
queda da cidade, que os judeus seriam punidos.
Nabucodonosor t a m b é m é lembrado pelos
Jardins Suspensos da Babilônia, construídos para
sua esposa Amitis. P F
As reformas de Sólon Uma nova constituição anuncia o nascimento da idade de ouro de Atenas.
A idade de ouro da civilização ateniense começou e m 594 a.C. quando Sólon, um nobre (e poeta) de riqueza moderada, tornou-se o principal governante da c i dade e introduziu reformas de escopo inédito. Um moderado que desejava proporcionar justiça e aliviar a pobreza, Sólon rejeitou as severas leis estabelecidas por Drácon em 621 a.C, abolindo a pena de morte para todas as ofensas, exceto assassinato e homicídio involuntário. Também afastou-se significativamente do viés aristocrático das antigas leis, que excluíam do governo todas as outras classes sociais e tinham prati-
"Os homens mantêm acordos quando não é vantajoso para nenhum dos dois rompê-los." Só lon
camente feito muitos agricultores, afundados em dívidas, virarem servos em suas próprias terras. Sólon t ambém reformou o sistema de dívidas. Embora muitos acreditassem que suas reformas fossem invalidadas pelos ricos, elas duraram muitos séculos, e Sólon recebeu o título de um dos Sete Sábios de Atenas.
Sua nova constituição deu a todos os cidadãos, independentemente da condição social, o direito de comparecer à assembléia-geral, e a todos, exceto os mais pobres, o direito de servir no Conselho dos Quatrocentos, o conselho executivo da cidade. Ele também melhorou os direitos dos estrangeiros que trabalhavam em Atenas. Embora muitos ficassem insatisfeitos com as reformas de Sólon, suas leis evitaram a ameaça real de revolução e estabeleceram sólidas bases para a glória da democracia ateniense. P F
Ciro conquista a Babilônia e liberta os judeus Ciro permite que os judeus retornem à Judéia após o exílio forçado na Babilônia, ma>, i >s judeus encontram a Judéia cheia de samaritanos.
I >epois de serem expulsos da Judéia por Nabucodono
sor em 597 a.C, os judeus permaneceram exilados na
Babilônia até a cidade ser atacada por Ciro, fundador
persa do Império Aquemênida, em 539 a.C. Ciro já havia
garantido seu domínio sobre o Irã ao derrotar os me
dos em 549 a.C, e sobre a Lídia, na Ásia Menor, alguns
anos depois. Em 539 a.C, ele voltou sua atenção para
a Mesopotâmia, e no dia 12 de outubro derrotou os
abilônios e m Ópis e tomou a cidade sem derramar
sangue, mudando o curso do rio Eufrates para que seus
.oldados pudessem entrar na cidade atravessando as
águas. Expulsou Nabonido, herdeiro caldeu de Nabu-
i odonosor, que havia fugido e se escondido depois de
perder o apoio até mesmo de seus próprios sacerdotes.
( iro então declarou a si mesmo Rei dos Quatro Cantos
do Mundo, reivindicando para si um império significa
tivo, que se estendia até o Mediterrâneo.
Em um de seus primeiros atos como rei da Babi
lônia, Ciro libertou os judeus exilados, agora 40 mil, a
maioria dos quais decidiu voltar para a Judéia. Os ju
deus levaram consigo os muitos tesouros que haviam
sido confiscados por Nabucodonosor e reconstruíram
a capital e o templo, mas não tiveram permissão para
reinstaurar a monarquia. Ao voltar para sua terra per
dida, ficaram surpresos ao descobrir outro povo, não
exilado, vivendo na região e seguindo uma religião pa
recida com a sua. Com o tempo, as disputas entre os
dois grupos se consolidaram para criar a hostilidade en
tre judeus e samaritanos, problema que perdurou até a
época do Novo Testamento e mais além.
Durante o exílio, os judeus haviam conservado
seu sistema de anciãos, seus rituais e suas práticas es
senciais e desenvolvido a escrita hebraica. Passaram
a recordar Ciro com gratidão, chegando a descrevê-
lo como "ungido de Deus". P F
O Ilustração medieval de Ciro dizendo aos líderes judeus que
seu povo estava livre para voltar e reconstruir Jerusalém
"Eu despertei Ciro em justiça... ele edifícará a minha cidade e
soltará os meus cativos." Isaías, 45:13
CERCA DE 527 A.C.
O príncipe Siddartha alcança a iluminação Após sete semanas de meditação, o príncipe Siddartha alcança a iluminação e começa a pregar uma nova religião e o movimento filosófico conhecido como budismo.
O O Buda retratado junto à árvore bodhiem Bodh Gaya, local
onde alcançou a iluminação.
"Depender dos outros para a salvação é negativo, depender de si próprio é positivo." G a u t a m a Buda
Aos 35 anos de idade, por volta de 527 a.C, Siddartha
Gautama, príncipe de Lumbini (na região da índia ao
norte do Ganges, onde hoje fica o Nepal), sentou-se
para meditar junto a uma árvore bhodi em um lugar
chamado Bodh Gaya. Decidiu permanecer imóvel
até alcançar a iluminação completa. Depois de sete
semanas de espera, em uma noite de lua cheia, sua
meditação abarcou todo o espectro da existência.
Desse momento e m diante, ele passou a ser chama
do de Buda, ou o Iluminado.
A compreensão fundamental alcançada pelo
Buda passou a ser conhecida como as Quatro Nobres
Verdades, gue afirmavam a inevitabilidade da perda
e do sofrimento como produto do apego humano
às coisas e às outras pessoas. Ele percebeu que o
apego e os anseios por ele provocados podiam ser
rompidos pela adesão a um conjunto de preceitos
que estabeleceu: os Oito Caminhos.
A vida do Buda é descrita apenas na literatura
devocional e é evidentemente embelezada com d e
talhes milagrosos; até mesmo o século em que ele
viveu e morreu é muito incerto. Segundo as histórias,
Siddartha foi criado em um palácio sem nenhuma ex
periência e m relação às dores da vida. Certo dia, po
rém, saiu do palácio e deparou pela primeira vez com
a doença, a velhice e a morte. Comovido, renunciou a
seu estilo de vida privilegiado e passou a viver como
um homem santo, asceta e andarilho. Após um perío
do de grande austeridade, adotou um estilo de vida
mais moderado que acabou conduzindo-o às sete se
manas de meditação e à sua iluminação.
O Buda passou os 45 anos seguintes viajando e
pregando para pessoas de todo tipo. Ao morrer, aos
80 anos, estabelecera as bases do importante movi
mento religioso e filosófico que perdura até hoje. P F
Morte de Mahavira Morre em Pawapuri o mestre cujas idéias formaram o núcleo do jainismo.
Aos 72 anos d e idade, em 527 a.C, morreu Mahavira,
(iu o "Grande Herói". Muitas vezes chamado de lun
i lador do jainismo, a terceira grande religião da (ndia,
Mahavira é mais corretamente identificado como
aquele que propagou ou codificou antigos ensi
namentos e lhes atribuiu sua forma atual. Contem
porâneo de Siddartha Gautama, o Buda, ele t ambém
viveu na região de Bihar, tendo nascido em Vaishali;
seus pais eram o rei Siddartha e a rainha Trishala, da
casta dos guerreiros ou kshatriya.
Aos 30 anos, Mahavira deixou esposa e família
para se tornar monge. Como outros de sua casta na
época, ele rejeitava alguns dos costumes do brama-
nismo, em especial a freqüência dos sacrifícios ani
mais, e passou a adotar práticas cada vez mais extre
mas, incluindo a recusa de possuir qualquer bem a
I lonto de andar completamente nu e em permanen-
le errância. Desenvolveu a prática da ahimsa, ou não-
violência, recusando-se a maltratar qualquer criatura,
e após 12 anos alcançou o estado mais avançado de
percepção, o kevala.
Ao longo dos 30 anos seguintes, Mahavira compi-
li »u uma variedade de ensinamentos mais antigos que
disseminou como os princípios que viriam a constituir
0 núcleo do jainismo, pregando que as pessoas deve-
riam salvar a própria alma por meio da renúncia aos
1 lesejos físicos, às paixões e à violência para com qual
quer criatura. Foi considerado o vigésimo quarto e
último dos tirthankars, ou santos, que haviam alcança-
t Io a iluminação por meio do ascetismo. Quando mor
reu, em Pawapuri, Mahavira tinha milhares de seguido
res. Seus sermões foram reunidos e organizados para
l< irmar uma tradição oral e escritos mil anos mais tarde.
A história da vida de Mahavira foi registrada no Kalpa-
sutra, escrito cerca de 150 anos após sua morte. P F
Tarquínio foge de Roma O líder conhecido como o último rei de Roma é derrubado por um levante popular.
Tarquínio, o Soberbo {Tarquinius Superbus e m latim),
sétimo e último rei de Roma, foi derrubado poi um
levante popular. O povo se irritou com as acusações
de que seu filho, Sexto, havia estuprado uma nobre,
Lucrécia. Tarquínio, conhecido por sua crueldade, já
governava Roma havia mais de 20 anos, depois de
assassinar o rei precedente, Sérvio Túlio, e usurpar
lhe o trono.
Tarquínio talvez fosse descendente dos etrus-cos, originários da região correspondente à Toscana moderna. Os etruscos, sob muitos aspectos mais avançados do que os romanos da época, estavam estendendo seu domínio para o sul, e foram encon tradas em Roma inscrições etruscas desse período Se for verdade, isso talvez explique por que Tarqull lio o seus piedeiessoies eram tão odiados. Assim q u e Tarquínio e Sexto (depois encontrado e morto) fugiram de Roma, diz-se que Lars Porsena, rei da cidade etrusca de Clúsio, tentou capturar a cidade, mas fi il repelido pela bravura dos romanos liderados poi I li > rácio Cocles, que morreu impedindo os etruscos de atravessarem a ponte sobre o rio Tibre.
Depois de mais de 200 anos de monarquia, OS romanos decidiram que era chegada a hora de gover narem a si mesmos. Dois homens, conhecidos
cônsules, foram escolhidos pelo Senado (conselho de anciãos que aconselhava o antigo rei) para agirem e m conjunto como chefes de Estado. O mandato durava apenas um ano, de modo que seu poder era intei u i< > nalmente limitado. Para os romanos de é p o c a s | » >•.
teriores, a derrubada da monarquia e a fundaçãi i da república romana eram o acontecimento mais impoi tante da história de sua cidade, assinalando o iníi ' 1 1 Ia independência de Roma da tirania e de sua ,is< e i r.. n • a uma grandeza legítima e duradoura. S K
507 A.C.
Nasce a democracia Clístenes introduz em Atenas uma forma primitiva de governo democrático.
O homem que criou a estrutura da primeira e mais
influente democracia do mundo, Clístenes, passou
grande parte da vida lutando pelos direitos de sua
proeminente família contra as outras facções nobres
de Atenas, luta esta que incluiu várias décadas de exílio
forçado. Acabou conquistando o poder ao ficar ao lado
do povo, e buscou implementar o espírito das reformas
do legislador Sólon, que havia tentado equilibrar os in
teresses das diferentes comunidades atenienses.
Clístenes aboliu portanto as formas tradicionais
de organização política baseadas na família e no clã,
substituindo-as pelas formas "tribais" baseadas nas
aldeias, ou demos, e criou um conselho legislativo (a
boulé) cujos membros eram escolhidos por sorteio
entre todos os cidadãos, com cotas de representan
tes para cada d e m o entre seus 500 membros. Havia
regras estritas sobre quem era elegível e por quan
to tempo podia servir no conselho, e os tribunais e
comandos militares eram organizados de forma se
melhante. Com isso, Clístenes assegurou uma partici
pação política muito ampliada e t ambém dificultou
que pequenos grupos dominassem o Estado e g o
vernassem apenas e m interesse próprio. Os anos de
tirania haviam terminado.
Embora esse sistema seja muitas vezes conside
rado o início da democracia direta, na qual todos os
cidadãos t inham participação equivalente, o próprio
Clístenes não o chamava de "democracia" (que signi
fica "governo do povo"), mas de isonomia, ou direitos
iguais para todos. Sob muitos aspectos, ele deixou
intacta boa parte da cultura tradicional de Atenas,
mas suas reformas são vistas como o início da idade
de ouro da cidade, durante a qual a democracia se
ampliou e a cultura floresceu. Pouco se sabe de sua
vida depois da introdução das reformas. P F
A mensagem do mestre Confúcio deixa Lu para difundir a mensagem do bom governo.
Em 497 a.C, Kong Fuzi ( conhec ido no Oc idente c o m o Confúcio) deixou Lu, o n d e era ministro da Justiça, para viajar pela China à procura de um Estado que adotasse suas crenças nos princípios do b o m governo. Ele reprovava o compor t amen to do rei d e Lu, que não respeitava os rituais durante um sacrifício animal. Nos 13 anos seguintes, Confúcio percorreu a China aconse lhando senhores feudais. Seus ensinamentos, influentes no pensamento or i ental até hoje, não foram valorizados, e ele voltou para casa e m 484 a.C. sem obter sucesso.
"Riquezas e honrarias adquiridas por atos incorretos são como nuvem que flutua." Confúc io , Analectos, c. 497 a.C.
Confúcio passou os últimos anos de vida d i
tando seus pensamentos, mais tarde reunidos nos
Analectos. Neles, enfatizava a necessidade de um
compor tamento ético, do respeito pelos ancestrais
e da integridade. Antes de suas errâncias, Confúcio
era famoso por seu domínio das seis artes - ritual,
música, arco-e-flecha, condução de carruagens, ca
ligrafia e aritmética - e por sua familiaridade com
a tradição da poesia e da história. No entanto, só
depois de sua morte alcançou a glória. Sua cidade
natal ainda é local de peregrinações e há templos
dedicados a ele. P F
O Retrato de Confúcio; os pergaminhos que ele segura indicam
sua grande sabedoria.
Exército ateniense vitorioso em Maratona Os atenienses derrotam os persas na planície de Maratona, ao norte de Atenas.
O Ilustração do século XVII da Batalha de Maratona, mostrando a derrota dos persas pelos atenienses.
A causa da Batalha de Maratona remonta ao ano de
511 a.C, quando Atenas expulsou Hípias, tirano que
havia governado a cidade por muitos anos. No entan
to, quando Dario da Pérsia tentou recolocar Hípias no
trono, Atenas envolveu-se em uma revolta das colônias
gregas jônicas da Ásia Menor contra o Império Persa.
Em 492 a.C, Dario enviou um exército comandado por
Mardônio para conquistar a Grécia e sua aliada Erétria.
A frota que acompanhava o exército foi destruída por
uma tempestade, mas uma grande frota nova foi re
unida no ano seguinte e chegou à Eubéia.
Os atenienses enviaram um mensageiro para pedir
ajuda à sua velha inimiga Esparta, mas os espartanos
recusaram-se a combater durante um festival religioso.
Atenas ficou só com o apoio da pequena cidade de Pla
téia. Os generais atenienses não conseguiam decidir se
deveriam atacar ou adiar. Acabaram marchando para o
norte, na direção do inimigo.
Os exércitos se confrontaram na planície de Marato
na, ao norte de Atenas. Menos de 10 mil hoplitas (solda
dos de infantaria) atenienses viram-se diante de 20 a 50
mil persas, que estavam de costas para o mar. Perceben
do que a cavalaria persa não estava presente, o general
ateniense Milcíades atacou depressa, surpreendendo o
exército persa. Subjugados, os persas correram em dire
ção à sua frota em meio a grande confusão. Segundo
Heródoto, cerca de 6.400 persas morreram em combate,
contra apenas 192 atenienses. Essa foi a primeira derrota
importante dos persas em muitos anos, e deu grande
ânimo à confiança e ao poder de Atenas. P F
Lêonidas e os 300 de Esparta A vitória contra os gregos tem um alto custo para o exército persa.
O Leônidas nas Termópilas, 480a.C. (c. 1814), pelo artista revolucionário francês Jacques-Louis David (1748-1825).
Ao se deparar com uma pequena força de espartanos
n.r, Termópilas, em 480 a.C, o imenso exército do rei
I crsa Xerxes obteve ao mesmo tempo urna vitória e
uma derrota. O exército de Xerxes matou todos os de
fensores espartanos, mas a batalha iria se tornar uma
<Jas mais importantes derrotas da história do mundo -
(|uando o poder de um déspota asiático foi contido por
grei |os de mentalidade independente.
Para vingar a derrota do pai, Dario, dez anos antes,
Xerxes reuniu um exército de 250 mil homens, acom
panhado por vasta frota, numa tentativa de derrotar
Atenas e conquistar a Grécia. Os atenienses se concen
traram em um combate naval, enquanto os espartanos
organizaram um exército para defender a Grécia por
terra. O rei de Esparta, Leônidas, defendia o desfiladei-
ro pelo qual passava a única estrada que ligava as
planícies da Tessália ao sul. Seu exército não contava
mais de sete mil homens, incluindo 300 espati, •
fortemente armados. Por dois dias, os defensores d e
tiveram o inimigo, mas um agricultor grego arai m u i
mostrando a Xerxes uma trilha na montanha q u e
permitiria cercá-los. Ao perceber isso, Leônidas orde
nou a retirada de seus soldados, exceto os tebanos e
espartanos. Mandou-os avançarem, mas morreu e m
combate, e os tebanos também abandonaram o r a m
po de batalha. Um último esforço dos espartano 1, res
tantes foi neutralizado por arqueiros persas.
Apesar da vitória persa, suas perdas foram siqníli
cativas, enquanto a decisão dos atenienses de resisl Ir se
reforçou. P F
480 A C . 12 DE SETEMBRO 468 A C . M A R Ç O
Xerxes derrotado Os "muros de madeira"de Temístocles salvam a cidade de Atenas dos persas.
Sófocles ganha prêmio Esquilo e Sófocles competem pela coroa de hera da Grande Dionísia.
Após a vitória de Pirro contra o exército espartano nas
lermópilas, o caminho ficou livre para Xerxes invadir a
Ática e atacar Atenas. 0 comandante ateniense Temís
tocles construiu às pressas uma grande frota, agindo
segundo os conselhos de um oráculo segundo o qual
a cidade seria salva por "muros de madeira". Atenas foi
evacuada e, quando os persas saquearam a cidade
praticamente vazia e destruíram a Acrópole, Temís
tocles convenceu os outros gregos de que era preciso
atacar a frota persa que acompanhava o exército inva
sor - e que o aprovisionava.
Metade da frota grega vinha de Atenas, mas 20
outras cidades também contribuíram. Mesmo assim, os
qregos estavam em desvantagem numérica de quase
dois para um. Temístocles insistiu para combater na es
treita baía de Salamina, perto de Atenas, mas, diante do
desacordo de outros comandantes gregos, ameaçou
se retirar para a Sicília. Ao ouvirem isso (Temístocles
enviou um escravo com informações cuidadosamente
selecionadas), os persas imaginaram que a maior parte
dos defensores iria se retirar durante a noite. Isso não
aconteceu. Os persas adentraram a batalha confiantes,
com Xerxes assistindo de uma colina próxima.
O embate prossegiu com os trirremes colidindo
uns com os outros antes dos combates corpo-a-corpo
entre os soldados. A grande frota persa não conseguia
manobrar com desenvoltura e depois da morte de seu
comandante tentou bater em retirada, mas foi levada
de volta pelo forte vento. Centenas de navios persas
foram afundados e milhares de homens se afogaram.
Toda a Guarda Real persa foi morta. Xerxes não conse
guiu mais aprovisionar seu imenso exército e deixou a
Grécia. Na reconstrução de sua cidade, os atenienses
alcançaram sofisticação cultural e habilidade política
praticamente sem rival até hoje. P F
Na Grécia antiga, o teatro - sobretudo a tragédia - era
associado a Dioniso, deus do vinho. Os dramaturgos
competiam pelo direito de terem suas peças encenadas
em uma competição anual conhecida como Grande
Dionísia. Em 468 a.C. houve uma disputa entre os dois
maiores dramaturgos de todos os tempos.
Esquilo, nascido por volta de 525 a.C, havia lutado
em Maratona e Salamina, e sua peça mais antiga a ter
sobrevivido, vencedora do prêmio e m 472 a.C, falava
das mulheres persas que sofriam após a derrota de seu
exército. O dramaturgo teve peças encenadas na Gran-
"Prefiro errar agindo bem a ganhar o dia de forma vil." S ó f o c l e s , Filocteto, 4 0 9 a .C .
de Dionísia desde 499 a.C, e ao longo de sua carreira
ganhou o prêmio - uma coroa de hera - 13 vezes.
Em 468 a.C, Esquilo se viu compet indo com o
novato Sófocles. A trilogia de Sófocles incluía uma
peça chamada Triptolemos, perdida desde então, e
sua vitória deu início a uma gloriosa carreira na qual
ele escreveu 123 dramas (apenas sete sobreviveram
integralmente) e chegou a acumular 24 vitórias, a
última delas 59 anos após a primeira, em 409 a.C. (a
peça vencedora foi Filocteto).
Talvez inconformado com a derrota, Esquilo re
tornou no ano seguinte com sua famosa trilogia edi-
piana, da qual apenas uma peça, Sefe contra Tebas,
ainda sobrevive. Ironicamente, Sófocles é mais co
nhecido hoje e m dia por sua própria trilogia sobre o
desafortunado Édipo. P F
Os atenienses esbanjam prestígio Após a derrota dos persas, Atenas vive um extraordinário florescimento de confiança i • criatividade cultural e política.
Nada simbolizou melhor o status proeminente de Ate-
i ias do que o templo de mármore em cima de sua Acró-
I )ole e a estátua erguida dentro dele, dedicada à deusa
que protegia a cidade e lhe emprestava o nome:
Alhenas Parthenosou Palas-Atena ("donzela").
A construção, com sua geometria sutil, suas pro
porções exatas e sua maravilhosa frisa de esculturas
(cujos resquícios estão hoje abrigados no Museu Bri-
lânico de Londres), foi obra do arquiteto Fídias, sob
encomenda do estadista Péricles e m 449 a.C. Fldias
iou o trabalho projetando a estátua da deusa
(|ue tinha no templo a sua casa, e em 438 a.C. ela foi
i oncluída e consagrada. Com cerca de 12 metros de
.ihura, a estátua tinha uma estrutura oca de madeira
< oberta de mármore (para imitar a pele), prata e mais
i le uma tonelada de ouro. Era retratada usando uma
túnica, um aegis (égide ou peitoral) e um capacete,
segurando e m uma das mãos uma Nike (deusa da v i
tória) e na outra, uma lança. Ao seu lado descansavam
um escudo e uma serpente.
Depois de terminar Palas-Atena, Fídias passou à
escultura de Zeus, pai de todos os deuses - a estátua
lc )i erigida e m Olímpia em 435 a.C. e tornou-se uma das
' ,i 'le Maravilhas do Mundo Antigo. Alguns anos mais tar
de, porém, os inimigos de Fídias acusaram-no de roubar
ouro. Ele também foi acusado de impiedade pelo fato
de o seu retrato, assim como o de Péricles, aparecer no
escudo de Palas-Atena. Por causa disso, Fídias foi preso.
Aparentemente, ele morreu na prisão ou no exílio.
Em 296 a.C, o ouro da estátua foi removido e subs-
liiuído por folhas de bronze, embora ela tenha perma
necido no Partenon por mais 800 anos. Uma nova
esiátua de Palas-Atena foi erguida em 1990 na cidade
norte-americana de Nashville, Tennessee, feita com a
maior fidelidade possível ao original de Fídias. P F
O Uma gravura francesa do século XIX mostra qual tori.i sido <
aspecto da gigantesca estátua de Palas-Atena de F ídnv
"Salve, deusa... que derrotes sempre os inimigos com uma lança de salvação!" Orestes a Palas-Atena, na Eumênides de Esqui lo
Péricles elogia os mortos da Guerra do Peloponeso O grande líder político tenta instigar Atenas com sua famosa oração fúnebre.
O Ilustração sem data de Péricles fazendo sua oração fúnebre para o povo de Atenas.
Nofinal de431 a.C, Péricles fez sua famosa oração no fu
neral coletivo organizado em Atenas em homenagem
a todos os que haviam morrido nos últimos 12 meses
na Guerra do Peloponeso. Havia 30 anos que Péricles
era uma figura importante em Atenas, onde supervi
sionara a construção do Partenon e a chamada "idade
de ouro" da cidade, mas ele passara a favorecer o uso
de uma forma de imperialismo cada vez mais bel ige
rante para com as outras cidades gregas, que havia
conduzido à guerra contra Esparta iniciada em 432 a.C.
O sangrento conflito ainda iria durar cerca de 30 anos
e acabaria e m derrota e destruição da democracia ate
niense, mas em 431 a.C. Péricles tentou usar sua oratória
para dar ânimo aos cidadãos de Atenas. O historiador
Tucídides registrou como, durante a procissão fúnebre,
os ossos dos mortos foram carregados em caixões de cipreste, com um caixão vazio reservado para aqueles cujos corpos não haviam sido recuperados, até o túmulo coletivo. Péricles então fez sua oração. Não há como saber se as palavras de Péricles eram suas ou do historiador, mas elas celebravam as glórias da democracia, da liberdade, da igualdade e do império ateniense. No final, Péricles elogiou os mortos, e exortou os vivos a continuarem agindo com o mesmo espírito.
Apesar das belas palavras, os atenienses foram ficando cada vez mais infelizes com a forma como a guerra vinha sendo conduzida, sobretudo quando tiveram de enfrentrar um devastador surto de peste. Mesmo assim, Péricles permaneceu no poder até 429 a.C, quando também sucumbiu à doença. P F
Sócrates é forçado a tomar veneno () famoso filósofo é considerado culpado de corromper os jovens atenienses.
O A morte de Sócrates (data desconhecida), por Charles Alphonse Dufresnoy (1611-1668).
()s atenienses precisavam de um bode expiatório. Politicamente, a sorte da cidade estava em baixa em 399 a.C, depois de uma derrota humilhante, cinco anos antes, diante da tradicional inimiga Esparta. Havia em Atenas um homem que ganhara fama de ser estranho - o filósofo Sócrates. Ele gostava de fazer pegun-tas difíceis e irritantes; zombava dos que estavam no I >oder e passava seu tempo debatendo idéias com um grupo de discípulos devotos. Também era conhecido por se relacionar com alguns dos líderes desacreditados de Atenas. Assim, Sócrates foi julgado, acusado de não acreditar nos deuses e de corromper os jovens da ( idade. Platão, o famoso discípulo de Sócrates, deixou um relato de seu julgamento, no qual afirma que Só-i rates poderia ter se safado pagando uma multa, mas
que ele se recusou a responder às acusações que
lhe faziam alegando não ter feito nada de errado
Foi considerado culpado e condenado a morrer to
mando cicuta, uma erva tóxica que paralisa o sisi ema
nervoso. Enquanto continuava a debater questões
como a imortalidade da alma, Sócrates aceitou i a l m a
mente o veneno e sorveu-o de um só gole. A moi le
sobreveio rapidamente.
Sócrates, um dos mais importantes pens.idou". < Ia
História, ao lado de Platão e Aristóteles, foi em giam le
parte responsável pela criação da filosofia ocidental li i
teressavam-no os valores que levam as pessoas a agirem
como agem, mas ele não deixou nenhum escrito de sua
própria autoria. A maior parte do que sabemos sobre
seus ensinamentos vem dos Diálogos de Platão. SK
390A.C. J U L H O
Os gauleses atacam Roma e sitiam o Capitólio Os cisnes sagrados deJuno alertam os soldados romanos e impedem uma catástrofe.
O Detalhe do quadro O Capitólio salvo pelos cisnes sagrados de
Juno, de Heinrich Merté (1838-1917).
"Apesar da escassez de provisões, os cisnes sagrados de Juno não haviam morrido." T i to L í v i o , História de Roma, c. 26 a .C.
A pior derrota de Roma desde sua fundação foi con tra os gauleses do vale do Pó, no norte da Itália. No verão de 390 a.C, um grupo de gauleses liderado por um chefe guerreiro chamado Breno derrotou um exército romano na Batalha de Ália e prosseguiu para atacar a própria Roma. Era noite, e a guarnição havia se refugiado no Capitólio, ponto mais alto da cidade, bem como seu centro religioso.
Os gauleses estavam subindo um caminho pe dregoso que conduzia ao Capitólio quando se ouvi ram grasnidos furiosos e o bater de asas. Os cisnes sagrados criados no santuário de Juno - que haviam sido poupados apesar da falta de comida - fizeram tanto barulho que os soldados romanos foram alertados da aproximação dos gauleses, e o Capitólio foi salvo. O resto da cidade foi saqueado e destruído, mas quase todos os habitantes já haviam fugido, até mesmo as virgens vestais com sua chama sagrada. Os gau leses passaram sete meses sitiando o Capitólio, até Breno finalmente autorizar a retirada das tropas em troca de vultoso pagamento em ouro.
A lembrança da humilhação diante dos gauleses ainda iria assombrar os romanos por muitas gerações. Juntando seus pedaços após a derrota, o exército adotou novas armas e uma nova estratégia, e e m 378 a.C. uma muralha de pedra de 11 quilômetros de extensão foi construída em volta da cidade, da qual grandes trechos ainda continuam de pé.
A expansão militar de Roma prosseguiu, mas os romanos só se sentiram seguros quando, em 225 a.C, os gauleses foram finalmente derrotados e se submeteram a seu domínio. Os cisnes sagrados, por sua vez, passaram a poder se aninhar uma vez por ano em almofadas de cor púrpura, enquanto os cães que v i giavam o Capitólio foram punidos por terem fracassado em dar o alerta na ocasião do ataque gaulês. S K
Nos bosques da Academia <) filósofo grego Platão cria a primeira esc
A escola o n d e Platão iria sistematizar a filosofia
I- ava cerca de um qui lômetro e meio ao norte da
Ai rópole de Atenas. Situada e m meio a um bos
que de oliveiras, gera lmente usado para festivais
religiosos e compet i ções atléticas, a escola foi ba-
tlzada de "Academia" e m h o m e n a g e m a Academo ,
personagem lendário que se dizia ter doado o
bosque à c idade.
0 local provavelmente já vinha sendo usado
I 'ira ensino e discussão algumas décadas antes de
Platão. Embora não fique claro se ele criou alguma
" iqanização formal, Platão certamente tinha uma
' asa e um pequeno jardim no local, e diz-se que le-
lonou ali por cerca de 40 anos, até sua morte, em
M8 a.C. Durante 20 anos, Aristóteles foi freqüentador
issíduo da Academia de Platão.
Platão só aceitava os alunos que considerava
"inebriados por aprender o que existe na própria
alma". Segundo indicam seus próprios escritos, ele
lecionava caminhando de um lado para outro en-
i |uanto lia seus diálogos e discursos, e presidia cultos
icligiosos e demoradas refeições durante os quais os
participantes pod iam "honrar os deuses, gozar da
< ompanhia uns dos outros e estimular o espírito com
discussões letradas". Ele t ambém construiu ali perto
um Museion (um templo às musas).
A Academia sobreviveu por centenas de anos,
lornando-se renomada pela escola de fi lósofos
( onhecida como neoplatonista. Em 86 a.C, as oliveiras
loram derrubadas por uma força de invasão romana,
mas a Academia foi poupada. Não se sabe exata
mente quando foi fechada, embora algumas fontes
afirmem que perdurou até 526 d.C. Na época, o im
perador Justiniano proclamou um édito mandando
lechar todas as escolas "pagas", e a Academia de Pla
tão pode ter sido uma delas. P F
de pensamento.
O Mosaico da Academia do século I d.C, hoje no Museu
Arqueológico Nacional em Nápoles, Itália.
"A direção na qual a educação inicia um homem irá determinar sua visão futura." P l a t ã o , A República, 360 a.C.
Sr®
-jp ver oro ter
1
342 A.C. 336 A.C.
Educação de Alexandre Aristóteles é convocado para ser professor de Alexandre, futuro conquistador da Ásia.
Os gregos sempre afirmaram desprezar a Macedônia,
que consideravam um lugar atrasado e bárbaro.
Mas Filipe II, que se tornou rei da Macedônia em 356
a.C, estava determinado a mudar isso. Em 342 a.C,
convidou o ateniense Aristóteles para ir até sua capital,
Pella, ser professor particular de seu filho de 13 anos,
Alexandre. Filipe queria que a educação do filho o pre
parasse para sou futuro papel c orno líder militar. Aris
tóteles, que nutria verdadeira paixão pela natureza
(ele identificou mais de 500 espécies animais), passou
três anos dando aulas a Alexandre. Ensinou ao rapaz
"Filipe chamou Aristóteles, o mais culto e célebre filósofo de seu tempo." P l u t a r c o (c. 46-120), Vida de Alexandre
política, retórica, matemática, ciência, medicina e literatura grega. Mais tarde, Alexandre iria encontrar inspiração no poema llíada, de Homero, que levava consigo nas campanhas.
Filipe treinou o exército macedônio usando m é todos de combate gregos e expandiu seu reino pela íorça militar. Com 16 anos, Alexandre esmagou uma rebelião, agindo como regente da Macedônia na au sência do pai. Dois anos depois, em 338 a.C, lutou ao lado de Filipe na decisiva Batalha de Queronéia, onde < is macedônios tiveram uma vitória esmagadora sobre Atenas,Tebas e as outras cidades-estado. Filipe era en tão o único governante da Grécia. Aristóteles voltou para Atenas, onde, em 335 a.C, fundou o Liceu e passou a se dedicar aos estudos. Ele é hoje reconhecido i orno o primeiro verdadeiro cientista. S K
Morte do rei Filipe II O herdeiro Alexandre, de 21 anos, vinga-se dos gregos rebelados.
A capital macedônia de Pella estava lotada para o casamento da filha do rei Filipe II, Cleópatra, com o rei Alexandre de Épiro quando tudo virou urna confusão -Filipe havia sido morto com uma punhalada a caminho do teatro onde estavam ocorrendo as celebrações. O agressor, Pausânias, um dos guarda-costas nobres do rei, foi morto ao tentar fugir da cena do crime. Algumas pessoas desconfiavam que Olímpia, esposa do rei e mãe de Alexandre, já afastada do marido, estivesse en volvida no complô de assassinato.
O exército macedônio imediatamente proclamou
Alexandre, que acabava de completar 21 anos, rei Ale
xandre III. Na época de sua morte, Filipe estava pres
tes a liderar um exército grego para invadir a Pérsia. A
maioria das cidades-estado gregas aproveitou a opor
tunidade para romper a aliança com a Macedônia,
mas Alexandre logo tomou providências para deter a
revolta. Montou um cerco a Tebas e, quando os teba-
nos se recusaram a se render, ordenou a seus soldados
que atacassem, destruíssem a cidade e vendessem os
habitantes como escravos. As outras cidades-estado
submeteram-se imediatamente a Alexandre. Este con
vocou seus líderes para uma assembléia em Corinto,
onde expôs sua intenção de dar prosseguimento à
invasão da Pérsia planejada pelo pai. A campanha re
velou-se um feito inigualável.
Em 1977, arqueólogos encontraram em Vergina, na
Grécia, o túmulo de Filipe II. Na câmara funerária desco
briram um sarcófago de mármore, esplêndidos receptá-
culos de ouro e prata e um magnífico conjunto de arma
dura real. Os restos mortais do rei estavam numa urna de
ouro decorada com a estrela real da Macedônia. SK
O A iluminura de um manuscrito do século XIV mostra Filipe II
da Macedônia (383-336 a.C), pai de Alexandre, o Grande.
333 A.C. N O V E M B R O
Alexandre luta por Isso Dario III e seu vasto exército persa se chocam contra as forças macedônias de seu inimigo Alexandre no golfo de Isso e sofrem uma terrível derrota.
O Mosaico do século I d.C. mostrando cenas da Batalha de Isso,
na qual Alexandre derrotou os exércitos de Dario.
"Mando-te sementes de mostarda... para que reconheças o amargorda minha vitória." Ca r t a d e A l e x a n d r e a D a r i o I I I
A conquista do Oriente Médio por Alexandre, iniciada
com sua vitória em Granico em maio de 334 a.C, e a
conseqüente dominação da Ásia Menor tornaram-se
inevitáveis no ano seguinte, quando enfrentou e des
truiu um exército muito maior: o de Dario III.
Diz-se que o exército persa era composto por
600 mil homens, o que é provavelmente um exage
ro, mas, mesmo que tivesse o número mais plausível
de 100 mil soldados, ainda seria mais de duas vezes
maior do que o exército macedônio. Alexandre e seu
general Parmênio haviam juntado forças, pretenden
do atacar os persas pelo sul, mas descobriram que
Dario já os havia ultrapassado e cortado suas linhas
de abastecimento. Os dois exércitos confrontaram-
se e m uma pequena planície na entrada do golfo de
Isso, sudeste da atual Turquia. Fato crucial: o lugar
não permitia aos persas tirarem vantagem de sua su
perioridade numérica.
Alexandre conduziu o ataque pelo flanco direito e,
embora os primeiros embates mais importantes te
nham ocorrido na esquerda macedônia, junto à costa,
Parmênio conseguiu conter o avanço persa por tempo
suficiente para que uma investida da cavalaria de Ale
xandre destruísse a posição persa. O próprio Alexandre
atacou diretamente a posição de Dario e, embora os
dois possam não ter se encontrado (como mostra um
famoso mosaico de Pompéia), houve um combate de
sesperado em torno da carruagem do imperador. Dario
fugiu e em seguida todo o exército persa bateu em reti
rada - durante a qual se diz que mais de 50 mil homens
morreram. Os macedônios perseguiram Dario por 24
quilômetros, capturando seu tesouro e sua família, in
clusive sua mãe e suas duas esposas. Alexandre conti
nuou rumo ao sul e prosseguiu pela Síria até o Egito - e
a iminente destruição do Império Aquemênida. P F
Fundação de Alexandria 0 lombo de camelo" Alexandre torna-se rei do Egito e funda a cidade que leva seu nome.
Depois da vitória contra Dario em Isso, Alexandre
marchou rumo ao sul e atravessou a Jordânia para
chegar ao Egito, onde a antiga civilização havia sido
reduzida à condição de província persa. O governa
dor persa não teve como resistir, e Alexandre foi rece
bido como um libertador. Subiu o Nilo até Mênfis,
onde sacrificou um touro a Amon, e logo depois foi
coroado rei do Egito.
Em 331 a.C, Alexandre começou a procurar um lu
gar para fundar uma nova cidade que ligaria o Egito ao
mundo grego. Descobriu um lugar na costa do Medi-
"Existe uma ilha no esplen-doroso mar; Pharos é como a chamam os homens." H o m e r o , Odisséia, r e c o n t a d a po r A l e x a n d r e
terrâneo mencionado por Heródoto e Homero (na
Odisséia); protegido pelo mar, pelo deserto e por outros
obstáculos naturais, era uma localização central, de fácil
defesa, e de onde se podia chegar à Grécia sem dificul
dade. Alexandre demarcou ruas, palácios, templos, mu
ralhas e até mesmo um complexo sistema de esgoto.
Uma história posterior descreve como, sem dispor de
y iz, ele riscou o traçado das ruas com farinha de cevada,
que foi comida por um bando de pássaros. Apesar des
se revés, um vidente previu que a cidade mesmo assim
iria prosperar.
Pouco depois, Alexandre deixou o Egito. Nunca
chegou a ver concluída a cidade que um dia teria o
orgulho de abrigar o Farol de Alexandria (uma das Sete
Maravilhas do Mundo Antigo) e a Grande Biblioteca; só
voltaria lá 10 anos depois, dentro de um caixão. P F
Na Batalha de Gaugamela, Alexandre destrói definitivamente o Império Persa.
Em 331 a.C, Alexandre rejeitou a proposta de paz do
imperador Dario - que lhe oferecia as terras a oeste do
Eufrates, uma grande soma em dinheiro e a mão de si i, i
filha e m casamento - e atravessou o rio Tigre até o
norte da Mesopotâmia. Dario reuniu um exército, Ia
maior do que o que havia liderado em Isso. Relan >\ > l,i
época afirmam que Dario comandava até um milhão
de soldados. Estava decidido a lutar em terreno aberto
onde seu grande exército e seus 200 formidáveis carros
de combate com lâminas cortantes nos eixos tciiani
maior eficácia. O terreno onde a batalha acabou sei u l< i
"Dario, que já estava com medo antes, foi o primeiro a dar meia-volta e fugir." Ar r i ano (mor to e m 146), Anábase de Alexandre
travada, em I o de outubro, ficava próximo à aldi i i i l i 1
Gaugamela, que significa "lombo de camelo".
Apesar da grande desvantagem numérica, Alexan
dre avançou, forçando Dario a atacar com seus i . u i< >•,
pelo centro, o que permitiu a Alexandre penetrai asfl
leiras persas e atacar o inimigo pelos flancos. Ao mesmi >
tempo, Alexandre atraiu o exército inimigo p a i a . i . •
tremidades antes de fazer uma investida em forrn.i d r
cunha contra a linha de soldados persas, partindt > < i, u i
meio e ameaçando a posição do próprio Dario, que fu
giu. Alexandre permaneceu no campo de batall M.
Depois da batalha, Alexandre capturou a o m
real persa e marchou sobre a Babilônia. Em janeln i de
330 a.C, já conquistara Persépolis e proclamai,i se ict
da Pérsia. Dario escapou, mas foi assassinado por um de
seus sátrapas, que Alexandre mandou executai. P F
323 A.C. 10 DE J U N H O
Morte de Alexandre A morte do conquistador na Babilônia dá iníck
Ao chegar à Babilônia, em 323 a.C, Alexandre estava heio de ambição e logo deu início aos planos de
enviar uma frota para invadir a Arábia. No dia 29 de maio, porém, ele caiu doente depois de um longo banquete regado a muito álcool. Já estava febril, mas ontinuou a trabalhar, sendo carregado de modo a
poder dar ordens ao seu exército. Também conti-I U O U a cumprir seus rituais e deveres religiosos, mas
de nada adiantou. Após dtias semanas de fobto, Ale xandre sucumbiu. Tinha apenas 32 anos.
Inevitavelmente, começaram a circular boatos de que ele havia sido envenenado, boatos que até hoje não cessaram. Considerando todas as informa ções, parece mais provável que Alexandre tenha morrido de causas naturais: várias fontes sugeriram que ele poderia estar com malária e que seu fim pode ter sido apressado pelos remédios receitados pelos médicos.
No dia 9 de junho, os veteranos do exército macedônio passaram pela última revista diante de seu líder. No leito de morte, Alexandre deu seu anel ao ge neral Pérdicas, que perguntou sobre suas intenções em relação à sucessão, uma vez que sua esposa, Roxa-na, estava grávida. "Que vença o mais forte", foi a resposta. No dia seguinte à sua morte, os generais discu-Mram o que fazer, e uma guerra entre eles logo se tornou inevitável, levando a uma disputa de 55 anos conhecida como as guerras dos diodochi ("sucesso-tes"). No fim, o império foi dividido entre antigônidas na Macedônia e na Grécia, selêucidas na Mesopotâ-mia e na Pérsia e ptolomeus no Egito.
O corpo embalsamado de Alexandre, e m um luxuoso sarcófago, foi levado para o Egito e depositado em Alexandria, sua cidade à beira do Mediterrâneo. Ali permaneceu durante todo o período romano, mas desapareceu logo depois. P F
a uma batalha sucessória.
O Detalhe de Alexandre, o Grande e Poros capturado (1673), d l
Charles le Brun (1619-1690).
O Lamento fúnebre na morte de Alexandre, o Grande, de um
manuscrito armênio do século V.
"Tu logo morrerás e serás dono apenas da terra que baste para te enterrar." S á b i o i n d i a n o D a d a m i s pa ra A l e x a n d r e
B igBang-1 d.C. •
322 A.C. 305 A.C.
A conquista do Egito Nova base de poder Chandragupta Máuria funda o Império Mauriano.
No caos criado pela morte súbita de Alexandre e m
323 a.C, Chandragupta Máuria adquiriu uma base de
poder no noroeste da (ndia, de onde derrubou Dana,
rei de Magadá. Com apenas 20 anos, fundou sua pró
pria dinastia mauriana e criou um imenso exército,
que usou para subjugar muitos dos sátrapas gregos
do Punjab. Estendeu seu domínio até o Afeganistão
em 305 a.C. em troca de 500 elefantes de guerra e m
um tratado com Seleuco, um dos sucessores de Ale
xandre, que havia tentado reconquistar a índia.
Pouco se sabe sobre as origens do homem que
"Um imenso elefante selvagem foi até Máuria e deixou-se montar por ele." J u n i a n u s J u s t i n u s , sécu lo III d.C.
criou o primeiro grande império indiano unificado. Os
boatos são variados, indo dos que afirmam que ele
nasceu e m uma linhagem real por volta de 340 a.C.
aos que sugerem que seus pais eram domadores de
pavões. Quando jovem, Máuria foi incentivado por um
brâmane a reunir um exército de guerrilha; t ambém se
diz que, quando tinha mais ou menos 16 anos, ele en
controu Alexandre, o Grande, a quem tentou conven-
(er a prosseguir rumo ao leste para desafiar a dinastia
Nanda, que dominava Magadá, mas Alexandre retor
nou para o oeste.
Em poucos anos, o domínio de Máuria se estendeu
e passou a incluir a maior parte do subcontinente india
no; sua capital, Pataliputra, tornou-se uma das maiores
cidades do mundo antigo. Chandragupta abdicou em
favor do filho Bindusara em 293 a.C. P F
O primeiro faraó ptolomaico assume o controle após a morte de Alexandre.
Depois da morte de Alexandre, três de seus princi
pais generais dividiram o império e lutaram entre si
para ver qual deles conseguiria assumir o poder. Pto-
lomeu era macedônio, amigo de infância de Alexan
dre. Assumiu firme controle sobre o cadáver de Ale
xandre dentro de seu luxuoso caixão de ouro - ou
quem sabe o roubou - e o conduziu até o Egito em
uma grandiosa procissão; o plano era seguir até
Mênfis, mas Ptolomeu acabou levando-o para Ale
xandria, onde continuou exposto por muitos sécu
los. Pto lomeu assumiu então o título de sátrapa do
"Separe os livros sobre realeza e o exercício do poder e leia-os." Conselho do diretor da Grande Biblioteca a Ptolomeu
Egito e pode ter se casado com a filha do faraó anterior, Nectanebo II.
Depois de vários anos tentando assegurar o poder na Síria e da ameaça de invasão do rival Pérdicas, Ptolomeu assumiu o título de rei do Egito em 305 a.C, fundando uma dinastia que passaria 300 anos no poder até a chegada dos romanos. Incentivou o muitas vezes isolado Egito a se abrir para a influência helenística e criou a Grande Biblioteca de Alexandria, que se tornou uma das glórias do mundo clássico, e o "museu", que se transformou na primeira universidade. Ptolomeu foi o patrono do geômetra Euclides e responsável pelo início da construção do Farol de Alexandria. P F
O Ilustração sem data de Ptolomeu I sendo coroado pelas
deusas do Baixo e do Alto Egito.
Um tributo colossal a Hélios em Rodes A enorme estátua conhecida como Colosso de Rodes é concluída junto à barra do porto e torna-se uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.
O Gravura do Colosso de Rodes do livro As sete maravilhas do
mundo (1792).
"O artista usou tanto bronze que uma escassez desse material parecia provável." F i lo d e B i z â n c i o , s é cu lo I d.C.
Uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, o Colosso
de Rodes foi construído como resultado das guerras
internas entre dois generais de Alexandre, o Grande:
Ptolomeu e Antíqono. Os habitantes de Rodes apoia
vam Ptolomeu, rei do Egito, e estavam sitiados por
uma força de mais de 40 mil homens liderada por De-
métrios, filho de Antígono. Demétrios construiu duas
grandes torres de cerco, mas de nada adiantou - a pri
meira foi destruída por uma tempestade e a segunda
atolou na lama quando os defensores inundaram os
fossos ao redor das muralhas da cidade.
Quando os sitiantes se retiraram, os rodianos, em
agradecimento, construíram uma estátua de 33m de
altura e m homenagem a seu deus patrono, Hélios. Ela
foi erguida sobre um pedestal junto à entrada do por
to. Projetada por Chares de Lindos, a estátua era feita
de pedra e ferro, coberta por placas de bronze feitas
com as armas abandonadas pelos agressores. Levou
12 anos para ficar pronta, e Chares suicidou-se antes
de ela ser concluída, em 280 a.C, talvez por alguém ter
apontado uma falha na construção.
A estátua se manteve de pé durante apenas 56
anos, até 224 a.C, quando teve os dois joelhos quebra
dos por um terremoto e desabou. Os imensos pedaços
permaneceram no chão e tornaram-se uma atração
turística. No século I d.C, Plínio, o Velho, escreveu: "Pou
cos homens podem envolver seus polegares com os
braços, e seus dedos são maiores do que a maioria das
estátuas. No ponto onde os membros se partiram, vas
tas cavernas podem ser vistas abrindo-se no interior."
Os restos da estátua acabaram se quebrando, e o bron
ze foi reutilizado por invasores árabes no século VII d.C
Embora ilustrações posteriores mostrem a estátua
com uma perna de cada lado da barra do porto, enge
nheiros e cientistas hoje negam essa informação. P F
260 A.C.
Ashoka encontra a paz Chocado com o massacre da Batalha de Kalinga, Ashoka adota o budismo.
legundo s u a s próprias estimativas, 100 mil homens
M H ii r e r a m e outras 150 mil pessoas f o r a m expulsas de
MI. IS terras n a terrível violência que Ashoka, terceiro
| |i ivernante da dinastia mauriana da antiga (ndia, pro-
ii i I U a o Invadir o reino vizinho de Kalinga. Tomado
i li • i c m o r s o , Ashoka converteu-se a o budismo, r e n u n -
i ii i à guerra e declarou que sua intenção de conquista
In fruto do darma.
Os éditos de Ashoka foram inscritos e m 33 colunas
i lc1 pedra, o s Pilares de Ashoka, erigidas e m várias partes
I li • seu reino. A mais famosa delas é a Coluna de Sarnath,
"[Que todos] possam receber o bem-estar e a felicidade deste mundo e do próximo." f d i t o d e A s h o k a
que tinha mais de 15m de altura e erguia-se no local
i inde o Buda pregou seu primeiro sermão. Seu magnífi-
111 < apitei, com quatro leões virados para norte, sul, leste
- • i K ;ste, foi adotado como o emblema nacional da (ndia
i 'tn 1948. Os éditos de Ashoka estão esculpidos e m pe-
dras e paredes de cavernas em lugares distantes como
-1 vale do rio Indo, o sul de Gujarat e as margens do rio
i rlshna, no sul da índia.
As incrições descrevem a conversão de Ashoka ao
budismo e seu esforço para disseminá-lo, seus precei-
los morais e religiosos e seu respeito pela vida animal.
Para cuidar de seu povo, Ashoka ordenou a constru
ção de hospitais e casas de repouso, a escavação de
poços e enviou missionários a lugares tão distantes
quanto o Sri Lanka. O império que ele criou ruiu 50
anos depois de sua morte, em 233 a.C. S K
260 A .C . SETEMBRO
Enterrados vivos O exército de Qin derrota o de Zhao na Batalha de Gaoping.
A criação de um Estado chinês unificado foi uma faça
nha do reino ocidental de Qin, que, no século III a.( ,
eliminou de forma implacável seus seis principais ii
vais no que ficou conhecido como o Período dos I st a
dos Combatentes. Após esses combates, Qin e seu rei
Ying Zheng não tinham mais rivais, e criou-se o impé
rio chinês, com Ying Zheng mudando seu nome para
Shi Huangdi, o Primeiro Imperador.
A principal batalha na ascensão de Qin foi a de
Gaoping ( também conhecida como Changpinq), em
setembro de 260 a.C, quando o exército Qin, coman
dado por Wang He, invadiu o Estado de Han com a
intenção de conquistar o Forte de Shangdang, estra
leqkamonlo impoilanle. O enfraquecido Estado d l
Han cedeu Shangdang a seu vizinho do norte, o muilo
mais poderoso reino de Zhao, que passou a defende
Io. Seguiu-se um cerco de dois anos, culminando na
que se tornou uma das mais sangrentas batalhas da
história do mundo. O exército Qin, que contava apro
ximadamente meio milhão de homens, conseguiu
cercar o exército Zhao e mantê-lo preso no topo d l
uma colina durante 45 dias. Quando Zhao Kuo, o jo
vem comandante dos Zhao, foi morto tentando rom
per o cerco, o exército Zhao se rendeu, e então Bai ()i,
comandante Qin, mandou enterrar, vivos, em uma si i
noite, todos os 400 mil homens do exército Zhao, para
evitar uma revolta coletiva. Apenas 240 soldados l< >
ram poupados para levar a notícia até Zhao.
O reino de Zhao nunca se recuperou da derrota c
foi conquistado pelo de Qin em 228 a.C. Bai Qi foi l< II
çado a cometer suicídio três anos depois, pois era con
siderado uma ameaça ao primeiro-ministro de Qii I,
Em meados da década de 1990, arqueólogos
descobriram valas contendo um grande número de
ossos, aparentemente dessa batalha. R G
Eureka! No banho, Arquimedes descobre como medir a densidade.
O rei Hierão da Sicília queria descobrir se uma coroa que
havia recebido de presente era feita de ouro maciço ou
se ele havia sido enganado com uma coroa que conti
nha prata; pediu então a Arquimedes que solucionasse
o problema. Mas como este poderia fazê-lo sem derre
ter o metal e destruir a coroa? Enquanto tomava banho,
Arquimedes percebeu que o nível da água subia quan
do ele entrava e concluiu que poderia determinar a
densidade de ouro da coroa pesando-a na água. Ficou
tão animado com a descoberta que dizem ter saído nu
pela rua gritando: "Eureka!" (Descobri!).
Arguimedes nasceu e m 287 a.C. na cidade-estado
grega de Siracusa, na Sicília, e a ele também se atribui
a descoberta da alavanca e do parafuso de Arquime
des - mecanismo usado para elevar o nível da água -,
bem como o incêndio de navios romanos durante o
cerco a Siracusa usando espelhos e os raios do sol.
Quando a cidade foi tomada, e m 212 a.C, diz-se que
Arquimedes foi morto por um soldado romano por
que ignorou uma ordem para deixar de lado seus
diagramas matemáticos.
Arquimedes era muito respeitado no mundo anti
go, tanto como cientista prático quanto teórico. Escre
veu sobre mecânica, hidrostática, catóptrica (retração) e
matemática. Embora grande parte do seu trabalho te
nha se perdido, seus escritos que sobreviveram eram
conhecidos por matemáticos islâmicos da Idade Média.
Eles foram redescobertos pelos estudiosos renascentis
tas, que tiveram grande influência no desenvolvimento
da matemática na Europa medieval. S K
A China unida "por 10 mil gerações" Zheng, rei de Qin, conquista os outros Estados chineses e adota o título de Shi Huangdi.
O Vista do Exército de Terracota em Xian, uma das maiores descobertas arqueológicas jamais feitas.
| lurante mais de 200 anos, no Período dos Estados
imbatentes, a China permaneceu dividida em Esta-
|i '•. livais. O Estado ocidental de Qin já havia começado
i se destacar como o mais poderoso deles quando
heng subiu ao trono em 246 a.C, aos 13 anos. Oito
' lepois, por uma combinação de ataques-surpre-
- -| nonagem e suborno, ele começou a eliminar um
11 it ii os outros seis Estados. Qi, no nordeste, foi o último
iii, i im 221 a.C. Pela primeira vez na História, a China 1 ii nl irada sob um único governante, e Zheng procla-
I a si mesmo Shi Huangdi, o primeiro imperador.
Sua dinastia, anunciou ele, iria durar 10 mil gerações,
i mu seu novo primeiro-ministro, Li Si, Shi Huangdi
ii 11| H is i Io forma implacável um governo centralizado.
I llmlnou todas as variações regionais de pesos e
medidas, padronizou as leis e a escrita chinesa e co
meçou a abrir estradas e canais. Construiu também
uma barreira de terra para interligar as fortalezas d,i
fronteira norte - o início da Grande Muralha da ( l i m a
Shi Huangdi só temia a morte - e diz-se que V M
jou até as ilhas do Japão em busca do elixir da vida,
Foram necessários 700 mil homens para construir
seu imenso complexo funerário, tido como u n i a n •
presentação do cosmos. Em 1974 foi encontrada
uma grande vala com milhares de soldados de b a i i o
e m tamanho natural. Tratava-se da maior descol» irta
arqueológica jamais feita na China - o Exército de
Terracota de mais de sete mil guerreiros que, h a v i a
mais de dois mil anos, vinha protegendo o corp< i do
primeiro imperador. S K
2 1 8 A.C. 2 1 6 A.C.
Viagem impossível O general cartaginês Aníbal lidera seus homens na travessia dos Alpes.
No outono de 218 a.C, um exército exausto e desmora
lizado espalhava-se pelas pedras, pela neve e pelo gelo
de um alto desfiladeiro alpino. Uma força composta por
homens de tribos selvagens da Espanha, soldados de
infantaria da Líbia e cavaleiros númidas do norte da Áfri
ca havia seguido o general Aníbal Barca, de 28 anos, na
tentativa de atravessar essa barreira montanhosa apa-
ii 1 iii 'iiH1 iie ii i i i . i i is| 'i )invi 'I.
A cidade natal de Aníbal, Cartago, onde hoje fica a
Tunísia, estava envolvida em uma disputa de vida ou
morte com a República Romana pelo controle do M e
diterrâneo Ocidental. Na primavera de 218 a.C, Aníbal
havia conduzido seu exército desde a Espanha para in
vadir a Itália. Pai tira com mais de 100 mil homens, do/e
nas de milhares de cavalos e mulas e 37 elefantes de
rjuerra. Uma longa viagem por território hostil reduziu
muito seu exército mesmo antes de este chegar aos Al
pes. Ali, avançando por trilhas estreitas e m ravinas nas
montanhas, os soldados de Aníbal foram atacados pe
los alóbrogos e por outras tribos locais. Levaram nove
dias para chegarão topo do desfiladeiro.
Aníbal, que compartilhara todas as dificuldades,
reuniu os soldados enregelados e famintos para a des
cida rumo à Itália que, segundo ele, poria Roma em suas
mãos. Caminhando sobre neve e gelo, animais e ho
mens penaram para descer a estreita trilha, temerosos
de cair pela borda escorregadia. Em certo momento,
tiveram de passar quatro dias reconstruindo a trilha,
que havia desabado. Somente cerca de 26 mil e alguns
elefantes chegaram à Itália. Mesmo assim, Aníbal havia
realizado um feito notável ao cruzar os Alpes, e podia
então avançar sobre Roma. R G
O Detalhe de Aníbal e seus elefantes de guerra cruzam os Alpes,
litografia oitocentista da escola inglesa.
Massacre romano Aníbal inflige perdas catastróficas às legiões romanas em Canas.
Apesar de travada apenas com espadas e lanças, a
sangrenta Batalha de Canas, e m 216 a.C, teve a mais
alta taxa de mortandade e m um único dia de c o m
bate de toda a história européia.
A liopúblic a Romana mandou oito legiões de Cl dadãos-soldados, além de aliados, para enfrentai o qenoial < aitaginês Aníbal han a, que invadira a H.h.i dois anos antes. Conduzida pelos cônsules Paulo e Varro, a força romana de 70 mil soldados de infantaria e seis mil cavaleiros confrontou Aníbal em uma plani cie entre o rio Aufido (hoje Ofanto) e o alto da colina
"Alguns... torturados pelos ferimentos... eram rapidamente liquidados pelo inimigo." Tito Lívio, História de Roma, o 26 d.C.
de Canas. Os exércitos posicionaram sua infantaria no
centro e sua cavalaria nos flancos. A infantaria de Aní
bal - líbios, espanhóis .aceitas - encontrava-se e m
grande desvantagem numérica. Aníbal pressionou os
celtas e os espanhóis e m direção às fileiras romanas,
convidando a um ataque, mas mantendo sua discipli
nada infantaria líbia nos dois flancos. Em meio a rede
moinhos de poeira, as duas forças se f chocaram. No
início, os romanos avançaram, empurrando o centro
da formação cartaginesa. Então os líbios atacaram po
los flancos, arrasando a infantaria romana. A cavalaria
de Aníbal expulsou os cavaleiros romanos e atacou
pela retaguarda. Cercados, os romanos foram sistema
ticamente massacrados. Mais de 48 mil soldados ro
manos morreram. Mesmo assim, Roma recusou a paz
e a guerra prosseguiu. S K
202 A.C
De camponês a bandoleiro e imperador O ex-camponês Liu Bang assume o controle da China e funda a dinastia Han, que permanece 400 anos no poder.
O Pintura setecentista do imperador Liu Bang, bandoleiro
camponês que fundou a dinastia Han.
"Eu sei usar as pessoas, então pude conquistar as terras sob o céu." L iu B a n g
Quando o primeiro imperador da China, Qin Shi
Huangdi, morreu em 210 a.C, seu filho não conse
guiu conservar o poder. Em 209 a.C. iniciou-se uma
série de rebeliões contra a dinastia Qin, e um bando
leiro, Liu Bang, foi incentivado a apoiar o príncipe do
antigo reino de Chu. Liu Bang, h o m e m de origem
camponesa que já tinha sido chefe de polícia e m
J iangsu sob os Qin, reuniu u m pequeno exército
e conquistou Guanzhong , e m Shaanxi, terra natal
dos Qin. Em 206 a.C, ele invadiu Xianyang, capital dos
Qin, I oi recompensado com o principado de Han
(atual Sichuan, Chingqing e sul de Shaanxi).
Liu Bang começou então a tentar conquistar toda a
China e, depois de abandonar o aspecto mais duro do
regime Qin, conquistou forte apoio popular para sua
campanha. Apesar das forças relativamente reduzidas,
usou a astúcia para manter sua posição contra o militar
brilhante mas politicamente ingênuo Xiang Yu, um no
bre Chu. Liu Bang derrotou-o em 202 a.C. e Xiang Yu
então suicidou-se.
Depois da vitória, Liu Bang adotou o título de Im
perador Gaozu, restaurou a autoridade central e, a
partir da capital de Chang'an, criou a dinastia Han,
que seguiria no poder por guase 400 anos.
Liu Bang conservou seus modos de camponês
durante todo o reinado - é notória a ocasião em que
urinou dentro do chapéu de um estudioso para mos
trar seu desdém pela educação -, mas governava
segundo princípios confucianos. Ganhou populari
dade ao buscar reduzir os impostos sobre os campo
neses, mas fez inimigos ao executar vários dos gene
rais que o haviam ajudado a subir ao poder. Por outro
lado, neutralizou a principal ameaça externa, a dos
nômades Xiongnu do norte, por meio de casamen
tos estratégicos e subornos. P F
202 A.C. 15 DE O U T U B R O
A vingança de Cipião As legiões de Cipião finalmente derrotam Aníbal e seus elefantes na Batalha de Zama.
0 general romano Públio ( ornélio ( ip ião c i a u n i M I
brevivente da carnificina do exército romano perpe
trada pelo cartaginês Aníbal em Canas, e m 216 a.C. Em
202 a.C, Cipião começou a virar a mesa. No comando
de uma invasão romana ao norte da África, ameaçou a
( idade de Cartago, forçando Aníbal a voltar de uma
prolongada campanha para defender seu território
natal. As forças de Cipião e Aníbal confrontaram-se a
oeste de Cartago na tremenda Batalha de Zama.
Consciente de que seu exército estava debilitado e de que era, naquele momento, muito inletiot à força
"Os romanos se abateram sobre o inimigo, com seu grito de guerra e seus escudos." P o l í b i o , h i s t o r i a d o r g r e g o , 205-123 a.C.
que tinha vencido seus combates anteriores, Aníbal
t ipostou no uso de elefantes de guerra, e 80 dos intimi-
< ladores animais atacaram as legiões romanas. Com o
barulho da batalha, porém, muitos dos elefantes se
assustaram e desembestaram, atacando, em sua fuga,
,i cavalaria do próprio Aníbal. Os outros elefantes passa-
ram deforma inofensiva pelas brechas que Cipião havia
aberto nas fileiras romanas. O exército de Aníbal estava
condenado: sua cavalaria foi expulsa do ( ampo de ba
talha e sua infantaria sucumbiu ao avanço inexorável
(los legionários de Cipião. Era o fim do combate.
A vitória de Zama forçou Cartago a reconhecer a
derrota e estabeleceu Roma como a potência domi
nante do Mediterrâneo Ocidental. Aníbal acabou no
exílio e, ainda perseguido por seus inimigos romanos,
suicidou-se 20 anos depois. S K
168 A.C. 22 DE J U N H O
Triunfo romano A derrota macedônia em Pidna assegura a conquista romana da Grécia.
IV i Io do I 'idna, norte da Grécia, aos pés do monte Olimpo, morada mitológica dos deuses, dois exércitos se choca ram e m u m emba te que iria decidir o futuro da civil ização mediterrânea. De um d o s lados estava o exército d e 40 mil homens do rei Perseu da Macedônia , do outro 40 mil soldados romanos l iderados por um cônsul de 60 anos, I ú cio Emíl io Paulo.
A expansionista República Romana vinha travan do havia 30 anos uma guerra intermitente contra t
M a i e i loi na, potência i lominante na Gréc Ia. i >•, ho
"Quem não iria querer saber como o mundo veio a cair sob o domínio exclusivo de Roma?" P o l í b i o , h i s t o r i a d o r g r e g o , 205-123 a.C.
mens de Perseu lutavam e m um estilo tradicional,
mas antiquado. Os soldados de infantaria, armados
com sarissas (lanças) de até 7m de comprimento,
formavam falanges muito densas - exibindo apenas
os escudos e as pontas das armas. Os legionários
romanos, porém, lutavam com lanças de arremesso
e espadas curtas e m pequenas unidades, capazes de
um combate mais flexível.
No início, os romanos não conseguiram peneirar
o muro de lanças macedônias, mas quando em i >i i
traram brechas nas falanges inimigas puderam travai
uma luta corpo-a-corpo e os macedônios tornaram-
se presas fáceis para os romanos. Cerca de 2 5 mil
morreram, contra apenas uma centena de romanos.
Perseu foi o último rei da Macedônia, que s e ti il
nou uma província romana em 146 a.C. R G
146 A.C. 70 A.C.
Destruição de Cartago Roma extermina uma civilização rival com meticulosidade genocida.
Mais de dois mil anos antes da bomba atômica, os ro
manos demonstraram comodestruii uma < i d a d e intei
ra pela ação militar. Suas legiões arrasaram Cartago, na
atual Tunísia, e mataram ou escravizaram todos os seus
habitantes. Nenhuma construção foi deixada em pé.
Outrora grande rival de Roma no Mediterrâneo
Ocidental, Cartago havia sido forçada a aceitar um
acordo de paz humilhante após a derrota de Zama,
em 2 0 2 a.C. Os cartagineses perderam seu poderio
militar, mas muitos romanos continuavam desconfia-
i los dos antigos inimigos, incluindo o orador Catão, o
Velho, gue declamava com freqüência: "Cartago tem
de ser destruída!"
Depois de algum t e m p o , por m e i o de manobras,
os cartagineses foram levados a violar os termos do tra
tado de paz. Com esse pretexto, em 1 4 9 a.C. os romanos
enviaram uma força expedicionária para sitiar a cidade,
mas Cartago tinha fortificações imponentes, e no início
,i operação romana correu mal. Em 1 4 7 a.C, subiu ao
comando do exército Cipião Emiliano, neto de Cipião
Africano, vencedor de Zama. Cipião apertou o cerco aos
I nibitantes, que logo começaram a passar fome.
Na primavera de 1 4 6 a.C, tropas romanas adentra
ram os muros da cidade. Os cartagineses resistiram
bravamente, mas a rendição era inevitável. Cerca de
5 0 mil sobreviventes viraram escravos. Um último
núcleo de 9 0 0 resistentes morreu queimado dentro
de um templo. Após alguns dias de pilhagem, come
çou a destruição sistemática da cidade, sobretudo
pelo fogo. Diz-se que Cipião chorou, prevendo o dia
em que Roma talvez tivesse o mesmo destino. R G
O Gravura mostrando o ataque a Birsa e a derrota dos
cartagineses.
Espártaco é derrotado Os romanos finalmente subjugam o grande líder escravo Espártaco.
Espártaco, líder da maior revolta interna contra a Re
pública Romana, foi finalmente derrotado em 70 a.<
Espártaco era um escravo que havia sido treinado e m
uma escola de gladiadores perto de Cápua, no sul da
Itália. Em 7 3 a.C, portando facas de cozinha, ele e cerca
de 7 0 outros fugiram e criaram um grupo de fora da
lei - alguns gladiadores, outros ladrões, outros ainda
escravos foragidos - nas encostas do monte Vesúvlo,
Espártaco derrotou várias hostes enviadas para des
truí-lo, confiscando suas armas. Suas forças logo au
mentaram para mais de 1 0 0 mil pessoas, in< luíi n li i
"Espártaco... era tão inteligente e culto que parecia grego." P l u t a r c o (c. 46-120 a . C ) , A vida de Crasso
mulheres, i rianças e velhos. Os gladiadores treinai.im
os homens menos experientes, transformando-os em
um formidável exército. Segundo historiadores rama
nos, Espártaco dividia o butim entre seus seguidores.
No início de 7 0 a.C, uma legião comandada por
Crasso encurralou o exército de escravos na Calábria.
Embora Espártaco tenha conseguido escapar, seu
exército foi destruído. O próprio Espártaco foi morto,
mas seu corpo jamais foi encontrado. Crasso reuniu
cerca de seis mil sobreviventes e mandou crucificá-los
às margens da Via Ápia de Brindisi até Roma. Os cor
pos permaneceram pendurados durante muitos anos,
como um alerta aos escravos que pensassem em se
rebelar. Espártaco, porém, passou a ser lembrado co
mo um defensor dos que lutam contra a escravidão r
a servidão. P F
Fundação de Silla O primeiro reino coreano, Silla, é fundado por um Filho dos Céus.
0 primeiro Estado coreano só se formou e m 57 a.C. Des
de pelo menos o século VIII a.C, os coreanos viviam sob
a influência cultural de seu poderoso vizinho, a China. O
cultivo do arroz e as armas e ferramentas de bronze, am
bos emprestados dos chineses, impeliram os coreanos
rumo à urbanização e à formação de um I stado. lá no
século IV a.C, pequenos Estados haviam surgido por
toda a península coreana, cada qual tendo por base uma
cidade fortificada. Guerras e alianças levaram as cidades
i o desenvolvimento de confederações informais lidera
das pelos chefes das cidades dominantes. Os chine
ses começaram a considerar essas confederações uma
.imeaça.ea partir de 109-106 a.C. a dinastia Hanconquis
lou a maior parte do norte e do centro da Coréia.
Nas partes que não foram conquistadas, três reinos
começaram a se desenvolver no século I a.C: Koguryo,
1'aekche e Silla. Segundo a lenda, o primeiro desses Es
tados foi Silla, fundado em 57 a.C. pelo rei Pak Hyokkose,
um Filho dos Céus nascido de um grande ovo verme
lho deixado na Terra por um cavalo alado. 0 povo rezou
por uma noiva igualmente notável para Hyokkose, e
uma linda bebezinha acabou por surgir debaixo da cos
tela de um dragão-galinha. O povo ficou pasmo ao ver
que a menina tinha um bico como o de um pássaro,
mas este caiu quando ela tomou seu primeiro banho.
1 )epois de reinar por 61 anos, Hyokkose ascendeu aos
( éus e após sete dias seus restos mortais caíram à Terra;
eles estão enterrados e m um túmulo no terreno do
monastério de Tamon. Os reinados da maioria dos pri
meiros reis de Silla também são cercados de lendas: seu
primeiro verdadeiro rei histórico foi Naemul, cujo reina
do durou de 356 a 402 d.C. J H
O Detalhe de "Uma história dos Três Reinos", de um biombo de
oito painéis conservado no Museu Gahoe, na Coréia do Sul.
colinas brancas ao redor de Dubrae (Dover). Em vez < lc •
correr o risco de uma batalha colina acima ali mesmo,
César ordenou a seus navios que rumassem para o
norte, até uma praia mais aberta em Walmer. Osquoi
reiros britânicos, porém, foram atrás para resistir ao
desembarque. Legionários romanos pulavam de seus
navios apenas para serem atacados nas águas rasas e
na margem. Os britânicos só foram repelidos quando
os navios de guerra de César começaram a atirar nelt ••>
com ballistae (balistas, ou grandes arcos).
O desembarque fora difícil, e o mau tempo impei In i
a cavalaria de atravessar o canal e castigou a frota. Pn •< >
cupados com o abastecimento, os romanos retori laram
à Gália. César voltou em 54 a.C. e avançou até o norte < l< i
Tâmisa, mas ainda seriam necessários 90 anos para os
romanos se estabelecerem na Britânia. R G
César na Britânia A primeira força militar romana pisa o solo britânico, apenas para ser repelida.
Certa manhã de verão e m 55 a.C, uma frota de 80 na
vios transportando duas legiões romanas e escoli.u I a
por navios de combate aproximou-se da costa sul da
Britânia. A expedição - um feito ousado, pois a Htilãi H. i
ficava na extremidade mais afastada do mundo co-
nhei i d o havia pai tido à meia-noite de onde 1 I u >|i •
fica Boulogne, na França. Seu comandante, Júlio César,
nada sabia sobre a ilha, a não ser que seu povo a p o i a
va tribos hostis da Gália, no continente europeu, q u e
ele vinha tentando subjugar. A aproximação d a In >ta
romana f o i observada por guerreiros britânicos das
"Todos os bretães se pintam com glasto... e raspam... o corpo." J ú l i o César , A guerra da Gália, o 45 a .C .
Massacre em Carras Um plutocrata romano conduz as legiões à derrota frente aos partos.
Marco Licínio Crasso era o homem mais rico de Roma
e controlava a República junto com Júlio César e Pom-
peu. Mas Crasso queria igualar a glória militar de seus
dois colegas e, para tanto, e m 53 a.C, liderou cerca de
50 mil legionários em uma itivasáo da Mesopolâmia,
parte do Império Parto. O rei parto, Orodes II, mandou
ao seu encontro um exército comandado por um aris
tocrata conhecido como Surena.
Quando as duas forças se chocaram no deserto
perto da cidade de Carras, em 6 de junho, logo ficou
evidente que Crasso tinha avaliado muito mal a situa
"O inimigo que carregava a cabeça de Públio se aproximou com seu cavalo e mostrou-a." P l u t a r c o (c. 46-120 d . C ) , Vida de Crasso
ção militar, Enquanto a maior parte do exército roma
no era constituída por soldados de infantaria, os par
tos combatiam montados. Seus cavaleiros rápidos,
trajando roupas leves e armados com potentes arcos
compostos, atormentaram os legionários, galopando
para atacar e m fileiras cerradas e se afastando antes de
os romanos poderem contra-atacar. A cavalaria de
Crasso investiu, mas foi massacrada. A cabeça de Pú
blio, filho de Crasso, foi espetada e m uma estaca, des
moralizando ainda mais as forças romanas.
Durante a retirada romana, ao cair da noite, mais
soldados foram mortos, incluindo Crasso, cuja cabeça
foi enviada ao rei Orodes. Cerca de 20 mil romanos
morreram e 10 mil foram capturados. A morte de Cras
so abriu caminho para uma disputa de poder entre
Pompeu e César e para o fim da República. R G
Sem misericórdia Condenados desde o princípio, os gauleses são massacrados por Júlio César em Alésia.
"Vercingetórix, principal força motriz de toda a guerra,
depois de vestir sua melhor armadura e enfeitar seu
cavalo, saiu a galope pelos portões [de Alésia] e deu
uma volta ao redor de César, que estava sentado, e
então, depois de desmontar, tirou a armadura e foi se
sentar imóvel aos pés de César até ser levado embora."
É assim que o biógrafo grego Plutarco descreve a ren
dição do líder da revolta fadada ao fracasso contra a
conquista romana da Gália, e m 52 a.C.
As tribos celtas da Gália Transalpina - área a oeste
do Reno e ao norte dos Alpes e dos Pireneus - haviam
se mostrado impotentes ante as campanhas conduzi
das por César a partir de 58 a.C, e m parte devido à sua
desunião. No-início de 52 a.C, porém, Vercingetórix,
jovem chefe arverno, formou uma aliança entre as tri
bos da Gália Ocidental e Central. Seu exército enfren
tou as legiões romanas com táticas de guerrilha e em
batalhas mais organizadas para defender seus fortes
situados no alto de colinas.
Em setembro, César encurralou Vercingetórix, cer
cando seu exército na cidade fortificada de Alésia, no
topo de uma colina. Os romanos formaram uma fileira
dupla de fortificações de cerco ao redor da cidade - a li
nha interna servia para manter Vercingetórix na cidade e
a externa para se defender de um contra-ataque. Quan-
< li) as forças de apoio gaulesas chegaram e juntaram-se
à guarnição de Alésia, os romanos quase cederam.
Para os gauleses, render-se era a única opção. Os
romanos não demonstraram nenhuma clemência -
cada legionário recebeu um gaulês para vender como
escravo. Vercingetórix foi levado para Roma e executa
do seis anos mais tarde. R G
O Cerco de Júlio César a Alésia (1533), óleo do pouco conhecido
artista Melchíor Feselen {morto em 1538).
Pompeu é decapitado 0 foragido ex-general romano Pompeu é assassinado no Egito.
Em 48 a.C, Pompeu (Cneu Pompeu Magno), outrora o
mais bem-sucedido general de Roma e seu mais po
deroso líder político, havia se transformado em um
desesperado fugitivo. Derrotado em Farsália, norte da
Grécia, pelo rival Júlio César, fugira por mar para o Egi
to. De lá, Pompeu mandara um recado para o jovem
rei do país, Ptolomeu XII, pedindo refúgio. Mas os con
selheiros do rei egípcio, chefiados pelo eunuco Potino,
eram homens cautelosos e dissimulados. Segundo
seu raciocínio, César ficaria furioso caso dessem abrigo
a Pompeu, mas Pompeu também poderia constituir
"...cortaram a cabeça de Pompeu e jogaram seu corpo nu para fora do barco." P l u t a r c o (c. 46-120 d . C ) , Vida de Pompeu
um perigo futuro caso o mandassem embora. A solu
ção mais segura, portanto, era matá-lo.
Um membro do conselho, Aquilas, junto com dois
ex-soldados romanos, partiu em um pequeno barco
para buscar Pompeu e trazê-lo até a margem. Pom
peu subiu no barco acompanhado de seu criado Feli
pe. Quando o barco atingiu águas rasas, Pompeu foi
apunhalado e decapitado. Os assassinos abandona
ram seu corpo, deixando o fiel Felipe encarregado de
construir uma pira fúnebre na praia.
Quatro dias depois, César chegou ao Egito. Quan
do lhe mostraram a cabeça de Pompeu, ele suposta
mente virou as costas, enojado. A morte de Pompeu
abriu caminho para César se tornar líder inconteste de
Roma, bem como amante de Cleópatra, irmã e rival de
Ptolomeu XII, para ocupar o trono do Egito. R G
Calendário Juliano As reformas de César estabelecem as bases de nosso calendário moderno.
A vida cotidiana de Roma girava em torno dos festivais
sazonais e da eleição anual dos magistrados, o que
exigia um cálculo preciso das datas. Apesar disso, o
calendário romano, baseado no ano lunar de 355 dias,
era cerca de 10 dias mais curto do que o ano solar. Para
ajustar essa discrepância d o calendário, o pontífice
máximo (líder do colégio de sacerdotes) fazia um
anúncio anual do número d e dias extras a serem
acrescentados naquele ano.
No século I a.C, o pontífice máximo já era com
freqüência um político, e algumas vezes esse poder
"César convocou os melhores filósofos e matemáticos..." P l u t a r c o (c. 46-120 d . C ) , Vida de César
sobre o calendário era usado de forma inescrupulosa para prolongar a magistratura de um aliado político ou reduzir a de um rival.
Eleito pontífice máximo em 63 a.C, Júlio César só reformaria o calendário 20 anos mais tarde, ao voltar para Roma. Seguindo os conselhos do astrônomo Sosí-genes, ele introduziu um calendário juliano baseado no ano solar de 365 dias e um quarto, com um dia extra a cada quatro anos. Sosígenes, porém, havia superestimado a duração do ano solar e m 11 minutos e 14 segundos, de modo gue, em meados da década de 1550, o efeito cumulativo desse erro havia deslocado 10 dias para a frente datas sazonais como a Páscoa. Em 1582, o papa Gregório XIII retirou os dias extras e reformulou a regra para os anos bissextos, criando assim o calendário gregoriano, ainda em uso atualmente. S K
Morte de um ditador Júlio César é assassinado por uma conspiração de senadores em Roma, marcando o início da derrocada da República.
No dia conhecido pelos romanos como os "idos de
março", Júlio César devia comparecer a uma reunião
do Senado e m um salão anexo ao Teatro de Pompeu.
Várias indicações funestas sugeriam que o perigo era
iminente, mas César foi convencido a ignorá-las. Erro
fatal, já que de fato havia um complô para matá-lo.
Todo-poderoso e m Roma depois de derrotar
Pompeu, César havia conquistado grande popularida
de junto ao povo - mas se afastara da aristocracia que
dominava o Senado. Cássio Longino e Marco Bruto
haviam convencido cerca de 60 senadores a participa
rem de um complô de assassinato. A justificativa para
a conspiração era a defesa da liberdade republicana,
uma vez que César havia se declarado "ditador vitalí
cio" e corriam boatos de que aspirava à realeza.
Quando César estava sendo carregado e m uma
liteira para o salão onde o Senado iria se reunir, um bi
lhete avisando sobre o complô foi posto e m sua mão,
mas ele não o leu. Seu influente seguidor, Marco Antô
nio, foi distraído por um dos conspiradores do lado de
fora do salão enquanto César entrava. Outro conspira-
dor, Tílio Cimber, inventou um pretexto para se aproxi
mar de César e arrancou sua toga. Então, sacando
adagas escondidas, os senadores se jogaram sobre ele
por todos os lados. César resistiu até, segundo o histo
riador Suetônio, reconhecer Bruto entre os agressores.
Aos gritos de "Até tu, Bruto?", ele parou de resistir e caiu
morto aos pés de uma estátua de Pompeu.
Confrontados com a hostilidade popular, os assassi
nos foram forçados a fugir de Roma. Marco Antônio,
outrora um dos mais fiéis seguidores de César, assu
miu o controle da cidade. Dois anos depois, Bruto e
Cássio estavam mortos. Longe de salvar a República, o
assassinato desencadeou uma disputa de poder que
terminou com a criação do Império Romano. R G
O Gravura que mostra Marco Antônio fazendo o discurso
fúnebre junto ao corpo de César (artista desconhecido).
"Para onde quer que se virasse, ele recebia golpes de adagas..." P l u t a r c o (c. 46-120 d . C ) , Vida de César
"0 têmpora, o moresl" A reconciliação entre Marco Antônio e Otaviano leva ao assassinato de Cícero.
O Afresco de Cícero fazendo um de seus famosos discursos, por Cesare Maccari (1840 1919), pintado no Palazzo Madama, Roma
0 grande orador Cícero estava sendo carregado em uma titeira até o navio que o levaria para um lugai seguro quando os assassinos chegaram. I sies incluía m o centurião Herênio e o tribuno Popílio, que Cícero já defendera de uma acusação de parricídio. Cícero demonstrava cada um de seus 64 anos, com os cabelos revoltos e o rosto emaciado. Diz-se que suas últimas palavras foram: "Não há nada próprio no que estás fazendo, soldado, mas tenta matar-me de forma decente." Por ordem de Marco Antônio, Cícero t ambém teve as mãos cortadas.
Ninguém poderia ter previsto tal morte para Marco Túlio Cícero, brilhante orador, advogado e filósofo refinado que, não sendo nobre nem patrício, havia se tornado cônsul em 63 a.C. Era um homem discreto, tí
mido até, que desaprovava a autocracia de César, mas não participou de seu assassinato. No entanto, quando passou a considerar Marco Antônio um tirano, Cícero não conseguiu continuar e m silêncio. Nas Filípi-
cas, buscou elogiar Otaviano, filho adotivo de César, e prejudicar Marco Antônio. Por pouco não conseguiu. Marco Antônio chegou a ser declarado "inimigo do Estado", mas sua reconciliação com Otaviano selou o destino de Cícero. Marco Antônio queria a língua que havia falado e a mão que havia escrito contra ele.
À medida que os assassinatos de Marco Antônio prosseguiam, os romanos recordavam o alerta de Cícero. Mais tarde, Otaviano derrotou Marco Antônio e relembrou Cícero como "um homem culto que amava o seu país". R P
Antônio e Cleópatra são derrotados O futuro de Roma é decidido na Batalha de Ácio, na costa oeste da Grécia.
O A Batalha deAclo (1600), mural de Antônio Vassilacchi (1556-1629), pintado na Villa Barbarigo, próximo a Vicenza, Itália.
Nos distúrbios civis que sucederam ao assassinato de
Júlio César e m 44 a.C, seu filho adotivo, Otaviano, e
Marco Antônio, ex-braço direito de César, ascenderam
à co-liderança do mundo romano. Enquanto Otaviano
governava e m Roma, Marco Antônio instalou-se em
Alexandria, aliado tanto na política quanto no amor à
rainha ptolomaica do Egito, Cleópatra VII. Nalut.ilmen
i e, os dois homens acabaram se enfrentando para d e
cidir quem seria o líder único de Roma.
No verão de 31 a.C, M a n o Antônio e Cleópatra,
no comando de um grande exército e de uma grande
força naval, foram acuados por Otaviano e m Ácio, na
costa oeste da Grécia. Liderada por Marco Vipsânio
Agripa, a frota de Otaviano cortou a linha de abasteci
mento do exército rival com o Egito, enquanto cerca
de 80 mil soldados romanos o enfrentavam e m terr.
( o n d o i i t a d o s c mu uni di 'sastre, Antônio e C i e i i p . i i i
urdiram um plano para furar o bloqueio naval de Ai | i i p
e fugir para o Egito. Encheram de soldados seu melhoi
navio e carregaram 60 embarcações mercantes corr
tesouros. Os navios manobraram para se posiciona
entre a costa e o bloqueio naval de Agripa e ali In. iran
aguardando um vento favorável. As duas frotas preci
pitaram-se em um combate confuso antes de o ventc
mudar e Cleópatra lançar os navios mercantes r u m i
ao mar aberto. Antônio conseguiu juntar-se a ela, ma:
seus 300 navios de guerra, não.
Antônioe Cleópatra voltaram para Alexandria. Dian
te da derrota iminente, ambos cometeram suicídio, dei
xando Otaviano como líder inconteste de Roma. RG
30 A.C. 30 DE AGOSTO
A morte de Cleópatra A derrota do último faraó marca o fim de uma era no Egito.
Ires mil anos de um Egito unificado e independente terminaram quando - segundo Shakespeare, pelo menos - Cleópatra VII levou ao seio uma serpente ve nenosa. Esse ato foi provocado pela derrota de suas forças - suas e de seu amante romano, Marco Antônio
por Otaviano na Batalha de Ácio. Cleópatra foi a última dos faraós. Embora Cesário, seu filho com Júlio I ésar, tio de Otaviano, tenha sido proclamado líder I >or um breve período, ele logo foi executado e o Egito lornou-se uma província de Roma. Otaviano não de moraria a adotar o tílulo de Augusto, instaurando as-Sim o Império Romano.
Em 51 a.C, Cleópatra, então com 17 anos, g o vernava juntamente com o irmão de 10 anos, Ptolomeu XIII. Três anos mais tarde, ela foi forçada a de i tar o Egito. Depois de Pto lomeu provocar a fúria de lúlio César ao mandar decapitar seu rival Pompeu , ( Jeópatra conquistou os favores de César ao ser le vada até seus aposentos enrolada e m um tapete. Os dois se tornaram amantes, e César ajudou a recolo-i á-la no trono egípcio.
Depois do assassinato de César em 44 a.C, Marco Antônio, um dos triúnviros, convocou Cleópatra para avaliar sua lealdade, e ela o seduziu. Os dois se casa-iam em 37 a.C. e tiveram três filhos. Supunha-se que estivessem formando um império para rivalizar com Roma, então Otaviano decidiu combatê-los, levando a derrota e ao subseqüente suicídio do casal.
A julgar por suas representações, é pouco provável que Cleópatra tenha sido a beldade que a lenda imortalizou. Ela não era de origem egípcia e sim o último membro da dinastia ptolomaica grega. P F
O Detalhe de A morte de Cleópatra, pintado em 1658 pelo artista
barroco italiano GuidoCagnacci (1601-1663).
27 A.C. 13 DE J A N E I R O
Nasce um império O governo de Otaviano estabelece as bases do Império Romano.
Caio Otaviano (ou Otávio) era sobrinho-neto, filho ado
tivo e herdeiro de Júlio César. Embora tivesse apei i, i\ ln
anos quando César foi assassinado, passou a dividii 0
poder com Marco Antônio e Lépido. No entanto, quari
do Antônio casou-se com Cleópatra e buscou lundu
um império no Egito, Otaviano o enfrentou e vem eu
em Ai io, tornando-se de íato a única autoridade r m
Roma. Porém, enquanto os poderes ditatoriais de ( ésai
haviam desafiado o sistema político romano tradii lonal,
Otaviano tomou cuidado para restaurara aparência ex
terna da Constituição republicana.
"Por minha própria iniciativa, reuni um exército com o qual libertei o Estado." Feitos do divino Augusto, Inscr i ção , 14 d.C.
Em janeiro de 27 a.C, Otaviano foi ao Senado abtíi
mão de seus poderes. Como não lhe permitiram la/ê
Io, ele aceitou o comando de várias províncias e os IIIU
los de "Princeps" (primeiro cidadão, o que o tornav i d e
fato um monarca vitalício) e "Augustus" (ilustre). Em ho
menagem ao pai adotivo, acrescentou ao próprio I íiuli >
o nome de César, que com o tempo passou a signifn ai
a autoridade imperial. Uma coroa de louros foi colocada
à porta de sua casa, transformando-a na sede oficial di >
poder. O Senado então lhe prestou um juramenii > de
fidelidade como "Imperator". Com o passar dos anos,
ele se tornou cada vez mais poderoso. Como controla
va as legiões e a Guarda Pretoriana, a oposição do Sena
do tornou-se impossível. Otaviano foi imperadot em
tudo menos no nome, e seu governo marca o ink Io do
Império Romano. P F
A cidade de Trier é fundada em solo sagrado Trier, capital setentrional de Roma, é fundada e cresce até se tornar uma próspera cidade.
O Um dos raros afrescos, de c. 200 d.C, que sobreviveram na Villa Rústico, antiga cidade de Augusta Trevevorum.
Quando o primeiro imperador romano, Augusto, ordenou a construção da cidade de Augusta Trevevorum, e m 16 a.C, não poderia saber como ela um dia iria se tornar influente. Edincada no local de um santuário sagrado dos tréveros, antiga tribo germânica, às margens do rio Mosela, a cidade ocupava uma po sição estratégica importante em uma rota comercial consolidada.
Apesar de uma possível hostilidade local a essa violação de um santuário, a nova cidade logo prosperou - no século II d.C.Tréveris (comoTrier era então conhecida) tornou-se capital da divisão belga da Gália romana antes de se transformar, no século III, na sede da corte do imperador Diocleciano e capital do Império Romano do Ocidente. Trier foi a cidade natal de Santo Ambró-
sio, sede de alguns dos primeiros bispados e um importante centro de propagação do cristianismo.
O status da cidade como centro devocional sobreviveu às invasões francas e ao colapso do Império Romano do Ocidente. Alçada à condição de arcebispado em 815, seus arcebispos tornaram-se no século XII eleitores do Sacro Imperador Romano.
A cidade prosperou como centro comercial e cultural no início do período moderno, e sua universidade foi fundada em 1473. Ocupada pelos franceses durante as guerras revolucionárias, Trier caiu sob domínio prussiano após a derrota de Napoleão em 1815. Em 1818, ali nasceu Karl Marx. Trier hoje faz parte da região alemã da Renânia-Palatinado, e celebrou seu aniversário de dois mil anos em 1984. T B
CERCA DE 4 A.C. 6 DE JANE IRO
0 nascimento de Jesus Cristo Nasce Jesus de Nazaré, personagem central do cristianismo.
O Adoração do menino (c. 1620), de Gerrit van Honthorst (1590-1656), também conhecido como Guerardo delle Notti.
Identificar a data exata do nascimento de Jesus Cristo
não é uma tarefa fácil. O Novo Testamento insiste que
foi durante o reinado de Herodes, governante da Judéia
por mais de 30 anos, durante os quais reconstruiu o
templo de Jerusalém e ergueu grandes palácios e forta
lezas no deserto ao redor da cidade. Infelizmente para a
I ronologia tradicional, Herodes morreu e m 4 a.C, qua-
t to anos antes da data habitualmente aceita para o nas-
• imento de Jesus. Não existe nenhum outro indício
histórico que não as narrativas bíblicas.
O imperador romano Augusto tinha um governa
dor na Síria chamado Quirino, que decretou que seus
( idadãos deveriam ser taxados, mas isso aconteceu
I ior volta de 6 d.C, 10 anos depois da morte de Hero
des. E não há indícios de que ele tenha obrigado as
pessoas a voltarem para suas residências originais.
Tampouco há indícios de uma visita à Judéia p o i p a i te
de três sábios ou de um massacre de crianças perpe
trado por Herodes.
Nada disso pretende negar que de fato tenha nasci
do por volta dessa época um menino que se tornou um
poderoso pregador e curador e cuja morte cerca de 30
anos mais tarde conduziu a extraordinárias mudanças
A viagem para Belém, a hospedaria, os pastores, os ma
gos, a fuga para o Egito provavelmente são acréscimos
mitológicos. Os Evangelhos não fornecem nenhuma
indicação do mês - nem seguerda estação do ano - do
nascimento de Cristo. Os cristãos primitivos celebravam
a data em 6 de janeiro, mas, a partir do século IV, p a s s e >i i
a ser comemorada no dia 25 de dezembro. P F
Massacre na floresta Três legiões romanas sucumbem na floresta de Teutoburgo.
"No centro do campo de batalha havia ossos humanos
embranquecidos... espalhados em desordem ou e m
pilhados. Por perto havia fragmentos de armas e patas
de cavalos, e também cabeças humanas pregadas aos
troncos das árvores." Segundo o historiador Tácito, era
essa a cena na floresta de Teutoburgo, Alemanha, no
ano 15 d.C. Seis anos antes, aquele fora o local do de
sastre militar mais retumbante do Império Romano.
Roma partiu para a conquista da região localizada
entre os rios Reno e Elba em 12 a.C. Parecia que as tribos
germânicas selvagens logo iriam sucumbir ao domínio
"O exército romano... tomado de tristeza e raiva, enterrou os ossos das três legiões." Tác i to (c. 56-117), Anais
romano. De fato, quando Públio Quintílio Varo coman
dou as operações da décima sétima, décima oitava e
décima nona legiões no ano 9, seus legionários se fize
ram acompanhar por auxiliares locais liderados por seu
chefe, Armlnio, ele próprio cidadão romano. À medida
que os legionários foram chegando perto do Reno, po
rém, Armínio e seus auxiliares desertaram.
Atrapalhadas por um longo comboio de baga
gens e por numerosos seguidores, as legiões se e m
brenharam na floresta. Os guerreiros montados de
Armínio infernizaram a lenta coluna até a força roma
na ficar tão fraca que foi sobrepujada. Houve poucos
sobreviventes, e Varo se matou. O idoso imperador
Augusto nunca se recuperou do choque de perder
três legiões, e o Reno continuou a dividir os mundos
romano e "bárbaro". R G
CERCA DE 30 D.C. 13 DE ABR IL
Cristo ressuscita Jesus é enterrado e, no terceiro dia, retorna dos mortos.
Embora ninguém tenha visto o que aconteceu, e pouco
mais de uma vintena de pessoas alegue ter tido qual
quer indício direto posterior, o desaparecimenio do
corpo de Jesus do túmulo, bem como a convicção de
seus discípulos de que ele depois veio visitá-los, prova
velmente mudou o mundo. Milhões de pessoas encon
traram na verdade literal desse acontecimento aparen
temente impossível uma crença direta e pessoal, com
efeitos dramáticos em sua moralidade, cultura e com
portamento ético e político.
Jesus, carismático curador e pregador apocalíptico
itinerante da província romana da Judéia, perturbou a
estrutura religiosa judaica ao desprezar de forma deli
berada muitas práticas tradicionais e ao alegar que seus
ensinamentos suplantavam as leis de Moisés nas quais
estava baseado o judaísmo. Sua última visita a Jerusa
lém, para o festival de Pessach (a data é inexata, mas o
mais provável é que tenha sido em 30 d.C), foi interpre
tada como um confronto intencional. O Sinédrio e o
sumo sacerdote condenaram-no e pediram ajuda ao
governador romano, e Jesus foi morto por crucificaçâo.
Sepultado em um túmulo particular por um aliado, mas
vigiado por soldados romanos, seu corpo desapareceu
três dias depois. Nesse dia, assim c o m o e m diversas
ocasiões nos meses subseqüentes, seus amigos tiveram
certeza de tê-lo visto com vida. A primeira foi Maria Ma
dalena, seguida por Pedro e outros discípulos.
Conseqüentemente, os seguidores de Jesus reava
liaram seus ensinamentos e sua morte, passando a vê-
los como uma mensagem singular de Deus, poderosa,
otimista e transformadora, que continua até hoje a exer
cer grande atração sobre as pessoas. P F
O Jesus Cristo ressuscitado resplandece em uma tapeçaria
bruxelense do século XVI, hoje no Museu do Vaticano.
Uma luz ofuscante atinge Saulo Após uma revelação a caminho de Damasco, Saulo torna-se Paulo e começa a propagar a palavra de Cristo pelo Mediterrâneo Oriental.
Uma das histórias mais dramáticas da Bíblia é também uma das mais significativas do ponto de vista histórico. Segundo os Atos dos Apóstolos, Saulo, um fabricante de tendas deTarso, na Ásia Menor, viveu uma experiência dramática quando se achava a caminho de Damasco. Ele descreveu o ocorrido dizendo ter sido atingido por uma luz ofuscante e ouvido a voz de Jesus.
Temporariamente cego, Saulo foi levado para Damasco, onde um adepto do cristianismo chamado Ananias o curou. I le então foi batizado com o nome Paulo e passou do mais ávido perseguidor da Igreja Cristã a seu mais incansável defensor. Quando jovem, nos primeiros anos após a crucificação de Jesus, Saulo havia decidido destruir a recém-criada comunidade cristã. Mas ele passaria o resto da vida percorrendo o Mediterrâneo Oriental para pregar a fé em Cristo, visitar comunidades cristãs recém-criadas e apoiá-las em seus esforços para praticar os ensinamentos de Jesus. Enquanto isso, definiu a natureza do cristianismo, fazendo-o ultrapassar as fronteiras da comunidade j u daica e tornando-o palatável para outras culturas.
Enquanto muitos dos outros líderes da Igreja primitiva haviam conhecido Jesus pessoalmente, a experiência que Paulo tinha dele limitava-se à revelação a caminho de Damasco. Talvez como resultado disso, ele enfatizava o poder transformador da fé no Cristo ressuscitado mais do que as palavras e feitos de Jesus e m vida. Embora as cartas de Paulo sejam os registros cristãos mais antigos que se conhece, compilados uma geração antes dos Evangelhos, elas contêm um nú mero surpreendentemente pequeno de referências à vida e aos ensinamentos de Jesus. P F
O Conversão de São Paulo, por Ludovico Carraccí (1555-1619),
conservado na Pinacoteca Nazionale de Bolonha.
A Britânia se rende Onze tribos britânicas se submetem ao domínio do imperador romano Cláudio.
No final do ano 43, o imperador romano Cláudio re
cebeu a rendição de 11 tribos do sul da Britânia e m
Camulodunum (atual Colchester). Esse fato marcou o
Início da ocupação romana da Britânia, que duraria
quase 400 anos.
Havia muito tempo que a ilha já tinha contato om o mundo governado pelos romanos na Europa
Continental, e algumas tribos britânicas pagavam li butos a esses poderosos vizinhos. O pretexto para a invasão romana de 43 foi uma disputa entre chefes I ribais britânicos. Vérica, líder dos atrébates e fiel aliado de Roma, havia sido derrotado e exilado pelos < atu vellauni liderados por Carátaco. Cláudio, imperador marcadamente não-guerreiro em busca de uma opor-iunidade para demonstrar suas proezas militares, de-idiu vingar a expulsão de Vérica.
Uma grande força de invasão zarpou pelo canal da Mancha sob o comando de Aulo Pláucio. Não está claro onde os legionários desembarcaram, mas Rich-borough, em Kent, é um local possível. Apesar de con fiar em táticas de guerrilha para repelir os invasores, os hretões travaram duas batalhas contra o inimigo e fo-iam derrotados, em ambas primeiro no rio Medway, depois em uma passagem do Tâmisa. Quando Cláu-lio chegou, supostamente trazendo elefantes de
guerra junto com seus soldados, a capital dos catu-vellauni, Camulodunum, estava indefesa e foi ocupada pelo imperador sem derramamento de sangue.
Cláudio passou apenas 16 dias na Britânia, mas, segundo o biógrafo Suetônio, ao voltar para Roma "celebrou um triunfo de grande esplendor". Na Britânia, a resistência à conquista romana prosseguiu, mas sem sucesso. Em quatro anos, toda a região ao sul de uma linha que ia do estuário de Humber ao rio Severn já havia sido "pacificada". R G
Regras da conversão O Concilio Apostólico decreta que os gentios podem se converterão cristianismo.
A decisão do Concilio Apostólico em 51 depermiüi qu i
gentios se convertessem ao cristianismo sem antes se
converterem ao judaísmo foi vista como um momenii i
crucial na missão da Igreja. Depois disso, ele deixou di •
ser uma seita limitada ao mundo judaico e se ti irni n I
uma religião com ensinamentos de relevância univcisal
Nos primeiros anos da Igreja Cristã houve disputas
em relação à natureza da nova fé. As mais imporlanies
diziam respeito à sua relação com o judaísmo, do qual
havia nascido. À medida que os apóstolos c o m e t a m n
a pregar a fé no Cristo além das fronteiras da comunida
de judaica, uma difícil questão surgiu. Tiago, o lusii >,
conhecido como "irmão de Jesus" e rigoroso líder da
Igreja em lerusalém, acreditava que um gentio devei ia
primeiro se converter ao judaísmo - e especificamenie
ser circuncidado - antes de se tornar cristão. Paulo, | >< >
rém, ensinava que um gentio podia se converter dirola
mente ao cristianismo.
Um concilio de apóstolos se reuniu para solucionai
a questão em Jerusalém, onde um grupo de f a i i s e u s
convertidos tinha poderosa influência sobre os assim
tos da Igreja. Após longa discussão, Pedro, nomeado
por Jesus o chefe dos cristãos, decidiu que a circui i< is, i< >
não era necessária para a conversão, e Tiago acabou
concordando. No Decreto Apostólico, o concilio dei i
diu que, embora a circuncisão não fosse obrigatória,
seria de esperar que os gentios fizessem alguns sacrifí
cios como "abster-se de alimentos conspurcados poi
ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animar, e s
trangulados e do sangue".
Esse decreto foi levado por Paulo, Barnabé e dois
outros até Antioquia, lido diante dos membros da ie
cém-criada igreja da cidade e transmitido a outras. Com
o tempo, ficou claro que o próprio Paulo era bem pou
co rigoroso em relação às restrições alimentares. P F
64 18 DE J U L H O
Nero vê Roma arder em chamas O imperador culpa os cristãos pelo incêndio que devastou a Cidade Eterna.
Em uma noite quente de julho no ano de 64, algumas
lojas precárias pegaram fogo perto do Circo Máximo de
Roma. O fogo logo se alastrou pela cidade e ardeu du
rante nove dias antes de se apagar. Embora não haja
relatos contemporâneos do desastre, um relato poste
rior do historiador Tácito, que testemunhou o incêndio
aos 9 anos de idade, afirma que dois terços da Cidade
Eterna foram destruídos, incluindo milhares de insulae
(quarteirões), que abrigavam a maioria dos habitantes.
Dez dos distritos romanos foram destruídos e
boa parte da população de dois milhões de pessoas
da cidade ficou desabrigada. Os antigos templos de
Júpiter Stator e o Atrium Vesta, residência das virgens
vestais, t ambém foram destruídos. Segundo relatos,
o imperador Nero, que gozava de uma pouco invejá
vel reputação de megalomania e crueldade, ficou
olhando as labaredas de um ponto elevado, admiran
do o fogo como um espetáculo estético e tocando
sua lira para acompanhar o incêndio. Seja isso verdade
ou não, ele acolheu desabrigados em seu palácio e
organizou o socorro às vítimas. Depois do incèncio,
mandou reconstruir a cidade em pedra e organizou-a
e m quarteirões, reservando um grande espaço com
cerca de 142 hectares, ou um terço da área total da ci
dade, para o seu luxuoso palácio, o Domus Áurea.
A causa do incèncio nunca ficou esclarecida e pode.
muito bem ter sido acidental. Muitos cidadãos acredita
vam que o responsável fosse o próprio Nero - acusação
repetida pelo historiador Suetônio, que tinha poucas
coisas boas a dizer sobre o imperador. Tácito sugeriu
que, diante dessas acusações, o pouco popular impera
dor culpou a seita cristã (que esperava o fim iminente do
mundo e considerava o materialista Império Romano
uma obra do demônio). Como punição, Nero deu início
a uma onda de perseguição que levou cristãos a serem
jogados aos leões pela primeira vez. P F
O Nero teria "tocado música" enquanto Roma era destruída
pelo fogo; ele culpou os cristãos pelo incêndio.
"Nero pôs a culpa e infligiu as mais cruéis torturas... aos cristãos." Tác i to (c. 56 - c. 117), Anais
6 4 13 DE O U T U B R O
Pedro é crucificado de cabeça para baixo O "primeiro chefe visível"do cristianismo encontra seu fim em Roma.
I m 64, Pedro foi condenado à morte como um dos
muitos cristãos culpados por Nero pelo grande incên
dio que havia destruído grande parte da cidade. Segun
do o estudioso cristão Orígenes, ele foi pregado de ca
beça para baixo na cruz. Supostamente, isso se deveu a
um pedido do próprio Pedro, para garantir que o seu
i lestino não reproduzisse de forma exata o do próprio
lesus. Tradicionalmente, diz-se que Paulo teria sido de-
i apitado ao mesmo tempo que Pedro era pregado na
cruz - talvez até no mesmo dia.
O pescador Simão Pedro, descrito na Bíblia como o
primeiro dos discípulos, recebeu a tarefa de ser a petrus
(a pedra) sobre a qual a igreja seria construída. Nos anos
após a morte de Jesus, ele e Paulo competiram pela II-
i lerança da comunidade cristã em seus primórdios. Pe
dro teve papel crucial na decisão de propagar a notícia
dos ensinamentos e da ressurreição de Jesus além das
íronteiras do mundo judaico e aparentemente viajou e
pregou pela Síria e pela Grécia. Mudou-se para Roma
em 42 e provavelmente ali viveu como líder da Igreja
Romana nascente. No final da década de 40, o impera
dor Cláudio expulsou judeus e cristãos da cidade por
causa de suas disputas, e eles só puderam retornar em
56. Pouco mais se sabe da época em que Pedro viveu
em Roma ou do local onde teria liderado a sua Igreja.
Para os primeiros cristãos, a morte de um mártir
não era buscada deliberadamente, como talvez tenha
sido o caso mais tarde no Império Romano, e tampouco
totalmente inesperada. Mas a crucificação proporcio
nava o consolo de compartilhar o destino do mestre
lesus. O corpo de Pedro foi recolhido e enterrado por
seus seguidores, e a Basílica de São Pedro, no Vaticano,
foi construída pelo imperador Constantino no local
onde, segundo a tradição, ele havia sido sepultado. O
túmulo e seus restos mortais foram aparentemente
descobertos em 1950. P F
h 2 *
O A crucificaçáo de São Pedro (1601 -1602), por Caravaggio,
conservado na Igreja de Santa Maria dei Popolo, em Roma.
"Pedro, por inveja injustificada... partiu rumo ao seu merecido lugar de glória." Clemente de Roma (morto c. 99), Primeira Epístola
70 7 DE SETEMBRO
Tito conquista Jerusalém Os romanos forçam os rebeldes judeus a se render em Jerusalém.
0 antigo reino judaico da Judéia havia passado ao con
trole romano direto em 4 a.C, mas os judeus tinham
uma identidade religiosa demasiado forte para pode-
lem ser assimilados ao Império Romano. Uma rebelião
estourou em 66, e em 69 Vespasiano, que acabara de
issumir o império e derrotara os rebeldes no norte da
ludéia, enviou o filho Tito para aplacar a revolta em Je-
usalém. No dia 7 de setembro de 70, após quase cinco
meses de cerco romano, a cidade se rendeu.
A população de Jerusalém contava cerca de 600
mil pessoas. I lavia em torno de /'> mil lebeldes atina
dos, liderados por Simon bar Giora e João de Gischala.
Apesar de sua experiência e m guerras de cerco, os ro
manos penaram para subjugar a cidade, em parte por
ela ser dividida e m distritos murados que tinham de
ser invadidos um a um. Pouco depois de iniciado o
cerco, os víveres acabaram. Enlouquecidos de fome,
ilguns moradores tentaram fugir, mas foram captura
dos pelos romanos e crucificados à vista dos defenso
res da cidade.
Durante o mês de agosto, os romanos entraram à
força no Grande Templo, sede dos rituais da religião ju
daica. Ele foi incendiado, e seus receptáculos sagrados
saqueados. Alguns rebeldes sobreviventes buscaram
abrigo nos esgotos da cidade antiga, mas em 7 de se
tembro não houve outra alternativa a não ser se render.
João de Gischala foi condenado à prisão perpétua, e
Simon bar Giora levado para Roma, onde serviu de atra
ção no triunfo organizado por Vespasiano e Tito, sendo
em seguida estrangulado. Estima-se que 97 mil judeus
tenham sido aprisionados - e muitos usados como
mão-de-obra escrava na construção do Coliseu. R G
O Um manuscrito mostra Flávio Josefo sendo levado até diante
de Tito durante o cerco a Jerusalém em 70.
73 15 DE ABR I L
Massacre em Massada O cerco romano a um enclave judaico termina em massacre e suicídio.
Em 15 de abril de 73, em uma fortaleza no alto de
uma colina junto ao mar Morto, então parte da pro
víncia romana da Judéia, 960 judeus tiveram uma
morte terrível ordenada por seu líder. Eles perten
ciam a um grupo de extremistas conhecido como
sicários. Comandados por Eleazar ben Yair, desafia
ram o domínio romano na Judéia mesmo depois do
fracasso da revolta judaica de 66 a 70.
A fortaleza que os sicários ocupavam e m Massada parecia impenetrável. Celeiros e cisternas garantiam um fornecimento efk az de comida e água, per-
"Infelizes de fato foram os homens cuja situação os obrigou a matar as próprias esposas." J o se fo , A guerra judaica (c. 75)
mitindo que os rebeldes sobrevivessem a um cerco de muitos anos. O único caminho para subir as colinas era precário e exposto a ataques. No entanto, durante o inverno de 72 para 73, os legionários romanos construíram uma grande rampa que subia do vale até 0 alto da colina 200 metros acima. Na primavera, conseguiram transportar uma torre de assalto equipada com poderosas catapultas e um aríete para derrubar muralhas.
Diante da derrota, Eleazar convenceu seus segui dores de que o suicídio era melhor do que cair nas mãos dos romanos. Dez guerreiros sicários sorteados receberam a tarefa de matar os demais e em seguida uns aos outros. Segundo o historiador judeu Josefo, os romanos ficaram "perplexos diante de tamanho desdém pela morte". R G
1 no» ̂ :o r̂r»»ífnf et) ui^r fiif # rtM* P"6A«jnf ̂ ú»nmc cftvittit iaiitofirfjput, c r o i i u t r i V "áfyf-ufit , pfuív,ii>nc»mcft r u r f . i n c t T Í i j r m c r
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79 24 DE AGOSTO
Erupção do Vesúvio mata milhares de pessoas O Império Romano assiste a um de seus piores desastres naturais na Baía de Nápoles.
O Representação da erupção do Vesúvio vista da baía de
Nápoles, por Jean-Baptiste Genillion (1750-1829).
O Molde em gesso de uma pessoa enterrada viva pela
cinza quente.
"...prenderam almofadas na cabeça para se proteger das pedras que caíam..." P l í n io , o M o ç o , r e l a to c o n t e m p o r â n e o
Fazia apenas 17 anos que a região fora vítima de um terremoto catastrófico, e os tremores de terra tinham recomeçado poucos dias antes. Mesmo assim, os habitantes de Pompéia, Herculano e outras cidades e m torno da baía de Nápoles foram pegos de surpresa pela dramática explosão do aparentemente extinto vulcão pouco depois do meio-dia de 24 de agosto de 79. Uma imensa nuvem de fumaça e cinzas e levou-se 30 quilômetros no céu e em seguida caiu sobre a cidade, formando uma camada de pedra-po-mes de 3 metros.
O naturalista Plínio, o Velho, almirante da marinha e m Miseno, perto dali, organizou uma operação de socorro, mas depois insistiu para ver a nuvem de perto e morreu na praia no dia seguinte. Seu sobrinho, Plínio, o Moço, lembrou o momento da erupção: "Parecia uma árvore de topa larg.i que subia até bem alio na forma de um tronco comprido e depois se abria formando galhos. Às vezes parecia clara, outras vezes escura e sarapintada, conforme estivesse mais ou m e nos impregnada de terra e cinzas."
Nesse dia, uma nuvem tóxica de gases e m c o m bustão cobriu a montanha e submergiu todos que haviam ficado em Pompéia. Tanto Pompéia quanto Herculano foram soterradas e passaram séculos esquecidas. O desastre foi grande demais para que o Estado romano pudesse organizar qualquer operação de recuperação significativa. Estima-se que 20 mil pessoas tenham morrido e m dois dias, a maioria devi do à inalação de gases tóxicos.
As ruínas de Pompéia só foram redescobertas e m 1748, e o trabalho arqueológico prossegue desde então. Em meados do século XIX, moldes de gesso dos buracos encontrados na cinza petrificada criaram imagens perturbadoramente vividas dos moradores da cidade e m seus momentos finais. P F
Abertura do Coliseu As multidões romanas ganham 100 dias de jogos para seu divertimento.
I grande anfiteatro da Roma antiga demorou 10 anos
-ara ser construído. Com quase 200 metros de extensão
c capacidade para mais de 50 mil espectadores senta
dos, foi erguido e m um local que havia sido destruído
« Io incèncio durante o governo de Nero. A arena foi
inaugurada no primeiro ano do imperador Tito, iniciado
i om grandes desastres, incluindo a erupção do Vesúvio
i |ue destruiu Pompéia e Herculano e um surto de peste
i n Roma. Por esse motivo, os jogos inaugurais foram
istos como uma tentativa de reverter o ambiente de
i ise e, quem sabe, aplacar os deuses.
Os jogos duraram 100 dias. Pela manhã havia espe-
i iculos com animais nos quais diferentes espécies eram
D s t a s na arena para caçarem e lutarem umas com as
• >utras e à tarde eram apresentados combates entre gla-
i liadores. Diz-se que mais de nove mil animais foram
11 lortos durante esses jogos inaugurais.
Inicialmente chamada de Anfiteatro Flaviano, a are-
i ia tornou-se mais tarde conhecida como Coliseu em
homenagem à estátua colossal de Nero que ficava ali
erto. Primeiro anfiteatro a ser construído no coração
i Ia cidade, foi pago em parte com os tesouros trazidos
(Io Templo de Jerusalém, saqueado em 70. Mais tarde,
sob o imperador Domiciano, acrescentou-se mais um
. II idar para aumentar sua capacidade, assim como um
1 1 implexo subterrâneo de túneis ejaulas para animais.
Dizem que muitos cristãos teriam sido martirizados
1 0 Coliseu, mas existem poucos indícios dessa prática,
lambem já foi dito que a arena podia ser enchida com
ii tua para apresentar combates navais, mas muitos his
toriadores consideram isso improvável. O Coliseu conti-
11 IOU a ser usado pelo menos até o século V. P F
O Corte em litografia do Coliseu, anfiteatro construído no
coração de Roma sob o imperador Tito.
Adriano imperador O novo governante começa a reforçar a fronteira do Império.
Adriano tornou-se imperador após a morte de Traja-
no e m 117 na Cilícia (sul da Turquia). Alguns di/em
que Trajano já havia nomeado herdeiro o pupilo e
protegido Adriano, mas, segundo o historiador Dião
Cássio, foi a imperatriz Plotina quem arquitetou a M I
cessão: ela comunicou a adoção de Adriano ao Sena
do de Roma e só após a sucessão estar garantiria i r
velou a morte de Trajano.
Sob Trajano (que governou de 97 a 117), as froí ili 'i
ras do Império alcançaram sua maior extensão. Adria
no achava que o Império se tornara grande demais
"E partiu rumo à Britânia, pôs as coisas em ordem e construiu uma muralha." Historia Augusta, Vida de Adriano
para ser governado, e um de seus primeiros atos li il
abandonai a Dácia, território ao norte do Danúbio,
gue Trajano havia incorporado ao Império apenas I',
anos antes. Adriano também abriu mão de territórios
conquistados recentemente no leste, trazendo a fron
teira oriental d e Roma novamente para a o Eufrates
Para fortificar suas defesas setentrionais, mandou eri
gir uma barreira de 485 km de extensão feita de terra
e madeira entre os rios Danúbio e Reno, na Alemanha,
mas é pela Muralha de Adriano que é mais lembrado.
Essa impressionante barreira d e pedra se estendia
128 km pelo norte da Britânia, com torres dispostas a
intervalos regulares para proporcionar postos d o
observação e fortes para os soldados. Grandes trechos
da muralha, que levou menos de 10 anos para ser
construída, continuam de pé até hoje. S K
Os judeus são massacrados e forçados a fugir A Revolta de Bar Kokhba faz os romanos expulsarem os judeus de Jerusalém e o imperador Adriano banir o judaísmo.
A província romana da Judéia sempre havia sido um
problema para os romanos, mesmo depois da destrui
ção de Jerusalém em 70. Na única guerra importante
de seu reinado, o imperador Adriano sofreu graves re
veses durante a Revolta de Bar Kokhba, mas acabou
reconquistando Jerusalém e m 135.
Em 130, Adriano visitou as ruínas da cidade e pro
meteu reconstruí-la. Quando os judeus se deram conta
de que ele pretendia mudar o nome da cidade para Ae-
lia Capitolina e dedicar seu principal templo a Júpiter,
rebeldes indignados iniciaram uma nova revolta e, du
rante dois anos, fundaram um Estado independente.
Adriano reuniu um grande exército para conter o levan
te, conhecido como Revolta de Bar Kokhba, que deve
si s i nome ao < omandante Simão bar Kokhba, que mui
tos viam como o Messias judaico. A fortaleza de Betar foi
o último bastião de resistência dos rebeldes, que acaba
ram subjugados e mortos. É possível que meio milhão
de judeus tenha morrido nos combates.
Adriano então decretou que o judaísmo era contra
a lei, banindo a lei da Torá e queimando o pergaminho
sagrado. Ele proibiu os judeus de entrarem em Aelia Ca
pitolina e rebatizou a província da Judéia, que então
abrigava poucas comunidades judaicas enfraquecidas,
de Síria Palestina. Muitos judeus foram escravizados e
mandados para longe. Isso foi considerado o início da
dispersão ou diáspora dos judeus pelo Oriente Médio e
pelo mundo mediterrâneo, que caracterizou sua situa
ção durante toda a Idade Média e até a fundação do
moderno Estado de Israel, e m 1948. P F
O Miniatura pintada em 1927 por Arthur Szyk mostrando Simão
bar Kokhba em combate contra os romanos.
O Antigo armazém subterrâneo de azeite usado pelos rebeldes
de Bar Kokhba como túnel de fuga e esconderijo.
0 Japão seduz a China A rainha Himiko estabelece relações diplomáticas entre o Japão e a China.
1 m 238, embaixadores da rainha Himiko de Yamatai
(ou Yamaichi), da terra de Wa (Japão), chegaram à corte
l hinesa trazendo de presente quatro escravos, seis es-
< ravas e duas peças de tecido estampado para o impe
rador chinês. Presentes como esses de governantes
I >árbaros" eram sempre considerados tributos ofereci-
i los ao imperador em sinal de submissão, e a rainha foi
recompensada com as ninharias de praxe: um título e
uma medalha de ouro. A troca marcou a saída do Ja-
I )ão da pré-história. Pouco depois, em 240, uma embai
xada chinesa foi visitar a rainha Himiko e saber mais
"Nós lhe conferimos assim 0 título de Rainha de Wa, Amiga dos Wei." Decreto do imperador Wudi para a rainha Himiko
sobre o seu reino. Seu relatório constitui o mais antigo
(locumento escrito detalhado sobre o Japão.
Diz-se que Himiko havia se tornado rainha lan
ando mão de feitiçaria e magia. Embora de idade
madura, ela não era casada e raramente era vista em
1 lúblico, usando o irmão como intermediário para se
i omunicar c om os súditos. O reino de Himiko era
i ima confederação de 30 tribos unidas pela autorida
de religiosa da soberana. Historiadores japoneses
lebatem a localização de Yamatai/Yamaichi. A maio
ria acredita que Yamatai pode ser identificada como
Yamato, próximo a Osaka, no centro de Honshu, que
era a capital no século VI. As planícies ao redor de
Yamato são coalhadas de montes fúnebres, e acredi
ta-se que o maior deles abrigue os restos mortais dos
I irimeiros governantes do Japão. S K
Início da nova era de Roma Jogos anunciam um novo começo, mas o futuro de Roma não é brilhante.
Em 248, os ludi saeculares (jogos seculares) organiza
dos pelo imperador Filipe, o Árabe, marcaram a co
memoração dos mil anos de fundação de Roma pi i|
Rômulo em 753 a.C. Tradicionalmente, o início de um
saeculum novum (nova era) - período próximo da
mais longa vida humana e m uma geração, calculado
e m diferentes épocas como 90,100 ou l l O a n o s - e r a
celebrado e m Roma com jogos que duravam três
dias. O imperador Augusto havia ressuscitado os jo
gos e m 17 a.C, com sacrifícios, corridas de biga, exibi
ções de caça e espetáculos teatrais.
"Passados 110 anos... não se esqueçam, romanos, de fazer as devidas oferendas." Oráculo de Sibila, Zózimo, História nova, o 500
Segundo contemporâneos, mais de mil gladia
dores, além de centenas de animais exóticos trazidos
da África - hipopótamos, leopardos, leões, girafas a
até mesmo um rinoceronte -, foram mortos diante
do público do Coliseu em 248.
Apesar do saeculum novum, a sorte de Roma es
tava e m baixa. Filipe foi um dos 26 imperadoi ' " , ,i
governar entre 235 e 285 por, em média, menos de
dois anos cada. Ele havia subido ao poder em 244
depois de assassinar Gordiano III, imperador adoles
cente do qual era regente. As revoltas contra Filipe
prosseguiram até mesmo durante as comemorações
do milênio de Roma. Em 249, Décio, senador de con
fiança que ele enviou para angariar lealdade das tro
pas, foi proclamado imperador pelo exército. I lllpi
morreu e m combate em Verona. J H
260 J U N H O
anquinho humano Jogado aos leões 0 imperador romano Valeriano é derrotado e capturado pelos persas em Edessa.
A época era certamente propícia. O terceiro século foi
um dos mais turbulentos ria história romana. Uma
ombinação de invasões de bárbaros germânicos, in
flação descontrolada e guerra civil havia conduzido o
Império à beira do colapso. Os romanos estavam com
pouca sorte e, em 260, o imperador Valeriano foi der-
lotado pelo rei persa Shapur I em Edessa (atual Urfa, na
Turquia). Valeriano foi preso e submetido a humilha
ções diversas, entre as quais, diz-se, ser usado como
banquinho humano. Ele morreu no cativeiro.
Após sua < onquisia poi Alexandtc, o Gtande, no
século IV a.C, a Pérsia foi governada por dinastias es
trangeiras até 224-226, quando os sassânidas subi
ram ao poder. Cheios de vigor e ambição, eles pre
tendiam recuperar o status de superpotência do qual
a Pérsia gozava sob a dinastia dos aquemênidas (559-J>30 a.C). Isso tornou inevitável um conflito com
Roma, já que a Ásia Menor, a Síria, a Palestina e o Egi
to - todos antes governados pela Pérsia - faziam par-
te do Império Romano.
Em 258, o rei Shapur conquistou a Armênia, aliada
de Roma, e avançou rumo ao Mediterrâneo, capturando
1 cidade síria de Antioquia. O imperador romano Valeria
no lançou um contra-ataque, reconquistando Antioquia
i ' obrigando Shapur a recuar para o outro lado do Eufra-
tes. Valeriano foi derrotado em Edessa. Depois da bata
lha, a sorte de Roma piorou ainda mais. A Britânia e a
Gália declararam independência, e os Trinta Tiranos pas
saram a disputar o poder no Oriente. Em 261, Shapur foi
derrotado por Odenato, rei árabe romanizado de Palmi-
ra. Os romanos recuperaram o controle da região em
274 ao derrotarem Zenóbia, a viúva de Odenato. J H
O O imperador Valeriano capturado e maltratado pelos persas,
gravura em cobre de 1630, por Mattháus Merian, o Velho.
O primeiro édito de Diocleciano contra os cristãos dá início à perseguição.
Os motivos que levaram o imperador romano Diocle
ciano a dar início à última grande perseguição aos cris
tãos permanecem obscuros. No total, ele emitiu quatn >
éditos contra os cristãos - o primeiro, em fevereiro de
303, exigia a destruição de todas as igrejas espalhadas
pelo Império Romano; o último, publicado em abril de
304, ordenava a todos os cristãos que fizessem sacriíí
cios aos deuses tradicionais de Roma ou então enfren
tassem a execução. Nessa época, provavelmente 10%
da população professavam o cristianismo. Punições ter
ríveis foram aplicadas a quem se recusasse a ceder, e
"Muitos líderes das igrejas resistiram heroicamente a horríveis tormentos." E u s é b i o d e Cesaré ia , História eclesiástica, c. 320
milhares de pessoas foram mortas pela espada, quei
madas ou jogadas aos leões. Os cristãos culparam Galé-
rio, césar (lugar-tenente e sucessor) de Diocleciano, | n 1.1
implacável perseguição no Império Oriental.
Diocleciano já era imperador desde 284. Homem
de grande energia, havia tirado o Império da crise, for
talecido suas defesas e reformado o exército e a admi
nistração imperial. Ao perceber que o Império era
demasiado grande para ser governado por um só ho
mem, estabeleceu a tetrarquia, pela qual ele govet t n i
va como imperador (augusto) no Oriente, com Galérk >
como césar, enquanto Maximiano governava como
augusto no Ocidente, com Constâncio como césat
Em 305, Diocleciano, já com a saúde debilitada, abdi
cou, recolhendo-se ao palácio que construíra em Splil,
na costa do Adriático. SK
'Sob este signo, vencerás" Constantino sai vitorioso da ponte Mílvia, aparentemente com a ajuda de Deus.
O Detalhe de Batalha entre Constantino e Maxèncio na Ponte
Mílvia (1613), por Peter Lastmann (1583-1633).
Por este signo salvador, eu libertei sua cidade do tirano e restaurei a liberdade." I n s c r i ç ão n o A r c o d e C o n s t a n t i n o
No ano de 312, havia apenas dois candidatos capazes
de rivalizar pelo poder no Império Romano do Oci
dente. Maxèncio, que mantinha o controle sobre a
Itália e a Álrk a, e C onstantino, que reivindicava autori
dade sobre a Gália e a Espanha. Na primavera de 312,
Constantino decidiu atravessar os Alpes com um exér
cito relativamente pequeno. Ele dominou o norte da
Itália e avançou sobre Roma. Maxèncio, de início, refu
giou-se atrás das grandes muralhas da cidade, mas, ao
ver as modestas tropas de Constantino avançarem,
decidiu arriscar tudo em uma batalha aberta. Os dois
exércitos se encontraram na ponte Mílvia, a oeste de
Roma. Durante o avanço das forças de Constantino, a
ponte inesperadamente cedeu, matando Maxèncio e
muitos de seus. soldados enquanto tentavam nadar
para um uqui seguro no caos que se sucedeu.
No dia seguinte, o triunfante Constantino foi acla
mado o único augusto do Ocidente. Logo depois, for
mou uma aliança instável com Licínio, augusto do
Oriente. Em um encontro em Milão, na primavera de
313, os dois concordaram e m dividir o Império entre si,
pondo fim à longa e desgastante guerra civil iniciada
com a abdicação de Diocleciano em 305. Sua tensa
parceria durou pouco mais de uma década, até 324,
quando Constantino declarou-se único imperador e
mestre inconteste do mundo romano;
Pouco antes da Batalha da Ponte Mílvia, diz-se
que Constantino teve, ao meio-dia, a visão de uma
cruz ereta sob o sol com a inscrição "Sob este signo,
vencerás". Mais tarde, ele recebeu e m sonho a ins
trução de usar o símbolo que havia observado no
céu e m todas as suas batalhas contra os inimigos.
Assim, ordenou que uma cruz fosse pintada nos es
cudos de seus soldados. Os historiadores cristãos
não t itubearam e m atribuir sua vitória à ajuda mila
grosa de Deus. S K
>13 FEVERE IRO
0 cristianismo é tolerado - oficialmente Constantino e Licínio decidem acabar com a perseguição aos cristãos.
I oi em Milão, e m fevereiro de 313, que Constantino
e Licínio, respectivos governantes do Império Ro
mano do Ocidente e do Oriente, chegaram a uma
decisão importantíssima na história do m u n d o oc i
dental: pôr fim à perseguição generalizada aos cris
tãos. Na carta enviada e m n o m e dos dois para os
governadores de todas as províncias romanas, eles
I oncediam a todos a liberdade de venerar a divin-
(lade gue guisessem. Garantiam plenos direitos jurí
dicos a todos os cristãos e ordenavam a devolução
imediata de qualquer bem deles confiscado ante-
liormente. O chamado Édito de Milão não fez do
ristianismo a religião oficial do Império Romano -
isso só iria acontecer quando Teodósio I baniu os
i ultos pagãos e fechou todos os templos pagãos,
i 'im 391 -, mas, ao conceder aos cristãos os mesmos
(lireitos dos pagãos e dos adeptos de outros cultos,
a ordem revolucionou o status do cristianismo e
l IÔS fim à "era dos mártires".
Em poucos anos, o cristianismo passou de um
culto relativamente minoritário a principal religião
i Io mundo romano, graças em grande parte ao pa
trocínio de Constantino. Este provavelmente já era
• ristão havia algum tempo antes da vitória na Batalha
i Ia Ponte Mílvia, e m 312, e, embora não tenha proibi
do o culto aos antigos deuses (mantendo a imagem
i Io deus-sol e m suas moedas até 320), prestou auxílio
inanceiro à Igreja, construiu locais de culto, presidiu
- oncílios religiosos e promoveu cristãos a cargos Im
portantes. Quando Licínio ordenou a prisão e execu
ção de alguns bispos orientais e m 324, Constantino
aproveitou a oportunidade para derrubar o rival,
apresentando-se como defensor universal dos cris
tãos. Mas só no leito de morte, em 337, deu o derra
deiro passo: recebeu o batismo cristão. S K
O Batismo de Constantino (detalhe), por Jacopo Vignali
(1592-1664), hoje na Galleria Palatina, em Florença.
"A finalidade deste regulamento é não menosprezar nenhuma religião." Édi to de Mi lão , 313
Bispos discutem a natureza de Cristo O Concilio de Nicéia tenta solucionar diferenças teológicas.
O Um ícone da Escola de Novgorod, final do século XV, mostra
Constantino no Concilio de Nicéia.
"[Constantino] agiu... como um mensageiro celeste de Deus." E u s é b i o d e Cesa ré i a , Vida de Constantino, c. 320
No dia 19 de junho de 325, o imperador Constantino abriu as sessões do Concilio de Nicéia sentado em seu trono imperial. Pouco antes, ele havia se proclamado o único imperador romano após derrotar Licínio, seu rival no Oriente, na Batalha de Crisópolis (18 de setembro de 324). Ansioso para impor sua autoridade e para justificar a alegação de ter possibilitado a paz, Constantino convocou todos os bispos da Igreja Cristã ao seu palácio de Nicéia (Iznik, na lur quia). Dos 1.800 convidados, 318 compareceram. No topo da ordem do dia estava a "controvérsia ariana".
Tudo começou quando Ário, presbítero (um tipo de sacerdote da Igreja Cristã primitiva) em Alexandria, no Egito, alegou que Cristo, filho de Deus, não era igual a Deus Pai, e sim a mais nobre das criações divinas. Na Igreja do século IV, questões doutrinárias suscitavam debates urgentes e acalorados, e a controvérsia ariana, como passou a ser chamada, provocou uma tempestade amarga de discussões e recriminações que repercutiu por todo o Império Oriental.
Historiadores da igreja consideram o Concilio de Nicéia o primeiro concilio ecumênico da Igreja Cristã, responsável pela criação de um atestado de fé uni forme sob a forma do Credo de Nicéia, com sua d e claração de que Pai e Filho têm a mesma substância e são co-eternos, "gerados, não feitos". Foi uma derrota acachapante para Ário, cujas opiniões receberam apenas dois votos. O concil io t a m b é m estabeleceu que a Páscoa seria celebrada anualmente no primeiro domingo após a lua cheia da primavera do hemisfério norte, separando-a assim do Pessach j u daico. Ele abriu um precedente para que o imperador desempenhasse papel importante nas questões religiosas. Entretanto, não pôs fim à controvérsia ariana, que seguiria dividindo a Igreja por muitos anos. S K
Constantinopla - Nasce uma nova Roma Constantino celebra a consagração de sua nova capital.
A consagração da cidade que após sua morte ficaria < onhecida como Constantinopla (cidade de Constanti-! ii)) talvez tenha sido o momento mais importante do i loverno de Constantino. Fazia menos de seis anos que ' i imperador escolhera o pequeno porto grego de Bi-ancio, localizado sobre um promontório que se proje
tava para dentro do Bósforo, o pequeno estreito que separava Europa e Ásia, como local de construção de uma capital totalmente nova para o Império Romano. Moedas fabricadas para marcar sua consagração cele-
I i r a r a m a Nova Roma, e sob muitos aspectos essa nova i ilação era uma cópia consciente da antiga M S «In in
i lusive construída sobre sete colinas e dividida em 14
i listritos administrativos, igual à cidade no Tibre. Cons-mtinopla tinha seu próprio Senado e, assim como em
li >ma, foi estabelecida uma quota de trigo (ração gratuita de cereal), bem como outros incentivos para enco-lajara vinda de novos habitantes.
Mas havia uma diferença importantíssima. Desde o II lício, Constantinopla foi concebida como uma cidade
i ristã, simbolizando a ruptura com o passado pagão de toma, e Constantino embelezou sua criação com nu
merosas igrejas e basílicas. Muitas dessas estruturas -
II icluindo Hagia Sophia (Divina Sabedoria), fundada em Í25 - foram construídas no local de templos pagãos.
Constantinopla logo superou Roma em riqueza, população e importância. Durante mil anos, sob os imperadores bizantinos, a cidade foi o centro intelec-tual, religioso e comercial do mundo de língua grega, antes de ser tomada em 1453 pelos turcos otomanos, |ue por sua vez a transformaram em capital de seu
I I ipério. Eles ouviam os habitantes gregos se referirem a Constantinopla pela forma coloquial de "eis ten polin",
que significa "na cidade", e com o tempo a expressão idquiriu a forma turca "Istambul", nome pelo qual a
i idade de Constantino é conhecida até hoje. S K
O Uma xilogravura de 1493, por Hartmann Schedel, mostra
Constantinopla como uma cidade fortificada.
"...ele embelezou [a cidade] com grandes santuários aos mártires e casas esplêndidas." Euséb io d e Cesaré ia , Vida de Constantino, c. 320
1-999 • 103
Construção da Igreja do Santo Sepulcro Constantino escava a face de uma colina para fundar um santuário em Jerusalém no local tradicional do sepultamento e ressurreição de Jesus.
Por ordem de Constantino, os soldados escavaram a
fachada da caverna-túmulo. Esta foi então encastra-
da dentro de uma pequena construção e mais tarde
coberta por uma rotunda e uma cúpula. A leste,
Constantino mandou erguer uma grande basílica,
consagrada e m 335. Alguns dizem que Macário, bis
po de Jerusalém, pediu a ajuda de Constantino para
reformar os lugares sagrados associados pelos cris
tãos à vida e morte de Jesus. Outras fontes dizem
que, por volta de 326, a mãe do imperador, Helena,
fez uma peregrinação à Terra Santa, onde mandou
construir igrejas em Belém e no monte das Oliveiras,
e coletou relíquias. Quando lhe mostraram o local
tradicion.il do túmulo de Jesus e m Jerusalém, cober
to por um templo romano do século II, Helena c o m e
çou a escavar e foi guiada milagrosamente para os
resquícios da cruz onde Jesus fora crucificado.
Santuário sagrado para os cristãos, a Igreja do San
to Sepulcro sobreviveu a incêndio e terremoto antes
de ser quase destruída por um califa fatímida e m 1009.
O exército da Primeira Cruzada cantou um Te Deum
(hino de graças) dentro de suas paredes em ruínas
após capturar Jerusalém em 1099, e outros cruzados
mais tarde reconstruíram a igreja em estilo românico,
dando-lhe o formato que ela conserva até hoje. Ainda
restam traços da construção original de Constantino
e, embora alguns especialistas questionem a autenti
c idade do local, um forte cont ingente de opiniões
arqueológicas aceita a tradicional identificação do
túmulo como local do sepultamento de Jesus. S K
O Entrada da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém (1822), por
Maxim Nikiforovich Vorobyev (1787-1855).
O Paisagem oitocentista da escola inglesa mostrando
Jerusalém e a Igreja do Santo Sepulcro.
36 25 DE DEZEMBRO
0 primeiro Natal Primeiro registro de comemoração do aniversário de Jesus Cristo.
I lm calendário compilado por Fúrio Dionísio Filócalo em
i54 contém o seguinte registro para o ano de 336: "VIII
kal. lan. natus Christus in Betleem ludeae" (oitavo dia após
as calendas de janeiro [25 de dezembro], nascimento de 1 listo em Belém na Judéia). É a primeira indicação defi-
i litiva de que, em meados do século IV, os cristãos já ha
viam estabelecido 25 de dezembro como data do nasci
mento de Jesus. Os redatores dos Evangelhos não
mencionam em que época do ano ele nasceu.
Há várias explicações prováveis para a escolha de
25 de dezembro. Essa era a data do solstício de inver-
"Eles o chamam Nascimento do Inconquistado. Quem é mais inconquistado que o Senhor?" J o ã o C r i s ó s t o m o (c. 407) , delSoIst. Et/Equin
n o no hemisfério norte, já celebrada em Roma como
'tollnvictus (Sol Inconquistado), uma festa paga popu-
lar. Ela caía exatamente nove meses após o equinócio
i le primavera, em 25 de março, que os primeiros cris
tãos alegavam ser o quarto dia da criação, quando fo-
ram criados os geradores de luz tais como o Sol.
l ambem era lógico considerar 25 de março a data de
concepção de Jesus.
O costume de celebrar o nascimento de Cristo
e m 25 de dezembro propagou-se de Roma para o
resto da Igreja no final do século IV, mas a maioria
.linda considerava a Epifania a mais importante fes-
ta cristã. Foi só na Idade Média que a comemoração
i Io Natal começou a tomar a forma atual, c om o boi
i • o jumento junto à manjedoura e os pastores com
ÍI iis rebanhos. S K
Triunfo bárbaro Os godos derrotam o imperador romano Valêncio em Adrianópolis.
Segundo Edward Gibbon, cronista do século XVIII que
escreveu sobre o declínio e a queda de Roma, "o 9 de
agosto [foi] um dia que mereceria ser marcado como
um dos menos auspiciosos do calendário romano". A
batalha conduzida nos arredores de Adrianópoli-, em
378 revelou a incapacidade do Império Romano de con
In il.ii ,i entrada de pi >v< >s "I lárbaros" em seu terrfrj irii
Em 376, cerca de dois milhões de visigodos e ostro
godos germânicos haviam cruzado a fronteira e entra
do no Império a oeste do mar Negro. Descontentes
com o tratamento recebido das autoridades romanas,
esses imigrantes logo deram início a saques. Conduzi
dos pelo visigodo Fritigern, em 378 já se encontravam
acampados a 20km de Adrianópolis. O líder da metade
oriental do Impétio Romano, Valêncio, saiu marcham li >
de Constantinopla para enfrentá-los. Em vez de aguar
dar a chegada de Graciano, imperador romano do Oci
dente, que traria um exército para se juntar a ele, Valên
cio partiu bem cedo na manhã de 9 de agosto para
atacar o acampamento de Fritigern.
Depois de marcharem em meio ao calor e à poeira,
os romanos encontraram os bárbaros acampados em
um círculo defensivo formado por carroças. Os formiciá
veis cavaleiros ostrogodos haviam partido em uma ex
pedição para buscar víveres. Fritigern sugeriu uma ne
gociação, mas, antes de iniciarem qualquer convoca,
o combate começou e Valêncio ordenou que sua infai i
taria atacasse. Sedentos, exaustos e desorganizados, os
legionários talvez tivessem tido problemas mesmo sem
a chegada repentina da cavalaria ostrogoda. Enquanto
os cavaleiros cercavam os soldados romanos a pé, guer
reiros visigodos irromperam do acampamento de car
roças. Cercados em um espaço exíguo, os romanos
foram dizimados. Cerca de 40 mil homens morreram.
O corpo de Valêncio nunca foi encontrado. R G